31/08/2012

Há 20 anos seria massacre, atrocidades

Se há 20 anos a polícia sul-africana respondesse a protestos violentos de mineiros negros disparando rajadas de metralhadora e matando 34 deles, como seria classificada essa acção? Muito provavelmente de massacre, atrocidades, no meio de exaltadas indignações.

Se isso tivesse acontecido então, o que fariam as autoridades do apartheid em relação aos mineiros? Acusá-los-iam de homicídio dos seus colegas? Não sabemos. Sabemos apenas que é isso que farão as autoridades da África do Sul livre do apartheid.

ESTADO DE SÍTIO: A «negociata» da RTP

Segundo a respectiva comissão, os trabalhadores da RTP, em boa verdade os principais beneficiários desse conceito chamado «serviço público de televisão» que consiste numa programação igual aos canais privados, para pior, opõem-se à «negociata».

Não vou entrar em discussões filosóficas ou constitucionais sobre o tema RTP, vou apenas republicar alguns dados elementares sobre a «negociata» que seria para um «privado» comprar o paquiderme ou este ser-lhe concessionado.

Clique para ampliar
Aproveito para implorar aos beneficiários do serviço público de televisão o favor de não tratarem quem os escuta como atrasados mentais. Obrigado.

30/08/2012

Curtas e grossas (9)

«Mas quem anda um pouco esquecido até pode pensar que os nossos problemas só começaram com Sócrates ou Passos. Sem dúvida que os Drs. ou Engs. das licenciaturas modernas lusófonas que nos governam prestaram e prestam um péssimo serviço ao país, mas as profundas deficiências estruturais da economia e da democracia portuguesa não foram criadas por eles. Elas foram herdadas dos senhores professores doutores, dos Drs. ou Engs. das licenciaturas sérias da "Ivy League" portuguesa. Uma geração que desperdiçou os fundos estruturais para construir um estado onde enriqueceram, engordaram, expandiram o sector empresarial do Estado para acumular salários milionários, legalizaram o roubo com o nome de PPP (que agora aparecem a renegociar em nome do lado beneficiado), passaram ao sector privado para rentabilizar o tráfego de influências. Mais velhos, acumulam pensões pelo "grande" serviço público prestado e debitam moralidade nos noticiários das nove ou das dez (enquanto choram as pensões de miséria dos mais carenciados). Os jotinhas serão porventura maus. Mas os senhores doutores foram certamente muito mais daninhos.»

«Mitos de Verão: a incompetência não começou agora», Nuno Garoupa no negócio online

CASE STUDY: Brasil, o estado social tropical

Depois de 9 anos de governação do PT, primeiro comandado por Lula da Silva e depois pela «presidenta» Dilma Rousseff, o aparelho de estado brasileiro consolidou o seu peso mastodôntico e o tradicional dirigismo na economia. Não obstante, ou, melhor, por isso mesmo, em seguida a vários anos de forte crescimento, proporcionado pelas medidas dos governos de Fernando Henrique Cardoso e puxado pelas exportações de minerais e produtos agrícolas, a economia desacelerou para 2,7% o ano passado e estima-se que não atinja 2% este ano. Para um país com um crescimento demográfico superior a 1% e um PIB per capita de menos de USD 12 mil (PPC), com recursos minerais abundantes, incluindo enormes reservas de petróleo no pré-sal, reconheça-se que é um crescimento anémico. Consciente disso, o Banco Central irá provavelmente cortar uma vez mais taxa base para tentar espevitar a economia, expediente que num país com uma longa tradição de hiperinflação talvez não seja uma boa ideia - ainda hoje a inflação está acima dos 5%.

A única coisa que cresceu obvia e continuamente foi o Estado e a despesa pública. Apesar do número de funcionários públicos não ser muito elevado pelos padrões europeus, estima-se em 12% da população activa de 105 milhões (66% nos serviços e apenas 14% na indústria), a despesa com salários e pensões dos funcionários públicos ultrapassa 12% do PIB. Já hoje os salários dos funcionários públicos são o dobro do sector privado para funções comparáveis e crescem rapidamente puxados por constantes greves e exigências absurdas de aumentos múltiplos da inflação.

29/08/2012

Lost in translation (155) – Família é o que o notário quiser

Uma notária de Tupã no Estado de S. Paulo, no Brasil, formalizou em escritura pública uma união civil entre um homem e duas mulheres que há 3 anos partilhavam a casa, as despesas e as contas bancárias.

A notária esclareceu que a lei não impede uma «união poliafectiva» (poligamia, costumava a coisa chamar-se) e que «estamos apenas a reconhecer o que já existe, não estamos a inventar nada. Para o melhor e para o pior, isso não interessa, o facto é que o que considerávamos uma família antes não é necessariamente o que é hoje uma família».

Porque não ampliar «união poliafectiva» a qualquer número de pessoas e combinação de sexos: masculino, feminino, bi-sexo, sexo vagabundo? Ou mesmo «uniões poliafectivas» combinando humanos com animais? Não seria uma bela causa fracturante para o Bloco de Esquerda revitalizar as suas anémicas hostes após a saída do coordenador tele-evangélico? Aqui fica a sugestão.

SERVIÇO PÚBLICO: Podia ser muito pior (2)

Podia ser muito pior, mas está pior do que o mês passado. Como tem sido abundantemente referido pelos mídia e pela oposição (a distinção neste caso é pouco relevante), o défice derrapou pela enésima vez e o objectivo do PAEF só será atingido com a ajuda da Nossa Senhora de Fátima. Vejamos a conta consolidada até Julho.

28/08/2012

Temos um Estado com um defeito de Constituição

Qualquer que seja o modelo de solução para a RTP parece haver sempre constitucionalistas ou palpiteiros que defendem ser o modelo em causa inconstitucional. Não me admiro, porque os 296 artigos da constituição numa centena de páginas fazem o papel de um caderno de encargos do PREC e são o muro de Berlim de todas as corporações na manutenção dos seus direitos adquiridos.

Não me admiro, mas tenho dúvidas que a Constituição não autorize a concessão do serviço público de televisão (ver aqui uma boa argumentação nesse sentido). Seja como for, a extinção simples da RTP e do serviço público de televisão, o único modelo que faria mais sentido, é muito provavelmente inconstitucional.

Dúvida: depois do ruído ensurdecedor sobre a licenciatura à medida de Miguel Relvas, o silêncio recente tem alguma relação com o outro ruído ensurdecedor sobre a solução para a RTP que substituiu o primeiro?

A pobreza está de volta à Europa

Jan Zijderveld, presidente da Unilever, uma das maiores multinacionais de produtos de grande consumo, em entrevista ao Financial Times Deutschland admitiu que a sua empresa está a adaptar-se aos novos tempos de pobreza que a Europa espera e vai alterar a sua estratégia de produtos aproximando-a da estratégia nos países emergentes. Quem pretenda antecipar o que se vai passar na Europa é preferível prestar atenção a quem depende do realismo das suas previsões do que à retórica fantasista em europês.

AVALIAÇÃO CONTÍNUA: Professor Louçã chumba pela segunda vez em Rudimentos de Finanças

Secção George Orwell

Com poucos dias de intervalo o professor Louçã voltou a provar uma de duas coisas, ou ambas: a) é um rematado demagogo, sem o menor pingo de honestidade intelectual, para quem o rigor ou a verdade são indiferentes; b) é um rematado incompetente. Primeiro demonstrando que não sabe calcular os juros e agora demonstrando que não faz a menor ideia do que sejam custos e perdas, proveitos e ganhos e resultados, prejuízos ou lucros.

