30/06/2018

Somos todos Trump ou quando os factos alternativos e as fake news dão jeito para o agitprop

«Esta semana atacaram violentamente a Presidência actual dos EUA por fazer cumprir a lei existente criada por Clinton, agravada depois por Obama e aplicada por todos. Para justificar a desumanidade da separação de crianças dos acompanhantes adultos, registada em 2018 socorreram-se de imagens tiradas em 2014 durante a administração de Obama (ups!) e fizeram correr uma estória de uma menina das Honduras que fez capa no Times como tendo sido falsamente arrancada da mãe quando na verdade apenas se tratava de uma mulher retida em 2013, fugida do pai das meninas (tinha três) e que usou a mais nova para conseguir entrar com mais facilidade na fronteira sem nunca terem sido separadas. Mesmo depois de devidamente desmentido pela Reuters a nossa SIC continuou a divulgar essas imagens como sendo de 2018. Porquê?»

Os imigrantes ilegais no Blasfémias

Porquê? Ora porque haveria de ser? Dá jeito para o agitprop.

Lost in translation (306) - Se eu aguento, a economia também aguenta. Ai aguenta, aguenta

«Sou favorável a um salário mínimo superior a 600 euros, além de outros de outros prémios. O aumento do rendimento das famílias é em si positivo para o seu nível de vida e para o consumo. Como tal, para a economia como um todo», disse Soares dos Santos, o patrão da Jerónimo Martins, respondendo «sim» à pergunta do Expresso «A economia portuguesa aguenta uma salário mínimo acima dos 600 euros?»

Sabendo-se que o salário mínimo em Portugal aumentou de 485 euros em 2014 para 580 euros em 2018, isto é cerca de 20% em 4 anos, atinge cerca de 60% do salário mediano e abrange quase 700 mil trabalhadores (*), a maioria deles em sectores de baixa produtividade e com predominância de micro e pequenas empresas, o pensamento de Soares dos Santos poderia traduzir-se assim:
«Sou favorável a um salário mínimo superior a 600 euros que permitirá a um segmento importante dos meus clientes aumentar as compras nos meus supermercados e o que é bom para mim é bom para a economia portuguesa. Se eu aguento (não tenho ninguém a ganhar o salário mínimo), a economia também aguenta.» 
Como já em tempos aqui escrevi há um vice-versa na constatação de que ser um grande político ou uma sumidade em ciência política não um grande empresário.

(*) Actualização: 764 mil

29/06/2018

TIROU-ME AS PALAVRAS DA BOCA: Ai podemos, podemos!

«Mas uma sociedade anestesiada é uma sociedade que foge à realidade. Não podemos continuar a empurrar os problemas com a barriga e a passar a fatura para os nossos filhos e netos, que herdarão um país endividado, envelhecido e cada vez menos povoado. Não podemos continuar a ser governados por uma classe política que sobrevive em função de clientelas e corporações, comprando os votos de que precisam para conquistarem o poder. Não podemos continuar a ter um Estado que devora uma fatia cada vez maior da riqueza produzida pelos portugueses,  sem que ao mesmo tempo procure ser mais eficiente e prestar um melhor serviço aos cidadãos. Até porque, convém não esquecer, é o Estado que existe por causa das pessoas e não o contrário.»

Filipe Alves no Económico

Porque não fiquei surpreendido, ainda outra vez?

Alguém acredita que Kim alienará a sua nomenclatura político-militar subtraindo-lhe o armamento nuclear? perguntava-me aquiNão me surpreendeu o cancelamento e a reposição da cimeira, dados os antecedentes da família Kim.

E foi por isso que também não me surpreenderam as «novas imagens de satélite (que) mostram ter  a Coreia do Norte feito rápidas melhorias na infraestrutura de seu Centro Científico de Pesquisa Nuclear Yongbyon, uma instalação utilizada para a produção de material físsil de armamento, segundo uma análise publicada por 38 North, um proeminente Grupo de monitorização da Coreia do Norte.» (CNN)

O pensador do regime aconselha o presidente do regime

Só ontem me dei conta dos sábios conselhos do camarada Pacheco Pereira (foi camarada que Soares lhe chamou no célebre meeting de há 5 anos na Aula Magna de indignação pelo governo «neoliberal») ao presidente Marcelo sobre como deveria comportar-se na sua visita ao Estados Unidos.

Primeiro, PP deitou-se adivinhar o conteúdo da «folhinha» que os assessores terão preparado para o Donaldo: «perfil psicológico do Presidente português. A folhinha dirá coisas sobre os “afectos”, talvez sobre as selfies e a popularidade de Marcelo, aconselhará o Presidente americano a ser igualmente próximo e íntimo».

De seguida PP, prognostica «Imensas palmadas nas costas, muita linguagem corporal. E essa sugestão será certamente seguida por um presidente que gosta da encenação e da coreografia. O problema é o... outro Presidente que gosta das mesmas coisas, Marcelo Rebelo de Sousa. Por isso, a tentação vai ser grande de andarem a mostrar como gostam um do outro e a usar o narcisismo e a vaidade para marcar pontos. Ambos. Durará uns minutos, mas será penoso de ver

Por último vem o conselho: «Com Trump é preciso distância, cara cerrada, no máximo esboços de sorrisos, mais esgares do que esboços, com o ar mais enjoado do mundo. E termina com um juízo: «intimidades com Trump são um insulto ao povo português.»

Tendia a estar de acordo quanto ao conteúdo da «folhinha» e ao prognóstico, sobretudo ao «será penoso de ver», mas o certo é que as coisas se passaram de forma substancialmente diferente.

Já quanto ao conselho pareceu-me inútil, porque mais facilmente Marcelo daria dois beijinhos e faria um selfie com o Donaldo do que lhe mostraria cara cerrada, esgares e o ar mais enjoado do mundo. E o juízo pareceu despropositado porque um povo que aguenta os políticos que aguenta não se sente insultado facilmente.

Daria beijinhos, mas não deu, mas mostrou-se até muito à vontade, encheu o tempo de antena e Trump prestou-se a dar-lhe o palco -devia estar com pressa para publicar uns twits. A coisa só não foi perfeita porque Marcelo não resistiu a mais outra vichyssoise com os cumprimentos que Putin teria mandado por seu intermédio.

27/06/2018

De boas intenções está o inferno cheio (50) – A religião é a política por outros meios? (XXII)

Outros posts sobre a religião como a política por outros meios.

Aviso: como qualquer frequentador regular do (Im)pertinência já terá tido oportunidade de constatar, não sou fã do papa Francisco. Aquele aroma a teologia da libertação (ou teologia da submissão ao totalitarismo) faz-me tonturas, a mim que sou um agnóstico e adepto de a César o que é de César e a Deus o que é de Deus.

