Após uma sucessão de iniciativas (registadas nesta série de posts) reveladoras de uma enorme falta de princípios, Marinho e Pinto assina a Declaração de Princípios do novo Partido Democrático Republicano (PDR), um nome evocando, não talvez por acaso, a baderna da I República.
A Declaração de Princípios poderia, sem esforço, ser adoptada por quase todos os partidos socialistas das várias tendências desde o CDS até BE, passando pelo PSD, PS, Livre e vários outros grupúsculos que pululam na terra de ninguém dos equívocos, com a possível excepção do PCP que ainda está na fase das Conquistas de Abril.
Com a gente envolvida na formação do PDR, a começar pelo Dr. Marinho e Pinto, não lhe auguro um futuro para além das próximas legislativas onde, vaticino, o seu putativo eleitorado será sugado pelo «novo» PS de António Costa.
30/09/2014
TIROU-ME AS PALAVRAS DA BOCA: Coisas que outros escreveram sobre Costa, as quais, por isso, já não precisam de ser escritas (2)
Outras coisas: «Para mim Costa não é um mistério»
«Sobre Costa haverá muito a dizer. O sentimento de entittlement sobre a coisa pública que carrega, visível na suprema lata com que mantêm o cargo (e o ordenado) de presidente da CML enquanto passa quatro meses a passear-se pelo país em trabalho eleitoral das primárias do PS, ou como afirma que não devia ter dado oportunidades a Seguro, como se lhe coubesse permitir que Seguro (acaso fosse capaz) brilhasse. O seu percurso profissional, sempre feito na política e na traiçoeirice que esta proporciona, que nos garante desde já que teremos um pm que não faz a mais pequena ideia do que é, por exemplo, uma PME (daquelas, que são a maioria, que não vivem empoleiradas no dinheiro dos contribuintes, que essas Costa provavelmente conhece muito bem). A sua produção assustadora de banalidades, tanto mais grave quanto faz da política vida há décadas, revelando que é apenas um gestor de dinheiros e de tachos, que ideologia não tem nenhuma e é incapaz de alinhavar ideias que vão além de tonterias como ‘tenho visão estratégica’, ‘precisamos de uma agenda para a década’, o que faz falta ‘é aumentar a riqueza’.»
Maria João Marques, no Insurgente
«Sobre Costa haverá muito a dizer. O sentimento de entittlement sobre a coisa pública que carrega, visível na suprema lata com que mantêm o cargo (e o ordenado) de presidente da CML enquanto passa quatro meses a passear-se pelo país em trabalho eleitoral das primárias do PS, ou como afirma que não devia ter dado oportunidades a Seguro, como se lhe coubesse permitir que Seguro (acaso fosse capaz) brilhasse. O seu percurso profissional, sempre feito na política e na traiçoeirice que esta proporciona, que nos garante desde já que teremos um pm que não faz a mais pequena ideia do que é, por exemplo, uma PME (daquelas, que são a maioria, que não vivem empoleiradas no dinheiro dos contribuintes, que essas Costa provavelmente conhece muito bem). A sua produção assustadora de banalidades, tanto mais grave quanto faz da política vida há décadas, revelando que é apenas um gestor de dinheiros e de tachos, que ideologia não tem nenhuma e é incapaz de alinhavar ideias que vão além de tonterias como ‘tenho visão estratégica’, ‘precisamos de uma agenda para a década’, o que faz falta ‘é aumentar a riqueza’.»
Maria João Marques, no Insurgente
Pro memoria (196) – Não se pode confiar na integridade de Passos Coelho nem se deve confiar na competência de José Sócrates e dos seus acólitos
Este post é uma actualização do Pro memoria (195) onde corrigi o Pro memoria (194). No primeiro post recordei ter inferido há 3 anos da notória competência do socratismo para esgravatar a vida dos adversários inimigos que a ausência de acusações a Passos Coelho no frente a frente das eleições de 2011 significaria a ausência de roupa suja no armário do actual primeiro-ministro. No segundo assumi o provável erro no meu juízo de valor ao considerar a perversidade sem limites do gangue socrático e a sua falta de escrúpulos como uma condição suficiente para o maquiavelismo competente e bem-sucedido.
Agora é a vez de assumir a confirmação do meu erro quanto à ausência de roupa suja de Passos Coelho, que agora se percebe no mínimo com algumas nódoas (ver este Explicador do Observador).
Já quanto à competência do gangue socrático, posta em causa no segundo post, venho agora corrigir a provável explicação para a aparente incapacidade de expor o estado de higiene do underware de Passos Coelho que não estará na incompetência do gangue mas na inconveniência. Ora recorde-se a seguinte notícia do Público de há 6 anos:
Agora é a vez de assumir a confirmação do meu erro quanto à ausência de roupa suja de Passos Coelho, que agora se percebe no mínimo com algumas nódoas (ver este Explicador do Observador).
Já quanto à competência do gangue socrático, posta em causa no segundo post, venho agora corrigir a provável explicação para a aparente incapacidade de expor o estado de higiene do underware de Passos Coelho que não estará na incompetência do gangue mas na inconveniência. Ora recorde-se a seguinte notícia do Público de há 6 anos:
29/09/2014
Lost in translation (211) – Uma contradição nos termos
«Seremos a oposição que este Governo merece e a alternativa que Portugal precisa» disse António Costa no discurso de entronização, com o seu estilo discursivo habitual de uma no cravo e outra na ferradura, sem se aperceber que, por tudo o que tem dito acerca deste governo, ser a oposição que «este governo merece» só poderá significar uma oposição pífia incapaz de vir a ser «a alternativa que Portugal precisa».
TIROU-ME AS PALAVRAS DA BOCA: Para mim Costa não é um mistério. Quanto ao resto só posso concordar
Para mim, António Costa é um mistério. Participou nos governos que afundaram o país, mas tem "boa imprensa". A sala onde fez o discurso de vitória parecia um conselho de ministros do socratismo, mas tem "boa imprensa". Fez uma patética gestão da Câmara de Lisboa, mas tem "boa imprensa". Ou seja, Costa é uma daquelas personagens lisboetas que têm sempre "boa imprensa". Façam o que fizerem, digam o que disserem, passam sempre entre os intervalos da chuva e são sempre levados ao colo. Bastava ver a ansiedade dos jornalistas, "então Dr. Costa, já nos pode dizer que ganhou?", "então Dr. Costa, já vai fazer o discurso da vitória?" Podiam ao menos disfarçar um poucochinho. É por isso que será um prazer bater em Costa. Criticar Seguro era só um dever, mas criticar António Costa será mesmo um prazer. Até porque ficaram à vista três características que não o recomendam.
Em primeiro lugar, revelou um carácter vingativo na forma como não se dirigiu ao adversário desta noite. Em segundo lugar, está rodeado pela gente que enterrou o país, os socráticos. Só lá faltava o chefinho da tribo. Em terceiro lugar, António Costa revelou um patético vazio de ideias ao longo desta campanha. Costa não sabe a realidade que tem pela frente (interna e europeia) ou está deliberadamente a mentir aos portugueses. O que não surpreende, tendo em conta as companhias.
«Bater em Seguro era um dever. Bater em Costa será um prazer», Henrique Raposo no seu blogue no Expresso
Em primeiro lugar, revelou um carácter vingativo na forma como não se dirigiu ao adversário desta noite. Em segundo lugar, está rodeado pela gente que enterrou o país, os socráticos. Só lá faltava o chefinho da tribo. Em terceiro lugar, António Costa revelou um patético vazio de ideias ao longo desta campanha. Costa não sabe a realidade que tem pela frente (interna e europeia) ou está deliberadamente a mentir aos portugueses. O que não surpreende, tendo em conta as companhias.
«Bater em Seguro era um dever. Bater em Costa será um prazer», Henrique Raposo no seu blogue no Expresso
26/09/2014
Encalhados numa ruga do contínuo espaço-tempo (22) - Com 8 anos de atraso
«Não podemos ter um primeiro-ministro sob suspeita», disse António José Seguro.
25/09/2014
ACREDITE SE QUISER: A alface, o magala e «o piropo como violência de género» (outra vez)
Há cerca de um ano, inaugurei a série «ACREDITE SE QUISER» com o post que reganhou actualidade um ano depois, quando o mesmo BE trouxe o mesmo piropo para o mesmo debate no mesmo parlamento. Não havendo nada para mudar, aqui vai o mesmo post.
«Militantes do BE discutem fim do piropo nas ruas do país»
«O debate vai acontecer no sábado às 10h30, mas num artigo online no esquerda.net as duas militantes avançam as linhas gerais. Para Adriana Lopera e Elsa Almeida, "o homem é ensinado desde pequeno a ser sujeito sexual, a ter desejo, prazer, orgasmo e a falar disto abertamente fazendo alegoria dos seus dotes de engate e não só" e "pelo contrário à mulher é reservada apenas a possibilidade de ser objecto sexual".» (ionline)
Há uns bons anos, uma charmosa amiga contou-me ter achado piada e sido bom para o seu ego a abordagem de um magala inspirado no seu belo vestido verde que lhe disse num tom galhofeiro: «gostava muito de ser um coelhinho para petiscar essa alface». Na minha modesta opinião, a batalha dessas militantes do sexo assexuado é inútil por ser improvável algum magala ver nelas um «objecto sexual» e impossível ver uma alface.
«Militantes do BE discutem fim do piropo nas ruas do país»
«O debate vai acontecer no sábado às 10h30, mas num artigo online no esquerda.net as duas militantes avançam as linhas gerais. Para Adriana Lopera e Elsa Almeida, "o homem é ensinado desde pequeno a ser sujeito sexual, a ter desejo, prazer, orgasmo e a falar disto abertamente fazendo alegoria dos seus dotes de engate e não só" e "pelo contrário à mulher é reservada apenas a possibilidade de ser objecto sexual".» (ionline)
Há uns bons anos, uma charmosa amiga contou-me ter achado piada e sido bom para o seu ego a abordagem de um magala inspirado no seu belo vestido verde que lhe disse num tom galhofeiro: «gostava muito de ser um coelhinho para petiscar essa alface». Na minha modesta opinião, a batalha dessas militantes do sexo assexuado é inútil por ser improvável algum magala ver nelas um «objecto sexual» e impossível ver uma alface.
Pro memoria (195) – Não se pode confiar na integridade de Passos Coelho nem se deve confiar na competência de José Sócrates e dos seus acólitos
Este post é uma sequência e, mais do que uma sequência, uma correcção, do post «Pro memoria (194) – Pode não se confiar na integridade de Passos Coelho mas deve-se confiar na competência de José Sócrates e dos seus acólitos».
Inferi nesse post que, estando demonstrada ao longo de vários anos a competência do socratismo para esgravatar a vida dos adversários, para a seita quase sempre inimigos, o facto de José Sócrates no célebre frente a frente com Passos Coelho não ter conseguido tirar da manga nenhuma irregularidade pessoal de Passos Coelho poderia ser considerado um atestado de bom comportamento.
Estava enganado. Não quando escrevi que «pode não se confiar na integridade de Passos Coelho», porque de facto pode-se e até, sujeito à confirmação da barragem de artilharia em curso pelos jornalistas, maioritariamente de causas, não se deve confiar na integridade da criatura.
Estava enganado quando escrevi «deve-se confiar na competência de José Sócrates e dos seus acólitos». Pode confiar-se na perversidade sem limites da equipa, porém, como é sabido, a falta de escrúpulos é uma condição necessária mas não suficiente para um maquiavelismo competente e bem-sucedido.
Inferi nesse post que, estando demonstrada ao longo de vários anos a competência do socratismo para esgravatar a vida dos adversários, para a seita quase sempre inimigos, o facto de José Sócrates no célebre frente a frente com Passos Coelho não ter conseguido tirar da manga nenhuma irregularidade pessoal de Passos Coelho poderia ser considerado um atestado de bom comportamento.
Estava enganado. Não quando escrevi que «pode não se confiar na integridade de Passos Coelho», porque de facto pode-se e até, sujeito à confirmação da barragem de artilharia em curso pelos jornalistas, maioritariamente de causas, não se deve confiar na integridade da criatura.
Estava enganado quando escrevi «deve-se confiar na competência de José Sócrates e dos seus acólitos». Pode confiar-se na perversidade sem limites da equipa, porém, como é sabido, a falta de escrúpulos é uma condição necessária mas não suficiente para um maquiavelismo competente e bem-sucedido.
24/09/2014
QUEM SÓ TEM UM MARTELO VÊ TODOS OS PROBLEMAS COMO PREGOS: O alívio quantitativo aliviará? (2) – O mito da deflação
[Outras marteladas (1)]
Pelo seu interesse transcrevo integralmente o artigo «Deflação e crise financeira» (Jornal de Negócios) do professor do ISEG Avelino de Jesus, uma apostasia da economia mediática.
«O BCE levou a cabo, em 18 de Setembro, a 1.ª das 8 operações TLTRO (Target Long-Term Refinancing Operations) previstas para o período de Setembro corrente até Junho de 2016.
Contra uma previsão de €100 biliões, o valor total dos créditos concedidos ficou-se pelos €82,6 biliões. Recorreram a esta generosa facilidade (taxa de juro fixa 0,15% para um prazo de 4 anos) apenas 255 das 382 entidades elegíveis.
Esta primeira operação – que muitos avaliam como um fracasso pela escassez da procura registada – insere-se no novo ciclo de acções que o BCE pretende implementar para combater o "perigo de deflação" que muitos, irracionalmente, julgam descortinar no horizonte imediato. O 1.º ciclo de operações do mesmo tipo fora lançado pelo BCE nos anos 2011/2012 então com o objectivo de "salvar o euro".
O primeiro ciclo destas operações de efectiva degradação monetária na aparência atingiu os objectivos propostos. Na prática, teve o efeito perverso de redução da pressão para o saneamento das finanças públicas (redução incrível dos juros soberanos) e para a continuação das reformas estruturais.
Se, apesar dos efeitos perversos referidos as operações dos anos 2011/2011 merecem algum julgamento benigno pela situação de quase emergência então vivida na zona euro, este segundo ciclo, agora iniciado, é absolutamente negativo, na medida em que pretende perseguir um fantasma e saldar-se apenas por novos e graves malefícios para a recuperação das economias que pretende salvar.
A experiência histórica mostra que os períodos de deflação muito raramente coincidem com períodos de recessão.
A tabela anexa reunindo resultados de investigação (1) recentemente divulgada pelo BIS ("Bank for International Settlements") mostra quão errónea é a percepção dominante – que o BCE também adopta – sobre os malefícios da deflação.
Tanto na época antes da I Guerra como no período a seguir à II Guerra o PIB real continuou a crescer mesmo nos períodos de preços em declínio. Mas, mais: as diferenças registadas na variação do PIB real entre os períodos de inflação e de deflação não são estatisticamente significativas.
Apenas no período entre as duas guerras mundiais, as médias anuais do crescimento do PIB real representam diferenças significativas. Mas mesmo neste período excepcional devem considerar-se duas notas fundamentais. Primeira, o período entre as duas guerras é influenciado pela experiência excepcional da Grande Depressão, quando os preços caíram 20% e o produto contraiu 10%. Segunda, neste período a contracção do PIB real tende a dar-se antes do deflagrar da deflação.
Se estas operações do BCE visam combater um perigo inexistente, elas arrastam efeitos perversos bem reais.
Primeiro, dá novo alívio às pressões para os governos sanearem as finanças públicas e adiarem ainda mais as reformas estruturais que alguns timidamente haviam iniciado.
