Segundo a ONG Observatorio Venezolano de Violencia, citado por El Comercio, o número de mortes violentas na Venezuela em 2013 foi estimado em cerca de 25 mil ou 79 por cada 100 mil, a terceira taxa mais alta do mundo. O número foi estimado pelos investigadores de sete universidades que integram o OVV porque o chávismo fabrica as suas estatísticas de causas.
Desde o início do chávismo em 1998 a taxa de homicídios passou de 19 a 79 por mil, pelo que, embora em concorrência apertada com outras realizações do regime, resolvo nomear as mortes violentas como a principal realização do chávismo este ano, quiçá dos últimos 15 anos.
31/12/2013
Ressabiados do regime (7) – Nomeação do ressabiado do ano
Providencialmente, depois de muitas hesitações na escolha entre os inúmeros candidatos, li o artigo do Público «As 200 famílias (nova edição)» onde Vasco Pulido Valente celebrou «o regresso à infância do dr. Pacheco Pereira», a propósito do imenso sucesso do «desenho das “bolas” e dos “pauzinhos“» produzido pela mente privilegiada desse «erudito e estudioso». Estava encontrado o ressabiado do ano.
ESTADO DE SÍTIO: A república dos juízes ou como tornar o país ingovernável
A esquerdalhada em geral e, em particular, o anexo do PCP conhecido como Fenprof descobriram uma nova forma de luta em substituição das manifs, peditório para o qual as «massas» já pouco dão, e em complemento das ocupações, dos piquetes de greve e dos tempos de antena concedidos pelo jornalismo de causas. Trata-se de plantar providências cautelares em dezenas de tribunais, esperando que pelo menos um dos juízes despache favoravelmente o boicote por sindicatos - por acaso representando em média uma minoria inferior a 20% dos trabalhadores - a uma decisão do governo, por acaso legitimamente eleito pela maioria dos eleitores.
30/12/2013
CASE STUDY: Um imenso Portugal (2)
Uma espécie de sequela de (1) e um ponto de situação do estado em que o socialismo tropical do PT de Lula da Silva e da «presidenta» Dilma está a deixar o Brasil, depois de 8 anos de 1995 a 2002 em que Fernando Henrique Cardoso domou a inflação endémica e lançou as bases para uma economia moderna e competitiva. Para mais dados e análise ver o Special Report Brazil da Economist.
Uma década a engordar o Estado, com crescimento medíocre e inflação elevada. No início do 1.º mandato de Lula um dólar valia 3,5 reais, em meados de 2011 valia 1,63 reais, mas em 2013 para comprar um dólar já eram precisos 2,3 reais.
(Continua)
Uma década a engordar o Estado, com crescimento medíocre e inflação elevada. No início do 1.º mandato de Lula um dólar valia 3,5 reais, em meados de 2011 valia 1,63 reais, mas em 2013 para comprar um dólar já eram precisos 2,3 reais.
(Continua)
Mitos (153) – Não se queixaram da doença que infligiram e queixam-se (com pouca razão) dos efeitos secundários da medicina
O quadro seguinte, publicado por Vítor Bento há um mês no Económico, com dados sobre os PIGS, mostra muito claramente várias coisas que desmentem o discurso oficial do PS e da esquerdalhada:
Fonte: Vítor Bento, E se olhássemos os números? |
- Antes da crise o crescimento português era insignificante e depois da crise a queda do PIB foi a segunda mais baixa;
- Antes da crise o desemprego português era o mais alto e actualmente é o terceiro mais alto;
- Antes da crise Portugal tinha o segundo maior défice das contas externas e agora tem o maior superavit;
- A quebra da procura interna foi a mais baixa dos 3 países intervencionados e praticamente igual à de Espanha;
- As exportações tiveram o segundo maior aumento, praticamente igual ao Espanha;
- Os custos unitários do trabalho diminuíram em Portugal menos do qualquer dos outros países, excepto a Itália.
29/12/2013
SERVIÇO PÚBLICO: Carga tributária pesada e burocracia complicada
ARTIGO DEFUNTO: Enquadramento de causas
Um exemplo particularmente ousado da técnica de agitprop regularmente utilizada pelo jornalismo de causas francês (neste caso)... e português – basta procurar as imagens de qualquer manif da esquerdalhada lusitana (visto no Com jornalismo assim, quem precisa de censura?...).
Entrevista da TF1 a Jean-Luc Mélenchon antes da manif de 1 de Dezembro da Frente de Esquerda no Figaro |
28/12/2013
SERVIÇO PÚBLICO: Conflito de interesses? Qual conflito?
Intervenção de Paulo Morais na Assembleia da República no dia 29 de Novembro no XV Encontro Público da Plataforma Activa da Sociedade Civil (PASC), sobre o regime de incompatibilidade dos deputados, com um foco muito especial nos confilitos de interesse de deputados dos partidos do governo. Espera-se que tenha sido só uma questão de prioridade e aguardam-se outras intervenções de Paulo Morais.
Chávez & Chávez, Sucessores (15) – Médicos em trânsito de um paraíso socialista para o inferno capitalista, via um outro paraíso socialista
«En el último año un promedio de tres mil cubanos, en su mayoría médicos, llegaron a Estados Unidos desertando de los distintos programas sociales que ejecutan en Venezuela, lo que representa un incremento de 60% con respecto a 2012.
En territorio estadounidense hasta el año pasado había unos cinco mil médicos y enfermeras cubanas refugiados de todo el mundo, y hasta el primero de diciembre de 2013 la cifra alcanzó los ocho mil, 98% de ellos provenientes de Venezuela.»
(Fonte: El Universal de 21-12, via Insurgente)
Melhor do que o chávismo com Chávez, só o chávismo com Moreno.
En territorio estadounidense hasta el año pasado había unos cinco mil médicos y enfermeras cubanas refugiados de todo el mundo, y hasta el primero de diciembre de 2013 la cifra alcanzó los ocho mil, 98% de ellos provenientes de Venezuela.»
(Fonte: El Universal de 21-12, via Insurgente)
Melhor do que o chávismo com Chávez, só o chávismo com Moreno.
27/12/2013
AVALIAÇÃO CONTÍNUA: O speechwriter de Passos Coelho meteu água em «termos líquidos»
Secção Tiros nos pés
Na mensagem de Natal, o primeiro-ministro na ânsia de dar boas notícias disse em determinado ponto
Como seria de esperar, o jornalismo de causas que deixou passar em silêncio durante 2 anos a esperteza de José Sócrates, ao confundir deliberadamente a recuperação de 150 mil postos de trabalho perdidos (prometida no programa do XVII governo) com a criação de novos postos (ver aqui a retrospectiva), não deixou passar em branco a calinada/habilidade (cortar consoante o gosto).
Três chateaubriands para o speechwriter pela calinada/habilidade, quatro para o primeiro-ministro por o ter escolhido e três bourbons para o jornalismo de causas por continuar igual a si próprio.
Na mensagem de Natal, o primeiro-ministro na ânsia de dar boas notícias disse em determinado ponto
«o emprego começou a crescer e, em termos líquidos, até ao terceiro trimestre foram criados 120 mil novos postos de trabalho».Deveria ser evidente para o speechwriter e para o primeiro-ministro que o líquido de entre empregos criados e destruídos este ano nunca poderia ter sido 120 mil, pela prosaica razão que a população activa aumentou apenas de 22 mil entre o último trimestre de 2012 e o 3.º trimestre de 2013 (ver INE, Estatísticas do Emprego - 3.º Trimestre de 2013). Para compor o discurso, em vez de começar o ano em 1 de Janeiro o speechwriter começou o ano em 1 de Abril, dia das mentiras, porque desde então até 30 de Setembro o aumento líquido do emprego foi de facto 120 mil.
Como seria de esperar, o jornalismo de causas que deixou passar em silêncio durante 2 anos a esperteza de José Sócrates, ao confundir deliberadamente a recuperação de 150 mil postos de trabalho perdidos (prometida no programa do XVII governo) com a criação de novos postos (ver aqui a retrospectiva), não deixou passar em branco a calinada/habilidade (cortar consoante o gosto).
Três chateaubriands para o speechwriter pela calinada/habilidade, quatro para o primeiro-ministro por o ter escolhido e três bourbons para o jornalismo de causas por continuar igual a si próprio.
Pro memoria (154) – O que é inconstitucional em Portugal em geral pode não ser no Portugal em particular. No Intendente, por exemplo
(Uma espécie de sequela da constitucionalidade no Kosovo)
Em particular, por exemplo no Largo do Intendente, onde agora reside o homem providencial para o Estado Providência que, a propósito do salário que não paga há 5 meses à Directora dos serviços de cultura da Assembleia Distrital de Lisboa, escreveu há 2 anos uma carta a esta Assembleia em que explicava que «apesar de constar da Constituição, aquela instituição “não tem relevância no trabalho efectuado pelas autarquias, pelo que o seu funcionamento deveria ser suspenso até à próxima revisão constitucional”, não dando “nem mais um tostão (…) a uma entidade que não se enquadra da realidade autárquica”». (daqui, lido no Insurgente)
Devo confessar que a mim, um ultraneoliberal, me parece uma excelente ideia fechar o departamento que «não tem relevância … (e deixá-lo em) … suspenso até à próxima revisão constitucional». Tenho dificuldade em perceber a ideia em quem cultiva a lei de Parkinson na Câmara, onde mantém quase dez mil funcionários estacionados em imensos departamentos que não têm relevância, e há 2 anos pertence ao coro do «é inconstitucional» a propósito de qualquer reforma, como o Dr. António Costa.
Em particular, por exemplo no Largo do Intendente, onde agora reside o homem providencial para o Estado Providência que, a propósito do salário que não paga há 5 meses à Directora dos serviços de cultura da Assembleia Distrital de Lisboa, escreveu há 2 anos uma carta a esta Assembleia em que explicava que «apesar de constar da Constituição, aquela instituição “não tem relevância no trabalho efectuado pelas autarquias, pelo que o seu funcionamento deveria ser suspenso até à próxima revisão constitucional”, não dando “nem mais um tostão (…) a uma entidade que não se enquadra da realidade autárquica”». (daqui, lido no Insurgente)
Devo confessar que a mim, um ultraneoliberal, me parece uma excelente ideia fechar o departamento que «não tem relevância … (e deixá-lo em) … suspenso até à próxima revisão constitucional». Tenho dificuldade em perceber a ideia em quem cultiva a lei de Parkinson na Câmara, onde mantém quase dez mil funcionários estacionados em imensos departamentos que não têm relevância, e há 2 anos pertence ao coro do «é inconstitucional» a propósito de qualquer reforma, como o Dr. António Costa.
