31/03/2022

Desenganem-se meus amigos. O combate actual não é entre a esquerda e a direita. O Muro mudou de sítio...

... de Berlim para Kyiv. Ou, mais exactamente, está onde sempre esteve ou, pelo menos, nos últimos vinte e cinco séculos. Refiro-me ao Muro que separa os amigos e os inimigos da liberdade.

Leitura recomendada: Isaiah Berlin, «Rousseau e outros cinco inimigos da Liberdade» (velhinho de 70 anos, mas sempre actual)

CASE STUDY: Porque corre tão mal a Putin a invasão da Ucrânia? (1)

Enumerei no post de ontem factos que mostram que a «operação militar especial» está a correr muito mal. A pergunta que agora vou tentar responder só faz sentido a quem tenha chegado à mesma conclusão. Para quem não concorde com a parte factual será perda de tempo continuar a ler. 

Neste e noutros post que se seguirão, tentarei expor as conclusões a que for chegando sobre as causas sociais, políticas e culturais que podem explicar o desastre militar. 

Uma primeira resposta, fui encontrá-la num artigo de opinião de Henrique Raposo de que passo a citar a segmento mais relevante:

«O exército de uma tirania é ultracentralizado porque não confia nos oficiais intermédios e nos próprios soldados; não sabe usar a liberdade. Quando as coisas não correm como planeado (e nunca correm), esse exército russo fica bloqueado porque os oficiais no terreno não têm liberdade para se adaptar e reagir no terreno sem ordens superiores. É o que aconteceu aos russos no último mês.

Ao invés, os oficiais ucranianos têm liberdade para se adaptarem, para terem iniciativa própria. Esta rapidez é decisiva na guerra. Ou seja, no campo de batalha, a lentidão russa e a agilidade ucraniana revelam duas visões sobre a liberdade; neste caso, a liberdade de soldados e oficiais no terreno e longe da cadeia de comando: a liderança russa teme ou desvaloriza a liberdade; a liderança ucraniana estimula-a. Os efeitos práticos desta assimetria é a espantosa vitória convencional dos ucranianos perante um inimigo numericamente superior.

A liberdade não é só um valor, é um instrumento poderoso, o mais poderoso. Esta liberdade prática e tática dá aos ucranianos no terreno um moral superior ao dos russos. E, na guerra, convém recordar a máxima de Napoleão, a condição moral vale três vezes a condição física.»

De passagem, note-se que isto explica bem porque foram mortos 7 oficiais generais russos que estavam na frente para compensar a falta de iniciativa dos oficiais e das tropas no terreno.

(Continua)

30/03/2022

Antes de fazer um juízo definitivo sobre os desconchavos de Biden, convirá rever as atrocidades e os erros crassos de Putin e o que dizem os seus admiradores

Em face da invasão russa ordenada por Putin à Ucrânia e da destruição maciça de alvos civis, qualificar o Czar como criminoso de guerra e considerar que deve ser removido do poder, são afirmações que qualquer cidadão decente poderia fazer. Outra coisa é serem feitas por um presidente de um outro país, na circunstância Joe Biden, o presidente americano. Se ditas em público, como foi o caso, a qualificação como criminoso de guerra é contra todas as regras não escritas da diplomacia, e apelar à remoção de Putin é uma ingerência nos assuntos internos de outro país, inadmissível face ao direito internacional, e possivelmente uma inutilidade se Putin tiver o apoio da maioria dos russos, como parece. 

É por isso compreensível que um cidadão decente considere as afirmações de Biden inaceitáveis e eventualmente as atribua a senilidade e/ou uma tentativa de diversão para fazer esquecer os falhanços da sua administração e a sua cada vez maior impopularidade. 

Um cidadão decente em face do desastre que está a ser a invasão, que o Czar no seu linguajar de newspeak orwelliano baptizou de «operação militar especial», compreensivelmente consideraria o Czar e os seus siloviki uma clique incompetente e com inteligência limitada (nos dois sentidos), pelas razões que sumarizo a seguir:  

  • Lançar uma operação militar nesta época do ano (os tanques e todo o material circulante ficam atolados fora da estrada e por isso as filas de dezenas de kms nas estradas, esquecendo o que aconteceu aos exércitos de Hitler);
  • Falhar definitivamente a logística que, segundos os manuais da primeira classe, faz ganhar ou perder guerras (tanques e outro material ficaram parados por falta de combustível; a Ucrânia aproveitou e confiscou centenas e tem agora mais tanques do que no início da invasão);
  • Falhar as comunicações que não estão capacitadas para encriptação (até telemóveis comuns estão são usados) e são escutadas pelos ucranianos;  
  • Um antigo espião rodeado de antigos e actuais espiões, falhar na inteligência e ser apanhado completamente desprevenido pela resistência ucraniana (dois dias depois da invasão, a a agência estatal RIA Novosti publicou por engano - era para sair mais tarde - um artigo onde se gabava que  “A Ucrânia voltou para a Rússia” e “Alguém nas antigas capitais europeias, em Paris e Berlim, acreditava seriamente que Moscovo desistiria de Kiev?”) (fonte);
  • Um antigo espião rodeado de antigos e actuais espiões acreditar nas suas próprias balelas e esperar que um Ocidente decadente seria incapaz de reagir e ser surpreendido pela reacção da UE e da NATO;
  • Usar tropa impreparada, mal informada e desmotivada que pensava estar a continuar o exercício começado há meses ou ser recebida de braços abertos pelos "irmãos ucranianos"; 
  • O resultado das falhas de informação, estratégia, planeamento, logística, comunicação e a  impreparação não poderia deixar de ser o desastre que está a ser: baixas (7 oficiais generais mortos e entre 7 a 10 mil mortos) e perdas de material várias vezes superiores às ucranianas (quatro vezes, segundo esta fonte documentada com datas e fotos);
  • Inevitavelmente, o desastre está a levar à reformulação dos objectivos que começaram por ser o derrube do governo legítimo e a sua substituição por um do tipo bielorrusso, reformulação camuflada por declarações grandiloquentes e mentiras puras e duras.
Ainda que a clique putinesca e os seus exércitos possam acabar por ocupar a Ucrânia, destruindo-a, isso será a prazo uma derrota ainda mais pesada porque para manter o controlo sobre um país com cidadãos que odeiam o putinismo e lutam pela sua liberdade com uma tropa determinada pagarão um altíssimo preço. 

Chegado aqui, o que pensaria um cidadão decente de alguém que já depois da invasão tem reiteradamente manifestado admiração e classificado o Czar Vlad como genial? E não, não me estou a referir a nenhum dos siloviki, nem mesmo a nenhum dos oligarcas putinescos, estou a referir-me ao antigo presidente americano Donald Trump.

29/03/2022

Traidores no gabinete do primeiro-ministro? No creo en brujas, pero que las hay, las hay

Na semana passada, na SIC Notícias, alguém disse: 

«Deixe-me fazer um apelo final a uma coisa que me indigna. Escolho bem a palavra: 'traidores'. Aqui em Portugal, no gabinete do primeiro-ministro, há um embaixador, um coronel e outros oficiais-generais a trabalhar para a Rússia. Isto é uma vergonha!». 
Quem disse essas palavras foi «Armando Marques Guedes é professor catedrático da Universidade Nova, dando ainda aulas no Instituto Universitário Militar, no Instituto de Defesa Nacional, no Instituto de Ciências Policiais e Segurança Interna e no Instituto Nacional de Administração. Além disso, foi presidente do Instituto Diplomático, nomeado por Diogo Freitas do Amaral, no tempo em que o primeiro-ministro era José Sócrates, e depois diretor de policy planning do Ministério dos Negócios Estrangeiros, sendo membro de mais de três dezenas de think-tanks em Portugal e no estrangeiro. É, pois, um homem que conhece bem os meios diplomáticos e a área da Defesa Nacional.

