30/03/2022

Antes de fazer um juízo definitivo sobre os desconchavos de Biden, convirá rever as atrocidades e os erros crassos de Putin e o que dizem os seus admiradores

Em face da invasão russa ordenada por Putin à Ucrânia e da destruição maciça de alvos civis, qualificar o Czar como criminoso de guerra e considerar que deve ser removido do poder, são afirmações que qualquer cidadão decente poderia fazer. Outra coisa é serem feitas por um presidente de um outro país, na circunstância Joe Biden, o presidente americano. Se ditas em público, como foi o caso, a qualificação como criminoso de guerra é contra todas as regras não escritas da diplomacia, e apelar à remoção de Putin é uma ingerência nos assuntos internos de outro país, inadmissível face ao direito internacional, e possivelmente uma inutilidade se Putin tiver o apoio da maioria dos russos, como parece. 

É por isso compreensível que um cidadão decente considere as afirmações de Biden inaceitáveis e eventualmente as atribua a senilidade e/ou uma tentativa de diversão para fazer esquecer os falhanços da sua administração e a sua cada vez maior impopularidade. 

Um cidadão decente em face do desastre que está a ser a invasão, que o Czar no seu linguajar de newspeak orwelliano baptizou de «operação militar especial», compreensivelmente consideraria o Czar e os seus siloviki uma clique incompetente e com inteligência limitada (nos dois sentidos), pelas razões que sumarizo a seguir:  

  • Lançar uma operação militar nesta época do ano (os tanques e todo o material circulante ficam atolados fora da estrada e por isso as filas de dezenas de kms nas estradas, esquecendo o que aconteceu aos exércitos de Hitler);
  • Falhar definitivamente a logística que, segundos os manuais da primeira classe, faz ganhar ou perder guerras (tanques e outro material ficaram parados por falta de combustível; a Ucrânia aproveitou e confiscou centenas e tem agora mais tanques do que no início da invasão);
  • Falhar as comunicações que não estão capacitadas para encriptação (até telemóveis comuns estão são usados) e são escutadas pelos ucranianos;  
  • Um antigo espião rodeado de antigos e actuais espiões, falhar na inteligência e ser apanhado completamente desprevenido pela resistência ucraniana (dois dias depois da invasão, a a agência estatal RIA Novosti publicou por engano - era para sair mais tarde - um artigo onde se gabava que  “A Ucrânia voltou para a Rússia” e “Alguém nas antigas capitais europeias, em Paris e Berlim, acreditava seriamente que Moscovo desistiria de Kiev?”) (fonte);
  • Um antigo espião rodeado de antigos e actuais espiões acreditar nas suas próprias balelas e esperar que um Ocidente decadente seria incapaz de reagir e ser surpreendido pela reacção da UE e da NATO;
  • Usar tropa impreparada, mal informada e desmotivada que pensava estar a continuar o exercício começado há meses ou ser recebida de braços abertos pelos "irmãos ucranianos"; 
  • O resultado das falhas de informação, estratégia, planeamento, logística, comunicação e a  impreparação não poderia deixar de ser o desastre que está a ser: baixas (7 oficiais generais mortos e entre 7 a 10 mil mortos) e perdas de material várias vezes superiores às ucranianas (quatro vezes, segundo esta fonte documentada com datas e fotos);
  • Inevitavelmente, o desastre está a levar à reformulação dos objectivos que começaram por ser o derrube do governo legítimo e a sua substituição por um do tipo bielorrusso, reformulação camuflada por declarações grandiloquentes e mentiras puras e duras.
Ainda que a clique putinesca e os seus exércitos possam acabar por ocupar a Ucrânia, destruindo-a, isso será a prazo uma derrota ainda mais pesada porque para manter o controlo sobre um país com cidadãos que odeiam o putinismo e lutam pela sua liberdade com uma tropa determinada pagarão um altíssimo preço. 

Chegado aqui, o que pensaria um cidadão decente de alguém que já depois da invasão tem reiteradamente manifestado admiração e classificado o Czar Vlad como genial? E não, não me estou a referir a nenhum dos siloviki, nem mesmo a nenhum dos oligarcas putinescos, estou a referir-me ao antigo presidente americano Donald Trump.

4 comentários:

  1. Fazer juízos acerca de um gágá ou de um criminoso é igual.
    Tende juízos límpidos sobre o que sabeis. Não deiteis cartas...
    Abraço

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  2. Caro Senhor

    E o que me deixa preocupado, mesmo muito preocupado, é que no país que representa, e suporta, o ocidente, depois de uma figura indescritível como era, e continua a ser, Trump, que a essa figura suceda uma figura igualmente indescritível como o presidente Biden, que não acerta duas frases se não seguir o texto indicado no teleprompt.

    O Ocidente já morreu? Os EUA não conseguem arranjar melhor?

    Cumprimentos

    Vasco Silveira

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  3. O Ocidente não morreu,mas tornou-se numa espécie de clone mal enjorcado do original(a Europa então parece uma reunião de condomínio onde só parece haver respostas quando o prédio já está a ruir,e no caso da Ucrania é literal)

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  4. E não, não me estou a referir a nenhum dos siloviki, nem mesmo a nenhum dos oligarcas putinescos, estou a referir-me ao antigo presidente americano Donald Trump.

    Mas que é isto? Tá a ver mal, muito mal. Nada do que escreveu é verdade.

    Está descontextualizado

    Mas... que se hade fazer, no geral até é bastante sensato. acho que vou ter de o tratar como um tio comunista, ficou agarrado a um conceito e não se pode mudar. Tenho pena.

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