26/12/2013
Pro memoria (153) – A quadratura do círculo
Depois de mais de 2 anos a clamar contra a austeridade, ou seja contra a redução da despesa, e o aumento dos impostos, o PS pela boca do seu secretário nacional Eurico Brilhante Dias comenta os dados da execução orçamental até Novembro com as seguintes palavras: «estes valores não só não nos surpreendem, como são a confirmação que a consolidação orçamental em 2013 é, no mínimo, insuficiente».
Vamos ver se percebemos: o que seria necessário para a consolidação orçamental em 2013 ser suficiente? Segundo a aritmética corrente, ter-se-ia que reduzir mais a despesa e/ou aumentar mais os impostos que são precisamente as medidas contra as quais o PS clamou e clama.
Corajosamente, o Dr. Brilhante ainda partilhou connosco uma previsão arriscada: «Portanto, Portugal passará para 2014 com um défice orçamental muito próximo dos 6%». Digo corajosamente porque nas últimas décadas o PS (e os outros partidos do «S» e os do «C» e o do «E») falhou praticamente todas as previsões. Receio que o Dr. Brilhante falhe outra vez, apesar de só já faltar meia dúzia de dias para fechar o ano.
Esclarecimento:
A alusão à quadratura do círculo, não é uma piada ao novo Dr. Pacheco Pereira. É apenas uma alegoria aos problemas sem solução. Para quem não saiba, o matemático Carl von Lindemann demonstrou que é impossível definir um quadrado com área igual à de um círculo porque Pi - a razão entre o perímetro e o diâmetro - é um número transcendente. Do mesmo modo, reduzir o défice sem reduzir mais a despesa e/ou aumentar mais os impostos é do domínio do transcendental – o domínio por excelência em que o PS se move depois de ter esvaziado os cofres.
Por coincidência, von Lindemann é um alemão como Wolfgang Schäuble, o actual e anterior ministro das Finanças de Angela Merkel, o qual, como até já o PS percebeu, também demonstrou que a consolidação orçamental não se faz com medidas transcendentais.
Vamos ver se percebemos: o que seria necessário para a consolidação orçamental em 2013 ser suficiente? Segundo a aritmética corrente, ter-se-ia que reduzir mais a despesa e/ou aumentar mais os impostos que são precisamente as medidas contra as quais o PS clamou e clama.
Corajosamente, o Dr. Brilhante ainda partilhou connosco uma previsão arriscada: «Portanto, Portugal passará para 2014 com um défice orçamental muito próximo dos 6%». Digo corajosamente porque nas últimas décadas o PS (e os outros partidos do «S» e os do «C» e o do «E») falhou praticamente todas as previsões. Receio que o Dr. Brilhante falhe outra vez, apesar de só já faltar meia dúzia de dias para fechar o ano.
Esclarecimento:
A alusão à quadratura do círculo, não é uma piada ao novo Dr. Pacheco Pereira. É apenas uma alegoria aos problemas sem solução. Para quem não saiba, o matemático Carl von Lindemann demonstrou que é impossível definir um quadrado com área igual à de um círculo porque Pi - a razão entre o perímetro e o diâmetro - é um número transcendente. Do mesmo modo, reduzir o défice sem reduzir mais a despesa e/ou aumentar mais os impostos é do domínio do transcendental – o domínio por excelência em que o PS se move depois de ter esvaziado os cofres.
Por coincidência, von Lindemann é um alemão como Wolfgang Schäuble, o actual e anterior ministro das Finanças de Angela Merkel, o qual, como até já o PS percebeu, também demonstrou que a consolidação orçamental não se faz com medidas transcendentais.
DEIXAR DE DAR GRAXA PARA MUDAR DE VIDA: A fábula do surto inventivo que nos assola (4)
Outros posts sobre a mesma fábula: 08-08-2010; 28-11-2010; 28-11-2012; 08-12-2013; 16-12-2013.
A propósito dessa fábula, citei no último post a entrevista do Expresso a Mariano Gago lamentando a falta de investimento na ciência e a «fuga de cérebros». Por isso, foi com curiosidade que, via uma Bomba de Ouro, li «O “emprego científico” Um manifesto contra o “emprego científico”» de Humberto Brito, onde essa entrevista é também comentada, do qual destaco em particular o seguinte excerto:
«Longe, aliás, vão os tempos em que havia académicos tout court. Em vez de jovens académicos, hoje temos “investigadores” — e ai do docente que não der provas claras de “investigação”. Colóquios, seminários, tertúlias, noites de fado: tudo, hoje, “reuniões científicas”; e ai de quem não receber um atestado de presença. Sendo tudo pago pela FCT, e como tudo o que é pago pela FCT conta como investigação, tudo conta como investigação desde que lhe chamemos investigação para que seja pago pela FCT. E deste modo colóquios, seminários, tertúlias, noites de fado (tudo, já se sabe, “reuniões científicas”) contam como investigação, não obstante as diferenças óbvias entre colóquios, seminários, tertúlias e noites de fado, e não obstante as diferenças entre bons e maus colóquios, bons e maus seminários, bons e maus livros, bons e maus artigos científicos, etc. Desde que sejam “reuniões científicas” e, de preferência, “internacionais”, irão parar infalivelmente aos “indicadores de produção científica”. (“E se tiver estrangeiros, mas for feito aqui,” pergunta sempre uma voz na sala, “também conta como internacional, não é?”) É talvez por malabarismos deste género que as Humanidades não são suficientemente respeitadas em Portugal enquanto Humanidades. Talvez. Não sei. Posso muito bem estar errado.:
Apavorados acerca do seu futuro individual, não admira que muitos dos meus colegas queiram tratar a sua relação com a Universidade como uma simples questão laboral. Enquanto assalariados esperam poder ser tratados com a merecida dignidade. Escusado será dizer que estou absolutamente do lado de quem espera o que merece. Tenho, porém, sérias dúvidas de um académico (e aqui incluo toda a gente de todas as áreas) dever ser tratado como um mero assalariado, que trabalhe para o Estado. E tratar bolseiros de doutoramento como funcionários públicos com direitos laborais é, além de um tremendo erro conceptual, um disparate pedagógico e um erro político inqualificável.»
Infelizmente, não me parece que a visão lúcida do autor em relação às «Ciências» se mantenha quando trata das «Humanidades».
A propósito dessa fábula, citei no último post a entrevista do Expresso a Mariano Gago lamentando a falta de investimento na ciência e a «fuga de cérebros». Por isso, foi com curiosidade que, via uma Bomba de Ouro, li «O “emprego científico” Um manifesto contra o “emprego científico”» de Humberto Brito, onde essa entrevista é também comentada, do qual destaco em particular o seguinte excerto:
«Longe, aliás, vão os tempos em que havia académicos tout court. Em vez de jovens académicos, hoje temos “investigadores” — e ai do docente que não der provas claras de “investigação”. Colóquios, seminários, tertúlias, noites de fado: tudo, hoje, “reuniões científicas”; e ai de quem não receber um atestado de presença. Sendo tudo pago pela FCT, e como tudo o que é pago pela FCT conta como investigação, tudo conta como investigação desde que lhe chamemos investigação para que seja pago pela FCT. E deste modo colóquios, seminários, tertúlias, noites de fado (tudo, já se sabe, “reuniões científicas”) contam como investigação, não obstante as diferenças óbvias entre colóquios, seminários, tertúlias e noites de fado, e não obstante as diferenças entre bons e maus colóquios, bons e maus seminários, bons e maus livros, bons e maus artigos científicos, etc. Desde que sejam “reuniões científicas” e, de preferência, “internacionais”, irão parar infalivelmente aos “indicadores de produção científica”. (“E se tiver estrangeiros, mas for feito aqui,” pergunta sempre uma voz na sala, “também conta como internacional, não é?”) É talvez por malabarismos deste género que as Humanidades não são suficientemente respeitadas em Portugal enquanto Humanidades. Talvez. Não sei. Posso muito bem estar errado.:
Apavorados acerca do seu futuro individual, não admira que muitos dos meus colegas queiram tratar a sua relação com a Universidade como uma simples questão laboral. Enquanto assalariados esperam poder ser tratados com a merecida dignidade. Escusado será dizer que estou absolutamente do lado de quem espera o que merece. Tenho, porém, sérias dúvidas de um académico (e aqui incluo toda a gente de todas as áreas) dever ser tratado como um mero assalariado, que trabalhe para o Estado. E tratar bolseiros de doutoramento como funcionários públicos com direitos laborais é, além de um tremendo erro conceptual, um disparate pedagógico e um erro político inqualificável.»
Infelizmente, não me parece que a visão lúcida do autor em relação às «Ciências» se mantenha quando trata das «Humanidades».
ESTADO DE SÍTIO: O sultão eleito
Uma das pedras-de-toque para identificar um regime não democrático, de democracia limitada ou musculada, é a criação em épocas críticas pelos seus governantes de inimigos externos imaginários. Outra é a existência de corrupção institucional, isto é de corrupção tolerada ou promovida por esses governantes.
Recep Tayyip Erdogan, o sultão eleito, cabeça do regime semi-clerical turco, acusou as potências ocidentais e o clérigo Fethullah Gulen, seu ex-aliado residente nos EU, de inspirarem uma conspiração para investigar e acusar de corrupção os familiares de vários dos seus vizires e as manifestações anti-corrupção dos seus súbditos em Istambul.
Recep Tayyip Erdogan, o sultão eleito, cabeça do regime semi-clerical turco, acusou as potências ocidentais e o clérigo Fethullah Gulen, seu ex-aliado residente nos EU, de inspirarem uma conspiração para investigar e acusar de corrupção os familiares de vários dos seus vizires e as manifestações anti-corrupção dos seus súbditos em Istambul.
25/12/2013
Lost in translation (196) - «Veio alguém de fora ajudar pondo a casa em desordem», disse ele enigmaticamente
Palavras de Tomás Correia, presidente do Montepio, referindo-se à intervenção da troika. O que quereria significar a criatura com tal enigmática expressão?
O Montepio terá de registar este ano imparidades de 250 milhões nos créditos à habitação e à construção, porque, como explicou Tomás Correia, «nos outros anos foi possível conter o nível de provisionamento e ter resultados positivos, ainda que ligeiros, este ano temos um reforço de provisões muito intenso». Em consequência, o MG virá a ter «prejuízos históricos». Agora sim, já percebemos a «casa em desordem».
O Montepio terá de registar este ano imparidades de 250 milhões nos créditos à habitação e à construção, porque, como explicou Tomás Correia, «nos outros anos foi possível conter o nível de provisionamento e ter resultados positivos, ainda que ligeiros, este ano temos um reforço de provisões muito intenso». Em consequência, o MG virá a ter «prejuízos históricos». Agora sim, já percebemos a «casa em desordem».
