31/12/2011
LA DONNA E UN ANIMALE STRAVAGANTE: a bela e a ciência lúgubre (2)
Beatrice Weder di Mauro, uma bem parecida economista membro do Sachverständigenrat zur Begutachtung der gesamtwirtschaftlichen Entwicklung (parar para respirar), já passou duas vezes pelo radar do (Im)pertinências e volta agora a passar a propósito dos países sobre-endividados da Zona Euro para os quais propõe soluções parecidas com as da sua patroa Angela Merkel mas provavelmente escutadas com bastante mais benevolência.
O chaço flutuante e o homo neanderthalensis
O ferry Atlântida construído nos ENVC está desde Maio de 2009 encostado às docas de Viana do Castelo depois de ter sido rejeitado pelo governo regional dos Açores por não cumprir as especificações contratadas, nomeadamente a velocidade. Desde então, foi sucessivamente tentado vender ao coronel Chavéz, aos brasileiros, aos russos, pelo menos.
A este propósito escreveram-se no (Im)pertinências vários posts, nomeadamente este, este e este, usando este caso como um exemplo da ineficácia das empresas públicas constantemente vítimas do efeito Lockheed TriStar aqui descrito. Sobre os ENVC e os becos sem saída em que se encontra, este artigo faz um bom resumo da situação, que só piorou depois de se terem perdido as encomendas da Marinha que não tem dinheiro para as pagar. Com uma situação líquida negativa de 100 milhões, os ENVC estariam falidos há muito pelos critérios aplicáveis às empresas «normais».
No último post sobre este tema chamei ao Atlântida «chaço flutuante», o que suscitou do Sr. ze estranho a seguinte estranha mensagem:
«CHAÇO?
O Sr por acaso conhece o navio Atlantida?
Informe-se antes de escrever dispoarates
Chaço é o que o Sr tem em vez de cerebro!
Informe-se sobre os verdadeiros motivos que levaram os açores a rejeitar o Navio!
Chaço é a c*n* da grande p*t* que o pariu!»
Transcrevo a mensagem por razões estritamente científicas. A mensagem é mais uma prova importante, a reforçar o achado da criança do Lapedo, para corroborar a hipótese da presença do homo neanderthalensis em Portugal e dos efeitos da sua miscigenação pelo homo sapiens.
A este propósito escreveram-se no (Im)pertinências vários posts, nomeadamente este, este e este, usando este caso como um exemplo da ineficácia das empresas públicas constantemente vítimas do efeito Lockheed TriStar aqui descrito. Sobre os ENVC e os becos sem saída em que se encontra, este artigo faz um bom resumo da situação, que só piorou depois de se terem perdido as encomendas da Marinha que não tem dinheiro para as pagar. Com uma situação líquida negativa de 100 milhões, os ENVC estariam falidos há muito pelos critérios aplicáveis às empresas «normais».
No último post sobre este tema chamei ao Atlântida «chaço flutuante», o que suscitou do Sr. ze estranho a seguinte estranha mensagem:
«CHAÇO?
O Sr por acaso conhece o navio Atlantida?
Informe-se antes de escrever dispoarates
Chaço é o que o Sr tem em vez de cerebro!
Informe-se sobre os verdadeiros motivos que levaram os açores a rejeitar o Navio!
Chaço é a c*n* da grande p*t* que o pariu!»
Transcrevo a mensagem por razões estritamente científicas. A mensagem é mais uma prova importante, a reforçar o achado da criança do Lapedo, para corroborar a hipótese da presença do homo neanderthalensis em Portugal e dos efeitos da sua miscigenação pelo homo sapiens.
30/12/2011
NOVA ENTRADA PARA O GLOSSÁRIO DAS IMPERTINÊNCIAS: Tomar conta da ocorrência
Tomar conta da ocorrência
Uma autoridade policial dá entrada de um presumível/alegado crime (ocorrência) na sebenta da esquadra de polícia, ou do posto da Gêeneerre ou no livro de registo da Judite. «Tomar» não designa neste caso acção, significa a falta dela. «Tomar conta» não significa tomar conta, significa arquivar a participação.
Exemplo: Um condutor dum veículo de transportes, colocando em risco a sua vida consegue fugir aos assaltantes. «A Polícia Judiciária de Faro tomou conta da ocorrência».
Uma autoridade policial dá entrada de um presumível/alegado crime (ocorrência) na sebenta da esquadra de polícia, ou do posto da Gêeneerre ou no livro de registo da Judite. «Tomar» não designa neste caso acção, significa a falta dela. «Tomar conta» não significa tomar conta, significa arquivar a participação.
Exemplo: Um condutor dum veículo de transportes, colocando em risco a sua vida consegue fugir aos assaltantes. «A Polícia Judiciária de Faro tomou conta da ocorrência».
CASE STUDY: Óropa, uma Downton Abbey da classe média
«Apart from technology, the three most successful industries of the past 50 years have been finance, pharmaceuticals and energy. Look at the way those sectors are portrayed in films and in TV dramas and the same attitudes prevail. Financiers are unthinking brutes, whose obsession with numbers is a form of autism. Multinational drug companies are vast conspiracies selling products with fat margins and hiding their deadly side-effects. Energy companies are despoiling the planet.
All these industries are, of course, legitimate subjects for criticism. But such lofty attitudes towards commerce are easy to adopt in a relatively rich society, in which few have to worry where the next meal is coming from. Europeans have had a pretty privileged existence over the past half-century or so, riding on the back of America’s global dominance. But the economic power is shifting towards Asia, a region where many people are prepared to work hard to get ahead and business isn’t always a dirty word.
Eventually, the great estates like Downton Abbey fell into decay. The cost of maintenance soared while death duties depleted the owners’ capital; the servants found better-paying jobs in manufacturing. The aristocrats were forced to discover a head for business, turning their estates into safari parks and their conservatories into tea shops. As their populations age and their relative economic weight declines, Europeans may need a similar change in attitude towards the sordid business of earning a national living.»
Not in front of the servants. An ancient snobbery towards commerce remains, Economist Dec 17th
All these industries are, of course, legitimate subjects for criticism. But such lofty attitudes towards commerce are easy to adopt in a relatively rich society, in which few have to worry where the next meal is coming from. Europeans have had a pretty privileged existence over the past half-century or so, riding on the back of America’s global dominance. But the economic power is shifting towards Asia, a region where many people are prepared to work hard to get ahead and business isn’t always a dirty word.
Eventually, the great estates like Downton Abbey fell into decay. The cost of maintenance soared while death duties depleted the owners’ capital; the servants found better-paying jobs in manufacturing. The aristocrats were forced to discover a head for business, turning their estates into safari parks and their conservatories into tea shops. As their populations age and their relative economic weight declines, Europeans may need a similar change in attitude towards the sordid business of earning a national living.»
Not in front of the servants. An ancient snobbery towards commerce remains, Economist Dec 17th
29/12/2011
SERVIÇO PÚBLICO: O cinema independente não depende dos espectadores
Segundo os dados do ICA, as longas metragens estreadas em 2011, subsidiadas com os impostos dos sujeitos passivos que na sua maioria esmagadora não vêem filmes portugueses, foram vistos por um número ridículo de espectadores - ver quadro seguinte, ao qual acrescentei uma última coluna com os espectadores que esses filmes teriam tido durante todo o ano de 2011 se tivessem sido estreados em 1 de Janeiro e supondo, por piedade, que a média inicial de espectadores se teria mantido. Com este critério, o número médio anual de espectadores atingiria a prodigiosa cifra de 8.135. Se retirarmos o «Sangue do meu sangue», a média dos restantes desce para 4.355.
Utilizando o mesmo critério para estimar o número de espectadores durante um ano, o filme subsidiado mais visto teria um número de espectadores inferior a um terço do último do ranking geral (Cowboys e Aliens, estreado em 18-08, que ficou em 40.º).
Utilizando o mesmo critério para estimar o número de espectadores durante um ano, o filme subsidiado mais visto teria um número de espectadores inferior a um terço do último do ranking geral (Cowboys e Aliens, estreado em 18-08, que ficou em 40.º).
Estado empreendedor (62) – patrulhas, petroleiros e plataformas – o tiro no pé
(Continuação daqui e daqui)
Já nos tempos deste governo, acrescentaram-se mais delírios à venda imaginada e nunca realizada pelo governo de José Sócrates do chaço flutuante atracado nas docas dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo ao coronel Chávez. Desta vez tratou-se de vender patrulhas (ou «navios petroleiros e plataformas») ao Brasil, ideia parida por Marcos Perestrello e alegadamente adoptada pelo ex-presidente Lula durante a sua ocupação dos tempos livres.
Talvez embebedado pela visão de charters de patrulhas a navegarem para o Brasil, o actual governo deu um tiro no pé e anulou o plano de reestruturação aprovado pelo anterior para redução drástica do número de trabalhadores e compressão dos custos. Resultado: não se vêem patrulhas nem com binóculos de longo alcance, o passivo aumentou para 263 milhões e só para manter a máquina a funcionar são precisos no princípio do ano mais 57 milhões.
Já nos tempos deste governo, acrescentaram-se mais delírios à venda imaginada e nunca realizada pelo governo de José Sócrates do chaço flutuante atracado nas docas dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo ao coronel Chávez. Desta vez tratou-se de vender patrulhas (ou «navios petroleiros e plataformas») ao Brasil, ideia parida por Marcos Perestrello e alegadamente adoptada pelo ex-presidente Lula durante a sua ocupação dos tempos livres.
Talvez embebedado pela visão de charters de patrulhas a navegarem para o Brasil, o actual governo deu um tiro no pé e anulou o plano de reestruturação aprovado pelo anterior para redução drástica do número de trabalhadores e compressão dos custos. Resultado: não se vêem patrulhas nem com binóculos de longo alcance, o passivo aumentou para 263 milhões e só para manter a máquina a funcionar são precisos no princípio do ano mais 57 milhões.
28/12/2011
Um partido bafiento
Contrariamente à aparência superficial, talvez os acontecimentos menos surpreendentes e mais previsíveis deste ano agora à beira de terminar tenham sido a rejeição pelo PCP do voto de pesar da AR pela morte de Vaclav Havel e as condolências pela morte do querido líder Kim Jong-il.
Mais surpreendente – ou talvez não - é a audiência cativa de 8% a 10% dum partido deste jaez no século 21 e num país com uma democracia, ainda que «defeituosa».
Mais surpreendente – ou talvez não - é a audiência cativa de 8% a 10% dum partido deste jaez no século 21 e num país com uma democracia, ainda que «defeituosa».
27/12/2011
Estado empreendedor (61) – malefícios duma exposição prolongada
A propósito da privatização da TAP, escreveu Fernando Pinto numa mensagem ao pessoal:
«Tenho consciência de que existem dúvidas e receios, mas do que não tenho dúvidas é de que não podemos continuar a viver nas circunstâncias dos últimos anos, em que o Estado não pode continuar a ajudar como um accionista normal poderá.»Rói-me uma dúvida angustiante: acreditará Pinto que «accionista normal» é uma espécie de unicórnio, um ser mitológico igual ao Estado português mas com dinheiro abundante para torrar na sustentação de pilotos e de empregados de restauração que se julgam primas-donas do ar e de mecânicos que se imaginam cientistas da NASA? Se for isto, fica provado que a estadia prolongada numa empresa pública causa danos irreparáveis na capacidade de discernimento de um gestor.