Segundo o Guardian, o papa Francisco concedeu ontem uma audiência privada de 57 (cinquenta e sete) minutos ao presidente francês Macron que incluiu dois beijinhos. A audiência, sublinha o jornal, durou o dobro da concedida a Donald Trump que, supõe-se, não incluiu beijinhos.

No seu lugar, caro leitor, não teria a certeza se foi o papa que encurtou a duração da audiência ao Donaldo (que se declara presbiteriano).

CASE STUDY: Diluting the Volcker rule and repeating mistakes


«The 2008 financial crisis and the recession that followed were caused, in large part, by the biggest global banks taking huge risky bets that went bad. Now, a decade later, US regulators are considering a proposal to gut the Volcker rule, a post-crisis regulation that was written to prevent that problem from happening again. The consequences could be as damaging as they are predictable. 

We have been here before. In the 1920s, banks and financial groups also made huge bets. When they soured, the system collapsed, taking the world economy with it. In the 1930s, Glass-Steagall was enacted to separate our critical banking system from these types of trading activities. When that law was repealed in 1999, some predicted disaster. They were right. 

In 2010, Congress enacted the Dodd-Frank reforms. Senator Carl Levin and I fought to include a modern version of the Glass-Steagall Act. Dubbed the Volcker rule, after a former US Federal Reserve chairman, it sought to prevent bankers from using taxpayer-backed dollars to take risky positions and from betting against their customers. The goal was to make banking boring again.

(...)

The overall objective of these proposals is clear: to gut the Volcker rule. That is a mistake. US families and businesses should not be forced to endure another financial crisis borne of regulators loosening rules that were custom-designed to protect them from big banks’ bets. Do not bring back the bad old days. 

The writer, Democratic senator for Oregon, co-authored the Volcker rule with Carl Levin, a former senator, who also contributed to this article»

(Financial Times)

26/06/2018

DIÁLOGOS DE PLUTÃO: Podes armar-te em imbecil, mas

Cena: cerimónia de homenagem à resistência francesa durante a Segunda Guerra Mundial
Personagens: um adolescente de 14 anos; Emmanuel Macron, presidente da República

Adolescente: ... trauteia A Internacional e dirigindo-se ao PR pergunta estás porreiro, Manu?

Macron: Não, não, não, não, não... Estás numa cerimónia oficial e, por isso, comportas-te como deve ser. Podes armar-te em imbecil, mas hoje é dia de cantar A Marselhesa e O Canto dos Partisan. A mim chamas-me senhor Presidente da República, ou senhor, de acordo?

Adolescente: ...

Macron: No dia em que quiseres fazer a revolução tira primeiro um diploma e aprende a sustentar-te. Então poderás dar lições aos outros.

25/06/2018

Crónica da anunciada avaria irreparável da geringonça (141)

Outras avarias da geringonça.

Cada dia que passa, as contradições da geringonça tornam-se mais evidentes e a avaria fica mais irreparável. Na verdade, o zingarelho só se mantém porque ninguém quer aparecer como responsável pelo seu colapso. Uma vez ou outra, o caldo quase se entorna, como no caso do imposto sobre os combustíveis em que os berloquistas alinharam com o PSD e Carlos César os acusou de terem aberto «a época oficial da caça ao voto», o que é injusto porque esta época para os socialistas nunca tem defeso.

O fecho de balcões da Caixa também deu pretexto para a mais pura demagogia. Pelo lado socialista, Costa que tenta sempre apropriar-se das medidas benignas aos olhos do eleitorado, disse a este respeito que «não interveio e não intervirá», distanciando-se o mais que pode. Pelo lado berloquista, Catarina Martins apertou Costa no parlamento, fingindo esquecer que o BE participou na limpeza da folha das administrações da Caixa que aprovaram o financiamento a fundo perdido dos projectos das empresas amigas do regime.

DIÁRIO DE BORDO: Senhor, concedei-nos a graça de não termos outros cinco anos de TV Marcelo (58)

Outras preces

«Marcelo tomou-se o porta-estandarte dessa sociedade, ao ponto de quase ter feito um ultimato político ao Governo, dizendo "se houver repetição desta tragédia" ...

Marcelo tira selfies e dá beijinhos a toda gente, por amor de Deus... .

Mas essa explosão emocional está ligada a esse interior que referiu.

O tipo de pessoa que Marcelo é permitiu que fosse dar abraços e beijinhos a todas as velhinhas de Portugal que estavam a chorar, e eram muitas. Isto não é uma política. Isto não é sequer uma representação. Ele não ficou a representar aquelas pessoas. O que é que ele representa? Ele não representa nada.

Mas ficou a ideia, que ele consegue projectar, de que se a política não serve para resolver isto, então não serve para nada

Mas ele não representa uma solução. Nem sequer uma direcção política.

Como é que vê a popularidade que ele tem nas sondagens, por exemplo, e que é maior do que a de qualquer Presidente anterior?

Como não representa nada, não há razão nenhuma para uma pessoa qualquer, de qualquer ponto da sociedade, não gostar dele. Eu não gosto, não desgosto, acho que ele é um Presidente implausível.

E um Presidente implausível é um bom ou um mau Presidente?

É um Presidente divertido. Eu conheço a personagem há muito tempo. Acho o espectáculo divertido.»


Vasco Pulido Valente em entrevista à Sábado

24/06/2018

A gigantesca operação de agitprop em curso

«O Aquarius já foi. Agora temos o Lifeline: a bordo do navio que está nas proximidades de Malta e tem capacidade para 50 pessoas estão 230. As provisões esgotam-se nas próximas horas.
À espera de porto de destino está nas proximidades da Sicília o Alexander Maersk: a bordo estão 113 pessoas.

Sem nomes que as distingam umas das outras, dezenas de pateras trouxeram para Espanha nas últimas 24 horas, 769 pessoas.

… A lista está em permanente actualização. As palavras também. Ora lhe chamamos refugiados. Ora migrantes. Ora imigrantes. São na sua maioria pessoas transportadas por traficantes até à costa do norte de África. Aí novas mafias embarcam-nos com destino à Europa. Em seguida, navios das ONG e equipas de salvamento dos países europeus resgatam essas embarcações e trazem para solo europeu os seus ocupantes. (Sim, as mafias sabem que não precisam de se preocupar com o resto da viagem: alguém há-de recolher a carga de que se desembaraçaram.)

(...) 

Assim os mesmos que se viram libertadores das opressões coloniais nos anos 60 e 70 e trauteavam versos como os da canção “Independência” de Sérgio Godinho “A África é dos africanos/ Já chega quinhentos anos/ Já chega quinhentos anos/ A África é dos africanos. /Quem diz que sim quem diz que não/ Quem diz que sim quem diz que não/ São os movimentos de libertação/ São os movimentos de libertação” se pudessem despovoavam agora essa mesma África e os demais continentes para através da imigração continuarem a renovar a matéria prima dos seus activismos e do seu enquistamento no Estado.»

