28/02/2015

CAMINHO PARA A INSOLVÊNCIA: De como o melhor que pode acontecer ao paraíso prometido aos gregos pelo Syriza é ser um purgatório (X) - «o eixo contra Atenas»

Outros purgatórios a caminho dos infernos.


Tardou mas não faltou. Seria a primeira vez na história que um governo “revolucionário” perante o falhanço das suas políticas e as respectivas consequências não inventaria um inimigo externo a quem culpar pelas desgraças que irão desabar sobre as suas cabeças e, pior do que tudo, sobre as cabeças de quem os elegeu ou simplesmente assistiu à sua chegada ao poder.

Na história recente quem mais vezes e melhor tem feito esse papel são os Estados Unidos, também por vezes conhecido por o Império do Mal – dependendo o inquilino da Casa Branca. Para citar exemplos nas últimas décadas de governos de regimes “revolucionários” que usaram este expediente: Cuba, Coreia do Norte, Irão, Nicarágua, Venezuela, Bolívia. Apesar de tudo, tomar os EU como um inimigo externo revela megalomania e alguma grandeza.

No caso da coligação Tsipras-Amel que desgoverna a Grécia o melhor inimigo externo que ‘o’ Alexis conseguiu inventar foi, imagine-se, os governos de Portugal e da Espanha que, segundo, a sua mente criativa formaram um «eixo contra Atenas». Leiam-se as suas palavras homéricas:
«Encontramo-nos numa situação em que um eixo de poderes, liderado pelos Governos de Espanha e Portugal, tentaram conduzir as negociações para o abismo, por motivos políticos óbvios.
O plano era – e continua a ser – o de provocar desgaste e derrubar o nosso Governo ou forçar-nos a uma rendição incondicional, antes que o nosso trabalho começasse a dar fruto e antes que o nosso exemplo afectasse outros países.»

Dúvidas (79) – Ver ou não ver?

«Os movimentos preliminares da III Guerra Mundial estão em curso: para o Ocidente ver – ou não ver.

Com as nossas preocupações domésticas, não nos sobra o tempo para pensar em coisas muito mais sérias como o expansionismo da Rússia.

 Vem na Wikipédia, mas convém repetir, que a Rússia é uma federação de 22 repúblicas, 46 regiões autónomas (como a da Madeira) e nove territórios. Pior ainda, tem 160 etnias diferentes, 100 línguas diferentes, quatro grandes religiões diferentes (a ortodoxa, a islamita, a judaica e a budista) e uma enorme variedade de seitas, que constantemente varia e se multiplica. Tudo isto para uma população relativamente pequena de 140 milhões de habitantes. Qualquer pessoa de senso compreenderá que, segundo um velho hábito do século XVIII, chamamos Rússia a um Império que só pode ser governado autocraticamente e onde a democracia está para sempre condenada.

O autocrata de hoje já não é o czar Nicolau II, nem Lenine, nem Estaline, nem Khruschev, nem Brejnev. É um antigo membro da polícia secreta e, por consequência, um dissimulador, um mentiroso, um torcionário e um assassino, que dá pelo nome de Putin e que preside a uma cleptocracia, largamente caótica, a que só a violência e o seu arbítrio garantem uma vaga coesão e uma aparência de Estado. Além disso, na falta de uma legitimidade dinástica como a dos Romanov, ou ideológica como a URSS, Putin precisa, para se ir aguentando, de invocar a legitimidade imperial, principalmente depois da maior derrota que o Império sofreu desde 1613. O que não seria importante, se depois da implosão do comunismo a Rússia não permanecesse a segunda potência militar do mundo.

E se a Europa não se tivesse desarmado, como desarmou, para pagar o Estado social. A Inglaterra, por exemplo, gasta em defesa menos do que 2 por cento do PIB, no momento em que Putin (de resto, provocado pela França e pela Alemanha) embarcou numa política claramente agressiva e revanchista. A Crimeia foi o primeiro objectivo, como já o fora para Catarina, porque o Império fica fechado ao exterior sem um porto de água quente; e o segundo foi parte da bacia do Donetsk, porque a Crimeia não serve de nada sem uma ligação fácil e segura ao coração do Império. Estaline e Hitler perceberam este ponto essencial. Putin também; e não há a sombra de uma dúvida de que não recuará. Como, tarde ou cedo, vai acabar por querer que as repúblicas bálticas voltem ao seu domínio e que a Ásia Central aceite obedientemente a sua ordem. Os movimentos preliminares da III Guerra Mundial estão em curso: para o Ocidente ver – ou não ver.»

Este artigo de Vasco Pulido Valente foi publicado ontem de manhã. No mesmo dia à noite «o opositor russo Boris Nemtsov foi assassinado a tiro, em pleno centro de Moscovo… O Presidente russo, Vladimir Putin, já reagiu, considerando o assassínio "uma provocação"».

27/02/2015

CASE STUDY: O homem providencial para o Estado Previdência (10)

(Outros feitos do homem providencial)

Depois de o jornalismo de causas socialistas ter escamoteado durante quase uma semana o surto de sinceridade que atacou o ungido quando falava aos investidores chineses, agradecendo-lhe estarem a comprar as pratas desta família arruinada que é o Portugal Socialista e concedendo distraidamente que o país está numa situação «bastante diferente daquela que estava há 4 anos atrás», desabou sobre o pobre Costa um coro de protestos dos seus correligionários do PS e de quase todo o resto da esquerdalhada e outro coro de piadas por parte de luminárias afectas a governo.

Coros que, sendo difícil de acreditar, chegaram até à Reuters e suscitaram do ungido uma vasta soma de explicações incluindo um SMS enviado aos sócios do PS.

É pena. Tudo isto é muito triste. Quando um homem resolve interromper momentaneamente a gestão de prudentes silêncios entrecortados com discursos de vacuidades e ilusões, cai-lhe o mundo em cima. Não está certo. É um péssimo incentivo.

CAMINHO PARA A INSOLVÊNCIA: De como o melhor que pode acontecer ao paraíso prometido aos gregos pelo Syriza é ser um purgatório (IX) – o ministro das Finanças Gregas não tem perdão

Outros purgatórios a caminho dos infernos.

Como que a provar, uma vez mais, que se as coisas correm mal nada impede que possam correr pior, assim como quando se fazem asneiras não se aprende necessariamente com elas e pode-se sempre fazer outras, Yanis Varoufakis, o ministro das Finanças Gregas (não, não é um lapso), voltou a cantar a mesma canção do perdão da dívida que já não constava do lista que ele próprio assinou, irritando Wolfgang Schäuble, o ministro alemão das Finanças, numa altura em que estava a tentar persuadir dos deputados do seu próprio partido a votarem o prolongamento do programa da Grécia.

Por falar em perdão da dívida, não está demonstrado que a Grécia não possa pagar a sua dívida (ver por exemplo o artigo do WSL «Greece Can Pay Its Debts in Full, but It Won’t»), o que parece indiscutível é que este governo fará tudo para não a pagar e não é muito provável que os gregos consigam vir a ter, não apenas um governo, uma sequência de governos nas próximas décadas capacitados para o fazer - ver diagrama.

Fonte: WSL
Se o governo grego está cada vez mais desacreditado nas «instituições» europeias, também as famílias e as empresas não parecem ter grandes expectativas. Em Janeiro foram levantados 12,5 mil milhões de euros dos quais mais de 70% por particulares.

Entretanto, o governo Tsipras-Anel começa a provar do seu próprio veneno nas ruas. A manifestação de ontem foi provavelmente apenas um primeiro ensaio por parte de alguns dos grupúsculos que compõem o saco de gatos do Syriza.

QUEM SÓ TEM UM MARTELO VÊ TODOS OS PROBLEMAS COMO PREGOS: O alívio quantitativo aliviará? (21) – O mito da deflação (IV)

Outras marteladas.

Esta semana Janet Yellen, a presidente da Fed, foi duas vezes ao Congresso americano passar a mensagem que o aumento das taxas de juro, embora possível, não estaria eminente, apesar do crescimento robusto da economia nos últimos trimestres e do ritmo de criação de novos empregos. Tudo porque a inflação voltou a cair em Janeiro para 0,8% abaixo, portanto, dos sacrossantos 2%, objectivo da Fed. Porquê 2%? Porque não 1% ou 3% ou 4%?

