Outras avarias da geringonça.
Uma vez mais, a missão de supervisão (CE + BCE + MEE) pós-programa de assistência vem lembrar ao governo socialista que deve aproveitar a bonança para reduzir a dívida e adoptar as reformas estruturais. O BCE pelo seu lado fez saber que termina o quantitative easing até ao fim do ano e a partir de Setembro reduz as compras de dívida a metade.
Do outro lado do Atlântico a Fed subiu as taxas de juro, como esperado, e anunciou que voltará a aumentá-la mais duas vezes este ano, continuando assim uma trajectória de regresso à normalidade que apanhará o governo socialista de calças na mão, apesar dos avisos como a subida de 24 pontos bases em apenas um mês das OT a 10 anos no leilão da semana passada.
O governo naturalmente continuará enquanto puder a fazer as orelhas moucas do costume porque reduzir a despesa para baixar a dívida deixaria sem ar a freguesia eleitoral e os parceiros da geringonça ainda mais irritados. Quanto às reformas, para eles já estão feitas e chamam-se «reversões». Tenderá, pois, a fazer o que os socialistas sabem fazer: chutar o problema para a frente e, enquanto houver, deitar-lhe dinheiro para cima.
E, por falar em reversões, lembram-se que, segundo o Ronaldo das Finanças, então ainda Centeno, da reposição das 35 horas não resultaria impacto na despesa? Pois bem, descobriram agora os sindicatos e a Ordem dos Médicos que «os hospitais vão ter de fechar serviços» a menos que sejam contratados cinco mil novos enfermeiros e auxiliares.
Continua em exibição a novela Siza Vieira, que agora se descobriu ter ele próprio declarado no final do ano passado ao Tribunal Constitucional que não estava em exclusividade ou seja estava, sem o saber, ele um jurista reputado, numa situação ilegal que implicaria a demissão.
Decorrido um ano sobre a tragédia criminosa de Pedrógão Grande, sabe-se que o inquérito produziu dez arguidos. E não, entre esses dez não se encontra nem Costa (releia-se aqui o requisitório de José Manuel Fernandes), nem a MAI, nem o presidente da Protecção Civil. Em vez deles encontramos «bombeiros, funcionários da câmara e empresários que deveriam ter limpado os terrenos.» E vem a propósito dizer que os célebres Kamov, quais tanques mais vocacionados para estar pousados do que para voar, contratados com a colaboração de Lacerda Machado, o amigo do peito de Costa, à época MAI do governo Sócrates, vão ser agora substituídos depois de lá terem sido enterrado milhões.
O Relatório do Provedor de Justiça divulgado a semana passada dá uma imagem do caos, ou no enunciado do relatório da «degradação da qualidade do serviço prestado aos cidadãos», em que a geringonça está a deixar o Estado Sucial que tanto diz querer defender. No que respeita à ciência, um domínio de estimação para os socialistas e onde sempre se pretenderam mostrar generosos, a crer no testemunho de Elvira Fortunato, um dos poucos investigadores que tem mostrado serviço, «estamos pior do que com a troika», o que não é dizer pouco.
Se no campo das realizações Costa não dá uma para a caixa (apesar de ter dado várias para a Caixa), a criatura compensa no domínio da prestidigitação e tirou mais um coelho (e não, não é o Jorge, que esse está na reserva da nação). É o projecto da Google que já estava mais do que decidido mas que Costa foi a correr à Califórnia para aparecer na fotografia.
A dívida pública e privada continua bem e recomenda-se. Quanto à dívida das empresas públicas, no 3.º trimestre do ano passado já ia em quase 30 mil milhões (uns 15% do PIB), dos quais 19 mil milhões das empresas de transporte (CP, Metro, etc.).
A banca em Portugal divide-se em dois sectores, a saber: a banca espanhola (Santander e BPI), que está bem, e a banca portuguesa, Caixa, BCP, Novo Banco e Montepio, que está como se sabe, mesmo depois das injecções de dinheiro dos contribuintes. O malparado gerado nos tempos do socratismo também continua bem, como se pode ver no diagrama seguinte que mostra Portugal num honroso 2.º lugar logo atrás da Grécia.
Prossegue a bom ritmo a captura do Estado pelo aparelho socialista e um dos exemplos mais notórios são as entidades reguladoras sujeitas ao garrote financeiro ou, no caso do BdP à tentativa de baixar as provisões para aumentar os dividendos para baixa o défice (ler o retrato por Pedro Sousa Carvalho).
Apesar de começarmos a entrar no defeso, as greves continuam e continuarão, como uma espécie de luta política por outros meios, como a guerra segundo Clausewitz, já que os comunistas irão viabilizar até ao fim a geringonça e precisam de mostrar músculo sindical. Os ainda mais acagaçados berloquistas, a quem falece o músculo sindical ou outro, só podem usar as cordas vocais e estarão dispostos até a vender o professor Louçã para fazerem parte da solução - solução que para o país é um problema. Desta vez foram os trabalhadores da Saúde, amanhã serão outros.
Quanto ao caso da «progressão na carreira» dos professores transformou-se num abcesso tão infectado que Brandão Rodrigues, o até recentemente adjunto de Mário Nogueira, vem lembrar que os professores portugueses são dos mais bem pagos entre os países da OCDE, de que fazem parte os países mais ricos do mundo, o que, sendo verdade, é para ser dito pelos reaccionários. É nesta altura que devemos lembrar que entre 2015 e 2017 o número de alunos no básico e secundário reduziu-se em 20 mil e o número de professores aumentou de 3.228. E esta hem?
É só um sinal, mas as dormidas na hotelaria tiveram em Abril uma queda homóloga de 8,4%, apesar das receitas terem crescido 2%. Enquanto for possível ir aumentando os preços isso não será um problema. O problema é que aumentar os preços tem geralmente como consequência reduzir a procura.
Outros sinais são os Composite Leading Indicators da OCDE que revelam uma desaceleração do crescimento e as revisões pelo BCE em baixa das previsões de crescimento.
O que não pára de crescer é o crédito. No caso do crédito imobiliário, até Abril os bancos emprestaram quase 3 mil milhões de euros, o valor mais alto desde 2010, um aumento homólogo de 27%.
«Siza Vieira, ... ele um jurista reputado»
ResponderEliminarDepois de ter declarado, noutro local, que não sei o que é ser jurista, fui cultivar-me.
Em português e noutros idiomas é um licenciado em direito (ou área próxima, v.g. solicitador) que tem um profundo conhecimento (uma "especialização") na leitura, na interpretação das leis.
Simplificando o que li, é um avogado com uma especial sabedoria natural, sem ter feito algum exame ou prova.
Não há instituição alguma no mundo que ateste que um tipo/tipa é jurista. É um cognome dado pela Sociedade.