31/03/2020

Lost in translation (335) - Dito assim até parece um bónus de compras do Pingo Doce

Expresso
Traduzindo do jornalês de causas para português corrente: em cima de uma dívida de 250 mil milhões de euros, o Estado Sucial português vai poder endividar-se num montante de 17,4 mil milhões de euros, dívida que será comprada pelo BCE e terá de ser paga nos anos seguintes pelos sujeitos passivos, súbditos do Estado Sucial português. A menos que essa dívida seja perdoada ao Estado Sucial português (é essa a esperança do “pedinte mal criado”) e, nesse caso, será suportada pelos sujeitos passivos, súbditos dos Estados Suciais e não Suciais membros da UE.

Com esta dívida adicional o Estado Sucial português poderá financiar despesa adicional do mesmo montante o que "permitirá" um défice não de 8%, como bondosamente nos garante o semanário de reverência (sonhando que o PIB se manteria depois os impactos da pandemia ) mas de um défice que, segundo as estimativas mais realistas do PIB (redução de 20%), seria de 10%, ao nível do melhor dos défices de memória do PS, conseguido pelo Dr. Teixeira dos Santos. No vosso caso, consideraria a queda de 20% do PIB como o best case.

Já agora, permitam-me chamar a atenção para que um provável défice depois da pandemia ainda assim só está ao nível do défice conseguido pela dupla Eng. Sócrates-Dr. Teixeira Santos, o que tem de considerar-se um feito em tempo de paz  - não esquecer que estamos em guerra dizem-nos os sucessores dessa dupla.

Sim, é esse mesmo Dr. Teixeira dos Santos que nacionalizou o BPN, que era para não custar nada e o nada vai já para cima de 6 mil milhões, e de seguido saltou para administração desse mesmo banco comprado pela Dr.ª Isabel dos Santos, conhecida empresária da cleptocracia angolana.

Estado assistencialista que falha nas únicas épocas em que a sua existência se justificaria

«... empresários angustiados sem saberem como vão pagar os salários no fim do mês, de pessoas revoltadas por se verem desamparadas por um Estado que ajudam a financiar, de cidadãos perplexos com a desorganização de uma máquina pública que funciona deficientemente e que, em alturas de maior pressão, bloqueia quase por completo, dando respostas equivocas ou nenhuns esclarecimentos.»

Multiplicam-se os relatos como este (newsletter do Expresso) de jornalistas que até há pouco louvavam o Estado Sucial do Dr. Costa e agora se queixam dele.

30/03/2020

A evaporação de temas fracturantes, uma consequência inesperada da pandemia

Reparo com alívio que vários temas até recentemente urgentes e avassaladores se evaporaram dos mídia. Alguns exemplos que me ocorrem:

  • Eutanásia
  • Identidade de género
  • Incêndios da Amazónia
  • Regionalização ou descentralização, que parece ser o mesmo mas com vaselina
  • Salvação do planeta.

Também algumas personalidades se evaporaram, por exemplo:
  • Greta Thunberg
  • Isabel dos Santos
  • S. Ex.ª o Presidente da República, auto-evaporado e agora em fase de condensação. 
Porque no jornalismo de causas o jornalismo é facultativo e as causas são obrigatórias, alguns dos temas pré-pandemia mantêm-se e estão na fase de enchimento novos temas fracturantes inevitavelmente relacionados com a pandemia, por exemplo:

  • Desatinos de Donald Trump
  • Coronabonds
  • Impeachment de Jair Bolsonaro.

(Work in progress)

SERVIÇO PÚBLICO: Leitura recomendada sobre o Covid-19

Afinal quando (e como) é que isto vai acabar?, um artigo de José Manuel Fernandes no Observador que faz em minha opinião faz uma síntese, rigorosa mas acessível, do que sabe sobre a pandemia e sobre as medidas para a combater. É um exemplo de jornalismo profissional e responsável, infelizmente pouco frequente num meio infestado pelos vírus da incompetência e do achismo e das causas.

Crónica da asfixia da sociedade civil pela Passarola de Costa (25) - Em tempo de vírus (III)

Avarias da geringonça e do país seguidas de asfixias

Estamos em guerra?

Sim, é o que diz o governo por bocas várias, incluindo a da ministra da Saúde e até do Dr. Mário Centeno que com as suas cativações e outros expedientes orçamentais deixou o exército para esta guerra sem munições.

É normal. A história mostra que os governos quando se sentem entalados frequentemente inventam um inimigo externo, a maior parte das vezes para tentar entalar os inimigos internos.

Os ricos que paguem a crise

Vocifera em coro quase toda a nomenclatura do regime, invocando as supostas obrigações de solidariedade da Óropa para com o Portugal dos Pequeninos e exigindo coronabonds. É uma espécie de reedição do mote maoista do PREC os ricos que paguem a crise.

O Dr. Costa entrou no coro como solista no papel de “pedinte mal criado”, engrossou a voz e apelidou de «repugnante» o discurso do ministro das Finanças de um dos ricos que, diz o Dr. Costa, defendeu que se deveria averiguar o que andaram os pedintes a fazer com o dinheiro durante de 6 anos de crescimento da Zona Euro. Pela parte portuguesa respondi aqui: o Dr. Costa gastou-o em acções da mais pura solidariedade socialista para promover o bem-estar da sua freguesia eleitoral.

E quem são os ricos? perguntareis e eu respondo com o diagrama seguinte: são os azuis. O que, por casual coincidência, faz dos vermelhos os pobres, como na vida real.

28/03/2020

DEIXAR DE DAR GRAXA PARA MUDAR DE VIDA: Portugueses no topo do mundo (26) - Até o vírus é pretexto para o jornalismo de causas ser mortalmente ridículo

Outros portugueses no topo do mundo.

Contextualizando: o Imperial College COVID-19 Response Team publicou no dia 16 de Março o relatório «Impact of non-pharmaceutical interventions (NPIs) to reduce COVID-19 mortality and healthcare demand», aqui citado dias depois, onde concluiu, com base nos números até então conhecidos, que da estratégia do governo de não recorrer ao confinamento poderia resultar uma carga excessiva para o NHS e seu provável colapso. Essas conclusões levaram o governo inglês a alterar a estratégia e decretar o confinamento.

No melhor pano cai a pior nódoa. Neste caso o pano é o jornal Observador que, não tendo acesso a Neil M. Ferguson, vice-reitor da School of Public Health do Imperial College e primeiro signatário daquele relatório, adoptou o luso-método de quem não tem cão caça com gato e resolveu entrevistar Francisco Veloso, ex-director da Católica Lisbon School of Business and Economics até 2017 e actual reitor da Imperial College Business School.

A prestação de Francisco Veloso durante os 13 minutos que durou a entrevista foi o que se poderia esperar de um reputado académico com um excelente currículo: objectiva e informada (e politicamente correcta, esta não era necessária, mas nos tempos actuais é difícil fazer carreira de outro modo). Teve ainda o bom senso de não entrar pelo campo da medicina e da epidemiologia, visto que é um economista e nada teve a ver com o relatório da School of Public Health.

So far so good. E qual foi o título escolhido para a entrevista?

«O português que ajudou Trump e Boris Johnson a desviar-se da "situação extrema" de Itália»

E, para que não restassem dúvidas sobre quem seria o português que fez tal coisa, acrescenta-se: «(...) Francisco Veloso explica como influenciou os dois governos.» É claro que Francisco Veloso está inocente de ter feito e de ter explicado uma coisa que não fez.

Quem não está inocente é o Observador que adoptou o pior do jornalismo de causas lusitano, especialista em alimentar a necessidade patética, infantil e doentia de se construírem ficções para fingir que «somos muito bons, somos dos melhores dos melhores», enquanto desperdiçamos as oportunidades para ir fazendo o que podemos fazer e elevar a fasquia para fazermos mais e melhor. Sim, eu sei que já escrevi isto várias vezes, mas apenas porque aquilo está sempre a ser feito.