Segundo, alimenta a já preocupante euforia nos mercados financeiros que segue paralelamente ao fraco investimento produtivo.
Terceiro, incentiva o aumento do endividamento dos agentes (Estado, famílias e empresas).
Quarto, perante os juros extremamente baixos provoca a tomada de riscos adicionais.
Quinto, a obtenção de créditos fáceis e baratos no BCE, na situação actual de balaços ainda grandemente por sanear, arrasta os bancos para a má alocação dos créditos: continuam a alimentar os velhos e problemáticos clientes para não reconhecerem perdas e dificultam e encarecem o financiamento dos projectos de novos clientes. As reduções dos juros provocam mais dívida quando é necessário mais capital e favorecem sectores onde já se investiu demasiado.
Sexto e finalmente, as facilidades monetárias contrariam a regulação macro prudencial e prevalecem sobre esta, permitindo mascarar as fragilidades dos balanços dos bancos, só evidenciadas após episódios de rebentamento.
Este conjunto de efeitos perversos não são ameaças teóricas. São realidades palpáveis, já verificadas em consequência do 1.º ciclo de degradação monetária. Este segundo ciclo vai ampliar, de forma perigosa, todas aquelas consequências e a saída da crise financeira, por este caminho, será uma miragem.
No caso português, creio que o leitor dispensará os evidentes exemplos do passado recente.
(1) Veja-se o último relatório anual do BIS, em especial as páginas 98 e 99. (BIS 84th Annual Report), livremente disponível em: http://www.bis.org/publ/arpdf/ ar 2014e.htm»
Pelo seu interesse transcrevo integralmente o artigo «Deflação e crise financeira» (Jornal de Negócios) do professor do ISEG Avelino de Jesus, uma apostasia da economia mediática.
«O BCE levou a cabo, em 18 de Setembro, a 1.ª das 8 operações TLTRO (Target Long-Term Refinancing Operations) previstas para o período de Setembro corrente até Junho de 2016.
Contra uma previsão de €100 biliões, o valor total dos créditos concedidos ficou-se pelos €82,6 biliões. Recorreram a esta generosa facilidade (taxa de juro fixa 0,15% para um prazo de 4 anos) apenas 255 das 382 entidades elegíveis.
Esta primeira operação – que muitos avaliam como um fracasso pela escassez da procura registada – insere-se no novo ciclo de acções que o BCE pretende implementar para combater o "perigo de deflação" que muitos, irracionalmente, julgam descortinar no horizonte imediato. O 1.º ciclo de operações do mesmo tipo fora lançado pelo BCE nos anos 2011/2012 então com o objectivo de "salvar o euro".
O primeiro ciclo destas operações de efectiva degradação monetária na aparência atingiu os objectivos propostos. Na prática, teve o efeito perverso de redução da pressão para o saneamento das finanças públicas (redução incrível dos juros soberanos) e para a continuação das reformas estruturais.
Se, apesar dos efeitos perversos referidos as operações dos anos 2011/2011 merecem algum julgamento benigno pela situação de quase emergência então vivida na zona euro, este segundo ciclo, agora iniciado, é absolutamente negativo, na medida em que pretende perseguir um fantasma e saldar-se apenas por novos e graves malefícios para a recuperação das economias que pretende salvar.
A experiência histórica mostra que os períodos de deflação muito raramente coincidem com períodos de recessão.
A tabela anexa reunindo resultados de investigação (1) recentemente divulgada pelo BIS ("Bank for International Settlements") mostra quão errónea é a percepção dominante – que o BCE também adopta – sobre os malefícios da deflação.
Tanto na época antes da I Guerra como no período a seguir à II Guerra o PIB real continuou a crescer mesmo nos períodos de preços em declínio. Mas, mais: as diferenças registadas na variação do PIB real entre os períodos de inflação e de deflação não são estatisticamente significativas.
Apenas no período entre as duas guerras mundiais, as médias anuais do crescimento do PIB real representam diferenças significativas. Mas mesmo neste período excepcional devem considerar-se duas notas fundamentais. Primeira, o período entre as duas guerras é influenciado pela experiência excepcional da Grande Depressão, quando os preços caíram 20% e o produto contraiu 10%. Segunda, neste período a contracção do PIB real tende a dar-se antes do deflagrar da deflação.
Se estas operações do BCE visam combater um perigo inexistente, elas arrastam efeitos perversos bem reais.
Primeiro, dá novo alívio às pressões para os governos sanearem as finanças públicas e adiarem ainda mais as reformas estruturais que alguns timidamente haviam iniciado.
Segundo, alimenta a já preocupante euforia nos mercados financeiros que segue paralelamente ao fraco investimento produtivo.
Terceiro, incentiva o aumento do endividamento dos agentes (Estado, famílias e empresas).
Quarto, perante os juros extremamente baixos provoca a tomada de riscos adicionais.
Quinto, a obtenção de créditos fáceis e baratos no BCE, na situação actual de balaços ainda grandemente por sanear, arrasta os bancos para a má alocação dos créditos: continuam a alimentar os velhos e problemáticos clientes para não reconhecerem perdas e dificultam e encarecem o financiamento dos projectos de novos clientes. As reduções dos juros provocam mais dívida quando é necessário mais capital e favorecem sectores onde já se investiu demasiado.
Sexto e finalmente, as facilidades monetárias contrariam a regulação macro prudencial e prevalecem sobre esta, permitindo mascarar as fragilidades dos balanços dos bancos, só evidenciadas após episódios de rebentamento.
Este conjunto de efeitos perversos não são ameaças teóricas. São realidades palpáveis, já verificadas em consequência do 1.º ciclo de degradação monetária. Este segundo ciclo vai ampliar, de forma perigosa, todas aquelas consequências e a saída da crise financeira, por este caminho, será uma miragem.
No caso português, creio que o leitor dispensará os evidentes exemplos do passado recente.
(1) Veja-se o último relatório anual do BIS, em especial as páginas 98 e 99. (BIS 84th Annual Report), livremente disponível em: http://www.bis.org/publ/arpdf/ ar 2014e.htm»
TIROU-ME AS PALAVRAS DA BOCA: Teria sido um regabofe, pois claro
«Imaginem que o presidente da CML ainda era Santana Lopes. Imaginem a animação que não seria a próxima Quadratura do Círculo.» (Miguel Noronha no Insurgente)
Ocorre-me ainda que, se Costa à época já fosse presidente da CML, o túnel de Santana Lopes - nesse caso o putativo túnel de Costa - nunca teria sido entupido pelas providências cautelares do amigo Zé.
Ocorre-me ainda que, se Costa à época já fosse presidente da CML, o túnel de Santana Lopes - nesse caso o putativo túnel de Costa - nunca teria sido entupido pelas providências cautelares do amigo Zé.
23/09/2014
CAMINHO PARA A SERVIDÃO: Olha quem fala
O camarada Jerónimo de Sousa, secretário-geral do PCP, fez ontem várias críticas a propósito do BES e do seu processo de recuperação. É difícil não concordar com «empurram todos uns para os outros as responsabilidades e fazem-se de mortos ou vêm dizer que nada sabiam, depois de muito terem perorado acerca da solidez do banco». São as consequências das promiscuidades resultantes de um capitalismo corporativista que é como que um capitalismo a caminho do socialismo como pretende a Constituição.
Jerónimo de Sousa acusa também Fernando Ulrich «o tal banqueiro do ‘ai aguenta, aguenta’, … (que) sabia tanto e também se fez de ‘morto’ à espera de deitar a mão à presa». Infelizmente para as suas críticas, que devemos separar do camarada, Jerónimo de Sousa é o dirigente máximo de partido que «deitou a mão à presa», comandando em 1975 o assalto aos bancos, ao sistema financeiro em geral, à agricultura e às maiores empresas industriais, assalto de que resultou ficarem nas mãos do «Estado Socialista» mais de 30% do valor acrescentado bruto, com os resultados conhecidos nos 10 anos seguintes que incluíram duas bancarrotas e a destruição da economia.
Jerónimo de Sousa acusa também Fernando Ulrich «o tal banqueiro do ‘ai aguenta, aguenta’, … (que) sabia tanto e também se fez de ‘morto’ à espera de deitar a mão à presa». Infelizmente para as suas críticas, que devemos separar do camarada, Jerónimo de Sousa é o dirigente máximo de partido que «deitou a mão à presa», comandando em 1975 o assalto aos bancos, ao sistema financeiro em geral, à agricultura e às maiores empresas industriais, assalto de que resultou ficarem nas mãos do «Estado Socialista» mais de 30% do valor acrescentado bruto, com os resultados conhecidos nos 10 anos seguintes que incluíram duas bancarrotas e a destruição da economia.
Vivemos num estado policial? (7)
Recapitulando: segundo os números da UNODC, com 444,1 chuis (inclui PSP e GNR) por 100.000 habitantes, somos o terceiro estado mais policiado da Europa, apenas ultrapassados por Malta e pela Irlanda do Norte. Se este post terminasse aqui a resposta à pergunta do título seria: sim, somos um estado policial.
Porém, este post não termina aqui. Segundo os números divulgados pelo SOL, 10% dos 21 mil polícias são sindicalistas de 13-sindicatos-13 diferentes e faltaram o ano passado 23 mil dias por actividades sindicais. 600 dos 2.100 sindicalistas são dirigentes e cada um tem direito a 4 dias de folga por mês, os restantes 1.500 são delegados sindicais e podem ter 12 horas de folga por mês. As folgas não usadas acumulam-se como «créditos» para o mês seguinte. Dirigentes e delegados sindicais não podem ser transferidos de local de «trabalho» sem acordo expresso.
Entre esses 13 sindicatos encontra-se o Sindicato Nacional de Oficiais de Polícia (SNOP) que representa os oficiais da PSP com licenciaturas. O seu presidente fez declarações a vários jornais (incluindo uma entrevista ionline de ontem) expondo a roupa suja e abriu uma guerra com os outros sindicatos. O SNOP é agora um sindicato traidor.
Posso então terminar este post com uma resposta mais completa à pergunta do título: sim, vivemos num estado do género policial subgénero sindical.
Outros casos de polícia: (1), (2), (3), (4), (5) e (6).
Porém, este post não termina aqui. Segundo os números divulgados pelo SOL, 10% dos 21 mil polícias são sindicalistas de 13-sindicatos-13 diferentes e faltaram o ano passado 23 mil dias por actividades sindicais. 600 dos 2.100 sindicalistas são dirigentes e cada um tem direito a 4 dias de folga por mês, os restantes 1.500 são delegados sindicais e podem ter 12 horas de folga por mês. As folgas não usadas acumulam-se como «créditos» para o mês seguinte. Dirigentes e delegados sindicais não podem ser transferidos de local de «trabalho» sem acordo expresso.
Entre esses 13 sindicatos encontra-se o Sindicato Nacional de Oficiais de Polícia (SNOP) que representa os oficiais da PSP com licenciaturas. O seu presidente fez declarações a vários jornais (incluindo uma entrevista ionline de ontem) expondo a roupa suja e abriu uma guerra com os outros sindicatos. O SNOP é agora um sindicato traidor.
Posso então terminar este post com uma resposta mais completa à pergunta do título: sim, vivemos num estado do género policial subgénero sindical.
Outros casos de polícia: (1), (2), (3), (4), (5) e (6).
22/09/2014
Dúvidas (51) - Costa com «obra feita» em Lisboa. Amanhã em Portugal?
«Os valores de precipitação acumulada em Lisboa entre as 13:00 e as 15:00 de hoje enquadram-se dentro dos limites de referência para uma situação de aviso amarelo, revelou hoje o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA).» (ionline)
Pro memoria (194) – Pode não se confiar na integridade de Passos Coelho mas deve-se confiar na competência de José Sócrates e dos seus acólitos
«Na semana passada, a revista Sábado noticiou que a procuradora-geral da República, Joana Marques Vidal, recebeu este um ano uma denúncia sobre alegados pagamentos do grupo Tecnoforma a Pedro Passos Coelho quando este desempenhou funções de deputado em exclusividade entre 1995 e 1999 (e que ascenderiam a 150 mil euros).Entretanto, o mesmo jornalismo de causas, que em nome da doutrina Somoza faz orelhas moucas a qualquer suspeita de irregularidade da esquerdalhada, rufou os tambores durante uma semana a especular sobre os «crimes» da criatura (quase 30 mil resultados da pesquisa Google «"passos coelho" tecnoforma exclusividade»). Pela minha parte, há 3 anos confiei menos na integridade de Passos Coelho do que na competência de José Sócrates e dos seus acólitos porque o «caso mais comprometedor no seu passado, encontrada pelos zelosos serviços da central de manipulação (de José Sócrates), foi uma coima por contaminação ambiental duma empresa da qual tinha sido administrador (Passos Coelho)».
De acordo com a revista, essa situação violaria a lei em vigor, que impede os deputados que optem pela exclusividade de funções de acumular outros rendimentos no Estado e em empresas e associações públicas e privadas.
No fim-de-semana, Passos Coelho defendeu que o parlamento deveria pronunciar-se sobre as condições em que exerceu funções de deputado há cerca de 15 anos, quando questionado sobre alegados pagamentos que recebeu da Tecnoforma nessa altura.» (Visão)
Quando finalmente alguém fez a pergunta que a Sábado deveria ter feito antes de publicar a notícia, obteve como resposta do gabinete do secretário-geral da Assembleia da República
«não existe qualquer declaração de exclusividade entre novembro de 1995 e 1999" em nome de Pedro Passos Coelho… e, neste mesmo período, também não lhe foi pago o montante de 10% do regime de exclusividade. Existe uma declaração de exclusividade de 1992».ADITAMENTO:
«Alguns dos órgão de comunicação social que nos informaram que Passos Coelho estava em regime de exclusividade entre 1995 e 1999: Diário de Notícias, Jornal de Negócios, iOnline, Diário Económico, TVI, RTP, Bola, Porto Canal, Sol, Renascença, Expresso, TSF …» (lido no post Beta journalism do Blasfémias)
ACTUALIZAÇÃO: Ver post do dia 22.
CASE STUDY: A Escócia à luz da tudologia
Salvo erro, foi um engenheiro agrónomo que em carta dirigida ao Expresso, muitos meses atrás, a propósito de um artigo de Miguel Sousa Tavares sobre o tema agricultura, escrito do alto da sua autoridade de proprietário de um monte alentejano (não sei se tem ou não, mas ficar-lhe-ia bem ter), demonstrou a profusão de asneiras do artigo e baptizou MST apropriadamente de «tudólogo». Não sendo o único, MST é um dos tudólogos com maior notoriedade o que faz dele uma criatura nociva para a lucidez dos seus admiradores.
Uma vez mais, escrevendo a propósito da independência de Escócia (a que ele atrela logo a do País Basco, Catalunha, etc.), MST não desperdiça a oportunidade de asneirar. Podia perfeitamente limitar-se a dizer que preferia uma Escócia independente porque sim – o que seria perfeitamente legítimo – e pronto, arrumava o assunto. Mas não, resolve fundar o seu pensamento em premissas produzidas pela sua mente prolixa: a Escócia está frente da Inglaterra em todos os indicadores do «nível de bem-estar económico (e) é mais rica, graças ao petróleo do Mar do Norte».
