25/08/2012

CASE STUDY: Contra as inevitabilidades marchar, marchar (2)

Ao ler última catilinária semanal de Miguel Sousa Tavares no Acção Socialista Expresso, que as férias da criatura tornaram ainda mais indignada do que o habitual, recordei o que aqui escrevi há algum tempo sobre a psicose política, uma espécie de paranoia, que assalta os intelectuais de esquerda (o «esquerda» aqui talvez seja supérfluo) e os leva a negar a realidade e as suas «inevitabilidades» e a ficar reféns de teorias da conspiração que as suas mentes criam para explicar fenómenos cuja génese não compreendem e abominam.

Vejamos algumas passagens ilustrativas de «O fim das tréguas» que a pena torturada de MST produziu para nos demonstrar como o mundo está contra nós.

«Aparentemente, os mercados, as agências de notação, a srª Merkel, o Bundesbank, o FMI e os vários outros autores da farsa euro peia concertaram-se entre si para proporcionar aos devastados povos da periferia europeia um período de tréguas de que eles próprios também deviam precisar.

Vamos despertar novamente para a realidade com a visita da troika, para a semana que vem. O alemão, o etíope e o careca virão dizer que tudo está a ser feito conforme desejado e previsto: isto é, que estamos no bom caminho.

(O próximo parágrafo é uma obra prima de ignorância pesporrente de uma alma a quem um engenheiro agrónomo apelidou de «tudólogo» numa carta ao SOL em que zurziu os disparates que MST escreveu a propósito de eucaliptos e celuloses)

0 processo ideológico de desforra do capital contra o trabalho, conhecido como ajustamento da economia portuguesa, e que consiste fundamentalmente na promoção deliberada do desemprego e na sua desregulação social, como forma de embaratecimento do custo do trabalho, não é afinal suficiente e não produziu os efeitos desejados. Diz-nos o Banco de Portugal que o tal ajustamento da economia portuguesa tem sido largamente ultrapassado pelo ajustamento da economia europeia - o que faz com que, longe de nos termos tornado mais competitivos, nos tornámos 10% menos competitivos, em termos de custos sociais do trabalho. O que é um dado inexplicável, visto que a Europa não baixou salários, enquanto nós já os fizemos regredir ao nível de cinquenta anos atrás. Mais um mistério criado por esta brilhante geração de economistas e ideólogos da economia, que nos trouxeram até onde estamos. E, se eles não sabem e não conseguem explicar onde está a origem do problema, sabem qual é a solução: baixar ainda mais os salários e deixar crescer ainda mais o número de desempregados, como forma de pressionar em baixa o valor do trabalho contratado. Quando eu estudei economia, alguns que hoje seriam considerados ignorantes, como Keynes ou J. K. Galbraith, explicavam que uma economia com uma taxa de desemprego de 20% era necessariamente uma economia falhada de um país falhado. Hoje dizem-nos que é uma economia em processo de ajustamento. Oxalá os burros sejam os velhos

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