Comentando o modelo para a RTP, o insigne mestre, com a sua habitual linguagem colorida, acusou o governo de criar «um negócio pró menino e prá menina. Vai ser a primeira privatização na história de Portugal, em que a empresa que fica com o que é público não só não paga nada como vai receber».

E vai receber o quê? Segundo os termos com que a maioria dos jornais resumiu a lengalenga, coincidência que indicia o manipulado berloquista, «lucros na ordem dos 140 milhões de euros por ano com a taxa cobrada aos contribuintes», ou seja com a «Contribuição audiovisual» cobrada na factura de electricidade.

27/08/2012

O ruído do silêncio da gente honrada no PS é ensurdecedor (63) - o que é hoje verdade pode ser mentira amanhã

Em Março de 2010 o ministro das Finanças Teixeira dos Santos do governo PS admitiu no parlamento a privatização da RTP dependendo de «um desequilíbrio financeiro significativo que recomenda primeiro a estabilização». (DN, citado pelo Insurgente).

Em Agosto de 2012 o secretário-geral do PS António José Seguro quis «ser muito claro: quando o PS for Governo voltará a existir um serviço público». (negócios online)

Como disse há muito anos um conhecido filósofo da bola, o que é hoje verdade pode ser mentira amanhã.

Um dia como os outros no serviço público de televisão

ESTADO DE SÍTIO: Depende do inquilino do Eliseu - se for Sarkozy chama-se exclusion, se for Hollande chama-se fermeté

20minutes.fr
«In 2010 the public targeting of Roma camps by Nicolas Sarkozy, the former French president, ran into virulent opposition from the left. However, as a Socialist government embarks on the same course, the reaction is more muted. Some are even arguing that it is all different now, citing the less racially incendiary rhetoric of Mr Hollande and Mr Valls and the abolition of quotas for repatriation. But the policy is essentially the same. And those on the left are surprisingly quiescent. Christiane Taubira, justice minister and a member of the Radical Party of the Left (PRG), demurred when asked to compare Mr Valls’s policies to Mr Sarkozy’s

«Liberté, égalité, fermeté?», Economist, Aug 18th 2012

26/08/2012

Pro memoria (63) – não basta estar na oposição, é preciso ter memória … e moral

Para quem admitia há 2 meses no parlamento que «o Governo assumiu uma meta, para a qual está a trabalhar … de cerca de 30 por cento de redução [dos custos das PPP e que espera] … até ao fim de vida dos contratos, uma redução entre 4 mil e 4,5 mil milhões de euros» ter conseguido até agora uma redução de 854 milhões e admitir implicitamente que a meta passou a ser mil milhões, não é caso para celebrações.

Não sendo caso para celebrações, não é também caso para ser o PS, a quem pertenceram os governos responsáveis por 90% das PPP, e provavelmente pela mesma proporção de rendas concedidas aos concessionários amigos, a dizê-lo.

Mais concorrência, precisa-se

Fonte: WSJ
Apesar da queda dos salários nos PIGS, em certos casos acima de 2 dígitos, a inflação continua a crescer face à Alemanha. Porquê? O resultado da baixa dos salários está a ser capturado pela falta de concorrência.

25/08/2012

CASE STUDY: Contra as inevitabilidades marchar, marchar (2)

Ao ler última catilinária semanal de Miguel Sousa Tavares no Acção Socialista Expresso, que as férias da criatura tornaram ainda mais indignada do que o habitual, recordei o que aqui escrevi há algum tempo sobre a psicose política, uma espécie de paranoia, que assalta os intelectuais de esquerda (o «esquerda» aqui talvez seja supérfluo) e os leva a negar a realidade e as suas «inevitabilidades» e a ficar reféns de teorias da conspiração que as suas mentes criam para explicar fenómenos cuja génese não compreendem e abominam.

Vejamos algumas passagens ilustrativas de «O fim das tréguas» que a pena torturada de MST produziu para nos demonstrar como o mundo está contra nós.

«Aparentemente, os mercados, as agências de notação, a srª Merkel, o Bundesbank, o FMI e os vários outros autores da farsa euro peia concertaram-se entre si para proporcionar aos devastados povos da periferia europeia um período de tréguas de que eles próprios também deviam precisar.

CASE STUDY: Um minotauro espera a PT no labirinto da Oi (6)

[Outras esperas do minotauro: (1), (2), (3), (4) e (5)]

Como temos vindo a prever em anteriores posts dedicados ao minotauro, é cada vez mais visível a realidade do barrete enfiado pela PT ao vender a Vivo, pagar um dividendo extraordinário aos accionistas e comprar a paquidérmica Oi infestada de parasitas (só Aspons serão milhares), tudo com a ajuda de José Sócrates, Lula da Silva, dos banqueiros do regime e de vários génios da gestão doméstica.

Depois da miséria dos resultados de 2011, continua a perder clientes num mercado em forte crescimento. No mês passado perdeu 110 mil contra 461 mil ganhos pela Vivo.

24/08/2012

A pergunta que se queria evitar

«"A conclusão é clara, os portugueses cumpriram e o Governo falhou, este Governo falhou em toda a linha, falhou perante a 'troika', estava obrigado a um défice de 4,5% e falhou, o Governo falhou perante os portugueses, pois exigiu enormes sacrifícios em troca de um défice de 4,5%", afirmou o secretário-nacional do PS João Ribeiro, numa declaração sem direito a perguntas na sede do PS em reacção aos dados da execução orçamental.» (Económico)

Teria o secretário-nacional do PS pretendido evitar a pergunta incómoda:
Como classificaria as falhas nos défices dos orçamentos dos governos de José Sócrates e Teixeira dos Santos, por exemplo o de 2009 que começou por ser de 2,2% e acabou em 10%?
(A este respeito, ver a nossa série de posts sobre o défice de memória)

A maldição da tabuada (12) – se não sabes fazer contas, não devias ser jornalista (II)

«Beneficiários de RSI vão poder ser forçados a trabalhar em troca de nada
Medida aprovada ontem em Conselho de Ministros prevê até 15 horas de trabalho semanal em instituições não lucrativas»
(Público via Blasfémias)

Os números:
  1. Um operário com o salário mínimo de 485 € trabalha 40 horas por semana, à razão de cerca de 3,03 € por hora;
  2. Um beneficiário do Rendimento Social de Inserção com um subsídio de 189,52 € passará a ter uma "actividade útil" até 15 horas por semana e não mais de seis horas por dia, à razão de no mínimo 3,16 € por hora.

DIÁRIO DE BORDO: Já tenho saudade


Já tenho saudade do tempo em que os EU eram o império do mal, antes da redenção pelo verbo de Santo Obama. Já tenho saudade do tempo em que a Europa tinha softpower e a Alemanha era nossa amiga, nós importávamos carros e eles contribuíam com 1/3 dos subsídios. Já tenho saudade do tempo em que as agências de rating ainda não tinha percebido que a Alemanha não garantia a nossa dívida e nos davam a notação A.

Agora tudo mudou. Guantamamo foi será fechado, logo que possível. O Afeganistão está estará em breve pacificado. Os taliban converteram-se um dia irão converter-se à democracia. O Irão persuadido pela silver tongue de Santo Obama abandonou o programa nuclear bélico garante que o programa nuclear bélico tem fins pacíficos. A Europa continua soft mas sem power.