Estas acusações poderiam ter sido proferidas imponderadamente, no calor de uma discussão. Mas não: foram ditas intencionalmente, como coisa pensada antes. No entanto, apesar de estarmos perante uma verdadeira 'bomba', a pivô de serviço não insistiu no tema e 'despediu' rapidamente o convidado. Foi estranho. Como estranho foi que nos telejornais seguintes não tenham passado estas declarações. O silêncio foi total.

Nos dias seguintes nenhum meio de comunicação social pegou no assunto - nem televisão nem imprensa, e Armando Marques Guedes não voltou a aparecer na SIC Notícias, onde era presença regular a comentar a guerra.

Perante isto, pensei: o homem teve um momento de desvario, de loucura, mas depois caiu em si, pediu à estação para não repetirem o que tinha dito, e os outros meios, avisados, não reproduziram as suas declarações.

Só que, inesperadamente, Marques Guedes voltou a surgir no pequeno ecrã - embora já não na SIC mas na CMTV. E, puxando deliberadamente pelo assunto, reafirmou tudo o que dissera antes - apenas ressalvando que da sua lista de 'suspeitos' não fazia parte o major-general Carlos Branco.

28/03/2022

Semanário de Bordo da Nau Catrineta comandada pelo Dr. Costa no caminho para o socialismo (8)

Continuação das Crónicas: «da anunciada avaria irreparável da geringonça», «da avaria que a geringonça está a infligir ao País» e «da asfixia da sociedade civil pela Passarola de Costa». Outras edições do Semanário de Bordo.

Dr. Costa goes to Brussels

Há anos que se especula um suposto desejo recalcado do Dr. Costa de ter um posto em Bruxelas. E porque não? Se o Eng. Sócrates foi para Paris e o Eng, Guterres e Dr. Sampaio para Nova Iorque, porque não o Dr. Costa para Bruxelas. Assim parece, quando se vê que alinhou no governo os candidatos à sua sucessão e colocou por baixo de si próprio (salvo seja) um secretário de Estado dos Assuntos Europeus, et pour cause.

Diferentes mas iguais

É o primeiro governo do Portugal dos Pequeninos com tantos cromossomas XY quantos XX, se não contarmos com o Dr. Costa, que para se conseguir a paridade completa deveria ser hermafrodita. Segundo o critério de Mme Giroud (a igualdade de oportunidades entre homens e mulheres seria alcançada quando uma mulher incompetente fosse preferida a um homem competente), com este governo e sem o Dr. Costa atingiu-se finalmente a igualdade entre os sexos a que chamam "géneros".

No final de contas, importa pouco a composição do novo governo

Em todo o caso, há alguns membros que se destacam. Uns pela sua inexistência, como a Dr.ª Antunes, na Agricultura ou a Dr.ª Abrunhosa, na Coesão Territorial. Outros pela persistência na asneira, como o Dr. Pedro Nuno, nas Infraestruturas (vai acabar o trabalho que começou na TAP). Outros pelo contributo que podem dar à construção do Estado sucial, como o Dr. Costa Silva, na Economia, que num país aspirado pelo Estado defende «mais Estado na Economia». Um destaque especial para o Dr. Adão e Silva, na Cultura, que à sua escala e mutatis mutandis poderia fazer o papel de uma espécie suave de ministro do agitprop socialista.

Então não estamos a crescer mais do que a Óropa?

Não, não estamos. Os dados de 2021 do Eurostat mostram que o PIB per capita PPC português desceu de 76% para 74% da média da UE, é o sétimo mais baixo e foi ultrapassado pela Polónia e a Hungria. Apenas em alguns anos a Roménia, a Letónia, a Croácia e a Eslováquia, sobreviventes do colapso do império soviético, irão também ultrapassar o Portugal dos Pequeninos sobrevivente de um Estado sucial governado por sucialistas.

No Estado Sucial não há conflito de interesse. Há interesses em conflito

A SIRESP, empresa pública que gere o sistema de comunicações de segurança e emergência (sim, esse mesmo que falhou rotundamente os incêndios de 2017), segundo a sua administradora, está a favorecer num concurso de 100 milhões, pela mão de um secretário de Estado, a Motorola, actual fornecedora dos serviços.

27/03/2022

Cada país tem a tropa que merece

Por questões de higiene e falta de tempo e por via de regra, não vejo telejornais que duram duas horas com uma hora de anúncios, onde na melhor hipótese se distorcem factos por ignorância e na pior se distorcem factos por encomenda, onde desfilam militantes que se fazem passar por comentadores, picaretas falantes, que na melhor hipótese dizem inocuidades e na pior dizem enormidades. Não será certamente preciso explicar que, com esta regra, só vejo telejornais portugueses quando o rei faz anos.

Esta regra tem vantagens óbvias e tem inconvenientes menos óbvios que consistem em privar-me de informação relevante online para o exame laboratorial do estado do comentariado oficial do Portugal dos Pequeninos. Tento compensar essa privação com a informação offline minerada na imprensa por vezes com atraso, como foi o caso agora com os comentários do oficialato reformado sobre a invasão da Ucrânia.

Citando o Expresso: «o major-general Raul Cunha chegou a dizer, na SIC, que “o Presidente russo foi encurralado” pela NATO e justificou a anexação da Crimeia; o major-general Carlos Branco disse ao “Observador” que a Rússia não ia “permitir a chacina da população ucraniana russa” em Luhansk e Donetsk, classificando a parte ucraniana como “a ameaça”; um terceiro analista, o major-general Agostinho Costa, tem usado (nos três canais de televisão) argumentos como “a preocupação [dos russos] em não causar baixas civis”, ou a desvalorização da coluna paralisada perto de Kiev. No dia seguinte à invasão, garantiu: “Os russos já estão em Kiev.” E disse que Volodymyr Zelensky tinha fugido para Lviv, na zona ocidental.»

Também António Araújo se referiu a essas declarações concluindo que, apesar de tudo, se tivesse de confiar, confiaria mais nos generais russos do que em sumidades como aquelas.

Enfim é a tropa que temos, sucessora da fugida da guerra colonial e politizada durante o PREC. No topo temos generais assim, na base temos fuzileiros que dão porrada em polícias e temos um governo que envia 18 (dezoito) tropas para manobras da NATO que envolvem 30 mil.

26/03/2022

O Czar titila as meninges dos idiotas úteis no Ocidente

Entendamo-nos, no contexto das sanções relacionadas com a invasão russa da Ucrânia a mando da clique putinesca, banir artistas ou os seus trabalhos porque são russos é ilegítimo, moralmente condenável e politicamente ineficaz. Banir os artistas que fazem parte da clique putinesca é legítimo e politicamente eficaz, mas tem um problema prático que é o de saber-se com um mínimo de certeza quem são esses artistas.



Ir na conversa do tirano que chefia essa clique e reprime as liberdades em geral e a liberdade de expressão em particular, isso é idiotia. E quem vai na conversa é a versão moderna do idiota útil. Não é o caso de Rowlings usada na manobra putinesca que não se deixou levar na manobra onde costumam cair os idiotas úteis baseados no "princípio" de que "o inimigo do meu inimigo é meu amigo" (*) e respondeu ao Czar:
(*) O problema é que esse "princípio" é meramente uma regra de manobra táctica que pode resultar num circunstância particular e num tempo determinado, como a história mostra abundantemente. Alterada a circunstância e os "amigos" rapidamente se tornarão inimigos.