Entretanto, actualizei a pesquisa no Google da expressão "português no topo do mundo" que há 5 anos tinha 5.900 resultados e agora apresenta 10.700, o que mostra que com idade não ganhamos necessariamente sabedoria, apenas ficamos mais velhos.

De volta ao Covid-19. Colocando a ameaça em perspectiva (2)

Na sequência do primeiro post, procurando uma visão factual e um exercício de racionalidade expurgado da paranóia e das teorias da conspiração sobre a pandemia em curso que contaminam as redes sociais e os mídia, publico uma versão em tradução automática do artigo «How deadly is the coronavirus? It’s still far from clear» do médico John Lee, professor de patologia recém-aposentado e ex-patologista consultor do NHS.

«Ao anunciar as mais abrangentes restrições à liberdade pessoal na história de nossa nação, Boris Johnson seguiu resolutamente os conselhos científicos que recebeu. Os assessores do governo parecem calmos e controlados, com um sólido consenso entre eles. Diante de uma nova ameaça viral, com um número crescente de casos diariamente, não tenho certeza de que algum primeiro ministro teria agido de maneira muito diferente.

Mas gostaria de levantar algumas perspectivas que dificilmente foram referidas nas últimas semanas e que apontam para uma interpretação dos números bastante diferente daquela que serve de base ao governo. Sou professor de Patologia e consultor do NHS recém-aposentado e passei a maior parte da minha vida adulta nos cuidados de saúde e na ciência - campos que, com muita frequência, são caracterizados por dúvida e não por certeza. Há espaço para diferentes interpretações dos dados actuais. Se algumas dessas outras interpretações estiverem correctas, ou pelo menos mais próximas da verdade, as conclusões sobre as acções necessárias mudarão em conformidade.

A maneira mais simples de julgar se temos uma doença excepcionalmente letal é examinar as taxas de mortalidade. Há mais pessoas morrendo do que esperávamos morrer de qualquer maneira em uma semana ou mês? Estatisticamente, espera-se que cerca de 51.000 morram na Grã-Bretanha este mês. No momento em que escrevo este artigo, 422 mortes estavam ligadas ao Covid-19 - 0,8% do total esperado. Em uma base mundial, espera-se que 14 milhões morram nos primeiros três meses do ano. As 18.944 mortes de coronavírus no mundo representam 0,14% desse total. Esses números podem disparar, mas agora são mais baixos do que outras doenças infecciosas com as quais vivemos (como a gripe). Não são números que, por si só, provocassem reacções globais drásticas.

27/03/2020

Lost in translation (334) - Repugnante, disse ele, indignado

Wopke Hoekstra, o ministro das Finanças holandês, defendeu numa vídeoconferência que deviam ser investigados os países que, depois de sete anos de crescimento da Zona Euro, se queixam de falta de dinheiro para combater a pandemia.

Recorde-se que Jeroen Dijsselbloem, o antecessor do Sr. Hoekstra, já havia implicitado, com grande indignação da nomenclatura do Portugal dos Pequeninos, que alguns países gastariam o dinheiro dos outros em putas e vinho verde, para usar uma expressão vernacular que Jero teria usado se a conhecesse. Portugal não foi mencionado, o que não impediu o Dr. Costa e os seus apoderados de enfiarem a carapuça e expressaram a sua mais veemente indignação.

Apesar de uma vez mais Portugal não ter sido citado pelo Sr. Hoekstra, o Dr. Costa sentindo os seus telhados de vidro, puxou dos galões da indignação patriótica e declarou impante «esse discurso é repugnante no quadro de uma União Europeia. E a expressão é mesmo essa. Repugnante

Compreende-se a indignação do Dr. Costa, afinal ele não tem dinheiro para combater a pandemia mas não porque o tenha gasto em putas e vinho verde. Pelo contrário (não tenho a certeza se esta expressão é adequada), gastou-o em acções da mais pura solidariedade socialista para promover o bem-estar da sua freguesia.

O coronavírus no agitprop do Novo Império do Meio

«Peço-lhe também, meu caro leitor, que tire dois minutos do seu dia e leia a conta do porta-voz dos Negócios Estrangeiros da China no Twitter, uma rede proibida para o cidadão chinês comum. Verá, com alguma estupefacção, o empenho das autoridades chinesas em contabilizar os mortos de coronavírus registados fora da China, como que ilibando o regime chinês de qualquer responsabilidade. É isso mesmo, meu caro leitor. A China está a usar o número de mortos europeus como propaganda, como álibi para a sua gestão do vírus desde o ano passado. Vou repetir, porque não o digo de ânimo leve: a China está a usar mortos como propaganda.

Se lermos o Global Times, um jornal do regime, propriedade do seu Comité Central, apercebemo-nos de atitudes de similar desumanidade. A 11 de março, a publicação estatal assumia que se os Estados Unidos excluíssem a Huawei da instalação do 5G não teriam acesso a máscaras e material médico fabricado na China. Sim, também é disto que estamos a falar: um país que usa uma pandemia para fazer chantagem e promover as suas empresas. Pense bem nisso, meu caro leitor, da próxima vez que vir um político português encantado com dinheiro chinês.
»

Excerto de «A verdade sobre a China que não podemos ignorar (mas que vamos ignorar)», Sebastião Bugalho no Observador

Dúvidas (296) - Será o Gabinete de Monitorização uma espécie de Gosplan?

Vinte e sete economistas subscreveram uma espécie de manifesto a propor a criação de um Gabinete de Monitorização «para monitorizar a crise composto por quadros quer do sector privado quer público, bem como de representantes do governo

Não sei se estes 27 podem ser considerados uma espécie de macroeconomistas conexos ou simplesmente economistas mediáticos, sendo certo que a maioria são cientistas do Estado. Além destas dúvidas, tenho mais uma: será o Gabinete de Monitorização uma espécie de Gossudarstvênnîi Komitet po Planirovâniu, uma instituição criada em 1921, mais conhecida pelo petit non Gosplan.

DEIXAR DE DAR GRAXA PARA MUDAR DE VIDA: Não se deve confiar demasiado nas escolhas de eleitores que confiam nestes governantes

Sondagem ICS-ISCTE nos dias 22 e 23-03 para o Expresso
O que pensar de eleitores que maciçamente dizem confiar em gente que os manipulou, lhes contou estórias, fugiu às responsabilidades, mostrou notável incompetência, etc. (um grande ETC.)? Que estão tão borrados de medo, abandonados pela Óropa, e não havendo mais salvadores à mão de semear se conformam com estes?

25/03/2020

Bons exemplos (131) - Em 24 horas 405 mil responderam ao apelo

«So much of the news has been dominated by people who don't seem to care about others during the coronavirus outbreak that it's often easy to forget how many want to help in any way they can. From the notes pushed through letterboxes from neighbours offering help, to the doctors and nurses returning to the NHS, there have been plenty of examples of how good people can be to one another in a crisis like this. Today we were given a stunning statistic that was unusually cheering against the rising death toll: 405,000 people have signed up as volunteers to help the health service during this outbreak. They will deliver food and medicines, take patients to appointments and check in by phone on those who are in isolation.

Boris Johnson announced the figure at the daily Downing Street press conference. The call for volunteers was just 24 hours ago, and the target was to recruit 250,000 helpers. It currently only applies to England, but there are hopes to replicate it in Wales too. Johnson said the helpers would be 'absolutely crucial in the fight against this virus'.»

[Da newsletter da Spectator]

No Portugal dos Pequeninos gostamos muito de encher a boca com "afectos" com "solidariedade" e "solidário" e pensamos do alto da nossa suposta superioridade moral que os "bifes" são uns mercantilistas que só pensam em dinheiro e negócios. É melhor pensar duas vezes.

Isto não é uma previsão, é um suponhamos...



… suponhamos que o corona tinha estudado matemática. Nesse caso, se adoptasse um ajustamento polinomial de grau 4, os números de infectados e de óbitos, que até ontem eram 2.995 e 43, dentro de duas semanas poderiam atingir mais de 5.000 e mais de 500, respectivamente.

