31/07/2015
ESTADO DE SÍTIO: Um passo atrás, dois passos à frente disse Alexis Ulianov Tsipras
Depois de 5 meses de evasivas a dar o dito pelo não dito, se os 17 da zona euro ainda tivessem um resíduo de confiança no governo grego ter-se-ia evaporado ao saberem que o primeiro-ministro garantiu aos restantes membros do Syriza que as cedências à troika foram um «recuo táctico», depois de ter dito que o terceiro resgate era «a receita errada».
Para ser perceber como funciona a cabeça de um comunista, reciclado ou não, é indispensável não esquecer que ele não vê os seus interlocutores da UE como parceiros numa comunidade de que a Grécia faz parte. Para Tsipras eles são apenas fantoches ao serviço da burguesia dos respectivos países aos quais é perfeitamente legítimo iludir ou mentir ou vitimizar (tudo por uma boa causa) para lhes extorquir dinheiro ou concessões. That’s it.
ARTIGO DEFUNTO: A dificuldade congénita de distinguir fluxos e stocks
Se eu comparasse o património da minha empregada doméstica - proprietária de uma moradia – com o meu rendimento anual, concluindo que é mais rica do que eu, o que diriam os leitores do (Im)pertinências?
Diriam provavelmente o mesmo que eu pensei do jornalista do Público que escreveu:
«Parte significativa da riqueza nacional é controlada pelos 25 mais ricos de Portugal. (...) A riqueza deste grupo ascende a 14,7 mil milhões de euros (14,3 mil milhões em 2014), o que equivale a 8,5% do Produto Interno Bruto português de 2014.»
Chávez & Chávez, Sucessores (32) – O alívio quantitativo na versão socialista modalidade bolivariana
Com o equivalente a um dólar seria possível comprar 33 kg de farinha de milho ao preço oficial se porventura algum supermercado a vendesse e após várias horas numa bicha. Com o mesmo valor é porém possível encher 140 vezes o depósito de um carro familiar aos preços subsidiados e vender o combustível na fronteira com a Colômbia por 5 mil vezes mais – um negócio florescente que é mais exemplo de como o socialismo é bom para o mercado negro.
Quando um dia o chávismo colapsar deixará a Venezuela de rastos por várias gerações.
[Fonte: Crackers in Caracas]
Mitos (209) - O contrário do dogma do aquecimento global (IX)
Continuação de (I), (II), (III), (IV), (V), (VI), (VII) e (VIII).
Se, como se sabe, as grandes mudanças climáticas se deram no passado sem nenhuma (ou pouco relevante) intervenção humana porque diabo nos estamos a concentrar exclusivamente na acção humana como único driver dessas mudanças no futuro? Por exemplo, até que ponto os efeitos de uma grande erupção vulcânica, como as que aconteceram várias vezes no passado, não anulará numa década os efeitos das emissões ligadas a actividades humanas no aquecimento global (supondo que este existe de forma sustentada)?
«Volcanic eruptions contribute to climate variability, but quantifying these contributions has been limited by inconsis- tencies in the timing of atmospheric volcanic aerosol loading determined from ice cores and subsequent cooling from climate proxies such as tree rings. Here we resolve these inconsistencies and show that large eruptions in the tropics and high latitudes were primary drivers of interannual-to-decadal temperature variability in the Northern Hemisphere during the past 2,500 years. Our results are based on new records of atmospheric aerosol loading developed from high-resolution, multi-parameter measurements from an array of Greenland and Antarctic ice cores as well as distinctive age markers to constrain chronologies. Overall, cooling was proportional to the magnitude of volcanic forcing and persisted for up to ten years after some of the largest eruptive episodes. Our revised timescale more firmly implicates volcanic eruptions as catalysts in the major sixth-century pandemics, famines, and socioeconomic disruptions in Eurasia and Mesoamerica while allowing multi-millennium quantification of climate response to volcanic forcing.»
Continuar a ler «Timing and climate forcing of volcanic eruptions for the past 2,500 year» na Nature
Se, como se sabe, as grandes mudanças climáticas se deram no passado sem nenhuma (ou pouco relevante) intervenção humana porque diabo nos estamos a concentrar exclusivamente na acção humana como único driver dessas mudanças no futuro? Por exemplo, até que ponto os efeitos de uma grande erupção vulcânica, como as que aconteceram várias vezes no passado, não anulará numa década os efeitos das emissões ligadas a actividades humanas no aquecimento global (supondo que este existe de forma sustentada)?
«Volcanic eruptions contribute to climate variability, but quantifying these contributions has been limited by inconsis- tencies in the timing of atmospheric volcanic aerosol loading determined from ice cores and subsequent cooling from climate proxies such as tree rings. Here we resolve these inconsistencies and show that large eruptions in the tropics and high latitudes were primary drivers of interannual-to-decadal temperature variability in the Northern Hemisphere during the past 2,500 years. Our results are based on new records of atmospheric aerosol loading developed from high-resolution, multi-parameter measurements from an array of Greenland and Antarctic ice cores as well as distinctive age markers to constrain chronologies. Overall, cooling was proportional to the magnitude of volcanic forcing and persisted for up to ten years after some of the largest eruptive episodes. Our revised timescale more firmly implicates volcanic eruptions as catalysts in the major sixth-century pandemics, famines, and socioeconomic disruptions in Eurasia and Mesoamerica while allowing multi-millennium quantification of climate response to volcanic forcing.»
Continuar a ler «Timing and climate forcing of volcanic eruptions for the past 2,500 year» na Nature
30/07/2015
Dúvidas (113) – Uma deserção do campo keynesiano ou simples realismo?
«O que me parece impossível é continuarmos a pensar nas despesas públicas como motor do crescimento económico. Isso acabou. Porque já chegaram a um nível, as despesas, os impostos, a dívida, todas essas coisas, simplesmente aumentar a despesa pública dá um efeito imediato de alguma melhoria, mas é um efeito imediato, como já verificamos largamente no passado.»
Teodora Cardoso, presidente do Conselho das Finanças Públicas, em entrevista ao Económico
Teodora Cardoso, presidente do Conselho das Finanças Públicas, em entrevista ao Económico
O tigre celta, o tareco lusitano e o Garfield helénico. Os felinos são todos iguais mas há uns mais iguais do que outros
[Sequela de (1), por sua vez sequela de O rugido do tigre vs o miado do gato, de (2), de (3) e de (4)]
«O Banco Central Irlandês reviu em alta o crescimento da economia irlandesa, prevendo que o Produto Interno Bruto (PIB) cresça 4,2% em 2015, mais 0,5 pontos do que a estimativa de Abril.»
«A pouco mais de dois meses das legislativas, o Governo desiste de mexer nas pensões em pagamento e opta por uma redução nas pensões futuras.»
«Atenas impôs um preço máximo para alguns consumíveis vendidos em locais públicos como aeroportos, estações, 'ferrys', hospitais ou escolas para compensar em parte a subida de 10 pontos percentuais do IVA.»
Os PIGS também são todos iguais mas há uns mais pigs do que outros.
«O Banco Central Irlandês reviu em alta o crescimento da economia irlandesa, prevendo que o Produto Interno Bruto (PIB) cresça 4,2% em 2015, mais 0,5 pontos do que a estimativa de Abril.»
«A pouco mais de dois meses das legislativas, o Governo desiste de mexer nas pensões em pagamento e opta por uma redução nas pensões futuras.»
«Atenas impôs um preço máximo para alguns consumíveis vendidos em locais públicos como aeroportos, estações, 'ferrys', hospitais ou escolas para compensar em parte a subida de 10 pontos percentuais do IVA.»
Os PIGS também são todos iguais mas há uns mais pigs do que outros.
NÓS VISTOS POR ELES: O anti-Grécia
«Despite years of economic gloom and noisy complaints against austerity, Portugal is headed for elections in October with just about the least-radicalized politics in the eurozone.
The October 4 parliamentary vote looks set to be a straight fight between the governing center-right coalition of Prime Minister Pedro Passos Coelho and the center-left Socialist Party led by former Lisbon mayor António Costa.
Latest polls give the Socialists an edge with over 35 percent of the vote, but the government coalition is barely a couple of points behind.
There is no sign of a surge for leftist firebrands in the mold of Greece’s Syriza party or Spain’s Podemos.
The old-school Portuguese Communist Party (PCP) polls at around 10 percent, little changed from its score in the last elections, in 2011. Syriza wannabes in the Left Bloc are struggling to match the 5 percent they picked up four years ago. And far-right parties simply don’t make it onto Portugal’s political radar.»
«The anti-Greece - Why Portugal’s election won't produce Tsipras 2.0.», Politico
The October 4 parliamentary vote looks set to be a straight fight between the governing center-right coalition of Prime Minister Pedro Passos Coelho and the center-left Socialist Party led by former Lisbon mayor António Costa.
Latest polls give the Socialists an edge with over 35 percent of the vote, but the government coalition is barely a couple of points behind.
There is no sign of a surge for leftist firebrands in the mold of Greece’s Syriza party or Spain’s Podemos.
The old-school Portuguese Communist Party (PCP) polls at around 10 percent, little changed from its score in the last elections, in 2011. Syriza wannabes in the Left Bloc are struggling to match the 5 percent they picked up four years ago. And far-right parties simply don’t make it onto Portugal’s political radar.»
«The anti-Greece - Why Portugal’s election won't produce Tsipras 2.0.», Politico
29/07/2015
DIÁRIO DE BORDO: Eu também agradeço…
«Queria agradecer a Augusto Santos Silva. Bem haja por nos recordar como se pode ser manipulador nos argumentos e rasteiro na linguagem. Por nos lembrar como isso foi regra nos seus anos de socratismo.»
José Manuel Fernandes, no Observador
… e aproveito para lembrar o que foi a manipulação dos mídia durante os governos do Partido Socialista, em particular quando o seu Chefe foi o preso 44 (ler uma retrospectiva em «O robô e a máquina de propaganda» de José António Saraiva).
José Manuel Fernandes, no Observador
… e aproveito para lembrar o que foi a manipulação dos mídia durante os governos do Partido Socialista, em particular quando o seu Chefe foi o preso 44 (ler uma retrospectiva em «O robô e a máquina de propaganda» de José António Saraiva).
BREIQUINGUE NIUZ: Desacreditado até para os padrões helénicos
A confirmar a falta de crédito de Varoufakis, até para as exigências mínimas que são os padrões helénicos, «o Supremo Tribunal de Justiça grego pediu ao parlamento o levantamento da imunidade do ex-ministro das Finanças ... e o Procurador-Geral da República grego está também a pensar abrir um processo contra Varoufakis depois de ter sido divulgada a gravação de uma conversa em que o ex-ministro admite que tinha preparado um plano B secreto para voltar ao dracma e que terá designado um amigo de infância do seu ministério para o ajudar a levar o seu plano em frente, copiando as passwords dos contribuintes gregos.» (Económico)
Ficaria agradecido se alguém me explicasse como foi possível um sujeito deste quilate ter posto o jornalismo de causas doméstico e internacional a salivar de excitação e colocado luminárias de toda a esquerda em postura de reverência. Deve ser a doutrina Somoza em acção.
Ficaria agradecido se alguém me explicasse como foi possível um sujeito deste quilate ter posto o jornalismo de causas doméstico e internacional a salivar de excitação e colocado luminárias de toda a esquerda em postura de reverência. Deve ser a doutrina Somoza em acção.
CAMINHO PARA A INSOLVÊNCIA: De como o melhor que pode acontecer ao paraíso prometido aos gregos pelo Syriza é ser um purgatório (XXXIV) – Highjacking and hacking
Outros purgatórios a caminho dos infernos.
Provavelmente picada pelos comentários de Paul Krugman, que reconheceu ter «sobrestimado a competência do governo grego», entre outras razões por não ter um plano alternativo, a vaidade doentia de Yanis Varoufakis levou-o a admitir ter um plano B de transição do euro para a dracma usando os bancos como um sistema paralelo de pagamentos. O «Statement by the Office of Yanis Varoufakis» publicado na 2.ª feira é uma peça de teoria da conspiração dificilmente superável – registe-se que quem preparava há meses um plano de abandono do euro tem a desfaçatez de se queixar de «forces at work within the Eurozone to have Greece expelled from the euro».