Helena Matos no Observador

Imigrantes?  Migrantes? Refugiados? Na verdade, participantes involuntários de uma gigantesca operação de agitprop montada pela esquerdalhada. O Aquarius já foi. Pois foi. Seiscentos e tantos imigrantes / migrantes / refugiados foram acolhidos em Valência por uma operação com 2.200 pessoas, incluindo 200 tradutores.

Saberá esta gente que está açular um monstro da xenofobia adormecido há décadas? Não sabe. Mesmo os menos alucinados vivem num mundo povoado pelos seus fantasmas. Leia-se também no mesmo dia do Observador o artigo de Paulo Trigo Pereira que desvaloriza os riscos destas operações e para reforçar as suas teses inclui um quadro com o número de imigrantes / migrantes / refugiados com origem fora da UE no ano de 2016, onde mostra que as percentagens em relação à população residente são, com a excepção da Suécia, inferiores a 1%. Pois são. E no total do ano são 1,3 milhões e, porque o stock é virtualmente inesgotável, numa década poderão ser 13 milhões ou mais, na sua maioria não falando nenhuma das línguas nacionais, com culturas e religiões radicalmente diferentes das europeias, sem qualificações profissionais condenados a radicalizarem-se em bolsas herméticas, espécie de quistos implantados pela loucura da esquerdalhada.

A Europa precisa da imigração? Precisa de escolher e integrar os imigrantes que recebe. Não precisa desta operação de agitprop, nem de demagogia, nem da paranóia multiculturalista.

DIÁRIO DE BORDO: Senhor, concedei-nos a graça de não termos outros cinco anos de TV Marcelo (57)

Outras preces

«Conhecem aquela em que um marroquino, um brasileiro e um português aparecem na “flash interview” a comentar um jogo da bola? O português é Presidente da República. O maior problema desta anedota não é não ter graça: é ser verdadeira. Durante uma viagem ao “Mundial” da Rússia paga pelos contribuintes, e com os logotipos dos patrocinadores da coisa em fundo, o prof. Marcelo teceu considerações sobre os adversários, o “sistema de jogo”, a “atitude” e, suponho, a “transição”. A rematar (piadinha), anunciou que na próxima partida o primeiro-ministro estará presente. O prof. Marcelo voltará a Moscovo – “em princípio” – nos “oitavos de final”. Entretanto, naturalmente, subirá ao palco do Rock in Rio com os Xutos e Pontapés. Depois, por fim, rumará para merecidas férias em Pedrógão, de modo a evitar incêndios e curar a desertificação rural.

Não sei que diga. Literalmente, é difícil dizer o que quer que seja, já que isto começa a entrar em territórios nos quais as palavras perdem serventia.»

Alberto Gonçalves no Observador

Eu, que sou agnóstico, também não sei o que diga e só me sai: Senhor, concedei-nos a graça de não termos outros cinco anos de TV Marcelo.

22/06/2018

Nova entrada para o Glossário: Ignorância desconhecida

Nos idos de 2003, Donald Rumsfeld disse a propósito da invasão do Iraque:
«There are known knowns. These are things we know that we know. There are known unknowns. That is to say, there are things that we know we don't know. But there are also unknown unknowns. There are things we don't know we don't know.»
Podemos então definir "ignorância desconhecida" como o desconhecimento da nossa própria ignorância. Infelizmente, suspeita-se que esta seja a ignorância mais vulgar.

[Adoptando uma sugestão neste comentário]

ACREDITE SE QUISER: Para os cépticos que pensavam que Guterres não faria diferença nenhuma na ONU (2)

Outras diferenças que Guterres não fez.

«Horrific details about chemical attacks in Syria were left out of a U.N. report. An early draft leaked to The Times shows the omissions.

Slow-release poison. A bomb dropped on a balcony. Children with blue skin. These details and others blaming Syria for atrocities in eastern Ghouta, a suburb of Damascus, were uncovered by a United Nations commission investigating and documenting possible war crimes in the seven-year-old conflict. But when the commission issued a report on Wednesday, the details were omitted.»

(NYT)

Ainda bem que temos lá o picareta falante.

E por falar no «futuro colaborador de um governo PS»

«Todos já sabiam, mas têm vergonha de o dizer: Rui Rio não nasceu e não tem jeito para isto. »

Se ainda não tinha reparado, pode ler aqui uma boa explicação.

Cenas de ciúmes: O actual colaborador aponta o dedo ao presumível futuro colaborador

«Rui Rio assume-se já como futuro colaborador de um governo PS, num bloco central subordinado», pode ler-se na moção subscrita pela Esganiçada em Chefe Catarina Martins à Convenção Nacional do berloquismo,

Manifestações de paranóia/esquizofrenia (26) - A eucaliptofobia como manifestação de esquizofrenia esquerdizante (II)

Já por diversas vez abordámos no (Im)pertinências a eucaliptofobia, como patologia que ataca a esquerdalhada em geral e algumas luminárias em particular, como o tudólogo ou o tele-evangelista.

Àquelas luminárias poderemos agora acrescentar João Camargo e Paulo Pimenta de Castro, paneleireiro (de PAN), o primeiro, e berloquista (de Bloco de Esquerda Revolucionária), o segundo, que publicaram “Portugal em Chamas – Como Resgatar as Florestas”, pelos vistos uma espécie de manual da eucaliptofobia.

Escrevo pelos vistos porque honestamente não tenho a menor intenção de me auto-punir lendo-o. Bastou-me a autópsia em «O diabo travestiu-se de eucalipto» executada por Manuel Carvalho no Público, cuja leitura recomendo para encerrar o assunto.

20/06/2018

Bons exemplos (125) - BCP chuta para fora o futebol

«Depois de vários anos a financiar de forma expressiva vários clubes de futebol, o Millennium BCP já não o poderá fazer. Miguel Maya, o novo presidente-executivo, acaba de inscrever no regulamento interno que o banco não pode voltar a conceder empréstimos a clubes de futebol, não só pelo risco que incorporam, mas por não serem o seu core business (actividade estratégica).» (Público)

Depois do perdão de 94,5 milhões de euros do Novo Banco e do BCP ao Sporting SAD, se Miguel Maya continuasse a dar para este peditório deveria candidatar-se a CEO do Montepio Geral.

CASE STUDY: Efeito de substituição

Fonte
21 Club, uma firma de consultores de futebol, construiu um sistema de classificação dos jogadores baseado no big data do chuto que permitiu estimar o efeito que teria na probabilidade de certas selecções chegarem aos quartos de final do campeonato do Mundo com a mudança do seu melhor atacante por outro com maior score. Os resultados estão no diagrama acima e ficamos a saber que, baseado nesses pressupostos, Marrocos, o adversário de hoje da selecção portuguesa, se dispusesse de Ronaldo aumentaria as suas chances cerca de 20 pontos percentuais.