DIÁLOGOS DE PLUTÃO: Dúvida cartesiana
- Este programa de austeridade vai levar-nos à pobreza mais extrema. Não achas?
- É possível.
- Para inverter a situação precisamos de investir para desenvolver o país.
- Também me parece.
- Não podemos estar obcecados com o défice, a apertar o torniquete da despesa pública. Ao contrário, temos que puxar a economia com a despesa pública e o investimento público. Só assim podemos sair da recessão e ter condições para reduzir a dívida pública.
- Tenho uma dúvida cartesiana.
- Qual?
- A solução que propões para o problema é a mesma que criou o problema?
- É possível.
- Para inverter a situação precisamos de investir para desenvolver o país.
- Também me parece.
- Não podemos estar obcecados com o défice, a apertar o torniquete da despesa pública. Ao contrário, temos que puxar a economia com a despesa pública e o investimento público. Só assim podemos sair da recessão e ter condições para reduzir a dívida pública.
- Tenho uma dúvida cartesiana.
- Qual?
- A solução que propões para o problema é a mesma que criou o problema?
26/12/2011
Mitos (62) – Estamos a caminhar para o cofinanciamento do SNS
O PS parece estar a caminho de substituir o mito constitucional da saúde tendencialmente gratuita, isto é paga pelos contribuintes, pelo mito do aumento das taxas moderadoras significar o «cofinanciamento do SNS». Vejamos a coisa mais de perto.
Comecemos por colocar as taxas moderadoras no contexto das despesas familiares. Há mais de 16 milhões de cartões activos de telemóveis, 1,6 por cada habitante, incluindo crianças de colo e velhos abandonados pela família nos hospitais e nos asilos. O gasto médio por cartão é 17 euros por mês.
Vejamos alguns exemplos das taxas moderadoras fixadas pela Portaria n.º 306-A/2011 a partir de 1 de Janeiro, convertidas na unidade «diária de chamadas»:
Continuemos colocando em perspectiva o contributo directo das taxas moderadoras. Rondando a despesa total do SNS 10 mil milhões de euros e sendo de 250 milhões de euros a receita estimada das taxas moderadoras para 2012, pergunta-se se a repartição 2,5%-97,5% entre a parcela paga pelos utilizadores directos dos serviços de saúde e a financiada pelos contribuintes é o que o PS chama cofinanciamento?
Sendo assim, pode-se perguntar para que servem as taxas moderadoras? Podemos dizer que como taxas servem obviamente de pouco e como moderadoras servem provavelmente de muito.
(*) A lista de isenções abrange todas as pessoas com rendimentos mensais inferiores a 628 euros, grávidas, crianças até aos 12 anos, doentes crónicos, e vai até alcoólicos crónicos e toxicodependentes, dependentes crónicos e várias outras dezenas de situações.
Comecemos por colocar as taxas moderadoras no contexto das despesas familiares. Há mais de 16 milhões de cartões activos de telemóveis, 1,6 por cada habitante, incluindo crianças de colo e velhos abandonados pela família nos hospitais e nos asilos. O gasto médio por cartão é 17 euros por mês.
Vejamos alguns exemplos das taxas moderadoras fixadas pela Portaria n.º 306-A/2011 a partir de 1 de Janeiro, convertidas na unidade «diária de chamadas»:
- Consulta de medicina geral - 5 euros ou 9 «diárias de chamadas»
- Consulta ao domicílio ou urgência SAP – 10 euros ou 18 «diárias de chamadas»
- Serviço de urgência polivalente – 20 euros ou 36 «diárias de chamadas»
- Meios complementares de diagnóstico e terapêutica - de 0,35 a 50 (em média menos de 10%) ou 1,6 a 90 «diárias de chamadas».
Continuemos colocando em perspectiva o contributo directo das taxas moderadoras. Rondando a despesa total do SNS 10 mil milhões de euros e sendo de 250 milhões de euros a receita estimada das taxas moderadoras para 2012, pergunta-se se a repartição 2,5%-97,5% entre a parcela paga pelos utilizadores directos dos serviços de saúde e a financiada pelos contribuintes é o que o PS chama cofinanciamento?
Sendo assim, pode-se perguntar para que servem as taxas moderadoras? Podemos dizer que como taxas servem obviamente de pouco e como moderadoras servem provavelmente de muito.
(*) A lista de isenções abrange todas as pessoas com rendimentos mensais inferiores a 628 euros, grávidas, crianças até aos 12 anos, doentes crónicos, e vai até alcoólicos crónicos e toxicodependentes, dependentes crónicos e várias outras dezenas de situações.
25/12/2011
Pro memoria (46) – mais um resultado da simbiose entre um vendedor de automóveis e um professor de economia
Entre as múltiplas derrapagens dos orçamentos da dupla Sócrates-Teixeira dos Santos, o Tribunal de Contas assinala mais uma no parecer às contas de 2010: o serviço da dívida pública excedeu em 24% os 96 mil milhões orçamentados. Apesar de José Sócrates ter estudado em economia que pagar a dívida é uma ideia de crianças pagar a dívida de só vez é uma ideia de crianças.
Nem todos os obamas de Obama fazem felizes os obamófilos: episódio (52)
Daily Presidential Tracking Poll |
É possível enganar alguns para sempre. É possível enganar todos algum tempo. Não é possível enganar todos para sempre.
23/12/2011
O (IM)PERTINÊNCIAS FEITO PELOS SEUS DETRACTORES: Dívida soberana pletórica e soberania não rimam
Já o ano passado tinha feito uma antecipação gráfica de um dos resultados do festim socialista, nas suas modalidades PS (80%) e PS-D (20%).
Hoje recebi este belo logotipo.
Hoje recebi este belo logotipo.
Enviado por AB |
ARTIGO DEFUNTO: Disparos
«Cotações do BES e Millennium dispararam em bolsa», titula o Público. Pelo menos no caso do Millennium que já viu as suas acções a 5 euros in illo tempore, a metáfora parece um pouco exagerada. O «disparo» foi uma dúzia de cêntimos e continuam a ser precisas duas acções para pagar uma rodela de lehman lemon. Para um disparo ser audível vão ser precisos charters de yuans.
¿Por qué no te callas? (3) – o provedor e os velhos ricos
[Uma série potencialmente infinita de aflições e estados de alma partilhados com os mídia sem propósito aparente: (1), (2)]
«Os reformados já não têm forças para conseguir corrigir o percurso, o rumo das dificuldade e, por isso, nós não podemos de forma nenhuma empurrá-los para o grupo dos novos pobres, aqueles que passam por uma pobreza envergonhada», suspirou aquela alma sensível estacionada em Belém, durante a visita às criancinhas do Centro de Bem-Estar Infantil de Santo Estêvão,
Das duas, uma: é só conversa para encher o tempo de antena e ficar no rodapé da estória como «o provedor dos mais fracos, o provedor das angústias e das aspirações dos portugueses» e, a ser assim, acabaria aqui este post, ou Cavaco Silva quer significar ter descoberto estarem os velhinhos mesmo a ser empurrados «para o grupo dos novos pobres».
Na 2.ª hipótese a coisa é mais séria. Quem são os empurrados para o grupo dos novos pobres? Só podem ser os reformados que no próximo ano perdem os subsídios de férias e de Natal, isto é os reformados que têm pensões superiores a 1.100 euros, porque todos os outros na pior hipótese não terão as suas pensões actualizadas.
Em 2010 havia cerca de 92 mil ou menos de 6% em 1,6 milhões de pensionistas do regime geral com pensões de velhice superiores a 1.000 euros. Com pensões de invalidez eram 5,6 mil ou menos de 3% em cerca de 197 mil. No conjunto não atingirá 100 mil o número de pensionistas do regime geral com pensões que serão reduzidas em 2012.
É claro que na CGA dos funcionários públicos, outro galo canta e a proporção de pensões superiores a 1.000 euros sobe para mais de metade, com cerca 220 mil. En passant, eis aqui um exemplo da falta de equidade - mas não do tipo que tanto preocupa Cavaco Silva.
No total dos dois regimes as pensões que sofrerão cortes no próximo ano serão, portanto, menos cerca de 300 mil ou cerca de 13% do total. Num país em que a remuneração base média não chegava a 900 euros em 2009, serão os menos de 300 mil pensionistas com pensões superiores a 1.100 euros os novos pobres de quem Cavaco Silva quer ser provedor? Se perguntasse a opinião a um dos 470 mil reformados por velhice do regime geral com pensões inferiores a 250 euros, o provedor Cavaco Silva poderia ouvir como resposta que esses a quem ele chama novos pobres seriam melhor chamados velhos ricos.
[Dados da Pordata]
«Os reformados já não têm forças para conseguir corrigir o percurso, o rumo das dificuldade e, por isso, nós não podemos de forma nenhuma empurrá-los para o grupo dos novos pobres, aqueles que passam por uma pobreza envergonhada», suspirou aquela alma sensível estacionada em Belém, durante a visita às criancinhas do Centro de Bem-Estar Infantil de Santo Estêvão,
Das duas, uma: é só conversa para encher o tempo de antena e ficar no rodapé da estória como «o provedor dos mais fracos, o provedor das angústias e das aspirações dos portugueses» e, a ser assim, acabaria aqui este post, ou Cavaco Silva quer significar ter descoberto estarem os velhinhos mesmo a ser empurrados «para o grupo dos novos pobres».
Na 2.ª hipótese a coisa é mais séria. Quem são os empurrados para o grupo dos novos pobres? Só podem ser os reformados que no próximo ano perdem os subsídios de férias e de Natal, isto é os reformados que têm pensões superiores a 1.100 euros, porque todos os outros na pior hipótese não terão as suas pensões actualizadas.
Em 2010 havia cerca de 92 mil ou menos de 6% em 1,6 milhões de pensionistas do regime geral com pensões de velhice superiores a 1.000 euros. Com pensões de invalidez eram 5,6 mil ou menos de 3% em cerca de 197 mil. No conjunto não atingirá 100 mil o número de pensionistas do regime geral com pensões que serão reduzidas em 2012.
É claro que na CGA dos funcionários públicos, outro galo canta e a proporção de pensões superiores a 1.000 euros sobe para mais de metade, com cerca 220 mil. En passant, eis aqui um exemplo da falta de equidade - mas não do tipo que tanto preocupa Cavaco Silva.
No total dos dois regimes as pensões que sofrerão cortes no próximo ano serão, portanto, menos cerca de 300 mil ou cerca de 13% do total. Num país em que a remuneração base média não chegava a 900 euros em 2009, serão os menos de 300 mil pensionistas com pensões superiores a 1.100 euros os novos pobres de quem Cavaco Silva quer ser provedor? Se perguntasse a opinião a um dos 470 mil reformados por velhice do regime geral com pensões inferiores a 250 euros, o provedor Cavaco Silva poderia ouvir como resposta que esses a quem ele chama novos pobres seriam melhor chamados velhos ricos.