E, olhando para o gráfico seguinte, a inflação subjacente não é hoje muito diferente do que era na véspera do desmoronar da construção criada com a receita de Alan Greenspan de reduções de taxa e de injecções de liquidez, ao mesmo tempo que alertava para a «exuberância irracional» que a Fed alimentava, nos anos que precederam a crise de 2008.

E qual é a surpresa por a inflação global estar a descer com os preços os combustíveis em queda, a produtividade a aumentar, os preços dos produtos importados da Europa a cairem pela desvalorização do euro, etc.?

Fonte: The Economist
À conta do combate ao papão da deflação, a Fed continua a soprar as bolhas nos mercados imobiliário e de capitais e a introduzir enviesamentos nas decisões com taxas de juro evanescentes que levarão a investir em projectos inviáveis a taxas de juro de mercado, seja lá o que isso for.

E, indo mais ao fundo da coisa, qual é o racional dos bancos centrais fixaram as taxas de juro, isto é a renda para o aluguer do dinheiro, e os governos (já) não fixarem (por enquanto?) a renda para aluguer das casas?

Lost in translation (228) - Liquidez? Qual liquidez? Verão? Qual Verão?

Continuação daqui.

Há duas semanas o ministro da Economia Grega, Giorgos Stathakis, garantia ao Wall Street Journal que o governo não esperava problemas de liquidez antes do Verão.

O Verão este ano deve ter chegado mais cedo porque o ministro das Finanças Yanis Varoufakis disse na rádio grega, citado pela Reuters, que «definitivamente teremos um problema em pagar agora ao FMI».

26/02/2015

O ruído do silêncio da gente honrada no PS é ensurdecedor (103) - Apagar o passado no Rato

«Muitos dirigentes do PS, incluindo António Costa, têm criticado o governo por não estar ao lado da Grécia e por seguir a Alemanha. A minha tese é muito simples: o actual executivo tem-se mantido fiel às políticas de todos os governos desde a adesão à Comunidade Europeia, incluindo os de Guterres e de Sócrates; o PS é que se está a afastar do que tem sido a política europeia de Portugal, desde 1986. A História e a política europeia não começou em 2011, com a chegada da “troika”.

(…)

E o governo de Sócrates manteve a tradição de recusar alianças com os periféricos. Entre 2010 e 2011, já estava a “troika” em terras gregas, Sócrates recusou qualquer aproximação à Grécia. Eram os dias em que o PM português fugia do PM grego nos Conselhos Europeus para não aparecerem juntos na fotografia. A “solidariedade” com a Grécia só existe quando os socialistas estão na oposição e não têm de governar. E, tal como Guterres, Sócrates também se aliou a um dos grandes europeus. Sabem com qual deles? Exactamente, com a Alemanha. E com a Alemanha de Merkel.»

O PS perdeu a memória?, João Marques de Almeida no Observador

CASE STUDY: O homem providencial para o Estado Previdência (9)

(Outros feitos do homem providencial)
«Numa união a 28 não é possível prometer um resultado que depende de negociações com várias instituições, múltiplos governos, de orientações diversas.»
António Costa, líder do PS, na conferência da Economist.
Caso não saiba, estamos a falar do mesmo Costa que prometeu
  • o fim da austeridade, 
  • o crescimento da economia, 
  • o aumento do salário mínimo para 522 euros, 
  • repor os salários na função pública, 
  • devolução integral dos cortes dos salários na Função Pública, em 2016, 
  • repor as pensões, 
  • eliminar a sobretaxa do IRS, 
  • investir em investigação e desenvolvimento, 
  • incrementar factores de competitividade empresarial efectivos, 
  • reduzir o IVA na restauração e o IMI, 
  • alterar o Tratado Orçamental, 
  • entre muitas outras promessas que ficaram afogadas no bla bla costista. 
Já agora ver esta infografia da «Agenda para a década».

Entretanto, Costa também disse aos chineses no Casino da Póvoa que agradecia «à China todo o apoio que nos deu» e que Portugal está numa situação «bastante diferente daquela que estava há 4 anos atrás».

Poderá então concluir-se que Costa só fala verdade para os estrangeiros?

Aditamento:
A boa imprensa de Costa conseguiu «manter secretas durante uma semana as declarações de António Costa no Casino da Póvoa».

Encalhados numa ruga do contínuo espaço-tempo (31) - Quem é quem na esquerda folclórica portuguesa

Um guia da revista Visão para saber quem é o Tempo de Avançar, o Livre, o Junto Podemos, o MAS, o Fórum Manifesto, o Manifesto 3D, os Renovadores, o MIC, o MIC Porto, enfim os grupúsculos que de união em união chegarão à desunião final.

Vá já lá agora mesmo, antes que fique desactualizado.

25/02/2015

CAMINHO PARA A INSOLVÊNCIA: De como o melhor que pode acontecer ao paraíso prometido aos gregos pelo Syriza é ser um purgatório (VIII) – a lista do Yanis não é SMART

Outros purgatórios a caminho dos infernos.

Afinal em que consiste a «first comprehensive list of reform measures it is envisaging, to be further specified and agreed by the end of April 2015» enviada por Yanis Varoufakis ao presidente do Eurogrupo?

Trata-se de um enunciado em 4 páginas A4 com 63 medidas cuja formulação chumba no teste SMART que qualquer estudante de gestão tem obrigação de conhecer. De facto, nenhuma dessas medidas é simultaneamente Specific, Measurable, Achievable, Realistic, Time-Bound, o que desde logo tem uma consequência: a menos que a troika as instituições as especifiquem, tornem verificáveis, atingíveis, realistas e com prazo de aplicação não vai ser possível sequer concluir se foram cumpridas.

Comentando algumas das poucas medidas que se podem considerar verificáveis:
  • Reduzir o número de ministros de 16 para 10 - gostava de ouvir o que tem a dizer sobre isso o PS e a esquerdalhada que tanto criticaram este governo a respeito da redução de ministérios;
  • Manter as privatizações que «tenham sido completadas» - é claramente um recuo do governo Syriza-Anel mas a medida seguinte («rever as privatizações que ainda não tenham sido enunciadas») permite tudo, a menos que a troika ponha ordem na caserna; 
  • «… the ambition to streamline and over time raise minimum wages in a manner that safeguards competiveness and employment prospects» (a formulação desta medida é um case study da treta semântica saída das meninges de um esquerdista) – daqui resulta outro evidente recuo no aumento do salário mínimo, mas fica a porta aberta para os maiores dislates.
Em conclusão, ou bem que a troika converte as 4 páginas de verborreia em algo exequível e verificável que contribua para a consolidação das contas públicas e obrigue aquela gente a fazer as reformas mínimas para tornar a economia grega competitiva, ou bem que a única consequência deste acordo é empurrar o problema com a barriga para a frente até que a barriga bata na parede. Nesse caso, o melhor desfecho será a saída da Grécia mais ou menos controlada da Zona Euro. O pior será o colapso da Zona Euro.

Actualização:

Afinal o enunciado das medidas, ainda que vago, pode não ter sido produzido pelo governo grego mas por um alto funcionário da CE. A ser assim, imagine-se se tivesse sido obra de Varoufakis.
Depois de o Eurogrupo e a CE terem feito o seu papel de polícia bom, et pour cause, estão agora a chegar ao local do crime os polícias maus. O BCE e o FMI avisaram hoje que para avançarem com os fundos que restam do programa de assistência são necessários «clear commitments on tough pensions, VAT, privatisation and labour reforms» (FMI) e porque «the commitments outlined by the authorities differ from existing programme commitments in a number of areas … we will have to assess whether measures are replaced with measures of equal or better quality in terms of achieving the objectives of the programme» (BCE).

Um dia como os outros na vida do estado sucial (22) – Afinal há gente preocupada com a privacidade nas escolas

Apesar das imensas dúvidas quanto à capacidade do ensino público, encalhado nos parâmetros sindicais do Partido Comunista, se adaptar, com esforço ainda consigo perceber a lógica de substituir o chumbo ou reprovação escolar, agora rebaptizado, segundo o processo de reforma semântica em curso (PRSC), de retenção, por uma «espécie de “transição condicionada” – ou seja, o aluno passa, tendo no ano seguinte um apoio suplementar nas disciplinas em que revelou maiores dificuldades».

Ultrapassa-me o propósito de outra das medidas recomendadas pelo Conselho Nacional de Educação: acabar com obrigatoriedade «de afixação pública e obrigatória das pautas com notas individuais e nominais» nas escolas.