DIÁRIO DE BORDO: a cada um o seu natal
Um Natal impertinente:
[Repescado de vários natais anteriores, porque o Natal é quando o homem quer]
- Santo Natal e um beijinho (Lapa, Boavista e classe A em geral)
- Bom Natal e dois beijinhos (Telheiras, Antas e classe B em geral)
- Feliz Natal e dois ou três beijinhos (choldra).
[Repescado de vários natais anteriores, porque o Natal é quando o homem quer]
DIÁRIO DE BORDO: «Desgarrada» e «ablação abrupta»
A redução da iniquidade de um sistema de pensões privativo dos funcionários públicos e financiado pelos sujeitos passivos fazendo-o convergir para o sistema público de pensões dos sujeitos passivos foi classificada como «desgarrada» pelo professor Marcelo Rebelo de Sousa, o autêntico picareta falante, e «ablação abrupta» pelo Tribunal Constitucional, o Conselho da Revolução do novo milénio.
Negócios online |
24/12/2013
Pro memoria (153) – De Semper idem para Semper mutandis. O estranho caso do Dr. Pacheco Pereira.
Nunca fui ouvinte ou espectador das intervenções soporíferas do Dr. Pacheco Pereira, mas lia regularmente com gosto, confesso, os seus escritos. Já há algum tempo, por absoluta falta de pachorra, deixei de o fazer. Os seus escritos deixaram de me interessar como objectos do seu pensamento político. No máximo, se me interessarem, será como objectos de psicanálise porque, gradualmente, desde há alguns anos não passam de exercícios de ressabiamento e vaidades ofendidas e, consequentemente, de ódios de estimação.
E é como objecto de psicanálise que tomei conhecimento indirecto (aqui por aqui) do que parece ter-se passado no programa Quadratura do Círculo onde o Dr. Pacheco Pereira dissertou sobre a redução do IRC, o colaboracionismo do PS com a direita e o favorecimento dos poderosos. Fê-lo com tal sanha que até António Costa, que se esperaria ficar-lhe grato por estar a demolir o ocupante do lugar para o qual os deuses socialistas destinaram Costa, ficou embaraçado.
Trata-se de um mais um exemplo de como a prática política deve mais a Pavlov, Freud, Jung, Lacan et alia do que às grandes doutrinas políticas e sociais.
E é como objecto de psicanálise que tomei conhecimento indirecto (aqui por aqui) do que parece ter-se passado no programa Quadratura do Círculo onde o Dr. Pacheco Pereira dissertou sobre a redução do IRC, o colaboracionismo do PS com a direita e o favorecimento dos poderosos. Fê-lo com tal sanha que até António Costa, que se esperaria ficar-lhe grato por estar a demolir o ocupante do lugar para o qual os deuses socialistas destinaram Costa, ficou embaraçado.
Trata-se de um mais um exemplo de como a prática política deve mais a Pavlov, Freud, Jung, Lacan et alia do que às grandes doutrinas políticas e sociais.
CASE STUDY: Se não morreu da falta de regulação pode morrer do excesso (2)
Já aqui tinha colocado em dúvida o mito da falta de regulação da economia americana usando o exemplo da lei Dodd-Frank de 2010, inspirada pela falência do Lehman Bros, que com 848 páginas é 23 vezes mais extensa do que a lei Glass-Steagall que reformou o sistema financeiros após o crash de 1929.
A esse exemplo pode agora acrescentar-se o da chamada lei Volcker que está em vias de ser aprovada com as suas 963 páginas (incluindo um preâmbulo com os comentários resultantes da consulta pública), 2.286 notas de rodapé e 1.347 questões. Toda esta pletora de legalês tem como o único propósito impedir que os bancos pratiquem o «proprietary trading», isto é especulem nas bolsas no seu interesse com o dinheiro dos depositantes.
Muitos colocam em dúvida a bondade desse propósito. Dou de borla, acrescentando que de pouco deve servir se o governo americano através do Fed continuar com a impressora a trabalhar no «quantitative easing» para fabricar a próxima bolha, da qual já existem sérios indícios.
A esse exemplo pode agora acrescentar-se o da chamada lei Volcker que está em vias de ser aprovada com as suas 963 páginas (incluindo um preâmbulo com os comentários resultantes da consulta pública), 2.286 notas de rodapé e 1.347 questões. Toda esta pletora de legalês tem como o único propósito impedir que os bancos pratiquem o «proprietary trading», isto é especulem nas bolsas no seu interesse com o dinheiro dos depositantes.
Muitos colocam em dúvida a bondade desse propósito. Dou de borla, acrescentando que de pouco deve servir se o governo americano através do Fed continuar com a impressora a trabalhar no «quantitative easing» para fabricar a próxima bolha, da qual já existem sérios indícios.
23/12/2013
SERVIÇO PÚBLICO: «Um swap sobre a verdade» (2)
Sequela de (1)
«As empresas públicas reclassificadas (aquelas que passaram a ter de consolidar as suas contas com o Estado como a RTP ou o Metro de Lisboa) fizeram 88 operações com swaps que acabaram por ser reestruturadas pelo menos 128 vezes. Estes contratos tiveram o seu expoente máximo durante o governo de José Sócrates e eram feitos para cobrir o risco das taxas de juros. Como recebiam milhões no início do contrato ajudavam as contas das empresas públicas no ano em que eram feitos. O crime (receber logo e pagar depois) foi perpetuado na altura, não agora.» (ver aqui)
Sendo assim, porquê a surpresa do relatório da Comissão Parlamentar de Inquérito concluir pela responsabilidade dos governos de Sócrates nos contratos de swap de natureza especulativa ou de alternativas ao financiamento? Pois não foi no período Março de 2005 a Junho de 2001 que foram assinados praticamente todos esses contratos?
E porque a indignação? Percebe-se que os profissionais da política que têm que branquear as suas entidades empregadoras se mostrem indignados. Faz parte. Mas como compreender que um comentador como Miguel Sousa Tavares, que tanto preza a sua independência, meta no mesmo saco do «bloco central» as responsabilidades dos governos de Sócrates na contratação de swaps? (artigo de opinião «Razões de descrença» no Acção Socialista Expresso de sábado passado)
«As empresas públicas reclassificadas (aquelas que passaram a ter de consolidar as suas contas com o Estado como a RTP ou o Metro de Lisboa) fizeram 88 operações com swaps que acabaram por ser reestruturadas pelo menos 128 vezes. Estes contratos tiveram o seu expoente máximo durante o governo de José Sócrates e eram feitos para cobrir o risco das taxas de juros. Como recebiam milhões no início do contrato ajudavam as contas das empresas públicas no ano em que eram feitos. O crime (receber logo e pagar depois) foi perpetuado na altura, não agora.» (ver aqui)
Sendo assim, porquê a surpresa do relatório da Comissão Parlamentar de Inquérito concluir pela responsabilidade dos governos de Sócrates nos contratos de swap de natureza especulativa ou de alternativas ao financiamento? Pois não foi no período Março de 2005 a Junho de 2001 que foram assinados praticamente todos esses contratos?
E porque a indignação? Percebe-se que os profissionais da política que têm que branquear as suas entidades empregadoras se mostrem indignados. Faz parte. Mas como compreender que um comentador como Miguel Sousa Tavares, que tanto preza a sua independência, meta no mesmo saco do «bloco central» as responsabilidades dos governos de Sócrates na contratação de swaps? (artigo de opinião «Razões de descrença» no Acção Socialista Expresso de sábado passado)
Encalhados numa ruga do contínuo espaço-tempo (11) - O futuro segundo os intelectuais desiludidos é a ditadura do proletariado
Perdida a fé nas diferentes versões do socialismo, no estado social, uma «intelectual orgânica» doméstica ressuscita os velhos profetas e os velhos mitos. Leia-se o extraordinário e delirante texto que se segue extraído de «Volta Marx, estás perdoado» da Pluma Caprichosa, Clara Ferreira Alves, a entrevistadora do «chefe democrático que a direita sempre quis ter».
22/12/2013
LA DONNA E UN ANIMALE STRAVAGANTE: Para tirar os trapinhos qualquer causa é boa (12)
Outros trapinhos tirados:
(1), (2), (3), (4), (5), (6), (7), (8), (9), (10) e (11).
Deve haver uma razão, que por enquanto me escapa, para o feminismo militante insistir em tirar os trapinhos a propósito de quase qualquer coisa. Desta vez pretendia-se mostrar as partes pudendas «para lutar contra visão machista do corpo feminino».
O «toplessaço», como foi baptizado pelos cariocas, teve lugar na praia de Ipanema, infelizmente sem a presença da garota de Vinicius, e foi um sucesso e um fracasso. Foi um sucesso «pela presença massiva de curiosos e de um batalhão de fotojornalistas» em representação da «visão machista do corpo feminino» e foi um fracasso porque apenas algumas meninas tiraram os trapinhos superiores e, ainda assim, uma delas «a convite da emissora MTV».
Os casos mais apreciados foram o de Ana Paula Nogueira, «com a prótese de silicone desnuda e purpurinada», e o de Olga Solon, de 73 anos, que «posou para fotos sem blusa acompanhada pelo marido francês, mas logo colocou a roupa. Os dois moram há quatro anos no Arquipélago de Açores».
Deve haver uma razão, que por enquanto me escapa, para o feminismo militante insistir em tirar os trapinhos a propósito de quase qualquer coisa. Desta vez pretendia-se mostrar as partes pudendas «para lutar contra visão machista do corpo feminino».
O «toplessaço», como foi baptizado pelos cariocas, teve lugar na praia de Ipanema, infelizmente sem a presença da garota de Vinicius, e foi um sucesso e um fracasso. Foi um sucesso «pela presença massiva de curiosos e de um batalhão de fotojornalistas» em representação da «visão machista do corpo feminino» e foi um fracasso porque apenas algumas meninas tiraram os trapinhos superiores e, ainda assim, uma delas «a convite da emissora MTV».
Os casos mais apreciados foram o de Ana Paula Nogueira, «com a prótese de silicone desnuda e purpurinada», e o de Olga Solon, de 73 anos, que «posou para fotos sem blusa acompanhada pelo marido francês, mas logo colocou a roupa. Os dois moram há quatro anos no Arquipélago de Açores».
Mais uma jornada de luta |
Dúvidas (34) - Pode-se ser comunista sem se ser estúpido ou desonesto?