[Dados da Pordata]
22/12/2011
Mal empregados e mal agradecidos (2)
No post de ontem escrevi: um dos chocados com o óbvio ululante da sugestão de Passos Coelho aos professores (reconvertam-se ou emigrem) foi o apparatchik Mário Nogueira, líder da FENPROF, professor há 20 anos sem dar uma aula e avaliado como docente com Bom.
Por lapso, não referi a fonte do «currículo» de Mário Nogueira: Camilo Lourenço no Negócios. Sem surpresa, o apparatchik enviou uma carta ao jornal na qual, para além da lengalenga do costume sobre os inimigos dos trabalhadores e o ataque que fazem às corporações sindicais, bla bla, protesta por ter sido referida a sua vida pessoal (não foi), profissional (o homem não tem profissão) e sindical (a única vida que Camilo Lourenço comentou). Protesta, mas não desmente nada e até confirma a sua avaliação como professor sem aulas e desculpa-se com as outras corporações de governantes, deputados e autarcas desfrutando igualmente de tais «avaliações». São todos tão previsíveis - é mais o que os une do que os separa.
Por lapso, não referi a fonte do «currículo» de Mário Nogueira: Camilo Lourenço no Negócios. Sem surpresa, o apparatchik enviou uma carta ao jornal na qual, para além da lengalenga do costume sobre os inimigos dos trabalhadores e o ataque que fazem às corporações sindicais, bla bla, protesta por ter sido referida a sua vida pessoal (não foi), profissional (o homem não tem profissão) e sindical (a única vida que Camilo Lourenço comentou). Protesta, mas não desmente nada e até confirma a sua avaliação como professor sem aulas e desculpa-se com as outras corporações de governantes, deputados e autarcas desfrutando igualmente de tais «avaliações». São todos tão previsíveis - é mais o que os une do que os separa.
Se os nossos políticos fossem julgados nos tribunais franceses a espécie extinguia-se?
Aos 79 anos e sofrendo de uma variante de Alzheimer, terminada a sua impunidade pela condição de presidente da República francesa, Jacques Chirac foi finalmente condenado a semana passada a 2 anos com pena suspensa por financiamento ilegal do partido RPR que liderou.
Ocupando o poder durante mais de 35 anos, como primeiro-ministro (5 anos), presidente da câmara de Paris (18 anos) e presidente da República (12 anos), Chirac foi um homem com uma influência imensa no sistema político francês que usou com pouco escrúpulo e muitos conflitos de interesse. O tribunal assinalou esse facto como «connexité entre son parti et la municipalité parisienne» dando como provada a correia de transmissão sob diversas formas incluindo o pagamento de salários a apparatchiks do RPR empregados de fachada da mairie de Paris.
Não sendo o sistema judicial francês exactamente um modelo de independência - um professor de direito escreveu no Monde um artigo de opinião com uma interessante interrogação «La condamnation de M. Chirac signe-t-elle la fin d'un pouvoir féodal?» - serve melhor os franceses do que a azêmola da nossa justiça serve os portugueses.
O equivalente em Portugal à investigação e condenação de Chirac em França seria a investigação (e condenação?) de Mário Soares pelas trapalhadas de Macau, Emaudio, etc., para não ir mais longe. Não estou a ver o sistema judicial português a meter-se com tal senhor feudal. Nem mesmo estou a ver os tribunais portugueses a meterem-se com a pletora de políticos que habitualmente «criam» empregos para manadas de apparatchiks sem que isso tire o sono a ninguém.
Ocupando o poder durante mais de 35 anos, como primeiro-ministro (5 anos), presidente da câmara de Paris (18 anos) e presidente da República (12 anos), Chirac foi um homem com uma influência imensa no sistema político francês que usou com pouco escrúpulo e muitos conflitos de interesse. O tribunal assinalou esse facto como «connexité entre son parti et la municipalité parisienne» dando como provada a correia de transmissão sob diversas formas incluindo o pagamento de salários a apparatchiks do RPR empregados de fachada da mairie de Paris.
Não sendo o sistema judicial francês exactamente um modelo de independência - um professor de direito escreveu no Monde um artigo de opinião com uma interessante interrogação «La condamnation de M. Chirac signe-t-elle la fin d'un pouvoir féodal?» - serve melhor os franceses do que a azêmola da nossa justiça serve os portugueses.
O equivalente em Portugal à investigação e condenação de Chirac em França seria a investigação (e condenação?) de Mário Soares pelas trapalhadas de Macau, Emaudio, etc., para não ir mais longe. Não estou a ver o sistema judicial português a meter-se com tal senhor feudal. Nem mesmo estou a ver os tribunais portugueses a meterem-se com a pletora de políticos que habitualmente «criam» empregos para manadas de apparatchiks sem que isso tire o sono a ninguém.
21/12/2011
Mal empregados e mal agradecidos
Um dos chocados com o óbvio ululante da sugestão de Passos Coelho aos professores (reconvertam-se ou emigrem) foi o apparatchik Mário Nogueira, líder da FENPROF, professor há 20 anos sem dar uma aula e avaliado como docente com Bom.
Com a eficácia habitual, a máquina dos protestos pôs-se em movimento e criou ex nihilo um Grupo de Protesto dos Professores Contratados e Desempregados para se manifestar à porta da residência oficial do primeiro-ministro e desafiá-lo a emigrar.
Passos Coelho não precisará emigrar até ao final do mandato e, quando e se for preciso, o seu padrinho Ângelo Correia terá uma oportunidade para lhe oferecer. Quem não tem oportunidades são as dezenas de milhares de professores que não sabem fazer nada que alguém precise seja feito - deveriam aproveitar uma boa sugestão.
Com a eficácia habitual, a máquina dos protestos pôs-se em movimento e criou ex nihilo um Grupo de Protesto dos Professores Contratados e Desempregados para se manifestar à porta da residência oficial do primeiro-ministro e desafiá-lo a emigrar.
Passos Coelho não precisará emigrar até ao final do mandato e, quando e se for preciso, o seu padrinho Ângelo Correia terá uma oportunidade para lhe oferecer. Quem não tem oportunidades são as dezenas de milhares de professores que não sabem fazer nada que alguém precise seja feito - deveriam aproveitar uma boa sugestão.
20/12/2011
NÓS VISTOS POR ELES: Submarino ao fundo (2)
Os dois administradores da Ferrostaal que estavam a ser julgados por pagamento de luvas de 62 milhões de euros na venda de submarinos a Portugal e à Grécia foram hoje condenados a dois anos de prisão com pena suspensa e ao pagamento de multas de 54 mil euros. À Ferrostaal foi-lhe aplicada uma multa de 140 milhões de euros.
Podem extrair-se daqui duas conclusões. Primeira: pode haver corruptores sem corruptos - o facto de tribunais alemães julgarem e condenarem cidadãos alemães como corruptores de cidadãos portugueses e gregos não implica que tribunais portugueses ou gregos julguem e condenem cidadãos portugueses ou gregos como corruptos.
Segunda conclusão: os procuradores alemães negociaram as penas e as multas em troca dos réus se considerarem culpados. Os procuradores alemães têm muito a aprender com os portugueses que teriam ficado a instruir o processo até à prescrição.
Podem extrair-se daqui duas conclusões. Primeira: pode haver corruptores sem corruptos - o facto de tribunais alemães julgarem e condenarem cidadãos alemães como corruptores de cidadãos portugueses e gregos não implica que tribunais portugueses ou gregos julguem e condenem cidadãos portugueses ou gregos como corruptos.
Segunda conclusão: os procuradores alemães negociaram as penas e as multas em troca dos réus se considerarem culpados. Os procuradores alemães têm muito a aprender com os portugueses que teriam ficado a instruir o processo até à prescrição.
CASE STUDY: a pátria do capitalismo é o inferno dos capitalistas (7)
Anjos caídos recentemente: (1), (2), (3), (4), (5) e (6).
A lista não para de aumentar. Os últimos a chegar são 6 administradores da Fannie Mae (Federal National Mortgage Association) e do Freddy Mac (Federal Home Loan Mortgage Corporation), duas Government-sponsored enterprises (GSE) participantes na inundação de crédito fácil e barato para a compra de habitação que teve o efeito conhecido.
O sexteto foi acusado pela SEC (Securities and Exchange Commission) de escamotear informação sobre a exposição aos empréstimos subprime, minimizando assim a vulnerabilidade das duas GSE à crise do crédito imobiliário e impedindo os investidores de tomarem decisões baseadas em informação verdadeiras.
A lista não para de aumentar. Os últimos a chegar são 6 administradores da Fannie Mae (Federal National Mortgage Association) e do Freddy Mac (Federal Home Loan Mortgage Corporation), duas Government-sponsored enterprises (GSE) participantes na inundação de crédito fácil e barato para a compra de habitação que teve o efeito conhecido.
O sexteto foi acusado pela SEC (Securities and Exchange Commission) de escamotear informação sobre a exposição aos empréstimos subprime, minimizando assim a vulnerabilidade das duas GSE à crise do crédito imobiliário e impedindo os investidores de tomarem decisões baseadas em informação verdadeiras.
19/12/2011
Chocados com o óbvio ululante
Questionado sobre os professores excedentários, Passos Coelho disse um óbvio ululante: «Estamos com uma demografia decrescente, como todos sabem, e portanto nos próximos anos haverá muita gente em Portugal que, das duas uma: ou consegue nessa área fazer formação e estar disponível para outras áreas ou, querendo manter-se sobretudo como professores, podem olhar para todo o mercado da língua portuguesa e encontrar aí uma alternativa».
O óbvio ulula nos 2 quadros seguintes mostrando os «clientes» a diminuirem de 1/3 nos últimos 50 anos e os «fornecedores» a aumentarem 5 vezes. Até os «fornecedores» do ensino já obrigatório há mais de 50 anos aumentarem de 1/3.
Com o lunatismo ou a estupidez ou a hipocrisia (cortar o que não for aplicável) habituais, o inefável professor doutor Marcelo, o calimero líder do PS, e muitas outras luminárias reagiram chocadas e o óbvio ululante de Passos Coelho tornou-se o leit motiv da indignação nacional, o desporto mais popular entre nós. Exagero? Nem por isso. Veja-se esta pesquisa do Google Notícias – nas últimas 24 horas apresenta mais de 50 mil resultados.
Se este imbróglio diz alguma coisa sobre a falta de jeito de Passos Coelho, diz muito mais sobre a cultura portuguesa do faz de conta e da conversa da treta e diz ainda mais sobre a falta de qualidade de elites sempre em bicos de pés para engraxarem as corporações, os coitadinhos e a populaça.
O óbvio ulula nos 2 quadros seguintes mostrando os «clientes» a diminuirem de 1/3 nos últimos 50 anos e os «fornecedores» a aumentarem 5 vezes. Até os «fornecedores» do ensino já obrigatório há mais de 50 anos aumentarem de 1/3.
População residente 1960=100 (Pordata) |
Docentes 1961= 100 (Pordata) |
Com o lunatismo ou a estupidez ou a hipocrisia (cortar o que não for aplicável) habituais, o inefável professor doutor Marcelo, o calimero líder do PS, e muitas outras luminárias reagiram chocadas e o óbvio ululante de Passos Coelho tornou-se o leit motiv da indignação nacional, o desporto mais popular entre nós. Exagero? Nem por isso. Veja-se esta pesquisa do Google Notícias – nas últimas 24 horas apresenta mais de 50 mil resultados.