Pro memoria (420) - Recalling what the President of the Russian Federation signed in 1994 on the independence and sovereignty of Ukraine

The Presidents of Ukraine, Russian Federation and United States of America, and the Prime Minister of the United Kingdom signed three memorandums (UN Document A/49/765) on December 5, 1994, with the accession of Ukraine to the Treaty on the Non-Proliferation of Nuclear Weapons. Through this agreement, these countries (later to include China and France in individual statements) gave national security assurances to Belarus, Kazakhstan and Ukraine. The Joint Declaration by the Russian Federation and the United States of America of December 4, 2009 confirmed their commitment.

Excerpt:

"Welcoming the accession of Ukraine to the Treaty on the Non-Proliferation of Nuclear Weapons as a non-nuclear-weapon State,

Taking into account the commitment of Ukraine to eliminate all nuclear weapons from its territory within a specified period of time,

Noting the changes in the world-wide security situation, including the end of the cold war, which have brought about conditions for deep reductions in nuclear forces,

Confirm the following:

1. The Russian Federation, the United Kingdom of Great Britain and Northern Ireland and the United States of America reaffirm their commitment to Ukraine, in accordance with the principles of the Final Act of the Conference on Security and Cooperation in Europe, to respect the independence and sovereignty and the existing borders of Ukraine;

2. The Russian Federation, the United Kingdom of Great Britain and Northern Ireland and the United States of America reaffirm their obligation to refrain from the threat or use of force against the territorial integrity or political independence of Ukraine, and that none of their weapons will ever be used against Ukraine except in self-defence or otherwise in accordance with the Charter of the United Nations;

25/03/2022

ACREDITE SE QUISER: Mobilidade social na URSS

Por este comentário que cita um erudito post (no Twitter, suponho, mas não confirmei porque não frequento o lugar) de Francisco José Viegas, uma criatura que aprecio, apesar dos tiques de diletantismo, fiquei a saber que numa dacha em Gorki onde Vladimir Ilyich Ulianov, aka Lenine, passava umas temporadas, havia um cozinheiro de nome Spiridon Ivanovich Putin, o avô de Vladimir Vladimirovitch Putin, aka o Czar Vlad.

Munido deste precioso conhecimento, comecei a ver a outra luz a vida na União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Afinal, além ou apesar do terror da NKVD/KGB, da fome, da miséria, do Gulag, do Holodomor, da tirania de Lenine, Estaline e dos outros líderes do PCUS, foi possível encontrar um exemplo notável de mobilidade social.

Em apenas três gerações, o neto do cozinheiro do líder de uma tirania tornou-se ele próprio um déspota na tirania que sucedeu à dos tempos do avô, depois de uma bem sucedida carreira no KGB/FSB veio a ascender a primeiro-ministro, alternando com a presidência, e a presidente com mandato presidencial tendencialmente vitalício.

24/03/2022

DIÁRIO DE BORDO: Elegeram-no? Então aguentem outros cinco anos de TV Marcelo (6) - Mal por mal, mais vale atribuir medalhas (em silêncio)

A minha primeira reacção ao anúncio das mais 30 (trinta) medalhas para "militares de Abril" a juntar às 53 (cinquenta e três) que já haviam sido distribuídas e outros "militares de Abril" e, sobretudo, o anúncio das 5.000 (cinco mil) medalhas que  S. Ex.ª se propõe distribuir a mais outros tantos "militares de Abril", foi de agonia. Com foi possível chegar-se a este ridículo?

Depois de lembrar as recomendações de S. Ex.ª em Moçambique de «diálogo com o elefante, troca de impressões com a girafa e um momento mais romântico com os pássaros» e as considerações em pleno curso da barbárie putinesca na Ucrânia sobre o turismo num porto seguro, antevendo reserva «muito boas na Páscoa», reconsiderei e faço um apelo a S. Ex.ª. 

Sim, Senhor Presidente, distribua à vontade medalhas pelos militares de Abril, Maio, etc., faça selfies com o resto dos portugueses que ainda faltam e sim, Senhor Presidente, tente ficar calado e, se não conseguir, olhe, fale da meteorologia como fazem os ingleses quando não têm nada para dizer.

Este seu estilo pode ter tido muito apreciado durante uns tempos em contraste com o seu antecessor, mas agora está esgotado, é inadequado nos tempos difíceis que se anunciam e com a maioria do PS está a ajudar S. Ex.ª a caminhar para a irrelevância, como se viu com a composição do governo que só chegará a Belém depois de ter passado pelas televisões.

23/03/2022

Where should a freedom fighter, a devotee of Donald Trump, accused by the American justice of participating in the invasion of the Capitol take refuge?


Birds of the same feathers flock together

Evan Neumann fled the US after being charged in connection with the riots.

The 48-year-old first settled in Ukraine, before reaching Belarus where he asked for asylum - claiming he faced "political persecution" in the US.

A Belarusian official said Mr Neumann has been granted permission to remain in the country "indefinitely".

O iliberalismo em geral e a tirania em particular odeiam a verdade e os factos

«Humankind can not bear very much reality»

«A ideia de verdade ocupa um lugar central na cultura ocidental: Arendt afirma que somos herdeiros da procura pela verdade que se afirmou com os Gregos e permitiu o nascimento da ciência; a modernidade afirmou-se em torno da Verdade-com-letra-maiúscula, que substituiu os dogmas anteriores, colocando a Razão e os cientistas no lugar de Deus e dos teólogos; e notemos como o conceito de verdade se revela fundamental para a democracia liberal: a discussão política frutuosa só é possível se partir de factos aceites pelas partes – se discutirmos os próprios factos, o compromisso é posto em causa. 

É por esta última razão que o estudo dos regimes autoritários ou totalitários compreende o estudo da propaganda como ataque à factualidade. Como diz Arendt: “Considerada de um ponto de vista político, a verdade tem um caráter despótico. Ela é por isso odiada pelos tiranos, que temem, com razão, a concorrência de uma força coerciva que não podem monopolizar.” Podemos, então, afirmar que o cerne do iliberalismo reside aqui: no ataque à factualidade e na tentativa de fragilizar o próprio conceito de verdade.»

22/03/2022

ARTIGO DEFUNTO: Da admiração pelo tirano e a simpatia pelas suas causas à co-fundação de um clube liberal (uma espécie de “NATO do pensamento”) em apenas cinco semanas?

O Dr. Miguel Sousa Tavares (MST), também conhecido como tudólogo, ainda hoje nos surpreende, na circunstância com uma série de peças na sua coluna no Expresso sobre a invasão da Ucrânia, peças que em seguida cito e comento.  

11 de Fevereiro “Esta guerra que nos querem vender”

MST garante que a “invasão iminente” é uma invenção dos “especialistas ocidentais” e do “círculo belicista NATO-Estados Unidos-Inglaterra” e questiona o que “teria Putin a ganhar com isso”, afinal seria “uma guerra que os russos pedem que evitem”.

18 de Fevereiro “A Rússia já invadiu?”

Apesar de todos os esforços de Biden, Johnson e desse incendiário imbecil que é o secretário-geral da NATO, aposto que até hoje a Rússia não Invadiu a Ucrânia”, escreveu numa altura em que era público, notório e documentado com imagens a preparação da invasão.

Para quem não saiba, o “incendiário imbecil” é Jens Stoltenberg. ex-primeiro-ministro da Noruega e líder do Partido Trabalhista, Noruega quem tem uma fronteira de 200 km com a Rússia e uma fronteira de 700 km com a Finlândia que resistiu à invasão em 1939 pela União Soviética que desistiu depois de imensas baixas, não sem anexar a região do lago Ladoga.