Precisamos de dinheiro e de avalistas e a Alemanha já não é nossa amiga e nós em retaliação deixámos de importar continuamos a importar todos os carros que podemos com o pouco dinheiro que temos. As agências de rating perceberam que seremos nós a pagar as dívidas (se pagarmos) e dão-nos uma notação junk.

Foi só há 4 anos mas parece uma eternidade.

23/08/2012

SERVIÇO PÚBLICO: O princípio do princípio (8)

[Continuação de (1), (2), (3), (4), (5), (6) e (7)]

Os dados do Boletim Estatístico do BdP publicado na 4.ª feira confirmam a evolução positiva da balança de pagamentos no 1.º semestre, com o défice a reduzir de 8,5% para 1,8% do PIB, devido principalmente à melhoria da balança corrente, já patente nos dados do INE sobre a balança comercial aqui citados.


Sabendo-se que a nossa dívida externa pública e privada foi alimentada durante várias décadas pelos défices das contas externas só pode concluir-se que para resolver os nossos problemas graves de endividamento é indispensável melhorar estas contas. É o que está a acontecer.

É o que está a acontecer mas devido à dinâmica do endividamento este continuará a aumentar durante anos, a menos que uma improvável aceleração do crescimento invertesse mais rapidamente a tendência. É visível no diagrama seguinte que o endividamento do país é sobretudo do sector privado embora, este esteja a ajustar-se mais rapidamente e a estabilizar. Ao contrário, o endividamento do sector público continua e continuará a aumentar por força dos sucessivos défices orçamentais.

Por isso e como, por diversas vezes, se tem previsto no (Im)pertinências, é muito alta a probabilidade da reestruturação da dívida pública se tornar inevitável, como não é negligenciável a probabilidade de saída da Zona Euro, sozinhos ou acompanhados ou pelo seu desmantelamento.

Eu diria mesmo mais, e porque não?

O Bokassa das Ilhas desafiou «o Estado português para, em caso de dúvidas, ter a coragem de assumir uma decisão democrática e permitir um Referendo na Madeira que, de uma vez por todas, demonstre a vontade do Povo Madeirense, reforce a coesão nacional e finalmente encerre o “contencioso da autonomia”».

André Azevedo Alves faz no Insurgente a pergunta fatal: «E por que não um referendo sobre a independência?» E porque não?

22/08/2012

DIÁRIO DE BORDO: Praga 1968, 21 de Agosto

Tanques soviéticos restaurando o socialismo ameaçado pela primavera de Praga
 
Checos mostrando o seu apreço pelo socialismo soviético

(Fotos de Josef Koudelka, da agência Magnun)

O (IM)PERTINÊNCIAS FEITO PELOS SEUS DETRACTORES: Os apóstolos berloquistas ligaram a ventoinha


«… Julgo ser benéfico para a democracia ter em ambas as abas da curva de Bell alguns energúmenos que defendam ideias completamente utópicas. Desde que se fiquem pelas abas.

O que eu mais aprecio na bosta que sai da ventoinha é o desaparecimento do mito do BE ser um partido superior, cujos dirigentes são mais apóstolos iluminados embebidos em fé metastática ... do que gente que come, bebe e, sim, usa sapatos italianos no Frágil

[De um email de AB em resposta a outro em que eu previ (e apostei uma Viúva Clicquot) o desmantelamento do Berloque de Esquerda antes das próximas eleições legislativas e a emigração dos berloquistas en masse para o PS]

Faites vos jeux

21/08/2012

A nossa sorte é não termos 17 regiões «autónomas» como os espanhóis

«O Governo Português celebrou um acordo de assistência financeira com o Governo da Região Autónoma dos Açores (GRA). A aprovação da assistência financeira implica condicionalidade estrita, conforme definida num memorando de entendimento entre a República Portuguesa e a Região. O memorando de entendimento foi assinado pelo GRA no dia 2 de Agosto e o contrato de financiamento associado no dia 17 de Agosto de 2012» (comunicado de ontem do ministério das Finanças)

A operação foi vista pelo WSJ num artigo com o título «Portugal Says It Will Bail Out Azores Region» assim:
«Portugal's finance ministry said Monday that it will provide a €135 million ($167 million) bailout to the autonomous region of the Azores after the archipelago was unable to refinance its debt
Percebe-se agora o porquê nos últimos tempos, à medida que se esgotavam os fundos, o silêncio prudente de Conrado do presidente do governo regional, depois de um período turbulento em que imitou o seu homólogo da Madeira, embora, reconheça-se, sem a verve, a falta de vergonha desarmante e a ousadia deste.

CASE STUDY: Nem tudo está mal no desemprego (e no emprego)

Segundo dados do INE (Destaque de 14-08), no 2.º trimestre o desemprego na população activa com o ensino básico aumentou, na população com o secundário diminuiu e nos licenciados também e mais acentuadamente. O que significa isto?


E o que significam as diferenças das taxas de desemprego por nível de escolaridade: 15,9%, 16,8% e 10,2%, respectivamente no ensino básico, secundário e superior? Sobretudo o que significa a maior incidência de desemprego precisamente no nível de escolaridade secundário em que Portugal está muito abaixo dos países da OCDE? Não seria de esperar uma taxa de desemprego relativamente mais elevada no nível básico de escolaridade, até porque cerca de 260 mil indivíduos entre os 15 e os 64 anos (Pordata População residente 2011) considerados no ensino básico não têm nenhuma escolaridade?

Quaisquer que sejam as respostas para explicar o comportamento do desemprego, a verdade é que nos últimos 12 meses o emprego diminuiu na população com menor escolaridade mas aumentou nos restantes níveis: em termos homólogos, o emprego diminui 248,1 mil indivíduos com o ensino básico (incluindo indivíduos sem escolaridade) e aumentou 43,3 mil nos níveis secundário e superior. E a verdade é também o número de activos e o número de empregados ter aumentado, ainda que ligeiramente, no último trimestre, o que significa que o aumento do desemprego resulta de haver mais indivíduos à procura de emprego.

Em conclusão, está a destruir-se emprego indiferenciado e criar-se algum emprego diferenciado e há mais gente a querer trabalhar.

20/08/2012

CASE STUDY: Elefantes brancos em Espanha (22)

Aeroporto de Badajoz
Torrados 20 milhões em 2010 para remodelar um aeroporto que só recebia vôos da Air Nostrum, que desde Janeiro deixou de operar – talvez porque deixou de receber um subsídio de 10 milhões por ano. Ver mais informação aqui.

[Com este elefante termina a publicação de quase toda a colectânea apócrifa «ESPAÑA PAIS DE MILLONARIOS» dos resultados (principalmente, mas não só) do socialismo ibérico em Espanha. Para ver a colecção completa de posts clique aqui.]

Mitos (82) – O contrário do dogma do aquecimento global

O contrário do dogma do aquecimento global não é o dogma do não aquecimento global. É a dúvida sistemática sobre a evolução do clima e os factores que a condicionam.

Foi recentemente publicado um estudo de uma equipa liderada por James Hansen, do Goddard Institute for Space Studies que faz parte da NASA, sobre a ocorrência de fenómenos meteorológicos extremos como ondas de calor. Sendo James Hansen um militante da causa do aquecimento global de origem humana, à pala da qual já foi preso várias vezes por participar em manifestações, a reacção normal dos negacionistas seria de deitar pela borda fora tal estudo. Mais devagar.