Como não há a certeza se o corona sabe matemática ou se escapa à matemática, pode acontecer como ao Ronaldo das Finanças que previu que o PIB cresceria 1,9% em 2020 e o corona pode fazer o PIB decrescer 20%.

O vírus do politicamente correcto está a infectar a justiça (para já a britânica)


«Em Dezembro, um tribunal britânico do trabalho decidiu que o Centro para o Desenvolvimento Global, um think tank, actuou legalmente ao não renovar o contrato de Maya Forstater por ter twittado que o sexo biológico de uma pessoa é imutável. Forstater, uma investagador, twittou várias mensagens críticas à ideia de que quem nasce homem se pode tornar mulher. Ela fez isso a partir de sua conta pessoal, mas incluiu o nome do seu empregador no perfil do Twitter. Depois dos seus colegas se terem queixado ao departamento de recursos humanos sobre sua conduta online, foi-lhe pedido para adicionar o disclaimer “as opiniões são as minhas”. Ela fez isso. Segundo o seu empregador, os colegas de trabalho opuseram-se a que ela publicasse uma foto de si mesma numa manifestação com uma faixa que dizia “Woman, noun, adult human female”. 

Os activistas de direitos trans aplaudiram, e os defensores dos direitos das mulheres e da liberdade de expressão ficaram horrorizados, porque foi criado um precedente. Em tribunal, Forstater argumentou que a sua convicção de que os homens não se podem tornar mulheres deve ser protegida da mesma maneira que uma crença religiosa. O juiz discordou, declarando que suas opiniões "críticas do género" "não eram dignas de respeito em uma sociedade democrática" e não deviam ser protegidas.»

(Lido aqui)

24/03/2020

Crónica da asfixia da sociedade civil pela Passarola de Costa (24) - Em tempo de vírus (II)

Avarias da geringonça e do país seguidas de asfixias

Esta é mais uma crónica especial sobre a resposta do governo do Dr. Costa ao Covid-19 e seus impactos na saúde e na economia.

O Dr. Costa do Covid-19 é um poucochinho menos mau do que o Dr. Costa do virar da página da austeridade

Pelo menos comparando-o com S. Exª. o PR, que vitimado pela sua hipocondria se enclausurou e passou a comunicar com os jornalistas na varanda de casa e a informar o país, por uma ligação Skype do mais rasca que já se viu, a sua proposta de estado de emergência, proposta que mais pareceu um álibi para a sua clausura.

O Dr. Costa sempre conseguiu manter uma poucochinho mais de gravitas e desta vez não se saiu mal nas suas comunicações. Mas o mal estava feito nos quatro anos anteriores onde se limitou a viver dos dividendos do turismo e das exportações, não fez uma só reforma e se dedicou a «repor os direitos» da sua clientela eleitoral deixando o aparelho administrativo de rastos, em particular o SNS incapaz de responder até ao business as usual quanto mais a uma situação de crise epidémica como a actual.

Cesse tudo quanto a antiga musa canta

Não acreditem em cenários miríficos de uma recessãozita mundial. Em relação à economia americana, mesmo as previsões mais realistas do Morgan Stanley de queda de 30% do PIB no 2.º trimestre e um aumento da taxa de desemprego dos 3-4% actuais para 12,8%, vão ser certamente ultrapassadas.

Aqui no Portugal dos Pequeninos vai ser uma hecatombe económica e financeira em cima de um endividamento pesado (em Janeiro o endividamento total público e privado voltou a aumentar 1,5 mil milhões atingindo 722,5 mil milhões), uma economia descapitalizada e uma produtividade medíocre. O turismo que representa quase um sexto do PIB em termos de impacto directo e um impacto total que pode atingir 25% do PIB vai sofrer um rude golpe. As exportações vão igualmente ser fortemente afectadas.

No conjunto, segundo a estimativa de Abel Mateus, que na circunstância temo seja optimista, haverá uma queda anual de 5,4% do PIB o que adicionado ao crescimento antes previsto de 1,9%, equivale a um impacto de 7,3%  resultante da pandemia. Em consequência, segundo Abel Mateus, a taxa de desemprego aumentará 5 a 7,5 pontos percentuais voltando ao níveis da crise anterior.

O cenário de Abel Mateus corresponde aproximadamente ao mais optimista dos três cenários da  Universidade Católica: quedas do PIB de 4%, 10% ou 20%  e aumento do desemprego para 8.5%, 10.4% e 13,5%. No vosso lugar, apostaria no último cenário.

A medicina do Dr. Costa para a ecoanomia

E que respostas tem o governo do Dr. Costa para enfrentar a inevitável crise? Em duas semanas anunciou sucessivamente medidas várias que começaram por 100 milhões (até parece mentira mas não é), continuaram com 200 milhões, 2.000 milhões, 9.200 milhões e 10 mil milhões. É o que se chama andar atrás dos acontecimentos e não augura nada de bom.

Não estamos preparados para enfrentar esta crise. Na verdade, já não estávamos preparados para enfrentar a longo prazo a situação "normal".

23/03/2020

CASE STUDY: Trumpologia (61) - E se Trump, desta vez, não estivesse totalmente errado?

Mais trumpologia.

Coronavirus «dies with the hotter weather» disse Donald Trump em 10 de Fevereiro.

Covid-19 Cumulative confirmed cases (Center for Systems Science and Engineering  at Johns Hopkins University

Wikipedia

Ainda é cedo para eleger Trump como uma autoridade científica só porque pode não ter dito mais um disparate. Como escrevi aqui, as pessoas como Trump falam muito e a propósito de tudo e, não tendo uma linha de pensamento coerente nem preocupações de verdade e rigor, dizem coisas completamente contraditórias. Por isso, é sempre possível a uma criatura normal com um módico de racionalidade encontrar algo no dilúvio verbal com o qual concorde.

Sim, a correlação não é causalidade, mas haver correlação não impede a causalidade, aumenta-a. Sim, certamente há vários factores que intervêm, mas a temperatura e humidade podem ser alguns deles. Em qualquer caso, é por isso que o título tem lá aquela interrogação.

22/03/2020

O Covid-19 e as idiossincrasias nacionais

Itália

Em 27 de Fevereiro Nicola Zingaretti, secretário nacional do Partido Democrata que participa no governo, uma semana antes de lhe ter sido diagnosticado Covid-19, twitou;


Ponto de situação por milhão de habitantes: infectados 886; mortos 80

Espanha

«Hospitais a colapsar, mas mantêm-se os engarrafamentos para sair das cidades ao fim de semana»
Ponto de situação por milhão de habitantes: infectados 611; mortos 37

Alemanha

Covid-19 é "o maior desafio desde a II Guerra Mundial" disse a chanceler alemã
Ponto de situação por milhão de habitantes: infectados 276; mortos 1

Portugal

O presidente da República, um conhecido hipocondríaco, fechou-se em casa duas semanas e fez uma comunicação ao país pelo Skype a propor o estado de emergência.
Ponto de situação por milhão de habitantes: infectados 147; mortos 1

21/03/2020

EU DIRIA MESMO MAIS: O estado de emergência como vacina contra o socialismo

«Nas seitas de esquerda, o primeiro critério de admissão é a inveja. O segundo é o descaramento. A inveja permite-lhes desejar a destruição da economia, e repetir com fervor o bordão “nada voltará a ser como antes”. O descaramento permite-lhes afirmar que a epidemia prova a nossa dependência do sector público. Por acaso, e descontando o desnorte das “autoridades” para efeito de alívio cómico, a epidemia tem vindo a provar pela enésima ocasião que depender do sector público é meio caminho andado para o desastre. Apesar dos esforços dos funcionários e de biliões em impostos, o SNS, que ao longo de anos serviu de estandarte heróico, é afinal uma ruína sem préstimo em situações sérias: duas ou três centenas de casos graves e aquilo desmantela-se como a indestrutível URSS em que alguns gostariam de nos transformar. Vale, se nos chegar a valer, a colaboração dos hospitais privados, dos laboratórios privados, das empresas privadas e dos cidadãos privados, entidades essencialmente malignas e ávidas por – o Diabo seja cego, surdo e mudo – lucro. E para aqueles que não chegarão a precisar de cuidados médicos, vale-nos o capitalismo para manter a internet, o streaming de filmes, os sites informativos, as “redes sociais”, o WhatsApp, as compras “on line”, a circulação de capitais, etc.