A efabulação
«A posição do FMI é o posicionamento lógico de quem quer, de quem decidiu que este país, os trabalhadores e o povo português vão ter de continuar a ser `esmifrados´, passe o termo, até poderem» disse Jerónimo de Sousa, o controleiro-mór do PCP.
Os factos
A dúvida
«A posição do FMI é o posicionamento lógico de quem quer, de quem decidiu que este país, os trabalhadores e o povo português vão ter de continuar a ser `esmifrados´, passe o termo, até poderem» disse Jerónimo de Sousa, o controleiro-mór do PCP.
Os factos
Clicar para ampliar (fonte: BPI - Análise mensal Outubro) |
A dúvida
Trilema de Žižek |
ESTADO DE SÍTIO: O Portugal inconstitucional (8) - Desconfiemos do princípio da confiança
Outros Portugais inconstitucionais: (1), (2), (3), (4), (5), (6) e (7)
O artigo 2.º da Constituição da República Portuguesa a caminho de uma sociedade socialista reza assim:
O artigo 2.º da Constituição da República Portuguesa a caminho de uma sociedade socialista reza assim:
«A República Portuguesa é um Estado de direito democrático, baseado na soberania popular, no pluralismo de expressão e organização política democráticas, no respeito e na garantia de efectivação dos direitos e liberdades fundamentais e na separação e interdependência de poderes, visando a realização da democracia económica, social e cultural e o aprofundamento da democracia participativa.»Daqui decorre inexoravelmente o princípio da confiança. Também costuma decorrer o princípio da equidade, mas não inexoravelmente. Tanto assim que desta vez não decorreu e o Tribunal Constitucional decidiu-se pela inconstitucionalidade da redução das pensões dos funcionários públicos que em igualdade de outras condições costumam ser significativamente superiores às da Segurança Social.
21/12/2013
Títulos inspirados (19) - Estaria a criatura a pensar na troika do NKVD?
O Arménio Carlos, controleiro do PCP na CGTP, que coexiste pacificamente com a memória do Gulag, do Holodomor, com o Grande Salto em Frente e muitas outras memórias do rasto de morte e miséria do comunismo, que já defendeu a ditadura do proletariado, a sociedade comunista, a democracia popular, a sociedade socialista, as nacionalizações, as conquistas de Abril e agora diz que defende o Estado Social é o mesmo Arménio Carlos que disse à equipa técnica da troika (que representa os credores que nos estão a emprestar dinheiro a juros de favor de metade do que o mercado nos cobraria) que «deixar os prisioneiros morrer à fome ou não os assistir na doença é um crime de guerra».
O camarada Arménio foi citado por uma jornalista de causas do Expresso que pranta na assombrosa peça de agitprop o ainda mais assombrosso título «Arménio quer troika julgada por crimes de guerra».
Estaria a criatura a pensar na troika do NKVD (особая тройка), comité criado em 1934 por José Estaline e responsável pela atribuição de penas administrativas (sem julgamento) de expulsão (высылка), exílio (ссылка), campos de correctivos de trabalho (ГУЛаг) e deportação (высылка)?
O camarada Arménio foi citado por uma jornalista de causas do Expresso que pranta na assombrosa peça de agitprop o ainda mais assombrosso título «Arménio quer troika julgada por crimes de guerra».
Estaria a criatura a pensar na troika do NKVD (особая тройка), comité criado em 1934 por José Estaline e responsável pela atribuição de penas administrativas (sem julgamento) de expulsão (высылка), exílio (ссылка), campos de correctivos de trabalho (ГУЛаг) e deportação (высылка)?
ARTIGO DEFUNTO: Sondagens de causas, as favoritas do Expresso (3)
Outras sondagens de causas favoritas do Expresso: (1) e (2).
Alguém como eu, e possivelmente muitos outros portugueses, que pensa que o líder do PS não «está a agir bem» e não «deveria fazer tudo para derrubar o governo já», como responderia a esta sondagem?
Alguém como eu, e possivelmente muitos outros portugueses, que pensa que o líder do PS não «está a agir bem» e não «deveria fazer tudo para derrubar o governo já», como responderia a esta sondagem?
Eurosondagem (uma empresa de Rui Oliveira e Costa, ex-deputado e dirigente do PS e comentador desportivo), publicada no |
20/12/2013
NÓS VISTOS POR ELES: O relógio do «escurinho» não está acertado pelo relógio do «salta-pocinhas»
Nós, os portugueses, temos uma notória obsessão com o que pensam a nosso respeito os estrangeiros. Imaginamos que pensam imensas coisas quando a realidade mostra pensarem muito pouco, com excepção daqueles que têm a desdita de ter de nos aturar.
No exercício dessa obsessão escrutinamos com um filtro o que dizem e escrevem os estrangeiros procurando confortar a nossa insegurança e fortalecer o nosso frágil ego. Por isso, duvido que se dê a atenção devida ao que nos disse Subir Lall, chefe da missão do FMI. Por várias razões, além da óbvia que é não nos dar graxa: é «escurinho», como disse aquela alma subtil que comanda a legião comunista, a propósito do antecessor de Lall; é «técnico» - uma espécie de insulto reservado a quem não partilha o pensamento mágico da esquerda; e representa a tutela dos credores que nos obriga a conviver com a realidade, exercício penoso e desgastante.
Entre as várias coisas que o «escurinho» nos disse através do Financial Times, avisou em estrangeiro que «The transformations that the economy needs will have to go on for another 10 to 15 years and they will have to be home grown, (…) Changing how the economy responds and overcoming inertia requires an ongoing effort and will have to be done regardless of which political party is in power.»
Se Subir Lall viu o relógio de Paulo Portas, deve ter suspeitado que o seu proprietário e os portugueses que por ele se orientam ainda não acertaram as horas, decorridos mais de 2 anos de tutela.
No exercício dessa obsessão escrutinamos com um filtro o que dizem e escrevem os estrangeiros procurando confortar a nossa insegurança e fortalecer o nosso frágil ego. Por isso, duvido que se dê a atenção devida ao que nos disse Subir Lall, chefe da missão do FMI. Por várias razões, além da óbvia que é não nos dar graxa: é «escurinho», como disse aquela alma subtil que comanda a legião comunista, a propósito do antecessor de Lall; é «técnico» - uma espécie de insulto reservado a quem não partilha o pensamento mágico da esquerda; e representa a tutela dos credores que nos obriga a conviver com a realidade, exercício penoso e desgastante.
Entre as várias coisas que o «escurinho» nos disse através do Financial Times, avisou em estrangeiro que «The transformations that the economy needs will have to go on for another 10 to 15 years and they will have to be home grown, (…) Changing how the economy responds and overcoming inertia requires an ongoing effort and will have to be done regardless of which political party is in power.»
Se Subir Lall viu o relógio de Paulo Portas, deve ter suspeitado que o seu proprietário e os portugueses que por ele se orientam ainda não acertaram as horas, decorridos mais de 2 anos de tutela.
19/12/2013
Um dia como os outros na vida do estado sucial (16) - «Protestos, boicotes e lágrimas…» e outras formas de luta
«O estudante norte-americano acusado de ter lançado uma falsa ameaça de bomba no campus da Universidade de Harvard, nos EUA, confessou que tudo não passou de uma forma de evitar ser avaliado nos exames.
Eldo Kim, estudante de psicologia de 20 anos, encontra-se detido e arrisca até cinco anos de prisão se for condenado por ter semeado o pânico no campus na segunda-feira, forçando a evacuação de quatro edifícios.» (Expresso)
Se o jovem Eldo visse na televisão português os profs a invadirem salas de aula com a maior impunidade, tentando impedir os seus colegas de fazerem exame, com o jornalismo de causas em êxtase, pediria asilo político à embaixada portuguesa em Washington.
Eldo Kim, estudante de psicologia de 20 anos, encontra-se detido e arrisca até cinco anos de prisão se for condenado por ter semeado o pânico no campus na segunda-feira, forçando a evacuação de quatro edifícios.» (Expresso)
Se o jovem Eldo visse na televisão português os profs a invadirem salas de aula com a maior impunidade, tentando impedir os seus colegas de fazerem exame, com o jornalismo de causas em êxtase, pediria asilo político à embaixada portuguesa em Washington.
DIÁRIO DE BORDO: Pensamento da semana
«… uma parte da Igreja incapaz de ver que o combate à pobreza é a indústria que mais dinheiro dá aos governantes: daí o esforço para que não acabe.»
José Manuel Moreira, em «Igreja e Estado» no Económico
José Manuel Moreira, em «Igreja e Estado» no Económico
18/12/2013
Lost in translation (195) - As constituições existem para prevenir os excessos da oposição quando está no poder, queria ele dizer
«As constituições existem também para prevenir os excessos e para dizer a quem governa quais os limites que deve ter», disse José Sócrates numa acção de promoção da sua opus magnum «Confiança no Mundo - Tortura em Democracia».
A Constituição também existia para dizer a José Sócrates, por exemplo, os limites orçamentais que a sua governação deveria ter respeitado em resultado do artigo 105.º: «O Orçamento prevê as receitas necessárias para cobrir as despesas»?
A Constituição também existia para dizer a José Sócrates, por exemplo, os limites orçamentais que a sua governação deveria ter respeitado em resultado do artigo 105.º: «O Orçamento prevê as receitas necessárias para cobrir as despesas»?
A Constituição segundo José Sócrates |
Um dia como os outros na vida do estado sucial (15) - «Protestos, boicotes e lágrimas…»
«… no dia em que docentes contratados com menos de cinco anos de serviço são avaliados. Fenprof pede anulação do exame.» (Público)
Como é que esta gente que protesta, boicota e chora para não fazer exame e pede a anulação, tem lata para encarar os seus alunos de quem esperam que prestem provas sem protestar, sem boicotar e sem chorar?
Como é que esta gente que protesta, boicota e chora para não fazer exame e pede a anulação, tem lata para encarar os seus alunos de quem esperam que prestem provas sem protestar, sem boicotar e sem chorar?
SERVIÇO PÚBLICO: Uma revolução francesa … à portuguesa?
«Como, para não sairmos da matriz francesa, percebeu o malogrado Luís XVI. Isto não vai acabar bem para o TC e muito menos para o parlamento: provavelmente iremos assistir a uma tentativa de presidencialização do regime que no seu messianismo só agravará os nossos problemas. Mas o esfrangalhar das instituições inquieta bem menos a pátria do que uma tentativa falhada de negociação.
17/12/2013
ACREDITE SE QUISER: O relógio de Portas
Paulo Portas instalou na sede do CDS um relógio com a contagem decrescente do tempo para o final do programa de ajustamento da troika. (ver o vídeo aqui)
Se Paulo Portas não fosse o que é, seria razão para estarmos muito preocupados com a falta de consciência do líder de um dos partidos da coligação que governa o país acerca do day after num país cravejado de dívidas cujo serviço absorverá nas próximas décadas uma boa parte da poupança. Sendo quem é, não é razão para estarmos mais preocupados do que o costume.
