20/09/2014

A maldição da tabuada (18) – Em média não sabem calcular médias

«É a primeira vítima do erro registado na colocação de mais de mil professores contratados para as cerca de 300 escolas com contrato de autonomia e Teip (territórios educativos de intervenção prioritária). Mário Agostinho Alves Pereira, diretor-geral da Administração Escolar desde 2009 até hoje, assumiu a responsabilidade pela aplicação de uma fórmula que calculou mal as classificações de milhares de candidatos às bolsas de contratação de escola e apresentou a demissão, apurou o Expresso. O pedido foi aceite pelo ministro da Educação.» (Expresso)

O erro consistiu em calcular uma média de duas variáveis de natureza diferente sem primeiro as tornar comparáveis. Exemplo: a média de 20 km e 40 milhas não é 30 kmilhas, é 34,1395 km ou 21,2139 milhas.

Os professores, a oposição e com eles o jornalismo de causas pediram a demissão do ministro. Sem razão. Primeiro porque não foi o ministro, por acaso um matemático, que determinou o processo de cálculo. Segundo porque os técnicos que prepararam o processo de cálculo e a lista de professores dele resultante não foram alunos do ministro, foram provavelmente alunos de professores sindicalizados na FENPROF e representados pelo sindicalista Dr. Mário Nogueira que estava na 1.ª fila das galerias do parlamento aos gritos a pedir a demissão do ministro. Terceiro porque provavelmente a maioria dos deputados da oposição (e da situação, já agora) que vituperaram o ministro não dominam os rudimentos da aritmética elementar. Quarto porque os jornalistas que fizeram eco da indignação dos profs e da oposição não foram capazes de explicar decentemente qual o erro em causa – com a uma única excepção da jornalista do Observador.

Para sermos justos, devemos observar com bonomia quer os erros, quer as indignações, quer a incapacidade de explicar os erros. Trata-se, afinal, da maldição da tabuada, um mal que nos aflige há séculos – segundo os entendidos, um mal que começou com a expulsão pelo Marquês de Pombal em 1789 dos jesuítas, as únicas almas que à época eram capazes de calcular médias simples e ponderadas.

Um mal que explica as nossas dificuldades com as contas públicas e privadas e com as nossas dívidas públicas e privadas e que infelizmente não parece ter sido percebido pelo presidente da Estónia Toomas Hendrik Ilves que nesta sua intervenção nos humilha, insinuando que gastamos mais do que ganhamos e pedimos emprestado mais do que podemos pagar, o que levou os estonianos, mais pobres do que os portugueses, a resgatar-nos, acusa. É uma crítica fácil e demagógica. Tivesse a Estónia os nossos problemas com tabuada e não falariam de cátedra.

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