Na verdade, a Escócia não é mais rica: os seus 5,3 milhões de habitantes representam 8,4% dos 63,2 milhões do Reino Unido e produzem 8,2% ou 9,1% do PIB total, sem e com a parte proporcional dos rendimentos do petróleo, respectivamente. A sua parte do VAB (valor bruto acrescentado que mede melhor do que o PIB a riqueza de facto criada) é de apenas 7,7% do total do RU. O rendimento disponível per capita é inferior à média do RU e em especial à da Inglaterra: £16.267, £ 16.791, £ 17.066, respectivamente.
A economia da Escócia, há décadas em declínio, está a crescer menos do que a Inglaterra (0,2% contra 0,7% no último trimestre de 2013). A produtividade do trabalho é inferior à média do RU (97,4% contra 101,5% da Inglaterra). As exportações representam menos de 5% do total do RU.
O «Estado Social» escocês. financiado em parte pela Inglaterra, custa mais £ 1.300 por pessoa do que a média no RU. Os rendimentos do petróleo são muito voláteis e caíram de £ 11,5 mil milhões em 2008-9 para £ 5,5 mil milhões em 2012-13. Os bancos escoceses são uma bomba-relógio à espera de rebentar com os seus activos que valem 12 vezes o PIB da Escócia.
A invenção de Salmond de uma Escócia como estado independente desta vez morreu nas urnas, com grande desgosto de MST. Viva uma Escócia autónoma.
[Fontes: Office for National Statistics, Economist, Wikipedia – UK e Scotland]
Uma vez mais, escrevendo a propósito da independência de Escócia (a que ele atrela logo a do País Basco, Catalunha, etc.), MST não desperdiça a oportunidade de asneirar. Podia perfeitamente limitar-se a dizer que preferia uma Escócia independente porque sim – o que seria perfeitamente legítimo – e pronto, arrumava o assunto. Mas não, resolve fundar o seu pensamento em premissas produzidas pela sua mente prolixa: a Escócia está frente da Inglaterra em todos os indicadores do «nível de bem-estar económico (e) é mais rica, graças ao petróleo do Mar do Norte».
Na verdade, a Escócia não é mais rica: os seus 5,3 milhões de habitantes representam 8,4% dos 63,2 milhões do Reino Unido e produzem 8,2% ou 9,1% do PIB total, sem e com a parte proporcional dos rendimentos do petróleo, respectivamente. A sua parte do VAB (valor bruto acrescentado que mede melhor do que o PIB a riqueza de facto criada) é de apenas 7,7% do total do RU. O rendimento disponível per capita é inferior à média do RU e em especial à da Inglaterra: £16.267, £ 16.791, £ 17.066, respectivamente.
A economia da Escócia, há décadas em declínio, está a crescer menos do que a Inglaterra (0,2% contra 0,7% no último trimestre de 2013). A produtividade do trabalho é inferior à média do RU (97,4% contra 101,5% da Inglaterra). As exportações representam menos de 5% do total do RU.
O «Estado Social» escocês. financiado em parte pela Inglaterra, custa mais £ 1.300 por pessoa do que a média no RU. Os rendimentos do petróleo são muito voláteis e caíram de £ 11,5 mil milhões em 2008-9 para £ 5,5 mil milhões em 2012-13. Os bancos escoceses são uma bomba-relógio à espera de rebentar com os seus activos que valem 12 vezes o PIB da Escócia.
A invenção de Salmond de uma Escócia como estado independente desta vez morreu nas urnas, com grande desgosto de MST. Viva uma Escócia autónoma.
[Fontes: Office for National Statistics, Economist, Wikipedia – UK e Scotland]
21/09/2014
ACREDITE SE QUISER: O que não é idóneo no Dubai pode ser idóneo em Portugal
Nem tudo o que parece mentira é mentira. Por exemplo, quem acreditaria que o Dubai desqualificou a idoneidade do Dr. Ricardo Salgado para ser administrador de bancos? Mais difícil ainda, quem acreditaria que, após uma longa lista de escândalos e fortíssimas suspeitas de gravíssimas fraudes, o Banco de Portugal continua a considerar que o Dr. Ricardo Salgado cumpre os requisitos do Artigo 30.º do Regime Geral das Instituições de Crédito e Sociedades Financeiras que dispõe:
«1 – Dos órgãos de administração e fiscalização de uma instituição de crédito, incluindo os membros do conselho geral e de supervisão e os administradores não executivos, apenas podem fazer parte pessoas cuja idoneidade e disponibilidade dêem garantias de gestão sã e prudente, tendo em vista, de modo particular, a segurança dos fundos confiados à instituição.
2 - Na apreciação da idoneidade deve ter-se em conta o modo como a pessoa gere habitualmente os negócios ou exerce a profissão, em especial nos aspectos que revelem incapacidade para decidir de forma ponderada e criteriosa, ou a tendência para não cumprir pontualmente as suas obrigações ou para ter comportamentos incompatíveis com a preservação da confiança do mercado.»
Terá o Banco de Portugal lido a primeira página do Financial Times de 11 de Setembro?
«1 – Dos órgãos de administração e fiscalização de uma instituição de crédito, incluindo os membros do conselho geral e de supervisão e os administradores não executivos, apenas podem fazer parte pessoas cuja idoneidade e disponibilidade dêem garantias de gestão sã e prudente, tendo em vista, de modo particular, a segurança dos fundos confiados à instituição.
2 - Na apreciação da idoneidade deve ter-se em conta o modo como a pessoa gere habitualmente os negócios ou exerce a profissão, em especial nos aspectos que revelem incapacidade para decidir de forma ponderada e criteriosa, ou a tendência para não cumprir pontualmente as suas obrigações ou para ter comportamentos incompatíveis com a preservação da confiança do mercado.»
Terá o Banco de Portugal lido a primeira página do Financial Times de 11 de Setembro?
20/09/2014
A maldição da tabuada (18) – Em média não sabem calcular médias
«É a primeira vítima do erro registado na colocação de mais de mil professores contratados para as cerca de 300 escolas com contrato de autonomia e Teip (territórios educativos de intervenção prioritária). Mário Agostinho Alves Pereira, diretor-geral da Administração Escolar desde 2009 até hoje, assumiu a responsabilidade pela aplicação de uma fórmula que calculou mal as classificações de milhares de candidatos às bolsas de contratação de escola e apresentou a demissão, apurou o Expresso. O pedido foi aceite pelo ministro da Educação.» (Expresso)
O erro consistiu em calcular uma média de duas variáveis de natureza diferente sem primeiro as tornar comparáveis. Exemplo: a média de 20 km e 40 milhas não é 30 kmilhas, é 34,1395 km ou 21,2139 milhas.
Os professores, a oposição e com eles o jornalismo de causas pediram a demissão do ministro. Sem razão. Primeiro porque não foi o ministro, por acaso um matemático, que determinou o processo de cálculo. Segundo porque os técnicos que prepararam o processo de cálculo e a lista de professores dele resultante não foram alunos do ministro, foram provavelmente alunos de professores sindicalizados na FENPROF e representados pelo sindicalista Dr. Mário Nogueira que estava na 1.ª fila das galerias do parlamento aos gritos a pedir a demissão do ministro. Terceiro porque provavelmente a maioria dos deputados da oposição (e da situação, já agora) que vituperaram o ministro não dominam os rudimentos da aritmética elementar. Quarto porque os jornalistas que fizeram eco da indignação dos profs e da oposição não foram capazes de explicar decentemente qual o erro em causa – com a uma única excepção da jornalista do Observador.
Para sermos justos, devemos observar com bonomia quer os erros, quer as indignações, quer a incapacidade de explicar os erros. Trata-se, afinal, da maldição da tabuada, um mal que nos aflige há séculos – segundo os entendidos, um mal que começou com a expulsão pelo Marquês de Pombal em 1789 dos jesuítas, as únicas almas que à época eram capazes de calcular médias simples e ponderadas.
Um mal que explica as nossas dificuldades com as contas públicas e privadas e com as nossas dívidas públicas e privadas e que infelizmente não parece ter sido percebido pelo presidente da Estónia Toomas Hendrik Ilves que nesta sua intervenção nos humilha, insinuando que gastamos mais do que ganhamos e pedimos emprestado mais do que podemos pagar, o que levou os estonianos, mais pobres do que os portugueses, a resgatar-nos, acusa. É uma crítica fácil e demagógica. Tivesse a Estónia os nossos problemas com tabuada e não falariam de cátedra.
O erro consistiu em calcular uma média de duas variáveis de natureza diferente sem primeiro as tornar comparáveis. Exemplo: a média de 20 km e 40 milhas não é 30 kmilhas, é 34,1395 km ou 21,2139 milhas.
Os professores, a oposição e com eles o jornalismo de causas pediram a demissão do ministro. Sem razão. Primeiro porque não foi o ministro, por acaso um matemático, que determinou o processo de cálculo. Segundo porque os técnicos que prepararam o processo de cálculo e a lista de professores dele resultante não foram alunos do ministro, foram provavelmente alunos de professores sindicalizados na FENPROF e representados pelo sindicalista Dr. Mário Nogueira que estava na 1.ª fila das galerias do parlamento aos gritos a pedir a demissão do ministro. Terceiro porque provavelmente a maioria dos deputados da oposição (e da situação, já agora) que vituperaram o ministro não dominam os rudimentos da aritmética elementar. Quarto porque os jornalistas que fizeram eco da indignação dos profs e da oposição não foram capazes de explicar decentemente qual o erro em causa – com a uma única excepção da jornalista do Observador.
Para sermos justos, devemos observar com bonomia quer os erros, quer as indignações, quer a incapacidade de explicar os erros. Trata-se, afinal, da maldição da tabuada, um mal que nos aflige há séculos – segundo os entendidos, um mal que começou com a expulsão pelo Marquês de Pombal em 1789 dos jesuítas, as únicas almas que à época eram capazes de calcular médias simples e ponderadas.
Um mal que explica as nossas dificuldades com as contas públicas e privadas e com as nossas dívidas públicas e privadas e que infelizmente não parece ter sido percebido pelo presidente da Estónia Toomas Hendrik Ilves que nesta sua intervenção nos humilha, insinuando que gastamos mais do que ganhamos e pedimos emprestado mais do que podemos pagar, o que levou os estonianos, mais pobres do que os portugueses, a resgatar-nos, acusa. É uma crítica fácil e demagógica. Tivesse a Estónia os nossos problemas com tabuada e não falariam de cátedra.
19/09/2014
Dúvidas (50) – Qual dos dois Costas é candidato a primeiro-ministro?
Será o António Costa que promete não aumentar os impostos quando for governo ou será o António Costa que anunciou há 10 meses que «as taxas da Câmara de Lisboa vão subir já em 2014… a única forma de enfrentar a quebra de receitas sentida sem agravar impostos, cortar no investimento ou nos apoios culturais e sociais.» e defende em 2014 «a criação de uma taxa de turismo como forma de contrariar a redução de receita que o município tem tido, principalmente com a derrama»?
CASE STUDY: Uma espécie de «alívio quantitativo»
Numa velha anedota misógina, um pai respondia à pergunta de um filho «pai o que é a inflação?» com o exemplo da mãe: «quando a conheci pesava menos, era mais nova e valia mais e agora pesa mais, é mais velha e vale menos». (*)
A inflação é pois um fenómeno universal que nada poupa, nem mesmo as notas de avaliação escolar que qualquer observador atento da realidade pode confirmar vêm aumentando em todos os graus de ensino e, ao que parece, um pouco por todo o lado. Há várias explicações disponíveis para o gosto de cada um. Os mais velhos tendem a explicar a inflação das notas com o relaxamento dos critérios de avaliação. Os mais novos tendem a considerar que o fenómeno não carece de explicação, subentendendo que as novas gerações estão a ficar mais inteligentes - talvez por força de súbitas mutações genéticas que teriam encantado Darwin.
Como mostram os estudos de Stuart Rojstaczer citados pela Economist, o fenómeno é tão universal que não poupou la crème de la crème do ensino universitário americano – a Ivy League, como se evidencia no gráfico seguinte.
Citando a Economist, «universities pump up grades because many students like it. Administrators claim that tough grading leads to rivalry and stress for students. But if that is true, why have grades at all? Brilliant students complain that, thanks to grade inflation, little distinguishes them from their so-so classmates. Employers agree. When so many students get As, it is hard to figure out who is clever and who is not».
(*) Nota especial para alguma alma politicamente correcta aqui caída por engano: a anedota misógina pode facilmente ser ajustada à conformidade politicamente correcta trocando a ordem porque aparecem as palavras pai e mãe e alterando o género dos adjectivos.
A inflação é pois um fenómeno universal que nada poupa, nem mesmo as notas de avaliação escolar que qualquer observador atento da realidade pode confirmar vêm aumentando em todos os graus de ensino e, ao que parece, um pouco por todo o lado. Há várias explicações disponíveis para o gosto de cada um. Os mais velhos tendem a explicar a inflação das notas com o relaxamento dos critérios de avaliação. Os mais novos tendem a considerar que o fenómeno não carece de explicação, subentendendo que as novas gerações estão a ficar mais inteligentes - talvez por força de súbitas mutações genéticas que teriam encantado Darwin.
Como mostram os estudos de Stuart Rojstaczer citados pela Economist, o fenómeno é tão universal que não poupou la crème de la crème do ensino universitário americano – a Ivy League, como se evidencia no gráfico seguinte.
Citando a Economist, «universities pump up grades because many students like it. Administrators claim that tough grading leads to rivalry and stress for students. But if that is true, why have grades at all? Brilliant students complain that, thanks to grade inflation, little distinguishes them from their so-so classmates. Employers agree. When so many students get As, it is hard to figure out who is clever and who is not».
(*) Nota especial para alguma alma politicamente correcta aqui caída por engano: a anedota misógina pode facilmente ser ajustada à conformidade politicamente correcta trocando a ordem porque aparecem as palavras pai e mãe e alterando o género dos adjectivos.
18/09/2014
Estado empreendedor (90) – As reformas não consistem em ejaculações legislativas
O falhanço da plataforma Citius está não só a comprometer a reforma judiciária como a comprometer o funcionamento de todo o sistema judiciário. Para se perceber o estado de negação dos apparatchiks, o Instituto de Gestão Financeira e Equipamentos da Justiça (IGFEJ) informou num comunicado que está assegurado «o pleno acesso a todas as funcionalidades da plataforma Citius», mas apenas com «os novos processos instaurados após 15 de Setembro» via electrónica. Ou seja, a coisa não é grave porque só deixa de fora 3,5 milhões de processos para os quais serão necessários um ou dois anos de trabalho para os reintroduzir no sistema, segundo José Tribolet, presidente INESC.
E, pelos vistos, esse falhanço deixou surpreendidos a ministra e todos os dirigentes de topo do ministério da Justiça, o que deveria ser surpreendente e só não é porque são conhecidas a impreparação e a falta de diligência do aparelho administrativo do Estado para lidar com a mudança, gerir projectos e riscos e antecipar dificuldades.
«Do ponto de vista dos modernos sistemas de informação das organizações», os dirigentes de topo «são analfabetos, não conhecem o problema com que estão a lidar» e «acreditam que as coisas se resolvem com uma equipa corajosa ou uma liderança forte ou empregando consultorias externas que levam um ‘dinheirão’ e estão ali uns meses, mas este não é um trabalho de meses. Leva anos e tem de ser feito pelas pessoas da justiça», disse Tribolet à Rádio Renascença.
As reformas do Estado costumam falhar por falta da chamada «vontade política». Quando existe a «vontade política» falham por falta de capacidade de gestão o que vai reforçar durante anos ou décadas os lóbis afectados pelas reformas e vai amolecer ainda mais a amolecida «vontade política».