Se Paulo Portas não fosse o que é, seria razão para estarmos muito preocupados com a falta de consciência do líder de um dos partidos da coligação que governa o país acerca do day after num país cravejado de dívidas cujo serviço absorverá nas próximas décadas uma boa parte da poupança. Sendo quem é, não é razão para estarmos mais preocupados do que o costume.
Dúvidas (33) – Será o Tribunal Constitucional merecedor da reverência da esquerda?
A atitude reverencial da esquerda lusitana perante o TC, atitude aliás transferida do Conselho da Revolução, e para este transferida por condensação do MFA, uma espécie de ersatz de vanguarda da classe operária inventado pelos comunistas e esquerdistas, é apenas mais um sintoma da menoridade da esquerda na busca incessante de uma legitimação externa. Não que a direita lusitana esteja isenta, também ela, de um estado de menoridade ainda mais humilhante, cheia de complexos e a fingir ser de esquerda ou, ainda pior, com um discurso «rigorosamente ao centro» e a tornar-se gradualmente refém da esquerda numa espécie de síndrome de Estocolmo – veja-se o paradigma do professor Freitas do Amaral e o caso ainda mais notável de mimetismo do professor Adriano Moreira que fez o percurso completo desde ministro de Salazar.
Voltando à atitude reverencial dos políticos de esquerda face ao TC, se até percebo por razões de maquiavelismo, e até desculpo por razões de estupidez, já tenho mais dificuldade de perceber a reverência por aquela parte do eleitorado que insulta os políticos e os considera criaturas corruptas e sem princípios, ao mesmo tempo que venera os juízes que essas criaturas escolheram para compor a maioria do TC.
Voltando à atitude reverencial dos políticos de esquerda face ao TC, se até percebo por razões de maquiavelismo, e até desculpo por razões de estupidez, já tenho mais dificuldade de perceber a reverência por aquela parte do eleitorado que insulta os políticos e os considera criaturas corruptas e sem princípios, ao mesmo tempo que venera os juízes que essas criaturas escolheram para compor a maioria do TC.
16/12/2013
DEIXAR DE DAR GRAXA PARA MUDAR DE VIDA: A fábula do surto inventivo que nos assola (3)
Outros posts sobre a mesma fábula: 08/08/2010; 28/11/2010; 28/11/2012; 08/12/2013.
No sábado passado ainda não tinha secado a tinta do que aqui escrevi: no melhor do pensamento social-keynesiano, as luminárias e o coro de fazedores de opinião celebraram durante anos o aumento contínuo (eles chamam «sustentado») do «investimento» em investigação e desenvolvimento.
No sábado passado ainda não tinha secado a tinta do que aqui escrevi: no melhor do pensamento social-keynesiano, as luminárias e o coro de fazedores de opinião celebraram durante anos o aumento contínuo (eles chamam «sustentado») do «investimento» em investigação e desenvolvimento.
15/12/2013
DIÁRIO DE BORDO: R.I.P.
Pro memoria (153) – O choque com a realidade do carro eléctrico de Sócrates (II)
Pelos vistos nem só o carro eléctrico de Sócrates chocou com a realidade. Também o Acção Socialista Expresso parece um pouco perdido.
Se é verdade que estão completamente furados os planos socráticos de em 2020 haver 180 mil carros eléctricos e 25 mil locais de carregamento, o Expresso que inventariava há 3 meses 1.100 pontos de carregamento e 400 veículos, no ontem inventariou 1.300 pontos de carregamento normal, 50 pontos rápidos, postos que terão custado 15 milhões, e 426 carros eléctricos vendidos desde 2010 sendo 140 este ano até Outubro.
Também ficámos a saber que desde 2010 foram feitos 27 mil carregamentos - o que dá 555 euros de investimento por carregamento, so far - nos 1.300 pontos, equivalentes a 7 carregamentos por ponto e ano ou um carregamento em cada 52 dias.
Quando um socialista/keinesyano vos tentar converter à bondade do investimento público e para mais decidido por gente com o currículo do engenheiro José Sócrates, se não vos ocorrer os muitos outros casos de desperdícios dos dinheiros públicos extorquidos dos bolsos privados, lembrai-vos ao menos do carro eléctrico.
Se é verdade que estão completamente furados os planos socráticos de em 2020 haver 180 mil carros eléctricos e 25 mil locais de carregamento, o Expresso que inventariava há 3 meses 1.100 pontos de carregamento e 400 veículos, no ontem inventariou 1.300 pontos de carregamento normal, 50 pontos rápidos, postos que terão custado 15 milhões, e 426 carros eléctricos vendidos desde 2010 sendo 140 este ano até Outubro.
Também ficámos a saber que desde 2010 foram feitos 27 mil carregamentos - o que dá 555 euros de investimento por carregamento, so far - nos 1.300 pontos, equivalentes a 7 carregamentos por ponto e ano ou um carregamento em cada 52 dias.
Quando um socialista/keinesyano vos tentar converter à bondade do investimento público e para mais decidido por gente com o currículo do engenheiro José Sócrates, se não vos ocorrer os muitos outros casos de desperdícios dos dinheiros públicos extorquidos dos bolsos privados, lembrai-vos ao menos do carro eléctrico.
A atracção fatal entre a banca do regime e o poder (14) - Espíritos praticam trampolim
[Mais atracções fatais: pesquisa Google]
Com o saboroso título «Espírito Santo Engages in Financial Gymnastics to Survive Crisis», o WSJ descreve as manobras já entre nós conhecidas há alguns meses «to find a source of easy cash: Over a 21-month period, it sold more than €6 billion ($8.27 billion) in debt to one of its own investment funds, sharply elevating the risk to investors.» O fundo ES Liquidez chegou a ter mais de 80% da carteira em dívida de curto prazo do GES.
É ilegal? Não. É «apenas» um problema de conflito de interesses em que o GES para aguentar o grupo a flutuar (ab)usa do património dos seus clientes expondo-os a uma concentração de risco absolutamente desaconselhável. Em rigor, se é que a palavra rigor ainda faz algum sentido neste contexto, é mais do que um «mero» conflito de interesses. A própria valorização destes títulos sem liquidez terá sido feita de forma inapropriada, inchando o valor carteiras do fundo ES Liquidez, ainda que respeitando a letra das normas contabilísticas.
É claro que o BdP teve que mexer neste assunto com mais pinças do que já habitual, tendo em atenção os créditos que GES amealhou em anos de convívio com o poder, quer no sentido estritamente financeiro, quer em sentido metafórico.
Com o saboroso título «Espírito Santo Engages in Financial Gymnastics to Survive Crisis», o WSJ descreve as manobras já entre nós conhecidas há alguns meses «to find a source of easy cash: Over a 21-month period, it sold more than €6 billion ($8.27 billion) in debt to one of its own investment funds, sharply elevating the risk to investors.» O fundo ES Liquidez chegou a ter mais de 80% da carteira em dívida de curto prazo do GES.
É ilegal? Não. É «apenas» um problema de conflito de interesses em que o GES para aguentar o grupo a flutuar (ab)usa do património dos seus clientes expondo-os a uma concentração de risco absolutamente desaconselhável. Em rigor, se é que a palavra rigor ainda faz algum sentido neste contexto, é mais do que um «mero» conflito de interesses. A própria valorização destes títulos sem liquidez terá sido feita de forma inapropriada, inchando o valor carteiras do fundo ES Liquidez, ainda que respeitando a letra das normas contabilísticas.
É claro que o BdP teve que mexer neste assunto com mais pinças do que já habitual, tendo em atenção os créditos que GES amealhou em anos de convívio com o poder, quer no sentido estritamente financeiro, quer em sentido metafórico.
14/12/2013
ARTIGO DEFUNTO: Se eles ao menos lessem os jornais onde escrevem (3)
Com a habitual ligeireza com que escreve sobre o que desconhece, Miguel Sousa Tavares, o tudólogo como um dia um leitor o apelidou, ao comentar as consequências do default da dívida pública sobre a banca portuguesa garante que «são eles que detêm o grosso da dívida pública», para a seguir escrever que o BCE lhes empresta dinheiro a 1% «para ela o ir emprestar a 7 ou 8% aos Estados».
Se MST lesse o jornal onde escreve e soubesse fazer contas ficaria a saber que a banca terá menos de 30% da dívida pública (*) - o que seria de nós se tivesse o «grosso»?
Se MST lesse o jornal onde escreve ficaria a saber que mesmo após a «irrevogável» demissão de Paulo Portas, que fez os yields subirem a jacto, o leilão de 18 de Setembro onde a banca portuguesa participou activamente, como de costume, as taxas de juro médias foram 1,081% a 3 meses e 2,293% a 18 meses. 7 ou 8% nem os yields (saberá MST o que é o current yield) no mercado secundário para maturidades a 10 anos atingem tais níveis - ontem mesmo o yield das OT a 10 anos estava em 6,05%.
É claro que para a tudologia os factos não interessam, desde que seja por uma boa causa…
(*) Na verdade ainda menos: segundo dados da European Bank Authority (EBA) divulgados no dia 16, os bancos portugueses aumentaram a exposição à dívida pública portuguesa de 18,9 mil milhões de Dezembro de 2010 para 24,5 mil milhões em Junho de 2013.
Se MST lesse o jornal onde escreve e soubesse fazer contas ficaria a saber que a banca terá menos de 30% da dívida pública (*) - o que seria de nós se tivesse o «grosso»?
Se MST lesse o jornal onde escreve ficaria a saber que mesmo após a «irrevogável» demissão de Paulo Portas, que fez os yields subirem a jacto, o leilão de 18 de Setembro onde a banca portuguesa participou activamente, como de costume, as taxas de juro médias foram 1,081% a 3 meses e 2,293% a 18 meses. 7 ou 8% nem os yields (saberá MST o que é o current yield) no mercado secundário para maturidades a 10 anos atingem tais níveis - ontem mesmo o yield das OT a 10 anos estava em 6,05%.
É claro que para a tudologia os factos não interessam, desde que seja por uma boa causa…
(*) Na verdade ainda menos: segundo dados da European Bank Authority (EBA) divulgados no dia 16, os bancos portugueses aumentaram a exposição à dívida pública portuguesa de 18,9 mil milhões de Dezembro de 2010 para 24,5 mil milhões em Junho de 2013.