25 de Fevereiro “Guerra e Paz”

Sim, invadiu.” Reconheceu MST e em vez de se penitenciar pelo que escrevera antes ataca a suposta “satisfação intelectual de tantos que passaram semanas a anunciar a invasão, parecendo mesmo desejá-la” e criticava o “lado ocidental” por não ter feito “um esforço série de negociação”.

Recorde-se que na véspera Putin tinha assim anunciado o lançamento da “operação especial” sem qualquer condição negocial:

Neste contexto, de acordo com o artigo 51 (Capítulo VII) da Carta da ONU, com permissão do Conselho da Federação da Rússia, e em execução dos tratados de amizade e assistência mútua com a República Popular de Donetsk e a República Popular de Lugansk, ratificada pela Assembleia Federal em 22 de fevereiro, tomei a decisão de realizar uma operação militar especial.

O objetivo desta operação é proteger as pessoas que, há oito anos, enfrentam humilhações e genocídios perpetrados pelo regime de Kiev. Para isso, buscaremos desmilitarizar e desnazificar a Ucrânia, bem como levar a julgamento aqueles que cometeram inúmeros crimes sangrentos contra civis, inclusive contra cidadãos da Federação Russa.”

21/03/2022

Semanário de Bordo da Nau Catrineta comandada pelo Dr. Costa no caminho para o socialismo (7)

Continuação das Crónicas: «da anunciada avaria irreparável da geringonça», «da avaria que a geringonça está a infligir ao País» e «da asfixia da sociedade civil pela Passarola de Costa». Outras edições do Semanário de Bordo.

Os amanhãs que cantarão do Dr. Costa

A inflação continuou a crescer em Fevereiro de 5,1% para 5,9% na Zona Euro (4,4% em Portugal). A produção industrial em Portugal teve uma quebra homóloga de 5% em Dezembro e 4,2% em Janeiro, a segunda maior da UE. É apenas o princípio de uma provavelmente longa série de escolhos no caminho para o socialismo, agora que se começam a sentir as primeiras consequências económicas e financeiras da invasão da Ucrânia, num Portugal envelhecido, endividado, pouco produtivo, com empresários subsídio-dependentes e a maioria da população pendurada num Estado sucial pesado e ineficiente ocupado por um classe política medíocre. O caminho ainda que suavizado temporariamente com o peditório da bazuca não será fácil.

Governo desaparecido em combate, reaparece

A 4 mil km de S. Bento há um combate feroz, que para o governo parece ser num outro planeta longínquo, entre as forças do déspota Vladimir Putin e o povo ucraniano que luta pela defesa da sua liberdade e de uma democracia frágil invadida pelo déspota que a considera uma ameaça. E o que faz o governo e a sua tropa?

O governo pela boca do ministro da Defesa tranquilizou-nos com um «Portugal não sofrerá retaliações da Rússia» e o inefável Dr. Pedro Nuno Santos desfez as nossas dúvidas sobre se o governo tinha ouvido falar da invasão ao vigésimo dia classificando de «miserável» o ataque russo. A tropa, na circunstância representada nas televisões por uns generais, fala da guerra como se fosse um passeio para as tropas russas que em 4 semanas já tiveram mais baixas do que a tropa americana em 20 anos no Iraque.

Mas as acções falam mais alto do que as palavras e, por isso, para um exercício da NATO na Noruega (evidentemente uma manobra dissuasória) que mobiliza 30 mil tropas o governo envia 18 (dezoito) tropas, enfim um pouco mais do que o número de fuzileiros que, por desfastio, encheram de porrada quatro polícias à saída de uma discoteca.

Justiceiras do regime sob o foco da justiça

Primeiro, descobriu-se que a Dr.ª Mortágua que recebia ilegalmente emolumentos da SIC para fazer comentário político. De seguida, soube-se que está em risco de ser condenada em Tribunal a pagar uma indemnização por ter insultado Markos Leivikov e o pasquim online Esquerda.net viu-se obrigado a publicar o direito de resposta do insultado.

Por coincidência, pouco depois, veio a saber-se que a Dr. Gomes, outra justiceira do regime sempre de dedo apontado aos corruptos que ela consegue ver, está envolvida numa trapalhada de construção clandestina e fintas ao fisco relacionada com a sua propriedade no Parque Natural de Sintra-Cascais.

E, por falar em figuras notáveis da extinta geringonça (a Dr. Gomes pode ser considerada uma militante supranumerária da geringonça), ocorre-me citar que se confirmou ter a Festa do Avante! contado com participação de trabalhadores da câmara do Seixal. Nada mais natural.

20/03/2022

Dúvidas (332) - De que estão à espera os sindicalistas e os áctivistas?

De que estão à espera os sindicalistas do PCP para convocarem uma manif em frente à sede do Bloco de Esquerda em protesto contra os despedimentos?

De que estão à espera os áctivistas da igualdade de "género" para protestarem contra o governo ucraniano que discrimina as pessoas com útero não as mobilizando para o exército e subtraindo-lhes a oportunidade de morrerem pela pátria?

SERVIÇO PÚBLICO: Putin e a invasão da Ucrânia vistos pelo antigo MNE da Rússia

Excerto da entrevista do FT a Andrei Kozyrev, ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia desde Outubro de 1990 a Janeiro de 1996.

«Kozyrev acredita que Putin ainda pensa que está agindo racionalmente. Não razoavelmente, esclarece Kozyrev, mas racionalmente. Regimes autoritários “não podem ser sustentáveis ​​sem esses tipos de agressão formal. Porque eles são instáveis ​​por dentro”, argumenta Kozyrev. Além disso, ele acha que Putin passou a acreditar que o povo ucraniano realmente quer ser libertado por Moscovo.

“Ele acredita em todas aquelas mentiras que sua propaganda alimenta o povo russo.” (...)

Kozyrev rejeita a ideia de que Putin não possa reverter o curso na Ucrânia. “Eu não compro toda essa conversa de que ele não pode recuar. Para [Joe] Biden, [Boris] Johnson, os políticos ocidentais, recuar significa que você perderá a opinião pública”. Putin não tem essa preocupação.

Kozyrev acredita que as atuais sanções dos EUA, UE e Reino Unido são eficazes, mas que todas as medidas de retaliação à disposição do Ocidente deveriam ter sido implementadas imediatamente e ao mesmo tempo.

“Se você luta com [Putin], você tem que socar o mais forte que puder no primeiro soco. Não escale, faça tudo de uma vez.”

Kozyrev também rejeita as alegações de alguns oligarcas russos e seus associados de que são impotentes para influenciar o presidente russo, aludindo às sangrentas e implacáveis ​​guerras de privatização da década de 1990. “Agora que seus ativos estão sob pressão, eles vão se lembrar disso”, diz ele sombriamente. “Essas coisas voltam.”

Sob as sanções económicas mais amplas, a população russa sofrerá, mas é um mal necessário, diz ele. “Infelizmente para acordá-los é preciso criar uma situação” em que frigorífico vazio fure a propaganda que passa na TV, diz. (...)

Discutimos se o público russo é responsável pelas atrocidades que ocorrem na Ucrânia, ou se eles também são vítimas do regime autoritário de Putin.

“Foi um dos profetas, eu acho, que disse que as pessoas merecem os governantes que têm”, diz Kozyrev. “Esses tipos que estão lutando agora no exército russo – de onde eles vêm? Eles vêm do povo”.

Mas muitos desses soldados não sabiam para onde estavam indo, respondo.

“É como a Alemanha nazista”, diz Kozyrev. “É claro que nem todos na Alemanha eram nazistas. Mas no final uma nação inteira teve que cair em si e enfrentar a responsabilidade mais ou menos.”»

Tentando compreender o racional da clique putinesca ao decidir invadir a Ucrânia (2)

Continuação daqui.