Se este imbróglio diz alguma coisa sobre a falta de jeito de Passos Coelho, diz muito mais sobre a cultura portuguesa do faz de conta e da conversa da treta e diz ainda mais sobre a falta de qualidade de elites sempre em bicos de pés para engraxarem as corporações, os coitadinhos e a populaça.
TIROU-ME AS PALAVRAS DA BOCA: O papel insubstituível dos agentes cólturais
«Como se prova pela necessidade de recorrer a dinheiros públicos, a "cultura" que tais sumidades normalmente cometem não entretém nem ilustra ninguém. Já os depoimentos, os artigos e os manifestos são um prazer e uma educação.
…
Sendo geralmente pouco cultos, os nossos "agentes culturais" geralmente falham a vocação que se atribuíram: iluminar-nos. Mas não falham a vocação que de facto possuem: divertir-nos. Sempre que o não tentam, divertem-nos. E iluminam-nos um bocadinho.»
Corte e cultura, Alberto Gonçalves no DN
…
Sendo geralmente pouco cultos, os nossos "agentes culturais" geralmente falham a vocação que se atribuíram: iluminar-nos. Mas não falham a vocação que de facto possuem: divertir-nos. Sempre que o não tentam, divertem-nos. E iluminam-nos um bocadinho.»
Corte e cultura, Alberto Gonçalves no DN
Torrefacção Lusitana, SA (2)
Retomando uma tradição de 2009, quando se anunciaram os 457 milhões para torrar no ano seguinte em «indemnizações compensatórias», pasto para dinossauros inviáveis e/ou um prémio à incompetência da sua gestão, anunciam-se agora 490 milhões para 2012, isto é um aumento de 7% em dois anos. Os cortes limitados na cultura, na comunicação social e na Imprensa Nacional foram ferozmente engolidos pelo temível sector dos transportes.
Assim se demonstra, mais uma vez, que o apetite do monstro aumenta mais depressa do que a inflação, mesmo num regime de soberania limitada com a troika a vigiar o pasto.
Assim se demonstra, mais uma vez, que o apetite do monstro aumenta mais depressa do que a inflação, mesmo num regime de soberania limitada com a troika a vigiar o pasto.
Resolução do Conselho de Ministros n.º 53/2011 de 16 de Dezembro |
18/12/2011
DIÁLOGOS DE PLUTÃO: A constituição como manual
- Estou completamente em desacordo com incluir limites ao défice e à dívida na constituição.
- Hum...
- O quê? Tu concordas?
- Não tenho opinião.
- Não tens opinião? Então pensas que um limite para o défice na constituição não amarra o governo e o impede de adoptar políticas para combater a recessão?
- Não necessariamente. A constituição também diz que o povo português quer abrir o caminho para uma sociedade socialista e até o doutor Soares meteu na gaveta o socialismo…, diz que a soberania, una e indivisível, reside no povo … e agora reside em Bruxelas, diz que o serviço nacional de saúde é tendencialmente gratuito…, diz que temos direito a uma habitação de dimensão adequada... e diz muitas outras coisas.
- Mas se ninguém sabe o que seja o défice estrutural…
- Também ninguém sabe o que seja o socialismo… e muitas outras coisas.
- Hum...
- O quê? Tu concordas?
- Não tenho opinião.
- Não tens opinião? Então pensas que um limite para o défice na constituição não amarra o governo e o impede de adoptar políticas para combater a recessão?
- Não necessariamente. A constituição também diz que o povo português quer abrir o caminho para uma sociedade socialista e até o doutor Soares meteu na gaveta o socialismo…, diz que a soberania, una e indivisível, reside no povo … e agora reside em Bruxelas, diz que o serviço nacional de saúde é tendencialmente gratuito…, diz que temos direito a uma habitação de dimensão adequada... e diz muitas outras coisas.
- Mas se ninguém sabe o que seja o défice estrutural…
- Também ninguém sabe o que seja o socialismo… e muitas outras coisas.
17/12/2011
Se os nossos desportistas fossem julgados nos tribunais americanos a espécie extinguia-se
Já receava que a entrega dos nossos políticos à ferocidade dos tribunais americanos acabaria com a espécie. Depois de saber que Barry Bonds, um campeão de baseball, foi condenado ontem por um juiz federal a 30 dias de prisão domiciliária, 2 anos de liberdade condicional, 250 horas de trabalho comunitário e 4 mil dólares, tudo porque a criatura há 8 anos prestou um evasive testimony perante um júri federal, passei a recear que o mesmo destino poderiam ter os nossos desportistas.
Julgo até que não será exagero recear pela liberdade, não apenas dos nossos desportistas, mas de todas as nossas testemunhas que, por via de regra, quando, depois de várias faltas sempre justificadas, comparecem perante um juiz só prestam testemunhos evasivos.
Julgo até que não será exagero recear pela liberdade, não apenas dos nossos desportistas, mas de todas as nossas testemunhas que, por via de regra, quando, depois de várias faltas sempre justificadas, comparecem perante um juiz só prestam testemunhos evasivos.
NÓS VISTOS POR ELES: Democracia defeituosa
Acabei de fazer download do «Democracy index 2011» da Economist Intelligence Unit e constatar que não é só o défice orçamental a sufocar-nos. Baixámos uma posição de 26.º para 27.º ficando atrás de uma das nossas ex-colónias - Cabo Verde. Apesar de estarmos em 2.º nas democracias defeituosas («flawed democracies»), continuamos à frente da França, a pátria de pouca Liberté, muita vontade de Egalité e nenhuma Fraternité, da Itália e da Grécia.
O índice da EIU está dividido em várias categorias: I processo eleitoral e pluralismo, II funcionamento da governação, III participação política, IV cultura política e V liberdades civis. Atingimos o topo na categoria I, mas devido ao défice de accountability, à corrupção, à falta de confiança no governo, etc., o nosso score na categoria II é bastante pior. O mesmo no que respeita à categoria III, devido à abstenção elevada, número reduzido de mulheres na política, interesse pela política, etc. Em ambas as categorias, o nosso score aproxima-nos mais dos regimes híbridos, a meio caminho entre as democracias defeituosas e os regimes autoritários.
O índice da EIU está dividido em várias categorias: I processo eleitoral e pluralismo, II funcionamento da governação, III participação política, IV cultura política e V liberdades civis. Atingimos o topo na categoria I, mas devido ao défice de accountability, à corrupção, à falta de confiança no governo, etc., o nosso score na categoria II é bastante pior. O mesmo no que respeita à categoria III, devido à abstenção elevada, número reduzido de mulheres na política, interesse pela política, etc. Em ambas as categorias, o nosso score aproxima-nos mais dos regimes híbridos, a meio caminho entre as democracias defeituosas e os regimes autoritários.
16/12/2011
ARTIGO DEFUNTO: A mentira uniforme
Às 11:36 de hoje, o jornal Público escreve: «Francisco Louçã lançou a pergunta directa a Passos Coelho: “O que foi fazer à sede da E.On, agora candidata à privatização da EDP?” Mas ficou sem resposta. O chefe de Governo não dispunha de tempo para responder ao líder do Bloco de Esquerda, mas também abdicou de o fazer mais tarde.»
Vejamos o que passou no Parlamento esta manhã.
Vejamos o que passou no Parlamento esta manhã.
SERVIÇO PÚBLICO: A mentira multiforme
«Sabia que me iria irritar. Que o livro Um Político Assume-se seria uma forma de se justificar perante a História, já que não perante a sua consciência. Mesmo assim insisti em querer vê-lo. Foi esta noite. Fui directo à página onde, na obra que diz ser de memórias políticas, Mário Soares trata do que eu conheço de perto, por ter vivido na pele parte da trama: a história da sua ligação, enquanto Presidente da República, ao território de Macau. Detive-me nas linhas que dedica ao caso Emaudio/TDM. Poucas linhas, esclarecedoras linhas.
… Mente, por contrariar a verdade.
… Mente por sobre-simplificar a verdade
… Mente por omissão da verdade.
… Mente por adulteração da verdade. ...»
«Mário Soares: o perfume barato do contar...», um post de José António Barreiros no A revolta das palavras
… Mente, por contrariar a verdade.
… Mente por sobre-simplificar a verdade
… Mente por omissão da verdade.
… Mente por adulteração da verdade. ...»
«Mário Soares: o perfume barato do contar...», um post de José António Barreiros no A revolta das palavras
15/12/2011
O ruído do silêncio da gente honrada no PS é ensurdecedor (49) – «Estou marimbando-me», disse ele
«Estou marimbando-me para os bancos alemães que nos emprestaram dinheiro nas condições em que nos emprestaram. Estou marimbando-me que nos chamem irresponsáveis. Nós temos uma bomba atómica que podemos usar na cara dos alemães e dos franceses. Ou os senhores se põem finos ou nós não pagamos a dívida», berra excitado um tal Pedro Nuno Santos, vice-presidente do grupo parlamentar do PS.
Para quem tivesse dúvidas sobre se os alemães teriam razão para nos chamarem irresponsáveis, ficam duas dúvidas e uma certeza. As dúvidas são: concordará a maioria dos portugueses com o trauliteiro? e os alemães chamaram-nos de facto isso? A certeza é: se não chamaram passaram a ter razão para chamar quando um deputado pateta profere tais aleivosias e ainda não foi desmentido pelo seus «chefes».
A não ser que o pateta estivesse a marimbar-se pelo facto de os bancos alemães andarem distraídos comprando dívida portuguesa a preços que actualmente lhes geram menos-valias de 30 por cento ou mais.
Para quem tivesse dúvidas sobre se os alemães teriam razão para nos chamarem irresponsáveis, ficam duas dúvidas e uma certeza. As dúvidas são: concordará a maioria dos portugueses com o trauliteiro? e os alemães chamaram-nos de facto isso? A certeza é: se não chamaram passaram a ter razão para chamar quando um deputado pateta profere tais aleivosias e ainda não foi desmentido pelo seus «chefes».
A não ser que o pateta estivesse a marimbar-se pelo facto de os bancos alemães andarem distraídos comprando dívida portuguesa a preços que actualmente lhes geram menos-valias de 30 por cento ou mais.
Estado empreendedor (60) – baterias descarregadas
Não deveria surpreender ninguém, governos incapazes de fazer o Estado cumprir com eficácia e eficiência decentes as suas funções nucleares, como a soberania, a justiça e a segurança, mostrarem-se ainda mais incapazes a fazer opções decentes em matéria de investimento estratégico na economia.
E por isso também não deveria surpreender a Nissan ter suspendido o investimento fortemente incentivado de 159 milhões de euros na construção duma fábrica de baterias em Aveiro. E pelas mesmas razões, não deveria surpreender igualmente o flop das tretas sobre a rede de 1.300 postos de carregamento de baterias para os 179-veículos-179 vendidos até ao final de Novembro, à razão de 7-postos-7 por cada veículo.
Não deveria surpreender ninguém, salvo o Dr. Basílio Horta, a alma gémea do professor doutor Freitas do Amaral ainda carente das revelações já desfrutadas pelo arrependido professor. Segundo o Dr. Basílio, para suspensão do projecto da Nissan foi «foi determinante o abandono da política de mobilidade eléctrica».