19/06/2018

A maldição da tabuada (46) - A dificuldade de contar está embebida na alma lusitana


Segundo o Relatório de Primavera 2018 do Observatório Português dos Sistemas de Saúde, citado pela RR, «Portugal desconhece quantos profissionais de saúde estão a trabalhar».

O próprio título presta-se a confusões e pode ser interpretado como: (1) quantos profissionais têm emprego no SNS ou (2) quantos desses profissionais estão a trabalhar, mesmo, uma vez que segundo um dos investigadores «um número indeterminado de profissionais trabalha tanto no setor público como no setor privado».

De onde é possível concluir que o próprio desconhecimento não é conhecido, o que me leva até Donald Rumsfeld que disse a propósito da invasão do Iraque:
«There are known knowns. These are things we know that we know. There are known unknowns. That is to say, there are things that we know we don't know. But there are also unknown unknowns. There are things we don't know we don't know

Os torquemadas alimentares são prejudiciais à saúde mental

O próximo passo
«Depois de os hospitais e os centros de saúde públicos terem retirado das máquinas de venda automática alimentos “prejudiciais à saúde”, como os bolos, salgados, snacks e refrigerantes, PAN quer estender a medida aos estabelecimentos de ensino público, de nível básico e secundário.» (Jornal Económico)

E porque não substituir os bolos, salgados, snacks e refrigerantes por canabis e drogas recreativas disponíveis gratuitamente nas cantinas escolares?

18/06/2018

Crónica da anunciada avaria irreparável da geringonça (140)

Outras avarias da geringonça.

Uma vez mais, a missão de supervisão (CE + BCE + MEE) pós-programa de assistência vem lembrar ao governo socialista que deve aproveitar a bonança para reduzir a dívida e adoptar as reformas estruturais. O BCE pelo seu lado fez saber que termina o quantitative easing até ao fim do ano e a partir de Setembro reduz as compras de dívida a metade.

Do outro lado do Atlântico a Fed subiu as taxas de juro, como esperado, e anunciou que voltará a aumentá-la mais duas vezes este ano, continuando assim uma trajectória de regresso à normalidade que apanhará o governo socialista de calças na mão, apesar dos avisos como a subida de 24 pontos bases em apenas um mês das  OT a 10 anos no leilão da semana passada.

17/06/2018

Encalhados numa ruga do contínuo espaço-tempo (82) - Por onde têm andado os jornalistas do semanário de reverência?


Alguém pode explicar, se faz favor, a estas criaturas que o êxodo do centro para a periferia não começou agora, começou há cinco décadas por várias razões entre as quais leis do arrendamento parecidas com as que a esquerdalhada quer ressuscitar. O êxodo começou há cinco décadas e, não por acaso, começou a inverter-se precisamente a partir do momento em que as leis do arrendamento foram «liberalizadas» (vade retro satana!) - ler aqui o contributo velho de 15 anos do Impertinente para a compreensão do êxodo do centro para a periferia à luz da teoria do caos.

Unintended Consequences: Scandinavian Farmers Are Basking in Global Warming

«By 2050, experts predict, northern Norway’s growing season could increase by four weeks. That’s just one example of how climate change is expanding what Nordic agriculture is capable of, and already helping more “heat demanding” crops, including legumes, corn and the world’s go-to staple, wheat. And now Danish vintners are even nurturing a nascent wine grape sector once ideally suited for only Europe’s southern and central regions. But growers lament global warming’s other effects, like increased rain and less sunshine — something that might yield an unpalatable future for Danish vintages

Ozi

16/06/2018

CASE STUDY: Os profissionais portugueses de futebol como um exemplo de excelência

Deveria ser mais fácil explicar a falta de sucesso do que explicar como Portugal é o actual campeão europeu e a 4.ª selecção no ranking mundial, quando temos contra nós o teorema de Bernoulli, ou lei dos grandes números. De facto, é elevada a probabilidade de serem muito melhores do que os nossos jogadores os alemães que são 81 milhões, ou os franceses que são 66 milhões, ou os italianos que são 60 milhões, ou os brasileiros que são 214 milhões, ou mesmo os espanhóis que são 46 milhões,  só para dar alguns exemplos entre países em que o futebol é popular e existe uma grande massa de praticantes.

E se a probabilidade de ter um jogador de topo é baixa, a probabilidade de ter dois ou mais é ainda mais baixa. Suponha-se que em média se encontra um jogador de topo (seja lá o que isso for) em cada 100 milhões de habitantes (incluindo mulheres, crianças e velhotes, para simplificar). Nesse caso, a probabilidade de ter um jogador de topo em Portugal é 0,1 e na Alemanha 0,80 e probabilidade de ter simultaneamente dois é para Portugal de 0,01 e para a Alemanha 0,64 isto é 64 vezes mais. E no caso de três é 0,001 e 0,512, respectivamente, isto é 512 vezes mais.

Então porque atingem os futebolistas profissionais portugueses o topo?

Em primeiro lugar, notemos que dos 23 jogadores da selecção actual, 7 nasceram fora de Portugal e 18 jogam em clubes estrangeiros em 9 campeonatos diferentes.

Por isso, devemos começar por reconhecer que os jogadores portugueses de futebol são os únicos profissionais que verdadeiramente trabalham num mercado internacional competitivo sujeitos a uma avaliação constante e impiedosa. Deve ser mais fácil encontrar uma agulha num palheiro do que um português de outra profissão integrado num mercado de trabalho internacional comparável ao mais modesto dos nossos jogadores no estrangeiro.

E o que é que tem o futebol de diferente do resto das actividades em Portugal? Várias coisas, entre as quais: uma regulação leve, concorrência nacional e internacional entre operadores e, sobretudo, um mercado de trabalho aberto, competitivo e internacional - deve ser a única actividade em Portugal em que as famílias, os partidos e as maçonarias não arranjam lugares na profissão do chuto para os seus filhos, camaradas e irmãos, respectivamente.

Não é que os portugueses morram de amores pela Óropa, é mais estarem pelos cabelos com o Portugal que eles próprios construíram

Algumas conclusões sobre as idiossincrasias dos portugueses visíveis nos resultados do Inquérito Eurobarómetro Standard da primavera de 2018.