Mitos (189) – Mitologia grega (II)

Sempre segundo a esquerdalhada e o jornalismo de causas (simplificadamente, estes são a mão que escreve as teses dos primeiros), as negociações semânticas do Syriza com o Eurogrupo estão a ser um grandioso sucesso.

Quem não vai nessa conversa é Manolis Glezos, eurodeputado do Syriza, um herói da resistência antinazi e ícone do Syriza, que escreve no «Movimento de Cidadãos Activos» o artigo «Antes que seja demasiado tarde»:
«Chamar à troika ‘instituições’, transformar o Memorando de Entendimento em Acordo e tornar os credores ‘parceiros’ modifica tanto a situação em que nos encontramos como passar a chamar carne ao peixe. … Pela minha parte, peço desculpa ao povo grego por ter participado nesta ilusão.»

24/02/2015

BREIQUINGUE NIUZ: Eurogrupo aprovou extensão do programa acordo de assistência

Press-release do Eurogrupo:

«The Eurogroup today discussed the first list of reform measures presented by the Greek authorities, based on the current arrangement, which will be further specified and then agreed with the institutions at the latest by the end of April. The institutions provided us with their first view that they consider this list of measures to be sufficiently comprehensive to be a valid starting point for a successful conclusion of the review.

We therefore agreed to proceed with the national procedures with a view to reaching the final decision on the extension by up to four months of the current Master Financial Assistance Facility Agreement.

We call on the Greek authorities to further develop and broaden the list of reform measures, based on the current arrangement, in close coordination with the institutions in order to allow for a speedy and successful conclusion of the review.»

Glossário:
  • «Current arrangement» = programa de assistência 
  • «Then agreed with the instituitions» = depois de aprovado pela troika 
  • «Successful conclusion of the review» = aprovação pela troika das medidas

Mitos (188) – Mitologia grega (I)

A esquerdalhada e o jornalismo de causas domésticos têm vindo a apontar o dedinho acusatório à ministra das Finanças por, dizem eles, estar a ser na questão Syriza versus Eurogrupo mais papista do que o papa, sendo papa o ministro Shäuble. Maria Luís Albuquerque nega. Se disse o que lhe atribuem, fez mal em não assumir porque ficaria em boa companhia.

O certo é que vários dirigentes políticos da Europa de Leste – dos países que foram ocupados pelo Império Soviético e tendo experimentado as fórmulas da esquerda comunista e bloquista ficaram imunizados - não tiveram papas na língua e deixaram muito claro o que pensavam sobre o assunto:

  • «Ninguém na Europa quer dar dinheiro à Grécia», Robert Fico, primeiro-ministro da Eslováquia 
  • «A zona euro está mais estável e mais forte do que há cinco anos e a hipotética saída de um dos seus membros teria um fraco impacto», Maris Lauri, ministra das Finanças da Estónia
  • «A cooperação com a Grécia só pode ter por base o programa de assistência financeira existente, com condições claras», Janis Reirs, ministro das Finanças da Letónia 
  • «A política de austeridade foi o único remédio para nós e não vejo motivo para os gregos não a aplicarem … o populismo" grego é perigoso para a Europa», Andrius Kubilius, antigo primeiro-ministro da Lituânia.

QUEM SÓ TEM UM MARTELO VÊ TODOS OS PROBLEMAS COMO PREGOS: O alívio quantitativo aliviará? (20) Unintended consequences (III)

Outras marteladas.

Não. Não é só Guan Jianzhong da agência de rating chinesa Dagong que descrê das propriedades miraculosas do alívio quantitativo e prevê «uma nova crise financeira mundial nos próximos anos». Também o Nobel Robert Shiller alerta para esse cenário baseado no cálculo do indicador CAPE (cyclically adjusted price-earnings ratio), por ele construído, cujo valor actual (27,8) ultrapassou o de 2007 antes da crise financeira.

Fonte: The Economist Espresso
E poderia ser outra maneira? Poder, poderia, mas quando o pior pode acontecer, muitas vezes acontece. E, a este respeito, é difícil imaginar pior do que as impressoras dos bancos centrais a todo o vapor alimentando bolhas nos mercados imobiliários americanos e ingleses e nas bolsas, com vários máximos dos índices bolsistas americanos atingidos recentemente (o último na 6.ª feira), as acções japonesas num máximo de 16 anos, as bolsas europeias em máximos de 7 anos e a de Londres prestes a atingir novo recorde.

Depois não se diga que não fomos avisados.

A mentira como política oficial (9) - Agarrem-me senão atiro-me

Cartoon KAL na Economist

«Já todos sabemos o que conseguiu o Syriza: em vez da troika, passou a haver “instituições”; em vez do programa, “acordo”; em vez de credores, “parceiros”; em vez de austeridade, “condições”. Enfim, a transfiguração semântica servirá para muita coisa, mas não chega para esconder que o Syriza enganou os gregos, quando, para ganhar as eleições, prometeu que bastava dar dois berros à Merkel para tudo se tornar fácil. Agora, como todos os mentirosos, resta-lhe continuar a mentir, recorrendo ao delírio verbal consentido pelos seus parceiros europeus para inventar “batalhas ganhas” em guerras perdidas.»

Rui Ramos no Observador

23/02/2015

CAMINHO PARA A INSOLVÊNCIA: De como o melhor que pode acontecer ao paraíso prometido aos gregos pelo Syriza é ser um purgatório (VII)

Outros purgatórios a caminho dos infernos.

Os gregos continuam a manifestar a sua confiança no êxito das negociações entre a Eurozona e o governo grego do circo mediático Tsipras-Varoufakis.

Serviço da Reuters desta manhã:

«Deposit outflows from Greece's banks rose last week to around 3 billion euros, according to JP Morgan estimates, ahead of Friday's last-minute aid extension agreement with the country's euro zone creditors.

The 50 percent increase in the pace of outflows from the prior week's 2 billion euros meant Greek banks were on track to run out of collateral for new loans in eight weeks as opposed to 14 the week before, JP Morgan said.

This is based on its calculation that of a maximum 108 billion euros of financing available from the European Central Bank and Greek central bank, Greek banks have already used up 85 billion euros, leaving them with 23 billion euros if needed.

Hard data on Greek bank deposit flows come with a long time lag, meaning estimates are the most up-to-date guides.

Outflows apparently accelerated during last week.

They totaled more than 1 billion euros over Wednesday and Thursday, three senior banking sources told Reuters on Friday, and about 1 billion euros on Friday alone, another senior banker said.»

TIROU-ME AS PALAVRAS DA BOCA: A imobilidade social é uma bandeira de esquerda

«O que verdadeiramente indigna a esquerda é o seu tradicional inimigo: a ascensão social. Para quem ganha a vida através da "ajuda" aos pobres, não há pior do que um pobre que vence na primeira e dispensou a hipocrisia da segunda. Não há pior, em suma, do que um pobre que deixou de o ser - excepto o que, para cúmulo, se atreve a contar a sua história. 

 O marxismo, clássico ou "moderno", aprecia um mundo arrumadinho e imóvel, onde a pobreza é menos um estado do que uma condição vitalícia. Não se trata apenas de viver a pretexto dos necessitados: trata-se de garantir que estes continuam a necessitar - de abonos, protestos ou discursos "solidários". É por isso que se abomina o descaramento dos "arrivistas", dos "novos-ricos" e até dos recém--remediados ao mesmo tempo que se dedicam lengalengas demagógicas aos velhos e, conquista suprema, aos novos pobres. A miséria alheia assegura o sucesso dos que juram combatê-la mas celebram o seu crescimento, real ou desejado. O episódio do "pretinho salazarista" limitou-se a recordar uma fraude cruel: os amigos dos pobres só gostam deles assim.»

«Os amigos dos pobres» por Alberto Gonçalves do DN

Se me for permitido puxar a brasa à sardinha do (Im)pertinência, acrescento leia-se também a série de posts sobre o mito «os socialistas são amigos dos pobres».


SERVIÇO PÚBLICO: O acordo do Eurogrupo com o governo Tsipras-Yanis explicado às criancinhas (2)

Há várias maneiras de perceber em que consistiu o acordo de 6.ª feira passada do Eurogrupo com o governo Tsipras-Yanis, mas nenhuma delas consiste em ler o que sobre esse acordo escreveu o jornalismo de causas nos mídia portugueses. Uma maneira possível é ler este post. Outra é ler o que escreveu esta madrugada a Economist no seu Espresso.