Na verdade, o capitalismo é o que vai tornando suportável esta clausura sem final previsto. A parte insuportável é providenciada pelo Estado, para cúmulo de emergência. O coronavírus, que nos colocou nas mãos dos senhores que mandam, doravante habilitados a decidir os destinos dos indivíduos até ao ínfimo pormenor, não é uma oportunidade para abolir o capitalismo, mas para experimentar a ausência parcial do capitalismo, a ausência de mercado pleno, a ausência de circulação indiscriminada, a ausência de liberdade enfim. O coronavírus, que nos reduziu a sombras, é uma oportunidade para experimentar o socialismo a sério. E perceber o seu imenso horror. E esperar que não dure. E ansiar, com infundado optimismo, que tudo, apesar de tudo, volte a ser como antes. Ou, estou a delirar, melhor que antes.»

Excerto de «O vírus é uma oportunidade para abolir o socialismo», Alberto Gonçalves no Observador

CASE STUDY: Trumpologia (60) - Más notícias para o Donaldo

Mais trumpologia.

Já aqui tinha concluído que o melhor candidato democrata para Trump ganhar um segundo mandato seria Bernie Sanders pelo seu lunatismo radical esquerdista que poderia levar uma parte dos eleitores democratas a absterem-se ou mesmo a engolirem o sapo e votarem Trump - como os comunistas fizeram com Soares exortados por Cunhal.

As coisas que já não estavam correr bem depois da Super Tuesday, pioraram com os resultados da primárias na Florida, Illinois e Arizona. Com 1.153 delegados até agora, contra 874 de Bernie Sanders, Joe Biden irá quase certamente ser nomeado o candidato do Partido Democrata.

Apesar de Biden poder reunir o voto de todos os eleitores democratas e até ter a maioria de votos na soma dos Estados, está longe de ser seguro que derrotará Trump por duas razões. O processo de contagem dos votos no colégio eleitoral favorece os pequenos Estados onde Trump poderá ter a maioria dos grandes eleitores - nas eleições anteriores foi eleito com menos 2,8 milhões de votos do que Hillary Clinton. A tribalização do eleitorado americano está tão acentuada que permite a Trump reter o voto de eleitores que, apesar de o poderem achar detestável, se convenceram que o voto em Trump é um voto anti-sistema e que he's draining the swamp, quando ele próprio é um produto típico do swamp.

E com essa auto-ilusão aceitam passivamente os "factos alternativos", as mentiras mais primárias, os maiores disparates e as contradições constantes de um discurso errático. Por falar nisso, veja-se o vídeo seguinte onde se mostram excertos das suas declarações nos últimos meses sobre o coronavírus.


Por exemplo, depois de ter desvalorizado durante semanas o risco de contágio, em conferência de imprensa na segunda-feira Trump recomendou o fecho das escolas, evitar grupos e comer em restaurantes. Também disse que o surto do coronavírus poderia durar até «July, August, something like that» um dia depois de garantir que tudo estava sob controlo.

Não quero concluir que Trump fez tudo errado, muito menos que esteja em desacordo com tudo o que defende, nem posso dizer que estou em desacordo com a sua doutrina, supondo que exista, porque não sei qual seja. Ainda ontem de manhã escrevi a um amigo, vagamente admirador do homem, que as pessoas como Trump falam muito e a propósito de tudo e, não tendo uma linha de pensamento coerente nem preocupações de verdade e rigor, dizem coisas completamente contraditórias. Por isso, é sempre possível a uma criatura normal com um módico de racionalidade encontrar algo no dilúvio verbal com o qual concorde. Em abstracto, até um psicopata ou um mentiroso compulsivo podem dizer coisas com as quais uma criatura normal concorda.

20/03/2020

Dúvidas (295) - Será a verdade a primeira vítima de uma pandemia num regime autocrático?

Covid-19 na RÚSSIA e países fronteiriços (worldometer)
Alguns dados sobre a demografia da Rússia (comparação com mundo):

  • Taxa de fertilidade 186.º
  • Taxa de natalidade 191.º
  • Taxa de mortalidade 7.º 
  • Taxa de crescimento da população 205.º
  • Esperança de vida à nascença 158.º 

Num país que tem a 7.ª taxa de mortalidade em todo o mundo, é um verdadeiro milagre a contenção do Covid-19. Temos de nos curvar perante a eficácia da saúde pública do regime putinesco. Ou, em alternativa, temos de reconhecer a extraordinária eficácia no controlo da informação e dos mídia.

Leitura recomendada: «Para Putin, a Rússia tem o coronavírus "sob controlo". Terá mesmo?»

19/03/2020

Dúvidas (294) - O Estado italiano é um Estado falhado?


A Itália com os seus 60 milhões de habitantes tem mais de metade do número de infectados e ultrapassou hoje o número de mortos pelo Covid-19 da China com os seus 1.410 milhões.

De volta ao Covid-19. Colocando a ameaça em perspectiva

A pandemia Covid-19 é grave? Certamente, mas com cerca de 9.000 mortes até agora em menos de 3 meses qual é a sua gravidade relativa face a outras doenças epidémicas ou não?

Fonte
No diagrama anterior estão listadas as doenças com mortes diárias médias superiores às do Covid-19 até ontem. A tuberculose mata em três dias o equivalente a todas as mortes resultantes do Covid-19 até hoje. E doenças pandémicas com o HIV/AIDS e a H1N1 matam em cinco dias ou em duas semanas, respectivamente, mais do que Covid-19 até hoje. Valerá a pena lembrar que em Portugal há até agora 2 mortos pelo Covid-19 e o número de mortos pela gripe comum nos últimos anos se tem situado entre 3.500 e os 5.000?

Agora que o Covid-19 está controlado na China, continuará a propagar-se fora da China à mesma velocidade de que até agora?  O número de infectados por uma pandemia segue tipicamente uma curva denominada logística ou curva em "S", como a do gráfico seguinte.

Fonte


O número de novos infectados aumenta exponencialmente numa primeira fase que se pode dividir em duas subfases: a primeira de aceleração (2.ª derivada positiva) em que aumenta o incremento diário do número de novos casos e a segunda de desaceleração (2.ª derivada negativa) em que o número de novos casos continua a aumentar mas cada vez menos.  Essa primeira fase termina no ponto de inflexão (1.ª derivada nula) quando o número de novos infectados começa a diminuir (1.ª derivada negativa).

As medidas de contenção não alteram o tipo de curva apenas a "comprimem" prolongando-a no tempo, o que em si mesmo é uma consequência negativa a que se junta o facto de diminuindo o número de infectados reduz-se a imunidade favorecendo novos surtos e possivelmente adiando algumas mortes. É o preço de se reduzir agora o número de mortes e conter o colapso dos serviços de saúde provavelmente incapazes de lidar com todos os casos na estratégia free-for-all (ver diagramas mais abaixo).

Essas medidas podem ser mais duras como na China, em que todas as poucas liberdades e direitos individuais existentes foram suprimidos - leia-se aqui o relato de Pablo Godoy, um chileno que vive e trabalha em Xangai - ou mais leves como na maioria das democracias ou podem mesmo ter sido quase inexistentes, como parece ter sido o caso da Itália nas primeiras duas semanas.

Muitas dessas medidas envolvem restrições das deslocações, que são muito eficazes. Nesta altura mais de 80 países que impuseram-nas - ver mapa seguinte.