Vejamos os métodos e os dados e esqueçamos os propósitos. O estudo cobriu as temperaturas médias à superfície da Terra em milhares de pequenas áreas durante 60 anos de 1951 até 2011 e mediu os desvios em relação à média durante cada uma das seis décadas. O resultado foi 6 conjuntos de dados que se ajustavam, como seria de esperar, a curvas de Gauss, as quais normalizadas usando as respectivas médias e os desvio-padrões puderam então ser comparadas. A representação dessas curvas normalizadas no gráfico seguinte torna visível que década após década o «sino» se desloca para a direita e se achata claramente, ou seja  a dispersão se acentua, e a frequência de temperaturas mais altas é crescente.


Estes são os factos estatísticos. Quais as causas dessa maior frequência? Isso é outro assunto.

(Fonte: «Bell weather - A statistical analysis shows how things really are heating up», Economist Aug 11th)

19/08/2012

AVALIAÇÃO CONTÍNUA: O tele-evangelista não vai para nenhum conselho de administração. Safa!

Secção George Orwell

Explicando o seu futuro após a renúncia ao cargo de supremo sacerdote do berloquismo, o professor Louçã esclareceu que podemos contar com ele porque, explica, «eu não vou para um conselho de administração». Ainda bem, a menos que se tratasse do conselho de administração de uma empresa pública com subsídios garantidos - por exemplo a CP, com o pelouro das greves. Compreende-se. Vejamos porquê.

Sendo a criatura professor de economia, esperar-se-ia ter uns rudimentos de cálculo financeiro elementar. Não é o caso, como se conclui do «silogismo» partilhado com a audiência: «quando a Europa empresta 78 mil milhões e cobra 34 mil milhões em juros, percebe-se que a senhora Merkel se ria de nós, mais vale ser assaltado com uma pistola na mão».

Já agora, recorde-se que as taxas dos empréstimos são de 3,25% nos três primeiros anos e 4,25% a partir do 4.º ano. Recorde-se também que os yields para prazos de 5 e 10 anos se situam actualmente entre os 8% e os 10%. Portanto, dizer o que ele disse, seria equivalente a afirmar que num crédito para compra de habitação os bancos podem cobrar juros muito altos porque ao longo da vida do empréstimo estes são superiores ao capital mutuado.

Em conclusão, com esse silogismo, o emérito professor provou uma de duas coisas, ou ambas: a) é um rematado demagogo, sem o menor pingo de honestidade intelectual, para quem o rigor ou a verdade são indiferentes; b) é um rematado incompetente por não perceber não ser possível avaliar a grandeza dos juros sem considerar o capital mutuado, as taxas, os prazos e o plano de amortizações.

Que um professor de economia, possa vomitar estas barbaridades sem um sobressalto da academia explica, só por si, como foi possível caminhar durante anos para o abismo da insolvência das finanças públicas com apenas uma alma penada, entre as luminárias mediáticas, a anunciar o desfecho previsível. Não por acaso, essa alma penada é um jurista com apenas algumas cadeiras da licenciatura em economia.

Resultado da avaliação: cinco ignóbeis para o professor Louçã e cinco urracas e outros tantos pilatos para as luminárias académicas e cinco bourbons para um e outras.

SERVIÇO PÚBLICO: O tamanho interessa

Desde pelo menos 2006, ano em que os novos funcionários públicos contratados deixaram de ser inscritos na CGD, não se sabia exactamente quantos utentes tinha a vaca marsupial pública. Após muitos meses a espremer os milhares de departamentos para comunicarem o número dos seus funcionários, a D.G. da Administração e do Emprego Público está a conseguir publicar trimestralmente a Síntese Estatística do Emprego Público (SIEP).

De acordo com a última SIEP de 16 de Agosto, o total de utentes é de 605.212 e reduziu-se nos últimos 6 meses de 1,4%. Pelo menos já se sabe o tamanho da coisa. É grande, mas está a encolher.



Resumo do Quadro 2.1 Emprego no sector das administrações públicas por subsector do SIEP 2.º trim.
O documento pode ser consultado aqui e tem informação preciosa sobre cargos, entradas e saídas, remunerações médias, categorias profissionais, e outras. O ganho médio mensal em Abril era de 1.578 euros quase o dobro do sector privado.

Pro memoria (62) – há quem perca a cabeça, nós também perdemos os papéis

Não estou a pensar nos papéis dos submarinos que, pelos vistos, não aparecem e irão ser procurados depois das férias do PGR – tenho para mim que a criatura imagina que os papéis se afundaram e vai fazer mergulho durante as férias para os procurar.

Estou a pensar nos papéis dos contratos da Cova da Beira que foram destruídos em 2007 a mandado da Autoridade de Gestão do Programa Operacional do Ambiente. Não todos os papéis, apenas muito convenientemente os da 1.ª fase, «aquela que foi investigada durante uma década pela Polícia Judiciária e levou este ano à pronúncia por corrupção e branqueamento de capitais de António José Morais (o antigo professor de José Sócrates na Universidade Independente), da mulher e do empresário Horácio Luís de Carvalho, presidente do grupo HLC.» (Público, aqui recordado por Helena Matos no Blasfémias)

CASE STUDY: When will the euro collapse? It’s already dead

«You can have fun giving a spuriously precise answer — July 28th, 2014, is my favorite (look it up on Wikipedia if you are wondering why).

But the truth is no one really knows. The euro could stagger on from crisis summit to emergency bailout for another decade. Then again, it could be gone by the end of the month — if Greece is refused its third bailout, the country may be kicked out, and the entire currency could unravel over the course of a few chaotic days.

In reality, whether it is a few months or a decade away does not make as much difference as you might suppose.

Why not? Because in most of the ways that actually matter, the euro is already dead.

It no longer meets most of the criteria of a working form of money. There is an important point in that for investors. It is right now — while the currency no longer lives but still staggers on like a zombie — that the euro is wreaking most havoc on the countries of Europe. Once it is finally taken apart, markets in those nations can start to recover — potentially very rapidly.

Of course the euro still looks like a currency. There are notes and coins, and you can still go into a shop in Hamburg, or a café in Naples, and get stuff in return, even if there might be a certain amount of grumbling. There is a central bank, although it doesn’t appear to have much idea what its job is. And there are payment systems and foreign exchange markets that work as if the euro were a viable part of the global capital markets.

And yet if you think about it a little harder, the euro is not a currency in every sense of the word. A currency is only partly about notes and coins. It is also about being a universally accepted medium of exchange, a store of value over time, and a way of facilitating trade over long distances. That was why money evolved. And the euro doesn’t really meet those criteria any more.

Take interest rates, for example. In Germany, the yields on 10-year government bonds are less than 2%. In Spain they are close to 7%, and in Italy just under 6%. And in Greece? Don’t ask. Government bond yields matter — not just in themselves but because they set the benchmark for borrowing costs right across the economy. Some countries can’t use the euro for imports because of fears that drachmas or lire may suddenly replace euros.

There are already reports that oil traders don’t want to supply clients in Greece. Why not? Because in six months time when payment falls due they may not get paid in the currency the deal was struck in, but one worth much less. Much the same may soon be true of Spain as well.

And who can blame them? Oil is commodity that you can sell pretty easily right around the world. Why sell it to a country where there is a risk of not getting paid when there are so many alternative customers.

Meanwhile, money flees to safe havens.

London real estate agents report that the phones are ringing non-stop with wealthy euro-zone property buyers looking for somewhere to park their cash — and houses in the British capital look a safe bet. Swiss bankers are flush with cash exiting Italy and Germany. Everybody with any significant wealth wants at least part of it outside the euro zone because they are worried the currency might one day implode.

None of those are the kind of things that happen in functioning currency zones.