E, pelos vistos, esse falhanço deixou surpreendidos a ministra e todos os dirigentes de topo do ministério da Justiça, o que deveria ser surpreendente e só não é porque são conhecidas a impreparação e a falta de diligência do aparelho administrativo do Estado para lidar com a mudança, gerir projectos e riscos e antecipar dificuldades.
«Do ponto de vista dos modernos sistemas de informação das organizações», os dirigentes de topo «são analfabetos, não conhecem o problema com que estão a lidar» e «acreditam que as coisas se resolvem com uma equipa corajosa ou uma liderança forte ou empregando consultorias externas que levam um ‘dinheirão’ e estão ali uns meses, mas este não é um trabalho de meses. Leva anos e tem de ser feito pelas pessoas da justiça», disse Tribolet à Rádio Renascença.
As reformas do Estado costumam falhar por falta da chamada «vontade política». Quando existe a «vontade política» falham por falta de capacidade de gestão o que vai reforçar durante anos ou décadas os lóbis afectados pelas reformas e vai amolecer ainda mais a amolecida «vontade política».
DIÁLOGOS DE PLUTÃO: Literacia financeira
Stôra: Joãozinho sabe o que é um warrant?
Joãozinho: Sei sim stôra. É uma ferramenta financeira…
Stôra: … um instrumento financeiro… Joãozinho…
Joãozinho: … um instrumento financeiro em que o dono…
Stôra: … o detentor… Joãozinho…
Joãozinho: … um instrumento financeiro em que detentor pode comprar ou vender acções ou obrigações a um preço previamente combinado.
Stôra: Muito bem Joãozinho. E agora vamos fazer uma operação: se eu tiver 4 warrants para dividir pelo Joãozinho e pelo Ruizinho quantos warrants cabem a cada um?
Joãozinho: Stôra posso usar a calculadora?
Stôra: Não, não pode.
Joãozinho: Ó Stôra mas ainda só aprendemos a somar.
[Diálogo imaginário, que pode um dia tornar-se real, inspirado numa medida prevista no anteprojecto das Grandes Opções do Plano (GOP) para 2015 para «introduzir a literacia financeira nos currículos do ensino básico e secundário, a partir do próximo ano lectivo»]
Joãozinho: Sei sim stôra. É uma ferramenta financeira…
Stôra: … um instrumento financeiro… Joãozinho…
Joãozinho: … um instrumento financeiro em que o dono…
Stôra: … o detentor… Joãozinho…
Joãozinho: … um instrumento financeiro em que detentor pode comprar ou vender acções ou obrigações a um preço previamente combinado.
Stôra: Muito bem Joãozinho. E agora vamos fazer uma operação: se eu tiver 4 warrants para dividir pelo Joãozinho e pelo Ruizinho quantos warrants cabem a cada um?
Joãozinho: Stôra posso usar a calculadora?
Stôra: Não, não pode.
Joãozinho: Ó Stôra mas ainda só aprendemos a somar.
[Diálogo imaginário, que pode um dia tornar-se real, inspirado numa medida prevista no anteprojecto das Grandes Opções do Plano (GOP) para 2015 para «introduzir a literacia financeira nos currículos do ensino básico e secundário, a partir do próximo ano lectivo»]
17/09/2014
Estado empreendedor (89) – A saga do «Atlântida» (actualização e epílogo?)
Recorde-se que o Governo Regional dos Açores, presidido pelo socialista Carlos César, encomendou o «Atlântida» e modificou o projecto para a seguir recusar aceitar o navio construído pelos Estaleiros Navais de Viana do Castelo por não cumprir os requisitos de velocidade em consequência dessa alteração (menos um nó = 1,85 km/h, uma diferença ridícula que cheira a pretexto para esconder uma qualquer manobra).
Recorde-se igualmente que o governo socialista de José Sócrates anunciou por várias vezes a venda do navio ao amigo falecido coronel Chávez - uma dessas vezes em que a negócio foi dado como fechado o preço anunciado foi de 42,5 milhões.
E chegamos assim a Abril passado quando a empresa pública açoriana Atlanticoline, a quem se destinava o navio, requereu ao tribunal a venda imediata do navio, do qual é fiel depositário a empresa ENVC, por 20 milhões, metade do preço de construção, para se ver ressarcida dos adiantamentos que pagou. Com esta execução pela Atlanticoline, esteve ameaçado o concurso público internacional para venda do «Atlântida», mas a coisa lá se conseguiu desatar. Abertas as 3 propostas, a mais elevada foi de 13 milhões de um armador grego que venceu o concurso mas esgotou todos os prazos para exercer a compra.
E assim chegamos (talvez) ao epílogo da saga, com a compra pela Douro Azul por 8,7 mil milhões de euros do «Atlântida» - uma espécie de navio-almirante da incompetência e negligência do socialismo socrático. Se terminar, esta saga, como todas as sagas socialistas, deixará um basto prejuízo: de um custo para os ENVC que ultrapassou os 40 milhões até 2009, talvez se recuperem, na melhor hipótese, menos de 9 milhões.
ADITAMENTO: Segundo as contas do Expresso, «contando com os custos associados à dissolução do contrato, o prejuízo ascendeu a 70 milhões de euros.»
Recorde-se igualmente que o governo socialista de José Sócrates anunciou por várias vezes a venda do navio ao amigo falecido coronel Chávez - uma dessas vezes em que a negócio foi dado como fechado o preço anunciado foi de 42,5 milhões.
E chegamos assim a Abril passado quando a empresa pública açoriana Atlanticoline, a quem se destinava o navio, requereu ao tribunal a venda imediata do navio, do qual é fiel depositário a empresa ENVC, por 20 milhões, metade do preço de construção, para se ver ressarcida dos adiantamentos que pagou. Com esta execução pela Atlanticoline, esteve ameaçado o concurso público internacional para venda do «Atlântida», mas a coisa lá se conseguiu desatar. Abertas as 3 propostas, a mais elevada foi de 13 milhões de um armador grego que venceu o concurso mas esgotou todos os prazos para exercer a compra.
E assim chegamos (talvez) ao epílogo da saga, com a compra pela Douro Azul por 8,7 mil milhões de euros do «Atlântida» - uma espécie de navio-almirante da incompetência e negligência do socialismo socrático. Se terminar, esta saga, como todas as sagas socialistas, deixará um basto prejuízo: de um custo para os ENVC que ultrapassou os 40 milhões até 2009, talvez se recuperem, na melhor hipótese, menos de 9 milhões.
ADITAMENTO: Segundo as contas do Expresso, «contando com os custos associados à dissolução do contrato, o prejuízo ascendeu a 70 milhões de euros.»
16/09/2014
BERQUINGUE NIUZ: A coisa nunca está tão mal que não possa piorar
A sucursal do BES na Flórida está a ser investigada por reguladores americanos «in a sprawling multinational effort to untangle the finances behind the collapsed Portuguese business empire».
Dúvidas (49) – Teria o DDT caído, não fora ter-se metido com o PQP e o Chico dos Porsches?
Antes de nos felicitarmos pelo «funcionamento das instituições» que colocou um fim (provisório?) ao reinado do Dr. Ricardo Salgado, o Dono Disto Tudo, convirá reflectirmos um pouco sobre as verdadeiras causas da queda da casa dos Espíritos.
Como agora se torna cada vez mais claro, as «instituições» funcionaram mal e tardiamente. Os administradores não executivos «independentes» do BES entravam mudos e saíram calados, a comissão de auditoria vivia em paz e harmonia com a comissão executiva, o ROC e auditor KPMG assobiava para o lado e sacudia a água do capote «alertando» os seus estados de alma (*), o BdeP empurrava com a barriga para frente tentando gerir as pressões do DDT, o governo lavava as mãos, porque quem tinha de lidar com o assunto era (de facto) o supervisor.
Se as «instituições» funcionaram mal e tardiamente, o que funcionou e fez cair o GES? Afora as inúmeras fraudes e ilegalidades várias, coisa que só por si no Portugal dos Pequeninos não seria dramática, foram essencialmente duas grossas asneiras do DDT, resultantes provavelmente de uma certa soberba e megalomania, geradas por décadas de impunidade.
A primeira asneira foi o DDT ter tentado controlar sem sucesso o grupo Imprensa através da tropa de choque da Ongoing, Nuno Vasconcelos e Rafael Mora, a respeito dos quais Armando Vara, o amigo do animal feroz, foi escutado a explicar ao seu amigo Oliveira que quem se mete com a Ongoing «não sabe com quem se meteu (porque Nuno Vasconcelos e Rafael Mora) … não têm quaisquer escrúpulos». Meteu-se com o Dr. Balsemão (na sua juventude conhecido como o Chico dos Porsches) e meteu a vara no vespeiro do Expresso onde criou uma dúzia de inimigos de estimação que nunca mais tiraram os olhos da roupa suja do GES. Nem mesmo os muitos milhões que gastou a comprar páginas inteiras de publicidade (3 a 4 em cada edição) apaziguaram as coisas. Seria só uma questão de tempo e de oportunidade. Apesar de ter escrito por linhas tortas, o Expresso escreveu a direito e, devemos reconhecê-lo, muitos outros jornais provavelmente venderam mais barato o silêncio e até a benevolência.
A segunda asneira foi o DDT ter-se metido com o PQP (Pedro Queiroz Pereira, um tipo teso, antigo campeão de ralis) tentando controlar a Portucel para lhe aplicar a receita da PT – desnatá-la para financiar o buraco negro do GES. PQP acelerou a fundo e reuniu uma soma de informações suficiente para o BdeP sentir obrigação de fazer alguma coisa, pouca, diga-se. E mais do que suficiente para o Expresso começar a encher várias páginas dos números seguintes, até hoje.
A partir daí a sorte do GES ficou escrita.
(*) Segundo relato do Expresso, a PwC cessou unilateralmente em 2002 a auditoria do BES por razões oficialmente não reveladas que o Expresso atribui a terem sido identificadas situações irregulares de que a PwC pretendeu dissociar-se.
Como agora se torna cada vez mais claro, as «instituições» funcionaram mal e tardiamente. Os administradores não executivos «independentes» do BES entravam mudos e saíram calados, a comissão de auditoria vivia em paz e harmonia com a comissão executiva, o ROC e auditor KPMG assobiava para o lado e sacudia a água do capote «alertando» os seus estados de alma (*), o BdeP empurrava com a barriga para frente tentando gerir as pressões do DDT, o governo lavava as mãos, porque quem tinha de lidar com o assunto era (de facto) o supervisor.
Se as «instituições» funcionaram mal e tardiamente, o que funcionou e fez cair o GES? Afora as inúmeras fraudes e ilegalidades várias, coisa que só por si no Portugal dos Pequeninos não seria dramática, foram essencialmente duas grossas asneiras do DDT, resultantes provavelmente de uma certa soberba e megalomania, geradas por décadas de impunidade.
A primeira asneira foi o DDT ter tentado controlar sem sucesso o grupo Imprensa através da tropa de choque da Ongoing, Nuno Vasconcelos e Rafael Mora, a respeito dos quais Armando Vara, o amigo do animal feroz, foi escutado a explicar ao seu amigo Oliveira que quem se mete com a Ongoing «não sabe com quem se meteu (porque Nuno Vasconcelos e Rafael Mora) … não têm quaisquer escrúpulos». Meteu-se com o Dr. Balsemão (na sua juventude conhecido como o Chico dos Porsches) e meteu a vara no vespeiro do Expresso onde criou uma dúzia de inimigos de estimação que nunca mais tiraram os olhos da roupa suja do GES. Nem mesmo os muitos milhões que gastou a comprar páginas inteiras de publicidade (3 a 4 em cada edição) apaziguaram as coisas. Seria só uma questão de tempo e de oportunidade. Apesar de ter escrito por linhas tortas, o Expresso escreveu a direito e, devemos reconhecê-lo, muitos outros jornais provavelmente venderam mais barato o silêncio e até a benevolência.
A segunda asneira foi o DDT ter-se metido com o PQP (Pedro Queiroz Pereira, um tipo teso, antigo campeão de ralis) tentando controlar a Portucel para lhe aplicar a receita da PT – desnatá-la para financiar o buraco negro do GES. PQP acelerou a fundo e reuniu uma soma de informações suficiente para o BdeP sentir obrigação de fazer alguma coisa, pouca, diga-se. E mais do que suficiente para o Expresso começar a encher várias páginas dos números seguintes, até hoje.
A partir daí a sorte do GES ficou escrita.
(*) Segundo relato do Expresso, a PwC cessou unilateralmente em 2002 a auditoria do BES por razões oficialmente não reveladas que o Expresso atribui a terem sido identificadas situações irregulares de que a PwC pretendeu dissociar-se.
ARTIGO DEFUNTO: Ignorância e preconceito
«Famílias pagam 34% da despesa total do país em saúde», foi o título que um misto de ignorância e enviesamento ideológico levou o Público a prantar numa notícia, a propósito dos 35 anos da criação do Serviço Nacional de Saúde, para descrever a seguinte situação: a despesa total em saúde é paga pelas famílias (por quem mais poderia ser? o papa Francisco? o Kremlin?), sendo cerca de 1/3 pago directamente pelas famílias que usam os serviços privados de saúde e cerca de 2/3, correspondentes aos serviços prestados pelo SNS, suportados pelos impostos pagos por todas as famílias, quer usem ou não o SNS.
15/09/2014
O ruído do silêncio da gente honrada no PS é ensurdecedor (94) – nepotismo puro e duro (II)
Depois da condenação do gangue da «Face Oculta», temos uma outra condenação (de uma espécie de gangue das fotocópias) a 3 anos e 6 meses, ainda que com pena suspensa, da ex-ministra da Educação Maria de Lurdes Rodrigues que contratou de 2005 a 2007 João Pedroso, advogado, dirigente do PS, irmão de Paulo Pedroso o ex-ministro do Trabalho de Guterres. Contratou-o duas vezes para fazer o mesmo manual de direito da Educação, nunca acabado, e pagou pela segunda vez uma tença mensal de 20 mil euros mensais, mais de 13 vezes superior à primeira. O resultado foram umas dezenas de pastas com fotocópias cujo custo total ultrapassou 300 mil euros.
Resultado ao intervalo: Justiça 2 – PS 0.
Resultado ao intervalo: Justiça 2 – PS 0.
CAMINHO PARA A INSOLVÊNCIA: Here we go again (5)
Confirmando as tendências recentes do comércio internacional de bens, nos 3 meses de Maio a Julho o aumento das exportações reduziu-se para 1,5% em relação ao período homólogo de 2013 e as importações aumentaram de 4,9%. Resultado: degradação de 427 milhões de euros do défice com redução de 2,7% da taxa de cobertura. (fonte: Destaque de Julho do INE)
Não é preciso procurar muito para encontrar a causa principal da degradação. O aumento das importações na rubrica Material de Transporte e Acessórios foi de 422 milhões de euros, quase exactamente o aumento do défice.
Quando se vê a tendência dos saldos negativos da balança comercial (bens e serviços) desde 1996 e se constata que rondaram em média os 10 mil milhões de euros (dos quais em média 15 mil milhões correspondentes a bens), percebe-se que são esses défices acumulados que geraram uma das maiores dívidas ao exterior em todo o mundo. E percebe-se que as melhorias iniciadas em 2011 que culminaram com um superavit de quase 3 mil milhões em 2013 (salvo erro, o segundo ou terceiro em mais de um século) estão em vias de se esfumar.