O Dr. Basílio não explicou qual a influência do «abandono» considerando durante o 1.º semestre, em plena pujança dessa política, terem sido vendidos menos carros eléctricos do que no período do abandono entre Julho e Novembro. Também não explicou qual a influência dumas centenas a mais ou a menos de veículos vendidos num investimento numa unidade que produziria 50.000-baterias-50.000 por ano.
E por isso também não deveria surpreender a Nissan ter suspendido o investimento fortemente incentivado de 159 milhões de euros na construção duma fábrica de baterias em Aveiro. E pelas mesmas razões, não deveria surpreender igualmente o flop das tretas sobre a rede de 1.300 postos de carregamento de baterias para os 179-veículos-179 vendidos até ao final de Novembro, à razão de 7-postos-7 por cada veículo.
Não deveria surpreender ninguém, salvo o Dr. Basílio Horta, a alma gémea do professor doutor Freitas do Amaral ainda carente das revelações já desfrutadas pelo arrependido professor. Segundo o Dr. Basílio, para suspensão do projecto da Nissan foi «foi determinante o abandono da política de mobilidade eléctrica».
O Dr. Basílio não explicou qual a influência do «abandono» considerando durante o 1.º semestre, em plena pujança dessa política, terem sido vendidos menos carros eléctricos do que no período do abandono entre Julho e Novembro. Também não explicou qual a influência dumas centenas a mais ou a menos de veículos vendidos num investimento numa unidade que produziria 50.000-baterias-50.000 por ano.
14/12/2011
AVALIAÇÃO CONTÍNUA: Perder uma oportunidade para ficar calado
Secção Tiros nos pés
Sob pressão do palavreado da oposição sobre excedentes e folgas e da lengalenga das equidades de Belém, cumprimentar-se pelo défice previsto ficar em 4,5%, abaixo do negociado com a troika, depois de ter falado em «desvio colossal» para justificar cortes adicionais, deveria ser a última coisa a fazer por Passos Coelho.
Por duas razões: primeira, para a iliteracia financeira da maioria dos portugueses e até dos jornalistas, com causas ou simplesmente ignorantes, veio aparentemente dar razão aos defensores das folgas; segunda, o défice não fica abaixo dos 4,5%, fica acima dos 8% porque os 6 mil milhões dos fundos de pensões dos bancários vêm acrescer às responsabilidades futuras da Segurança Social, e por isso se trata de chuto para a frente a incrementar os défices futuros.
Leva 3 chateaubriands por não ter ficado calado ou, em alternativa, explicar que se trata apenas de engenharia orçamental da escola socrática e, mesmo não tendo outra saída, não se deveria orgulhar dela.
Sob pressão do palavreado da oposição sobre excedentes e folgas e da lengalenga das equidades de Belém, cumprimentar-se pelo défice previsto ficar em 4,5%, abaixo do negociado com a troika, depois de ter falado em «desvio colossal» para justificar cortes adicionais, deveria ser a última coisa a fazer por Passos Coelho.
Por duas razões: primeira, para a iliteracia financeira da maioria dos portugueses e até dos jornalistas, com causas ou simplesmente ignorantes, veio aparentemente dar razão aos defensores das folgas; segunda, o défice não fica abaixo dos 4,5%, fica acima dos 8% porque os 6 mil milhões dos fundos de pensões dos bancários vêm acrescer às responsabilidades futuras da Segurança Social, e por isso se trata de chuto para a frente a incrementar os défices futuros.
Leva 3 chateaubriands por não ter ficado calado ou, em alternativa, explicar que se trata apenas de engenharia orçamental da escola socrática e, mesmo não tendo outra saída, não se deveria orgulhar dela.
13/12/2011
Deprimidos e endividados
Do total de 140 mil milhões (80% do PIB) da dívida das famílias portuguesas à banca, 4,7 mil milhões são considerados crédito malparado, ou 3,3% do total, sendo 1,9% no crédito à habitação e 9,8% no crédito ao consumo.
As famílias devem à banca, o Estado e as empresas devem à banca (e ao estrangeiro) e a banca deve ao BCE. No total devemos o PIB de 30 meses ao estrangeiro.
Bons exemplos (26) – um empresário que não anda ao colo do governo
Continua a existir em Portugal um certo complexo de se falar em política industrial…
A mim choca-me falar-se de políticas. Deve-se falar é de empresários. Quem faz e quem determina o desenvolvimento das empresas em termos de desenvolvimento económico são os empresários. O governo deve regular, estar o mais distante possível da economia real, e quando muito controlar à posteriori. Mas de forma alguma ser ele a definir as políticas industriais.
Isso acontece na Alemanha…
Vivemos em Portugal. Fará sentido o governo definir a estratégia que quer para o país, para além do trabalho que tem sido fundamental de contenção de custos e de reajuste das finanças públicas, que era absolutamente prioritário e estratégico. Mas feito e lançado esse trabalho, e está no bom caminho, como todos temos visto, há que definir a estratégia para o país pela positiva. Ou seja, saber o que é que o governo pretende, dentro dos poucos recursos que temos. E se há sectores ou actividades a serem privilegiados, de forma a que os empresários e os investidores internacionais possam adequar os seus investimentos.
Os portugueses têm esse espírito (de inovação)?
O maior problema que existe em Portugal ao nível das empresas é a classe empresarial. Todos nós somos pouco formados, pouco cosmopolitas, e enquadramos menos bem as pessoas que connosco trabalham. Não é por acaso que temos fora de Portugal, nos mais variados casos, nas mais diversas situações e níveis de actividade, pessoas que são sempre as melhores entre as melhores. Seja ao nível de direcção, ao nível de trabalhadores de fábricas ou nas empresas. E se são os melhores entre os melhores, é porque estão bem enquadrados, têm regras claras, e conhecem os procedimentos. E sabem para onde vão. É isso que nos falta em Portugal. Capacidade de liderança.
Houve uma grande mudança para as empresas pelo facto de o PSD ser governo?
Essa pergunta tem subjacente algo que me faz alguma confusão que é a promiscuidade que existe entre o governo e as empresas. As empresas devem pensar por elas e, no limite, é-me indiferente que o governo seja PS ou PSD. O que é importante são as políticas seguidas. Hoje, numa economia global, qualquer um desses dois partidos pode ter uma visão diferente ao nível social, se bem que as preocupações de ambos sejam idênticas às de um PS. Agora temos de acabar com essa promiscuidade que existe entre as empresas e o Estado. Tem de se cortar esse cordão umbilical.
(Excertos da entrevista de Filipe Bouton ao ionline)
A mim choca-me falar-se de políticas. Deve-se falar é de empresários. Quem faz e quem determina o desenvolvimento das empresas em termos de desenvolvimento económico são os empresários. O governo deve regular, estar o mais distante possível da economia real, e quando muito controlar à posteriori. Mas de forma alguma ser ele a definir as políticas industriais.
Isso acontece na Alemanha…
Vivemos em Portugal. Fará sentido o governo definir a estratégia que quer para o país, para além do trabalho que tem sido fundamental de contenção de custos e de reajuste das finanças públicas, que era absolutamente prioritário e estratégico. Mas feito e lançado esse trabalho, e está no bom caminho, como todos temos visto, há que definir a estratégia para o país pela positiva. Ou seja, saber o que é que o governo pretende, dentro dos poucos recursos que temos. E se há sectores ou actividades a serem privilegiados, de forma a que os empresários e os investidores internacionais possam adequar os seus investimentos.
Os portugueses têm esse espírito (de inovação)?
O maior problema que existe em Portugal ao nível das empresas é a classe empresarial. Todos nós somos pouco formados, pouco cosmopolitas, e enquadramos menos bem as pessoas que connosco trabalham. Não é por acaso que temos fora de Portugal, nos mais variados casos, nas mais diversas situações e níveis de actividade, pessoas que são sempre as melhores entre as melhores. Seja ao nível de direcção, ao nível de trabalhadores de fábricas ou nas empresas. E se são os melhores entre os melhores, é porque estão bem enquadrados, têm regras claras, e conhecem os procedimentos. E sabem para onde vão. É isso que nos falta em Portugal. Capacidade de liderança.
Houve uma grande mudança para as empresas pelo facto de o PSD ser governo?
Essa pergunta tem subjacente algo que me faz alguma confusão que é a promiscuidade que existe entre o governo e as empresas. As empresas devem pensar por elas e, no limite, é-me indiferente que o governo seja PS ou PSD. O que é importante são as políticas seguidas. Hoje, numa economia global, qualquer um desses dois partidos pode ter uma visão diferente ao nível social, se bem que as preocupações de ambos sejam idênticas às de um PS. Agora temos de acabar com essa promiscuidade que existe entre as empresas e o Estado. Tem de se cortar esse cordão umbilical.
(Excertos da entrevista de Filipe Bouton ao ionline)
12/12/2011
NÓS VISTOS POR ELES: Submarino ao fundo
O caso dos submarinos ajuda a perceber a falta de vontade da Alemanha para embarcar nos eurobonds e aceitar a impressora do BCE a trabalhar para os PIGS.
Na Alemanha, administradores da Ferrostaal estão a ser julgados por pagamento de luvas na venda de submarinos à Grécia e a Portugal. Por cá os nossos magistrados continuam calmamente a instruir o processo. No final haverá corruptores julgados e condenados na Alemanha por pagarem luvas a portugueses mas não se encontrarão em Portugal quem as recebeu.
Imaginemos a situação inversa. Uma empresa de confecções portuguesa pagaria luvas aos directores de um clube de futebol alemão para lhes comprarem camisolas para o marchandising do clube. Descoberta a marosca, os tribunais alemães julgariam e condenariam os seus corruptos. E em Portugal, o que aconteceria? Seriam realizados seminários pelo IAPMEI para divulgar o marquetingue inovador da empresa de confecções e o presidente da República elevaria a comendador o patrão no 10 de Junho seguinte.
Na Alemanha, administradores da Ferrostaal estão a ser julgados por pagamento de luvas na venda de submarinos à Grécia e a Portugal. Por cá os nossos magistrados continuam calmamente a instruir o processo. No final haverá corruptores julgados e condenados na Alemanha por pagarem luvas a portugueses mas não se encontrarão em Portugal quem as recebeu.
Imaginemos a situação inversa. Uma empresa de confecções portuguesa pagaria luvas aos directores de um clube de futebol alemão para lhes comprarem camisolas para o marchandising do clube. Descoberta a marosca, os tribunais alemães julgariam e condenariam os seus corruptos. E em Portugal, o que aconteceria? Seriam realizados seminários pelo IAPMEI para divulgar o marquetingue inovador da empresa de confecções e o presidente da República elevaria a comendador o patrão no 10 de Junho seguinte.
ESTÓRIA E MORAL: Pérfida Albion
Estória
Os primeiros a serem culpados das nossas desgraças foram os especuladores. Depois as agências de rating, a Alemanha em geral e Merkel em particular. Desde a última cimeira na 6.ª feira passada, o jornalismo de causas acrescentou a estes culpados a Inglaterra por ter votado contra a revisão do tratado de Lisboa e exigir novas cláusulas de opting out no caso de a revisão vir a ter lugar.