Spartan conditions: Greece’s bail-out


«The bail-out extension to which Greece agreed on Friday left several questions unanswered. Not the least was exactly what measures the Greeks would have to take to jump-start economic growth. Today, therefore, Greece will submit to the European Commission, the European Central Bank and the IMF (the institutions formerly known as the “troika”) a list of reforms it intends to pursue in the coming months. These are likely to include crackdowns on tax evasion and corruption; Greece may find pension and labour-market reforms harder. If the institutions are satisfied, up to €7.2 billion ($8.2 billion), the sum remaining in the bail-out kitty, may eventually be disbursed. Under the terms of last week’s deal, though, the final review of Greece’s efforts needed to unlock the funds may not take place until the end of April, which raises a second unanswered question: how will Greece fund itself until then?»

SERVIÇO PÚBLICO: A Irlanda não é Portugal e Portugal não é a Grécia

Evolução dos yields nos últimos 12 meses das OT a 10 anos da Irlanda, Portugal e Grécia (Fonte: Bloomberg)

Lost in translation (227) – there is no such thing as flag carrier (III)

Continuação de (I) e (II)
«A TAP pouco contribuiu para o crescimento do Algarve, Madeira ou Porto. Temos de agradecer às companhias Low cost, que foram os grandes salvadores do turismo
Entrevista ao Expresso de Dionísio Pestana, presidente do grupo Pestana, o maior grupo hoteleiro português «com 6.335 unidades de alojamento, 12.980 camas e 59 empreendimentos turísticos... aproximadamente o dobro de unidades de alojamento do segundo classificado» (fonte).

22/02/2015

QUEM SÓ TEM UM MARTELO VÊ TODOS OS PROBLEMAS COMO PREGOS: O alívio quantitativo aliviará? (18) Unintended consequences (II)

Outras marteladas.

É inegável que o alívio quantitativo depois de 6 anos de taxas de juro evanescentes e de triliões injectados na economia teve resultados, pelo menos nos Estados Unidos e no Reino Unido. Contudo, é também inegável que alguns desses resultados não são exactamente os resultados que a Fed e o BoE procuravam e são assombrosamente parecidos com os cenários de pré-crise 2008.

Um deles é a volatilidade cambial que aumentou 50% em relação ao ano passado. As perturbações que essa volatilidade pode introduzir no comércio externo é o menor dos problemas comparado com as consequências de uma guerra cambial.

Fonte: The Economist Espresso
Outra consequência indesejada são as bolhas já aqui referidas nos mercados imobiliários e de capitais. Como exemplo das primeiras, leia-se o artigo «Stream of Foreign Wealth Flows to Elite New York Real Estate» no NYT e tenha-se em conta que estudos recentes («The Great Mortgaging: Housing Finance, Crises, and Business Cycles» citado pela Economist) mostram que a parte do crédito para compra de habitação tem vindo crescer e absorve hoje a maior parte do crédito bancário disponível para as empresas - «far from channelling money to companies, modern banks resemble “real-estate funds”, the authors claim, in which long-term mortgage lending is funded by short-term borrowing from the public».

Quanto às bolsas, em particular as bolsas americanas, os PER (price-to-earning ratio) atingiram valores insustentáveis e, de facto, não sustentados pelo fraco crescimento dos lucros em 2014. Recordem-se, uma vez mais, os diagramas seguintes.

Fonte: The Economist 
Aditivada pela impressora da Fed, a economia americana cresce a cavalo do consumo e está a ser o principal motor da economia mundial. Em consequência, o défice comercial americano excluindo combustíveis (cuja importação tem diminuído devido ao aumento da produção interna pelo fracking) cresce desde 2009 aproximando-se perigosamente dos níveis anteriores à crise (ver «The unbalanced global economy - American shopper»).

Não admira, por isso, que o número de cépticos do alívio quantitativo aumente cada dia. Um dos últimos foi Guan Jianzhong da agência de rating chinesa Dagong que prevê «uma nova crise financeira mundial nos próximos anos… é difícil dizer exactamente quando pode acontecer, mas todos os sinais de alerta estão presentes: volume crescente de dívidas e um progresso económico instável das economias nos EUA, Europa, China e outros países em desenvolvimento».

Depois não se diga que não fomos avisados.

Encalhados numa ruga do contínuo espaço-tempo (30) – Os primórdios do Nanny State

Quando o noivo era escolhido pelo ministério da Inducação Nacional não havia divórcios. Agora que a coisa ficou a cargo exclusivamente das noivas veja-se o resultado.

Enviado por JB

21/02/2015

SERVIÇO PÚBLICO: O acordo do Eurogrupo com o governo Tsipras-Yanis explicado às criancinhas

De uma forma muito sintética, o acordo consistiu em: acordamos continuar a tentar chegar a acordo ou para usar a descrição do Negócios:
«Mais empréstimos? Sim, mas a Grécia ainda tem de explicar como os quer usar e a troika tem de concordar. Há espaço para mudar políticas? Se encaixarem no actual programa, sim. Há flexibilidade orçamental? Só para acomodar menor crescimento. Quando chega mais dinheiro? Talvez só em Maio. E o que está reservado para os bancos, pode pagar salários? Não, e vai sair de Atenas
Ou, ainda, explicado em europês:
«The Eurogroup notes, in the framework of the existing arrangement, the request from the Greek authorities for an extension of the Master Financial Assistance Facility Agreement (MFFA), which is underpinned by a set of commitments. The purpose of the extension is the successful completion of the review on the basis of the conditions in the current arrangement, making best use of the given flexibility which will be considered jointly with the Greek authorities and the institutions. This extension would also bridge the time for discussions on a possible follow-up arrangement between the Eurogroup, the institutions and Greece
A grande conquista do duo Alexis-Yanis foi a substituição do nome «troika» por «TTMTIFCT» (that thing made up of three institutions formerly called troika). Só por isso, esta conquista permitirá ao governo Tsipras-Anel continuar o seu trabalho de agit-prop iludindo patetas, os quais infelizmente parecem constituir um fracção significativa dos gregos.

A defesa dos centros de decisão nacional (11) – Unintended consequences (II)

[Continuação de (1), (2), (3), (4), (5), (6), (7),  (8), (9) e (10)]


Recapitulando: a coisa começou com um Manifesto dos 40, seguido pouco depois pelo Compromisso Portugal, fóruns de empresários e gestores que defendiam a manutenção no rectângulo dos chamados centros de decisão nacional. Vários dos que juraram correram a vender os seus anéis na primeira oportunidade.

Com a OPA do CaixaBank sobre o BPI, a que se seguirá provavelmente a compra do Novo Banco pelo BPI, já maioritariamente espanhol, cumpre-se mais uma etapa desta tragicomédia da defesa dos centros de decisão nacional. Ao mesmo tempo, se assim for, a banca espanhola passará a controlar quase metade do mercado português e La Caixa ganhará dimensão para competir com os outros grandes bancos espanhóis e ganhar novos mercados.

Poderia ser de outra maneira? Não, não poderia. Para manter os benditos centros de decisão nacional, os empresários, os bancos, as famílias, enfim o país, não poderiam estar afundados em dívidas como estão. E para toda essa gente não estar afundada em dívidas teria começado por ser indispensável, entre muitas outras coisas, não ter acreditado nas tretas do ministro anexo Vítor Constâncio que na sua famosa declaração Mississipi garantiu aos papalvos que o resultado dos défices externos crónicos e do consequente endividamento seria para um país integrando a Zona Euro - que está a milhas de ser uma zona monetária óptima - o mesmo do que para um dos Estados Unidos.

20/02/2015

TIROU-ME AS PALAVRAS DA BOCA: Somos inimputáveis? A esquerda quer colocar-nos no jardim infantil

«De facto, entre os mais impressionantes resultados da crise está esta espécie de infantilização dos países em dificuldades: não há políticas historicamente erradas, nem governos responsáveis pelo endividamento excessivo, nem eleitorados que tenham dado os seus votos a maus partidos – há apenas pobres vítimas de tenebrosos esquemas neoliberais. Para quê darmo-nos ao trabalho de assumir os erros, se podemos inventar tão bonitas teorias da conspiração? Para a esquerda europeia pró-Syriza, é como se a Alemanha e os seus bancos andassem a preparar um assalto aos países da periferia desde tempos imemoriais.