Fonte

Ou ainda podem ainda ser medidas mistas de mitigação para reduzir a velocidade de propagação e de supressão para suprimir a propagação, como no caso do governo britânico segundo a estratégia proposta pelo Imperial College COVID-19 Response Team no relatório «Impact of non-pharmaceutical interventions (NPIs) to reduce COVID-19 mortality and healthcare demand».

O Washington Post apresentou no artigo «Why outbreaks like coronavirus spread exponentiallu, and how to "flatten the curve"» várias simulações aleatórias que ilustram as diferentes estratégias e os respectivos resultados exemplificados nos diagramas seguintes.
Recovered / Healthy / Sick (Fonte)
A resposta à pergunta se a propagação fora da China manterá a mesma velocidade será, pois, que a velocidade poderá continuar a aumentar mais alguns dias ou semanas e tenderá diminuir em linha com as medidas de contenção que estão a ser tomadas em todos os países.

(Continua)

18/03/2020

Intervalo para lembrar que depois da pandemia teremos a anemia, de novo. O Covid-19 segue dentro de momentos

Por razões que me escapam, a descapitalização crescente de Portugal, um tema recorrente no (Im)pertinências em dezenas de posts, tem sido praticamente ignorada pela "economia mediática", ou seja aquilo de que falam os «200 palhaços que vão à televisão falar de economia», entre os quais umas boas dezenas de graduados na Mouse School of Economics. E, no entanto, essa descapitalização, acompanhada da impreparação de uma parte significativa dos empresários e gestores e da falta de qualificações adequadas da mão-de-obra portuguesa explicam o enorme handicap da economia portuguesa em matéria de produtividade e, em consequência, também de competitividade.

Uma das consequências da descapitalização da economia tem sido a progressiva alienação pelos empresários portugueses das suas empresas. Leia-se a este respeito a série A defesa dos centros de decisão nacional onde se evocam estórias ridículas de empresários que num dia choravam em S. Bento a perda de controlo das empresas, assinavam um manifesto sobre os centros de decisão no dia seguinte e corriam a vender as suas empresas aos espanhóis, à Dr.ª Isabel dos Santos e a quem quisesse comprar, nem que fosse com o dinheiro emprestado pelos bancos portugueses. E assim se foram os bancos e as seguradoras quase todas e uma boa parte da pouca indústria que por cá havia.   

De repente, por razões que também me escapam, a coisa aterrou agora nas páginas do Expresso que acordou para o assunto.  Os gráficos seguintes falam por si.

Expresso
Se a estes gráficos juntarmos o quadro abaixo com a variação do stock de capital dos países da UE27, percebe-se porque crescemos menos do que quase todos os países sobreviventes do colapso do Império Soviético.

Expresso
E, pior do que isso, que é passado, criámos as condições para continuar a crescer menos no futuro. Sendo certo que toda a UE poderá entrar em recessão com o impacto do Covid-19, a economia portuguesa será provavelmente uma das mais duramente atingidas.

17/03/2020

Crónica da asfixia da sociedade civil pela Passarola de Costa (23) - Em tempo de vírus

Avarias da geringonça e do país seguidas de asfixias

Esta é uma crónica especial que esteve para não ser publicada. Ao publicá-la, com atraso, tornou-se impossível omitir o tema Covid-19, ou melhor não tratar da resposta do governo do Dr. Costa e dos impactos na saúde e na economia.

Um governo atropelado pelo vírus

Evidentemente que o governo não tem nenhuma responsabilidade pelo surgimento do Covid-19 em Portugal. Tem responsabilidade, e muita, por uma resposta hesitante e tardia, quando deveria saber que não existindo vacinas para este vírus, as únicas medidas eficazes de contenção são os constrangimentos à movimentação e ao agrupamento das pessoas. Medidas que só nos últimos dias começaram timidamente a ser tomadas.

É sem dúvida inaceitável que uma DGS tenha começado a meio de Janeiro, quando a China já tinha declarado a epidemia e fora da China já havia pessoas infectadas, garantir ser pouco provável que o vírus chegasse a Portugal, para em finais de Fevereiro falar de um cenário de um milhão de infectados, e poucos dias depois voltar a desvalorizar o impacto da epidemia.

«Estamos preparados»

É claro que não estavam preparados. O SNS, que em tempos normais já sofria de uma notória incapacidade de resposta, soçobrou completamente. A desorientação da ministra e da sua equipa devia envergonhar o Dr. Costa, os amigos que o rodeiam e o PS em massa. Para dar um só exemplo, a linha SNS24, um Call center como muitos outros, algo que deveria ser simples de manter a funcionar, ficou completamente paralisado.

Ainda não é o mafarrico, mas já se sente o cheiro das brasas

É agora claro que os impactos do Covid-19 serão tão profundos que a pandemia vai ser para o Dr. Costa o que o Lehman Brothers foi para o Eng. Sócrates, isto é o fim de um ciclo de aparente prosperidade, o início do fim do governo socialista e, inevitavelmente, o álibi para o Dr. Costa se tentar desresponsabilizar pela governação de 5 anos que deixa Portugal com uma economia extremamente vulnerável, uma dívida pública gigantesca de 250 mil milhões, praticamente o dobro de antes da falência do Lehman Brothers, com uma despesa pública corrente superior em mais de 10% à anterior à crise, uma economia descapitalizada, metade da produtividade média da UE e praticamente estagnada, fortemente dependente do turismo (um sexto do PIB e 10% do emprego).

Ronaldo das Finanças, a primeira vítima do Covid-19

Uma das consequências da pandemia é, com elevada probabilidade, que o Dr. Centeno, uma pessoa tecnicamente muito bem preparada que se revelou um político com poucos escrúpulos, ansioso por se abrigar numa tença no BdP, sabendo que os milagres que ele anunciou teriam os meses contados mesmo sem o Covid-19, com os impactos económicos e financeiros do Covid-19, ou bem vai ter de adiar a sua saída, ou bem o Dr. Costa o deixa sair e perde o pouco que lhe resta da sua autoridade como primeiro-ministro.

16/03/2020

QUEM SÓ TEM UM MARTELO VÊ TODOS OS PROBLEMAS COMO PREGOS: O alívio quantitativo aliviará? (65) O clube dos incréus reforçou-se (XXI)

Outras marteladas e O clube dos incréus reforçou-se.

Recapitulando:

O intervencionismo do BCE, que copiou com atraso a Fed e o BoE, adoptando o alívio quantitativo e as taxas de juro negativas ou nulas, desde o «whatever it takes» do Super Mario de Julho de 2012, é parecido como terapêutica com a sangria dos pacientes praticada pela medicina medieval para tratar qualquer doença, incluindo a anemia.

As raras vozes dissonantes (temos citado algumas delas) não têm chegado para perturbar e muito menos abafar os salmos cantados pelo coro imenso dos prosélitos louvando a bondade das políticas de injecção de dinheiro e de juros artificialmente baixos dos bancos centrais.

E se as vozes dissonantes são raras na Óropa, aqui no Portugal dos Pequeninos pouco se ouvem. São tão raras que vou citar mais uma, a do economista Avelino de Jesus no Jornal de Negócios

«O risco que se enfrenta não é apenas de saúde pública. O coronavírus parece estar a ser a faísca que incendeia a pólvora que a política económica andou a acumular na última década sob o pretexto do combate à grande crise financeira de 2008. As políticas laxistas dos bancos centrais criaram a ilusão de eficácia com sucessivas fugas em frente, levando a aumentos inusitados dos preços das acções e de redução do desemprego para níveis de sonho – tudo demasiado bom para ser sustentável. Um incidente poderia desencadear o que estava inscrito como consequência inevitável daquela política. Isto, infelizmente já está a ocorrer. Os primeiros movimentos significativos não enganam: quebra brutal dos preços nos mercados de acções e das “commodities” e refúgio dos investidores nos títulos do Tesouro americano e consequente queda dos seus juros para níveis nunca vistos. (...)