Segundo o jornal ekathimerini, «In a teleconference call (that ook place on July 16 more than a week after Varoufakis left his post as finance minister) with members of international hedge funds that was allegedly coordinated by former British Chancellor of the Exchequer Norman Lamont, Varoufakis claimed to have been given the okay by Tsipras last December – a month before general elections that brought SYRIZA to power – to plan a payment system that could operate in euros but which could be changed into drachmas “overnight” if necessary, Kathimerini understands. … The plan would involve hijacking the AFMs of taxpayers and corporations by hacking into General Secretariat of Public Revenues website, Varoufakis told his interlocutors. This would allow the creation of a parallel system that could operate if banks were forced to close and which would allow payments to be made between third parties and the state and could eventually lead to the creation of a parallel banking system, he said.»
É certo que Varoufakis desmentiu a parte que está demonstrada em gravações da teleconferência, mas que crédito se pode dar a uma criatura deste jaez?
O caso grego é uma ilustração perfeita das leis de Murphy. Por exemplo esta: se alguma coisa pode dar errado, dará. E dará errado da pior maneira, no pior momento e de modo que cause o maior dano possível. Pergunto-me como é possível um Estado pária capturado por esta e outra gente do mesmo quilate permanecer na União Europeia, uma união talvez inviável até com Estados normais?
Provavelmente picada pelos comentários de Paul Krugman, que reconheceu ter «sobrestimado a competência do governo grego», entre outras razões por não ter um plano alternativo, a vaidade doentia de Yanis Varoufakis levou-o a admitir ter um plano B de transição do euro para a dracma usando os bancos como um sistema paralelo de pagamentos. O «Statement by the Office of Yanis Varoufakis» publicado na 2.ª feira é uma peça de teoria da conspiração dificilmente superável – registe-se que quem preparava há meses um plano de abandono do euro tem a desfaçatez de se queixar de «forces at work within the Eurozone to have Greece expelled from the euro».
Segundo o jornal ekathimerini, «In a teleconference call (that ook place on July 16 more than a week after Varoufakis left his post as finance minister) with members of international hedge funds that was allegedly coordinated by former British Chancellor of the Exchequer Norman Lamont, Varoufakis claimed to have been given the okay by Tsipras last December – a month before general elections that brought SYRIZA to power – to plan a payment system that could operate in euros but which could be changed into drachmas “overnight” if necessary, Kathimerini understands. … The plan would involve hijacking the AFMs of taxpayers and corporations by hacking into General Secretariat of Public Revenues website, Varoufakis told his interlocutors. This would allow the creation of a parallel system that could operate if banks were forced to close and which would allow payments to be made between third parties and the state and could eventually lead to the creation of a parallel banking system, he said.»
É certo que Varoufakis desmentiu a parte que está demonstrada em gravações da teleconferência, mas que crédito se pode dar a uma criatura deste jaez?
O caso grego é uma ilustração perfeita das leis de Murphy. Por exemplo esta: se alguma coisa pode dar errado, dará. E dará errado da pior maneira, no pior momento e de modo que cause o maior dano possível. Pergunto-me como é possível um Estado pária capturado por esta e outra gente do mesmo quilate permanecer na União Europeia, uma união talvez inviável até com Estados normais?
28/07/2015
Bons exemplos (100) - Fuga de Absolom
«Metade da equipa masculina de hóquei cubana, que competia nos Jogos Pan Americanos, em Toronto, fugiu para os Estados Unidos … quatro remadores a desaparecerem na semana passada, incluindo o vencedor de uma medalha de prata.» (Fonte)
Se fosse antes do restabelecimento das relações diplomáticas teriam sido todos?
Se fosse antes do restabelecimento das relações diplomáticas teriam sido todos?
Dúvidas (112) – O que qualificará a(o) Júlia(o) para ser deputada(o)?
«Júlia Pereira poderá ser a primeira deputada transexual a sentar-se num dos lugares da Assembleia da República, após ter sido colocada na lista candidata às legislativas pelo Bloco de Esquerda de Setúbal, e num lugar onde é possível ser eleita.» (Fonte)
Era uma Júlia que virou Júlio ou era um Júlio que virou Júlia?
Se é por ser transexual, não deveríamos ter também candidatos assexuais, ou de sexo mutante, ou esquizofrénicos, ou paranóicos, ou bipolares, ou obsessivos-compulsivos?
[Não precisam de me dizer. Sei que também sou diferente. Sou um porco sexista.]
Era uma Júlia que virou Júlio ou era um Júlio que virou Júlia?
Se é por ser transexual, não deveríamos ter também candidatos assexuais, ou de sexo mutante, ou esquizofrénicos, ou paranóicos, ou bipolares, ou obsessivos-compulsivos?
[Não precisam de me dizer. Sei que também sou diferente. Sou um porco sexista.]
CASE STUDY: Um imenso Portugal (13)
«Christiano, menino de uma favela do Rio, foi fotografado ao lado de Lula, em 2008, como ilustração de um programa de ajuda a comunidades carentes. De então para cá, deixou de estudar e viciou-se em crack.»
«Jovem símbolo da era Lula morre de overdose aos 15 anos» é o título do DN que, graças às investigações do caso «Lava Jato», à possível acusação do ex-presidente Lula (sem esquecer as ramificações com o Caso Marquês que envolve o preso 44) e ao estado calamitoso em que o PT está a deixar o Brasil, poderia ser substituído com propriedade por «O símbolo e a era morrem de overdose».
«Jovem símbolo da era Lula morre de overdose aos 15 anos» é o título do DN que, graças às investigações do caso «Lava Jato», à possível acusação do ex-presidente Lula (sem esquecer as ramificações com o Caso Marquês que envolve o preso 44) e ao estado calamitoso em que o PT está a deixar o Brasil, poderia ser substituído com propriedade por «O símbolo e a era morrem de overdose».
ESTÓRIA E MORAL: Nicolau, Passos e o argueiro
Estória
Como é sabido dos leitores habituais do (Im)pertinências, Nicolau Santos, um dos mais notórios pastorinhos da economia dos amanhãs que cantam, é também um dos nossos jornalistas de causas preferidos. Não nos poupamos a relevar os suas inúmeras produções teóricas (por exemplo, no inesquecível caso Baptista da Silva) e a sua proverbial independência. Ficamos agora obrigados a fazê-lo outra vez, depois da leitura do Expresso Curto de 2.ª feira – uma imitação barata do Espresso da Economist – onde Nicolau se atira a Passos Coelho pelas suas «mudanças de posição». Não, não é engano, ele escreve mesmo sobre Passos Coelho e não sobre Costa, por muito que os mal-intencionados associem o Futuro Ministro de Portugal à expressão «mudanças de posição».
Se, por um lado, Nicolau Santos aponta as «mudanças de posição», por outro a sua independência não o impede de sublinhar que Coelho «até agora deu qualquer sinal de que vai alterar um milímetro que seja as políticas que tem vindo a seguir». De onde, como disseram, «Einstein, ou Benjamin Franklin, ou Rita Mae Brown (é escolher porque não há a certeza de quem a disse), “fazer todos os dias as mesmas coisas e esperar resultados diferentes é a maior prova de insanidade”».
Não posso estar mais de acordo e se Nicolau dá o exemplo de Passos, eu dou o exemplo de Nicolau que, esperando resultados diferentes das mesmas coisas, anda há 4 anos a zurzir Passos por não adoptar as políticas de Sócrates, as quais, segundo ele, nos salvariam do calvário da austeridade, mas que, segundo vários outros onde me incluo, nos conduziram à bancarrota que nos trouxe o calvário.
Moral
«Ver um argueiro no olho do vizinho e não ver uma tranca no seu.»
Como é sabido dos leitores habituais do (Im)pertinências, Nicolau Santos, um dos mais notórios pastorinhos da economia dos amanhãs que cantam, é também um dos nossos jornalistas de causas preferidos. Não nos poupamos a relevar os suas inúmeras produções teóricas (por exemplo, no inesquecível caso Baptista da Silva) e a sua proverbial independência. Ficamos agora obrigados a fazê-lo outra vez, depois da leitura do Expresso Curto de 2.ª feira – uma imitação barata do Espresso da Economist – onde Nicolau se atira a Passos Coelho pelas suas «mudanças de posição». Não, não é engano, ele escreve mesmo sobre Passos Coelho e não sobre Costa, por muito que os mal-intencionados associem o Futuro Ministro de Portugal à expressão «mudanças de posição».
Se, por um lado, Nicolau Santos aponta as «mudanças de posição», por outro a sua independência não o impede de sublinhar que Coelho «até agora deu qualquer sinal de que vai alterar um milímetro que seja as políticas que tem vindo a seguir». De onde, como disseram, «Einstein, ou Benjamin Franklin, ou Rita Mae Brown (é escolher porque não há a certeza de quem a disse), “fazer todos os dias as mesmas coisas e esperar resultados diferentes é a maior prova de insanidade”».
Não posso estar mais de acordo e se Nicolau dá o exemplo de Passos, eu dou o exemplo de Nicolau que, esperando resultados diferentes das mesmas coisas, anda há 4 anos a zurzir Passos por não adoptar as políticas de Sócrates, as quais, segundo ele, nos salvariam do calvário da austeridade, mas que, segundo vários outros onde me incluo, nos conduziram à bancarrota que nos trouxe o calvário.
Moral
«Ver um argueiro no olho do vizinho e não ver uma tranca no seu.»
27/07/2015
Paineleiros escolhidos a dedo
Não ver noticiários, entrevistas ou comentários políticos na televisão, supondo ser possível distinguir uns de outros, priva-me de descortinar o deus ex-machina por trás dessas encenações. Como foi o caso, percebo agora ao ler os posts (este e este) de Helena Matos no Blasfémias, da montagem do painel de perguntadores na entrevista a Passos Coelho. Faziam parte do painel um ex-dirigente da Juventude Berloquista, um jornalista estagiário da TVI e um advogado consultor de Jorge Sampaio durante 10 anos - compare-se com o painel de que desfrutou o ungido Costa.
Imagine-se quando o futuro primeiro ministro de Portugal for entronizado e o PS ocupar ao governo com as mãozinhas mais próximas dos cordelinhos, a impunidade e o silêncio cúmplice que os mídia infestados de esquerdalhada lhe garantem.
TIROU-ME AS PALAVRAS DA BOCA: Coisas que outros escreveram sobre Costa, as quais, por isso, já não precisam de ser escritas (19)
Outras coisas: «Para mim Costa não é um mistério», «Coisas que outros escreveram sobre Costa, as quais...»
«Sobre Sócrates, o dr. Costa começou tipicamente por avaliar mal o "sentimento" popular e defender com tremeliques de orgulho as proezas do preso 44 enquanto primeiro-ministro. Uma bela manhã até desceu a Évora. Meses depois, numa exibição de objectividade sem precedentes, o dr. Costa criticou um governo de que ele próprio fez parte e jurou, sem jurar, não repetir a excursão alentejana.
Sobre o Syriza, o dr. Costa já disse tudo e o seu oposto, de acordo com o que tomou pelo clima do momento. Qualquer hipotético avanço dos maluquinhos que fingem mandar na Grécia tinha o dr. Costa, dez minutos decorridos, a erguê-los ao estatuto de farol da Europa. Em vinte minutos, os avanços recuavam estrategicamente e a apreciação do dr. Costa também: uma ocasião, apelidou o Syriza de "tonto". Mas isso foi antes do referendo, em que o Syriza voltou a ser sublime. E o referendo foi antes do acordo, em que o glamour do Syriza regressou a níveis da peste bubónica.
Nos intervalos dos Grandes Temas, o dr. Costa desdobrou-se a opinar acerca de temas minúsculos, naquele português de causar inveja a Jorge Jesus e sempre no lado errado do discernimento: o "investimento" público (promete muito), a austeridade (é uma péssima opção), a autonomia dos autarcas (quer reforçá-la), a "lusofonia" (acha-a linda). Nos intervalos dos intervalos, passeou o currículo democrático e arranjou uma guerra interna com as "bases" do PS, que consultaram as sondagens e desataram a questionar a infalibilidade do chefe. As cambalhotas em volta dos (inacreditáveis) candidatos presidenciais não ajudaram. Nem os abraços aos socialistas franceses que, afinal, conspiram para varrer Portugal do euro. Nem nada.