Os portugueses:

  • são, a seguir aos dinamarqueses, os que mais confiam na União Europeia (57 %), confiança que em relação ao outono de 2017 aumentou 6 pontos percentuais;
  • em grande maioria (80%) defendem o euro;
  • em grande maioria (88%) apoiam a livre circulação de pessoas na UE;
  • praticamente metade consideram má a situação económica do país.
  • são, a seguir ao luxemburgueses, os mais optimistas quanto ao futuro da UE (71%);

Se me permitem, aqui vai uma interpretação livre destes resultados:

  • compreensivelmente, os portugueses confiam mais no governo europeu do que no resultado das suas (más) escolhas;
  • idem mais na moeda europeia do que na sua própria, sujeita aos malabarismos do seu governo; 
  • há mais portugueses que querem viajar ou residir no estrangeiro do que estrangeiros a quererem viajar ou residir em Portugal (até os refugiados evitam Portugal e quando não conseguem escapolem-se na primeira oportunidade); 
  • a metade dos portugueses que consideram má a situação económica do país é a metade que não vive pendurada directa ou indirectamente no Estado Sucial; 
  • os portugueses são optimistas em relação futuro da UE porque são pessimistas em relação ao futuro do seu país governado pelos seus eleitos, depois de três resgates e a trabalhar para o quarto.

ACREDITE SE QUISER: A fila das selfies de Marcelo era quase tão grande como a das farturas

«Não é por acaso que o Presidente da República é conhecido como o “Presidente dos afetos”. Onde quer que vá é procurado por quem com ele se cruza para o já denominado “momento selfie” e, ontem, isso foi particularmente visível. Tudo aconteceu ao final da tarde, pelas 18h30, na feira do livro lisboeta, quando Marcelo Rebelo de Sousa protagonizou um episódio curioso: como se de uma das bancas da feira se tratasse, uma fila com cerca de duas dezenas de pessoas formou-se para tirarem selfies e fotografias com o presidente.

A fila, garantiu ao i uma visitante, era “quase tão grande como a das farturas”

Jornal i

14/06/2018

Pro memoria (379) - Recordando os antecedentes da cimeira Trump-Kim. Tal pai, tal filho?


Há 26 anos Kim Jong-il, o pai de Kim Jong-un, autorizou a Agência Internacional de Energia Atómica a inspeccionar as suas instalações nucleares em troca da suspensão pelos Estados Unidos dos exercícios militares conjuntos com a Coreia do Sul.

Dois anos mais tarde, Bill Clinton negociou com Kim Jong-il um acordo para interromper a construção das centrais nucleares da Coreia do Norte que se manteve nove anos, ou, melhor, um acordo que se descobriu em 2013 estar a ser violado com a compra de urânio pela Coreia do Norte.

Mitos (274) - Diferenças salariais entre homens e mulheres (9)

Outros mitos: (1), (2), (3), (4), (5), (6), (7) e (8)

Esta série de posts tem sido dedicada à desmistificação das teses das diferenças salariais entre sexos serem devidas à discriminação, teses que não têm conta as diferentes funções desempenhadas. É um erro metodológico primário não devido ao acaso, mas resultante das estatísticas de causas produzidas pelos militantes dessas causas que fabricam as hipóteses à medida das suas teses. Uma das consequências desta mistificação é que as políticas desenhadas com base em falácias são... falaciosas.

Para recordar um só exemplo, já aqui referido, o grupo a que pertence a Economist - um bastião da não discriminação sexual no trabalho - apresenta uma diferença salarial de quase 30%, porque como eles próprios reconhecem, os executivos são comparados directamente com as suas secretárias, entre outros disparates.

Como o feminismo de pacotilha - uma modalidade do politicamente correcto - é hoje a lengalenga dominante, muitas criaturas adoptam essa visão mistificadora. Não é o caso do post «O Feminismo faz tanta falta como o Machismo» (lema que pode ser adoptado pelos impertinentes cá de casa), de Cristina Miranda do Blasfémias que, contra a corrente, faz notar «as estatísticas enganadores das diferenças salariais quando as categorias profissionais estão todas tabeladas sem diferenciação de sexos».

13/06/2018

Dúvidas (224) - Costa vai abrir uma startup?

«Costa assume meta: mais 25 mil empregos científicos no setor privado até 2030» titulou o Jornal Económico a partir de uma press release do governo distribuída pela Lusa.

Fiquei preocupado. Irá Costa deixar o governo e lançar um negócio de investigação científica? Só sosseguei continuando a ler press release:

«António Costa assumiu estes objetivos no discurso que fez no final de uma visita que efetuou ao Massachusetts Institute of Technology (MIT), na qual esteve acompanhado pelo ministro da Ciência e do Ensino Superior, Manuel Heitor.»

O ministro explicou assim a coisa aos jornalistas (isto é à Lusa, que lá estava):

«No caso do MIT, até 2030, haverá “um investimento público na ordem dos 120 milhões de euros”, dos quais 60 milhões de euros aplicados em Portugal.

“Haverá também o investimento das empresas nelas próprias, que se comprometeram a duplicá-lo em investigação e desenvolvimento. Estas linhas de ação contribuem para concretizar o objetivo mencionado pelo primeiro-ministro de criar 25 mil postos de trabalho em Portugal no setor privado”, declarou o titular das pastas da Ciência e do Ensino Superior.»

Suspirei. Afinal trata-se apenas de usar o dinheiro dos contribuintes para dar subsídios às empresas amigas que investirão nelas próprias e criarão os tais 25 mil empregos científicos. Certo? Talvez não. Não se duvida dos 25 mil empregos, desde que se despeje dinheiro suficiente. Quanto a esses empregos serem científicos é que a porca torce o rabo.

12/06/2018

CASE STUDY: Trumpologia (34) - «Terrific relationship» e «very special bond», disse ele

Mais trumpologia.

Para além de uma «terrific relationship» e uma «very special bond» com um sujeito que submete o seu povo à mais atroz ditadura, o que no dialecto trumpês significa tudo e não significa nada, quais foram os resultados palpáveis da cimeira que produziu um papel assinado por ambos onde a expressão «complete denuclearization of the Korean Peninsula» significará duas coisas completamente diferentes em Washington e Pyongyang?

Palpável, palpável, foi emprestar a Kim o estatuto de estadista respeitável.

Aprovado!

«Assim, proponho que deixemos de usar esse termo “museu”, eivado que está de preconceitos de uma sociedade machista, colonialista, racista e demais istas e passemos a falar de Local de Acumulação de Experiências e Artefactos. No caso concreto do que esteve para ser Museu dos Descobrimentos, depois Descobertas, depois Interculturalidade e depois Viagem proponho a seguinte designação que creio blindada a quaisquer suspeitas de supremacia cultural, racial ou outra, desde que se exclua a avaliação psiquiátrica: Local de Acumulação de Experiências e Artefactos do Fui Ali Num Instantinho Trocar Umas Ideias, Tratar de Uns Assuntos e Conversar um Pouco.»

Uma proposta irrecusável de Helena Matos em «O museu que não pode ser» no Observador

Evidentemente que há na história inúmeros exemplos da newspeak orwelliana, a começar por aquele que inspirou Orwell - o império soviético. Se não os houvesse, bastariam as criações berloquistas dos últimos anos, agora potenciadas pela geringonça, preço que o costismo paga de bom grado por não contar para a despesa.