É fundamental resistir à tentação de acentuar o laxismo na política monetária e de regresso aos deficits na política orçamental. Tal será ineficaz e mesmo perverso, considerando as tensões acumuladas nos volumes da massa monetária e das dívidas públicas e privadas.»

DIÁRIO DE BORDO: Senhor, concedei-nos a graça de não termos outros cinco anos de TV Marcelo (99) - Sexa entrou de quarentena na mecha

Outras preces

S. Ex.ª é definitivamente hipocondríaca, diz quem o conhece mais de perto, e isso explicará o pavor de ser infectado pelo Covid-19 e o seu isolamento em quarentena auto-infligida.

O resultado da luta de morte entre a hipocondria e a pulsão incontrolável de ser popular, pulsão que em tempos normais se exerce através de uma verborreia sem limites e incontáveis abraços, beijinhos e selfies, é ridículo: Sua Ex.ª aparece na varanda da sua residência particular a confidenciar aos jornalistas sobre os seus trabalhos domésticos. Tão ridículo que, se fosse mortal, Sua Ex.ª mais depressa seria vitimado pelo ridículo do que pelo Covid-19.

Aproveitemos pois estas tréguas que S. Ex.ª nos concede permitindo-nos circular por todo o lado sem correr o risco de o ver em cuecas ou de nos abraçar e de nos prantar um par de beijocas nas faces. Só que o timing foi mal escolhido porque esta altura é talvez das poucas em que S. Ex.ª deveria estar presente.

15/03/2020

DEIXAR DE DAR GRAXA PARA MUDAR DE VIDA: Não devemos arrotar inanidades como "a geração mais educada de sempre", metendo no mesmo saco os ignorantes e insultando os jovens competentes

«Os nossos jovens, com conhecimento real, útil e estruturado, capazes de construírem um futuro melhor, continuam a emigrar para os países do Norte da Europa onde o conhecimento é reconhecido e recompensado, e onde a meritocracia está na base da competitividade e qualidade das suas organizações.

Aumenta, assim, a proporção de jovens ignorantes, na nossa sociedade, que inundam as redes sociais, com banalidades e inutilidades, com um grau de ignorância crescente, pelo tempo que passam nessas redes sociais, em vez de estudarem.

E, a cereja, no topo do bolo, as juventudes partidárias de todos os partidos políticos.

Para não ser injusto, reconheço que alguns 'jotas' frequentaram e concluíram cursos de qualidade, em universidades respeitadas, que lhes permitiu terem empregos decentes e não dependerem da política, pelo que integram estas organizações, por gosto, curiosidade, tradição familiar ou dever de serviço público.

Mas, infelizmente, há uma maioria ruidosa constituída por jovens, pouco qualificados, sem hipóteses de empregabilidade em regime aberto, com cursos manhosos, obtidos em instituições de ensino superior (?), facilitistas, de terceira categoria, que parasitam o sistema público, transitando de organismo em organismo, da administração central e local, cujos dirigentes são membros do seu partido, como adjuntos ou assessores.

E, o que é mais grave, é que alguns destes 'jotas', chegam ao governo, tornando óbvia a explicação para o atraso sistemático do nosso país

Excerto de «Os jovens e o futuro», Luís Todo Bom no Expresso

SERVIÇO PÚBLICO: "A coisa mais perigosa sobre o coronavírus é a histeria" (3)

Em retrospectiva: há um mês, publicámos o gráfico seguinte representando vários cenários da evolução típica de uma epidemia com os dados então conhecidos do Covid-19 que se circunscreviam nessa altura praticamente só à China. Duas semanas depois, com o mesmo propósito de mostrar a dimensão da ameaça e evitar a histeria, citámos o artigo de Ross Clark na Spectator.

A ray of hope in the coronavirus curve

Publicamos agora o gráfico do Center for Systems Science and Engineering (CSSE) da Johns Hopkins University (JHU) dos novos casos infectados e recuperados, onde são perfeitamente visíveis as curvas China e resto do mundo, sendo certo que o número de novos casos no resto do mundo continuará a crescer durante mais algum tempo por uma razão óbvia: o resto do mundo tem cinco vezes mais população do que a China.

The Center for Systems Science and Engineering (CSSE) at JHU
A evolução do número de infectados nas epidemias pode ser explicada por um modelo matemático graficamente representado por uma curva com um perfil característico (ver o primeiro gráfico), embora com parâmetros que variam muito com o número de novos casos, o ritmo de crescimento e a extensão do período de contágio. Evidentemente que esta é uma abordagem aproximada e falível, em todo o caso preferível à paranóia, à ignorância arrogante e às teorias da conspiração.

Óscar Felgueiras, um matemático da Faculdade de Ciências do Porto, construiu 3 cenários de crescimento diário e estimou que no cenário mais provável haverá por dia cerca de 1.200 novos infectados no final da próxima semana.

Jorge Buescu, um matemático da Faculdade de Ciências de Lisboa, preparou um modelo com os parâmetros que estimou para Portugal e construiu três cenários que o Expresso publicou sendo que no cenário mais provável haverá um total de cerca de 20 mil infectados no final deste mês. Dependendo da eficácia das medidas de contenção, o número de novos infectados continuará a aumentar durante o mês de Abril e poderá durante o mês de Maio atingir o ponto de inflexão começando então a diminuir.

14/03/2020

CASE STUDY: Trumpologia (59) - Trump e o Covid-19

Mais trumpologia.

Trump não se tornou famoso pelo apego ao rigor e à verdade. Ainda assim, no que respeita à pandemia Covid-19 superou-se a si próprio. Como diz a anedota, ele não causou danos à verdade porque não se aproximou dela o suficiente. Alguns exemplos:

Fevereiro
  • 10 - coronavirus «dies with the hotter weather»
  • 24 - «The Coronavirus is very much under control in the USA» 
  • 25 - «in the other case (Ebola), it was a virtual 100%» (é 40%)
  • 26 - «This is a flu. This is like a flu.» (Não, não é uma gripe)
  • «when you have 15 people, and the 15 within a couple of days is going to be down to close to zero, that's a pretty good job we've done» (Desmentido pelos factos)
  • 27 - «It's going to disappear. One day -- it's like a miracle -- it will disappear.» 
Março
  • 2 - «We had a great meeting today with a lot of the great companies and they're going to have vaccines, I think relatively soon» (Dentro de um ano ou mais)
  • 4 - «the Obama administration made a decision on testing that turned out to be very detrimental to what we're doing. And we undid that decision a few days ago» (Nunca houve tal decisão)
  • 4 - «I think we went as high as 100,000 people died in 1990, if you can believe that.» (Morreram 26 mil)
  • 5 - «We got hit with the virus really three weeks ago, if you think about it, I guess.» (Seis e não três semanas»
  • 6 - «There is no testing kit shortage, nor has there ever been» (Houve faltas reconhecidas pelo vice-presidente)
  • 6 - «I hear the numbers are getting much better in Italy.» (Ouviu mal, as coisas estavam e estão muito piores)
  • 11 - Trump anuncia o fecho por 30 dias das fronteiras à Europa (excepto Reino Unido)
  • 12 - «The testing has been going very smooth»; «We've done a good job on testing.» (Negado pelo National Institute of Allergy and Infectious Diseases)

13/03/2020

Porquê a manobra putinesca? Uma explicação possível

Interrogou-se o outro contribuinte sobre o propósito do que, talvez para irritar um melga que por aqui tem pousado, ele baptizou de "palhaçada" de um "frouxo": «Putin apoia proposta de emenda constitucional que lhe permitiria continuar no poder até 2036».

A Economist adianta uma explicação que parece bastante plausível pelo que se conhece de Putin, da sua clique e da Rússia actual. Na sua forma mais sintética, a explicação é Putin «tem muitos inimigos, e muitos comparsas que dependem dele». Se for isso, mais que frouxo, Putin mostra a prudência de um maquiavel eslavo antecipando que afastado do Kremlin perderá os seus comparsas e os seus inimigos ficarão com as mãos livres para lhe aplicar a receita que ele lhes vem aplicando, seguindo a tradição russa.