E se houvesse dúvida, os dados do Eurostat divulgados esta manhã confirmam que nos primeiros 7 meses o défice comercial foi o quarto percentualmente mais elevado na UE, atingindo 5 mil milhões de euros. Em apenas 7 meses foi invertida a recuperação das contas externas dos últimos 3 anos.
Se a isto adicionarmos um ano de eleições e um provável governo socialista hipotecado a promessas irresponsáveis, iremos ter saudades de troika e podemos começar a preparar o seu regresso.
Não é preciso procurar muito para encontrar a causa principal da degradação. O aumento das importações na rubrica Material de Transporte e Acessórios foi de 422 milhões de euros, quase exactamente o aumento do défice.
Quando se vê a tendência dos saldos negativos da balança comercial (bens e serviços) desde 1996 e se constata que rondaram em média os 10 mil milhões de euros (dos quais em média 15 mil milhões correspondentes a bens), percebe-se que são esses défices acumulados que geraram uma das maiores dívidas ao exterior em todo o mundo. E percebe-se que as melhorias iniciadas em 2011 que culminaram com um superavit de quase 3 mil milhões em 2013 (salvo erro, o segundo ou terceiro em mais de um século) estão em vias de se esfumar.
E se houvesse dúvida, os dados do Eurostat divulgados esta manhã confirmam que nos primeiros 7 meses o défice comercial foi o quarto percentualmente mais elevado na UE, atingindo 5 mil milhões de euros. Em apenas 7 meses foi invertida a recuperação das contas externas dos últimos 3 anos.
Se a isto adicionarmos um ano de eleições e um provável governo socialista hipotecado a promessas irresponsáveis, iremos ter saudades de troika e podemos começar a preparar o seu regresso.
14/09/2014
NÓS VISTOS POR ELES: Não é barato mas sai caro
Como se sabe, o sistema educativo português é: muito bom segundo os professores e poderia ser excelente se fossem recrutados mais professores e aumentados os salários; bom para o governo e poderá ser muito bom depois da próxima reforma; foi bom enquanto a oposição foi governo mas está a degradar-se; não é grande coisa, é caro e demasiado exigente para os pais.
Para a GEMS Education Solutions, no Efficiency Index Report (citado aqui pela Economist) que compara resultados com custos, o sistema educativo português é pouco eficiente e Portugal é o 7.º menos eficiente dos 30 países da OCDE.
Como prémio de consolação, o sistema português é um pouco mais eficiente do que o alemão o qual é, contudo, claramente mais eficaz (score PISA 2012 em matemática 514 contra 487). Ou seja o carro alemão anda mais depressa mas consome mais combustível, o que não faz do carro português um carro frugal. De facto, Portugal está meio da tabela (13.º) em matéria salarial (salários a PPC) é o país da OCDE com menos alunos por professor (7,6 contra 16,5 da Finlândia, que tem o sistema de ensino mais eficiente e um dos mais eficazes).
Para a GEMS Education Solutions, no Efficiency Index Report (citado aqui pela Economist) que compara resultados com custos, o sistema educativo português é pouco eficiente e Portugal é o 7.º menos eficiente dos 30 países da OCDE.
Como prémio de consolação, o sistema português é um pouco mais eficiente do que o alemão o qual é, contudo, claramente mais eficaz (score PISA 2012 em matemática 514 contra 487). Ou seja o carro alemão anda mais depressa mas consome mais combustível, o que não faz do carro português um carro frugal. De facto, Portugal está meio da tabela (13.º) em matéria salarial (salários a PPC) é o país da OCDE com menos alunos por professor (7,6 contra 16,5 da Finlândia, que tem o sistema de ensino mais eficiente e um dos mais eficazes).
13/09/2014
Um governo à deriva (21) – Back to basics
Há dois meses Vítor Bento, José Honório e João Moreira Rato foram convidados e aceitaram liderar a recuperação do Banco Novo e em 30 de Julho a «equipa de gestão (comunicou que) já iniciou a preparação de um Plano Estratégico de Restruturação do Banco visando a sua adequação à nova realidade do negócio bancário, nomeadamente em Portugal».
Em 13 de Setembro a equipa de gestão demite-se «porque as circunstâncias alteraram profundamente a natureza do desafio». As circunstâncias alteradas foram a mudança de planos do governo para vender rapidamente o Novo Banco em alternativa à sua recuperação e venda a médio prazo.
Como se sabe, quem pretenda vender bem, depressa e caro, das três deve escolher duas. Como já está escolhida uma (depressa), o Fundo de Resolução só poderá vender mal (isto é a compradores de ocasião) ou barato.
Por isso, das duas, uma: (1) o governo precipitou-se e não sabe o que anda a fazer ou (2) o governo está a ser pressionado pelos bancos que financiam o bailout (ou, mais exactamente, que pagam os juros do empréstimo) de um banco concorrente que seria recuperado com o dinheiro por eles emprestado (ou dado se a venda for por menos de 2,9 mil milhões). Recorde-se que na semana passada Fernando Ulrich em entrevista ao Expresso defendia com a sua franqueza habitual a venda urgente do Novo Banco.
Fica assim patente um conflito de interesses no conceito do Fundo de Resolução. Conflito que é grave quando o Fundo se aplica não ao sistema bancário europeu, em que mesmo um banco grande representa apenas pequena fracção, mas a um banco que representa 1/3 do sistema. Back to basics - restam - restariam, porque agora é tarde, as soluções clássicas: ou os contribuintes pagam a totalidade da liquidação do banco ou em alternativa pagam, por ordem, os seus accionistas, os credores juniores, os credores seniores e os depositantes (em excesso de 100 mil euros). Valerá a pena perguntar qual a solução defendida pelo (Im)pertinências?
Em 13 de Setembro a equipa de gestão demite-se «porque as circunstâncias alteraram profundamente a natureza do desafio». As circunstâncias alteradas foram a mudança de planos do governo para vender rapidamente o Novo Banco em alternativa à sua recuperação e venda a médio prazo.
Como se sabe, quem pretenda vender bem, depressa e caro, das três deve escolher duas. Como já está escolhida uma (depressa), o Fundo de Resolução só poderá vender mal (isto é a compradores de ocasião) ou barato.
Por isso, das duas, uma: (1) o governo precipitou-se e não sabe o que anda a fazer ou (2) o governo está a ser pressionado pelos bancos que financiam o bailout (ou, mais exactamente, que pagam os juros do empréstimo) de um banco concorrente que seria recuperado com o dinheiro por eles emprestado (ou dado se a venda for por menos de 2,9 mil milhões). Recorde-se que na semana passada Fernando Ulrich em entrevista ao Expresso defendia com a sua franqueza habitual a venda urgente do Novo Banco.
Fica assim patente um conflito de interesses no conceito do Fundo de Resolução. Conflito que é grave quando o Fundo se aplica não ao sistema bancário europeu, em que mesmo um banco grande representa apenas pequena fracção, mas a um banco que representa 1/3 do sistema. Back to basics - restam - restariam, porque agora é tarde, as soluções clássicas: ou os contribuintes pagam a totalidade da liquidação do banco ou em alternativa pagam, por ordem, os seus accionistas, os credores juniores, os credores seniores e os depositantes (em excesso de 100 mil euros). Valerá a pena perguntar qual a solução defendida pelo (Im)pertinências?
CAMINHO PARA A SERVIDÃO: Ejaculações legislativas
Decreto-Lei n.º 135/2014 de 8 de setembro de 2014: «Estabelece o regime jurídico dos sistemas de segurança privada dos estabelecimentos de restauração e de bebidas que disponham de salas ou de espaços destinados a dança ou onde habitualmente se dance.»
12/09/2014
Títulos inspirados (31) - «António Costa tem, afinal, uma agenda para as contas públicas – e é próxima da do Governo»
Se for assim, além de «um dilúvio de palavras num deserto de ideias», como o classificou o Impertinente, o discurso de Costa poderia ser caracterizado por «as boas ideias não são originais e as ideias originais não são boas».
DIÁRIO DE BORDO: Como o justicialismo degenera (outra vez) em oportunismo e falta de princípios (V)
[Continuação de (I), (II), (III) e (IV)]
Recapitulando: Marinho e Pinto foi eleito para o parlamento europeu pelo MPT - Partido da Terra no qual se filiou em Julho; no próprio dia das eleições disse que estava a pensar candidatar-se a S. Bento. Mais tarde, em Bruxelas, ofereceu-se ao grupo dos Verdes que o rejeitou, a seguir ofereceu-se ao grupo dos Liberais que o aceitou. Algum tempo depois revelou que vai candidatar-se «ao cargo de primeiro-ministro de Portugal», «sem prejuízo de, depois, poder candidatar-me às presidenciais» e não põe de lado ser a ministro da Saúde, e que pode ser pelo MPT ou por um novo partido.
Um novo partido é o que agora se propõe fundar abandonando assim a «barriga de aluguer» como lhe chamou John Rosas Baker do MPT. Para Marinho e Pinto que está habituado a lidar com divórcios e «sempre (lutou) para que as separações se façam com elevação» isso não será um problema e admite «com um pouco de jeito, até se fazem coligações».
Moral da estória: pior do que a falta de ética no sistema partidário só a nova ética que o justicialismo pretende impor no sistema partidário.
Recapitulando: Marinho e Pinto foi eleito para o parlamento europeu pelo MPT - Partido da Terra no qual se filiou em Julho; no próprio dia das eleições disse que estava a pensar candidatar-se a S. Bento. Mais tarde, em Bruxelas, ofereceu-se ao grupo dos Verdes que o rejeitou, a seguir ofereceu-se ao grupo dos Liberais que o aceitou. Algum tempo depois revelou que vai candidatar-se «ao cargo de primeiro-ministro de Portugal», «sem prejuízo de, depois, poder candidatar-me às presidenciais» e não põe de lado ser a ministro da Saúde, e que pode ser pelo MPT ou por um novo partido.
Um novo partido é o que agora se propõe fundar abandonando assim a «barriga de aluguer» como lhe chamou John Rosas Baker do MPT. Para Marinho e Pinto que está habituado a lidar com divórcios e «sempre (lutou) para que as separações se façam com elevação» isso não será um problema e admite «com um pouco de jeito, até se fazem coligações».
Moral da estória: pior do que a falta de ética no sistema partidário só a nova ética que o justicialismo pretende impor no sistema partidário.
ACREDITE SE QUISER: O português mais famoso nos negócios
Não é de todos os dias que se encontra a foto de um português na primeira página do Financial Times, provavelmente o diário de economia e finanças mais lido no mundo dos negócios.
É muito bom para a auto-estima dos portugueses e uma oportunidade para o jornalismo das promoções parangonar «Portugal está na moda» e, a exemplo do que já faz com «o Real Madrid do Cristiano Ronaldo», «o Chelsea de Mourinho», entre outros, escrever «o Financial Times de Ricardo Salgado».
No mesmo artigo onde descreve um esquema de financiamento do GES através de veículos em offshores, o FT inclui esta espécie de epitáfio da família e do país:
É muito bom para a auto-estima dos portugueses e uma oportunidade para o jornalismo das promoções parangonar «Portugal está na moda» e, a exemplo do que já faz com «o Real Madrid do Cristiano Ronaldo», «o Chelsea de Mourinho», entre outros, escrever «o Financial Times de Ricardo Salgado».
No mesmo artigo onde descreve um esquema de financiamento do GES através de veículos em offshores, o FT inclui esta espécie de epitáfio da família e do país:
“The fall of the Espírito Santos is effectively the story of Portugal itself,” says one official. “They had too much debt, but they continued to consume.”
11/09/2014
TIROU-ME AS PALAVRAS DA BOCA: Valerá a pena escolher um entre dois maus no género mau?
«Ver dois socialistas a discutir a realidade é como ver dois ceguinhos a falar de cinema. Falam sobre tudo, menos sobre o filme. Passados todos estes anos, o PS continua a recusar olhar para a realidade, para os factos, para os problemas. Sim, as diferenças de opinião devem existir entre a esquerda e a direita. Mas essas diferenças estão a jusante. A montante, é preciso reconhecer um ponto de partida empírico e comum a todos. O problema do PS - como ficou bem patente neste debate - é que ainda nem sequer chegou à fase do reconhecimento da realidade.»
Só posso concordar com o que escreveu aqui Henrique Raposo no seu blogue no Expresso. Se, como dizem os adeptos de Costa e alguma direita pedante, o importante é a personalidade dos candidatos, já que os futuros putativos primeiros-ministros serão todos mais ou menos socialistas, talvez acrescentasse: entre os dois Antónios, um Seguro, calimero auto vitimizado levado ao colo pelo aparelho socialista, e um Costa de discurso redondo, com falta de coragem nos momentos decisivos, levado ao colo pela bem-pensância e carregado de hipotecas ao socratismo, ao soarismo e outros ismos, ambos maus no género mau, escolheria um Pedro que já mostrou ser aceitável no género mau ou uma Maria Luís talvez boa no género mau.
Só posso concordar com o que escreveu aqui Henrique Raposo no seu blogue no Expresso. Se, como dizem os adeptos de Costa e alguma direita pedante, o importante é a personalidade dos candidatos, já que os futuros putativos primeiros-ministros serão todos mais ou menos socialistas, talvez acrescentasse: entre os dois Antónios, um Seguro, calimero auto vitimizado levado ao colo pelo aparelho socialista, e um Costa de discurso redondo, com falta de coragem nos momentos decisivos, levado ao colo pela bem-pensância e carregado de hipotecas ao socratismo, ao soarismo e outros ismos, ambos maus no género mau, escolheria um Pedro que já mostrou ser aceitável no género mau ou uma Maria Luís talvez boa no género mau.
O ruído do silêncio da gente honrada no PS é ensurdecedor (93) – A infâmia e a estupidez
O eurodeputado Carlos Zorrinho disse à agência Lusa que «o PS conseguiu travar pasta para social para Moedas». «Entre os socialistas, há quem esteja aliviado por o português não ter uma pasta económica», observou o Observador. Enquanto isso, António Galamba, da direcção do PS, considera que à escolha de Moedas apenas pode ser aplicado um adjectivo: “Ridículo”.
No contexto dos padrões domésticos da luta política ficar aliviado por Carlos Moedas não ter uma pasta económica ou considerar ridícula a sua escolha estará dentro do limite admissível à gente medíocre, ressabiada e mau carácter que anda por aí pendurada na política. Com um pouco mais de esforço, julgo até ser possível descontar uma acção, noutro contexto antipatriótica, de tentar travar uma pasta para a criatura.
Há, porém, um limite para tudo. E está para além desse limite a estupidez de confessar orgulhosamente a infâmia a uma agência de notícias.
No contexto dos padrões domésticos da luta política ficar aliviado por Carlos Moedas não ter uma pasta económica ou considerar ridícula a sua escolha estará dentro do limite admissível à gente medíocre, ressabiada e mau carácter que anda por aí pendurada na política. Com um pouco mais de esforço, julgo até ser possível descontar uma acção, noutro contexto antipatriótica, de tentar travar uma pasta para a criatura.
Há, porém, um limite para tudo. E está para além desse limite a estupidez de confessar orgulhosamente a infâmia a uma agência de notícias.