Take a comparison with the U.S. dollar, which really is a single currency for much of a whole continent.

Imagine, for example, that a company in Alabama had to pay three times as much to borrow as one in Maine, even though it was in the same business and had the same credit record but just happened to be unfortunate enough to be in the wrong part of the country. Or that a company in Boston couldn’t import automobiles in dollars because the supplier in Detroit wouldn’t accept their cash? Or that people in Texas were buying houses in California to protect themselves from the potential breakup of the currency union?

Very soon, the economy of the United States would cease to function. And we would start to wonder whether the dollar was still a currency in any meaningful sense.

But that is precisely the situation in the euro zone. The euro still has the notes and coins. But in almost every other sense, it is no longer really a currency.

This is more than just a semantic point. It is also important for investors to grasp.

When a currency stops working the damage done to the economy is immediate. Trade stops flowing. Investment gets postponed. Capital flees. Very quickly, unemployment starts to rise, and output declines.

That is precisely what is happening in the euro zone right now.

This part of the crisis — when the monetary system ceases to function in any meaningful way — may well be the worst point. But once countries such as Italy and Spain get their currencies back, there will be a very rapid improvement. Having any kind of functioning currency, even if it is one that has hugely depreciated in value, and doesn’t have much respect in the currency markets, is a lot better than having no currency at all.

The bounce-back in the economies of the countries that have suffered most from the euro will be very rapid. Most experts predict chaos — without understanding that chaos is what we have now. In fact, those economies will recover strongly as soon as they have a functioning currency again and so will their equity markers. The only real question is when they are cheap enough to start buying. »

Matthew Lynn, MarketWatch, WSJ

17/08/2012

Presunção de inocência ou presunção de culpa? (7)

Continuação de (1), (2), (3), (4), (5) e (6).

«Foi literalmente aos molhos que os funcionários da sede nacional do CDS-PP levaram nos últimos dias de Dezembro de 2004 para o balcão do BES, na Rua do Comércio, em Lisboa, um total de 1.060.250 euros, para depositar na conta do partido. Em apenas quatro dias foram feitos 105 depósitos, todos em notas, de montantes sempre inferiores a 12.500 euros, quantia a partir da qual era obrigatória a comunicação às autoridades de combate à corrupção.» (Público)


Recordemos que aquela avalanche de depósitos se segue à autorização para o abate dos sobreiros da herdade dos Salgados, um projecto do Grupo Espírito Santo, os banqueiros do regime.

E não me venham com a lengalenga das distorções que a lei do financiamento partidário introduz para branquear este assunto ou o do Freeport ou os milhares de licenciamentos em centenas de câmaras para olear as engrenagens e canalizar dinheiro para os partidos. É um argumento tão bom quanto branquear os assaltos com fundamento na desigualdade na distribuição dos rendimentos.

16/08/2012

BREQUINGUE NIUZ: A procissão ainda vai no adro e já o andor está a tremer

Apenas 100 dias após a eleição e depois de ter anunciado várias medidas popularuchas e outras que vão agravar os problemas da França, como reduzir a idade da reforma, contratar mais umas dezenas de milhar de funcionários públicos e outras, e sem ter tomado uma única medida correctiva as coisas já estão assim, como mostra a sondagem Ifop no Figaro. Repare-se em particular como se modificou a percepção dos franceses sobre o futuro antes, com o relativo desastre de Sarkozy, e depois já com Hollande.


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Quando a trajectória da economia francesa obrigar Hollande a tomar essas medidas correctivas, necessariamente impopulares, haverá outra tomada da Bastilha? Exagero? Talvez não, pois se para comemorar a eleição foram incendiados 367 automóveis.

SERVIÇO PÚBLICO: O princípio do princípio (7)

[Continuação de (1), (2), (3), (4), (5) e (6)]


Fonte: Destaque de 09-08, INE
Apesar da desaceleração das exportações, a redução das importações foi suficiente para melhorar a taxa de cobertura no 1.º semestre de 71,3% em 2011 para 83,0% em 2012. Mais um passo para começarmos a viver à medida das nossas posses. É indispensável que o consigamos porque, como já se viu, não há mais ninguém disposto a pagar a folia.

15/08/2012

Mitos (81) - A obsessão com os baixos salários

«E o Governo também sabia que com a obsessão que tem com o défice, com a obsessão que tem com os baixos salários e com a desprotecção social, conduziria também a uma selvajaria nas relações laborais e na protecção social», afirmou a bloquista Mariana Aiveca comentando os dados de ontem do INE relativos ao PIB e ao desemprego no 2.º trimestre.

Se a deputada bloquista consultasse todos os dados de ontem do INE constataria que a sua obsessão com os baixos salários é desmentida pelo dados relativos ao índice de custo do trabalho no 2.º trimestre que «registou um acréscimo homólogo de 5,0% [por] efeito conjugado do acréscimo dos custos médios do trabalho (1,4%) e do decréscimo do número de horas efetivamente trabalhadas (3,4%)».

Ministra Cristas ultrapassou pela esquerda o líder socialista (3)

Outras ultrapassagens: (1) e (2)

«Depois da taxa sobre os supermercados e da bolsa de terras, a ministra a quem nunca foi comunicado que o PREC acabou prepara-se agora para expropriar proprietários de imóveis em zonas ribeirinhas. Para o evitar, os donos dos imóveis “apenas” têm que encontrar documentação do tempo de D. Luis I que prove a propriedade. Para quem não se lembrar, esta senhora que agora exige ver provas documentais com 150 anos foi lá colocada por um líder partidário de quem se diz ter perdido documentos importantes com apenas 10 anos.» (Insurgente)

14/08/2012

Um dia como os outros na vida do estado sucial (6) – dos subsídios para os excluídos até aos anéis para os estrangeiros, passando pelos papéis dos submarinos

O secretário de estado da Solidariedade e da Segurança Social disse que vai propor «para o próximo QREN um aumento de nove para 20 por cento na verba do Fundo Social Europeu para programas de inclusão social». Deve fazê-lo a correr antes que o desmantelamento da Zona Euro torre o último cêntimo disponível para ajuda aos excluídos.

Enquanto não chegam as verbas para a inclusão social, os excluídos empregados nos portos entraram em greve contra a revisão do regime jurídico do trabalho portuário. Dizem os seus sindicatos que «actualmente, os trabalhadores portuários executam todo o tipo de tarefas até ao momento em que a carga embarca no navio. Com a reforma, o Governo quer que os trabalhadores portuários façam apenas o trabalho a bordo.» Todos nós gostaríamos de perceber o que significa isto em portos em que a quase totalidade da carga é contentorizada ou a granel. Seja como for, para já a justa luta é muito oportuna para ajudar a resolver os nossos problemas de comércio externo.

O procurador-geral da República Pinto Monteiro diz que se perderam os papéis do concurso público para compra dos submarinos aprovado no já longínquo ano de 1998 pelo governo de Guterres. Compra que na Alemanha foi julgada envolver corrupção pela qual foram condenados administradores da Ferrostal. Ainda recentemente Pinto Monteiro dizia que não havia dinheiro para investigar o caso dos submarinos, o governo negava existir qualquer pedido de verba para perícias relacionadas com o caso e Cândida desmentia Pinto Monteiro. Há corruptores condenados na Alemanha por corrupção em Portugal e na Grécia, mas só corrompidos condenados na Grécia. Em Portugal a justiça procura os papéis ou, mais exactamente, irá procurá-los depois de umas merecidas férias.