[Putin e os seus Siloviki não são irracionais, são movidos por razões, daí o racional do título]

O jornalista e editor da BBC John Simpson entrevistou Ibrahim Kalin, conselheiro principal e porta-voz do presidente turco Erdogan, que tinha acabado de escutar a conversa telefónica entre o Czar Vlad e o Pasha Recep, e resumiu assim o que Kalin comentou sobre as exigências do Czar: 

«As exigências russas dividem-se em duas categorias. 

As primeiras quatro exigências, segundo Kalin, não são muito difíceis de serem atendidas pela Ucrânia. A principal delas é a aceitação da Ucrânia de que deveria ser neutra e não se candidatar à adesão à NATO. O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, já admitiu isso.

Existem outras demandas nesta categoria que parecem principalmente ser elementos para salvar a face do lado russo. A Ucrânia teria que passar por um processo de desarmamento para garantir que não fosse uma ameaça para a Rússia. Teria que haver protecção para a língua russa na Ucrânia. E há algo chamado desnazificação. Isso é profundamente ofensivo para Zelensky, que é judeu e alguns de seus parentes morreram no Holocausto, ... 

A segunda categoria é onde estará a dificuldade ... Kalin foi muito menos específico sobre essas questões, dizendo simplesmente que elas envolviam o status de Donbas, no leste da Ucrânia, partes do qual já se separaram da Ucrânia e enfatizaram a sua "russianidade", e o status da Crimeia.

Embora Kalin não tenha entrado em detalhes, a suposição é de que a Rússia exigirá que o governo ucraniano ceda território no leste da Ucrânia. ... A outra suposição é que a Rússia exigirá que a Ucrânia aceite formalmente que a Crimeia, que a Rússia anexou ilegalmente em 2014, de fato agora pertence à Rússia. ...

Ainda assim, as exigências do presidente Putin não são tão duras quanto algumas pessoas temiam e dificilmente parecem valer a pena toda a violência, derramamento de sangue e destruição que a Rússia infligiu à Ucrânia.

Dado seu controle pesado sobre a mídia russa, não deveria ser muito difícil.»

Chegados aqui, a caminho de quatro semanas de duros combates, estima-se que os exércitos putinecos perderam cinco vezes mais equipamentos do que as forças ucranianas e tiveram um número de baixas equivalente às que sofreram nos 3 primeiros anos de guerra no Afeganistão e superiores às americanas em 20 anos de guerra no Afeganistão, e teríamos de concluir que o Czar estaria louco se tivesse ordenado a invasão para garantir quase mesmo que já tinha garantido, e que, em qualquer caso, não teria qualquer legitimidade para exigir a um país independente, ou, não estando louco, como não está, está a tentar salvar a face e a pele de um erro criminoso em que sacrificou o seu povo e o povo ucraniano.

18/03/2022

"Parem de imaginar que Putin vai ser deposto, as fantasias não ajudam a Ucrânia"

Foi com o título acima que Anastassia Fedyk, Yuriy Gorodnichenko, Tania Babina, Tetyana Balyuk e James Hodson que, pelos vistos, sabem do que falam, publicaram o artigo «Stop imagining Putin’s overthrow. Fantasies won’t help Ukraine» (o Público publicou uma tradução) onde os autores lembram aos distraídos:

«As massas russas não se levantarão contra Putin. A campanha de desinformação da Rússia é abrangente e implacável. Políticos da oposição estão presos ou exilados, os mídia independentes foram encerrados e novas leis draconianas ameaçam até 15 anos de prisão para quem falar a verdade sobre a invasão da Ucrânia. Alimentados com essa propaganda, a maioria dos russos diz que o seu presidente tem razão, que os militares russos não atacaram deliberadamente áreas civis e que os ucranianos são nazistas.»

Que outra coisa poderia explicar o Czar ter feito um discurso como o de quarta-feira sabendo que não só não haveria nenhum jornal ou canal de televisão ou mesmo posts nas redes sociais que o contraditassem ou o confrontassem com o chorrilho de mentiras puras ou grosseiras distorções da realidade, como estando seguro que a maioria do povo russo aceitaria passivamente patranhas como o governo  ucraniano estar a perpetrar o genocídio da minoria russa no Donbas e a desenvolver armas nucleares e biológicas cujo alvo seria a Rússia, tudo financiado pelo Pentágono.

Para quem duvide, pode ler aqui o discurso integral em russo (o Chrome ou o Edge poderão traduzir) ou, em alternativa, ler aqui um resumo da tradução em inglês.

17/03/2022

Dúvidas (331) - A tropa do Czar também estava a entrar pela fronteira do México?

Breitbart
«While sending nearly $14 billion to help Ukraine in its conflict with Russia, President Joe Biden fiercely opposed a similar amount for a border wall along the United States-Mexico border to stem illegal immigration and drug trafficking.»

Pois parece que não. Quem entrou nas redes sociais por todas as fronteiras da www foram os trolls ao serviço do Czar que ajudaram a eleger o presidente Trump.

SERVIÇO PÚBLICO: A tirania não tolera imprensa livre. A do Czar Putin não é excepção

Marina Ovsyannikova a furar o blackout putinesco

 «Há seis meses, fui obrigado a deixar a minha casa na Rússia para evitar a ameaça de prisão. O meu crime? Ser jornalista independente. Há três anos, criei o Proekt, um site de reportagem de investigação, que fez cair sobre mim e sobre a nossa equipa toda a força do aparelho repressivo criado por Vladimir Putin para silenciar os meios de comunicação social críticos.

Primeiro, fomos acusados de difamação criminosa. Eventualmente, após ter sido detido e interrogado em várias ocasiões, o Proekt foi declarado “organização indesejável” com a maioria dos nossos funcionários, eu incluído, a ficar com o rótulo de “agentes estrangeiros” – a nossa empresa está registada nos Estados Unidos, pelo que qualquer salário pago aos nossos funcionários conta como financiamento estrangeiro. Há seis meses, perante a inevitável ameaça de uma pena de prisão, exilei-me nos Estados Unidos.

Desde então, tenho continuado a minha missão a partir do estrangeiro e criei uma redacção de investigação em língua russa. Até ao momento da invasão da Ucrânia, sabíamos que os russos podiam aceder às nossas reportagens na Internet. Agora, isso está a tornar-se cada vez mais difícil, uma vez que o processo de supressão de vozes independentes que o Kremlin iniciou há cerca de uma década atingiu novas dimensões totalitárias.

Em casa, na Rússia, qualquer jornalista disposto a chamar “guerra” ao que está a acontecer na Ucrânia tornou-se inimigo do Presidente russo, podendo ser alvo de uma nova lei que visa desmascarar “notícias falsas", que ameaça com uma pena de prisão de até 15 anos.»

Excerto do depoimento de Roman Badanin publicado no Público

Ser de esquerda é... (17)

... é andar durante um mandato a "defender" os trabalhadores contra a exploração capitalista, combatendo a "precariedade" e os despedimentos e, em consequência da ingratidão dos trabalhadores nas eleições, perder 14 deputados e as subvenções correspondentes (o equivalente às vendas dos capitalistas) e decidir despedimentos e o fecho de sedes (o equivalente ao fecho das dependências dos bancos) e esperar que os militantes trabalhem de borla (se feito pelos capitalistas seria chamado trabalho escravo).

Para piorar as coisas, a Dr.ª Mariana Mortágua, deputada em regime de exclusividade, que recebia ilegalmente emolumentos da SIC para fazer comentário político, vai deixar de poder contribuir para orçamento do BE. E como se fosse pouco, a mesma deputada está em risco de ser condenada em Tribunal a pagar uma indemnização por ter insultado Markos Leivikov, um russo que investe em empresas portuguesas há 15 anos, chamando-lhe "oligarca russo" e "produto do governo de Putin". Entretanto, o pasquim online Esquerda.net viu-se obrigado a publicar ontem o direito de resposta.