10/09/2014
Pro memoria (193) - Danos colaterais da falência do GES (3)
Continuação de (1) e (2)
O jogo do empurra entre o BdeP e a KPMG continua. Na entrevista a Sikander Sattar da KPMG, que o Expresso não publicou integralmente no sábado, este responsável revela que no dia 16 teria informado o BdeP de ter «tomado conhecimento da recompra de obrigações emitidas a partir de 11 de Julho com perdas significativas para o BES e que poderiam indiciar problemas».
Ainda na mesma entrevista, Sattar afirma que no dia 22 de Julho, isto é 3 dias antes do dia 25 em que Carlos Costa confirmou que o BES estava suficientemente capitalizado, a KPMG enviou um email ao «director de supervisão do BdP (informando) que foi detectado o esquema com as obrigações e que é possível que desta situação venham a ser identificados impactos significativos nas contas do BES».
Ainda no sábado, Pedro Duarte Neves emite um comunicado confirmando a reunião (inconclusiva, segundo ele) do dia 16 onde tenta desmentir Sattar com palavras ambíguas «não se tratava de uma situação esclarecida … não apresentou uma descrição completa …».
Como se, face a todos os factos graves já conhecidos e os indícios de factos ainda mais graves, fizesse sentido continuar a empurrar o problema com a barriga em vez de muitos meses antes fixar uma deadline à KPMG para apresentar um relatório factual e, talvez mesmo, fazer avançar uma auditoria forense.
Na 3.ª feira o BdeP divulga um comunicado onde informa que tinha sido retirado o pelouro da supervisão prudencial a Pedro Duarte Neves, a quem reportava o director de supervisão, principal responsável pelo acompanhamento do caso BES – uma confirmação indirecta que a equipa da supervisão poderá ter corneado Carlos Costa, para usar o plebeísmo de Francisco Granadeiro, um especialista nestas coisas.
Moral da estória:
O jogo do empurra entre o BdeP e a KPMG continua. Na entrevista a Sikander Sattar da KPMG, que o Expresso não publicou integralmente no sábado, este responsável revela que no dia 16 teria informado o BdeP de ter «tomado conhecimento da recompra de obrigações emitidas a partir de 11 de Julho com perdas significativas para o BES e que poderiam indiciar problemas».
Ainda na mesma entrevista, Sattar afirma que no dia 22 de Julho, isto é 3 dias antes do dia 25 em que Carlos Costa confirmou que o BES estava suficientemente capitalizado, a KPMG enviou um email ao «director de supervisão do BdP (informando) que foi detectado o esquema com as obrigações e que é possível que desta situação venham a ser identificados impactos significativos nas contas do BES».
Ainda no sábado, Pedro Duarte Neves emite um comunicado confirmando a reunião (inconclusiva, segundo ele) do dia 16 onde tenta desmentir Sattar com palavras ambíguas «não se tratava de uma situação esclarecida … não apresentou uma descrição completa …».
Como se, face a todos os factos graves já conhecidos e os indícios de factos ainda mais graves, fizesse sentido continuar a empurrar o problema com a barriga em vez de muitos meses antes fixar uma deadline à KPMG para apresentar um relatório factual e, talvez mesmo, fazer avançar uma auditoria forense.
Na 3.ª feira o BdeP divulga um comunicado onde informa que tinha sido retirado o pelouro da supervisão prudencial a Pedro Duarte Neves, a quem reportava o director de supervisão, principal responsável pelo acompanhamento do caso BES – uma confirmação indirecta que a equipa da supervisão poderá ter corneado Carlos Costa, para usar o plebeísmo de Francisco Granadeiro, um especialista nestas coisas.
Moral da estória:
- O DDT tinha de facto imenso poder: trazia há anos no bolso Sattar, que o visitava assiduamente e confirma as relações próximas com ele; provavelmente terá directa ou indirectamente pressionado Duarte Neves e seu director, pois não é verdade que não foi desmentida a estória da ameaça velada do DDT (já vi vários governadores aqui no BdeP e ainda posso ver mais, terá dito a Carlos Costa)?
- A KPMG falhou em toda a linha a identificação atempada de factos materialmente relevantes, como eles dizem no seu auditorês, e foi-se sempre refugiando na treta técnica e no formalismo;
- A supervisão prudencial do BdeP, também falhou, consumindo meses no jogo de pingue-pongue com a KPMG;
- Carlos Costa, que não pode ter deixado de intuir a gravidade do que estava em causa, ter-se-á deixado enrolar demasiado tempo na teia tecida pelo DDT e paralisado pela areia que a equipa de supervisão entornou nas engrenagens ou deixou que fosse entornada.
09/09/2014
O tigre celta e o tareco lusitano (5) – De como o professor João Ferreira do Amaral transforma o segundo no primeiro à custa de injecções
[Este post é uma sequência ilógica da série «O tigre celta e o tareco lusitano»]
«Aliás, não tenho isto estudado é apenas um ‘feeling', mas Portugal até poderia ser um caso sério de crescimento económico na União Europeia se tivesse esta ajuda cambial. Podia ser um verdadeiro tigre da Europa como foi a Irlanda, que aliás desvalorizou muito a sua moeda antes de entrar na moeda única e antes do tal milagre económico irlandês.» Foi o que disse o professor João Ferreira do Amaral entrevistado pelo Económico.
Numa questão desta magnitude, confessar que não estudou e só tem um «feeling» é ao mesmo tempo de uma grande honestidade e de uma grande irresponsabilidade por parte de um membro da economia mediática, que tem a seu favor ter sido dos pouquíssimos a ter apontado os riscos de uma economia como a portuguesa adoptar a disciplina monetária e fiscal imposta pela Zona Euro.
O certo é que nem é preciso muito estudo para concluir ser necessária uma dose considerável de fé para acreditar no milagre que a «ajuda cambial» faria a Portugal, a partir de uma hipotética saída do Euro, milagre que não fez durante mais de 2 décadas em que o melhor resultado foi 75% do PIB per capita ppc da Irlanda e com o euro pelo meio ainda desceu para 60%. E já nem falo do que se está agora a passar com a retoma do crescimento e o yield a 2 anos da Irlanda inferior a zero. Para arrumar o assunto reproduzo o quadro deste post do ano passado.
Ó senhor professor, perdoe-me a franqueza, mas para fazer de um tareco um tigre não chega abandonar o tareco à sua atávica indisciplina monetária e fiscal.
«Aliás, não tenho isto estudado é apenas um ‘feeling', mas Portugal até poderia ser um caso sério de crescimento económico na União Europeia se tivesse esta ajuda cambial. Podia ser um verdadeiro tigre da Europa como foi a Irlanda, que aliás desvalorizou muito a sua moeda antes de entrar na moeda única e antes do tal milagre económico irlandês.» Foi o que disse o professor João Ferreira do Amaral entrevistado pelo Económico.
Numa questão desta magnitude, confessar que não estudou e só tem um «feeling» é ao mesmo tempo de uma grande honestidade e de uma grande irresponsabilidade por parte de um membro da economia mediática, que tem a seu favor ter sido dos pouquíssimos a ter apontado os riscos de uma economia como a portuguesa adoptar a disciplina monetária e fiscal imposta pela Zona Euro.
O certo é que nem é preciso muito estudo para concluir ser necessária uma dose considerável de fé para acreditar no milagre que a «ajuda cambial» faria a Portugal, a partir de uma hipotética saída do Euro, milagre que não fez durante mais de 2 décadas em que o melhor resultado foi 75% do PIB per capita ppc da Irlanda e com o euro pelo meio ainda desceu para 60%. E já nem falo do que se está agora a passar com a retoma do crescimento e o yield a 2 anos da Irlanda inferior a zero. Para arrumar o assunto reproduzo o quadro deste post do ano passado.
Ó senhor professor, perdoe-me a franqueza, mas para fazer de um tareco um tigre não chega abandonar o tareco à sua atávica indisciplina monetária e fiscal.
08/09/2014
A entrevista mais estúpida do ano (até agora)
Embora o Revista do Expresso a qualifique como entrevista, em rigor trata-se de um debate entre uma jornalista completamente ignorante (*) do sistema bancário e Fernando Ulrich, presidente executivo do BPI, provavelmente o banco com melhor saúde a operar em Portugal, a par do Santander Totta (declaração de interesse: são os dois bancos em que tenho contas há muitos anos).
Do princípio ao fim, a jornalista mais cosmopolita de Paço de Arcos, também conhecida como Pluma Caprichosa, título da coluna da Revista que alimenta com o relato das suas excursões aos sítios mais recônditos da terra, debita recorrentemente a sua agenda bancária e em particular a sua agenda para o caso BES, introduzindo cada questão com a própria opinião. Insatisfeita com a resposta, insiste na questão seguinte com prolegómenos da sua ciência bancária e leva até ao limite a pachorra de Ulrich. Ela está contra serem os bancos a pagar o bail out do BES pelo Fundo de Resolução, ela está contra serem os contribuintes a pagar, ela está contra quem quer que seja a pagar, salvo uma entidade mítica chamada Europa.
Se houvesse jornalismo profissional e independente em Portugal, esta peça seria acrescentada à lista de cases study sobre como não fazer entrevistas, de que já faz parte a entrevista promocional pela mesma plumitiva a José Sócrates - ver série de posts «Autópsia de uma entrevista do «chefe democrático que a direita sempre quis ter».
(*) O que diriam estes jornalistas que praticam a tudologia se Camilo Lourenço, ou outro jornalista qualificado nestes temas, fizesse uma entrevista a Philip Roth recheada de considerações ignorantes sobre a literatura americana moderna?
Do princípio ao fim, a jornalista mais cosmopolita de Paço de Arcos, também conhecida como Pluma Caprichosa, título da coluna da Revista que alimenta com o relato das suas excursões aos sítios mais recônditos da terra, debita recorrentemente a sua agenda bancária e em particular a sua agenda para o caso BES, introduzindo cada questão com a própria opinião. Insatisfeita com a resposta, insiste na questão seguinte com prolegómenos da sua ciência bancária e leva até ao limite a pachorra de Ulrich. Ela está contra serem os bancos a pagar o bail out do BES pelo Fundo de Resolução, ela está contra serem os contribuintes a pagar, ela está contra quem quer que seja a pagar, salvo uma entidade mítica chamada Europa.
Se houvesse jornalismo profissional e independente em Portugal, esta peça seria acrescentada à lista de cases study sobre como não fazer entrevistas, de que já faz parte a entrevista promocional pela mesma plumitiva a José Sócrates - ver série de posts «Autópsia de uma entrevista do «chefe democrático que a direita sempre quis ter».
(*) O que diriam estes jornalistas que praticam a tudologia se Camilo Lourenço, ou outro jornalista qualificado nestes temas, fizesse uma entrevista a Philip Roth recheada de considerações ignorantes sobre a literatura americana moderna?
Pro memoria (192) – Mudam-se os tempos, permanecem as vontades
Após um hiato de 4 anos, volto a fazer uma referência ao Global Competitiveness Report do World Economic Forum. Depois de vários anos a cair no ranking (desde 2009-10 até 2013-14, respectivamente 43.º, 46.º, 45.º, 49.º e 51.º), Portugal ganha 15 lugares e sobe a 36.º em 2014-15.
A exemplo do que fiz em 2010, assinalei na lista seguinte a posição de Portugal em cada um dos indicadores do Índice de Competitividade Global a verde os indicadores onde Portugal está posicionado no 1.º decil e a rosa aqueles em que Portugal está classificado no último quartil.
Relativamente a 2010 há melhorias em termos relativos em vários pilares: institucional, educação superior e formação, eficiência do mercado de bens, disponibilidade de tecnologia e inovação. Persistem as fragilidades quando ao mercado de trabalho.
Quanto à dificuldade de fazer negócios, os factores mais problemáticos de 2010-11 mantém-se todos em 2014-15 com importâncias relativas sem grandes alterações.
Em resumo, quatro anos depois, melhorias em vários factores, mas quase os mesmos problemas, alguns deles agravados como a burocracia governamental, a fiscalidade e a lei fiscal, a corrupção, falta de ética no trabalho, entre outros.
A exemplo do que fiz em 2010, assinalei na lista seguinte a posição de Portugal em cada um dos indicadores do Índice de Competitividade Global a verde os indicadores onde Portugal está posicionado no 1.º decil e a rosa aqueles em que Portugal está classificado no último quartil.
Relativamente a 2010 há melhorias em termos relativos em vários pilares: institucional, educação superior e formação, eficiência do mercado de bens, disponibilidade de tecnologia e inovação. Persistem as fragilidades quando ao mercado de trabalho.
Quanto à dificuldade de fazer negócios, os factores mais problemáticos de 2010-11 mantém-se todos em 2014-15 com importâncias relativas sem grandes alterações.
Em resumo, quatro anos depois, melhorias em vários factores, mas quase os mesmos problemas, alguns deles agravados como a burocracia governamental, a fiscalidade e a lei fiscal, a corrupção, falta de ética no trabalho, entre outros.
De boas intenções está o inferno cheio (23) - O «1984» de Orwell chega a 2014 pela mão da esquerda inteligente
À conta de uma patológica aversão ao risco, a esquerda inteligente (e a estúpida também) ambiciona meter o Estado nas nossas vidas, nas nossas casas, nas nossas camas e até nas nossas meninges. Veja-se o exemplo da escritora de Inês Pedrosa, ex-directora da Casa Fernando Pessoa.
Na sua coluna no jornal SOL do semana passada, para prevenir casos de crianças que «morreram às mãos das famílias, brutalmente torturadas», Inês Pedrosa preconiza «abrir a intimidade do lar à vistoria dos técnicos» o que, inevitavelmente, implica o governo criar «um plano para assegurar que os direitos essenciais das crianças … sejam cumpridos», porque, «os nossos filhos não são propriedade nossa», diz ela, são propriedade do Estado, infiro eu.
Quem diz «um plano para assegurar os direitos essenciais das crianças» e a respectiva «vistoria dos técnicos», diz um plano e uma vistoria para assegurar os direitos essenciais das mulheres, das pessoas diminuídas e das minorias, incluindo o homem branco heterossexual, dos cães, dos gatos e dos animais em geral.
Na sua coluna no jornal SOL do semana passada, para prevenir casos de crianças que «morreram às mãos das famílias, brutalmente torturadas», Inês Pedrosa preconiza «abrir a intimidade do lar à vistoria dos técnicos» o que, inevitavelmente, implica o governo criar «um plano para assegurar que os direitos essenciais das crianças … sejam cumpridos», porque, «os nossos filhos não são propriedade nossa», diz ela, são propriedade do Estado, infiro eu.
Quem diz «um plano para assegurar os direitos essenciais das crianças» e a respectiva «vistoria dos técnicos», diz um plano e uma vistoria para assegurar os direitos essenciais das mulheres, das pessoas diminuídas e das minorias, incluindo o homem branco heterossexual, dos cães, dos gatos e dos animais em geral.
07/09/2014
CASE STUDY: MST cansou-se de estar lúcido (outra vez)
Regressado de férias, Miguel Sousa Tavares sucumbiu uma vez mais aos seus ódios de estimação pela Alemanha e pelo governo PSD-CDS (uma espécie de negativo do seu entranhado amor pelos governos de José Sócrates e pelo próprio animal feroz), que lhe toldam a lucidez já em si dificilmente compatível com a tudologia que o autoriza a perorar sobre muitas coisas das quais ignora quase tudo. É o caso da seguinte passagem da sua coluna de sábado no Expresso, passagem que é uma exemplar combinação de ignorância, pesporrência e alucinação. Ora leia-se:
«Mas este é o mesmo Governo que corre pressuroso em apoio de Schäuble, quando este, com toda a delicadeza de que os alemães são capazes, desanca o presidente do Banco Central Europeu, que teve a ousadia de sugerir que a austeridade não estava a resultar e seria altura de inverter caminho. Francamente, não consigo entender que interesse nacional descortina o nosso Governo em ver os alemães sentados em cima de um monte de dinheiro, recusando-se a abrir o seu mercado às exportações dos países sentados em cima de um monte de dívida e que, de outro modo, não têm hipótese alguma de ver a luz do sol. Não sendo por ignorância nem por masoquismo, só pode ser por teimosia e fundamentalismo ideológico.»