SERVIÇO PÚBLICO: Empurrando a dívida para a frente com a barriga da banca (2) ... e da troika
Uma espécie de sequela deste post, onde se escreveu sobre a troca de dívida no dia 3 deste mês: é uma das modalidades de reestruturação da dívida, sob a forma de um reescalonamento para aliviar a pressão de curto prazo. Não é bom, nem é mau. É o que tem de ser. O que não teria de ser, e provavelmente é, é a operação de troca de dívida ter sido feita em grande parte à custa dos suspeitos do costume – os bancos portugueses, que assim prolongam por mais 3 a 4 anos o parqueamento em dívida pública de fundos que deveriam estar disponíveis para financiar a economia.
SERVIÇO PÚBLICO: O princípio do princípio (28)
Continuação de (1), (2), (3), (4), (5), (6), (7), (8), (9), (10), (11), (12), (13), (14), (15), (16), (17), (18), (19), (20), (21), (22), (23), (24), (25), (26) e (27)
Entretanto, o Eurostat divulgou os dados do emprego na UE e Portugal registou o maior crescimento no 3.º trimestre (1,2%).
Também na AR, a maioria dos deputados obcecados com a ideia sampaísta de que há vida para além do orçamento não realizaram que também há vida para além do Estado. Por isso não conseguiram entender o que disse em estrangeiro Subir Lall, o troikista escurinho, como lhe chamaria o camarada Jerónimo, ao explicar que os salários no sector privado diziam respeito ao patrões e aos empregados.
Notícias positivas do Portugal Que Trabalha (PQT):
Deve acrescentar-se a Bloomberg ao BdP e às organizações internacionais que alinham as suas previsões com as do governo ultra-neoliberal. Ou, mais rigorosamente, no caso da Bloomberg, desalinha por cima.Entretanto, o Eurostat divulgou os dados do emprego na UE e Portugal registou o maior crescimento no 3.º trimestre (1,2%).
Notícias deprimentes do Portugal Que Se Queixa (PQSQ):
Ana Avoila, a apparatchik do PCP em comissão de serviço na CGTP, animou um grupo de outros apparatchik para gritar insultos ao SE da Administração Pública quando este perorava na AR sobre a Lei Geral do Trabalho em Funções Públicas.Também na AR, a maioria dos deputados obcecados com a ideia sampaísta de que há vida para além do orçamento não realizaram que também há vida para além do Estado. Por isso não conseguiram entender o que disse em estrangeiro Subir Lall, o troikista escurinho, como lhe chamaria o camarada Jerónimo, ao explicar que os salários no sector privado diziam respeito ao patrões e aos empregados.
13/12/2013
Encalhados numa ruga do contínuo espaço-tempo (10) – A apropriação de Nelson Mandela pela esquerda
Depois do funeral de Nelson Mandela talvez já se possa analisar com alguma serenidade os equívocos a seu respeito. Um deles é o da esquerda o ter celebrado como um dos seus. Será mesmo?
Mandela, quando foi preso pela primeira vez em 1956 aos 38 anos, poderia ser classificado como um comunista adepto da luta armada? Certamente. Mandela, como qualquer outro patriota que lutasse pela independência do seu país ou em concreto pelo fim do regime de apartheid no contexto da guerra fria dificilmente poderia escapar ao maniqueísmo então prevalecente e não alinhar com uma das superpotências e a sua doutrina oficial. Com toda a naturalidade, Mandela e dezenas de outros líderes africanos e asiáticos alinharam pelo império dos sovietes e consideram-se ou foram considerados próximos de uma das variantes do marxismo militante.
O Mandela que em 1990 foi libertado com 72 anos era ainda um comunista? Tudo o que ele fez, não fez (durante os seus mandatos como presidente não nacionalizou uma só empresa) e defendeu depois disso e o seu papel na transição do fim do apartheid para uma sociedade multiracial mostram claramente que não. Talvez para isso tivessem contribuído as suas conversações com os líderes dos partidos comunistas chinês e vietnamita que lhe terão dito «We are currently striving to privatize state enterprises and invite private enterprise into our economies. We are Communist Party governments, and you are a leader of a national liberation movement. Why are you talking about nationalization?» (aqui citado, via Portugal Contemporâneo).
Certamente abandonou o comunismo e até é duvidoso que Mandela continuasse a partilhar da doutrina e das idiossincrasias típicas da esquerda. Podem alinhar-se vários argumentos, mas vou usar só um: seria concebível um Mandela identificado com o ideário das esquerdas africanas do ANC ter defendido, contra toda a cúpula do partido que escolheu Thabo Mbeki, que o seu sucessor deveria ser Cyril Ramaphosa, actualmente um dos mais bem sucedidos homens de negócios da África do Sul?
Mandela, quando foi preso pela primeira vez em 1956 aos 38 anos, poderia ser classificado como um comunista adepto da luta armada? Certamente. Mandela, como qualquer outro patriota que lutasse pela independência do seu país ou em concreto pelo fim do regime de apartheid no contexto da guerra fria dificilmente poderia escapar ao maniqueísmo então prevalecente e não alinhar com uma das superpotências e a sua doutrina oficial. Com toda a naturalidade, Mandela e dezenas de outros líderes africanos e asiáticos alinharam pelo império dos sovietes e consideram-se ou foram considerados próximos de uma das variantes do marxismo militante.
O Mandela que em 1990 foi libertado com 72 anos era ainda um comunista? Tudo o que ele fez, não fez (durante os seus mandatos como presidente não nacionalizou uma só empresa) e defendeu depois disso e o seu papel na transição do fim do apartheid para uma sociedade multiracial mostram claramente que não. Talvez para isso tivessem contribuído as suas conversações com os líderes dos partidos comunistas chinês e vietnamita que lhe terão dito «We are currently striving to privatize state enterprises and invite private enterprise into our economies. We are Communist Party governments, and you are a leader of a national liberation movement. Why are you talking about nationalization?» (aqui citado, via Portugal Contemporâneo).
Certamente abandonou o comunismo e até é duvidoso que Mandela continuasse a partilhar da doutrina e das idiossincrasias típicas da esquerda. Podem alinhar-se vários argumentos, mas vou usar só um: seria concebível um Mandela identificado com o ideário das esquerdas africanas do ANC ter defendido, contra toda a cúpula do partido que escolheu Thabo Mbeki, que o seu sucessor deveria ser Cyril Ramaphosa, actualmente um dos mais bem sucedidos homens de negócios da África do Sul?
12/12/2013
SERVIÇO PÚBLICO: O princípio do princípio (27)
Continuação de (1), (2), (3), (4), (5), (6), (7), (8), (9), (10), (11), (12), (13), (14), (15), (16), (17), (18), (19), (20), (21), (22), (23), (24), (25) e (26)
É também um bom sinal, desta vez internacional, a aprovação do Pacote de Bali pela Organização Mundial de Comércio que se espera possa espevitar ainda mais as exportações do PQT.
No PQSQ, tudo como dantes, quartel-general em Abrantes. A burguesia snob, improdutiva e decadente tenta insultar a burguesia empreendedora por se dedicar às mercearias.
Notícias positivas do Portugal Que Trabalha (PQT):
Produção industrial
Fonte: Eurostat newsrelease 189/2013 12-12-2013 |
Previsões macroeconómicas
É um bom sinal que, contrastando com o pensamento milagroso predominante nas previsões socráticas, as previsões do governo ultra-neoliberal estejam a ser mais realistas e insolitamente em linha com as previsões do BdP e das organizações internacionais.Fonte: Dinheiro Vivo |
Outros sinais
O 20.º lugar para fazer negócios em 145 países segundo a Forbes.É também um bom sinal, desta vez internacional, a aprovação do Pacote de Bali pela Organização Mundial de Comércio que se espera possa espevitar ainda mais as exportações do PQT.
Notícias deprimentes do Portugal Que Se Queixa (PQSQ):
No PQSQ, tudo como dantes, quartel-general em Abrantes. A burguesia snob, improdutiva e decadente tenta insultar a burguesia empreendedora por se dedicar às mercearias.
Pro memoria (152) – Mais nódoas para o currículo do ministro anexo
Se João Rendeiro, antigo presidente do Banco Privado Português, estiver a falar verdade, o Banco de Portugal «não só conhecia como sempre consentiu na comercialização das estratégias de retorno absoluto com garantia de capital». Estas «estratégias» não só foram uma das causas do afundamento do BPP como em boa verdade são operações com taxa garantida que só poderiam ser feitas por seguradoras.
Como tudo isto se passou durante o mandato 2000-9 do ministro anexo Vítor Constâncio, agora em repouso em Frankfurt, se isto for verdade, são mais umas nódoas para o currículo do ministro anexo.
Como tudo isto se passou durante o mandato 2000-9 do ministro anexo Vítor Constâncio, agora em repouso em Frankfurt, se isto for verdade, são mais umas nódoas para o currículo do ministro anexo.
11/12/2013
SERVIÇO PÚBLICO: For more gain, more pain
Ainda sobre o Boletim Económico de Inverno do BdeP, que continuo sem tempo de ler, e das boas notícias que dele se inferem, recomendo a leitura do artigo «Mudança estrutural?» de Ricardo Arroja no Económico de hoje onde se explica muito bem explicado que apesar de os saldos positivos e crescentes da balança corrente e de capital revelarem, pela primeira vez em décadas, que estamos a reduzir o endividamento do país ao estrangeiro e indiciarem por isso que «Portugal, enquanto Nação, não precisa de mais austeridade», apesar disso, repito, a «balança de rendimentos, altamente deficitária, só melhorará a sério quando as taxas de juro exigidas à República Portuguesa baixarem ao ponto de permitirem também uma redução significativa das taxas exigidas ao nosso sector privado.»
Daí que, para baixar as taxas da dívida pública e reflexamente as do crédito para investimento privado, é essencialmente prosseguir (em rigor, mais fazer do que prosseguir) as reformas indispensáveis do Estado, «único pilar institucional da economia nacional que persiste em viver acima das suas possibilidades».
Daí que, para baixar as taxas da dívida pública e reflexamente as do crédito para investimento privado, é essencialmente prosseguir (em rigor, mais fazer do que prosseguir) as reformas indispensáveis do Estado, «único pilar institucional da economia nacional que persiste em viver acima das suas possibilidades».
LA DONNA E UN ANIMALE STRAVAGANTE: A tradição já não é o que era (3)
Como explicar que na indústria provavelmente mais machista, sem quotas, Mary T. Barra seja nomeada CEO a primeira mulher na história da G.M., durante décadas o maior fabricante mundial de automóveis. Talvez porque é uma engenheira formada na própria empresa e lá trabalha há 33 anos, provou as suas competências e bateu na corrida para CEO uma mão cheia de marmanjos.