15/03/2022

¿Por qué no te callas? (29) - Para o Dr. Tavares o problema da Ucrânia são os ucranianos que não se dispõem a colaborar na construção do império do Czar Vlad

Pelo menos desde os tempos do seu fascínio pelo Eng. Sócrates que reparei na atracção do Dr. Miguel Sousa Tavares por "homens-fortes", pelo que não me surpreendeu o enlevo que tem mostrado pelo Czar Vlad. Porém, na  última peça da sua coluna no Expresso levou esse enlevo, suportado por abundante ignorância histórica (*), ao ponto de justificar a invasão que para ele se fica a dever à "indisfarçada vaidade" de um Zelinsky que, movido pelo seu desejo de celebridade, não aceita negociar a submissão ao Czar. 

Pensei em escrever um post a zurzir nas enormidades do Dr. Tavares. Desisti ao ler a resposta de Henrique Raposo «Se Sousa Tavares tivesse razão, Portugal não existia (nem a Irlanda, nem a Noruega, nem a Polónia)» para a qual encaminho quem aqui me lê. O último parágrafo à guisa de teaser:

«Se a lógica de Sousa Tavares fosse o motor da História, nós, portugueses, devíamos ter estado quietos enquanto os franceses saqueavam Portugal, enquanto matavam homens e violavam mulheres. Aliás, se Sousa Tavares tivesse razão, a corte inteira que fugiu da luta contra os franceses (entre 7 mil e 10 mil pessoas) era um primor de sensatez e heroísmo. Pior: se Sousa Tavares tivesse razão, Portugal não podia existir, porque estava e está na “esfera de influência” da Espanha, que chegou a ser a maior potência do mundo. Se Sousa Tavares tivesse razão, os EUA não existiam, tal como a Irlanda independente, tal como a Holanda, tal como a Noruega, etcétera. De facto, é uma maçada isto de os povos desejarem liberdade e respeito.»

(*) Ignorância pela qual já foi zurzido várias vezes pelo outro contribuinte, nomeadamente pelos disparates que escreveu sobre os Países Baixos (O patriotismo tudológico a cavalo da ignorância pesporrente).

14/03/2022

Birds of the same feathers flock together (3) - What US officials say does not mean it is true. What Chinese officials deny means nothing

Financial Times

«Zhao Lijian, China’s foreign ministry spokesperson, dismissed the claims as “disinformation” from the US. Zhao, who was speaking to reporters in Beijing, reiterated the country’s opposition to “unilateral sanctions”, adding that China would resolutely safeguard the rights of Chinese businesses

Semanário de Bordo da Nau Catrineta comandada pelo Dr. Costa no caminho para o socialismo (6)

Continuação das Crónicas: «da anunciada avaria irreparável da geringonça», «da avaria que a geringonça está a infligir ao País» e «da asfixia da sociedade civil pela Passarola de Costa». Outras edições do Semanário de Bordo.

Doravante as Boas Novas serão pura propaganda

Ainda a procissão das sequelas da invasão da Ucrânia vai no adro e já o BCE prevê que na Zona Euro a inflação pode subir até 7,1% e o crescimento cair para 2,3%, metade do crescimento em 2021. Por cá a estimativa rápida do INE aponta para uma inflação de 4,2% em Fevereiro.

Quanto à balança comercial, cujo défice em Janeiro teve um aumento homólogo de mil milhões de euros, com o aumento do preço dos combustíveis só pode degradar-se mais e voltar a ter um padrão de défice crónico, como até ao resgate obra do governo do Sr. Eng.

Estas perspectivas sombrias não impedem que a boa vontade da imprensa do regime faça títulos como «Guerra na Ucrânia não trava economia portuguesa, que entra em março a crescer mais de 14%», título baseado no indicador diário de actividade económica do BdP da primeira semana de Março deste ano comparada com a mesma semana do ano passado em plena crise pandémica. Aliás, não só as perspectivas sombrias não impedem como, à medida em que a economia e o país definhem mais, os esforços de produzir boas novas se exacerbarão.

Temos estes princípios. Se não gostarem temos outros

A semana passada veio a saber-se que a berloquista Dr.ª Mariana Mortágua, deputada em regime de exclusividade, recebia emolumentos da SIC para fazer comentário político, emolumentos que segundo a regra vigente do parlamento só poderiam ser recebidos no caso de comentário nos jornais. Não sabia, disse ela. Por incrível que possa parecer, os emolumentos foram a título de direitos de autor, sem esquecer a bandalheira de um profissional da política participar numa espécie de tempo de antena suplementar do seu partido e ser pago por isso.

Quem teve sorte de não ser atropelado pela nova regra foi o Dr. Costa, na sua persona de presidente da câmara, a quem o Dr. Pacheco Pereira, uma personagem que exala virtude, ofereceu um púlpito no seu programa Quadratura do Círculo para o ajudar na campanha para enxotar António José Seguro de secretário-geral do PS, participação que valeu ao Dr. Costa um emolumento mensal de maior valor do que a sua retribuição como presidente da câmara de Lisboa e ao Dr. Pereira valeu mais tarde um lugar (prestigiado mas não remunerado, sim que o Dr. Pereira não se vende por um prato de lentilhas) de administrador da Casa da Música.

Então não estamos a crescer mais do que a Óropa?

Não, não estamos, nem mesmo mais do que a Zona Euro que o ano passado cresceu 5,3%, o mesmo que a UE 27, e a economia portuguesa cresceu 4,9%.

O PS não nos trouxe o socialismo, trouxe-nos um capitalismo paroquial dependente do Estado sucial 

Uma a uma as empresas cotadas que faziam parte do índice PSI 20 foram saindo por não cumprirem as regras de dispersão e de capitalização bolsista, capitalização que passa a ser de 100 milhões, pelo que o PSI 20 passará a PSI 15 com a saída da Novabase, Pharol, Ramada e Ibersol. Por comparação com Espanha, a 15.ª empresa do IBEX 35 tem uma capitalização bolsista de quase 10 mil milhões de euros, cem vezes o mínimo do PSI 15.

13/03/2022

The demilitarization and denazification of Ukraine is a little overdue. The destruction of the country continues at a good pace. The Ukrainian people do not seem grateful and welcome the liberators with weapons in their hands

A view of a destroyed school in Kharkiv. [Sergey Bobok/AFP]

«In this context, in accordance with Article 51 (Chapter VII) of the UN Charter, with permission of Russia’s Federation Council, and in execution of the treaties of friendship and mutual assistance with the Donetsk People’s Republic and the Lugansk People’s Republic, ratified by the Federal Assembly on February 22, I made a decision to carry out a special military operation. 

The purpose of this operation is to protect people who, for eight years now, have been facing humiliation and genocide perpetrated by the Kiev regime. To this end, we will seek to demilitarise and denazify Ukraine, as well as bring to trial those who perpetrated numerous bloody crimes against civilians, including against citizens of the Russian Federation. 

It is not our plan to occupy the Ukrainian territory. We do not intend to impose anything on anyone by force.»

Vladimir Putin’s Televised Address on Ukraine, 24-02

12/03/2022

Em todos os regimes a verdade é a primeira vítima da guerra. Nas autocracias a verdade também sofre durante a pandemia

«A verdade é a primeira baixa na guerra» disse pela primeira vez alguém que poderia ter sido desde Ésquilo até ao Senador americano Hiram Warren Johnson, passando pelo general Sun Tzu e vários outros. Inclino-me para que tenha sido Sun Tzu o primeiro a formular algo que pela sua profissão deveria saber por experiência.