Qual monte de dinheiro? Os 80% de dívida pública da Alemanha? Recusam-se a abrir o mercado às exportações? Saberá MST que desde a fundação da CEE há quase 60 anos são proibidas restrições à livre circulação de mercadorias no espaço económico europeu? Tamanho dislate, «não sendo por ignorância nem por masoquismo, só pode ser por teimosia e fundamentalismo ideológico».
«Mas este é o mesmo Governo que corre pressuroso em apoio de Schäuble, quando este, com toda a delicadeza de que os alemães são capazes, desanca o presidente do Banco Central Europeu, que teve a ousadia de sugerir que a austeridade não estava a resultar e seria altura de inverter caminho. Francamente, não consigo entender que interesse nacional descortina o nosso Governo em ver os alemães sentados em cima de um monte de dinheiro, recusando-se a abrir o seu mercado às exportações dos países sentados em cima de um monte de dívida e que, de outro modo, não têm hipótese alguma de ver a luz do sol. Não sendo por ignorância nem por masoquismo, só pode ser por teimosia e fundamentalismo ideológico.»
Qual monte de dinheiro? Os 80% de dívida pública da Alemanha? Recusam-se a abrir o mercado às exportações? Saberá MST que desde a fundação da CEE há quase 60 anos são proibidas restrições à livre circulação de mercadorias no espaço económico europeu? Tamanho dislate, «não sendo por ignorância nem por masoquismo, só pode ser por teimosia e fundamentalismo ideológico».
Dúvidas (48) - Estarão a pensar criar uma sucursal do gulag ou um kolkhozy no Seixal?
«O PCP anunciou na abertura da 38.ª "Festa do Avante!", a compra de mais sete hectares contíguos à Quinta da Atalaia, no Seixal, por cerca de 950 mil euros, prevendo uma campanha de angariação de fundos para pagar.» (Visão)
QUEM SÓ TEM UM MARTELO VÊ TODOS OS PROBLEMAS COMO PREGOS: O alívio quantitativo aliviará?
Mario Draghi incluiu em Junho, no seu «whatever it takes» de Julho de 2012, as TLTRO (operações de financiamento de médio longo prazo) e adicionou a semana passada a redução da taxa directora de 0,15% para 0,05% e um novo programa de aquisição de ABS (asset backed securities) emitidos por empresas privadas não financeiras e um programa de compra de covered bonds emitidas por entidades financeiras, com vista a impulsionar o crédito à economia e estimular o crescimento.
Quase toda a gente ficou muito feliz com esta espécie de QE (quantitative easing), em particular os keynesianos que andam preocupadíssimos com a deflacção. Antes de embandeirar em arco conviria, em primeiro lugar, não esquecer que o efeito marginal da redução da taxa directora, esgotado o efeito psicológico momentâneo será provavelmente insignificante. As novas operações TLTRO são as velhas LTRO com mais o T de Targeted e passam a depender do crédito concedido pelos bancos (excepto crédito hipotecário). Quanto ao «Quantitative easing» - em português costuma-se traduzir por «alívio quantitativo» - é o nome eufemístico e politicamente correcto para a criação de moeda por via da compra de activos pelo banco central, equivalente no passado à impressora fazer horas extraordinárias. Em segundo lugar conviria ter em conta umas quantas outras coisas.
A começar porque nos EU, onde muitas empresas se financiam através da emissão de obrigações de médio e curto prazo (entre nós, papel comercial), a compra de ABS pela Fed é, de facto, um eficaz facilitador do crédito que poderá fazer sentido para financiar o investimento produtivo compensando a aversão ao risco dos bancos depois de lhes estalarem nas mãos as castanhas do mal-parado. Diferentemente, na Europa, o financiamento das empresas, salvo das grandes, em Portugal quase todas sistematicamente descapitalizadas, é pela via do crédito bancário. Por isso, a eficácia da compra de ABS pelo BCE é muito discutível, visto que as empresas privadas que se financiam principalmente por obrigações e papel comercial só marginalmente recorrem ao crédito bancário em operações de tesouraria.
A continuar porque o programa de compra de covered bonds não é exactamente uma novidade – foi pela primeira vez adoptado em Julho de 2009 e a sua principal serventia (e não foi pouca) foi permitir aos bancos continuarem a comprar dívida pública a taxa altas com dinheiro do BCE a taxas insignificantes.
Por último, por agora, pelo facto de este tipo de receitas ao fim de 6 anos e triliões de dólares derramados na economia só deu magros resultados nos Estados Unidos. A prazo poderá ter outros resultados, esses substanciais, na criação da próxima bolha, como temos alertado no (Im)pertinências - ver, por exemplo, aqui e aqui.
No caso do Japão, depois de um ano e meio de Abenomics - as políticas económicas, monetárias e fiscais do actual primeiro-ministro - apesar de a deflação se ter convertido em inflação de 3,6%, a mais alta entre os países ricos, o crescimento previsto para 2014 é anémico de apenas de 1,4%, inferior até ao da Alemanha.
Quase toda a gente ficou muito feliz com esta espécie de QE (quantitative easing), em particular os keynesianos que andam preocupadíssimos com a deflacção. Antes de embandeirar em arco conviria, em primeiro lugar, não esquecer que o efeito marginal da redução da taxa directora, esgotado o efeito psicológico momentâneo será provavelmente insignificante. As novas operações TLTRO são as velhas LTRO com mais o T de Targeted e passam a depender do crédito concedido pelos bancos (excepto crédito hipotecário). Quanto ao «Quantitative easing» - em português costuma-se traduzir por «alívio quantitativo» - é o nome eufemístico e politicamente correcto para a criação de moeda por via da compra de activos pelo banco central, equivalente no passado à impressora fazer horas extraordinárias. Em segundo lugar conviria ter em conta umas quantas outras coisas.
A começar porque nos EU, onde muitas empresas se financiam através da emissão de obrigações de médio e curto prazo (entre nós, papel comercial), a compra de ABS pela Fed é, de facto, um eficaz facilitador do crédito que poderá fazer sentido para financiar o investimento produtivo compensando a aversão ao risco dos bancos depois de lhes estalarem nas mãos as castanhas do mal-parado. Diferentemente, na Europa, o financiamento das empresas, salvo das grandes, em Portugal quase todas sistematicamente descapitalizadas, é pela via do crédito bancário. Por isso, a eficácia da compra de ABS pelo BCE é muito discutível, visto que as empresas privadas que se financiam principalmente por obrigações e papel comercial só marginalmente recorrem ao crédito bancário em operações de tesouraria.
A continuar porque o programa de compra de covered bonds não é exactamente uma novidade – foi pela primeira vez adoptado em Julho de 2009 e a sua principal serventia (e não foi pouca) foi permitir aos bancos continuarem a comprar dívida pública a taxa altas com dinheiro do BCE a taxas insignificantes.
Por último, por agora, pelo facto de este tipo de receitas ao fim de 6 anos e triliões de dólares derramados na economia só deu magros resultados nos Estados Unidos. A prazo poderá ter outros resultados, esses substanciais, na criação da próxima bolha, como temos alertado no (Im)pertinências - ver, por exemplo, aqui e aqui.
«The Light At The End Of The Quantitative Easing Tunnel», Jieming See, Seaking Alpha |
No caso do Japão, depois de um ano e meio de Abenomics - as políticas económicas, monetárias e fiscais do actual primeiro-ministro - apesar de a deflação se ter convertido em inflação de 3,6%, a mais alta entre os países ricos, o crescimento previsto para 2014 é anémico de apenas de 1,4%, inferior até ao da Alemanha.
06/09/2014
ACREDITE SE QUISER: A fabulosa estória de um verbo-de-encher que entrava mudo e saía calado
A estória passa-se no coração do que costumo chamar, inspirado no complexo militar-industrial de Eisenhower, o complexo político-empresarial socialista, que administra o capitalismo de compadres, como lhe chamou recentemente Sarsfield Cabral. Esse complexo «socialista» não é apenas do socialismo do PS; é-o igualmente do socialismo do PSD e do CDS, este último por vezes o partido mais socialista, por força da demagogia e oportunismo de Paulo Portas que espreita todas as oportunidades de engraxar a psique colectivista do eleitorado.
É uma estória iluminante que em si mesma diz mais sobre o complexo político-empresarial socialista e o capitalismo de compadres do que uma tese de mestrado.
A personagem central da estória é o advogado Nuno Godinho de Matos, fundador do Partido Socialista, uma vez portador de uma mala com dinheiro dos socialistas europeus para Mário Soares, apoiante de António Costa, vice-presidente da Ordem dos Advogados «cooptado» por Marinho e Pinto, colaborador há décadas de Daniel Proença de Carvalho. Em 1995, Godinho de Matos foi convidado para administrador não executivo do BES porque, segundo as suas palavras, «havia quem defendesse a vantagem de incluir no conselho de administração alguém ligado à resistência ao antigo regime, de esquerda, e que não fosse profissional da atividade política» - um exemplo da estratégia do Ricardo Salgado de colocar ovos em todos os cestos que interessavam, estratégia que fez dele o DDT.
Godinho de Matos, depois de um jantar com Ricardo Salgado, a quem explicou que «sabia tanto de bancos como de calceteiro», aceitou o convite. Desde então lá participou em 4 ou 5 reuniões «pró-forma» por ano, nas quais os administradores não executivos eram «verdadeiros verbos de encher, um acessório na toilete de uma senhora», e «não havia perguntas não porque não pudesse haver, mas porque jamais alguém as fez». «Em seis anos nunca abri a boca, entrava mudo e saía calado», segundo as suas palavras na entrevista ao i. Por essa maçada, Godinho de Matos recebia 2.400 por reunião – contudo, segundo documentos depositados na CMVM, teria recebido 42 mil euros em 2013.
Quando tudo ruiu, Godinho de Matos não hesita em branquear a sua passagem de quase duas décadas pelo BES e apontar o dedo ao Banco de Portugal, CMVM e às «empresas de auditoria, que nunca se aperceberam do que quer que fosse». Distraidamente deixa cair uma afirmação que é um libelo contra si próprio e todos os que podiam e deviam ter visto: «nem o argumento de que foi na segunda quinzena de julho que se constituiu a dívida de 1.500 milhões de euros, que é real, cola, porque existe tudo o que está para trás».
É uma estória iluminante que em si mesma diz mais sobre o complexo político-empresarial socialista e o capitalismo de compadres do que uma tese de mestrado.
A personagem central da estória é o advogado Nuno Godinho de Matos, fundador do Partido Socialista, uma vez portador de uma mala com dinheiro dos socialistas europeus para Mário Soares, apoiante de António Costa, vice-presidente da Ordem dos Advogados «cooptado» por Marinho e Pinto, colaborador há décadas de Daniel Proença de Carvalho. Em 1995, Godinho de Matos foi convidado para administrador não executivo do BES porque, segundo as suas palavras, «havia quem defendesse a vantagem de incluir no conselho de administração alguém ligado à resistência ao antigo regime, de esquerda, e que não fosse profissional da atividade política» - um exemplo da estratégia do Ricardo Salgado de colocar ovos em todos os cestos que interessavam, estratégia que fez dele o DDT.
Godinho de Matos, depois de um jantar com Ricardo Salgado, a quem explicou que «sabia tanto de bancos como de calceteiro», aceitou o convite. Desde então lá participou em 4 ou 5 reuniões «pró-forma» por ano, nas quais os administradores não executivos eram «verdadeiros verbos de encher, um acessório na toilete de uma senhora», e «não havia perguntas não porque não pudesse haver, mas porque jamais alguém as fez». «Em seis anos nunca abri a boca, entrava mudo e saía calado», segundo as suas palavras na entrevista ao i. Por essa maçada, Godinho de Matos recebia 2.400 por reunião – contudo, segundo documentos depositados na CMVM, teria recebido 42 mil euros em 2013.
Quando tudo ruiu, Godinho de Matos não hesita em branquear a sua passagem de quase duas décadas pelo BES e apontar o dedo ao Banco de Portugal, CMVM e às «empresas de auditoria, que nunca se aperceberam do que quer que fosse». Distraidamente deixa cair uma afirmação que é um libelo contra si próprio e todos os que podiam e deviam ter visto: «nem o argumento de que foi na segunda quinzena de julho que se constituiu a dívida de 1.500 milhões de euros, que é real, cola, porque existe tudo o que está para trás».
05/09/2014
O ruído do silêncio da gente honrada no PS é ensurdecedor (92) - Porquê Vara e Penedos tentaram entalar o amigo?
Um tanto surpreendentemente, pelo menos para mim, vários membros do gangue da «Face Oculta» liderado por Armando Vara, durante vários anos o acólito principal de José Sócrates, e composto por 36 outros cúmplices com destaque para José Penedos, foram condenados a prisão (Vara e Penedos a 5 anos e o sucateiro a 17 anos).
Sabendo-se da proximidade do gangue a José Sócrates e sabendo-se que este foi escutado, certamente não a falar sobre o estado do tempo à época, como explicar que Vara e Penedos requereram ao tribunal a não destruição das gravações e da sua transcrição, provas que com toda a probabilidade só poderiam sujar mais (supondo que tal fosse possível) a reputação de Sócrates?
Sabendo-se da proximidade do gangue a José Sócrates e sabendo-se que este foi escutado, certamente não a falar sobre o estado do tempo à época, como explicar que Vara e Penedos requereram ao tribunal a não destruição das gravações e da sua transcrição, provas que com toda a probabilidade só poderiam sujar mais (supondo que tal fosse possível) a reputação de Sócrates?
ARTIGO DEFUNTO: A diferença entre ter boa e má imprensa
«Maria João Rodrigues quer ser comissária europeia»
«Seguro quer Maria João Rodrigues na Comissão Europeia»
Maria João Rodrigues admite ao i vontade de ser comissária europeia: “Estou particularmente preparada”
«Moedas vai a exame para comissário europeu»
«Antes de poder ser comissário europeu, Moedas vai a exame»
«Moedas já foi ao exame com Juncker»
«Seguro quer Maria João Rodrigues na Comissão Europeia»
Maria João Rodrigues admite ao i vontade de ser comissária europeia: “Estou particularmente preparada”
«Moedas vai a exame para comissário europeu»
«Antes de poder ser comissário europeu, Moedas vai a exame»
«Moedas já foi ao exame com Juncker»
04/09/2014
SERVIÇO PÚBLICO: A hermêutica do discurso de Mario Draghi em Jacksonhole
Diferentemente do que o título deste post possa sugerir não vou juntar-me às resmas de comentadores que gastaram os seus limitados talentos a interpretar o discurso de Mario Draghi. Por falta de vocação, mas também porque, como lembrou Maria Luís Albuquerque a esse propósito, os governadores centrais praticam deliberadamente um discurso ambíguo comparável ao dos feiticeiros que lêem o futuro ou o passado nas vísceras das bichezas. Pois não é verdade que Alan Greenspan, presidente da Fed durante 20 anos, chegou a adjectivar os seus discursos como «mumble-jumble» garantindo que ficaria preocupado se alguém os entendesse?
