O Dr. Miguel Sousa Tavares (MST), também conhecido como tudólogo, ainda hoje nos surpreende, na circunstância com uma série de peças na sua coluna no Expresso sobre a invasão da Ucrânia, peças que em seguida cito e comento.
11
de Fevereiro “Esta guerra que nos querem vender”
MST garante que a “invasão
iminente” é uma invenção dos “especialistas ocidentais” e do “círculo belicista
NATO-Estados Unidos-Inglaterra” e questiona o que “teria Putin a ganhar com
isso”, afinal seria “uma guerra que os russos pedem que evitem”.
18
de Fevereiro “A Rússia já invadiu?”
“Apesar de todos os esforços de
Biden, Johnson e desse incendiário imbecil que é o secretário-geral da NATO,
aposto que até hoje a Rússia não Invadiu a Ucrânia”, escreveu numa altura em que era
público, notório e documentado com imagens a preparação da invasão.
Para quem não saiba, o “incendiário
imbecil” é Jens Stoltenberg. ex-primeiro-ministro da Noruega e líder do Partido
Trabalhista, Noruega quem tem uma fronteira de 200 km com a Rússia e uma
fronteira de 700 km com a Finlândia que resistiu à invasão em 1939 pela União
Soviética que desistiu depois de imensas baixas, não sem anexar a região do
lago Ladoga.
25
de Fevereiro “Guerra e Paz”
“Sim, invadiu.” Reconheceu MST e
em vez de se penitenciar pelo que escrevera antes ataca a suposta “satisfação
intelectual de tantos que passaram semanas a anunciar a invasão, parecendo
mesmo desejá-la” e criticava o “lado ocidental” por não ter feito “um esforço
série de negociação”.
Recorde-se que na véspera Putin tinha
assim anunciado o lançamento da “operação especial” sem qualquer condição
negocial:
“Neste contexto, de acordo com o
artigo 51 (Capítulo VII) da Carta da ONU, com permissão do Conselho da
Federação da Rússia, e em execução dos tratados de amizade e assistência mútua com
a República Popular de Donetsk e a República Popular de Lugansk, ratificada
pela Assembleia Federal em 22 de fevereiro, tomei a decisão de realizar uma
operação militar especial.
O objetivo desta operação é proteger as pessoas que, há oito anos, enfrentam humilhações e genocídios perpetrados pelo regime de Kiev. Para isso, buscaremos desmilitarizar e desnazificar a Ucrânia, bem como levar a julgamento aqueles que cometeram inúmeros crimes sangrentos contra civis, inclusive contra cidadãos da Federação Russa.”
4
de Março “Tudo que parece é. Mas nem tudo o que parece é”
Cedendo à sua repulsa freudiana das
redes sociais, MST lamenta que “nas redes sociais, Putin passou a ser um bandido
e os ucranianos uns heróis”, “fazendo-o passar de vítima a agressor”. Acredita
que “havia espaço para a negociação” e que há uma “boa notícia é que, ao
contrário do que muitos vaticinavam, a estratégia não parece ser arrasá-la ou
deixá-la de joelhos por muito tempo”, isto numa altura em que várias cidades
ucranianas já estavam a ser devastadas pela brutalidade dos mísseis e da
artilharia russa.
11
de Março “A coragem está na paz, não nos falsos heroísmos”
MST começa a engolir a prosápia e
as razões indiscutíveis de Putin que o “círculo belicista” não aceitava evoluíram
para “as razões que tinha ou que julgava ter por força da história ou do
direito perdeu-as por força dos canhões e dos tanques”. Para compensar a perda
atira-se “ao celebrado Volodymyr Zelensky, com a sua T-shirt militar e os seus
discursos “patrióticos”, usando com mestria os seus dotes de actor e com
indisfarçada vaidade … a fazer tweets e vídeos e a apelar à terceira guerra
mundial”.
Só mais outro problema freudiano
pode explicar esta prosa em relação a uma criatura que tinha a cabeça a prémio e
sabe que com alta probabilidade a terá decepada pelas milícias de Putin.
Conclui, responsabilizando Zelensky
por não ter negociado antes de ser invadido.
Se até aqui consegui perceber a
evolução de MST debatendo-se com um difícil dilema entre o seu fascínio por
homens-fortes (o caso de Sócrates é um exemplo doméstico) e a sua pesporrência
opinativa, por um lado, e a realidade avassaladora, por outro, é nesta crónica
que perdi o fio à meada, com o seu anúncio da fundação em que participou de um “Clube
Liberal Português” uma espécie de “NATO do pensamento” (não a do “círculo belicista”,
supõe-se) que tem “a guerra da Ucrânia (como) a causa fundadora” e que admite
que “Putin é um bandido à solta, que a invasão é injustificável ou que os
bombardeamentos de alvos civis são criminosos”.
Depois de quatro dias, ainda suspeito
que o Dr. Tavares possa ter escrito esta peça enigmática com o propósito de mangar
com a tropa dos seus leitores.
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Aditamento:
A propósito do "incendiário imbecil", já depois de ter escrito este post li este resumo da intervenção ontem na conferência da Fundação Gulbenkian do ex-primeiro-ministro finlandês Alexander Stubb, outro que o Dr. Tavares certamente classificaria como "incendiário imbecil", cuja leitura se recomenda vivamente.
Entretanto quantas centenas de milhões por dia continua a Alemanha/europa a pagar à Russia em gás e oil?? https://novadesordemmundial.blogspot.com/2022/03/desordem-as-portas-da-europa.html
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