Secção George Orwell
Explicando o seu futuro após a renúncia ao cargo de supremo sacerdote do berloquismo, o professor Louçã esclareceu que podemos contar com ele porque, explica, «eu não vou para um conselho de administração». Ainda bem, a menos que se tratasse do conselho de administração de uma empresa pública com subsídios garantidos - por exemplo a CP, com o pelouro das greves. Compreende-se. Vejamos porquê.
Sendo a criatura professor de economia, esperar-se-ia ter uns rudimentos de cálculo financeiro elementar. Não é o caso, como se conclui do «silogismo» partilhado com a audiência: «quando a Europa empresta 78 mil milhões e cobra 34 mil milhões em juros, percebe-se que a senhora Merkel se ria de nós, mais vale ser assaltado com uma pistola na mão».
Já agora, recorde-se que as taxas dos empréstimos são de 3,25% nos três primeiros anos e 4,25% a partir do 4.º ano. Recorde-se também que os yields para prazos de 5 e 10 anos se situam actualmente entre os 8% e os 10%. Portanto, dizer o que ele disse, seria equivalente a afirmar que num crédito para compra de habitação os bancos podem cobrar juros muito altos porque ao longo da vida do empréstimo estes são superiores ao capital mutuado.
Em conclusão, com esse silogismo, o emérito professor provou uma de duas coisas, ou ambas: a) é um rematado demagogo, sem o menor pingo de honestidade intelectual, para quem o rigor ou a verdade são indiferentes; b) é um rematado incompetente por não perceber não ser possível avaliar a grandeza dos juros sem considerar o capital mutuado, as taxas, os prazos e o plano de amortizações.
Que um professor de economia, possa vomitar estas barbaridades sem um sobressalto da academia explica, só por si, como foi possível caminhar durante anos para o abismo da insolvência das finanças públicas com apenas uma alma penada, entre as luminárias mediáticas, a anunciar o desfecho previsível. Não por acaso, essa alma penada é um jurista com apenas algumas cadeiras da licenciatura em economia.
Resultado da avaliação: cinco ignóbeis para o professor Louçã e cinco urracas e outros tantos pilatos para as luminárias académicas e cinco bourbons para um e outras.
É lamentável que Louçã insista neste disparate de citar o montante total de juros a pagar ao longo dos anos do empréstimo como quase um crime, sem referir a taxa de juro baixíssima. Realmente, para um professor de economia é completamente incompreensível. Será que nem Louçã nem nenhum dos seus familiares, correlegionários ou amigos contratou alguma vez um empréstimo bancário, para habitação ou outro fim de longo prazo?
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