Vou apenas referir alguns aspectos relacionados com a suposta adequação do Quantitative Easing nas condições actuais da Eurozona e da suposta inclinação de Mario Draghi para o adoptar, servindo-me de um excelente artigo de Stephanie Flanders, chief market strategist para a Europe no JPMorgan Asset Management, publicado no FT na semana passada.
«At the annual gathering of central bankers last month, the president of the European Central Bank called for more “growth-friendly” fiscal policy across the eurozone and admitted markets had lost faith in his ability to revive inflation. It is conceivable that his speech marked the birth of Japanese-style Abenomics in Europe. It has certainly pushed the ECB several steps down the road to US-style quantitative easing – large-scale purchases of government bonds.
QE is not the answer to Europe’s problems. It is probably not even a lasting solution to the problem of low inflation. In this, the “hawks” at the ECB who have resisted this step are right, and their more simplistic critics are wrong.
But, as Mr Draghi knows better than most, when it comes to the eurozone we left the world of ideal solutions a long time ago. The question is whether the ECB has reached the point where large-scale QE will do more good than harm, not just for the short-term strength of the economy but for its longer-term health as well.
Vou apenas referir alguns aspectos relacionados com a suposta adequação do Quantitative Easing nas condições actuais da Eurozona e da suposta inclinação de Mario Draghi para o adoptar, servindo-me de um excelente artigo de Stephanie Flanders, chief market strategist para a Europe no JPMorgan Asset Management, publicado no FT na semana passada.
«At the annual gathering of central bankers last month, the president of the European Central Bank called for more “growth-friendly” fiscal policy across the eurozone and admitted markets had lost faith in his ability to revive inflation. It is conceivable that his speech marked the birth of Japanese-style Abenomics in Europe. It has certainly pushed the ECB several steps down the road to US-style quantitative easing – large-scale purchases of government bonds.
QE is not the answer to Europe’s problems. It is probably not even a lasting solution to the problem of low inflation. In this, the “hawks” at the ECB who have resisted this step are right, and their more simplistic critics are wrong.
But, as Mr Draghi knows better than most, when it comes to the eurozone we left the world of ideal solutions a long time ago. The question is whether the ECB has reached the point where large-scale QE will do more good than harm, not just for the short-term strength of the economy but for its longer-term health as well.
03/09/2014
ESTÓRIA E MORAL: Já se têm ganho batalhas em guerra perdidas (2)
[Este post é uma espécie de actualização deste]
«Portugal realizou hoje uma emissão de dívida de longo prazo, com maturidade de 15 anos, a primeira desde 2008.
O montante da operação ascendeu a 3.5 mil milhões de euros, 500 milhões acima do valor inicialmente previsto pelo Instituto de Gestão do Crédito Público. A taxa de juro implícita situou-se próxima de 3.9%, com o spread a ficar abaixo do nível inicialmente previsto (235 bps), o que reflecte a expressiva procura por parte dos investidores, com as ordens a superarem os 8 mil milhões de euros.
No mercado secundário as yields da dívida soberana com maturidade a 10 anos transaccionam próximo de 3.24%, depois de terem alcançado novos mínimos históricos, abaixo de 3% na passada 4ª feira.»
(Fonte: newsletter do BPI)
Moral da estória
Não deitemos foguetes antes de tempo porque a procissão ainda vai no adro.
Declaração de interesse
Só quem denunciou as políticas suicidas de endividamento, não embarcou na ilusão dos governos socialistas de que as taxas baixas resultavam da saúde financeira do Estado, não inventou teorias da conspiração acerca das agências de rating, da dona Merkel, dos ianques and so on, como os contribuintes do (Im)pertinências, entre não muitos outros, tem legitimidade para referir-se ao acesso aos mercados desta maneira.
Quem andou anos a viver de mitologias e a inventar teorias da conspiração terá de: 1.º reconhecer a sua burrice e/ou falta da honestidade intelectual; 2.º bater com a cabeça na parede e pedir desculpa aos visados; 3.º estudar estas matérias e, só então, 4.º escrever sobre elas com a humildade que os ignorantes e/ou arrependidos devem demonstrar.
Aditamento
Está na hora de começar a usar a almoçada de liquidez - mais de 20 mil milhões de euros com esta emissão - para negociar com a troika a antecipação de algumas maturidades com taxas mais altas.
«Portugal realizou hoje uma emissão de dívida de longo prazo, com maturidade de 15 anos, a primeira desde 2008.
O montante da operação ascendeu a 3.5 mil milhões de euros, 500 milhões acima do valor inicialmente previsto pelo Instituto de Gestão do Crédito Público. A taxa de juro implícita situou-se próxima de 3.9%, com o spread a ficar abaixo do nível inicialmente previsto (235 bps), o que reflecte a expressiva procura por parte dos investidores, com as ordens a superarem os 8 mil milhões de euros.
No mercado secundário as yields da dívida soberana com maturidade a 10 anos transaccionam próximo de 3.24%, depois de terem alcançado novos mínimos históricos, abaixo de 3% na passada 4ª feira.»
(Fonte: newsletter do BPI)
Moral da estória
Não deitemos foguetes antes de tempo porque a procissão ainda vai no adro.
Declaração de interesse
Só quem denunciou as políticas suicidas de endividamento, não embarcou na ilusão dos governos socialistas de que as taxas baixas resultavam da saúde financeira do Estado, não inventou teorias da conspiração acerca das agências de rating, da dona Merkel, dos ianques and so on, como os contribuintes do (Im)pertinências, entre não muitos outros, tem legitimidade para referir-se ao acesso aos mercados desta maneira.
Quem andou anos a viver de mitologias e a inventar teorias da conspiração terá de: 1.º reconhecer a sua burrice e/ou falta da honestidade intelectual; 2.º bater com a cabeça na parede e pedir desculpa aos visados; 3.º estudar estas matérias e, só então, 4.º escrever sobre elas com a humildade que os ignorantes e/ou arrependidos devem demonstrar.
Aditamento
Está na hora de começar a usar a almoçada de liquidez - mais de 20 mil milhões de euros com esta emissão - para negociar com a troika a antecipação de algumas maturidades com taxas mais altas.
Pro memoria (191) - Danos colaterais da falência do GES (2)
Uma continuação de (1)
Há pessoas ou instituições a quem não se pode tirar a nódoa da caderneta pelo que se passou no GES em geral e no BES em particular. No topo da lista somos obrigados a colocar o DDT Ricardo Salgado, seguido dos seus mais próximos acólitos que ocuparam os cargos de administração nas empresas em que se verificaram «irregularidades» (chamemos-lhe assim para evitar chocar as almas sensíveis) e que nelas intervieram ou consentiram que tivessem lugar.
A seguir na lista devemos colocar os órgãos de fiscalização dessas empresas (no caso do BES a Comissão de Auditoria, recheada de sumidades) que tinham obrigação legal de fiscalizar e denunciar «irregularidades», tinham responsabilidades legais na nomeação do ROC (Revisor Oficial de Contas) e na fiscalização da revisão de contas.
Logo a seguir aos órgãos de fiscalização, vem o ROC, que no caso do BES é a KPMG - em rigor uma sua subsidiária que é uma SROC (sociedade de revisores oficiais de contas) -, que desempenha também o papel de auditor e tem a obrigação legal de aplicar as «Normas Técnicas de Revisão Legal de Contas» e deveria ter identificado todas as «irregularidades» e não poderia ter emitido uma certificação legal de contas sem reservas, como fez.
E chegamos assim ao Banco de Portugal, a quem de acordo com a sua Lei Orgânica (Lei 5/98, de 31 de janeiro, com sucessivas alterações), «compete a supervisão das instituições de crédito, sociedades financeiras e outras entidades que lhe estejam legalmente sujeitas, nomeadamente estabelecendo diretivas para a sua atuação e para assegurar os serviços de centralização de riscos de crédito, bem como aplicando-lhes medidas de intervenção preventiva e corretiva, nos termos da legislação que rege a supervisão financeira». Como se vê, o BdeP não é uma espécie de backup dos órgãos de fiscalização e do ROC a quem compita fiscalizar o que os órgãos de fiscalização não fiscalizam ou rever as contas que o ROC não revê. Não há nem pode haver em país algum supervisão sem fiscalização pelos órgãos sociais e revisão pelo ROC. A responsabilidade do BdeP a este respeito é uma responsabilidade de segunda linha e consiste em tomar medidas que garantam que a fiscalização e a revisão são feitas de modo adequado.
É claro agora que o BdeP pode não ter tomado as medidas certas no momento certo, e por isso deve ser responsabilizado, mas confundir estes papéis, é parecido com responsabilizar um polícia pelo crime cometido por um criminoso. Pode ser muito conveniente para limpar a caderneta do criminoso mas não é sério.
É neste contexto que se deve julgar a decisão da KPMG de emitir agora um «relatório de revisão limitada» por considerar que «não foi possível obter prova suficiente e apropriada para proporcionar uma base para a emissão do presente relatório sobre a revisão semestral». Admitamos que a KPMG não teve de facto, agora, acesso a «prova suficiente e apropriada». Tê-la-á tido durante os vários anos em que emitiu sem quaisquer reservas relatórios de revisão e certificações legal de contas com «irregularidades» de milhares de milhões?
Acresce que a KPMG não relevou uma insuficiência de capital do velho BES, que agora se pode estimar em muito mais de 5 mil milhões se somarmos aos 4,9 mil milhões injectados pelo Fundo de Recuperação no Novo Banco os capitais próprios negativos do velho BES. Como explicar o súbito escrúpulo de concluir agora que o Novo Banco pode não ter os capitais suficientes?
Como podem estas conclusões tardias compreender-se ao mesmo tempo que a mesma KPMG (será de facto a mesma?) continua a não assumir qualquer erro ou omissão na revisão durante repetidos anos das contas do velho BES?
Há pessoas ou instituições a quem não se pode tirar a nódoa da caderneta pelo que se passou no GES em geral e no BES em particular. No topo da lista somos obrigados a colocar o DDT Ricardo Salgado, seguido dos seus mais próximos acólitos que ocuparam os cargos de administração nas empresas em que se verificaram «irregularidades» (chamemos-lhe assim para evitar chocar as almas sensíveis) e que nelas intervieram ou consentiram que tivessem lugar.
A seguir na lista devemos colocar os órgãos de fiscalização dessas empresas (no caso do BES a Comissão de Auditoria, recheada de sumidades) que tinham obrigação legal de fiscalizar e denunciar «irregularidades», tinham responsabilidades legais na nomeação do ROC (Revisor Oficial de Contas) e na fiscalização da revisão de contas.
Logo a seguir aos órgãos de fiscalização, vem o ROC, que no caso do BES é a KPMG - em rigor uma sua subsidiária que é uma SROC (sociedade de revisores oficiais de contas) -, que desempenha também o papel de auditor e tem a obrigação legal de aplicar as «Normas Técnicas de Revisão Legal de Contas» e deveria ter identificado todas as «irregularidades» e não poderia ter emitido uma certificação legal de contas sem reservas, como fez.
E chegamos assim ao Banco de Portugal, a quem de acordo com a sua Lei Orgânica (Lei 5/98, de 31 de janeiro, com sucessivas alterações), «compete a supervisão das instituições de crédito, sociedades financeiras e outras entidades que lhe estejam legalmente sujeitas, nomeadamente estabelecendo diretivas para a sua atuação e para assegurar os serviços de centralização de riscos de crédito, bem como aplicando-lhes medidas de intervenção preventiva e corretiva, nos termos da legislação que rege a supervisão financeira». Como se vê, o BdeP não é uma espécie de backup dos órgãos de fiscalização e do ROC a quem compita fiscalizar o que os órgãos de fiscalização não fiscalizam ou rever as contas que o ROC não revê. Não há nem pode haver em país algum supervisão sem fiscalização pelos órgãos sociais e revisão pelo ROC. A responsabilidade do BdeP a este respeito é uma responsabilidade de segunda linha e consiste em tomar medidas que garantam que a fiscalização e a revisão são feitas de modo adequado.
É claro agora que o BdeP pode não ter tomado as medidas certas no momento certo, e por isso deve ser responsabilizado, mas confundir estes papéis, é parecido com responsabilizar um polícia pelo crime cometido por um criminoso. Pode ser muito conveniente para limpar a caderneta do criminoso mas não é sério.
É neste contexto que se deve julgar a decisão da KPMG de emitir agora um «relatório de revisão limitada» por considerar que «não foi possível obter prova suficiente e apropriada para proporcionar uma base para a emissão do presente relatório sobre a revisão semestral». Admitamos que a KPMG não teve de facto, agora, acesso a «prova suficiente e apropriada». Tê-la-á tido durante os vários anos em que emitiu sem quaisquer reservas relatórios de revisão e certificações legal de contas com «irregularidades» de milhares de milhões?
Acresce que a KPMG não relevou uma insuficiência de capital do velho BES, que agora se pode estimar em muito mais de 5 mil milhões se somarmos aos 4,9 mil milhões injectados pelo Fundo de Recuperação no Novo Banco os capitais próprios negativos do velho BES. Como explicar o súbito escrúpulo de concluir agora que o Novo Banco pode não ter os capitais suficientes?
Como podem estas conclusões tardias compreender-se ao mesmo tempo que a mesma KPMG (será de facto a mesma?) continua a não assumir qualquer erro ou omissão na revisão durante repetidos anos das contas do velho BES?
02/09/2014
ESTADO DE SÍTIO: Crisis? What crisis? (7)
O orçamento rectificativo aumentou em quase mil milhões as despesas com pessoal, excluindo o aumento resultante do chumbo do TC.
«Entre Janeiro e Agosto, foram vendidos 115.025 veículos automóveis novos, o que representa um crescimento de 38,7% face a igual período do ano passado.» (Económico)
Dois exemplos exemplares. Primeiro, de como o Estado é irreformável mesmo por aqueles que pretendem reformá-lo – a não ser em estado de necessidade por falta absoluta de grana. Segundo, de como as políticas ditas keynesianas, em particular as que defendem a retoma pelo puxanço da procura, estão condenadas em concreto, aqui e agora, a puxarem pela oferta no exterior e, por via disso, a desequilibrarem as contas externas, e, por via disso, a aumentarem o endividamento do país e, por via disso, a reduzirem os recursos disponíveis para investimento e, por via disso, a limitarem o crescimento e, por via disso, a limitarem o consumo.
«Entre Janeiro e Agosto, foram vendidos 115.025 veículos automóveis novos, o que representa um crescimento de 38,7% face a igual período do ano passado.» (Económico)
Dois exemplos exemplares. Primeiro, de como o Estado é irreformável mesmo por aqueles que pretendem reformá-lo – a não ser em estado de necessidade por falta absoluta de grana. Segundo, de como as políticas ditas keynesianas, em particular as que defendem a retoma pelo puxanço da procura, estão condenadas em concreto, aqui e agora, a puxarem pela oferta no exterior e, por via disso, a desequilibrarem as contas externas, e, por via disso, a aumentarem o endividamento do país e, por via disso, a reduzirem os recursos disponíveis para investimento e, por via disso, a limitarem o crescimento e, por via disso, a limitarem o consumo.
DIÁRIO DE BORDO: Ballet à Flushing Meadows
Uma espécie de grand jeté de Maria Sharapova, acompanhado do habitual grande grito, no US Open (fonte: Washington Post) |