Aqui vai um excerto de «Prisioneiro no Kremlin - Por que Vladimir Putin não se pode se reformar»

«Mr Putin implied that the world was too stormy a place for him to abandon his position. A former kgb agent, he defined his role not merely as the defender of the constitution (which he is busily rewriting), but “the guarantor of the country’s security, domestic stability and evolutionary development”—evolutionary because “Russia had its share of revolutions.” It hardly needed saying that he was the only man capable of averting such mortal dangers. Still, it was said, and by none other than Valentina Tereshkova, a famous Soviet cosmonaut who is now an mp aged 83. She was given the role of voicing the reset proposal, which was promptly approved by the president and the Duma.

All of this was part of a special operation that Mr Putin launched in mid-January when he first announced plans for constitutional changes. The process was murky and abrupt. So it was in keeping with the style of a former kgb man whose own ascent to power was a special operation plotted in the corridors of the Kremlin. “A group of fsb agents assigned to work undercover in the government of the Russian Federation is successfully fulfilling its task,” he quipped in his speech to the fsb (the successor to the kgb) in December 1999 upon being made prime minister. He became president the following year.

12/03/2020

Um país infectado com os vírus da endogamia e do nepotismo e o elevador social avariado

«Mas a área não socialista não tem feito muito melhor. Para muitos daqueles que hoje falam em nome da direita, a mobilidade social importa pouco. Como a política é feita por aqueles que já estão no topo da hierarquia social, a mobilidade social não é um tema que desperte paixões. À direita o que desperta paixões hoje em dia é a conversa de salão de festas sobre a defesa dos valores e o futuro da civilização ocidental. O que excita a direita dos salões de festas é uma missão divina de defesa dos “valores da sociedade ocidental” mesmo que cada vez disfarcem pior o seu apego por quem tem discursos autoritários e intolerantes, opostos aos que sempre foram os valores da sociedade ocidental. Respondem ao perigoso identitarismo das minorias à esquerda com o ainda mais perigoso identitarismo da maioria. Respondem ao ridículo do politicamente correcto com um ainda mais ridículo politicamente javardo. Excitam-se todos nas redes sociais quando um grupo de ciganos ou de imigrante é acusado de um crime qualquer, mas ficam caladinhos quando o seu clube ou um escritório de advogados é suspeito de montar uma rede de corrupção e lavagem de dinheiro. Aproveitam qualquer desculpa para fazer discursos inflamados contra os grupos mais pobres e excluídos da sociedade, satisfazem-se na sua covardia de bater nos mais fracos socorrendo-se do argumento indigente de que é isso que chateia a esquerda. Perante um problema grave de mobilidade social e estagnação, tudo o que a direita parece ter para oferecer é o mesmo que a esquerda, uma guerra identitária: atirar pobres de um grupo contra pobres de outro grupo, esperando que enquanto se entretêm a lutar uns com os outros não tentem perceber onde está a verdadeira causa da sua pobreza.

Se a direita não serve para oferecer uma política alternativa de mobilidade social e de esperança, então, meus amigos, podem fazer as tertúlias que entenderem, organizar os movimentos que mais gostarem, as sessões de masturbação intelectual colectiva que vos derem mais prazer, se a direita não conseguir oferecer uma alternativa política de mobilidade social e coesão territorial, então, meus amigos, a direita não servirá para nada. Até pode eventualmente obter um bom resultado eleitoral e o poder, mas não servirá para nada. Não servirá para nada porque, ao contrário do que parecem pensar muitos dos que menosprezam os problemas de mobilidade social, estes problemas afectam todos, mesmo os que estão no topo da hierarquia. A busca da felicidade é o grande motor da economia e quando esse motor deixa de funcionar, todos ficam a perder. Como diz a música, quando o Homem sonha, o mundo pula e avança. Mas o contrário também é verdade: quando as pessoas deixam de poder sonhar, o país estagna e atrasa-se. E nós já estamos estagnados há 20 anos

Excerto da intervenção de Carlos Guimarães Pinto na II Convenção do MEL – Movimento Europa e Liberdade, provavelmente a única intervenção que foi além do onanismo habitual nestes eventos

SERVIÇO PÚBLICO: Nós e a internet

Fonte: The Inclusive Internet Index (EIU)
Não é caso para ter vergonha e ainda menos para marcelina exaltação. Em média estamos mais ou menos como no resto, um pouco à custa da 6.ª posição no factor «Relevância», devido ao 1.º lugar em «Conteúdo local», abrangendo a disponibilidade de informação em português, utilização do websites no domínio pt e disponibilidade de serviços e-gov em português. Valha-nos isso.

11/03/2020

Lost in translation (333) - Saúde do público do PS, não é o mesmo que saúde pública dos portugueses

«Nesta altura, até pelas consequências para a saúde pública, na vida dos portugueses – que é o mais importante, não só a qualidade de vida mas também a vida em si – parece-me que temos de abrir os cordões à bolsa, equipar o nosso sistema de saúde e dar aos seus profissionais todos os meios de que eles precisem para combater esta epidemia de uma forma eficaz. Para isso é que serve a dívida pública – mais do que para alguns dos disparates que talvez tenhamos feito nos últimos 30 anos. É nestas alturas que devemos gastar o que é preciso, pedir emprestado e pagar no futuro.»

Foi assim que o economista Ricardo Reis se referiu à utilização da dívida pública para combater uma ameaça à saúde pública.

Jornal de Negócios (dívida) e Iniciativa Liberal (N.º de funcionários)


Tem toda a a razão. Porém, esqueceu de dizer que o governo socialista do Dr. Costa tem vindo a usar a dívida, ou seja, tem vindo a usar o futuro, para pagar o passado e trazer satisfeita a sua clientela eleitoral.

Dúvida (294) - Manifestou o seu apoio a uma proposta? Para quê esta palhaçada?

«Putin apoia proposta de emenda constitucional que lhe permitiria continuar no poder até 2036»

Vladimir, Czar de Todas as Rússias
Apoia uma proposta? Para quê esta palhaçada? Se a criatura tivesse tomates (o que seria esperar demasiado de um ex-KGB) entronizava-se czar vitalício de todas as Rússias. Afinal é um frouxo. É a decadência de uma Rússia que teve ditadores como o Zé dos Bigodes.

Cronologia:
  • Dezembro 1999 a Maio 2000 - presidente em exercício
  • Maio 2000 a Março 2004 - presidente eleito, sendo primeiro-ministro Dmitri Medvedev
  • Março 2004 a Maio 2008 - presidente eleito, segundo mandato, sendo primeiro-ministro Dmitri Medvedev
  • Maio 2008 a Maio de 2012 - primeiro-ministro, sendo presidente Dmitri Medvedev
  • Maio 2012 a Maio 2018 - presidente eleito, terceiro mandato, sendo primeiro-ministro Dmitri Medvedev
  • Maio 2018 a Maio 2024 - presidente eleito, quarto mandato, sendo primeiro-ministro Dmitri Medvedev 

10/03/2020

SERVIÇO PÚBLICO: "A coisa mais perigosa sobre o coronavírus é a histeria" (continuação)

Há quase um mês, publicámos o gráfico seguinte representando vários cenários da evolução típica de uma epidemia com os dados então conhecidos do Covid-19 que se circunscreviam nessa altura praticamente só à China. Duas semanas depois, com o mesmo propósito de mostrar a dimensão da ameaça e evitar a histeria, citámos o artigo de Ross Clark na Spectator.

A ray of hope in the coronavirus curve
Publicamos agora um diagrama com a evolução actualizada da evolução dos novos casos na China e fora dela. Ao diagrama de barras sobrepusemos a olhómetro duas curvas com o perfil aproximado das curvas teóricas do gráfico anterior.
Expresso
O que podemos concluir? Que quando não se faz uma caldeirada misturando dados totais com novos casos, mortos com infectados, China, onde a epidemia começou, com o resto do mundo, tudo fica mais claro e se confirma que a coisa mais perigosa sobre o coronavírus é mesmo a histeria. Do ponto de vista da saúde pública, evidentemente, porque se falamos dos impactos económicos da epidemia aí canta outro galo.