Resta apurar se a tendência para a calamidade é involuntária ou propositada. A verdade é que o dr. Costa conseguiu, em pouco tempo, renovar as esperanças eleitorais da coligação no poder. Um tiro no pé do Governo é invariavelmente seguido por uma explosão auto-infligida no porta-aviões do PS. Se o PS perder as eleições, o mérito será inteirinho do dr. Costa. Se ganhar, é Portugal que não merece melhor. E pior parece impossível.»
«Costa e castigo», ALBERTO GONÇALVES no DN
Embora seja difícil, pior não é impossível. Sabemos isso desde que o Major Edward Alvar Murphy Jr. o disse.
«Sobre Sócrates, o dr. Costa começou tipicamente por avaliar mal o "sentimento" popular e defender com tremeliques de orgulho as proezas do preso 44 enquanto primeiro-ministro. Uma bela manhã até desceu a Évora. Meses depois, numa exibição de objectividade sem precedentes, o dr. Costa criticou um governo de que ele próprio fez parte e jurou, sem jurar, não repetir a excursão alentejana.
Sobre o Syriza, o dr. Costa já disse tudo e o seu oposto, de acordo com o que tomou pelo clima do momento. Qualquer hipotético avanço dos maluquinhos que fingem mandar na Grécia tinha o dr. Costa, dez minutos decorridos, a erguê-los ao estatuto de farol da Europa. Em vinte minutos, os avanços recuavam estrategicamente e a apreciação do dr. Costa também: uma ocasião, apelidou o Syriza de "tonto". Mas isso foi antes do referendo, em que o Syriza voltou a ser sublime. E o referendo foi antes do acordo, em que o glamour do Syriza regressou a níveis da peste bubónica.
Nos intervalos dos Grandes Temas, o dr. Costa desdobrou-se a opinar acerca de temas minúsculos, naquele português de causar inveja a Jorge Jesus e sempre no lado errado do discernimento: o "investimento" público (promete muito), a austeridade (é uma péssima opção), a autonomia dos autarcas (quer reforçá-la), a "lusofonia" (acha-a linda). Nos intervalos dos intervalos, passeou o currículo democrático e arranjou uma guerra interna com as "bases" do PS, que consultaram as sondagens e desataram a questionar a infalibilidade do chefe. As cambalhotas em volta dos (inacreditáveis) candidatos presidenciais não ajudaram. Nem os abraços aos socialistas franceses que, afinal, conspiram para varrer Portugal do euro. Nem nada.
Resta apurar se a tendência para a calamidade é involuntária ou propositada. A verdade é que o dr. Costa conseguiu, em pouco tempo, renovar as esperanças eleitorais da coligação no poder. Um tiro no pé do Governo é invariavelmente seguido por uma explosão auto-infligida no porta-aviões do PS. Se o PS perder as eleições, o mérito será inteirinho do dr. Costa. Se ganhar, é Portugal que não merece melhor. E pior parece impossível.»
«Costa e castigo», ALBERTO GONÇALVES no DN
Embora seja difícil, pior não é impossível. Sabemos isso desde que o Major Edward Alvar Murphy Jr. o disse.
ESTADO DE SÍTIO: Bismarck, o Twitter e a alcoolemia
Já aqui recordei que Otto von Bismarck comparou um dia a feitura das leis ao fabrico de salsichas: quando menos se souber como são feitas, melhor. Se Otto fosse vivo olharia incrédulo, dar-lhe-ia um chilique e voltaria a correr para a tumba, porque não apenas a feitura das leis, com que já poucos se incomodam, também as negociações ao mais elevado nível são twittadas online pelos participantes e divulgados documentos e relatos tintim por tintim dos detalhes das reuniões, quem disse o quê e até gravações.
Recentemente, durante a saga do teatro grego iniciada com a vitória do Syriza, as prestações narcisísticas de Yanis Varoufakis elevaram a comédia mediática a um nível nunca antes alcançado. Isso já seria suficientemente mau se tivesse ficado confinado aos actores que representam esse Estado falhado. Não ficou, e pudemos assistir à competição entre quase todos os participantes nas reuniões da Eurozona pela hashtag mais popular, no caso das novas gerações, ou pelas orelhas dos jornalistas, no caso dos cromos.
Um dos casos mais ridículos, pela idade e pela experiência, de conversão a estas patetices é o de Jean-Claude Juncker que além do seu «chaotic management style, (and) rumours of an alcohol problem», e talvez por isso mesmo, se tem mostrado incapaz de conter as suas palhaçadas (exemplo: beliscar e beijar as bochechas de Tsipras) e a sua verborreia indiscreta, comentando o que supostamente se passa nas reuniões e puxando o lustro ao seu já lustroso ego, deixando implícito que com ele tudo foi melhor ou sem ele tudo seria pior. Vejam-se as suas revelações sobre o suposto desejo dos governos da Irlanda, Portugal e Espanha só discutirem o perdão parcial da dívida grega depois das suas eleições, como se ele não fosse o presidente da CE e não existisse o artigo 125.º do Tratado de Lisboa.
Recentemente, durante a saga do teatro grego iniciada com a vitória do Syriza, as prestações narcisísticas de Yanis Varoufakis elevaram a comédia mediática a um nível nunca antes alcançado. Isso já seria suficientemente mau se tivesse ficado confinado aos actores que representam esse Estado falhado. Não ficou, e pudemos assistir à competição entre quase todos os participantes nas reuniões da Eurozona pela hashtag mais popular, no caso das novas gerações, ou pelas orelhas dos jornalistas, no caso dos cromos.
Um dos casos mais ridículos, pela idade e pela experiência, de conversão a estas patetices é o de Jean-Claude Juncker que além do seu «chaotic management style, (and) rumours of an alcohol problem», e talvez por isso mesmo, se tem mostrado incapaz de conter as suas palhaçadas (exemplo: beliscar e beijar as bochechas de Tsipras) e a sua verborreia indiscreta, comentando o que supostamente se passa nas reuniões e puxando o lustro ao seu já lustroso ego, deixando implícito que com ele tudo foi melhor ou sem ele tudo seria pior. Vejam-se as suas revelações sobre o suposto desejo dos governos da Irlanda, Portugal e Espanha só discutirem o perdão parcial da dívida grega depois das suas eleições, como se ele não fosse o presidente da CE e não existisse o artigo 125.º do Tratado de Lisboa.
26/07/2015
SERVIÇO PÚBLICO: As pirâmides do estado napoleónico-estalinista (16)
[Retrospectiva das Otas dos otários]
O Partido Socialista, promotor de resmas de estudos demonstrando sem margem para dúvidas o esgotamento da capacidade da Portela entre 2003 e 2007 (versão de 1998 do secretário de estado dos Transportes do governo de Guterres do qual fazia parte o actual líder António Costa) ou o mais tardar em 2020 (versão do Negócios de 2010), tornando o Novo Aeroporto, primeiro na Ota depois em jamais Alcochete, um desígnio nacional sem o qual o país regressaria à Idade das Trevas, não tem nada a dizer sobre as conclusões do secretário de Estado de Passos Coelho?
Expresso de 25-07-2015 |
A maldição da tabuada (24) - A população residente segundo o jornalismo de referência
Expresso de 25-07-2015 |
25/07/2015
Estado empreendedor (57) - Ciudad Real, a Beja dos espanhóis (REPUBLICAÇÃO)
O aeroporto de Ciudad Real tem das maiores pistas europeias com 4 km, pode receber 2,5 milhões de passageiros por ano (a Portela teve 14 milhões em 2010), tem 91 trabalhadores directos e 200 de empresas concessionárias e é servido por uma estação de TGV.
Com este aparato o aeroporto acolheu 3 voos por semana da Ryanair devidamente subsidiada, agora substituída pela Vueling com 4 voos semanais. Os restaurantes e bares servem apenas refeições aos empregados, únicos clientes durante 3 dias por semana. O elefante branco custou 500 milhões de euros, financiados na maior parte pela Caja Castilla La Mancha, que foi intervencionada pelo Banco de Espanha com avales de 9 mil milhões de euros. A Junta de Castilla-La Mancha também entrou com 140 milhões para cobrir as perdas de exploração.
Se eu fosse ao alcaide de Ciudad Real propunha ao presidente da câmara de Beja geminar as duas cidades.
Moraleja de la historia: nuestros socialismos son hermanos.
[Ver no ABC mais aeroportos fantasmas]
ACTUALIZAÇÃO:
Vem esta republicação de um post de 06/10/2011 a propósito da venda do aeroporto de Ciudad Real por 11.000 (onze mil) dólares à Tzaneen International, uma companhia chinesa (Fonte: Bloomberg Business).
Quando vos for perguntado como é que foi possível os socialistas espanhóis e portugueses deixarem os respectivos Estados falidos, em alternativa a dizerdes que é próprio dos socialismos falirem os Estados, podeis começar com dois exemplos de dois aeroportos: o de Ciudad Real e o de Beja. No caso de Ciudad Real, o custo total a preços actuais do «investimento» inicial acrescido do retorno líquido negativo durante uns 10 anos não deve andar longe de mil milhões.
Com este aparato o aeroporto acolheu 3 voos por semana da Ryanair devidamente subsidiada, agora substituída pela Vueling com 4 voos semanais. Os restaurantes e bares servem apenas refeições aos empregados, únicos clientes durante 3 dias por semana. O elefante branco custou 500 milhões de euros, financiados na maior parte pela Caja Castilla La Mancha, que foi intervencionada pelo Banco de Espanha com avales de 9 mil milhões de euros. A Junta de Castilla-La Mancha também entrou com 140 milhões para cobrir as perdas de exploração.
Se eu fosse ao alcaide de Ciudad Real propunha ao presidente da câmara de Beja geminar as duas cidades.
Moraleja de la historia: nuestros socialismos son hermanos.
[Ver no ABC mais aeroportos fantasmas]
ACTUALIZAÇÃO:
Vem esta republicação de um post de 06/10/2011 a propósito da venda do aeroporto de Ciudad Real por 11.000 (onze mil) dólares à Tzaneen International, uma companhia chinesa (Fonte: Bloomberg Business).
Quando vos for perguntado como é que foi possível os socialistas espanhóis e portugueses deixarem os respectivos Estados falidos, em alternativa a dizerdes que é próprio dos socialismos falirem os Estados, podeis começar com dois exemplos de dois aeroportos: o de Ciudad Real e o de Beja. No caso de Ciudad Real, o custo total a preços actuais do «investimento» inicial acrescido do retorno líquido negativo durante uns 10 anos não deve andar longe de mil milhões.
Chávez & Chávez, Sucessores (31) – O socialismo não é inimigo dos mercados. O socialismo é bom para o mercado negro
As Venezuela's food shortages worsen, the president of the country's Food Industry Chamber has said that authorities ordered producers of milk, pasta, oil, rice, sugar and flour to supply their products to the state stores.» Telegraph
24/07/2015
Curtas e grossas (22) – Faça um transplante
Jeremy Corbyn é um deputado inglês trabalhista, esquerdista e admirador do Syriza, candidato a substituir o líder Ed Miliband, também esquerdista, que se demitiu depois da hecatombe das eleições. Tony Blair – todos sabem – foi o primeiro-ministro trabalhista, centrista da «3.ª via», durante 10 anos.
Perguntado sobre o que achava de Jeremy Corbyn, Blair disse «If your heart's with Jeremy Corbyn, get a transplant».
Perguntado sobre o que achava de Jeremy Corbyn, Blair disse «If your heart's with Jeremy Corbyn, get a transplant».
Lost in translation (248) - «Sparpolitik» foi mal traduzida para o grego
Fiquei a saber a origem da palavra austeridade pela Economist, que nos últimos meses deixou de dar colo à estratégia do governo grego – supondo que o percurso errático que seguiram seja uma estratégia,
Até recentemente a palavra tinha uso raríssimo na língua alemã - em vez de «Austerität», sempre se usou «Sparpolitik» (algo como política de poupança). «Austerität» começou a ser usada por influência do inglês «austerity», que por sua vez a foi buscar ao francês, que por sua vez a foi buscar ao latim, «and the Romans took it from, of all sources, Greek: austeros means bitter».