11/06/2018

DIÁRIO DE BORDO: Senhor, concedei-nos a graça de não termos outros cinco anos de TV Marcelo (56)

Outras preces

Marcelo em Boston durante a sessão comemorativa do 10 de Junho.


Portugal não é maior em nada, com a possível excepção da bazófia presidencial.

Crónica da anunciada avaria irreparável da geringonça (139)

Outras avarias da geringonça.

Costa já tinha virado várias páginas e a semana passada, a propósito da recuperação das promoções automáticas independentes do mérito dos professores (a que chamam progressão na carreira), virou mais uma, desta vez para trás, e disse: «É muito simples. Não há dinheiro

Não sei o que mais admirar, se a desfaçatez de Costa, depois de tudo o que vem dizendo desde que despejou Seguro da liderança, se a lata do ministro da Educação que funcionou como procurador da Fenprof e adjunto de Mário Nogueira até recentemente e agora arreganha os dentes, se o calibre da garganta de comunistas e berloquistas que engolem tudo com medo de expirar o seu seguro de vida e de virem a pagar por isso nas eleições.

10/06/2018

CASE STUDY: O multiplicador do dinheiro (REPUBLICAÇÃO)

Há algumas horas foi conhecido o resultado do plebiscito suíço da iniciativa Vollgeld para impedir a criação de moedas pelos bancos. A ideia foi derrotada. Os suíços preferiram continuar a multiplicar o dinheiro.

Republico o post de há dois anos sobre o tema. Aqui vai ele.

Uma das teorias que mais entropia instila nas meninges dos economistas e, por essa via, infecta as mentes dos políticos e opinion dealers, principalmente os de inspiração socialista, e assim confunde os sujeitos passivos, é a teoria dos multiplicadores.

Historicamente, os primeiros assinalados foram os multiplicadores bíblicos. Veja-se, por exemplo Mateus 14:13-21:
15. À tarde aproximaram-se dele os discípulos, dizendo: Este lugar é deserto e a hora é já passada; despede, pois, as multidões, para que, indo às aldeias, comprem alguma coisa para comer. 
16. Mas Jesus lhes disse: Não precisam ir; dai-lhes vós de comer.
17. Replicaram-lhe: Não temos aqui senão cinco pães e dois peixes.
18. Disse-lhes ele: Trazei-mos cá. 
19. Tendo mandado à multidão que se assentasse sobre a relva, tomou os cinco pães e os dois peixes e, erguendo os olhos ao céu, deu graças e, partindo os pães, entregou-os aos discípulos, e os discípulos entregaram-nos à multidão.
20. Todos comeram e se fartaram; e do que sobejou levantaram doze cestos cheios de pedaços.
21. Ora os que comeram, foram cerca de cinco mil homens, além de mulheres e crianças.

Em vez de nos virem cá incomodar, não poderiam ficar nas vossas terras e mandar-nos o dinheiro e o petróleo?

Parece que houve mais um incêndio nas redes sociais em protesto pela Junta de Freguesia de Santa Maria Maior não ter autorizado o arraial da “sardinha achada” nas Escadinhas da Achada, no bairro do Castelo.

Os indignados queixaram-se do turismo e dos alojamentos locais que, segundo eles, seriam a razão da não autorização da Junta de Freguesia, o que esta garantiu não ser o caso porque as queixas foram de moradores do bairro. Aliás, porque haveriam de queixar-se os turistas ou os donos do alojamentos locais se o arraial só lhes traria animação e negócio, respectivamente?

É provável que os indignados pela expulsão do arraial sejam aparentados aos indignados pela prospecção e eventual extracção de petróleo na costa alentejana que pretendem evitar, deixando essas actividades poluidoras para outros povos.

Apesar de uns e outros indignados se contarem pelas dezenas, vá lá, pelas centenas, a sua multiplicação nos mídia pelo jornalismo de causas (é um dos poucos domínios onde o efeito multiplicador se faz sentir) dá visibilidade a um programa que tem tudo para ser popular: deixem-se lá ficar pelos vossas terras e mandem-nos o dinheiro e o petróleo.

09/06/2018

A classe operária das tascas era a freguesia da velha esquerda. Deu lugar ao radical chic dos bares urbanos que é a freguesia da nova esquerda

«Para a nova esquerda, o povo, agora visto como xenófobo, reaccionário e pouco instruído, é hoje o inimigo, para grande desespero de um velho esquerdista como, em França, Jean-Claude Michéa; enquanto a burguesia, cosmopolita, tolerante e qualificada, é o amigo. A nova esquerda — tal como extrema-esquerda de 1970, donde provem – não depende de sindicatos, mas do activismo das universidades, da comunicação social, e das “movidas” urbanas. Por isso, o “povo” deu lugar às “minorias”, e a política da “igualdade” à política das “diferenças”. A sociedade do futuro é agora imaginada como um aglomerado de tribos urbanas — uma grande noite do Bairro Alto, garantida pelo Estado social. O caminho já não passa pelas minas e pelas fábricas, mas pela vitimização das “minorias” e pela culpabilização do “homem branco”. Ainda fica bem lutar pelos “pobres”, claro, mas esses pobres são agora preferencialmente os imigrantes.

As velhas esquerdas obreiristas da Europa do século XX puderam contar, durante décadas, com a fidelidade eleitoral dos operários ou dos mineiros: votar social democrata ou comunista era parte da sua “consciência de classe”. É uma réplica dessa fidelidade que a nova esquerda tenta desesperadamente incutir aos frequentadores dos bares urbanos do século XXI através do frenesim das causas fracturantes e do politicamente correcto. O código de conduta dos novos progressistas é assim: podem ter chalets de 600 mil euros, não podem é chamar “princesas” às filhas.»

Excerto de «A nova esquerda entre chalets e princesas», Rui Ramos no Observador

08/06/2018

Chávez & Chávez, Sucessores (66) - A maldição dos recursos naturais potenciada pelo chávismo

Outras obras do chávismo.

A Venezuela dispõe das maiores reservas mundiais de petróleo e, como se sabe, faltam os combustíveis.

A Venezuela tem uma elevada precipitação e dispõe de muitos rios, incluindo o rio Orinoco, o quarto maior caudal do mundo, e, não obstante, raciona frequentemente a electricidade e a água. Há mais de um mês que os 5,3 milhões de caraquenhos não têm abastecimento regular de água. Depois de terem sido gastos nos últimos anos 10 mil milhões de dólares, Caracas tem menos água do que há 20 anos e a infraestrutura está em ruínas. Apenas funcionam 20 das 400 equipas de manutenção.

É mais um exemplo da falta de liberdade e da miséria de mãos dadas. É a regra, pelo menos no Ocidente, porque no Oriente a falta de liberdade parece temporariamente compatível com a saída da miséria.