Para atingirmos o estádio de igualdade, segundo Simone Veil, só faltaria Barra ser incompetente e ter sido preferida a homens competentes. Não é certamente o caso, mas então e a discriminação do sexo feminino no mercado de trabalho não existe? Se calhar nem por isso e, em particular quanto aos salários, recomenda-se ouvir o que tem para dizer Steven Horwitz a esse respeito (visto aqui).
Não é extraordinário que na Europa das quotas até hoje não se vêem mulheres no topo das grandes multinacionais?
Para atingirmos o estádio de igualdade, segundo Simone Veil, só faltaria Barra ser incompetente e ter sido preferida a homens competentes. Não é certamente o caso, mas então e a discriminação do sexo feminino no mercado de trabalho não existe? Se calhar nem por isso e, em particular quanto aos salários, recomenda-se ouvir o que tem para dizer Steven Horwitz a esse respeito (visto aqui).
Esta é Simone Veil que está muito melhor na foto do que Mary T. Barra |
10/12/2013
SERVIÇO PÚBLICO: O princípio do princípio (27)
Continuação de (1), (2), (3), (4), (5), (6), (7), (8), (9), (10), (11), (12), (13), (14), (15), (16), (17), (18), (19), (20), (21), (22), (23), (24), (25) e (26)
Mais notícias positivas do Portugal Que Trabalha (PQT):
Por falta de tempo ainda não passei os olhos pelo Boletim Económico de Inverno do BdeP e remeto por isso para o post de Tavares Moreira no 4R que faz o que me parece uma boa síntese. Não resisto a citar dois parágrafos que são um exemplo de como até as pessoas sensatas e pacientes (não é obviamente o caso dos contribuintes do (Im)pertinências) perdem a pachorra com a incompetência e falta de integridade dos profissionais da economia mediática:
«6. Convém recordar, neste ponto, que a economia começou a afundar – com quedas trimestrais sucessivas do nível de actividade - a partir do 2º trimestre de 2010, praticamente no auge das políticas parvo-keynesianas, e que a recuperação foi encetada no 2º trimestre de 2013, em pleno domínio das políticas neo-liberais...
(…)
8. Tudo isto está em total desacerto com o discurso ainda largamente dominante neste País, segundo o qual, com políticas neo-liberais como aquela que nos tem sido imposta pelos credores internacionais e pelos especuladores do mercado de capitais, a economia só tem um caminho: uma recessão cada vez mais profunda (“em espiral”, diz-se a cada passo), o País e os Portugueses cada vez mais pobres...»
Quanto às notícias do Portugal Que Se Queixa (PQSQ) são as do costume: greves financiadas pelos sujeitos passivos, ocupações de protesto, declarações incendiárias da esquerdalhada, com destaque para os esquerdismos infantil e senil.
Mais notícias positivas do Portugal Que Trabalha (PQT):
Por falta de tempo ainda não passei os olhos pelo Boletim Económico de Inverno do BdeP e remeto por isso para o post de Tavares Moreira no 4R que faz o que me parece uma boa síntese. Não resisto a citar dois parágrafos que são um exemplo de como até as pessoas sensatas e pacientes (não é obviamente o caso dos contribuintes do (Im)pertinências) perdem a pachorra com a incompetência e falta de integridade dos profissionais da economia mediática:
«6. Convém recordar, neste ponto, que a economia começou a afundar – com quedas trimestrais sucessivas do nível de actividade - a partir do 2º trimestre de 2010, praticamente no auge das políticas parvo-keynesianas, e que a recuperação foi encetada no 2º trimestre de 2013, em pleno domínio das políticas neo-liberais...
(…)
8. Tudo isto está em total desacerto com o discurso ainda largamente dominante neste País, segundo o qual, com políticas neo-liberais como aquela que nos tem sido imposta pelos credores internacionais e pelos especuladores do mercado de capitais, a economia só tem um caminho: uma recessão cada vez mais profunda (“em espiral”, diz-se a cada passo), o País e os Portugueses cada vez mais pobres...»
Quanto às notícias do Portugal Que Se Queixa (PQSQ) são as do costume: greves financiadas pelos sujeitos passivos, ocupações de protesto, declarações incendiárias da esquerdalhada, com destaque para os esquerdismos infantil e senil.
DIÁRIO DE BORDO: O atraso civilizacional à luz das leis da termodinâmica
Já nos tempos remotos em que estudava economia, ou pelo menos o que há quase 50 anos passava como tal num dos poucos sítios dedicados no Portugal salazarento a esta «ciência triste», como a baptizou Thomas Carlyle, que me interrogava sobre a elevada ocorrência do fenómeno então chamado subdesenvolvimento nas latitudes a Sul de 40º N. Não podia ser coincidência. Era para mim um mistério porquê a ciência económica oficial passava ao lado desta evidência geo-climática para compreender o fenómeno do atraso no desenvolvimento e atafulhava calhamaços de ciências ocultas para explicar o inexplicado.
Estou, por isso, a seguir com muito interesse a série de posts de Joaquim Couto no Portugal Contemporâneo sobre a aplicação da termodinâmica, das leis da conservação da energia e do conceito de entropia (entropia: a maior produção deste nosso torrãozinho natal), à compreensão do atraso económico e civilizacional dos países «quentes».
Leitura recomendada (em alternativa aos delírios visionários de Pedro Arroja sobre o Estado de Mulher)
Estou, por isso, a seguir com muito interesse a série de posts de Joaquim Couto no Portugal Contemporâneo sobre a aplicação da termodinâmica, das leis da conservação da energia e do conceito de entropia (entropia: a maior produção deste nosso torrãozinho natal), à compreensão do atraso económico e civilizacional dos países «quentes».
Leitura recomendada (em alternativa aos delírios visionários de Pedro Arroja sobre o Estado de Mulher)
09/12/2013
Encalhados numa ruga do contínuo espaço-tempo (9) – «Goodbye, Lenin»
Não apoio acções de destruição, ainda que seja da estátua em Kiev de Vladimir Ulianov, o Lenine que lançou as raízes do império dos sovietes baseado na doutrina que inspirou a maior destruição de vidas e de liberdades até hoje na história da humanidade.
Contudo, aproveito a oportunidade para aconselhar o camarada Arménio Carlos a pôr os olhos em manifestações de 200 mil, num frio glacial que deixaria na cama até alguns membros do CC do PCP, que terminam derrubando a estátua de um dos profetas que lhe servem de inspiração, em vez de andar a promover ocupações com meia dúzia de gatos de locais públicos num país com uma democracia (ainda que um pouco asmática), apesar dos esforços do seu partido.
Contudo, aproveito a oportunidade para aconselhar o camarada Arménio Carlos a pôr os olhos em manifestações de 200 mil, num frio glacial que deixaria na cama até alguns membros do CC do PCP, que terminam derrubando a estátua de um dos profetas que lhe servem de inspiração, em vez de andar a promover ocupações com meia dúzia de gatos de locais públicos num país com uma democracia (ainda que um pouco asmática), apesar dos esforços do seu partido.
ARTIGO DEFUNTO: Se eles ao menos lessem os jornais onde escrevem (2)
Revelando como funciona a central de manipulação, quase todos os jornais destacaram a melhoria do desempenho dos estudantes portugueses em matemática revelada pelo relatório do PISA 2012 da OCED. Melhoria que, estava implícito na prosa, mas alguns escribas explicitaram-no, só poderia dever-se à obra educativa dos governos de José Sócrates. Conclusão um pouco difícil de sustentar dada que a média de 2012 é igual à de 2009. Ao mesmo tempo, aproveitou-se para pôr em causa as reformas de Nuno Crato que comprometeriam as prodigiosas realizações.
Vou dar como exemplo o Expresso, o «semanário de referência», mas poderia dar vários outros. Numa das peças do editorial, o director Ricardo Costa escreveu:
Quais foram os «progressos consistentes na matemática» que trouxeram «embaraço a Nuno Crato»?
Vou dar como exemplo o Expresso, o «semanário de referência», mas poderia dar vários outros. Numa das peças do editorial, o director Ricardo Costa escreveu:
«Os resultados dos testes do PISA trouxeram boas notícias a Portugal e algum embaraço a Nuno Crato. Os mais recentes testes do PISA mostram que os nossos alunos fizeram progressos consistentes na matemática.»Sabendo-se que o resultado de quaisquer medidas numa área destas leva anos a mostrar resultados, ceteris paribus, em quais testes terá sido significativo o contributo dos dois governos de Sócrates entre Março de 2005 e Junho de 2011? Alguma coisa no PISA 2009 e sobretudo no PISA 2012. Veja-se agora o seguinte diagrama publicado na pág. 16 do caderno principal:
Quais foram os «progressos consistentes na matemática» que trouxeram «embaraço a Nuno Crato»?
08/12/2013
Bons exemplos (76) – Mal agradecido
Segundo o Expresso, Ângelo Correia demitiu-se da administração da Fomentinvest de Ilídio Pinho, de que fez parte Pedro Passos Coelho, queixando-se «das dificuldades que a ida de Passos para primeiro-ministro terá colocado à empresa». «Desde que Passos é PM, a Fomentinvest passou a não poder fazer quase nada em Portugal».
As coisas não costumam ser assim, pois não? A menos que estejamos perante uma sofisticadíssima teoria da conspiração, parece um bom sinal que um sujeito eleito não tente fazer nada para alcatifar o caminho para os negócios da empresa para a qual trabalhou.
Aguardemos a inevitável teoria da conspiração que deve estar a ser fabricada pelo pessoal que entendeu que os vários casos em que esteve envolvido o seu patrocinador José Sócrates resultavam de sofisticadíssimas teorias da conspiração.
As coisas não costumam ser assim, pois não? A menos que estejamos perante uma sofisticadíssima teoria da conspiração, parece um bom sinal que um sujeito eleito não tente fazer nada para alcatifar o caminho para os negócios da empresa para a qual trabalhou.
Aguardemos a inevitável teoria da conspiração que deve estar a ser fabricada pelo pessoal que entendeu que os vários casos em que esteve envolvido o seu patrocinador José Sócrates resultavam de sofisticadíssimas teorias da conspiração.
DEIXAR DE DAR GRAXA PARA MUDAR DE VIDA: A fábula do surto inventivo que nos assola (2)
No melhor do pensamento social-keynesiano, as luminárias e o coro de fazedores de opinião celebraram durante anos o aumento contínuo (eles chamam «sustentado») do «investimento» em investigação e desenvolvimento. Celebraram, mas deixaram de celebrar porque em 2011, «ano em que o actual Governo de Passos Coelho entrou em funções, depois de ter sido eleito em Junho (…) a despesa total em I&D (teve) uma quebra de 140 milhões face ao ano anterior» (Público). Pronto, está explicado. É o neoliberalismo, segundo o neobobismo.