Alguns jornalistas possuídos de maior fulgor patriótico, como os do Expresso, escreveram «Cameron ficou isolado, mas dividiu a Europa», como se fosse necessário algum esforço para dividir a Europa. Outros responsabilizaram o Reino Unido por inviabilizar a revisão dos tratados para acomodar as eurobonds e a impressora do BCE, como se a Alemanha estivesse disponível para embarcar nisso. Ainda outros responsabilizaram-no por obrigar a «um entendimento fora dos tratados europeus, ao nível intergovernamental», como se a revisão dos tratados não exigisse vários referendos e como se, dentro de alguns anos, quando talvez estivesse concluída, ainda houvesse Zona Euro.
Moral
«A Inglaterra não tem nem amigos eternos, nem inimigos eternos, mas apenas interesses eternos». (Lord Palmerston, ministro dos Negócios Estrangeiros durante 40 anos)
Os primeiros a serem culpados das nossas desgraças foram os especuladores. Depois as agências de rating, a Alemanha em geral e Merkel em particular. Desde a última cimeira na 6.ª feira passada, o jornalismo de causas acrescentou a estes culpados a Inglaterra por ter votado contra a revisão do tratado de Lisboa e exigir novas cláusulas de opting out no caso de a revisão vir a ter lugar.
Alguns jornalistas possuídos de maior fulgor patriótico, como os do Expresso, escreveram «Cameron ficou isolado, mas dividiu a Europa», como se fosse necessário algum esforço para dividir a Europa. Outros responsabilizaram o Reino Unido por inviabilizar a revisão dos tratados para acomodar as eurobonds e a impressora do BCE, como se a Alemanha estivesse disponível para embarcar nisso. Ainda outros responsabilizaram-no por obrigar a «um entendimento fora dos tratados europeus, ao nível intergovernamental», como se a revisão dos tratados não exigisse vários referendos e como se, dentro de alguns anos, quando talvez estivesse concluída, ainda houvesse Zona Euro.
Moral
«A Inglaterra não tem nem amigos eternos, nem inimigos eternos, mas apenas interesses eternos». (Lord Palmerston, ministro dos Negócios Estrangeiros durante 40 anos)
11/12/2011
Mitos (61) – as teorias da conspiração sobre as agências de rating (VII)
[Continuação de (I), (II), (III), (IV), (V) e (VI)]
O Professor Doutor Marcelo, conhecido especialista financeiro, e as inúmeras outras luminárias que produzem bitaites avulsos sobre agências de rating deverão a breve trecho reformular as suas teorias da conspiração apontando o dedo acusador para as agências americanas – dedo indicador ao qual, no caso da Fitch, se deveria acrescentar o polegar para acomodar o facto de 60% da Fitch serem detidos pela Fimalac, uma holding francesa cotada na bolsa de Paris.
Às agências americanas será preciso acrescentar a agência chinesa Dagong. Depois de ter mordido a mão amiga do banqueiro do regime, a Dagong acaba de degradar a notação da dívida francesa de AA- para A+ justificando com uma lengalenga parecida com as agências americanas. Com amigos destes não precisaremos de inimigos, poderia dizer o grande especialista em dívida pública Professor Doutor Engenheiro José Sócrates, a quem devemos creditar o maior débito da história portuguesa - o que não é dizer pouco num país com 3-intervenções-3 do FMI nos últimos 34 anos.
O Professor Doutor Marcelo, conhecido especialista financeiro, e as inúmeras outras luminárias que produzem bitaites avulsos sobre agências de rating deverão a breve trecho reformular as suas teorias da conspiração apontando o dedo acusador para as agências americanas – dedo indicador ao qual, no caso da Fitch, se deveria acrescentar o polegar para acomodar o facto de 60% da Fitch serem detidos pela Fimalac, uma holding francesa cotada na bolsa de Paris.
Às agências americanas será preciso acrescentar a agência chinesa Dagong. Depois de ter mordido a mão amiga do banqueiro do regime, a Dagong acaba de degradar a notação da dívida francesa de AA- para A+ justificando com uma lengalenga parecida com as agências americanas. Com amigos destes não precisaremos de inimigos, poderia dizer o grande especialista em dívida pública Professor Doutor Engenheiro José Sócrates, a quem devemos creditar o maior débito da história portuguesa - o que não é dizer pouco num país com 3-intervenções-3 do FMI nos últimos 34 anos.
ESTÓRIA E MORAL: O arrependido
Estória
Não vou repetir os muitos posts dedicados ao Professor Doutor Freitas do Amaral e ao seu percurso político sinuoso (ou será errático?) - hoje é um dia de boa vontade. Vou apenas citar este de há 4 anos, onde recordei o panegírico manteigueiro do engenheiro Sócrates obrado pelo excelso professor, panegírico assim descrito pelo jornal SOL: «Quanto ao 'percurso académico' do cidadão José Sócrates, a defesa por ele apresentada foi, não apenas completa e satisfatória, mas mesmo brilhante».
Na sua nova encarnação a caminho da presidência da Galp, o excelso, indignado com a conferência de José Sócrates, onde este falou sobre a dívida pública, foi a correr à SIC Notícias desancar no ausente que «nos conduziu para a tragédia onde nos encontramos». Aproveitou para moer os antigos (antigos, nada de confusões!) líderes do PSD pelas suas críticas ao actual governo e, levado pelo entusiasmo, zurziu também o outro excelso Professor Doutor residente em Belém.
Moral
«O nosso arrependimento não é tanto um remorso pelo mal que fizemos, mas um receio das suas consequências». (La Rochefoucauld)
Não vou repetir os muitos posts dedicados ao Professor Doutor Freitas do Amaral e ao seu percurso político sinuoso (ou será errático?) - hoje é um dia de boa vontade. Vou apenas citar este de há 4 anos, onde recordei o panegírico manteigueiro do engenheiro Sócrates obrado pelo excelso professor, panegírico assim descrito pelo jornal SOL: «Quanto ao 'percurso académico' do cidadão José Sócrates, a defesa por ele apresentada foi, não apenas completa e satisfatória, mas mesmo brilhante».
Na sua nova encarnação a caminho da presidência da Galp, o excelso, indignado com a conferência de José Sócrates, onde este falou sobre a dívida pública, foi a correr à SIC Notícias desancar no ausente que «nos conduziu para a tragédia onde nos encontramos». Aproveitou para moer os antigos (antigos, nada de confusões!) líderes do PSD pelas suas críticas ao actual governo e, levado pelo entusiasmo, zurziu também o outro excelso Professor Doutor residente em Belém.
Moral
«O nosso arrependimento não é tanto um remorso pelo mal que fizemos, mas um receio das suas consequências». (La Rochefoucauld)
10/12/2011
Estado empreendedor (59) – barcos encalhados
A Rodman é uma empresa espanhola de embarcações de recreio. Em 2003, atraída por incentivos fiscais, subsídios vários, incluindo na compra de 65 mil m2 de terrenos e em meio milhão de euros para formação profissional, a Rodman assinou com o governo de Durão Barroso um contrato de investimento de 10,5 milhões de euros numa unidade no parque empresarial de Valença com 183 postos de trabalho produzindo 300 embarcações por ano, com uma facturação de 30 milhões.
Em 2006, já no primeiro governo de José Sócrates, os postos de trabalho a criar dilataram-se para 200 directos e 400 indirectos. Cinco anos depois, o que se passou na Rodman Lusitânia? Nada. Nem uma embarcação, nem um posto de trabalho.
Em 2006, já no primeiro governo de José Sócrates, os postos de trabalho a criar dilataram-se para 200 directos e 400 indirectos. Cinco anos depois, o que se passou na Rodman Lusitânia? Nada. Nem uma embarcação, nem um posto de trabalho.
Mitos (60) – as teorias da conspiração sobre as agências de rating (VI)
[Continuação de (I), (II), (III), (IV) e (V)]
O conhecido especialista financeiro Professor Doutor Marcelo iluminou-nos há uns meses com a sua infinita sabedoria servida por uma compulsiva lengalenga sobre as notações de crédito da dívida pública serem uma «estratégia americana contra o Euro e contra a Europa, em que as agências de 'rating' têm um papel muito importante».
Aparentemente as agências não sabem disso. A Standard & Poor’s melhorou recentemente de A- para A a notação do Bank of China e do China Construction Bank e desceu a notação de vários bancos americanos, a saber: Bank of America, Goldman Sachs, Citigroup, Merrill Lynch Bank of America, JPMorgan, Wells Fargo e Morgan Stanley.
O conhecido especialista financeiro Professor Doutor Marcelo iluminou-nos há uns meses com a sua infinita sabedoria servida por uma compulsiva lengalenga sobre as notações de crédito da dívida pública serem uma «estratégia americana contra o Euro e contra a Europa, em que as agências de 'rating' têm um papel muito importante».
Aparentemente as agências não sabem disso. A Standard & Poor’s melhorou recentemente de A- para A a notação do Bank of China e do China Construction Bank e desceu a notação de vários bancos americanos, a saber: Bank of America, Goldman Sachs, Citigroup, Merrill Lynch Bank of America, JPMorgan, Wells Fargo e Morgan Stanley.
09/12/2011
BREIQUINGUE NIUZ: As portagens nas SCUT CCUT vão ser introduzidas «o mais depressa possível» (12)
Actualizando a primeira, a segunda, a terceira, a quarta, a quinta, a sexta, a sétima, a oitava, a nona, a décima e a décima primeira retrospectivas e confirmando a espantosa incapacidade de realização dos governos de José Sócrates que constantemente se emplumou precisamente com a sua alegada capacidade de realização.
- 06-11-2004 Mário Lino revela que portagens nas Scut irão financiar todas as estradas
- 20-05-2005 Mário Lino, ministro das Obras Públicas, admitiu que em breve se tenha que proceder à cobrança de portagens nas Scut
- 07-11-2005 Mário Lino está já a desenvolver um novo modelo geral de financiamento da rede rodoviária nacional, que inclui as Scut, e que deverá ficar concluído em 2006.
- 19-01-2006 Mário Lino revela que portagens nas Scut irão financiar todas as estradas
- 18-10-2006, pouco depois das 11h, Mário Lino tornava-se o quarto ministro consecutivo a anunciar o fim das chamadas auto-estradas Scut
- 30-08-2007 portagens pagas nas ... Scut, anunciada pelo ministro Mário Lino em Outubro do ano passado, só será concretizada, na melhor das hipóteses, em 2008
- 02-05-2007 negociações para introdução de portagens nas Scut retomadas há um mês
- 10-10-2007 Mário Lino: Governo vai introduzir portagens nas Scut até ao final do ano
- 13-11-2007 a implementação de portagens nas três Scuts - até ao fim deste ano - poderá ser adiada para o primeiro trimestre de 2008.
- 15-01-2008 o processo está «bastante avançado», devendo «estar concluído brevemente»
- 27-02-2008 Negociações para introdução de portagens «bem encaminhadas», garante Mário Lino
- 01-03-2008 as negociações com as concessionárias estão bem encaminhadas.
- 27-05-2008 entrarão em funcionamento «o mais depressa possível».