07/06/2018

A antiguidade é um posto

«Pior: a impossibilidade de despedir os funcionários públicos, em conjunto com a impossibilidade de não promover certos funcionários públicos, é uma estátua ditirâmbica à absoluta mediocridade. Um óptimo professor com 30 anos tem alta probabilidade de ganhar muito menos do que um péssimo professor com 50 anos. As chamadas “carreiras especiais da função pública” — professores, enfermeiros, polícias, militares, funcionários judiciais, ou seja, grupos de pressão que convém engraxar — beneficiam de privilégios únicos e profundamente injustos. Nessas “carreiras especiais” as progressões dependem sobretudo do tempo de serviço (ainda que nalguns casos possam existir modelos de avaliação), enquanto a progressão nas “carreiras gerais” (tal como em todo o sector privado, já agora) tem como base sobretudo a avaliação de desempenho.

Há gente que gosta de pedir “exemplos concretos” sempre que se fala em reformas estruturais, em particular na função pública. Pois aqui está um. A progressão automática por tempo de serviço, sobretudo no quadro de um Estado cada vez mais envelhecido, é um privilégio injustificável no Portugal actual. Qualquer pessoa consideraria ridículo que o número do cartão de cidadão de um indivíduo servisse para aferir a sua qualidade profissional. Mas as progressões automáticas são precisamente isso — quanto mais baixo o CC, maior o ordenado. É iníquo. É discriminatório. E é aberrante.»

 Excerto de «E acabar de vez com as progressões automáticas?», João Miguel Tavares no Público

CAMINHO PARA A SERVIDÃO: RoboCop ao serviço do Partido Comunista Chinês

Depois do crédito social, uma espécie de rating de conformidade dos cidadãos súbditos chineses com as directivas oficiais, o Partido Comunista Chinês, via governo chinês, lança o policiamento robótico.


«Em 2011, Person of Interest da CBS , o cientista da computação Harold Finch constrói um sistema de inteligência artificial chamado “The Machine”, que compila e analisa resmas de dados para prever assassinatos. Finch e o seu ajudante, John, perseguem o perpetrador e impedem o crime. As autoridades de segurança pública na região autónoma chinesa de Xinjiang estão a transformar essa ficção em realidade.

Um gigantesco programa usando dados extraídos de registos de saúde, finanças, operações stop e relatórios da polícia para identificar indivíduos com probabilidade de cometer crimes na região sensível do noroeste da China acaba de ser revelado. Lançado em 2016, a iniciativa de policiamento de “big data” em Xinjiang é uma das muitas iniciativas de aplicação da lei que o país está lançando, aproveitando suas capacidades crescentes nos campos de IA e robótica.

Na Praça da Paz Celestial, em Pequim, os robôs empunhando armas de fogo patrulham multidões de turistas. Os robôs escolhem seu próprio caminho ao longo das rotas designadas mas as armas de imobilização são activadas por um oficial que controla o bot remotamente. Em Zhengzhou, capital da província central de Henan, na China, robôs policiais semelhantes a Daleks sem braços percorrem a estação de comboios de alta velocidade. Eles usam um software de reconhecimento facial para ajudar os polícias a identificar suspeitos, interagir com os transeuntes e responder às suas perguntas. Os polícias da estação usam óculos de reconhecimento facial, desenvolvidos pela empresa de tecnologia LLVision, de Pequim, que identifica identidades falsas e criminosos procurados. E na metrópole central de Wuhan, o Ministério de Segurança Pública aliou-se à gigante de tecnologia Tencent para desenvolver uma esquadra de polícia totalmente automatizada usando a mais avançada tecnologia de IA.»

(Tradução semi-automática de um excerto do artigo CHINA TURNS TO ROBOTIC POLICING da OZI)

06/06/2018

CASE STUDY: Novo regime dos trabalhadores destacados

A semana passada o parlamento europeu aprovou uma directiva que altera o regime dos «trabalhadores destacados», isto é os trabalhadores enviados temporariamente pelo seu empregador para trabalhar noutro Estado-Membro da UE.

Estão em causa mais de 2,3 milhões de trabalhadores destacados, incluindo cerca de 65 mil trabalhadores portugueses e cerca de 18 mil de outros Estados-membros destacados em Portugal.

A directiva, que terá de ser adoptada em dois anos, obriga a que os trabalhadores destacados tenham a remuneração determinada segundo as normais locais e ainda que as despesas de viagem, de alimentação ou de alojamento sejam pagas pelo empregador não podendo ser consideradas como remuneração (a este respeito não há alterações porque as leis nacionais já a isso obrigam).

Actualmente aos trabalhadores destacados por períodos até 24 meses continuam a aplicar-se as leis laborais e de segurança social do Estado-Membro de origem. Para prazos superiores aplica-se a lei do Estado-Membro onde o trabalhador destacado se encontra. Com a nova directiva, esse período fica reduzido para 12 meses, podendo ser prorrogado por 6 meses, sem prejuízo de a remuneração ser fixada desde o primeiro dia segundo as normas locais.

Estas novas regras são ditadas pelo propósito de proteger os trabalhadores destacados e visam defendê-los, certo?

Errado. As novas regras são ditadas pelo propósito de proteger as empresas e os trabalhadores dos países de destino da concorrência dos trabalhadores destacados que inevitavelmente serão afectados negativamente, porque com as despesas ficarão mais caros para o empregador do que os trabalhadores locais e deixarão de ser contratados para o destacamento no estrangeiro, onde poderiam beneficiar durante algum tempo de melhores condições.

Como a maioria dos trabalhadores destacados são originários dos países mais pobres (em Portugal 65 mil contra 18 mil), esta legislação beneficia os países mais ricos e os seus trabalhadores em detrimento dos países mais pobres e seus trabalhadores.

05/06/2018

Dúvidas (223) - Quem disse o quê?

Adivinhe quem disse a propósito do corte dos fundos comunitários a Portugal:

É preciso fazer voz grossa a Bruxelas” e “Mais do que voz grossa, é preciso argumentar”.

Se pensa que o líder comunista Jerónimo de Sousa disse a primeira frase e a líder centrista Assunção Cristas disse a segunda, é porque ainda não reparou nas virtudes soporíferos que a geringonça tem sobre os seus constituintes, em contraste com as influências radicalizantes da oposição. Na verdade, Cristas disse a primeira frase, Jerónimo sossegou-a com a segunda e nenhum deles queria significar aquilo que disse.

CASE STUDY: Trumpologia (33) - LÉtat c'est lui

Mais trumpologia.

«President Trump declared Monday that the appointment of the special counsel in the Russia investigation is “totally UNCONSTITUTIONAL!” and asserted that he has the power to pardon himself, raising the prospect that he might take extraordinary action to immunize himself from the ongoing probe. 

In a pair of early-morning tweets, Mr. Trump suggested that he would not have to pardon himself because he had “done nothing wrong.” But he insisted that “numerous legal scholars” have concluded that he has the absolute right to do so, a claim that vastly overstates the legal thinking on the issue.»