07/12/2013
Pro memoria (151) – De Semper idem para Semper mutandis. Agora é oficial.
Uma sequela deste e deste posts.
«O discurso de Pacheco Pereira é exactamente o contrário do que dizia há 20 anos!»
Miguel Sousa Tavares, na conferência promovida pelo Expresso «O jornalismo (que temos) é útil à democracia?», aproximando-se perigosamente das teses de uma certa bloguilha ultra-neoliberal.
Como escreveu com propriedade um comentador anónimo, «pela boca morre o Peixeco»
«O discurso de Pacheco Pereira é exactamente o contrário do que dizia há 20 anos!»
Miguel Sousa Tavares, na conferência promovida pelo Expresso «O jornalismo (que temos) é útil à democracia?», aproximando-se perigosamente das teses de uma certa bloguilha ultra-neoliberal.
Como escreveu com propriedade um comentador anónimo, «pela boca morre o Peixeco»
Mitos (152) – Para terem sucesso as empresas precisam de colo do estado e de boa imprensa (II)
Uma espécie de sequela daqui.
Há indústrias que estiveram anos na penumbra, consideradas pouco sexy pelos fazedores de opinião económica, obcecados com as novas tecnologias, o empreendedorismo, a inovação, a competitividade e todas as outras buzzwords com que enchem as páginas dos jornais e os écrans da TV. Uma delas é a indústria do calçado que este ano deve exportar 1,7 mil milhões ou 95% da sua produção para 150 países empregando 35 mil trabalhadores (veja aqui o Plano Estratégico do Cluster do Calçado da APICCAPS - Associação Portuguesa dos Industriais de Calçado preparado em colaboração com a Universidade Católica.
Espero bem que os homens do calçado continuem sem o governo e os jornalistas lhes ligarem para não acontecer ao calçado o que aconteceu a outras indústrias com projecção mediática. Não tenho a certeza que isso aconteça porque há o risco de uma legião de oportunistas tentarem calçar as botas do sucesso – na apresentação do Plano Estratégico da APICCAPS lá apareceu o ministro da Economia a falar de verbas do QREN e de incentivos à inovação e competitividade. Temei o pior.
Há indústrias que estiveram anos na penumbra, consideradas pouco sexy pelos fazedores de opinião económica, obcecados com as novas tecnologias, o empreendedorismo, a inovação, a competitividade e todas as outras buzzwords com que enchem as páginas dos jornais e os écrans da TV. Uma delas é a indústria do calçado que este ano deve exportar 1,7 mil milhões ou 95% da sua produção para 150 países empregando 35 mil trabalhadores (veja aqui o Plano Estratégico do Cluster do Calçado da APICCAPS - Associação Portuguesa dos Industriais de Calçado preparado em colaboração com a Universidade Católica.
Espero bem que os homens do calçado continuem sem o governo e os jornalistas lhes ligarem para não acontecer ao calçado o que aconteceu a outras indústrias com projecção mediática. Não tenho a certeza que isso aconteça porque há o risco de uma legião de oportunistas tentarem calçar as botas do sucesso – na apresentação do Plano Estratégico da APICCAPS lá apareceu o ministro da Economia a falar de verbas do QREN e de incentivos à inovação e competitividade. Temei o pior.
ARTIGO DEFUNTO: A omissão da verdade como arma de agitprop
Devidamente amplificado pelo jornalismo de causas que ocupa os mídia, o comunista António Filipe, secundado pela berloquista Helena Pinto, lembrou ontem no parlamento a propósito do voto de pesar que «uma resolução exigindo a libertação incondicional de Nelson Mandela … teve 3 votos contra, apenas três votos contra, esses votos contra foram dos Estados Unidos, de Ronald Reagan, do Reino Unido, de Margaret Thatcher, e de Portugal, de Cavaco Silva». Como se esperava, a dupla aproveitou para zurzir Cavaco Silva.
É verdade que há boas razões para zurzir Cavaco Silva (basta ler o que temos escrito sobre as suas acções e omissões), mas esta não é uma delas. O que a dupla e os jornalistas de causas não disseram foi que nesse mesmo dia de 1987 foram votadas separadamente nas Nações Unidas várias moções da mesma resolução condenando o apartheid e pedindo a libertação de Mandela.
A moção que o governo de Cavaco Silva votou contra reafirmava «the legitimacy of the struggle of the people of South Africa and their right to choose the necessary means, including armed resistance, to attain the eradication of apartheid» e o voto foi assim justificado: «não concordamos que as resoluções da Assembleia Geral devam endossar a violência sob que forma for, como único meio de corrigir situações de injustiça».
Nesse mesmo dia, Portugal votou a favor da moção G, que pedia a «libertação imediata e incondicional de Nelson Mandela a todos os outros prisioneiros políticos» sem mencionar a resistência armada.
[Rectificada a referência a resoluções em vez de moções.]
ADITAMENTO: A memória de elefante da esquerdalhada só funciona (e mal) para tentar entropiar os seus adversários políticos. Nunca lhe dá para se recordar dos episódios embaraçantes para os seus prosélitos, como no caso da justificação de Álvaro Cunhal, contra o resto dos ministros do I governo provisório, da venda de munições para o Chile de Pinochet como «um contrato comercial vulgar». (recordado por José Paulo Fafe, via Insurgente)
É verdade que há boas razões para zurzir Cavaco Silva (basta ler o que temos escrito sobre as suas acções e omissões), mas esta não é uma delas. O que a dupla e os jornalistas de causas não disseram foi que nesse mesmo dia de 1987 foram votadas separadamente nas Nações Unidas várias moções da mesma resolução condenando o apartheid e pedindo a libertação de Mandela.
A moção que o governo de Cavaco Silva votou contra reafirmava «the legitimacy of the struggle of the people of South Africa and their right to choose the necessary means, including armed resistance, to attain the eradication of apartheid» e o voto foi assim justificado: «não concordamos que as resoluções da Assembleia Geral devam endossar a violência sob que forma for, como único meio de corrigir situações de injustiça».
Nesse mesmo dia, Portugal votou a favor da moção G, que pedia a «libertação imediata e incondicional de Nelson Mandela a todos os outros prisioneiros políticos» sem mencionar a resistência armada.
[Rectificada a referência a resoluções em vez de moções.]
ADITAMENTO: A memória de elefante da esquerdalhada só funciona (e mal) para tentar entropiar os seus adversários políticos. Nunca lhe dá para se recordar dos episódios embaraçantes para os seus prosélitos, como no caso da justificação de Álvaro Cunhal, contra o resto dos ministros do I governo provisório, da venda de munições para o Chile de Pinochet como «um contrato comercial vulgar». (recordado por José Paulo Fafe, via Insurgente)
06/12/2013
Bons exemplos (75) – Nostra Culpa, Nostra Culpa, Nostra Maxima Culpa, reconheceu ele por outras palavras (II)
Complemento de Bons exemplos (74)
Sabe-se lá porquê, pelo menos um jornal (o DN), citou uma versão diferente da frase de Teixeira dos Santos dita na entrevista ao negócios quando se referia ao processo de reformas em curso que «devia ter sido feito há 14 anos».
Na versão do DN, Teixeira dos Santos teria dito: «devia ter sido feito há 12, 13, 14 anos atrás». Esta pequena diferença vai meter no saco dos governos que deveriam ter feito e não fizeram as reformas necessárias não apenas uma pequena parte do último ano do XIII governo (do qual Teixeira dos Santos foi SE Tesouro) mas igualmente o XIV governo de Guterres por inteiro (do qual por coincidência Teixeira dos Santos já não fez parte) que tomou posse há 14 anos em Outubro de 1999 e terminou o mandato em Abril de 2002 por fuga do «pântano» do seulíder animador há 11 anos e meio.
Se for como escreve o DN, Teixeira dos Santos terá feito o que sabe fazer melhor (fugir com o rabo à seringa), substituindo uma mea culpa por uma nostra culpa da qual ele modestamente se isenta quase por completo.
Sabe-se lá porquê, pelo menos um jornal (o DN), citou uma versão diferente da frase de Teixeira dos Santos dita na entrevista ao negócios quando se referia ao processo de reformas em curso que «devia ter sido feito há 14 anos».
Na versão do DN, Teixeira dos Santos teria dito: «devia ter sido feito há 12, 13, 14 anos atrás». Esta pequena diferença vai meter no saco dos governos que deveriam ter feito e não fizeram as reformas necessárias não apenas uma pequena parte do último ano do XIII governo (do qual Teixeira dos Santos foi SE Tesouro) mas igualmente o XIV governo de Guterres por inteiro (do qual por coincidência Teixeira dos Santos já não fez parte) que tomou posse há 14 anos em Outubro de 1999 e terminou o mandato em Abril de 2002 por fuga do «pântano» do seu
Se for como escreve o DN, Teixeira dos Santos terá feito o que sabe fazer melhor (fugir com o rabo à seringa), substituindo uma mea culpa por uma nostra culpa da qual ele modestamente se isenta quase por completo.
CAMINHO PARA A SERVIDÃO: A política da canhoneira na versão Kremlin
Porque suspendeu a Ucrânia as conversações com a União Europeia uma semana antes da cimeira de Vilnius em que estava prevista a assinatura do acordo de associação?
O ministro sueco dos Negócios Estrangeiros Carl Bildt twitou a resposta:
Como quer que seja, é duvidosa a vontade do governo de Yanukovych de se aproximar da UE. Como pitorescamente descreve a Economist, a opção favorita de Yanukovych é sacar dinheiro à Rússia para pagar a suspensão da integração na UE, sendo certo que as suas preferências e as da sua clique aproximam-no muito mais do czar Vladimir do que de Durão Barroso ou de Van Rompuy.
O ministro sueco dos Negócios Estrangeiros Carl Bildt twitou a resposta:
«Ukraine government suddenly bows deeply to the Kremlin. Politics of brutal pressure evidently Works».A pressão brutal consistiu em embargos pelo governo do czar Putin que reduziram o comércio externo da Ucrânia em 25%. O governo de Yanukovych estimou em 15 mil milhões de dólares as perdas potenciais resultantes das medidas russas.
Como quer que seja, é duvidosa a vontade do governo de Yanukovych de se aproximar da UE. Como pitorescamente descreve a Economist, a opção favorita de Yanukovych é sacar dinheiro à Rússia para pagar a suspensão da integração na UE, sendo certo que as suas preferências e as da sua clique aproximam-no muito mais do czar Vladimir do que de Durão Barroso ou de Van Rompuy.