- 30-06-2008 «Se pudesse ter amanhã portagens nas SCUT eu fazia»
- 06-07-2008 «o Governo está a implementar a introdução das portagens nas três SCUT já referidas»
- 02-10-2008 as portagens nas chamadas SCUT`s vão ser introduzidas «o mais depressa possível»
- 27-01-2010 «Há condições para introduzir portagens nas SCUT no 1º semestre»
- 22-04-2010 «serão introduzidas portagens nas Scut já a partir do próximo dia 1 de Julho» disse Teixeira dos Santos.
- 29-06-2010 «O Governo tomou a decisão de adiar por trinta dias, até 1 de Agosto, a introdução de portagens nas SCUT Costa de Prata, Norte Litoral e Grande Porto»
- 24-07-2010 O Governo «não pode aplicar as portagens nas SCUT a 1 de Agosto»
- 09-09-2010 «Portagens em todas as SCUT até 15 de Abril»
- 14-10-2010 «É muita confusão … há um desconcerto …» diz Loreta Fernandez, uma jornalista espanhola da TVE que veio a Portugal para «tentar perceber» o que devem fazer os estrangeiros nas SCUT
- 16-10-2010 «Portugal implanta el peaje más caro y caótico del mundo», titula El Mundo
- 16-10-2010 «O processo de cobrança de portagens é caótico», diz a ANTRAM
- 10-03-2011 «Governo avança com portagens em todas as SCUT a 15 de Abril»
- 31-03-2011 «O governo decide hoje se avança com cobrança, mas são vários os indícios que apontam para a suspensão.»
- 09-12-2011 «A partir de hoje todas as SCUT são pagas»
08/12/2011
BREIQUINGUE NIUZ: M. de La Palice no governo
«Este ano o Natal e o Ano Novo calham em domingos e, portanto, as vésperas, tanto o dia 24 como o dia 31, são sábados (que) já são dias em que não há trabalho na Administração Pública, por princípio … (pelo que) não haverá nenhuma decisão do Governo este ano relativa a tolerância de ponto quer no dia 24 quer no dia 31», disse em conferência de imprensa o secretário de Estado da Presidência.
Esclarecimento:
A invocação de M. de La Palice no título pressupõe que ele teria dito o que se diz que ele disse: «s'il n'était pas mort serait en vie». Como ficámos a saber desde aqui, ele não disse isso, o que nos tem feito imensa falta. Já não faz porque o simpatiquíssimo Luís Marques Guedes tomou o seu lugar com a vantagem de estar vivo, que é o contrário de estar morto, como bem observou a filósofa estruturalista Lili Caneças.
Esclarecimento:
A invocação de M. de La Palice no título pressupõe que ele teria dito o que se diz que ele disse: «s'il n'était pas mort serait en vie». Como ficámos a saber desde aqui, ele não disse isso, o que nos tem feito imensa falta. Já não faz porque o simpatiquíssimo Luís Marques Guedes tomou o seu lugar com a vantagem de estar vivo, que é o contrário de estar morto, como bem observou a filósofa estruturalista Lili Caneças.
Se os nossos políticos fossem julgados nos tribunais americanos a espécie extinguia-se
Rod Blagojevich foi governador do Illinois de 2002 até 2009 quando teve o seu mandato impugnado por corrupção. Foi agora julgado e pediu desculpa ao juiz, à família e aos eleitores. Pelo menos o juiz não o deve ter desculpado porque lhe ferrou com 14 anos de prisão, pelas suas malfeitorias.
Infelizmente para ele, o presidente do Supremo do Illinois não mandou destruir as escutas dos telefonemas onde Blagojevich se propôs vender um lugar no Senado americano. Infelizmente para ele, o juiz Zagel que o julgou tem uma concepção de justiça um pouco bizarra para os nossos costumes e condenou-o explicando:
No passado ainda nos consolávamos com a corrupção endémica na política brasileira. Com a presidenta Dilma a despachar um ministro por mês a consolação fica muito mais difícil.
Infelizmente para ele, o presidente do Supremo do Illinois não mandou destruir as escutas dos telefonemas onde Blagojevich se propôs vender um lugar no Senado americano. Infelizmente para ele, o juiz Zagel que o julgou tem uma concepção de justiça um pouco bizarra para os nossos costumes e condenou-o explicando:
«The harm here is not measured in the value of property or money. The harm is the erosion of public trust in government.»Imaginais algum juiz português a justificar uma sentença com tais bizarrias? Claro que não. As trafulhices dos políticos não causam qualquer erosão à confiança dos cidadãos na governação porque essa confiança não existe - no máximo pode existir alguma confiança dos simpatizantes de um partido quando esse partido governa. E em boa verdade as trafulhices não incomodam ninguém, apenas fornecem pretextos para desacreditar os políticos dos outros partidos e dão algum trabalho para defender os nossos e é tudo.
No passado ainda nos consolávamos com a corrupção endémica na política brasileira. Com a presidenta Dilma a despachar um ministro por mês a consolação fica muito mais difícil.
07/12/2011
Ferme ta gueule ou bien nous t'enverrons la grosse facture à Sciences Po
Depois de 6 anos de trafulhice nas contas e incúria na gestão da coisa pública e de inúmeras trapalhadas eventualmente suficientes para o encarceramento, num país onde as polícias e os tribunais funcionassem, já todos sabíamos o que valem as palavras de José Sócrates. Estávamos a tentar perceber o que valem os seus silêncios.
Enquanto esteve calado, ainda pudemos acalentar a ilusão sobre se a sua elaborada chico-espertice o iria aconselhar a assim manter-se durante um longo período de nojo. Em 3 de Novembro, ao romper um silêncio de 6 meses para nos insultar a inteligência, alardeando as maiores baboseiras sobre a dívida pública para limpar o seu manchadíssimo currículo, matou-nos a ilusão e fez-nos suspeitar que um atrevimento sem limites não deve ser servido por uma inteligência apenas limitada e por um francês técnico tão deplorável como o seu inglês técnico.
Enquanto esteve calado, ainda pudemos acalentar a ilusão sobre se a sua elaborada chico-espertice o iria aconselhar a assim manter-se durante um longo período de nojo. Em 3 de Novembro, ao romper um silêncio de 6 meses para nos insultar a inteligência, alardeando as maiores baboseiras sobre a dívida pública para limpar o seu manchadíssimo currículo, matou-nos a ilusão e fez-nos suspeitar que um atrevimento sem limites não deve ser servido por uma inteligência apenas limitada e por um francês técnico tão deplorável como o seu inglês técnico.
Voilà Jausè Saucratez, très, très, donc, en amphi Bolivar à Sciences Po.
BREIQUINGUE NIUZ: Achtung! Os vossos filhos podem já ter tido sexo com crianças
Até ontem eu pensava que os serviços de pediatria (= paidos + iatreia ) se encarregavam de tratar as maleitas das crianças, isto é de criaturas na infância ou, vá lá, na pré-adolescência. Estava enganado. Para os respectivos serviços, crianças são criaturas até aos 15 anos, ou até aos 16 ou 17 ou mesmo 18 anos, idade em que se atinge a maioridade. Os serviços respectivos, além de não estarem de acordo, também estão quase todos enganados. A Convenção sobre os Direitos da Criança da UNICEF no seu artigo 1.º define criança como «todo o ser humano menor de 18 anos, salvo se, nos termos da lei que lhe for aplicável, atingir a maioridade mais cedo.» Fico aturdido pela enormidade da minha ignorância. Sendo assim, nestes tempos de precocidade, um jovem adulto já com relações sexuais no currículo é considerado uma criança?
NÓS VISTOS PELOS OUTROS: O contrário de um paraíso fiscal é um inferno fiscal?
O volume de investimento directo estrangeiro desceu para metade o ano passado. Segundo as conclusões do Portuguese Attractiveness Survey 2011 da Ernst & Young, tal deve-se à «ausência de crescimento económico, aumento de impostos e níveis elevados de dívida pública». Pois. Os que cá estão tentam evadir-se. Os que cá não estão tentam não entrar.
06/12/2011
Tu non m'inganni piu
A propósito da estranha noção de austeridade de um presidente da República com um orçamento de 17 milhões de euros que vai cortar as prendas de Natal dos filhos dos funcionários, Ricardo Arroja concluiu: «Enfim, agora sim, é caso para dizer: fraco com os fortes e forte com os fracos!»
Como já escrevi várias vezes, Cavaco Silva é um político calculista, um homem prepotente quando julga ter as costas quentes e com grande falta de coragem quanto tem que enfrentar alguém que não se encolha. Estou convicto ser este um juízo imparcial e objectivo, baseado nas observações directas e indirectas da sua acção como professor e como político que finge não ser.
Por tudo isso, só posso concordar com o juízo de Ricardo Arroja, retirando, por razões óbvias, o «enfim, agora sim».
Como já escrevi várias vezes, Cavaco Silva é um político calculista, um homem prepotente quando julga ter as costas quentes e com grande falta de coragem quanto tem que enfrentar alguém que não se encolha. Estou convicto ser este um juízo imparcial e objectivo, baseado nas observações directas e indirectas da sua acção como professor e como político que finge não ser.
Por tudo isso, só posso concordar com o juízo de Ricardo Arroja, retirando, por razões óbvias, o «enfim, agora sim».
São todos iguais, mas há uns mais iguais do que outros
Já várias vezes sublinhámos o facto da maior vulnerabilidade da dívida portuguesa residir na elevada dependência do exterior e não tanto no seu volume absoluto. A posição líquida face ao exterior da dívida pública e privada é um factor determinante do custo da dívida. E a esse respeito não podíamos estar pior, como se vê no diagrama seguinte extraído de Beware of falling masonry na Economist.
Com esta vulnerabilidade crescente e com um quadro recessivo para 2012 será surpresa a Standard & Poor's ter colocado o rating da dívida de longo prazo (BBB-) a de curto prazo (A-3) em creditwatch negative? Podemos sempre recorrer à cantilena das agências de rating, mas não será estúpido?
Com esta vulnerabilidade crescente e com um quadro recessivo para 2012 será surpresa a Standard & Poor's ter colocado o rating da dívida de longo prazo (BBB-) a de curto prazo (A-3) em creditwatch negative? Podemos sempre recorrer à cantilena das agências de rating, mas não será estúpido?
NÓS VISTOS PELOS OUTROS: Somos os melhores
«TAP eleita a melhor companhia aérea da Europa», titulam o Económico, o JN, o Expresso, RTP, SIC, Rádio Renascença, Público e incontáveis outras fontes - um indício seguro de notícia plantada.
Para qualquer pessoa que tenha viajado uma dúzia de vezes experimentando 3 ou 4 companhias, este título põe o desconfiómetro amarelo a piscar. Quando se faz uma busca no Google e se encontram dezenas de títulos exactamente iguais, o desconfiómetro fica amarelo fixo. Quando se procura quem atribui o prémio e se encontra uma revistazeca que atira sobre tudo quanto mexe (incluindo o Convento do «Espenheiro») e parece ter um conhecimento que data de 2004 com Fernando Pinto, o desconfiómetro fica vermelho fixo.
