30/11/2020

Crónica da asfixia da sociedade civil pela Passarola de Costa (61) - Em tempo de vírus (XXXVIII)

Avarias da geringonça e do país seguidas de asfixias

A família socialista é grande e os lugares são poucos

O Dr. Santos Silva, ministro dos NE, parece gostar ainda mais de ajudar a família socialista do que malhar na direita. Segundo o jornal SOL tem estado a nomear para Bruxelas e as embaixadas filhos de figuras socialistas, como Silva Pereira e Lacerda Machado, incluindo uma filha do tudólogo Sousa Tavares, da família por afinidade.

Não consta que o Paddy da Web Summit seja da família, ainda assim, ele é tratado como se fosse. As cláusulas do contrato que permitiriam por força das contingências da pandemia reduzir o pagamento de 11 milhões à empresa do Paddy não foram invocadas. O Dr. Medina que usa a câmara de Lisboa como a rampa de lançamento do PS, que para isso serve pelo menos desde Sampaio, deve ter fica receoso do evento mediático emigrar para outras paragens - o Paddy já anunciou que a Web Summit terá em 2022 uma versão tropical no Brasil.

Temos estes princípios. Se não gostarem temos outros

Como aqui se lembra, «no espaço de um mês, então, António Costa apontou a ruína económica do país como um tempo de aprendizagem linguística, descartou a democracia parlamentar em defesa de um fundo abutre norte-americano e negociou um Orçamento do Estado com a abstenção do Partido Comunista. Como é capaz de tamanho contorcionismo sem lesões morais ou físicas é, para mim, um enigma. Mas talvez a proeza tenha mais que ver com a natureza da plateia do que com as capacidades do artista

Caro Sebastião Bugalho, não desvalorize as comprovadas capacidades plásticas do artista.

Não há vida para além do orçamento

Com a indispensável ajuda da abstenção comunista, paga com o nihil obstat ao congresso, lá foi aprovado o OE2021 depois de votadas mais de mil propostas de alteração, entre elas a «criação de grupo de trabalho para melhoramento do acesso no setor público à Procriação Medicamente Assistida», que foi uma fatia do queijo limiano do Dr. Costa em paga do voto da ex-deputada do PAN.

Dando razão ao adágio que socialistas (e comunistas) nunca assumem a responsabilidade por coisa nenhuma, o Dr. Leão teve uma saída de sendeiro e culpou o PSD pelas coligações negativas que custaram mais de 20 milhões o que, se fosse verdade, seria ridículo porque representaria menos de 0,02% dos 100 mil milhões da despesa orçamentada.

29/11/2020

CASE STUDY: Os erros do passado geram erros no futuro. O fecho da central de Sines é uma sequela das políticas socialistas da energia

«A central a carvão de Sines é a maior e a mais eficiente da Península Ibérica.

Com o custo atual do carvão no mercado internacional, a central de Sines está em condições de produzir eletricidade a menos de 40 euros/MWh.

Mesmo com as taxas de carbono agora aplicadas pelo Governo português, e os novos impostos sobre o carvão, o custo desta eletricidade fica muitíssimo abaixo dos 380 euros/MWh que os consumidores portugueses estão condenados a pagar até 2028 pelos 600 MW de potências fotovoltaicas intermitentes a quem o Governo Sócrates concedeu umas simpáticas FIT – feed-in tariffs.

Assim, é extraordinário que a proprietária desta central, que é a EDP, pretenda encerrá-la já em 2021, e conte para isso com o apoio entusiástico do ministro do Ambiente, Matos Fernandes, e do secretário de Estado da Energia, João Galamba.

Só que as razões pelas quais a EDP quer encerrar Sines, e assim deitar ao lixo centenas de milhões de euros, não têm nada a ver com a competitividade em mercado da respetiva eletricidade.

A EDP quer fechar a central de Sines porque esta tem de enfrentar as FIT concedidas pelo Governo Sócrates a 7000 MW de potências elétricas intermitentes, eólicas e fotovoltaicas, e que têm a capacidade legal de a expulsar do mercado.

