22/02/2015

QUEM SÓ TEM UM MARTELO VÊ TODOS OS PROBLEMAS COMO PREGOS: O alívio quantitativo aliviará? (18) Unintended consequences (II)

Outras marteladas.

É inegável que o alívio quantitativo depois de 6 anos de taxas de juro evanescentes e de triliões injectados na economia teve resultados, pelo menos nos Estados Unidos e no Reino Unido. Contudo, é também inegável que alguns desses resultados não são exactamente os resultados que a Fed e o BoE procuravam e são assombrosamente parecidos com os cenários de pré-crise 2008.

Um deles é a volatilidade cambial que aumentou 50% em relação ao ano passado. As perturbações que essa volatilidade pode introduzir no comércio externo é o menor dos problemas comparado com as consequências de uma guerra cambial.

Fonte: The Economist Espresso
Outra consequência indesejada são as bolhas já aqui referidas nos mercados imobiliários e de capitais. Como exemplo das primeiras, leia-se o artigo «Stream of Foreign Wealth Flows to Elite New York Real Estate» no NYT e tenha-se em conta que estudos recentes («The Great Mortgaging: Housing Finance, Crises, and Business Cycles» citado pela Economist) mostram que a parte do crédito para compra de habitação tem vindo crescer e absorve hoje a maior parte do crédito bancário disponível para as empresas - «far from channelling money to companies, modern banks resemble “real-estate funds”, the authors claim, in which long-term mortgage lending is funded by short-term borrowing from the public».

Quanto às bolsas, em particular as bolsas americanas, os PER (price-to-earning ratio) atingiram valores insustentáveis e, de facto, não sustentados pelo fraco crescimento dos lucros em 2014. Recordem-se, uma vez mais, os diagramas seguintes.

Fonte: The Economist 
Aditivada pela impressora da Fed, a economia americana cresce a cavalo do consumo e está a ser o principal motor da economia mundial. Em consequência, o défice comercial americano excluindo combustíveis (cuja importação tem diminuído devido ao aumento da produção interna pelo fracking) cresce desde 2009 aproximando-se perigosamente dos níveis anteriores à crise (ver «The unbalanced global economy - American shopper»).

Não admira, por isso, que o número de cépticos do alívio quantitativo aumente cada dia. Um dos últimos foi Guan Jianzhong da agência de rating chinesa Dagong que prevê «uma nova crise financeira mundial nos próximos anos… é difícil dizer exactamente quando pode acontecer, mas todos os sinais de alerta estão presentes: volume crescente de dívidas e um progresso económico instável das economias nos EUA, Europa, China e outros países em desenvolvimento».

Depois não se diga que não fomos avisados.

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