Até recentemente a palavra tinha uso raríssimo na língua alemã - em vez de «Austerität», sempre se usou «Sparpolitik» (algo como política de poupança). «Austerität» começou a ser usada por influência do inglês «austerity», que por sua vez a foi buscar ao francês, que por sua vez a foi buscar ao latim, «and the Romans took it from, of all sources, Greek: austeros means bitter».
CAMINHO PARA A INSOLVÊNCIA: De como o melhor que pode acontecer ao paraíso prometido aos gregos pelo Syriza é ser um purgatório (XXXIII) – Com amigos destes não precisamos de inimigos
Outros purgatórios a caminho dos infernos.
Como se não fosse suficiente a Grécia ter-se mostrado desde sempre um membro da UE irresponsável e inconfiável, governado por cliques clientelares e corruptas, como se não fosse suficiente o governo grego em exercício ter-se revelado irresponsável, inconfiável, errático e chantagista, já se desconfiava, mas parece ter-se confirmado agora que o seu amor pela UE e o seu desvelo pelo euro se devem essencialmente à recusa do czar Vladimir Putin, para quem uma Grécia desgovernada pelo Syriza é mais útil dentro da UE para a boicotar do que fora dela, de emprestar os 10 mil milhões de dólares que Tsipras considerava necessários como reserva mínima para suportar o abandono do euro e adopção da dracma. É caso para dizer que Tsipras foi buscar lã a Moscovo e saiu tosquiado.
Tsipras saiu tosquiado e a eurocracia deveria ter saído esclarecida sobre a inviabilidade, não só de a Grécia permanecer na Zona Euro (isso é quase só uma questão técnica), de um país com este registo integrar uma união económica, social e política que já padece de problemas suficientes dos países «normais» e a última coisa que precisa é de um estado falhado no seu seio - a não ser se o seio fosse um par de mamas para saciar o apetite de Atenas.
Como se não fosse suficiente a Grécia ter-se mostrado desde sempre um membro da UE irresponsável e inconfiável, governado por cliques clientelares e corruptas, como se não fosse suficiente o governo grego em exercício ter-se revelado irresponsável, inconfiável, errático e chantagista, já se desconfiava, mas parece ter-se confirmado agora que o seu amor pela UE e o seu desvelo pelo euro se devem essencialmente à recusa do czar Vladimir Putin, para quem uma Grécia desgovernada pelo Syriza é mais útil dentro da UE para a boicotar do que fora dela, de emprestar os 10 mil milhões de dólares que Tsipras considerava necessários como reserva mínima para suportar o abandono do euro e adopção da dracma. É caso para dizer que Tsipras foi buscar lã a Moscovo e saiu tosquiado.
Tsipras saiu tosquiado e a eurocracia deveria ter saído esclarecida sobre a inviabilidade, não só de a Grécia permanecer na Zona Euro (isso é quase só uma questão técnica), de um país com este registo integrar uma união económica, social e política que já padece de problemas suficientes dos países «normais» e a última coisa que precisa é de um estado falhado no seu seio - a não ser se o seio fosse um par de mamas para saciar o apetite de Atenas.
23/07/2015
ESTADO DE SÍTIO: A comunicação de Cavaco Silva, o óbvio ululante e a sua negação pelos idiotas
Ao ler o alarido indignado (sim, a escrita de coisas estúpidas é ruidosa) a propósito da suposta «exigência» de um governo maioritário por parte do PR na sua comunicação de ontem em que anunciou a data das eleições, eu, um contumaz detractor do professor Cavaco Silva, sobre o qual já escrevi coisas que Maomé nunca teve coragem de escrever sobre os chouriços, preparei-me para escrever mais um post inflamado e fui a correr ler o discurso da criatura.
Li a coisa da frente para trás e de trás para a frente e só encontrei coisas óbvias (está aqui, podem confirmar), como seja a normalidade de governos de coligação por essa Europa e as vantagens de um governo maioritário, se necessário de coligação, sobretudo em situações como a que Portugal atravessa.
Caiu-me o queixo. O que terão ouvido os políticos com carteira profissional de políticos e os políticos com carteira profissional de jornalistas que eu não tivesse lido?
Só voltei a levantar o queixo ao lembrar-me do artigo «O óbvio» de João Miguel Tavares que citei aqui. Estava explicado: «os idiotas portugueses passam o tempo todo a negar o óbvio».
CAMINHO PARA A INSOLVÊNCIA: Here we go again (8) - Que se lixem as eleições
[Outros caminhos por que já caminhámos]
Um varrimento rápido pelas Estatísticas da Balança de Pagamentos e da Posição de Investimento Internacional publicadas esta semana pelo BdeP confirma a deterioração das contas externas com saldos negativos até Maio de mais de 100 milhões, saldos que no período homólogo do ano passado foram positivos de quase 370 milhões.
As razões podem encontrar-se (Estatísticas do Comércio Internacional, Maio 2015 do INE) no aumento das importações de bens (homólogo de 6,2% até Maio) nomeadamente nas categorias de Automóveis (crescimento homólogo nos últimos 3 meses de Março a Maio de 37,5%) e Bens de consumo (idem 16,3%). Surpreendentemente, dada a queda dos preços do petróleo, até na categoria de Combustíveis-Produtos Primários se verificou um aumento homólogo de 30,3%.
O que não é nada surpreendente é o aumento de 32,8% do número de carros vendidos no 1.º semestre em relação ao mesmo período do ano passado. Assim como não é surpreendente o aumento superior a 50% dos novos empréstimos para compra de habitação até Maio. Tanto no caso dos carros como no caso das casinhas, são sinais evidentes que vivemos acima das nossas posses.
Que se lixem as eleições, ou, mais exactamente, o governo a pretexto de ganhar as eleições está a ajudar que nos lixemos.
Um varrimento rápido pelas Estatísticas da Balança de Pagamentos e da Posição de Investimento Internacional publicadas esta semana pelo BdeP confirma a deterioração das contas externas com saldos negativos até Maio de mais de 100 milhões, saldos que no período homólogo do ano passado foram positivos de quase 370 milhões.
As razões podem encontrar-se (Estatísticas do Comércio Internacional, Maio 2015 do INE) no aumento das importações de bens (homólogo de 6,2% até Maio) nomeadamente nas categorias de Automóveis (crescimento homólogo nos últimos 3 meses de Março a Maio de 37,5%) e Bens de consumo (idem 16,3%). Surpreendentemente, dada a queda dos preços do petróleo, até na categoria de Combustíveis-Produtos Primários se verificou um aumento homólogo de 30,3%.
O que não é nada surpreendente é o aumento de 32,8% do número de carros vendidos no 1.º semestre em relação ao mesmo período do ano passado. Assim como não é surpreendente o aumento superior a 50% dos novos empréstimos para compra de habitação até Maio. Tanto no caso dos carros como no caso das casinhas, são sinais evidentes que vivemos acima das nossas posses.
Que se lixem as eleições, ou, mais exactamente, o governo a pretexto de ganhar as eleições está a ajudar que nos lixemos.
TIROU-ME AS PALAVRAS DA BOCA: O óbvio ululante
«Foi a partir desta premissa que George Orwell cunhou, nesse mesmo texto, uma das suas frases mais populares: “To see what is in front of one’s nose needs a constant struggle.” Em português: “É preciso uma luta constante para vermos o que está em frente do nosso nariz.” Ora, se não há dúvida de que eu só escrevo sobre o que está em frente do meu nariz, vocês não imaginam a quantidade de gente que tem uma enorme dificuldade em lidar com os seus narizes. Embora os cafés portugueses estejam, de facto, cheios de idiotas, como notou o leitor e muito bem, a triste verdade é que eles não passam o tempo todo a dizer o óbvio — os idiotas portugueses passam o tempo todo a negar o óbvio.
Se a política em Portugal fosse utilizada para discutir em detalhe as reformas que são necessárias para o país progredir, eu estava tramado. Não sei o suficiente sobre isso. Só que em Portugal a política serve para discutir se essas reformas são mesmo necessárias — e isso é tão óbvio, que eu safo-me. Se a política servisse para mudar a realidade que existe, eu estava tramado. Mas como ela serve para discutir a existência da realidade, isso é tão óbvio, que eu desenrasco. Quando surgir enfim o dia claro, em que toda a gente comece a ver o óbvio, não terei certamente lugar nos jornais. Só que convém esperar sentado: 70 anos depois de In Front of Your Nose ainda há imensas pessoas que continuam a não vislumbrar o frontispício da sua penca. E o azar delas é a minha sorte.»
«O óbvio», João Miguel Tavares no Público
Se a política em Portugal fosse utilizada para discutir em detalhe as reformas que são necessárias para o país progredir, eu estava tramado. Não sei o suficiente sobre isso. Só que em Portugal a política serve para discutir se essas reformas são mesmo necessárias — e isso é tão óbvio, que eu safo-me. Se a política servisse para mudar a realidade que existe, eu estava tramado. Mas como ela serve para discutir a existência da realidade, isso é tão óbvio, que eu desenrasco. Quando surgir enfim o dia claro, em que toda a gente comece a ver o óbvio, não terei certamente lugar nos jornais. Só que convém esperar sentado: 70 anos depois de In Front of Your Nose ainda há imensas pessoas que continuam a não vislumbrar o frontispício da sua penca. E o azar delas é a minha sorte.»
«O óbvio», João Miguel Tavares no Público
Curtas e grossas (21) - Equivalências
Não percebo a indignação só porque uns quantos fizeram humor com a careca de Laura Ferreira e alguns outros especularam que seria uma manobra para promover o marido dela. Afinal isso é mais ou menos equivalente a dizer que António Costa é monhé e está-se a fazer de vítima do racismo para se vitimizar. E quem é que se indignaria por alguém dizer tal idiotice?
22/07/2015
ACREDITE SE QUISER: Militares da GNR estão cansados das operações STOP
«A Associação Sócio-Profissional Independente da Guarda (ASPIG) defendeu hoje que milhares de militares da GNR estão cansados de tantas operações STOP, sem impacto na diminuição da sinistralidade rodoviária mas que enchem os cofres do Estado.» (Fonte)
A propósito dos problemas das nossas polícias pode ver-se uma retrospectiva na série de posts «Vivemos num estado policial?»
CAMINHO PARA A INSOLVÊNCIA: De como o melhor que pode acontecer ao paraíso prometido aos gregos pelo Syriza é ser um purgatório (XXXII) – Danos auto-infligidos
Outros purgatórios a caminho dos infernos.
Segundo a estimativa de um técnico da UE, citado pela Reuters, as indecisões e demoras do governo de Tsipras custaram à Grécia cerca de 30 mil milhões de euros apenas nas 3 semanas que precederam o acordo – a diferença entre o resgate que a Grécia tinha pedido algumas semanas antes e o resgate de 86 mil milhões que veio a aprovado.
Leia no «Special Report: The man who cost Greece billions» da Reuters uma descrição das fraquezas de Tsipras, pusilanimidade e dependência dos seus fiéis que explicam a sucessão de reviravoltas e asneiras.
Segundo a estimativa de um técnico da UE, citado pela Reuters, as indecisões e demoras do governo de Tsipras custaram à Grécia cerca de 30 mil milhões de euros apenas nas 3 semanas que precederam o acordo – a diferença entre o resgate que a Grécia tinha pedido algumas semanas antes e o resgate de 86 mil milhões que veio a aprovado.
Leia no «Special Report: The man who cost Greece billions» da Reuters uma descrição das fraquezas de Tsipras, pusilanimidade e dependência dos seus fiéis que explicam a sucessão de reviravoltas e asneiras.
21/07/2015
Mitos (208) - O contrário do dogma do aquecimento global (VIII)
Continuação de (I), (II), (III), (IV), (V), (VI) e (VII).
«2015 pode ser o ano mais quente de sempre»
«Ártico recupera 41% do seu volume de gelo devido a Verão de 2013 menos quente»
A climatologia é demasiado importante para ser deixada aos climatologistas com causas.
