«Nas seitas de esquerda, o primeiro critério de admissão é a inveja. O segundo é o descaramento. A inveja permite-lhes desejar a destruição da economia, e repetir com fervor o bordão “nada voltará a ser como antes”. O descaramento permite-lhes afirmar que a epidemia prova a nossa dependência do sector público. Por acaso, e descontando o desnorte das “autoridades” para efeito de alívio cómico, a epidemia tem vindo a provar pela enésima ocasião que depender do sector público é meio caminho andado para o desastre. Apesar dos esforços dos funcionários e de biliões em impostos, o SNS, que ao longo de anos serviu de estandarte heróico, é afinal uma ruína sem préstimo em situações sérias: duas ou três centenas de casos graves e aquilo desmantela-se como a indestrutível URSS em que alguns gostariam de nos transformar. Vale, se nos chegar a valer, a colaboração dos hospitais privados, dos laboratórios privados, das empresas privadas e dos cidadãos privados, entidades essencialmente malignas e ávidas por – o Diabo seja cego, surdo e mudo – lucro. E para aqueles que não chegarão a precisar de cuidados médicos, vale-nos o capitalismo para manter a internet, o streaming de filmes, os sites informativos, as “redes sociais”, o WhatsApp, as compras “on line”, a circulação de capitais, etc.
Na verdade, o capitalismo é o que vai tornando suportável esta clausura sem final previsto. A parte insuportável é providenciada pelo Estado, para cúmulo de emergência. O coronavírus, que nos colocou nas mãos dos senhores que mandam, doravante habilitados a decidir os destinos dos indivíduos até ao ínfimo pormenor, não é uma oportunidade para abolir o capitalismo, mas para experimentar a ausência parcial do capitalismo, a ausência de mercado pleno, a ausência de circulação indiscriminada, a ausência de liberdade enfim. O coronavírus, que nos reduziu a sombras, é uma oportunidade para experimentar o socialismo a sério. E perceber o seu imenso horror. E esperar que não dure. E ansiar, com infundado optimismo, que tudo, apesar de tudo, volte a ser como antes. Ou, estou a delirar, melhor que antes.»
Excerto de «O vírus é uma oportunidade para abolir o socialismo», Alberto Gonçalves no Observador
Check https://portugalnonevoeiro.blogspot.com/2020/03/no-tempo-do-capital-socialismo-e-da.html
ResponderEliminarA evolução actualizada em Portugal www.sapo.pt/noticias/covid19 (1280 casos confirmados e 12 mortos a 21 de Março,dois meses depois da senhora da dgs dizer que não havia perigo pois era lá longe na China,os links para isso estão no meu post do portugal no nevoeiro))
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