 (NYT)

04/06/2018

Crónica da anunciada avaria irreparável da geringonça (138)

Outras avarias da geringonça.

Unamuno escreveu que «o idioma português é o castelhano sem ossos», mas poderia ter dito o mesmo em relação ao indígenas dos dois lados da fronteira. Filipe II de Espanha, I de Portugal, disse que as leis em Portugal são duras mas a prática é mole. Se não disse, poderia ter dito porque é isso mesmo.

Veja-se o que acontece quando a nomenclatura não cumpre a lei - já com a ralé não é a mesma coisa. Por exemplo, quando o amigo Siza Vieira coloca o chapéu de «ministro adjunto da EDP», o que faz Costa? Assobia para o lado e manda um apparatchik anunciar que vão mudar a lei e fazer uma lista de obrigações legais que os membros do governo deverão respeitar.

03/06/2018

Lost in translation (305) - Despejos, dizem eles

Só no mês de Maio podemos encontrar centenas de "notícias" sobre supostos "despejos" plantadas nos jornais pela esquerdalhada através dos jornalistas de causas e outros idiotas úteis ao seu serviço. É como se, de repente, os processos de despejo, que durante anos se contavam pelas dedos de uma mão, brotassem espontaneamente pelos bairros de Lisboa.

Uma consulta rápida ao chamado "Novo Regime do Arrendamento Urbano" aprovado pela Lei n.º 6/2006, de 27 de Fevereiro é suficiente para se perceber que um despejo só pode ter lugar com uma acção judicial «quando o arrendatário não desocupe o locado na data prevista na lei ou na data fixada por convenção entre as partes» ou seja quando o contrato caduca, não é renovado, ou é denunciado pelo senhorio nos prazos e na forma prevista pelo contrato, ou é resolvido pelo senhorio com fundamento em uma das cinco causas previstas no artigo 1083.º.

Na maioria dos casos, como aqui fez notar Adolfo Mesquita Nunes, estamos perante situações de não renovação pescadas à linha e transformadas em bandeiras pelo agitprop que aproveita a conotação negativa da palavra despejo para gerar uma onda de indignação que, como quase todas as outras, se propaga apenas no huis clos da esquerdalhada, redacções dos mídia, tascas da moda, discotecas e, claro, no parlamento onde o berloquismo ganhou a audiência do grupo parlamentar socialista, obrigado a mostrar-se colaborante nas causas fracturantes como moeda de troca para comprar o silêncio cúmplice na manutenção da "austeridade".

02/06/2018

Dúvidas (222) - Maioria qualificada para as miudezas do PREC, maioria simples para as questões de vida e de morte?

«Uma última questão: como se percebe que, para mudar normas da Constituição relativamente
anódinas, seja necessária uma maioria qualificada - e para alterar princípios civilizacionais, que têm que ver com a vida e a morte, baste uma maioria simples?

Na alteração de normas com séculos de existência não deveria ser necessário um consenso alargado?

Estará certo que uma matéria tão importante como esta possa depender do voto de um único deputado?»

José António Saraiva, a propósito da votação da eutanásia no parlamento (jornal SOL)

COMO VÃO DESCALÇAR A BOTA? (18) - A meta de Belém é mais ambiciosa do que a de S. Bento

«"A meta (de integrar os sem abrigo) é para cumprir. É evidente que haverá sempre aqueles que queiram ficar na rua. Mas é uma minoria. A expectativa é de que a grande maioria tenha até 2023, na minha meta, ou até 2024, na meta do Governo, condições de saúde, habitação e empregabilidade para deixar a rua", afirmou Marcelo Rebelo de Sousa, depois de jantar, com vários sem-abrigo, bacalhau gratinado "à avó" e duas taças de gelatina na Associação dos Albergues Noturnos do Porto (AANP).» (Público)

Admitamos que Marcelo e Costa estão a falar da mesma coisa, o que implica entenderem-se sobre o que seja:
  • Um sem abrigo
  • Integrar um sem abrigo
  • Condições de saúde, habitação e empregabilidade para deixar a rua
  • Uma grande maioria 
O que irá fazer, como e com que dinheiro irá o governo proporcionar quais condições de saúde, quais habitações e quais empregos para quais sem abrigo deixarem a rua até 2024? E, se não for perguntar demasiado, o quê, como e com que meios irá Belém antecipar de um ano as medidas necessárias?

E, já agora, onde estará Marcelo em 2023? Pode estar em Cascais. E onde estará Costa em 2024? Pode estar em Belém.

Seja como for, nós vamos fazer o possível por estar por aqui para fazer a cobrança.

01/06/2018

ESTADO DE SÍTIO: Extorsão aos contribuintes europeus, o menor múltiplo comum

«Marcelo destaca sintonia de posições com Costa e Rio sobre fundos europeus»

A extorsão aos contribuintes em geral para sustentar o Estado Sucial - onde a súcia doméstica se aloja - e as suas clientelas permite largos consensos, com reservas quando se chega ao pormaior de quais os contribuintes que vão pagar a festa. Grosso modo, socialistas, comunistas e berloquistas preferem a extorsão aos "privados" para poderem poupar a sua freguesia eleitoral, constituída principalmente por dependentes presentes ou futuros do Estado Sucial.

Onde os consensos não têm reservas é na extorsão dos contribuintes de outros países, encabeçados pela Alemanha que é de longe o maior contribuinte líquido para o orçamento da UE.

A mentira como política oficial (43) - Costa e os factos alternativos

Facto alternativo: redução da carga fiscal

«Não antevejo grandes mudanças no quadro fiscal do país nos próximos anos (já se encontra) consolidado o essencial da redução da carga fiscal», disse Costa na 3.ª feira durante o almoço promovido pela Associação de Amizade Portugal Estados Unidos.

Factos

«A carga fiscal aumentou para 34,7% do PIB em 2017, contra os 34,3% no ano anterior. O nível mais alto desde 1995» (fonte)

Facto alternativo: redução da dívida pública

«Felizmente, o caminho feito nestes dois anos nas finanças públicas portuguesas – crescimento económico, redução do défice e da dívida, saída do Procedimento de Défice Excessivo, subida dos ratings – e a gestão prudente que foi feita na colocação da dívida pública, permite enfrentar este movimento dos mercados com toda a tranquilidade» disse Costa no dia seguinte em entrevista ao Público.

Factos
(Dívida bruta em mil milhões base=2011 e em % do PIB; fontes: 2015-7 - Pordata , Abril de 2018 - IGCP e Banco de Portugal)

Dezembro de 2015:  231,5 - 128,8%
Dezembro de 2016 : 240,8 - 129.9%
Dezembro de 2017 : 242,6 - 125,7%
Abril de 2018         : 245,5 - 127,1% (IGCP) / 250,1 (BdP)