«2015 pode ser o ano mais quente de sempre»
«Ártico recupera 41% do seu volume de gelo devido a Verão de 2013 menos quente»
Yo no creo en las brujas, pero si las hay, las hay. (Fonte: NOAA) |
A climatologia é demasiado importante para ser deixada aos climatologistas com causas.
Bons exemplos (99) – É a nossa costela Oliveira da Figueira
Fonte: The Economist |
20/07/2015
Pro memoria (248) – Recordando o Artigo 125.º do Tratado de Lisboa
«1. Sem prejuízo das garantias financeiras mútuas para a execução conjunta de projetos específicos, a União não é responsável pelos compromissos dos governos centrais, das autoridades regionais ou locais, ou de outras autoridades públicas, dos outros organismos do setor público ou das empresas públicas de qualquer Estado-Membro, nem assumirá esses compromissos. Sem prejuízo das garantias financeiras mútuas para a execução conjunta de projetos específicos, os Estados-Membros não são responsáveis pelos compromissos dos governos centrais, das autoridades regionais ou locais, ou de outras autoridades públicas, dos outros organismos do setor público ou das empresas públicas de outros Estados-Membros, nem assumirão esses compromissos.
2. O Conselho, deliberando sob proposta da Comissão e após consulta ao Parlamento Europeu, pode, se necessário, especificar definições para a aplicação das proibições a que se referem os artigos 123.o e 124.o, bem como o presente artigo.»
2. O Conselho, deliberando sob proposta da Comissão e após consulta ao Parlamento Europeu, pode, se necessário, especificar definições para a aplicação das proibições a que se referem os artigos 123.o e 124.o, bem como o presente artigo.»
BELIEVE IT OR NOT: «Nine People Who Saw the Greek Crisis Coming Years Before Everyone Else Did»
«What happens if a whole country—a potential ‘region’ in a fully integrated community—suffers a structural setback? So long as it is a sovereign state, it can devalue its currency. It can then trade successfully at full employment provided its people accept the necessary cut in their real incomes. With an economic and monetary union, this recourse is obviously barred, and its prospect is grave indeed unless federal budgeting arrangements are made which fulfil a redistributive role. ...»
Wynne Godley, British economist, 1992
«They will say that we are subsidizing scroungers, lounging in cafés on the Mediterranean beaches. Monetary union, in the end, will result in a gigantic blackmailing operation. When we Germans demand monetary discipline, other countries will blame their financial woes on that same discipline, and by extension, on us. More, they will perceive us as a kind of economic policeman. We risk once again becoming the most hated in Europe.»
Arnulf Baring, German political scientist, 1997
«In other words, market forces can demand pro-cyclical fiscal policy during a recession, compounding recessionary influences. … Even if there were no imposed limits on countries’ deficits and national debts, the structure of the EMU makes it nearly impossible for a country to enact a counter-cyclical fiscal policy even if there were the political will.»
Mathew Forstater, economist, 1999
«I think the euro is in its honeymoon phase. I hope it succeeds, but I have very low expectations for it. I think that differences are going to accumulate among the various countries and that non-synchronous shocks are going to affect them.»
Milton Friedman, Nobel laureate, 2000
«... Creditors are aware that statistical data presented by the Greek government have nothing to do with reality ...»
Costas Simitis, former Greek Prime Minister, 2008
«Until something is done to enable member states to avert these financial constraints (e.g. political union and the establishment of a federal [EU] budget or the establishment of a new lending institution, designed to aid member states in pursuing a broad set of policy objectives), the prospects for stabilization in the Eurozone appear grim.»
Stephanie Bell Kelton, economist, 2002
«We had arguments which might persuade both the Germans — who would be worried about the weakening of anti-inflation policies — and the poorer countries — who must be told that they would not be bailed out of the consequences of a single currency, which would therefore devastate their inefficient economies.»
Margaret Thatcher, former Prime Minister of the United Kingdom, 1990
«Only the inevitable, currently prohibited, direct intervention of the ECB will be capable of performing the resurrection, and from the ashes of that fallen flaming star an immortal sovereign currency will no doubt emerge.»
Warren Mosler, economist, 2001
«As currently designed, the EMU will have a central bank (the ECB) but it will not have any fiscal branch. This would be much like a US which operated with a Fed, but with only individual state treasuries. It will be as if each EMU member country were to attempt to operate fiscal policy in a foreign currency; deficit spending will require borrowing in that foreign currency according to the dictates of private markets.»
L. Randall Wray, economist 1998
Fonte: BloombergBusiness
Wynne Godley, British economist, 1992
«They will say that we are subsidizing scroungers, lounging in cafés on the Mediterranean beaches. Monetary union, in the end, will result in a gigantic blackmailing operation. When we Germans demand monetary discipline, other countries will blame their financial woes on that same discipline, and by extension, on us. More, they will perceive us as a kind of economic policeman. We risk once again becoming the most hated in Europe.»
Arnulf Baring, German political scientist, 1997
«In other words, market forces can demand pro-cyclical fiscal policy during a recession, compounding recessionary influences. … Even if there were no imposed limits on countries’ deficits and national debts, the structure of the EMU makes it nearly impossible for a country to enact a counter-cyclical fiscal policy even if there were the political will.»
Mathew Forstater, economist, 1999
«I think the euro is in its honeymoon phase. I hope it succeeds, but I have very low expectations for it. I think that differences are going to accumulate among the various countries and that non-synchronous shocks are going to affect them.»
Milton Friedman, Nobel laureate, 2000
«... Creditors are aware that statistical data presented by the Greek government have nothing to do with reality ...»
Costas Simitis, former Greek Prime Minister, 2008
«Until something is done to enable member states to avert these financial constraints (e.g. political union and the establishment of a federal [EU] budget or the establishment of a new lending institution, designed to aid member states in pursuing a broad set of policy objectives), the prospects for stabilization in the Eurozone appear grim.»
Stephanie Bell Kelton, economist, 2002
«We had arguments which might persuade both the Germans — who would be worried about the weakening of anti-inflation policies — and the poorer countries — who must be told that they would not be bailed out of the consequences of a single currency, which would therefore devastate their inefficient economies.»
Margaret Thatcher, former Prime Minister of the United Kingdom, 1990
«Only the inevitable, currently prohibited, direct intervention of the ECB will be capable of performing the resurrection, and from the ashes of that fallen flaming star an immortal sovereign currency will no doubt emerge.»
Warren Mosler, economist, 2001
«As currently designed, the EMU will have a central bank (the ECB) but it will not have any fiscal branch. This would be much like a US which operated with a Fed, but with only individual state treasuries. It will be as if each EMU member country were to attempt to operate fiscal policy in a foreign currency; deficit spending will require borrowing in that foreign currency according to the dictates of private markets.»
L. Randall Wray, economist 1998
Fonte: BloombergBusiness
19/07/2015
Lost in translation (247) - Agora que chegámos à beira do abismo, daremos um passo em frente
Consulta urgente no oftalmologista
«Vejo com bons olhos a fusão entre a ERC e a Anacom», Pedro Lomba, secretário de Estado Adjunto do Ministro Adjunto e do Desenvolvimento Regional.
Deve ser uma fusão inspirada na palavra «comunicação», possível num PALOP mas mais difícil num país de língua inglesa.
Pedro Lomba é um dos perfeitos exemplos que um aceitável pensador / artista / intelectual / luminária / blogger (cortar conforme o gosto) tem alta probabilidade de dar um mau governante.
Deve ser uma fusão inspirada na palavra «comunicação», possível num PALOP mas mais difícil num país de língua inglesa.
Pedro Lomba é um dos perfeitos exemplos que um aceitável pensador / artista / intelectual / luminária / blogger (cortar conforme o gosto) tem alta probabilidade de dar um mau governante.
Dúvidas (111) – Quem é realmente Alexis Tsipras?
«Um génio ou um desastrado? Um reformista radical ou um revolucionário dissimulado? Um estadista ou um populista? Alexis Tsipras não é fácil de entender, o que não ajuda a ter confiança na sua palavra.
Quem é realmente Alexis Tsipras? Um populista que soube aproveitar a onda do descontentamento popular? Ou um estadista que teve a frieza de parar à beira do precipício? Um pragmático que foi capaz de compreender os limites do que podia obter dos credores? Ou um aprendiz de feiticeiro que quase incendiou a Europa ao surpreendê-la com um inopinado referendo? Um génio que manobrou e manipulou todos para se tornar o líder incontestado da Grécia? Ou um oportunista que muda de discurso conforme a audiência e em quem ninguém pode realmente confiar? Um esquerdista que nunca se desligou das suas raízes revolucionárias e anti-capitalistas? Ou antes um radical a caminho de se converter num social-democrata?»
José Manuel Fernandes responde às suas próprias interrogações: «o meu instinto inclina-se mais para que é um radical a caminho da social-democracia». Há dias Alexis Papachelas admitia ironicamente no ekathimerini.com que Tsipras parecia um neoliberal ao justificar no parlamento a aprovação das medidas do 3.º resgate.
É possível que seja tudo isso ou nada disso. Já vimos Lenine assinar o tratado de Brest-Litovsk e Estaline e Hitler entenderem-se no pacto Molotov-Ribbentrop para partilhar a Polónia. Pode ser a doutrina Lenine um passo atrás, dois passos à frente, como aliás um qualquer membro do governo disse a respeito da capitulação de Tsipras.
Porém, em política o que não parece dificilmente é. Os próximos meses ajudarão provavelmente a encontrar uma resposta. Até lá acho mais prudente manter a questão em aberto com uma resposta provisória como a de Hugo Dixon no Politico: «Alexis Tsipras is either a liar or a resident of Lalaland», Alexis Tsipras ou é um mentiroso ou um lunático.
Enquanto esperamos, vale a pena ler este inventário feito pelo Insurgente das cambalhotas de Tsipras e do Syriza em vez dos passos atrás e passos à frente.
Quem é realmente Alexis Tsipras? Um populista que soube aproveitar a onda do descontentamento popular? Ou um estadista que teve a frieza de parar à beira do precipício? Um pragmático que foi capaz de compreender os limites do que podia obter dos credores? Ou um aprendiz de feiticeiro que quase incendiou a Europa ao surpreendê-la com um inopinado referendo? Um génio que manobrou e manipulou todos para se tornar o líder incontestado da Grécia? Ou um oportunista que muda de discurso conforme a audiência e em quem ninguém pode realmente confiar? Um esquerdista que nunca se desligou das suas raízes revolucionárias e anti-capitalistas? Ou antes um radical a caminho de se converter num social-democrata?»
José Manuel Fernandes responde às suas próprias interrogações: «o meu instinto inclina-se mais para que é um radical a caminho da social-democracia». Há dias Alexis Papachelas admitia ironicamente no ekathimerini.com que Tsipras parecia um neoliberal ao justificar no parlamento a aprovação das medidas do 3.º resgate.
É possível que seja tudo isso ou nada disso. Já vimos Lenine assinar o tratado de Brest-Litovsk e Estaline e Hitler entenderem-se no pacto Molotov-Ribbentrop para partilhar a Polónia. Pode ser a doutrina Lenine um passo atrás, dois passos à frente, como aliás um qualquer membro do governo disse a respeito da capitulação de Tsipras.
Porém, em política o que não parece dificilmente é. Os próximos meses ajudarão provavelmente a encontrar uma resposta. Até lá acho mais prudente manter a questão em aberto com uma resposta provisória como a de Hugo Dixon no Politico: «Alexis Tsipras is either a liar or a resident of Lalaland», Alexis Tsipras ou é um mentiroso ou um lunático.
Enquanto esperamos, vale a pena ler este inventário feito pelo Insurgente das cambalhotas de Tsipras e do Syriza em vez dos passos atrás e passos à frente.
O IMPERTINÊNCIAS FEITO PELOS SEUS DETRACTORES: Ascensão e queda da Krugmania
Krugman e o seu gato (não é o gato de Cheshire) |
Por isso, quando o meu amigo AB me chamou a atenção para o post «The Rise and Fall of Krugmania in the UK» de Niall Fergunson, publicado no HUFF POST BUSINESS, li-o com curiosidade porque se centra numa questão que nunca focámos por aqui: ao contrário do que levam a crer os tambores keynesianos que rufam entre nós, as medidas de política anticrise recomendadas por Krugman não têm sido adoptadas, com uma única excepção.