... Se não queremos ser caricaturados e simplificados, seja na Grécia ou em Portugal, convinha começar por acabar de vez com um discurso de tal forma desculpabilizador que nos transforma a todos em cidadãos inimputáveis. Se é esse o caminho único para a salvação da Europa, por favor, deixem-me circular em contramão.
»

«A infantilização de um país», João Miguel Tavares no Público

Lost in translation (226) – O Blasfémias não compreende o socialês dos Costas

Helena Matos cita ironicamente o Público:
«À esquerda e à direita, os deputados perguntaram pelas propostas do PS, mas Alberto Costa disse não querer “perturbar a avaliação” dos eleitores e remeteu a apresentação de ideias para mais tarde
Por coincidência, 3 posts antes João Miranda explica uma proposta recente de António Costa:
«Actualmente é possível obter um visto gold em Portugal investindo 500 mil euros. O investidor recebe o visto e usufrui do seu investimento. Se comprar uma casa pode usufruir dessa casa ou do rendimento dessa casa. Se abrir um negócio pode gerir esse negócio e usufruir dos rendimentos desse negócio. António Costa propõe-se atrair investidores com os vistos gold para que o investimento reverta para um fundo a gerir pelo IAPMEI. O fundo seria usado para recapitalizar empresas endividadas. Portanto, em troca de um visto gold o investidor estrangeiro terá o privilégio de ver o seu dinheiro gerido por um fundo que investe em empresas endividadas. Não é claro se o investidor estrangeiro poderá alguma vez reaver o dinheiro nem em que condições.»
Que mais será preciso para justificar a preocupação de Alberto Costa de não apresentar propostas para não «perturbar a avaliação» dos eleitores?

19/02/2015

SERVIÇO PÚBLICO: A Grécia pela manhã

The Economist Espresso

«Today the new Greek government will present the rest of the euro zone with a request to extend its second bail-out, which is due to expire on February 28th, by four to six months. Greece is in trouble: it cannot fund itself on the markets, its banks are haemorrhaging deposits and tax revenues are drying up. But European officials have not been satisfied by previous Greek proposals, which sought funds but rejected many of the reform and austerity conditions attached to the bail-out. If today’s offer contains more concessions, the zone’s finance ministers may meet tomorrow to discuss it. But even if an extension is agreed, it will only buy time to negotiate a long-term solution to Greece’s funding needs. Given the cognitive gap between Greece and its creditors, those talks could make the past few weeks look like a cakewalk

Expresso Curto

«Na guerra de palavras a Grécia diz que não é um prolongamento do atual programa mas apenas do financiamento. Os países do Euro dizem que é a mesma coisa. Pelo caminho a Grécia parece cada vez mais encurralada na sua própria armadilha.

O BCE prolongou a linha de emergência de liquidez aos bancos gregos em mais 3,3 mil milhões, por 15 dias. Mas o banco central grego queria 10 mil milhões. Um sinal de que a situação dos bancos gregos está cada vez mais difícil. A JP Morgan estima que os bancos estejam a perder cerca de 2 mil milhões de euros por semana em depósitos.

Esta parece se a grande questão neste momento: com as previsões económicas em queda (Fitch cortou, outra vez, perspetivas de crescimento para 1,5%) já começam as especulações em quanto tempo vai a Grécia ficar sem dinheiro?

Entretanto Alexis Tsipras triunfou onde o seu antecessor tinha falhado e conseguiu eleger um novo presidente grego. Prokopis Pavlopoulos, ex-ministro num governo do partido Nova Democracia, começa a sua presidência envolto em polémica ao ser acusado de ter arranjado emprego na administração pública para milhares de amigos e simpatizantes do seu partido entre 2004 e 2009.»

Observador

«São 18 ministros das finanças sentados com um economista-académico radical e funky, que nunca tinha estado num Governo antes», diz um engravatado qualquer a respeito de Yanis Varoufakis, o «marxista errático», segundo ele próprio. É caso para dizer que neste caso o estilo não ajuda a substância (ver aqui uma interessante descrição de algumas das irritantes excentricidades de 'o' Yanus,

Dúvidas (78) - Costa com «obra feita» em Lisboa. Amanhã em Portugal? (6)

Outras obras feitas de Costa.

Prenunciando o que poderá vir a fazer se os eleitores distraidamente o colocarem em S. Bento, António Costa deixou uma bela herança na CML. Como foi noticiado a semana passada, das novas tarifas de saneamento e de resíduos urbanos vai resultar um aumento de 150% de 29,2 milhões em 2014 para 74,4 milhões em 2015, em cima de um acréscimo de 2,6 milhões da derrama (a parte que as Finanças entregam à câmara de Lisboa como adicional ao IRC das empresas sedeadas em Lisboa, valor não encontra paralelo em qualquer outra autarquia). No total, o orçamento de 2015 prevê 290 milhões de impostos directos, mais 27,3 milhões (9,4%) do que 2014.

Entretanto, a CML vai perdoar ao Benfica uma dívida de 1,8 milhões ao Benfica e legalizar edifícios ilegalmente construídos.

Confrontado com o aumento das taxas municipais, António Costa que continua a fazer de líder do PS ao mesmo tempo que, pelo sim pelo não, mantém a cadeira quente na praça do Município, aparece a fazer inaugurações (desta vez a ponte sobre a 2.ª circular) e a dar boas notícias, como um desconto de 15% na taxa de resíduos urbanos aos restaurantes e hotéis.

LASCIATE OGNI SPERANZA, VOI CH'ENTRATE: Respeitai o luto da esquerdalhada

Os últimos meses não têm trazido boas notícias para a esquerdalhada doméstica.

É a vaga de fundo que tarda em empurrar para S. Bento o ungido, que apresenta sondagens que teriam servido para humilhar o Calimero Seguro se ele ainda por aí andasse.

É o salvífico candidato a Belém que tarda em aparecer.

São os diktats do esquerdismo infantil desengravatado do Syriza coligado com o direitismo senil do Anel que tardam em impressionar os dirigentes europeus engravatados.

E é agora a confirmação, se precisa fosse, de mais uma traição do PS francês, que não tardou, pela mão de Hollande e Manuel Valls ao retirarem do parlamento para votação o pacote de reformas de liberalização económica que vai ser aprovado hoje (quinta-feira) pelo governo francês.

Decididamente, os amanhãs tardam em cantar.

18/02/2015

Chávez & Chávez, Sucessores (28) – HSBC, banco do socialismo chávista

Clicar para ampliar
«No período em que o reeleito presidente Hugo Chávez se declarava socialista e aumentava seu programa de nacionalizações, entre 2005 e 2007, o Governo da Venezuela mantinha depósitos no valor de 12 bilhões de dólares (33,2 bilhões de reais, pelo câmbio atual) em quatro contas do HSBC Private Banking na Suíça, já na época questionado por sua opacidade e por dar cobertura a sonegadores de impostos. A informação consta na chamada Lista Falciani, a relação de clientes da filial suíça do HSBC que o especialista em informática Hervé Falciani obteve em 2010 e que agora foi revelada graças a uma investigação jornalística internacional, liderada pelos jornais Le Monde e The Guardian, numa parceria com o Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos, que conta com a participação de 140 repórteres de 45 países.» (El País do Brasil, via Com jornalismo assim, quem precisa de censura?)

Será o entranhado desvelo com que o jornalismo de causas vê o socialismo chávista que explica os nossos mídia (com excepção do Observador) terem ignorado uma notícia com mais de uma semana?

E, por falar nas realizações da revolução socialista versão chávista, vejam-se os diagramas aqui ao lado e leia-se o ponto de situação da Economist: «The revolution at bay».

SERVIÇO PÚBLICO: Alguns factos e opiniões desalinhadas sobre o resgate da Grécia


«A realidade tem sempre o problema de estragar algumas supostas boas ideias revolucionárias. Uma delas é a pequena utopia de que um eleitorado de 10 milhões de habitantes de um país que tem a evasão fiscal e a pequena corrupção bem impregnada no seu dia-a-dia iria mudar o rumo político da União Europeia. Outra, que é a versão da mesma moeda, é a fantasia de que um país que já vai no segundo programa de resgate financeiro sem cumprir acordos básicos poderia convencer os seus credores a perdoarem boa parte da sua dívida. A Grécia, que já teve direito a privilégios que Portugal e a Irlanda não tiveram, virou-se para a extrema-esquerda para pressionar a Europa mas teve um choque frontal com a dura realidade: não há almoços grátis.