Entretanto, aumentámos as exportações de ouro de 2,9 milhões no 1.º semestre de 2007 para 382 milhões no mesmo período deste ano. Vão-se os anéis e ficam os dedos, por agora.

AVALIAÇÃO CONTÍNUA: Os comunistas e os supermercados capitalistas

Secção George Orwell

Com a autoridade que lhe dá ter sido um partido tributário do regime soviético cujas grotescas imitações dos supermercados capitalistas tiveram durante décadas as prateleiras quase vazias, autoridade reforçada por reconhecidamente rejeitar a economia de mercado e a concorrência, o PCP produziu uma nota do gabinete de imprensa «biblicamente estúpida» sobre a não menos estúpida multa devida pelas promoções do Pingo Doce no dia 1.º de Maio.

«O PCP considera que a multa … é manifestamente insuficiente face à gravidade dos procedimentos e ao comportamento afrontoso que este grupo económico assumiu perante os trabalhadores e o povo português … [e é] uma clara violação da lei da concorrência» escrevem os comunistas, entre outras aleivosias do costume e mentiras para compor a lengalenga da vulgata comunista como a alegada fuga ao pagamento de impostos da Jerónimo Martins (sobre a «fuga» ver este post).

O Pingo Doce soviético
Levam 5 chateaubriands por duas décadas depois do colapso do país dos sovietes continuarem sem perceber o que se passou e outros 5 bourbons por não aprenderem nem esquecerem.

13/08/2012

Bons exemplos (37) – Há males que vêm por bem

Nos últimos 12 meses terminados em Junho, 2.500 jovens candidataram-se a um projecto financiado pelo PRODER para lançarem uma exploração agrícola, mais do que no conjunto dos 4 anos anteriores. É certo que se trata de mais subsídios com todas as consequências negativas que daí decorrem, mas revela iniciativa e vontade de mudança, o que num país de acomodados deve ser saudado.

É por causa da crise explicam os jornais. Pois que seja. De onde se conclui que ninguém muda se não tiver razões para mudar e por isso crises fazem parte da vida.

Bons exemplos (36) – Grande no género pequeno

Sem subsídios, sem o dinheiro dos contribuintes, sem o colo do governo, a M.A.R. Kayaks fundada em 1978 em Vila do Conde por Manuel Ramos, um antigo praticante de canoagem, já produziu até hoje mais de 30.000 embarcações. Vinte e seis dos seus barcos ganharam uma medalha nas Olimpíadas de Londres. Tem 100 empregados, muitos deles também antigos praticantes. Apresenta-se como «uma das maiores empresas do mundo e sem dúvida uma das melhores» e possivelmente é verdade.

Evidentemente que não vão florescer quatro mil empresas inovadoras e com iniciativa para absorverem os 400.000 desempregados acima do desemprego friccional, mas empresas com a M.A.R. Kayaks são o fermento que contribui para levedar a massa empresarial.

12/08/2012

DEIXAR DE DAR GRAXA PARA MUDAR DE VIDA: Quem devemos culpar?

Chegado ao fim das Olimpíadas debato-me com uma dúvida: quem devemos culpar por só conseguirmos uma medalhita? A primeira resposta óbvia seria o culpado supletivo: a Alemanha. Pus de parte, porque só ganhou 44 e deixou muitas para os outros ganharem.

Depois procurei nos 10 primeiros mas, com excepção da Hungria, todos têm populações maiores ou mesmo muito maiores do que Portugal e, portanto, só fazem a sua obrigação. A Hungria tem ligeiramente menos índios do que nós e, por isso, ao ganhar 17 medalhas, está claramente a tirar-nos medalhas que deveriam ser nossas. É um bom candidato a culpado.

Contudo, o caso mais escandaloso é aquela caganita de gaivota ao largo da Venezuela, com pouco mais de 1 milhão de aborígenes, numa área do tamanho do distrito de Setúbal, que já deveria ter sido anexada pelo coronel Chávez e viver sob o seu regime socialista. Sim, estou a falar de Trinidad e Tobago. Com as suas 4 medalhas, 1 de outro e 3 de bronze, apossou-se pelo menos de uma nossa - a de ouro evidentemente. É muita ousadia para quem já nos roubou em 2001 o Nobel da Literatura atribuído a V. S. Naipaul, que seria por direito de António Lobo Antunes que se arrisca a morrer de desgosto se não o receber.

Não é justo.

11/08/2012

DIÁRIO DE BORDO: Indignados plutónicos

Quando nesta altura resolvi criar uma nova área temática do (Im)pertinências chamada Diálogos de Plutão ainda o Plutão era um planeta, pequeno mas planeta. Um ano depois, a União Astronómica Internacional, feita agência de rating, resolveu fazer o downgrade de Plutão de planeta para objecto celeste.

A minha indignação foi grande mas era apenas uma voz isolada. Outros indignados apareceram meia dúzia de anos depois, porém, sendo lunáticos, não eram plutónicos e nunca se interessaram por Plutão.

Isolado estava e isolado fiquei, pensava eu. Estava enganado. Outras vozes por esse mundo protestam pelo downgrade. Por exemplo, em Seattle podemos encontrar prosélitos da causa plutónica e até comprar um poster alusivo na simpática loja Greenwood Space Travel Suply.

O poster alusivo

Plutónicos à porta da simpática loja

10/08/2012

Bons exemplos (35) – Pontual no atraso

Admito que em vida do Botas o cumprimento do prazo para os ministérios entregarem as suas propostas de orçamento tivesse sido um procedimento normal, mas não me recordo de ter sido alguma vez o caso nas últimas décadas. Parece que terá sido desta vez que foi cumprido, depois de um adiamento de 2 dias úteis devido «a problemas de ordem técnica verificados nos sistemas».

Foi o melhor que se pôde arranjar, porque esta coisa de cumprir prazos não faz parte do genoma lusitano.

Estado empreendedor (68) – outro PIN auto-abortado

A CGD, o banco público cuja existência tem sido justificada para financiar projectos de interesse nacional, decidiu não financiar o PIN «Roncão d’El Rei» de José Roquete onde este se propunha investir do seu bolso uns milhões - até agora foram gastos 30 milhões, incluindo o financiamento da banca e do QREN - de um investimento total de mil milhões para construir um complexo turístico num cu de Judas banhado pela albufeira de Alqueva.

O investimento da Caixa e do BPI seria gerido pelo Sr. Roquete e criaria 200 postos de trabalho à razão de 5 milhões de euros por posto de trabalho. Talvez o Sr. Roquete esperasse que uma vez torrado o dinheiro da Caixa e do BPI, ou mais exactamente o dinheiro dos depositantes destes bancos e do BCE que lhes empresta, viessem charters de chineses para descansarem no meio do nada do stress de viver em cidades atafulhadas de gente. Mas essa fé deveria ser muito limitada porque o Sr. Roquete só estava disposto a colocar em risco uma percentagem insignificante.

Tivemos sorte. Desta vez não teve lugar o efeito Lockheed TriStar que justificaria investir os 970 milhões que faltam para salvar o campo de golfe que lá foi feito.

Mitos (80) – as teorias da conspiração sobre as agências de rating (XI)

A DBRS Inc., uma agência canadiana de rating, uma das 4 a quem o BCE pede o rating das obrigações que aceita como garantia dos empréstimos aos bancos, desceu a notação da Espanha e da Itália. Isto mostra que em matéria de rating não se pode confiar nem nas agências amigas.