Vale a pena ler as 4 páginas do post. Como teaser aqui ficam os últimos parágrafos:
«Happy the economist whose policy prescriptions are so reckless that no one ever puts them to the test.
Except that one country, just lately, has been putting a Krugman recommendation to the test. That country has defied the "austerians." It has thumbed its nose at the fountainheads of economic orthodoxy. It has dared to play chicken with the confidence fairy. It has even told the Germans where to get off. And it has done this on the basis of Paul Krugman's advice, spelt out when he visited the nation's capital, at the government's invitation, in April.
That country is Greece.»
ACTUALIZAÇÃO:
Entretanto, o próprio Krugman renegou os seus alunos de Atenas que baquearam às condições da troika para não ficarem entregues a si próprios. «Talvez tenha sobrestimado a competência do Governo grego», disse.
18/07/2015
17/07/2015
Vós, ó esquerdalhada, sede honestos, por uma vez (3)
O que diríeis de um primeiro-ministro que:
- Escolhesse um ministro das Finanças que insultasse os credores, lhes desse lições de finanças nas reuniões, divulgasse as discussões nas redes sociais, se comportasse como uma vedeta da socialite, anunciasse que se demitiria se um «sim» fosse aprovado num referendo e, por fim, se demitisse com a aprovação do «não» que ele defendeu;
- Consumisse 5 meses em negociações plenas de manobras evasivas, sem quaisquer progressos, para acabar a rejeitar uma proposta dos credores e submetê-la a um referendo inconstitucional sobre uma matéria fiscal proibida pelo n.º 2 do artigo 44.º da Constituição;
- Reiniciasse negociações com os credores apresentando uma proposta com mais 4 mil milhões de medidas de austeridade do que a rejeitada pelo referendo;
- Submetesse nove jornalistas críticos do governo que defenderam o sim no referendo a uma investigação pelo ministério público e pelo regulador estatal (o sindicato «independente» dos jornalistas também vai fazer uma investigação)?
- Tivesse aceitado um acordo pior do que a sua proposta depois do referendo, que afinal já era pior do que a proposta dos credores antes do referendo, e apresentasse esse acordo como uma vitória do seu governo;
- Tivesse declarado que não acreditava no acordo que tinha acabado de assinar e o submetesse à votação no parlamento onde acabou por ser aprovado pelos votos da oposição;
- Justificasse a necessidade de reformas que antes negara, ao ponto de se poder colocar a dúvida se não se teria transformado num perigoso neoliberal.
Mitos (207) - O contrário do dogma do aquecimento global (VII)
Continuação de (I), (II), (III), (IV), (V) e (VI).
Duas semanas depois do papa Francisco se ter rendido à ciência, escreveu a Visão, querendo dizer que o papa Francisco esperava que a ciência se lhe rendesse, a Royal Astronomical Society publicava a press release «Irregular heartbeat of the Sun driven by double dynamo» dando conta que uma equipa da universidade de Northumbria desenvolveu um novo modelo matemático do ciclo solar que os levou a prever uma redução de até 60% da actividade solar na década de 2030 de onde resultaria uma mini era glaciar.
Assim se põe em risco o dogma do aquecimento global, agora tambémbenzido adoptado pelo Vaticano. O que me fez lembrar o italo-americano Adriano, amigo de José Manuel Moreira, que lhe disse: «o Papa saiu da Argentina, mas ela nunca chegou a sair dele.»
Duas semanas depois do papa Francisco se ter rendido à ciência, escreveu a Visão, querendo dizer que o papa Francisco esperava que a ciência se lhe rendesse, a Royal Astronomical Society publicava a press release «Irregular heartbeat of the Sun driven by double dynamo» dando conta que uma equipa da universidade de Northumbria desenvolveu um novo modelo matemático do ciclo solar que os levou a prever uma redução de até 60% da actividade solar na década de 2030 de onde resultaria uma mini era glaciar.
Assim se põe em risco o dogma do aquecimento global, agora também
DEIXAR DE DAR GRAXA PARA MUDAR DE VIDA: A produtividade explicada a vítimas de inumeracia
Com algum esforço e sabendo da dificuldade dos tugas em geral, das luminárias em particular e dos jornalistas de causas ainda mais em particular, de lidar com números – consequência da maldição da tabuada (ver a etiqueta a tabuada faz muita falta), consigo entender que essa gente se queixe dos fracos salários e das muitas horas de trabalho em Portugal a pretexto de se mostrar solidária com o povo, e não lhe passe pela cabeça relacionar isso com a nona mais baixa produtividade por hora de trabalho representando pouco mais de metade da produtividade média da UE.
Lembrei-me disto ao ver pela minha janela esta manhã as obras no prédio em frente onde uns quantos representantes da classe operária deste país, em tronco nu e com bonés de pala para trás, se entretinham a ouvir rádio, conversar alegremente, contar anedotas, enquanto displicentemente passeavam pelas paredes o jacto de água sob pressão com a mesma proficiência de garotas de salto alto lavando as suas queridas bagnoles nas estações self-service (pronto, eu sei, sou um porco machista!), ou dividindo as suas atenções e mãos pela brocha ou o rolo e o cigarrito. De onde me ocorreu que se puséssemos as luminárias e os jornalistas de causas a trabalhar no bâtiment talvez eles percebessem.
Lembrei-me disto ao ver pela minha janela esta manhã as obras no prédio em frente onde uns quantos representantes da classe operária deste país, em tronco nu e com bonés de pala para trás, se entretinham a ouvir rádio, conversar alegremente, contar anedotas, enquanto displicentemente passeavam pelas paredes o jacto de água sob pressão com a mesma proficiência de garotas de salto alto lavando as suas queridas bagnoles nas estações self-service (pronto, eu sei, sou um porco machista!), ou dividindo as suas atenções e mãos pela brocha ou o rolo e o cigarrito. De onde me ocorreu que se puséssemos as luminárias e os jornalistas de causas a trabalhar no bâtiment talvez eles percebessem.
16/07/2015
Dúvidas (110) - Tsipras virou neoliberal?
«Listening to Prime Minister Alexis Tsipras during his TV interview last night, I could not help but think that some of what he said was the stuff of a Kathimerini editorial.
Listening to his arguments on early retirement, for example, it felt like Tsipras had suddenly turned into a neo-liberal. Of course he hasn’t. The problem is that some self-evident truths have been systematically abused in Greece by populist pundits and politicians across the political spectrum.
(...)
Times are tough. We know what the country needs. We still don’t know whether Tsipras is capable of becoming a Lula – according to the international cliche – considering that he did not turn into a Chavez.
Continue a ler «Can Tsipras pull through?» de ALEXIS PAPACHELAS
Não se preocupe, Tsipras continua o mesmo radical (com muito jogo de cintura). É apenas o insustentável peso da realidade em acção.
Listening to his arguments on early retirement, for example, it felt like Tsipras had suddenly turned into a neo-liberal. Of course he hasn’t. The problem is that some self-evident truths have been systematically abused in Greece by populist pundits and politicians across the political spectrum.
(...)
Times are tough. We know what the country needs. We still don’t know whether Tsipras is capable of becoming a Lula – according to the international cliche – considering that he did not turn into a Chavez.
Continue a ler «Can Tsipras pull through?» de ALEXIS PAPACHELAS
Não se preocupe, Tsipras continua o mesmo radical (com muito jogo de cintura). É apenas o insustentável peso da realidade em acção.
ARTIGO DEFUNTO: O Pastorinho da economia dos amanhãs que cantam e a zona monetária óptima
Surpreendentemente, ou talvez não para uma criatura que andou semanas a promover o vigarista Artur Baptista da Silva, um episódio que num país decente acabaria com a credibilidade de um jornalista durante uma década, o pastorinho da economia dos amanhãs que cantam Nicolau Santos (NS) só agora, 54 anos depois, teve oportunidade de estudar «A Theory of Optimum Currency Areas» de Robert Mundell.
Se preferirem e para lhe encurtar a longevidade da ignorância, só agora, 18 anos depois, NS teve a oportunidade de ler o que especificamente Milton Friedman escreveu sobre a União Monetária. Releia-se o último parágrafo de «The Euro: Monetary Unity To Political Disunity?» escrito por Friedman em 1997:
Concluiu ainda que, portanto, o Euro estava condenado desde o primeiro dia, a menos que existissem «fundos que permitissem compensar os tais choques assimétricos», o que na cabecinha dele significaria que a Alemanha e os países solventes pagariam a conta dos desvarios.
Nem por um momento lhe ocorre que a existência de um «mecanismo federal que compensasse os choques assimétricos» exigiria um Estado único, federado ou não, que prevenisse os desvarios antes de eles ocorrerem, ou seja impondo a cada um dos potenciais desvairados o colete de um orçamento aprovado por um parlamento europeu onde os deputados dos países com juízo seriam a maioria.
Muito menos lhe ocorre que existindo esse Estado único, federado ou não, o seu amigo preso 44 em Évora nunca teria tido a oportunidade de adoptar as políticas que ele, Nicolau, tanto incensou e que tanto anseia por ver de novo adoptadas pelo futuro primeiro-ministro de Portugal. Ou, para dar o exemplo da Grécia, governada pelo Syriza-Anel, por quem tanto NS se comove, o mecanismo federal só não imporia uma receita drástica, como a que agora a Eurozona impõe, porque os gregos nunca teriam tido a oportunidade de a tornar necessária e se arruinar alegremente, a exemplo do Portugal governado pela tralha socrática.
Se preferirem e para lhe encurtar a longevidade da ignorância, só agora, 18 anos depois, NS teve a oportunidade de ler o que especificamente Milton Friedman escreveu sobre a União Monetária. Releia-se o último parágrafo de «The Euro: Monetary Unity To Political Disunity?» escrito por Friedman em 1997:
«The drive for the Euro has been motivated by politics not economics. The aim has been to link Germany and France so closely as to make a future European war impossible, and to set the stage for a federal United States of Europe. I believe that adoption of the Euro would have the opposite effect. It would exacerbate political tensions by converting divergent shocks that could have been readily accommodated by exchange rate changes into divisive political issues. Political unity can pave the way for monetary unity. Monetary unity imposed under unfavorable conditions will prove a barrier to the achievement of political unity.»Foi assim que no caderno de Economia do Expresso onde nos dá conta dos seus estados de alma, NS concluiu finalmente, com décadas de atraso, que as «condições essenciais para a existência de uma moeda comum implicavam a livre circulação de trabalhadores e capitais, a flexibilidade de preços e salários, a coordenação dos ciclos económicos e um mecanismo federal que compensasse os choques assimétricos».
Concluiu ainda que, portanto, o Euro estava condenado desde o primeiro dia, a menos que existissem «fundos que permitissem compensar os tais choques assimétricos», o que na cabecinha dele significaria que a Alemanha e os países solventes pagariam a conta dos desvarios.
Nem por um momento lhe ocorre que a existência de um «mecanismo federal que compensasse os choques assimétricos» exigiria um Estado único, federado ou não, que prevenisse os desvarios antes de eles ocorrerem, ou seja impondo a cada um dos potenciais desvairados o colete de um orçamento aprovado por um parlamento europeu onde os deputados dos países com juízo seriam a maioria.
Muito menos lhe ocorre que existindo esse Estado único, federado ou não, o seu amigo preso 44 em Évora nunca teria tido a oportunidade de adoptar as políticas que ele, Nicolau, tanto incensou e que tanto anseia por ver de novo adoptadas pelo futuro primeiro-ministro de Portugal. Ou, para dar o exemplo da Grécia, governada pelo Syriza-Anel, por quem tanto NS se comove, o mecanismo federal só não imporia uma receita drástica, como a que agora a Eurozona impõe, porque os gregos nunca teriam tido a oportunidade de a tornar necessária e se arruinar alegremente, a exemplo do Portugal governado pela tralha socrática.
15/07/2015
DIÁLOGOS DE PLUTÃO: Close-up
Há muitas luas que no (Im)pertinências existe uma secção «Diálogos de Plutão» dedicada a conversas excêntricas, ouvidas ou imaginadas, que talvez até nem sejam conversas.