Ontem o Eurogrupo mostrou aos gregos que o seu voto não tem mais valor do que os votos dos restantes países europeus. Um país não vale mais do que 18 – é uma aritmética simples que escapa ao raciocínio dos revolucionários amigos do Syriza. Muito menos quando a Grécia suspendeu uma avaliação da troika e quer cometer a pequena loucura de recusar a próxima tranche quando fica sem dinheiro daqui a 15 dias.»

Luís Rosa no Jornal i

«Com os seus mercados tradicionais a crescer e os salários fortemente reduzidos, as exportações gregas não crescem.

Em preços constantes de 2010, em 2008 as exportações da Grécia eram de 58,9 biliões de euros e as portuguesas 54,7 biliões de euros. Em 2014 as posições estão invertidas: as gregas são 55,8 biliões de euros e as portuguesas 65,5 biliões de euros. Por todo o lado (veja-se a tabela anexa) as exportações estão, após o tombo pós-crise, em franca recuperação. A Grécia é das poucas excepções.

De facto, as reformas estruturais desenhadas no papel pela Troika não foram implementadas. Continuam as dificuldades burocráticas nas exportações. O controlo do Estado e das corporações parasitárias sobre a economia continua forte, em particular as restrições no mercado de produtos que se estendem à exportação. Apesar da elevada despesa pública, não conseguiram construir um Estado social decente. Por exemplo, ainda andam às voltas para implementar o elementar rendimento mínimo.

O problema grego não está na governança das instituições europeias, mas na grega.

As facilidades obtidas pelo governo grego, em tão elevado montante e durante tanto tempo, justificariam outros resultados, tanto no plano económico como no social.»

Avelino de Jesus, professor do ISEG, no Jornal de Negócios

«Uma diferença fundamental reside nos fundamentos económicos. Ao longo dos últimos dois anos, outros países periféricos da Zona Euro têm provado a sua capacidade de ajustamento, ao reduzirem os seus défices orçamentais, aumentarem as exportações e registarem excedentes em conta corrente, negando, assim, a necessidade de financiamento. Na verdade, a Grécia é o único país que tem constantemente arrastado os pés sobre as reformas e registado um péssimo desempenho ao nível das exportações.

Na verdade, as exigências do governo grego baseiam-se num mal-entendido. Para começar, o Syriza e outros argumentam que a dívida pública da Grécia, de 170% do PIB, é insustentável e deve ser cortado. Dado que a dívida oficial do país constitui a maior parte da sua dívida pública global, o governo quer vê-la reduzida.

Contudo, os credores oficiais da Grécia concederam-lhe períodos de carência bastante longos e taxas de juros bastante baixas, pelo que o encargo é suportável. A Grécia gasta menos com o serviço da dívida do que a Itália ou a Irlanda, sendo que ambos os países têm rácios (brutos) da dívida em relação ao PIB muito mais baixos. Com os pagamentos da dívida externa da Grécia a representar apenas 1,5% do PIB, o serviço da dívida não é o problema do país.

O custo relativamente baixo do serviço da dívida também anula as justificações do Syriza para apelar ao fim da austeridade. O último programa de resgate da "troika" (Fundo Monetário Internacional, BCE e Comissão Europeia), iniciado em 2010, prevê um excedente primário (que exclui o pagamento de juros) de 4% do PIB este ano. Isso seria um pouco mais do que o necessário para cobrir os pagamentos de juros, o que permitiria à Grécia começar finalmente a reduzir a sua dívida.»

Daniel Gros do Centro de Estudos Políticos Europeus, no Jornal de Negócios

Pro memoria (224) – A crédito

O Eurogrupo prescindiu da cláusula pari passu e aceitou o reembolso antecipado da parte do empréstimo do FMI que poderá ser pago com emissões possíveis actualmente a taxas mais baixas, o que permitirá poupar pelo menos 500 milhões de euros. Já agora, recordemos a inevitabilidade de um novo resgate segundo os oráculos amplificados pelo jornalismo de causas nos anos de 2012 e 2013.

Segundo os números da Direcção-Geral da Administração e do Emprego Público, «a 31 de dezembro de 2014, o emprego no sector das administrações públicas situava-se em 655 620 postos de trabalho, revelando uma quebra global de 2,7 % em termos homólogos (menos 18 474 postos de trabalho) e de 9,8 % face a 31 de dezembro de 2011 (menos 71 365 postos de trabalho).». Não havendo evidência de que a eficácia do aparelho do Estado gerido por este governo seja pior do que o gerido pelo anterior temos de concluir que a sua eficiência aumentou quase 10%.

17/02/2015

Ressabiados do regime (14) – «O seu ódio ao Governo é ligeiramente superior ao seu amor a Portugal»

«Mas como há por aí muita gente que não gosta que a realidade se intrometa no meio das suas convicções, boa parte dos dinamizadores do famoso Manifesto dos 74 – de Bagão Félix a Pacheco Pereira, de Freitas do Amaral a Carvalho da Silva, de Ferro Rodrigues a Francisco Louçã – decidiu voltar a juntar-se para mais um espectacular abaixo-assinado, desta vez aconselhando a pátria a ser mais solidária com a Grécia. Portugal anda há cinco anos a tentar fugir desse barco – os 74 insistem em empurrar-nos lá para dentro. Como gesto patriótico, diria que é coxo e desinteligente, mas a verdade é que estamos a falar das mesmas pessoas que em Março de 2014 – dois meses antes do final do programa de ajustamento – acharam que era a altura ideal para informar o mundo de que a dívida pública portuguesa era insustentável e teria de ser reestruturada. 

O problema de boa parte dos referidos signatários é que o seu ódio ao Governo é ligeiramente superior ao seu amor a Portugal – e por isso insistem numa colagem política que dá imenso jeito às suas teses, mas não dá jeito algum ao país, sobretudo numa altura em que a possibilidade de a Grécia sair do euro é uma hipótese que ganha cada vez mais força. Basta, aliás, ler os jornais para verificar que a Irlanda está a criticar os gregos e a estratégia do Syriza com a mesma intensidade que Portugal. É evidente que os países que foram intervencionados, e cujas contas públicas ainda se encontram fragilizadas, têm todo o interesse em aumentar o fosso que os separa da Grécia – não em diminuí-lo. A razão é absolutamente óbvia: se a Grécia sair do euro, eles não querem ser os próximos

João Miguel Tavares no Público

CASE STUDY: A atracção por Belém - a lista dos que não se excluem não pára de crescer (5)

Outras atracções.


Da última vez a lista já tinha 13-criaturas-13:
  • António Sampaio da Nóvoa, uma invenção de Mário Soares, pode ser descartada a todo o momento 
  • Santana Lopes, estava escrito nas estrelas, já se chegou à frente e ao contrário dos outros não esperou pela vaga de fundo - espera que a vaga de fundo vá atrás dele 
  • António Capucho, já se mostrou disponível e para não haver dúvidas declarou que votará no PS
  • Francisco Louçã, o tele-evangelista, não se excluiu 
  • Durão Barroso, nega, mas não resistiria a uma vaga de fundo 
  • António Guterres, diz que está livre 
  • Marcelo Rebelo de Sousa, só será candidato se Cristo descer à terra, mas como já desceu uma vez... 
  • Rui Rio admite candidatar-se se houver «muita gente que desejava mesmo e deposita muita confiança em mim», ou seja espera a famosa vaga de fundo
  • Bagão Félix, um socialista do CDS 
  • Carlos César, um socialista do PS 
  • Jaime Gama, um dos socialistas menos socialista do PS 
  • Carvalho da Silva, um dos ex-comunistas mais socialista e outra das reservas de Mário Soares
  • Marinho e Pinto, um cata ventos socialistas ou outros.
Dessa lista talvez tenhamos de retirar Durão Barroso e António Guterres - depois de uma década a respirar ares de civilização hesitam a respirar o mofo de Belém.

Entretanto, nos últimos dias surgiram mais duas candidaturas:
  • Manuela Ferreira Leite, proposta por Pedro Adão e Silva, um guru de António Costa, como uma candidata do socialismo orgânico de evolução na continuidade 
  • Paulo Morais, proposta por si próprio como um candidato do Norte orgânico alternativo a Rui Rio.