Sendo certo que na guerra todos mentem, uns são mais mentirosos do que outros ou, dito de outra maneira, uns mentem por necessidade, outros por hábito, como é o caso dos tiranos entre os quais me permito destacar o Czar Vlad, que mente na guerra e no resto, por exemplo nas estatísticas da Covid-19. 

Pelo menos é a conclusão a que chegou Dmitry Kobak no estudo estatístico (Underdispersion in the reported Covid-19 case and death numbers may suggest data manipulations) em que usou propriedades da distribuição de Poisson para analisar os números de casos e de mortes publicados concluindo que 21 dos países apresentavam uma dispersão anormalmente baixa indiciando manipulação de dados.

Fonte

Com base nesse estudo, a Economist preparou o diagrama acima que permite comparar a distribuição temporal das mortes nos EUA, que mostram uma fortíssima variação, com a Rússia e um terceiro país (escolhi a Turquia do Pasha Recep), onde a mortalidade por Covid varia num intervalo muito mais reduzido. Citando a Economist, «os números russos oferecem um exemplo de "limpeza" anormal. Em agosto de 2021, as contagens diárias de mortes não foram inferiores a 746 e não superiores a 799. Os números invariáveis ​​da Rússia continuaram na primeira semana de setembro, variando de 792 a 799. Um cálculo aproximado mostra que uma semana com variação tão baixa ocorreria por acaso uma vez a cada 2.747 anos.» Algo semelhante se pode dizer dos dados turcos.

11/03/2022

Mitos (318) - Diferenças salariais entre homens e mulheres (13)

Outros mitos sobre as diferenças salariais entre homens e mulheres

A propósito do Dia das Mulheres multiplicaram-se os artigos sobre este tema, por exemplo este: Mulheres ganham menos 460 euros por mês do que os homens na Caixa Geral de Depósitos, que é particularmente ridículo porque todos os empregados bancários estão sujeitos ao CCT dos trabalhadores bancários e aos acordos específicos do respectivo banco e nem no primeiro nem nos segundos existe qualquer critério relacionando salários com o sexo, o que de resto seria legalmente proibido. 

Portanto, mais uma vez o que está em causa não são as desigualdades salariais, é a a especialização sexual que durante toda a história e até à generalização da pílula e da legalização do aborto "condenou" a esmagadora maioria das mulheres a "donas de casa", um papel desvalorizado pelo feminismo militante ainda que muito mais exigente do que a maioria das profissões dos respectivos maridos. Agora tudo isso é história, porque nas últimas décadas as mulheres abandonaram os "lares" chegaram em legiões ao ensino e hoje são a maioria dos estudantes universitários, têm em média melhores resultados e representam uma maioria crescente dos graduados. 

Do que ninguém fala é das possíveis causas que explicam os melhores resultados das mulheres - no passado já se escreveu aqui no (Im)pertinências sobre este tema (por exemplo aqui e aqui). Ainda veremos o dia em que os militantes da "identidade de género" preconizarão a discriminação positiva dos homens para promover a "igualdade dos géneros". Por isso estas políticas igualitárias de engenharia social são como as políticas demográficas do Partido Comunista Chinês que começou por proibir mais de um filho e agora viu-se forçado a promover primeiro pelo menos dois filhos e actualmente pelo menos três filhos.

10/03/2022

DIÁRIO DE BORDO: Pensamento do dia sobre a fé no chefe

«A fé no chefe liberta as pessoas – os russos – do uso da razão e do fardo do livre arbítrio, não têm de verificar factos, não têm de questionar moralmente as ações do poder. »

Henrique Raposo, a propósito dos devotos de Putin, mas podia ser a propósito dos devotos de qualquer outra criatura portadora de Transtorno de Personalidade Narcisista

A propósito do Dia da Mulher sacrifica-se a inteligência à conformidade

A Dr.ª Leonor Beleza, presidente da Fundação Champalimaud, é uma pessoa inteligente e bem informada e, apesar de não ter uma formação académica na área da medicina ou da biologia, tem perfeita noção que nesta área o que pode ser relevante é o sexo feminino ou masculino, isto, é a distinção entre fêmeas (cromossomas XX, sexo homogamético) e machos (cromossomas XY, sexo heterogamético), e não a orientação sexual do indivíduo a que a praga do marxismo cultural chama "género" do qual existirão cento e doze variedades, segundo os praticantes mais assanhados.

Sabendo isso, a Dr.ª Leonor Beleza numa sua entrevista ao DN no Dia da Mulher diz em determinada altura: 

«Havia a utilização de modelos animais masculinos na convicção de que tanto fazia e considerando que o sexo não seria relevante para aquilo que se estivesse a estudar. Hoje, sabe-se perfeitamente que é errado, os cientistas dizem que as células têm sexo, e portanto têm diferenças, e essas diferenças têm de ser olhadas e consideradas esteja a estudar-se o que se quiser, em toda a biologia isto é extremamente relevante.» 

Talvez percebendo que não mencionando a palavra mágica "género" divergiria do cânone do politicamente correcto e colocaria em risco a sua reputação na bolha da bem-pensância, a Dr.ª Leonor Beleza pôs em risco a sua inteligência salpicando o resto da entrevista com uma dezena de referências perfeitamente despropositadas a "género".

[Como já em tempos escrevi, a tropa doméstica do politicamente correcto usa a palavra "género" copiando os seus homólogos ianques, ignorando que o termo inglês equivalente a "género" em português é "genus"(do latim "genus", raça, família, origem, etc.) e não "gender". Ainda que a origem latina de ambos seja a mesma, o percurso foi diferente: genus (latim) -> gendre (francês antigo) -> gender (inglês)]

09/03/2022

Joe Biden quase a alcançar a popularidade de Donald Trump

Joe Biden’s state-of-the-union address fails to impress

«After a little more than one year in office, Mr Biden is in a slump. Setback has piled atop setback. After months of agonising negotiations, the signature legislative agenda of the administration—a gargantuan safety-net and climate-change spending package called Build Back Better—is in effect dead. High inflation, exacerbated by the large fiscal stimulus that Mr Biden signed, has wrecked his standing as an economic steward. Having promised to manage the pandemic better than his predecessor, Mr Biden has found himself at the mercy of covid-19 variants. And even his supposed core competence in foreign policy has looked in doubt since the chaotic withdrawal of American forces from Afghanistan (though his handling of the crisis in Ukraine has so far been more adroit).»

08/03/2022

Am I wrong, or has President Zelinsky realized that Tsar Vlad is at a dead end and seems ready to abdicate the annexation?

Yesterday Peskov, the Tsar's parrot, told Reuters:
«They should make amendments to their constitution according to which Ukraine would reject any aims to enter any bloc. We have also spoken about how they should recognize that Crimea is Russian territory and that they need to recognize that Donetsk and Lugansk are independent states. And that’s it. It will stop in a moment.»
Today, President Zelinsky was interviewed by ABC News and showing that he understood the message declared that he was prepared to drop NATO membership and showed willingness to negotiate a solution for Crimea, Donetsk and Luhansk.



Such an agreement would be a great victory for the courageous people of Ukraine who resisted a barbaric invader and would make the tsar a "paper bear" who uselessly sacrificed a part of his army with an incompetent command to destroy cities in the country he wanted to annex.

Am I wrong or this is not quite what Tsar Vlad said he intended with the invasion?