É justo, por isso, dedicar ao menos um post à chegada do objecto voador identificado como «New Horizons» da NASA, do tamanho de um piano, após uma longa viagem de 3 mil milhões de milhas, com um close-up com umas 250 milhas de largura (cálculo a olho por cento).
É justo, por isso, dedicar ao menos um post à chegada do objecto voador identificado como «New Horizons» da NASA, do tamanho de um piano, após uma longa viagem de 3 mil milhões de milhas, com um close-up com umas 250 milhas de largura (cálculo a olho por cento).
«Close-up photographs of Pluto, revealing a young surface dotted with ice mountains» (NYT) |
CAMINHO PARA A INSOLVÊNCIA: De como o melhor que pode acontecer ao paraíso prometido aos gregos pelo Syriza é ser um purgatório (XXXI) – Exortação solidária (2)
Outros purgatórios a caminho dos infernos.
Apesar dos nossos esforços promocionais do bailout via crowdfunding, os resultados são bastante merdosos. Temos de reconhecer que a única forma de entornar mais dinheiro na Grécia é, em vez de usar o dinheiro da crowd dos 108.654 cromos solidários, usar o dinheiro da crowd do costume - os sujeitos passivos que pagam impostos.
Apesar dos nossos esforços promocionais do bailout via crowdfunding, os resultados são bastante merdosos. Temos de reconhecer que a única forma de entornar mais dinheiro na Grécia é, em vez de usar o dinheiro da crowd dos 108.654 cromos solidários, usar o dinheiro da crowd do costume - os sujeitos passivos que pagam impostos.
ESTADO DE SÍTIO: Doutrina Somoza, a doutrina dominante neste nosso Portugal dos Pequeninos
Recordo que a doutrina Somoza, segundo o Glossário das Impertinências, foi pela primeira vez formulada pelo presidente Franklin Delano Roosevelt em 1939 ao explicar o apoio americano ao ditador Somoza com palavras que ficaram célebres: «he may be a son of a bitch, but he's our son of a bitch».
Todos os dias poderia fazer uma lista de exemplos desta doutrina e não faço. Faço hoje com alguns exemplos, todos mais ou menos ligados à magna questão que começou com a grandiosa vitória do Syriza com 2,2 milhões em 6,2 milhões de votos expressos (36,34%) e 9,9 milhões de votos possíveis (22,7%), elegendo 49,7% dos deputados e tendo um bónus de 50 lugares como partido mais votado.
O que é intolerável humilhação?
Dizer aos gregos que se querem mais dinheiro têm de aceitar condições que o seu governo rejeitou; governo que decorridos cinco meses convocou um referendo para rejeitar outras condições piores do que as primeiras, propôs novas condições piores do que as segundas e acabou a aceitar quartas condições piores do que as terceiras. E continua a ser uma humilhação mesmo quando o governo grego apresentou internamente o acordo final como um bom acordo.
O que não é humilhação?
Ministros gregos chamarem aos credores por exemplo «terroristas» (ministro das Finanças) ou «chantagistas brutais e assassinos financeiros» (ministro da Energia).
O que é intolerável interferência na livre escolha dos eleitores?
Uma luminária bruxelense recomendar aos gregos que não escavaquem o país votando «não» num referendo.
O que não é interferência na livre escolha dos eleitores?
Avisar os eleitores que «se votarem em partidos que não respeitam os princípios fundamentais da União Europeia, isso afectará as relações com os outros países», como fez em 2000, António Guterres (ver aqui no Blasfémias).
O que é um político a vangloriar-se ridiculamente?
O primeiro-ministro dizer que deu um contributo para se chegar a acordo durante as discussões em que participou com a Grécia e ser ridicularizado por remas de patetas no hashtag poracasoaideafoiminha (sobre o contributo ver o post anterior e ler este artigo do irmão do futuro primeiro-ministro de Portugal)
O que não é um político a vangloriar-se?
A vice-presidente do Grupo Parlamentar do PS dizer que o acordo «só foi possível graças ao forte empenho dos socialistas, que uniram esforços, construíram pontes e demonstraram capacidade negocial em todos os momentos», empenho a 2 mil km de distância e 3 horas de voo.
Também falta explicar como pode o PS vangloriar-se de ter ajudado ao acordo se o resultado deste acordo é uma austeridade exacerbada a que sempre se opôs? É mais um ziguezague na deriva oportunista de Costa.
Todos os dias poderia fazer uma lista de exemplos desta doutrina e não faço. Faço hoje com alguns exemplos, todos mais ou menos ligados à magna questão que começou com a grandiosa vitória do Syriza com 2,2 milhões em 6,2 milhões de votos expressos (36,34%) e 9,9 milhões de votos possíveis (22,7%), elegendo 49,7% dos deputados e tendo um bónus de 50 lugares como partido mais votado.
O que é intolerável humilhação?
Dizer aos gregos que se querem mais dinheiro têm de aceitar condições que o seu governo rejeitou; governo que decorridos cinco meses convocou um referendo para rejeitar outras condições piores do que as primeiras, propôs novas condições piores do que as segundas e acabou a aceitar quartas condições piores do que as terceiras. E continua a ser uma humilhação mesmo quando o governo grego apresentou internamente o acordo final como um bom acordo.
O que não é humilhação?
Ministros gregos chamarem aos credores por exemplo «terroristas» (ministro das Finanças) ou «chantagistas brutais e assassinos financeiros» (ministro da Energia).
O que é intolerável interferência na livre escolha dos eleitores?
Uma luminária bruxelense recomendar aos gregos que não escavaquem o país votando «não» num referendo.
O que não é interferência na livre escolha dos eleitores?
Avisar os eleitores que «se votarem em partidos que não respeitam os princípios fundamentais da União Europeia, isso afectará as relações com os outros países», como fez em 2000, António Guterres (ver aqui no Blasfémias).
O que é um político a vangloriar-se ridiculamente?
O primeiro-ministro dizer que deu um contributo para se chegar a acordo durante as discussões em que participou com a Grécia e ser ridicularizado por remas de patetas no hashtag poracasoaideafoiminha (sobre o contributo ver o post anterior e ler este artigo do irmão do futuro primeiro-ministro de Portugal)
O que não é um político a vangloriar-se?
A vice-presidente do Grupo Parlamentar do PS dizer que o acordo «só foi possível graças ao forte empenho dos socialistas, que uniram esforços, construíram pontes e demonstraram capacidade negocial em todos os momentos», empenho a 2 mil km de distância e 3 horas de voo.
Também falta explicar como pode o PS vangloriar-se de ter ajudado ao acordo se o resultado deste acordo é uma austeridade exacerbada a que sempre se opôs? É mais um ziguezague na deriva oportunista de Costa.
AVALIAÇÃO CONTÍNUA: Um jornalista bom no género mau pode vir a fazer o upgrade para o género bom (IV)
Secção Res ipsa loquitur
Já algumas vezes [(1), (2) e (3)] fiz apreciações negativas de Ricardo Costa, apesar de o considerar um dos melhores jornalistas no mercado das causas. Também já pelo menos três vezes (aqui, aqui e aqui) fiz apreciações positivas.
Agora é a quarta, a pretexto do seu artigo «Passos, do conto de crianças aos louros da madrugada», onde, contra a corrente inspirada na doutrina Somoza, escreveu «no que diz respeito à madrugada decisiva, o que Passos Coelho disse é correto (...) a proposta final teve, de facto, o contributo da delegação portuguesa. Este facto contradiz uma ideia feita, e bastante errada, que passou por colocar Portugal no pelotão da linha dura do Eurogrupo. Isso não é verdade.» (...) .
E ainda escreveu um outro juízo corajoso que lhe pode trazer a excomunhão nos meios da bem-pensância esquerdizante: O Passos Coelho do “conto de crianças” é o mesmo que “recolhe os louros” da madrugada. Alguém que não mudou de sítio, mas que viu quase tudo mudar à sua volta.»
Leva por isso quatro afonsos para juntar à colecção e, que me lembre, continua a ser o único jornalista premiado com afonsos.
Já algumas vezes [(1), (2) e (3)] fiz apreciações negativas de Ricardo Costa, apesar de o considerar um dos melhores jornalistas no mercado das causas. Também já pelo menos três vezes (aqui, aqui e aqui) fiz apreciações positivas.
Agora é a quarta, a pretexto do seu artigo «Passos, do conto de crianças aos louros da madrugada», onde, contra a corrente inspirada na doutrina Somoza, escreveu «no que diz respeito à madrugada decisiva, o que Passos Coelho disse é correto (...) a proposta final teve, de facto, o contributo da delegação portuguesa. Este facto contradiz uma ideia feita, e bastante errada, que passou por colocar Portugal no pelotão da linha dura do Eurogrupo. Isso não é verdade.» (...) .
E ainda escreveu um outro juízo corajoso que lhe pode trazer a excomunhão nos meios da bem-pensância esquerdizante: O Passos Coelho do “conto de crianças” é o mesmo que “recolhe os louros” da madrugada. Alguém que não mudou de sítio, mas que viu quase tudo mudar à sua volta.»
Leva por isso quatro afonsos para juntar à colecção e, que me lembre, continua a ser o único jornalista premiado com afonsos.
ARTIGO DEFUNTO: Uma reportagem segundo o jornalismo de referência
Daniel Oliveira, um militante político polipartidário (sucessivamente PCP, Plataforma de Esquerda, Política XXI, Bloco de Esquerda, Livre/Tempo de Avançar) que se diz jornalista, vai a Atenas pago pelo Expresso mostrar a sua solidariedade com o partido Syriza que lidera um governo de coligação extrema-esquerda/extrema-direita, escreve um manifesto-panegírico com 4 páginas intitulado «Os indomáveis gregos do ‘oxi’» publicado na Revista E do Expresso como se fosse uma reportagem.
Lost in translation Found in translation – Unbabel, uma start up portuguesa
«Texts by a machine translated, a trifle stilted may seem.
Portuguese tech entrepreneur and language technology expert Vasco Pedro understands that better than most.
“The promise of having machine translation that really works, hasn’t happened,” he explains. “I don’t think this is possible in the next 15 years.”
Spotting a market need among international companies, this 38-year-old with a life-long “passion for language” set about combining the speed of computerized translation and the subtleties of the human touch.
The result is Unbabel. Set up by Pedro and a bunch of PhD-touting surf buddies in 2013, the Lisbon-based company now has an office in San Francisco and runs a network of 30,000 translators working in 23 languages.
Revenue last year reached $150,000, but business this year has been jumping by over 30 percent a month. The goal of “hitting the million run rate by the end of the year” is now very doable, Pedro said.
After securing $1.5 million in funding from the likes of Google Ventures and Matrix Partners last summer, and building a customer base that includes Microsoft, Pinterest Yummly and HotelTonight, Unbabel has emerged as a star performer in Lisbon’s burgeoning startup scene.»
Continue a ler aqui.
Como o jornalismo português não parece ainda muito excitado, esperemos que a Unbabel não venha a ser mais uma vítima da maldição do jornalismo promocional.
Portuguese tech entrepreneur and language technology expert Vasco Pedro understands that better than most.
“The promise of having machine translation that really works, hasn’t happened,” he explains. “I don’t think this is possible in the next 15 years.”
Spotting a market need among international companies, this 38-year-old with a life-long “passion for language” set about combining the speed of computerized translation and the subtleties of the human touch.
The result is Unbabel. Set up by Pedro and a bunch of PhD-touting surf buddies in 2013, the Lisbon-based company now has an office in San Francisco and runs a network of 30,000 translators working in 23 languages.
Revenue last year reached $150,000, but business this year has been jumping by over 30 percent a month. The goal of “hitting the million run rate by the end of the year” is now very doable, Pedro said.
After securing $1.5 million in funding from the likes of Google Ventures and Matrix Partners last summer, and building a customer base that includes Microsoft, Pinterest Yummly and HotelTonight, Unbabel has emerged as a star performer in Lisbon’s burgeoning startup scene.»
Continue a ler aqui.
Como o jornalismo português não parece ainda muito excitado, esperemos que a Unbabel não venha a ser mais uma vítima da maldição do jornalismo promocional.