Outros mitos sobre agências:(I), (II), (III), (IV), (V), (VI), (VII), (VIII), (IX), (X)

09/08/2012

Um dia como os outros na vida do estado sucial (5)

Este ano os trabalhadores utentes das empresas públicas de transporte já fizeram 189 dias de greve em 221 possíveis. É uma colossal taxa de realização. Na próxima semana haverá mais greves.

A associação dos GNR vai propor uma acção contra o Estado para recuperar os subsídios de férias e de Natal. A associação aproveitou a conversa com o ministro para reclamar a revisão dos «gratificados», a reposição do subsídio de segurança de 20% (deve ser um subsídio para o GNR fazer o trabalho porque o salário é só um direito adquirido), as promoções por antiguidade (que outra coisa poderia ser?) e por «aproveitamento nos cursos» (?), e os «tempos mínimos de descanso».

O Tribunal de Contas detectou que estavam duplicadas facturas de um milhão e cem mil euros e faltam facturas de 800 mil euros nos anos de 2007 a 2011 relativas à manutenção dos helicópteros Puma, helicópteros que o governo Sócrates resolver contratar em regime de locação financeira para mais 120 milhões de euros.

Nada de extraordinário. Tudo como dantes, quartel-general em Abrantes, cujo presidente da câmara se mudou para RPP Solar, depois de ter vendido por 100.000 o que custou 1.000.000, talvez pensando perdido por cem, perdido por mil.

NOUVELLES DE DERNIÈRE HEURE:La croissance façon M Hollande

«La Banque de France (BdF) s'attend à un recul de 0,1% du produit intérieur brut de la France au troisième trimestre 2012 qui signifierait l'entrée du pays en récession, selon son enquête mensuelle de conjoncture publiée aujourd'hui.» (Le Figaro)

08/08/2012

DIÁRIO DE BORDO: Provisoriamente a nossa vocação pode não ser só o futebol...

... ao contrário do que aqui escrevi. A nossa vocação pode, por agora, também incluir o caiaque duplo. Parabéns rapazes, nunca se arrependam de puxar pelo remo.

Estado empreendedor (67) – um PIN abortado a tempo

Há 2 anos o governo socrático assinou um contrato de investimento com a RPP Solar de Alexandre Alves, o «barão vermelho» (vermelho pelo lado dos lampiões e pelo lado dos comunistas), um «empresário» que controlou a cooperativa Tepclima resultante da apropriação da empresa Tiago & Pereira a seguir ao PREC. Mais tarde foram criadas outras cooperativas agrupadas na FNAC - Fábrica Nacional de Ar Condicionado, falida estrondosamente alguns anos depois, com os cooperantes depenados, salvo naturalmente o barão vermelho e os seus amigos que, segundo as crónicas da época, teriam ficado milionários.

O contrato de investimento referia-se a um complexo fabril para a produção de painéis solares e, mais tarde, torres eólicas e turbinas de co-geração. Era não apenas um PIN (projecto de interesse nacional) mas um PIES (projecto integrado de energia solar), onde seriam investidos mais de mil milhões de euros, devidamente oleados com subsídios e benefícios fiscais de 128 milhões. Previa-se a criação de 1.800 postos de trabalho incluindo 300 engenheiros e quadros técnicos.

Como seria de esperar por quem tivesse alguma ideia sobre a dificuldade de viabilizar nos tempos que correm a fabricação de painéis solares e quem era o «empresário», a coisa ficou-se por uns pavilhões vagos e inacabados, construídos com o que sobrou depois de torrado o dinheiro que o barão tinha e o que não tinha na compra por 100 mil euros em 2009 à câmara de Abrantes de um terreno que ao município tinha custado dez vezes mais. Sem surpresa, ao socialista presidente da câmara no ano seguinte foi-lhe oferecido um lugar de direcção na RPP Solar.

O governo resolveu na 2.ª feira passada denunciar o contrato.

[Links úteis: sobre o «barão vermelho»; sobre a FNAC; sobre o projecto; sobre o desfecho]

CASE STUDY: Elefantes brancos em Espanha (21)

Palácio de Congressos de Huesca
O caixote está a maior parte do tempo às moscas mas custou 30 milhões, incluindo um custo adicional para terminar a tempo para «subsede» da exposição de Saragoça. Para a construção o município endividou-se sem meios para pagar a dívida.

[Da colectânea apócrifa «ESPAÑA PAIS DE MILLONARIOS» dos resultados (principalmente, mas não só) do socialismo ibérico em Espanha]

07/08/2012

Vivemos num estado policial? (4)

Segundo os dados da UNODC (Criminal justice system resources) em 31-12-2010 o «Police Personnel» (*) em Portugal era de 47.409 efectivos ou 444,1 por 100.000 habitantes, índice que confirma continuarmos a ser um dos estados mais policiados do mundo. Na Europa em 2010 só somos ultrapassados por Malta (460,5) e pela Irlanda do Norte (470,5) e no mundo, além daqueles dois países, só algumas ilhas perdidas no meio do Atlântico, Índico e Pacífico é que nos levam a melhor.

Não se sabe se os ministros da Administração Interna conhecem estes índices, porque todos têm adoptado a lengalenga habitual da «falta de recursos». Ainda recentemente, o novo comandante da PSP produziu um documento com o pomposo nome de Grandes Opções Estratégicas 2013-2016 onde anuncia a contratação de mais 500 polícias por ano e pré-reformar 300.

A última desse tipo de declarações foi ontem. Aproveitando a comemoração do 145.º aniversário da PSP do Porto, o MAI garantiu que «apesar das dificuldades que o país atravessa, no próximo ano, em 2013, vamos fazer exatamente o que fizemos este ano: vamos continuar a admitir para formação novos agentes da Polícia de Segurança Pública», mas em vez contratar 1.000 de dois em dois anos será anualmente e lá vamos ao plano estratégico do comandante da PSP.

Não é extraordinário que quando já se reconhece termos um Estado cheio de gorduras, ainda se pense que precisamos de aumentar a obesidade do aparelho policial?

(*) «Personnel in public agencies as at 31 December whose principal functions are the prevention, detection and investigation of crime and the apprehension of alleged offenders».

Outros casos de polícia: (1), (2) e (3)

DEIXAR DE DAR GRAXA PARA MUDAR DE VIDA: Definitivamente a nossa vocação é o futebol…

… por muito que isso custe a engolir aos nossos intelectuais, opinion dealers e luminárias em geral. Em que outra modalidade é que conseguimos ser os quintos do ranking da respectiva federação?

A não ser no double scull onde Pedro Fraga e Nuno Mendes ficaram precisamente nesse lugar. No resto o melhor conseguido foram diplomas (pistola de ar comprimido, maratona feminina) e quases (quase meia-final no ténis de mesa, quase terceiro lugar até domingo na vela - 49er, com afundamento nas 3 regatas de 2.ª Feira que atirou os rapazes para a 8.ª posição).

Agora que o fado se revitalizou e entrou na moda e nos gostos dos progressistas, é tempo de aceitarmos de volta pelo menos 2 dos famosos 3 efes.

06/08/2012

Títulos inspirados (8) – Por uma razão ou por outra, sempre teria que ser

«Queda da actividade económica no euro tem raízes na Alemanha», titulou o Económico. Quem diz a queda, diz qualquer outra coisa, porque qualquer coisa tem raízes na Alemanha. Desde logo porque a Alemanha representa 27% do PIB da Zona Euro ou seja mais do que o conjunto de 13 dos EU17. Sem esquecer que, como está convencionado, a Alemanha é a causa das nossas desgraças ou, para os menos inflamados, a causa de não nos ser administrada a medicina para tratar essas desgraças.