Tass

«They should make amendments to their constitution according to which Ukraine would reject any aims to enter any bloc. We have also spoken about how they should recognize that Crimea is Russian territory and that they need to recognize that Donetsk and Lugansk are independent states. And that’s it. It will stop in a moment," Peskov told Reuters

Semanário de Bordo da Nau Catrineta comandada pelo Dr. Costa no caminho para o socialismo (5)

Continuação das Crónicas: «da anunciada avaria irreparável da geringonça», «da avaria que a geringonça está a infligir ao País» e «da asfixia da sociedade civil pela Passarola de Costa». Outras edições do Semanário de Bordo.

O que esperar do próximo governo socialista? Mais do mesmo

É certo que a maioria absoluta permitirá alijar a carga comunista-berloquista da geringonça. Contudo, os efeitos líquidos não serão muito significativos porque uma parte substancial das cedências orçamentais aos parceiros agora desavindos foram descontadas nas cativações e noutras manobras de engenharia orçamental em que o Dr. Centeno e o seu discípulo Dr. Leão foram mestres.

A factura da geringonça poderia ser mais aliviada nas acomodações ideológicas ao BE (identidade de género, linguagem inclusiva, racismo estrutural, etc.) que infectaram talvez irremediavelmente o Estado sucial. Ainda assim, a existência de uma facção berloquista no PS, de que o Dr. Pedro Nuno é a cabeça visível e um dos putativos herdeiros do Dr. Costa, e os complexos de esquerda moderna do PS não auguram grandes mudanças nesta matéria.

Na parte comunista da factura no que respeita à legislação laboral e em particular ao salário mínimo, também não prevejo grandes mudanças. Quanto à legislação laboral, o Dr. Costa na verdade não fez grandes concessões ao PCP e é muito provável que aproveite para pacificar as relações com as associações empresariais.

Quanto ao salário mínimo, o Dr. Costa parece firmemente determinado em aumentá-lo até que seja impossível aumentá-lo mais quando se aproximar do salário médio. Por razões que se percebem, afinal é a bandeira socialista mais barata para o governo, é um lubrificante da concertação social no que respeita aos sindicatos e não terá demasiada resistência das associações empresarias porque "apenas" põe em dificuldade umas centenas de milhares de micro e pequenas empresas. Last but not least, não compromete directamente as "contas certas", um pilar introduzido pelo Dr. Costa nas actuais políticas socialistas que ele espera seja um factor de facilitação do acesso à mineração do guito europeu.

Quanto às reformas indispensáveis para aliviar o peso do Estado sucial, melhorar a qualidade da educação, modernizar a economia, aumentar a competitividade e a produtividade, é melhor esquecer. O PS é o partido do Estado e das clientelas estatais, não é um partido reformista.

Com os dinheiros da bazuca para sossegar a clientela empresarial e proporcionar jobs for the boys, e uma oposição que inclui os restos que sobrarão do consolado do Dr. Rio, e a quem poderão ser atribuídas umas centenas de tenças na regionalização, o Dr. Costa bem poderia navegar tranquilo na sua Nau Catrineta os quatro anos de mandato, não fossem as previsões meteorológicas mostrarem no horizonte uma bela borrasca que a sua nau terá dificuldades em enfrentar.

Ainda não é o mafarrico, mas já se sente o cheiro das brasas

Nos últimos 12 meses a inflação subiu ininterruptamente nos países da OCDE e atingiu 7,2% em Janeiro, a taxa mais alta desde 1991. Por cá ainda só ia em 3,3% em Janeiro mas já vai em 4,2% em Fevereiro. Este aumento da inflação e os efeitos da pandemia e as sequelas da invasão da Ucrânia em economias ainda em recuperação podem reviver uma conjuntura já esquecida - a estaglafação dos anos 70 após o choque petrolífero - em que os efeitos de uma inflação elevada se combinaram com um crescimento baixo ou mesmo recessão, cenário que, por exemplo o Dr. Centeno, não exclui.

O Estado sucial é um caloteiro

Mesmo com os milhões da bazuca a inundarem a tesouraria, nem assim o Dr. Leão abre os cofres para pagar aos fornecedores. Em Janeiro os pagamentos em atraso aumentaram 107,3 milhões (destes, 96,1 milhões são dos hospitais do SNS) para 408,8 milhões, não obstante nesse mesmo mês o excedente orçamental ter registado um aumento homólogo de cerca de 80% para 1.834 milhões.

Depois da Boa Nova

Há um mês os jornais anunciaram a Boa Nova do recuo de 900 milhões da dívida pública, conseguido, como salientei na crónica do dia 7 de Fevereiro, à custa da redução da almofada de tesouraria. Só foi preciso esperar um mês para a dívida total retomar a sua trajectória ascendente aumentando 2,8 mil milhões em Janeiro e atingindo 272,4 mil milhões, montante superior em mais de 20 mil milhões ao do final de 2019 e atingindo um rácio ao redor dos 128% do PIB. Entretanto a Comissão Europeia já avisou esperar que os PIGS, já sem o I da Irlanda, comecem a reduzir a dívida e o défice, sem contar com a bazuca.

06/03/2022

A melhor maneira de combater a mentira é confrontá-la com a realidade

Entre as justificações dos devotos do Czar Putin para a invasão da Ucrânia pelos seus exércitos  encontramos as "provocações" do governo americano anunciando a invasão antes dela acontecer, antecipando até datas. É claro que é uma ideia pueril porque pressuporia que o Czar teria uma mente adolescente o que vindo dos seus devotos é uma contradição nos termos, além de não ter nenhuma aderência aos factos publicamente conhecidos que mostram uma preparação da invasão com meses de antecedência - os primeiros sinais remontam a Outubro.

O que explica então a divulgação antecipada inabitual pela administração americana de imensa informação normalmente secreta? Desde logo porque seria inútil tentar manter secreta informação que em parte já era pública. Depois porque «ao divulgar os projetos de Putin, corroborados por imagens de satélite publicamente disponíveis, o governo o impediu de dividir a NATO e o público americano e construir um pretexto para sua agressão. Pode até ter atrasado sua invasão, que começou em um ataque matinal em 24 de Fevereiro.»  Foi como usar a realidade contra Putin, tentando evitar que a verdade fosse a primeira vítima da guerra, como é costume dizer-se.

O algodão não engana. O teste das liberdades

Para saber se uma criatura aprecia de facto as liberdades pergunte-se-lhe: se tivesse de optar, escolheria uma democracia com defeitos, como a maiorias das democracias ocidentais, ou uma autocracia mais ou menos perfeita, como a de Putin, Xi Jinping, Castros, Maduro, e tantas outras.

05/03/2022

De volta à Covid-19. Colocando a ameaça em perspectiva (56) - Qual a letalidade do Covid-19? (11) O caso de Portugal dois anos depois

Este post faz parte da série De volta à Covid-19. Colocando a ameaça em perspectiva e é uma continuação de Qual a letalidade da Covid-19? (9) e Qual a letalidade do Covid-19? (10)

Recordando a distinção entre taxa de letalidade, que relaciona o número de óbitos com o número de infectados, e a taxa de mortalidade que relaciona o número de óbitos causados por uma epidemia com a população, num caso e noutro com referência a uma determinada área (mundo, pais, região, cidade, etc.).

Recordando também as patetices (nalguns casos pura manipulação) que os mídia publicaram no início da pandemia garantindo por exemplo que a Covid mataria 26 vezes mais do que a gripe.

O que dados estatísticos mostram é um realidade completamente diferente.

Por várias razões que vão desde a menor gravidade das novas variantes do SARS-Cov-2 (o Ómicron é pouco mais grave de que a gripe comum), uma parte das pessoas de risco (idade e comorbilidades) já faleceram, evolução do conhecimento médico e de novas terapias e percentagem crescente de vacinados, o certo é que actualmente a letalidade total da Covid está em 0,64%, dentro do intervalo da gripe asiática (H2N2) e menos de metade da gripe espanhola (H1N1).