CAMINHO PARA A INSOLVÊNCIA: A próxima vez que vos vierem com a lengalenga do neoliberalismo…
Expresso |
13/07/2015
Manifestações de paranóia/esquizofrenia (11) - O paraplégico é mais perigoso do que Putin ou o fundamentalismo islâmico
«A maior ameaça que paira sobre a Europa hoje não é a de Putin ou do fundamentalismo islâmico, dos EUA ou da China, dos eurocépticos ou dos populistas. A maior ameaça que paira sobre a Europa hoje é a que representa Wolfgang Schäuble, ministro das Finanças da Alemanha.»
Rui Tavares (aquele rapaz que foi eleito pelo Berloque de Esquerda para o parlamento europeu e a seguir decidiu lutar pela unidade da esquerda dissidindo do BE e criando um novo partido), no Público.
Se o rapaz não sofresse de esquizofrenia terminal talvez lhe adiantasse alguma coisa ler o artigo do Monde «Berlin ne veut pas d'une "Europe allemande"» escrito há 2 anos pelo paraplégico que o rapaz considera «a maior ameaça que paira sobre a Europa».
Rui Tavares (aquele rapaz que foi eleito pelo Berloque de Esquerda para o parlamento europeu e a seguir decidiu lutar pela unidade da esquerda dissidindo do BE e criando um novo partido), no Público.
Se o rapaz não sofresse de esquizofrenia terminal talvez lhe adiantasse alguma coisa ler o artigo do Monde «Berlin ne veut pas d'une "Europe allemande"» escrito há 2 anos pelo paraplégico que o rapaz considera «a maior ameaça que paira sobre a Europa».
Mitos (206) – A oposição à «ajuda» da Zona Euro à Grécia vem de Portugal, Irlanda e Espanha (2) (Actualizado)
Já aqui desmistifiquei este mito, o qual, como todas as mentiras, para alcançar profundidade tem de trazer à mistura alguma coisa de verdade, disse e bem o poeta Aleixo. E aqui a mentira com alguma coisa de verdade são as razões de sobra que Portugal, Irlanda e Espanha têm contra a «discriminação positiva» (tive de conter um vómito para escrever esta expressão) de que a Grécia tem beneficiado com um haircut de mais de 100 mil milhões de euros e taxas de juros inferiores às dos outros PIGS.
Razões que, contudo, o trio se tem abstido de vocalizar. Mas não são apenas aqueles três que têm razões contra a «discriminação positiva». Todos os países mais pobres do que a Grécia têm razões para apontar o dedo às chantagens do governo Syriza-Anel, tais como Bulgária, Chipre, Croácia, Eslováquia, Estónia, Hungria, Letónia, Lituânia, Polónia, República Checa e Roménia.
O governo grego deveria ler o artigo do Politico «Berlin isn’t the only roadblock for Greece»: «The prospect of providing more funding for Greece and deferring to its demand for a reduction of its outstanding debt — a crushing 180 percent of GDP — is an especially sore point in eurozone countries that have gone through deep recessions of their own and struggled back to economic health, often by taking the same austerity medicine so fiercely resisted by the Greeks.»
E, sobretudo, deveria o governo grego adoptar o conselho: «To get a deal, Athens must make its case not to Paris and Berlin, but also to Riga, Tallinn, Dublin and other capitals».
Actualização:
Eslovénia, Estónia, Irlanda e Portugal, «vacilantes» segundo o Guardian (um jornal com inclinação socialista).
As posições dos países da Eurozona segundo o Royal Bank of Scotland (apud Insurgente).
Razões que, contudo, o trio se tem abstido de vocalizar. Mas não são apenas aqueles três que têm razões contra a «discriminação positiva». Todos os países mais pobres do que a Grécia têm razões para apontar o dedo às chantagens do governo Syriza-Anel, tais como Bulgária, Chipre, Croácia, Eslováquia, Estónia, Hungria, Letónia, Lituânia, Polónia, República Checa e Roménia.
O governo grego deveria ler o artigo do Politico «Berlin isn’t the only roadblock for Greece»: «The prospect of providing more funding for Greece and deferring to its demand for a reduction of its outstanding debt — a crushing 180 percent of GDP — is an especially sore point in eurozone countries that have gone through deep recessions of their own and struggled back to economic health, often by taking the same austerity medicine so fiercely resisted by the Greeks.»
E, sobretudo, deveria o governo grego adoptar o conselho: «To get a deal, Athens must make its case not to Paris and Berlin, but also to Riga, Tallinn, Dublin and other capitals».
Actualização:
Eslovénia, Estónia, Irlanda e Portugal, «vacilantes» segundo o Guardian (um jornal com inclinação socialista).
As posições dos países da Eurozona segundo o Royal Bank of Scotland (apud Insurgente).
Vós, ó esquerdalhada, sede honestos, por uma vez (2)
O que diríeis de um primeiro-ministro que:
- Escolhesse um ministro das Finanças que insultasse os credores, lhes desse lições de finanças nas reuniões, divulgasse as discussões nas redes sociais, se comportasse como uma vedeta da socialite, anunciasse que se demitiria se um «sim» fosse aprovado num referendo e, por fim, se demitisse com a aprovação do «não» que ele defendeu ;
- Consumisse 5 meses em negociações plenas de manobras evasivas, sem quaisquer progressos, para acabar a rejeitar uma proposta dos credores e submetê-la a um referendo inconstitucional sobre uma matéria fiscal proibida pelo n.º 2 do artigo 44.º da Constituição;
- Reiniciasse negociações com os credores apresentando uma proposta com mais 4 mil milhões de medidas de austeridade do que a rejeitada pelo referendo;
- Submetesse nove jornalistas críticos do governo que defenderam o sim no referendo a uma investigação pelo ministério público e pelo regulador estatal (o sindicato «independente» dos jornalistas também vai fazer uma investigação)?
- Tivesse aceitado um acordo pior do que a sua proposta depois do referendo, que afinal já era pior do que a proposta dos credores antes do referendo, e apresentasse esse acordo como uma vitória do seu governo.
ARTIGO DEFUNTO: Biblicamente estúpido (2)
Biblicamente estúpido diz-se de textos que quem os escreve julga diabolicamente inteligentes mas, em boa verdade, são bisonhamente estúpidos, «envergonham um morto» e mostram «a má-fé e a obnubilação da esquerda», usando as palavras de Vasco Pulido Valente.
Por exemplo o texto “A tabloidização da doença” sobre o aparecimento em público de Laura Ferreira, a mulher de Passos Coelho, sem cabelo devido ao tratamento do cancro, escrito por Estrela Serrano que «foi assessora para a Comunicação Social do Presidente da República, Mário Soares, provedora dos leitores do Diário de Notícias, membro do Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social, fundadora, directora e professora em vários cursos de jornalismo.»
Sem mais considerações àquele desvario, remeto para os comentários de Helena Matos no Observador,
Por exemplo o texto “A tabloidização da doença” sobre o aparecimento em público de Laura Ferreira, a mulher de Passos Coelho, sem cabelo devido ao tratamento do cancro, escrito por Estrela Serrano que «foi assessora para a Comunicação Social do Presidente da República, Mário Soares, provedora dos leitores do Diário de Notícias, membro do Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social, fundadora, directora e professora em vários cursos de jornalismo.»
Sem mais considerações àquele desvario, remeto para os comentários de Helena Matos no Observador,
12/07/2015
Lost in translation (246) – «Passos Coelho deve rezar a Deus Nosso Senhor Jesus Cristo», disse ele
Escrevi há dias, a propósito do Dr. Domingues de Azevedo, bastonário dos técnicos oficiais de contas, que ele é um tribuno sempre à frente das grandes causas, a apontar novos caminhos e a criticar a governação com uma linguagem colorida, inesperada em quem lida com o deve, o haver e as partidas dobradas. Poderá ter sido um exagero? Parece que não. Ora leia-se mais uma das suas proclamações precisamente na mesma entrevista ao jornal i que foi «desdobrada» como se tratasse de outra:
«Passos Coelho deve rezar a Deus Nosso Senhor Jesus Cristo, se é que ele acredita, se não acredita reze a quem quiser, todos os dias de manhã e à noite para que a Grécia saia da Europa, porque se não sair é evidente que os portugueses vão analisar todos os problemas que enfrentaram e toda a carga fiscal que suportam enquanto os gregos não fizeram nada disso e permanecem na União Europeia. É claro que vão condenar quem tomou estas decisões. A melhor prenda política que Passos Coelho poderá ter é a Grécia não ficar na Europa.»
Com a invocação a Deus Nosso Senhor Jesus Cristo, lembrou-me o papa Francisco que também parece sofrer da mesma síndrome: fazer o lugar do outro. Se isto continua, ficaremos com um insustentável défice de papas e de técnicos oficiais de contas e um superavit cada vez maior de políticos.
«Passos Coelho deve rezar a Deus Nosso Senhor Jesus Cristo, se é que ele acredita, se não acredita reze a quem quiser, todos os dias de manhã e à noite para que a Grécia saia da Europa, porque se não sair é evidente que os portugueses vão analisar todos os problemas que enfrentaram e toda a carga fiscal que suportam enquanto os gregos não fizeram nada disso e permanecem na União Europeia. É claro que vão condenar quem tomou estas decisões. A melhor prenda política que Passos Coelho poderá ter é a Grécia não ficar na Europa.»
Com a invocação a Deus Nosso Senhor Jesus Cristo, lembrou-me o papa Francisco que também parece sofrer da mesma síndrome: fazer o lugar do outro. Se isto continua, ficaremos com um insustentável défice de papas e de técnicos oficiais de contas e um superavit cada vez maior de políticos.
Nem só o Estado é amigo do empreendedor (6) - A maldição do jornalismo promocional – outra vez
A Bial é uma empresa farmacêutica portuguesa com uma excelente imprensa e o seu presidente Luís Portela tem sido levado ao colo pelos mídia ou, como costumo dizer, a empresa e o empresário são favoritos do que costumo chamar o jornalismo promocional. Não questiono a bondade nem o mérito da Bial e da família que a dirige, de quem tenho até impressão positiva, apenas registo o que parece ser mais uma ocorrência da maldição do jornalismo promocional – uma espécie do jornalismo de causas empresariais frequentemente praticado pelos pastorinhos da economia dos amanhãs que cantam.
Desta vez «estão em causa suspeitas de corrupção ativa e passiva, burla ao SNS e falsificação de documentos que podem envolver altos quadros do grupo presidido por Luís Portela, os quais terão sido denunciados por um ex-diretor da Bial».
Esperemos que não seja nada de cuidado. Em qualquer caso, recomenda-se outra vez aos empresários que no futuro liguem os desconfiómetros aos primeiros sinais de manteiga mediática.
Desta vez «estão em causa suspeitas de corrupção ativa e passiva, burla ao SNS e falsificação de documentos que podem envolver altos quadros do grupo presidido por Luís Portela, os quais terão sido denunciados por um ex-diretor da Bial».
Esperemos que não seja nada de cuidado. Em qualquer caso, recomenda-se outra vez aos empresários que no futuro liguem os desconfiómetros aos primeiros sinais de manteiga mediática.
Vós, ó esquerdalhada, sede honestos, por uma vez
O que diríeis de um primeiro-ministro que:
- Escolhesse um ministro das Finanças que insultasse os credores, lhes desse lições de finanças nas reuniões, divulgasse as discussões nas redes sociais, se comportasse como uma vedeta da socialite, anunciasse que se demitiria se um «sim» fosse aprovado num referendo e, por fim, se demitisse com a aprovação do «não» que ele defendeu ;
- Consumisse 5 meses em negociações plenas de manobras evasivas, sem quaisquer progressos, para acabar a rejeitar uma proposta dos credores e submetê-la a um referendo inconstitucional sobre uma matéria fiscal proibida pelo n.º 2 do artigo 44.º da Constituição;
- Reiniciasse negociações com os credores apresentando uma proposta com mais 4 mil milhões de medidas de austeridade do que a rejeitada pelo referendo;
- Submetesse nove jornalistas críticos do governo que defenderam o sim no referendo a uma investigação pelo ministério público e pelo regulador estatal (o sindicato «independente» dos jornalistas também vai fazer uma investigação)?
11/07/2015
Grécia e Venezuela, a mesma luta
A supermarket in Athens is selling out of staple food as anxious shoppers stock up on supplies |
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