QUEM SÓ TEM UM MARTELO VÊ TODOS OS PROBLEMAS COMO PREGOS: O alívio quantitativo aliviará? (17) – Aliviar, alivia, de momento alivia o crescimento no Japão (III)

Outras marteladas. Continuação de (I) e (II)

Fonte: The Economist Espresso
A Abenomics e em particular a bazuca do quantitative easing de Abe não parecem estar a ter o sucesso esperado. Segundo a Bloomberg: «The economy shrank 6.7 percent in the three months after Abe increased the sales tax in April, and dropped 2.3 percent in the third quarter, according to Monday’s revised data. Taken for 2014 as a whole, GDP came to a standstill after two years of expansion, reflecting the blow from the tax hike as the government tries to contain the world’s heaviest debt burden.»

16/02/2015

Dúvidas (77) - Terá o jornalista de causas adivinhado o pensamento de Wolfgang Schauble?

Recuperando a sua melhor tradição de manipulação dos tempos do salazarismo e dos tempos do PREC, o Diário de Notícias, agora sob a presidência do Dr. Proença de Carvalho, uma espécie de Mefistófeles do regime, a uma notícia onde cita Wolfgang Schauble que disse que os gregos «elegeram um governo que de momento se comporta de maneira bastante irresponsável» pespegou-lhe o título
«Ministro alemão lamenta que gregos tenham elegido governo de "forma irresponsável"»

Exemplos do costume (27) – A solidariedade dos caloteiros

Homenagem do (Im)pertinências ao
Bokassa da Ilhas (Jaime Gama dixit)
«Hoje estou numa atitude de protesto e de solidariedade. Trouxe um chapéu grego para exprimir a minha solidariedade com o Syriza, por isso, levanto a minha voz: não pagamos, não pagamos!» Alberto João Jardim falando aos jornalistas no último desfile de Carnaval da Madeira a que assistiu como chefe do Governo regional. (Expresso Curto)

ACREDITE SE QUISER: Uma Europa refém do esquerdismo vitimizante

Existe um país na Zona Euro, com uma dívida superior a 175% do seu PIB (Portugal 130%), com uma notação de «lixo» de todas as agências de rating, país a quem em Abril de 2012 já foi perdoada mais de metade (53,5% ou 100 mil milhões) da sua dívida de então, e posteriormente em Dezembro desse ano feita uma recompra de dívida que a reduziu em mais 20,6 mil milhões.

Essa dívida, actualmente de 317 mil milhões, dos quais 2/3 detidos pelo European Financial Stability Facility com uma maturidade média de mais de 30 anos, tem nos mercados das obrigações a 10 anos um yield de 9,3% (Portugal 2,4%), mas paga em média juros de 2,3%, inferiores aos de Portugal (3,9%) e até Alemanha (2,4%) – ou melhor pagaria se não tivesse uma moratória de 10 anos para os juros.

Fonte; The Economist Espresso
A maior parte dessa dívida tem ainda uma moratória de 10 anos para amortizações, o que lhe dá para a totalidade uma maturidade média de 16,5 anos dupla da Alemanha e da Itália (Portugal 12,5 anos) .

Esse país – a Grécia - tem uma carga fiscal total de 38,1% do PIB, inferior à média da Zona Euro (41,6%) e da Alemanha (39,7%) e estima-se que tenha a maior evasão fiscal de toda a EU.  Quanto ao peso dos juros no PIB, veja-se no diagrama seguinte a sua leveza comparativamente com outros países,

(Fontes: Economist e  «Greece’s debt pile: is it really unsustainable?», FT)

Esse país teve eleições recentemente que deram a vitória ao Syriza, uma frente de trotskistas, maoístas e esquerdistas sortidos, que com 36,3% dos votos expressos e 22,7% dos votos possíveis obteve 49,7% dos deputados, graças a um bónus de 50 lugares para o partido mais votado, bónus ao qual o Syriza sempre se opôs, até dele beneficiar. No dia seguinte às eleições, o Syriza constituiu governo em coligação com o Anel, um pequeno partido com 13 deputados, de extrema-direita, xenófobo e homofóbico que defende um sistema de educação inspirado na religião ortodoxa. Esse partido em Portugal seria facilmente classificado como fascista – a menos que fizesse uma coligação com o BE, o Syriza doméstico. Em matéria de política externa o actual governo alinhou-se rapidamente com Putin, o czar de todas as Rússias, embora ninguém saiba se isso é mais do que chantagem para extorquir dinheiro à UE.

Entre as primeiras medidas aprovadas encontra-se o aumento para 1,5 vezes o salário mínimo, quase ao nível dos Estados Unidos, electricidade gratuita para mais de cem mil famílias, reposição do 13.º mês para reformas inferiores a 700 euros, readmissão de milhares de funcionário públicos e suspensão das privatizações.

De seguida, o governo grego apresentou o seu caderno reivindicativo aos outros 18 países da Zona Euro, baseado no princípio de que «a Europa tem de respeitar a democracia» o que para este governo significa que os eleitores gregos (ou mais exactamente cerca de 2,5 milhões dos 6,3 milhões de eleitores) devem impor as suas condições aos restantes 315 milhões de habitantes dos países da Zona Euro. Esse caderno reivindicativo, cujo conteúdo foi mudando ao longo dos dias, começou por ser o perdão da dívida, encapotado na sua conversão em obrigações perpétuas, o fim do programa de ajustamento e a «expulsão» da troika, o pagamento pela Alemanha de 162 mil milhões de euros de supostas indemnizações da Segunda Guerra Mundial (ver aqui o delírio histórico desta exigência adicional, em cima de 115 milhões de marcos pagos às vítimas dos nazis na Grécia e à maquinaria pesada enviada para reconstituir a indústria grega), entre outras fantasias «legitimadas» pelas eleições.

Ao contrário do que a retórica interna poderia fazer crer, esses delírios não estão a ter o acolhimento esperado por parte dos países benfeitores. Não obstante, ou talvez por isso mesmo, esses delírios têm sido acolhidos entusiasticamente pelas forças políticas ideologicamente próximas do Syriza e do Anel, ou seja a extrema-esquerda e a extrema-direita – entenda-se sobretudo na Europa do Sul, porque no resto da Europa mesmo os contribuintes com simpatias por essas forças políticas não parecem muito dispostos a pagar as festividades.

Em teoria, é um pouco mais difícil de perceber o entusiasmo de alguns partidos de centro-esquerda como o PS de António Costa e dos mídia, com particular destaque para os domésticos, que elegeram Tsipras e Varoufakis como seus heróis e fizeram deles vedetas mediáticas a um grau de ridículo próximo do culto dos jogadores galácticos de futebol. Em teoria, porque na prática apenas confirma quanto ao PS, ter perdido o norte, agora que percebeu não haver dinheiro para torrar, e, quanto aos mídia, a reconhecida falta de independência e o seu controlo pelo jornalismo de causas.

15/02/2015

AVALIAÇÃO CONTÍNUA: Não se pode confiar nesta gente

Secção Still crazy after all these years


«É um crescimento insuficiente e medíocre. Os resultados são medíocres e são comemorados como se de uma vitória se tratasse. Estes números são maus. Nós não entendemos a euforia do líder parlamentar do PSD», disse Ferro Rodrigues na sexta-feira no parlamento.

O actual líder parlamentar do PS referia-se aos números preliminares do INE que apontam para um crescimento de 0,9% no ano passado, o último ano do Programa de Assistência Económica e Financeira negociado pelo governo socialista em resultado da bancarrota em Maio de 2011 que levou à demissão de José Sócrates e à sua fuga para Paris. Segundo Ferro Rodrigues, durante este período o governo adoptou «políticas de austeridade - penalizadoras e completamente estúpidas do ponto de vista económico e social».

Ferro Rodrigues não explicou porque em vários anos de governação socialista resultou das políticas inteligentíssimas adoptadas um crescimento inferior ao de 2014, segundo ele «insuficiente e medíocre», nem tão pouco explicou como foi possível durante o socratismo o PIB ter decrescido a uma taxa média anual de -0,6%.

(Os períodos atribuídos a cada governo iniciam-se com o primeiro ano civil completo de mandato)

Por isso, não entendo a euforia do líder parlamentar do PS e receio que o défice de memória demonstrado e a extrema dificuldade de lidar com a realidade o inabilitem para o cargo de líder parlamentar, para já não falar de uma eventual pasta ministerial num governo liderado por António Costa.