Conhecendo-se como as coisas funcionam na TAP com atrasos, greves, refeições que ficam em terra, só mesmo um patrioteirismo bafiento consegue ver na TAP qualidades de serviço justificando ser a melhor companhia aérea da Europa. O «somos os melhores» consegue ser ainda mais estúpido do que o «somos os piores» e, sabe deus, não ajuda nada a melhorar o padrão desse serviço.
Poderia compreender-se e aceitar-se a TAP para melhorar a sua degradada imagem pagasse publicidade para divulgar o «prémio». Não se compreende, nem deve aceitar-se, o jornalismo a soldo publicando qualquer coisa para fazer um jeito. Neste caso, como em muitos outros, este jornalismo promocional é uma espécie de maldição colada às empresas promovidas.
Para mais detalhes sobre o fundamento do prémio remeto para os comentários de um leitor do Económico, presumivelmente alemão (achtung!), apelidado num comentário seguinte pelo patriota “SLB” de «pobre de espírito armado em pato-bravo».
«Um prémio dado por uma revista de viagens não tem o mesmo valor (airlinequality.com) nem da real qualidade e serviços da companhia!
Que critérios foram utilizados, que Normas, que regras, que companhias estavam no concurso, TAP é uma companhia de 3 estrelas apenas não se pode comparar nem ganhar a companhias de 6 estrelas.
Se a amostra dos 16 mil inquiridos forem todos portugueses claro que já ganhou, vejo gente que engole notícias sem o mínimo crédito e ficam com o rei da barriga!
Este prémio falacioso mais me parece uma publicidade (o canto do cisne).
...
Já me aconteceu viajar na TAP em executiva e nem a comida embarcou... Que bela publicidade que fazem, fazem greve porque a redução da tripulação era um perigo para os passageiros, quando lhes foi oferecido viagens para os familiares, tudo deixou de ter sentido as ditas reivindicações! Profissionais de alto nível da hipocrisia!»
Para qualquer pessoa que tenha viajado uma dúzia de vezes experimentando 3 ou 4 companhias, este título põe o desconfiómetro amarelo a piscar. Quando se faz uma busca no Google e se encontram dezenas de títulos exactamente iguais, o desconfiómetro fica amarelo fixo. Quando se procura quem atribui o prémio e se encontra uma revistazeca que atira sobre tudo quanto mexe (incluindo o Convento do «Espenheiro») e parece ter um conhecimento que data de 2004 com Fernando Pinto, o desconfiómetro fica vermelho fixo.
Conhecendo-se como as coisas funcionam na TAP com atrasos, greves, refeições que ficam em terra, só mesmo um patrioteirismo bafiento consegue ver na TAP qualidades de serviço justificando ser a melhor companhia aérea da Europa. O «somos os melhores» consegue ser ainda mais estúpido do que o «somos os piores» e, sabe deus, não ajuda nada a melhorar o padrão desse serviço.
Poderia compreender-se e aceitar-se a TAP para melhorar a sua degradada imagem pagasse publicidade para divulgar o «prémio». Não se compreende, nem deve aceitar-se, o jornalismo a soldo publicando qualquer coisa para fazer um jeito. Neste caso, como em muitos outros, este jornalismo promocional é uma espécie de maldição colada às empresas promovidas.
Para mais detalhes sobre o fundamento do prémio remeto para os comentários de um leitor do Económico, presumivelmente alemão (achtung!), apelidado num comentário seguinte pelo patriota “SLB” de «pobre de espírito armado em pato-bravo».
«Um prémio dado por uma revista de viagens não tem o mesmo valor (airlinequality.com) nem da real qualidade e serviços da companhia!
Que critérios foram utilizados, que Normas, que regras, que companhias estavam no concurso, TAP é uma companhia de 3 estrelas apenas não se pode comparar nem ganhar a companhias de 6 estrelas.
Se a amostra dos 16 mil inquiridos forem todos portugueses claro que já ganhou, vejo gente que engole notícias sem o mínimo crédito e ficam com o rei da barriga!
Este prémio falacioso mais me parece uma publicidade (o canto do cisne).
...
Já me aconteceu viajar na TAP em executiva e nem a comida embarcou... Que bela publicidade que fazem, fazem greve porque a redução da tripulação era um perigo para os passageiros, quando lhes foi oferecido viagens para os familiares, tudo deixou de ter sentido as ditas reivindicações! Profissionais de alto nível da hipocrisia!»
05/12/2011
Os delírios excedentários do PS
Já é preocupante o principal partido da oposição, pela boca de um deputado, revelar não perceber que os 2 mil milhões de euros a que chama «excedente», não são excedência, são insuficiência. São 1/3 dos fundos de pensões transferidos da banca para a segurança social com os quais o governo deveria financiar na totalidade o fundo de estabilização financeira da segurança social para cobrir as responsabilidades futuras por essas pensões. Em vez disso, o governo vai usar esse montante para pagar dívidas das empresas públicas à banca atirando para os futuros contribuintes o ónus de pagar essas pensões. Sendo um mau passo, sempre é menos mau do que provavelmente um governo socialista faria: torrar a totalidade dos 6 mil milhões transferidos para pagar despesas correntes.
Ainda mais preocupante, é o líder desse partido defender a aplicação de sanções aos países da U.E. com superavits nas contas públicas se não usarem esses «excedentes», como lhes chamou. Dito de outra maneira, seriam multados os países que não tivessem défices que seria o que teriam se colocassem «esse dinheiro para dinamizar o consumo interno e, por essa via, ajudarem a estimular o sector exportador de países como Portugal».
Percebem agora porque Angela Merkel não vai na conversa de emitir eurobonds ou deixar a impressora do BCE funcionar em roda livre para financiar os delírios socialistas na primeira oportunidade?
Ainda mais preocupante, é o líder desse partido defender a aplicação de sanções aos países da U.E. com superavits nas contas públicas se não usarem esses «excedentes», como lhes chamou. Dito de outra maneira, seriam multados os países que não tivessem défices que seria o que teriam se colocassem «esse dinheiro para dinamizar o consumo interno e, por essa via, ajudarem a estimular o sector exportador de países como Portugal».
Percebem agora porque Angela Merkel não vai na conversa de emitir eurobonds ou deixar a impressora do BCE funcionar em roda livre para financiar os delírios socialistas na primeira oportunidade?
Conforme planeado, o partido de Putin ganha as eleições
Apesar de ter perdido 15% dos votos obtidos em 2007, o Rússia Unida de Putin ganhou as eleições deste fim-e-semana com praticamente 50% dos votos expressos e o partido amigo Rússia Justa teve 13%. Juntos terão um pouco mais de 2/3 dos deputados da Duma e assim ficam reunidas as condições para, em breve, Vladimir Putin e Dmitry Medvedev trocarem de lugar pela 3.ª vez, se não estou enganado na contagem. E agora por um período de 6 em vez de 4 anos, de acordo com a decisão precavida da Duma, há 3 anos.
A Rússia de Putin e Medvedev é um caso exemplar para demonstrar a tese das eleições, sendo uma condição sine qua non, não são suficientes para garantirem um sistema político democrático.
A Rússia de Putin e Medvedev é um caso exemplar para demonstrar a tese das eleições, sendo uma condição sine qua non, não são suficientes para garantirem um sistema político democrático.
04/12/2011
DIÁRIO DE BORDO: Especulações politicamente incorrectas a propósito de DSK (5)
[Continuação de (1), (2), (3) e (4) ]
A acreditar na Pluma Caprichosa Clara Ferreira Alves e na sua detalhada investigação sobre a investigação do investigador Edward Jay Epstein, publicada na Única do Expresso, DSK terá sido vítima dos seus instintos, da sua falta de discernimento e da falta de escrúpulos da empregada do Sofitel, como já tínhamos concluído, e duma armadilha montada por gente trabalhando por conta de Sarkozy - esta é nova e os factos revelados parecem confirmá-la.
Se esta estória tivesse que ter uma moral, e se Clausewitz ainda estivesse por aí andasse, seria: o sexo é a continuação da política por outros meios.
De passagem, reconheça-se que a Pluma Caprichosa, depois de ter escrito sobre este caso com base numa espécie da presunção de culpa que pesa sobre os ricos, mesmo os de esquerda como DSK, tevetomates coragem para se desdizer e concluir que «DSK foi tramado». Antes de concluir ser a Pluma uma rapariga preocupadíssima com a justiça, doa a quem doer, convém pesar o facto de o alívio da culpa de DSK no tribunal da Pluma pode ter ficado a dever-se à suposta trama urdida por uma personagem de direita.
A acreditar na Pluma Caprichosa Clara Ferreira Alves e na sua detalhada investigação sobre a investigação do investigador Edward Jay Epstein, publicada na Única do Expresso, DSK terá sido vítima dos seus instintos, da sua falta de discernimento e da falta de escrúpulos da empregada do Sofitel, como já tínhamos concluído, e duma armadilha montada por gente trabalhando por conta de Sarkozy - esta é nova e os factos revelados parecem confirmá-la.
Se esta estória tivesse que ter uma moral, e se Clausewitz ainda estivesse por aí andasse, seria: o sexo é a continuação da política por outros meios.
De passagem, reconheça-se que a Pluma Caprichosa, depois de ter escrito sobre este caso com base numa espécie da presunção de culpa que pesa sobre os ricos, mesmo os de esquerda como DSK, teve
DEIXAR DE DAR GRAXA PARA MUDAR DE VIDA: A pesada herança de 3 décadas de ensino progressista, paixão pela educação e novas oportunidades
Agora que não temos crédito, não temos condições para pagar as dívidas das famílias, das empresas da banca e do estado e começamos a perceber que nunca deixámos de ser pobres, está na altura de perceber que somos pobres porque somos pouco produtivos e somos pouco produtivos porque somos pouco instruídos (entre outras coisas).
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03/12/2011
Estado empreendedor (58) – cada tiro, cada melro (actualização)
(Sequela daqui e actualização dali)
Para carregar as baterias de uma dúzia de carros eléctricos (nas primeiras 6 semanas deste ano foram vendidos 3 dezenas, a maioria para o governo e empresas amigas) que irão circular no «corredor de mobilidade eléctrica Porto-Vigo» o governo de José Sócrates propôs-se torrar 1, 8 milhões de euros provenientes em grande parte do dinheiro alemão (o maior contribuinte líquido para os 70% de financiamento comunitário) e atrelou a esta carroça umas quantas empresas portuguesas e espanholas, que financiando 30% do projecto têm esperança de extrair daí algum lucro que certamente será pago pelos contribuintes portugueses e talvez espanhóis.
Aditamento de actualização (fonte SOL de 03-12):
Para carregar as baterias de uma dúzia de carros eléctricos (nas primeiras 6 semanas deste ano foram vendidos 3 dezenas, a maioria para o governo e empresas amigas) que irão circular no «corredor de mobilidade eléctrica Porto-Vigo» o governo de José Sócrates propôs-se torrar 1, 8 milhões de euros provenientes em grande parte do dinheiro alemão (o maior contribuinte líquido para os 70% de financiamento comunitário) e atrelou a esta carroça umas quantas empresas portuguesas e espanholas, que financiando 30% do projecto têm esperança de extrair daí algum lucro que certamente será pago pelos contribuintes portugueses e talvez espanhóis.
Aditamento de actualização (fonte SOL de 03-12):
Tudo por junto foram vendidos este ano 179 ou 0,12% do total |