09/03/2020

Apelo à PETIÇÃO PÚBLICA "Dr. Centeno, por favor não saia agora...!"


FUNDAMENTAÇÃO:

«O Corona vírus já começou a fazer estragos na economia. Ao contrário das crises “normais”, determinadas por recessão externa, nesta os efeitos fazem-se sentir diretamente em Portugal. O setor onde isso é mais notório é o Turismo, que registou um crescimento brutal nos últimos dez anos: de 9 milhões de turistas em 2010, passámos em 2019 para 27 milhões!!!

Este aumento da procura levou a um investimento recorde: surgiram centenas de novos hotéis, hostels e uma atividade nova, o alojamento local. O Turismo foi um dos setores que mais contribuiu para o crescimento do PIB e para a forte descida do desemprego entre 2013 e 2019.

Este modelo sofre agora o primeiro revés: viagens canceladas, supressão de voos, cancelamento de dormidas.... a que se soma a quebra vertical do turismo chinês. Se a situação se prolongar, assistiremos a um aumento do desemprego e à degradação das contas externas (o Turismo representa receitas anuais de 17 mil milhões).

Mas o arrefecimento não se cinge ao Turismo. A quebra das cadeias de supply-chain chinesas, responsáveis pelo fornecimento de centenas de milhar de empresas na Europa e Portugal, compõe o ramalhete.

Onde é que isto nos deixa? Num sarilho. Se a economia desacelerar, tudo fica sob pressão: as contas externas, as contas públicas (uma quebra da receita poderá colocar o défice entre os 2 e os 3%) e a dívida pública.

Moral da história: agora que a economia está a desacelerar vale a pena pedir ao dr. Centeno que não se vá embora. Governar com os astros alinhados, é uma coisa; governar com recessão é outra. O dr. Centeno tem agora uma excelente oportunidade para mostrar que tem unhas para tocar guitarra.»

"Dr. Centeno, por favor não saia agora...!", Camilo Lourenço no Jornal de Negócios

Crónica da asfixia da sociedade civil pela Passarola de Costa (22)

Avarias da geringonça e do país seguidas de asfixias

«Em defesa do SNS, sempre»

Se o SNS antes do Covid-19 já estava doente, a epidemia está a potenciar as suas deficiências ao mesmo tempo que confirma a incompetência da ministra e a preocupação exclusiva da agenda mediática por parte do Dr. Costa.

O cenário de um milhão de infectados seguido da sua correcção, o anúncio do «estamos preparados» seguido do «esgotaram a capacidade» (ver este Serviço público impertinente), a linha SNS24 que não atende um quarto das chamadas, a médica que telefona 44 vezes sem resposta, o médico que esteve de prevenção 556 horas num só mês, são alguns dos muitos exemplos na semana passada da falência do ministério da Saúde.

O Tribunal de Contas, confirmando o seu papel de «força de bloqueio», como lhe chamava o professor Cavaco, quando o TC foi presidido pelo professor Sousa Franco antes de ser ministro das Finanças de Guterres e esquecer as suas anteriores prédicas, diagnosticou um cenário caótico na gestão do Hospital das Forças Armadas que fica assim alinhado com os hospitais civis.

O crescimento é "poucochinho"

Com o crescimento previsto pela CE de 1,7%, o segundo menor entre os chamados países da coesão, o Fórum da Competitividade estima que se o crescimento nestes países nos próximos quatro anos for igual à média dos quatro anos anteriores, Portugal será ultrapassado pela Hungria, Roménia, Polónia e Letónia e será um dos quatro mais pobres da UE.

Hoje há conquilhas, amanhã não sabemos

Ou, mais precisamente, hoje já se percebe que começarão a faltar as conquilhas e amanhã já sabemos que não as haverá. As previsões das exportações e do crescimento começam a ser revistas (por agora ainda timidamente, para não despertar o pânico). Sem esquecer o turismo que sofrerá um enorme impacto do Covid-19 - no caso português, a redução de 10% do turismo (admite-se que possa chegar aos 25%) significará uma quebra de 1,6 mil milhões de euros nas receitas e a perda de 15 mil postos de trabalho.

08/03/2020

QUEM SÓ TEM UM MARTELO VÊ TODOS OS PROBLEMAS COMO PREGOS: O alívio quantitativo aliviará? (64)

Outras marteladas

Depois de mais de uma década de alívio quantitativo (a compra maciça de dívida pública e privada pelos bancos centrais para injectar dinheiro na economia) e de taxas de juro nulas ou mesmo negativas para contrariar os efeitos da crise financeira de 2018, a crise foi-se e estas medidas não convencionais ficaram, com todos os riscos da manutenção dessas políticas que os cépticos apontaram, incluindo os contribuintes do (Im)pertinências.

Os riscos e as certezas, que são as consequências indesejadas dessas políticas, entre elas e sobretudo a criação de uma montanha de dívida e a impossibilidade de reduzir taxas para induzir procura quando elas já são negativas.

Entretanto, foi-se a crise de 2008 e pode estar a caminho a crise de 2020, outra grande recessão, desta vez criada pelos impactos na economia do Covid-19. Impactos pelo lado da oferta, nomeadamente pela paralisação ou redução da produção da grande fábrica chinesa com milhares de empresas fechadas, e pelo lado da procura de bens e serviços, principalmente turismo, em resultado da limitação de movimentos.

E o que pode fazer a este respeito a política monetária dos bancos centrais? Muito pouco. A política orçamental também não poderá fazer grande coisa pelo lado da oferta e, ainda que pudesse fazer algo pelo lado da procura, aumentando a despesa pública, o efeito poderá ser apenas aumentar a inflação já que a oferta ficará na mesma. E a montanha da dívida cresceria ainda mais.

É neste quadro que o anúncio pela Fed, pelo BoE e pelo BoJ de fazer o «whatever it takes» de Draghi para evitar a crise é sobretudo wishful thinking. Quanto ao ECB, que continua a ruminar a resposta, até o anúncio pode demorar travado pelos cépticos do Bundesbank.

No fim da linha está um dos homens doentes da Europa, o Portugal do Dr. Costa, endividadíssimo, descapitalizado, um Estado ineficiente, uma carga fiscal pesada, uma despesa pública elevada e inflexível, fortemente dependente do turismo e uma produtividade medíocre. Enfim todos os ingredientes para sucumbir a este ou qualquer outro vírus.

07/03/2020

CASE STUDY: Trumpologia (58) - O que têm em comum Trump e a cruzada climática?

Mais trumpologia.

O primeiro gráfico é média ponderada resultados dos inquéritos - metodologia descrita em FiveThirtyEight 
Tal como o clima tem os activistas climáticos, Trump tem os seus indefectíveis apoiantes - um paradigma da doutrina Somoza -, uns e outros irredutíveis aos factos que não confirmem a sua fé ou não exaltem o objecto do seu culto. No extremo oposto da barricada, encontramos os crentes do no pasa nada e os militantes da cruzada anti-Trump, respectivamente.

Certamente não por acaso, um activista climático é quase sempre militante da cruzada anti-Trump e um admirador de Trump nega quase sempre as mudanças climáticas em curso. Um e outro tema são objecto de abordagem de tipo religioso, a evitar por criaturas a quem resta um módico de racionalidade.

Infelizmente para estas últimas, as coisas só dão sinais de piorar, como sugere a polarização das opiniões entre os americanos - Trump é indiferente para menos de 5% dos eleitores. Inevitavelmente, como em eleições anteriores, esta polarização vai propagar-se às almas não americanas que, à esquerda como à direita, acreditam que deveriam ter o direito divino de votar nas eleições americanas.