Por estas e por outras, que não tenho agora tempo nem pachorra de explicar, atribuo-lhe 5 chateaubriands pelas confusões de memória e entre causas e efeitos e 5 bourbons por nada ter aprendido nem esquecido.

14/02/2015

Pro memoria (223) - Não deitemos fora a criança com a água de a lavar

O facto de a frenética eurodeputada Ana Gomes, a pasionaria do Rato, ser uma espécie de metralhadora desgovernada que gasta a sua reduzida pontaria a atirar sobre tudo quanto mexe não nos deve levar a descartar todas as suas actividades bélicas.

O «Tiro ao Portas», como lhe chama a Visão, pode ser que tenha, e tem certamente, várias pistas falsas, mas algumas merecem uma investigação. Por exemplo o «súbito afluxo financeiro que bafejou o CDS, (a) sucessão de 105 depósitos em numerário (no total de 1 060 250 euros) nas contas do CDS-PP, no BES, em dezembro de 2014», dinheiro depositado por personagens fictícias (algumas delas com apurado sentido de humor, como o célebre Jacinto Leite Capelo Rego), cujo rasto leva até aos submarinos.

DIÁRIO DE BORDO: Como o justicialismo degenera (outra vez) em oportunismo e falta de princípios (VIII)


aqui se fez referência a umas trapalhadas de Íñigo Errejón, «um dos fundadores e ideólogos do Podemos e o estratega da campanha que levou Pablo Iglésias e mais quatro ao Parlamento Europeu» e actual secretário político.»

Agora é a vez de outro fundador do Podemos estar envolvido em evasão fiscal. Trata-se de Juan Carlos Monedero que «criou uma empresa instrumental em 2013 para facturar 425.150 euros por trabalhos realizados três anos para os governos de Venezuela, Bolívia, Nicarágua e Equador». (El Mundo via Com jornalismo assim...)

Não é extraordinário um partido disfarçado de objecto político não identificado que vive a apontar o dedo acusador à «descomposición política y moral de las élites tradicionales, con la corrupción» consiga ter os seus dirigentes corrompidos ainda antes de chegarem ao poder?

13/02/2015

Pro memoria (222) – A estória repete-se. Primeiro é melodrama, depois é farsa

«Teria assinado o manifesto (se tivesse tido oportunidade), seguramente, porque estou de acordo com ele», disse José Sócrates na sua homilia semanal no púlpito da RTP no dia 16 de Março do ano passado, a respeito do documento assinado por 70 luminárias propondo a reestruturação da dívida pública.

Menos de um ano depois, o seu sucessor António Costa disse em Bruxelas que também teria assinado a carta aberta (se tivesse tido oportunidade?) de outras 32 luminárias dirigida ao primeiro-ministro para rever a posição sobre a Grécia.

Disse ainda o ungido, «depois de três anos de experiência, há um resultado muito claro: a austeridade fracassou do ponto de vista político e fracassou do ponto de vista económico. Do ponto de vista económico, gerou deflação e gerou desemprego; e do ponto de vista político, só tem vindo a fortalecer os radicalismos

Não chega perdoarmos-lhe por continuar a não perceber não ser a austeridade uma política mas uma espécie de externalidade das políticas socialistas dos governos do seu partido em que ele participou. Teremos também de lhe perdoar não ter percebido que as políticas socialistas de «crescimento» seguidas durante muito mais do que 3 anos fracassaram do ponto de vista económico, geraram uma intensa promiscuidade entre os governos socialistas e as empresas do regime, geraram um crescimento muito abaixo da média europeia e geraram desemprego (não geraram deflação, o que seria o menor dos problemas) e, pior de tudo, levaram o país à bancarrota de onde resultaram os constrangimentos a que chama austeridade e de que tanto se queixa.

É muito perdão para um homem só.

TRIVIALIDADES: Desengravatamento, uma causa fracturante

Enviado por JARF, um notório admirador de ‘o’ Alexis e de ‘o’ Yanis

Nota histórica:

A palavra «gravata» deriva do francês «cravate», uma corruptela da palavra «croate». O trapo que hoje pode custar centenas de euros e compõe as camisas de muitos homens (e algumas mulheres) teve origem num outro trapo usado no pescoço pelos hussardos croatas de um regimento de cavalaria baptizado Royal-Cravates por Luis XIV em 1666.

O trapo foi muito apreciado pelos franceses, espalhou-se mais tarde um pouco por todo o mundo, e podia ser visto nos pescoços de muita gente, incluindo a esquerdalhada. Até recentemente. Morto Che Guevara, caído o muro de Berlim, enfiada na gaveta a ditadura do proletariado, transformado o marxismo no politicamente correcto, substituídos os assaltos aos palácios de Inverno e as guerras de «libertação» pelas causas fracturantes, o radical chic, herdeiro nas sociedades afluentes desse lixo histórico, adicionou o desengravatamento a essas causas.

12/02/2015

Lost in translation (225) – Dito em grego é muito diferente

Alexis Tsipras, ‘o’ Alexis da nossa esquerdalhada, foi citado como tendo dito «a Europa tem de respeitar a democracia e as regras europeias». Lido à letra, à primeira vista, isso já aconteceria uma vez que todos os outros 18 países da Zona Euro concordam em discordar das soluções gregas que consistem essencialmente em responsabilizar os contribuintes desses outros países pelos despautérios do povo grego e as trafulhices dos seus políticos.

Em consequência, só pode haver um erro de tradução. Em grego ele terá dito «Ευρώπη πρέπει να σέβονται τη δημοκρατία μας και θα πρέπει να ακολουθούν τους κανόνες μας» e isso, sim, fará sentido, e toda a gente percebe. Só não percebem os outros 18 que estão a fugir com o rabo à seringa.

ACREDITE SE QUISER: Estavam os dois de preto, ele com a fralda de fora e ela de cabedal

«Ele chegou de blazer e calças pretas, com um cachecol com o padrão da conhecida marca Burberry ao pescoço e com uma já vista camisa azul clara aos quadradinhos. Apenas um botão aberto e, claro, com as fraldas fora das calças.
Ela esperava-o toda de preto e de cabedal. Um casaco de pele, num estilo pop/rock, e uma singela jóia aparentemente de ouro ao pescoço faziam-na destoar de um grupo de homens de fato e gravata. Ela brilhava entre eles como uma estrela numa noite escura.
Quando ele e ela se encontraram, cumprimentaram-se, sorriram muito, trocaram olhares... Chegaram mesmo a quase encostar as cabeças num gesto mais ousado.
... começou bem, de forma fofinha entre ele e ela. Com ambos rendidos um ao outro, perdidos entre sorrisos e olhares cúmplices.»
De onde foi retirado este excerto?
  • «As cinquenta sombras de Grey» de E. L. James 
  • «Solo me quedas tu» de Corin Tellado 
  • Script do episódio 321 da temporada 9 de «O sexo e a cidade» 
  • «Adultério» de Paulo Coelho 
  • Outro sítio
Se escolheu «outro sítio» acertou.

QUEM SÓ TEM UM MARTELO VÊ TODOS OS PROBLEMAS COMO PREGOS: O alívio quantitativo aliviará? (16) – O mito da deflação (III)

Outras marteladas.

Quem acredita que a deflação é um problema que compromete fatalmente o crescimento deveria iluminar os cépticos com a explicação do porquê o Brasil governado pelo PT vai no 6.º trimestre consecutivo com o crescimento a desacelerar e no 3.º trimestre em recessão, ao mesmo tempo que mostra uma pujante inflação a crescer há 4 trimestres.

Fonte: The Economist Espresso

E, já agora, se não for pedir muito, poderá explicar também porque a China teve nos últimos 12 meses uma inflação homóloga de apenas 0,8% e baixou pelo 35.º mês consecutivo os preços de produção, apresenta ao mesmo tempo um pujante crescimento na região dos 7-8%.

Lost in translation (224) - Liquidez? Qual liquidez? Verão? Qual Verão?

«O ministro da Economia, Giorgos Stathakis, explicou numa entrevista ao Wall Street Journal que o país estava com menos verbas já que antecipando as eleições muitos gregos atrasaram os pagamentos de impostos (o que acontece sempre em vésperas de votações) e agora esperam ainda para saber o que vai acontecer a vários dos impostos. Stathakis acrescentou mais tarde, no entanto, que o Governo tem um plano para aumentar a colecta e que não espera problemas de liquidez antes do Verão.» (Público)

Fonte: The Economist Espresso