Ressabiados do regime (14) – «O seu ódio ao Governo é ligeiramente superior ao seu amor a Portugal»
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Mas como há por aí muita gente que não gosta que a realidade se intrometa no meio das suas convicções, boa parte dos dinamizadores do famoso Manifesto dos 74 – de Bagão Félix a Pacheco Pereira, de Freitas do Amaral a Carvalho da Silva, de Ferro Rodrigues a Francisco Louçã – decidiu voltar a juntar-se para mais um espectacular abaixo-assinado, desta vez aconselhando a pátria a ser mais solidária com a Grécia. Portugal anda há cinco anos a tentar fugir desse barco – os 74 insistem em empurrar-nos lá para dentro. Como gesto patriótico, diria que é coxo e desinteligente, mas a verdade é que estamos a falar das mesmas pessoas que em Março de 2014 – dois meses antes do final do programa de ajustamento – acharam que era a altura ideal para informar o mundo de que a dívida pública portuguesa era insustentável e teria de ser reestruturada.
O problema de boa parte dos referidos signatários é que o seu ódio ao Governo é ligeiramente superior ao seu amor a Portugal – e por isso insistem numa colagem política que dá imenso jeito às suas teses, mas não dá jeito algum ao país, sobretudo numa altura em que a possibilidade de a Grécia sair do euro é uma hipótese que ganha cada vez mais força. Basta, aliás, ler os jornais para verificar que a Irlanda está a criticar os gregos e a estratégia do Syriza com a mesma intensidade que Portugal. É evidente que os países que foram intervencionados, e cujas contas públicas ainda se encontram fragilizadas, têm todo o interesse em aumentar o fosso que os separa da Grécia – não em diminuí-lo. A razão é absolutamente óbvia: se a Grécia sair do euro, eles não querem ser os próximos.»
João Miguel Tavares no
Público
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