Um namoro que não está a correr bem, um casamento possivelmente falhado e famílias desavindas

Há duas semanas, a Economist fez uma síntese das razões porque o namoro Hollande-Merkel dificilmente acabará num casamento duradouro. Vale a pena revisitar essas razões.

Hollande defende a mutualização da dívida mas tem as maiores reservas às pré-condições de Merkel. Desde logo ao aprofundamento da união política porque a França, tradicionalmente com uma administração dirigista e muito centralizada, não está preparada para transferir mais soberania, dar mais poderes ao parlamento europeu e aceitar um superministério das finanças para controlar os orçamentos nacionais.

Se nas lengalengas discursivas, nos princípios abstractos e nos objectivos de longo prazo, quando todos os políticos que os enunciam já estarão reformados, ainda se podem encontrar algumas comunhões, quando se chega ao terreno prático das medidas a tomar as posições são irreconciliáveis. Merkel aceita a solidariedade (muito) depois da integração e Hollande quer a solidariedade já e depois logo se vê.

Se fosse só o anunciado insucesso deste casamento já não seria pouco, porque o eixo Paris-Berlim foi e será decisivo para a construção ou a desmantelamento da União Europeia. Mas não é só isso. São os requisitos institucionais, as negociações no Conselho Europeu, as aprovações pelos parlamentos e necessários arranjos partidários prévios, os pareceres dos tribunais constitucionais, as alterações dos tratados e em certos casos os referendos necessários, tudo isto numa altura em que os eleitorados não acreditam em «mais Europa». Salvo naturalmente os eleitorados do Sul que estão por tudo porque a falta de dinheiro não é boa conselheira.

  Como disse o Cavaco Silva na única entrevista desde há muito, que me lembre, em que não entrou nos joguinhos de poder e para ficar bem na fotografia, a mutualização da dívida «é um problema a encarar daqui a uns dez anos». Por isso, as consequências deste casamento falhado e das famílias desavindas só podem ser mais do mesmo nos próximos meses e talvez anos, com as finanças públicas de toda a Europa latina a afundarem-se e a economia a degradar-se.

É o preço do voluntarismo da «construção europeia» que ludibriou a vontade dos povos e lhes impingiu uma moeda única sem consciência das consequências de o fazer sem as condições mínimas para a Zona Euro poder ser uma zona monetária óptima [ver aqui o que no (Im)pertinências se tem escrito sobre isso]. Ou, talvez pior, com a consciência que a Zona Euro para ser viabilizada exigiria uma união política pela porta do cavalo.

05/08/2012

CASE STUDY: No pain, no gain - a crise sueca dos anos 90

No princípio dos anos 90, depois de uma década de forte crescimento, a Suécia atravessou a recessão mais profunda desde a grande depressão dos anos 20-30. Iniciada com o rebentamento da bolha imobiliária provocada pelo crédito fácil tornado possível com a elevada alavancagem dos bancos a crise arrastou-se até ao final da década. O rebentar da bolha imobiliária causou o colapso da banca que foi nacionalizada. Nos 3 anos seguintes a dívida pública duplicou, o desemprego triplicou e o défice orçamental aumentou de 1 para 10 por cento, passando a ser o mais alto na OCDE à época.

Göran Persson ministro das Finanças a partir de 1994 e primeiro-ministro do partido Social-Democrata a partir de 1996 teve um papel fundamental na resposta à crise. Em 2006 a dívida pública estava reduzida para 40%, metade do rácio de 1994.

Em Junho passado, em entrevista à McKinsey Quarterly, Göran Persson falou sobre as condições necessárias para consolidar as finanças públicas, reformar a administração pública e melhorar a sua eficiência. Dessa entrevista, que deveria ser leitura obrigatória para o governo português e matéria para decorar pela liderança do partido Socialista, vou citar algumas passagens realçando a rosa para o PS e a verde para o governo as partes com maior impacto para cada um deles.

O que está em causa não é a semelhança das situações e da génese da crise da Suécia dos anos 90 do século XX e do Portugal da 2.ª década do século XXI, que têm poucos pontos de contacto, mas os requisitos que um governo deve cumprir para combater com sucesso uma crise.

04/08/2012

Espanha - défice de jeito e superavit de bazófia

À primeira vista não haveria muitas razões para esperar a escalada nos últimos meses dos yields da dívida espanhola. Afinal o défice de 9% seguiu-se a vários anos de superavit, a dívida pública pouco ultrapassa os 70% (a portuguesa já passou 110%) e a dívida externa líquida é inferior a 100% (a portuguesa já passou os 250%).

Fonte: Bloomberg

Só à primeira vista, porque lá estava a descapitalização dos bancos a requerer 100 mil milhões, lá vieram à superfície as dívidas das 17 regiões autónomas, cada uma delas uma Madeira potencial presidida por um Bokassa, com as suas dívidas e as suas falências anunciadas. Sem esquecer as pantagruélicas necessidades de financiamento do serviço do stock de dívida e dos défices seguintes – cerca de 385 mil milhões até ao final de 2014. E tudo se complica com o BCE a recusar a compra de dívida de países que não pediram ajuda, como é o caso de Espanha cujo governo ainda está na fase da negação.

Ainda assim, julgo que a punição que os especuladores estão aplicar à Espanha (uma tirada para impressionar a esquerdalhada), comparativamente com Portugal, só pode compreender-se por eles terem no lugar de uma dupla Passos Coelho-Gaspar uma dupla Rajoy-Guindos (Reuters dixit), com défice de jeito para lidar com a crise e superavit de bazófia.

03/08/2012

PUBLIC SERVICE: Taking the same medication that made them sick will possibly make them sick again soon (2)

«The patient’s history includes a seizure in 2007/2008 — financial losses, banking problems, a major recession. Liberal injections of taxpayer cash avoided catastrophic multiple organ failure, assisting a modest recovery.

Governments ran large budget deficits in the period after the crisis. Interest rates around the world were reduced to historic lows, zero or negative in many developed countries. Balance sheets of major central banks have increased to $18 trillion from around $6 trillion, reflecting an unprecedented 30% of global gross domestic product.

Mr. Economy is now addicted to monetary heroin. Increasing doses are necessary for the patient to function at all.

Mr. Economy has not made the changes necessary for a return to full health. He seems to have taken rock star Steven Tyler’s advice: “Fake it until you make it.”

…»

«Global economy’s cure is worse than the disease», Satyajit Das, Market Watch

CASE STUDY: formação pós-graduada a la bolognesi (7)

[Outras bolognesi (1), (2), (3), (4), (5) e (6)]

Agora que anda tanta gente inflamada com a licenciatura de Miguel Relvas, um fait divers fruto da promiscuidade entre políticos, aventais e algumas universidades privadas, seria uma boa oportunidade para discutir coisas mais sérias como o divórcio entre as necessidades do país, por um lado, e, por outro, o que as escolas portuguesas oferecem e os portugueses procuram por causa dos incentivos errados que os levam a privilegiar diplomas em vez de obterem competências.

Um dos resultados deste divórcio é a completa inversão de prioridades do ensino que nos leva a ser o país da OCDE com menos graduados no ensino secundário e com mais doutorados, como aqui sublinha Avelino de Jesus. A taxa de graduação nos doutoramentos aumentou de 0,9% em 2000 para 3,4% em 2007 e será hoje talvez superior a 4% contra uma média da OCDE inferior a 0,9%.