Sim, a eletricidade produzida a menos de 40 euros/MWh pode ser expulsa do mercado para o consumidor ser obrigado a pagar 380 euros/MWh de eletricidade produzida através duma FIT duma central fotovoltaica!»

Continue a ler «Da central de Sines ao hidrogénio: um atentado à economia de Portugal» de Clemente Pedro Nunes, professor do IST e especialista em energia, a quem o analfabeto Galamba, em tempos valet de chambre do animal feroz, apelidou de «aldrabão» 

28/11/2020

Ser de esquerda é... (11)

 ... considerar que se um preto, a quem um país com 98% de brancos concedeu a nacionalidade, proclamar «nós temos é que matar o homem branco como sugeria o Fanon. O homem branco que nos trouxe até aqui tem de ser morto (...)  é preciso matar o homem branco, assassino, colonial e racista» isso é uma linguagem simbólica e aceitável, ou mesmo recomendável, e se um branco disser que um preto que faz essa proclamação insulta quem lhe deu abrigo e lhe deve ser retirada a nacionalidade, reenviando-o para o seu país natal onde pode contribuir para fazer sair os outros pretos da miséria a que as suas elites pretas os conduziram, isso é rácismo.

Nota: Em linguagem não contaminada, um indivíduo branco designar como "preto" um indivíduo preto é precisamente o equivalente a um indivíduo preto designar como "branco" um indivíduo branco.

TIROU-ME AS PALAVRAS DA BOCA: Podia estar a referir-se aos berloquistas e ao papagaio-mór do reino. E talvez esteja

«Isso é a legião dos fanáticos que estão certos de serem proprietários da verdade e de encarnarem as forças do Bem – o Bem, por si só, não procura compromisso com o Mal; o Bem procura extinguir o Mal. Os fanáticos, que por definição se sentem investidos de certezas e de verdades absolutas e luminosas, travam um combate sem regras contra as pessoas que têm uma maneira diferente de ver as coisas. Não é um exclusivo português nem seremos o país mais afetado por este fundamentalismo. A sociedade está hoje abaulada por vários fundamentalismos: com os animais, com a educação cívica – apareceu logo gente disposta a rasgar as vestes para defender os valores republicanos, achando que a educação cívica tem algum préstimo no que aos valores democráticos e republicanos diz respeito. Há sempre um pelotão de fanáticos a patrulhar as ruas, as consciências, a lei e as redes sociais. É assim.

(...) mas um político não é eleito para fazer macaquices para a plateia. Se o objetivo de um político é o de colher aplauso unânime então rendeu-se e está a trair o seu mandato. Um político eleito – sobretudo um deputado, mas não só – que viva para o aplauso e para adular os eleitores, e que só pense nisso e que só trabalhe para isso, traiu o seu mandato, as instituições e a República. É apenas uma pessoa que tem um desvio qualquer de personalidade, com uma insegurança e uma necessidade absoluta de aplauso. Não foi para isso que a República foi instituída.»

Sérgio Sousa Pinto em entrevista ao Jornal Económico

27/11/2020

De pé, ó vítimas da fome! De pé, famélicos da terra! Como o capitalismo salvou da fome vítimas do comunismo

O título deste post cita os dois primeiros versos de A Internacional, o hino comunista que a ministra da Saúde, ou do SNS que seria um rótulo mais apropriado, confessou trautear quando está ansiosa. Dado o estado do SNS, há razões para acreditar que a Dr.ª Temido trauteie o hino pelo menos um par de horas por dia.

Talvez não pareça, mas a referência àqueles dois versos ocorre naturalmente quando se sabe do episódio esquecido dos anos 20 da revolução russa relatado por Douglas Smith em «The Russian Job: The Forgotten Story of How America Saved the Soviet Union from Ruin».

«Já devastada por guerras e revoluções, em 1920-22 a Rússia foi atingida por secas e enfrentou uma das piores fomes de todos os tempos na Europa. Foi parcialmente auto-induzida: aterrorizados pelo Exército Vermelho e ameaçados com requisições e execuções, os camponeses russos reduziram drasticamente as terras cultivadas, semeando o mínimo necessário para sua própria sobrevivência.

Consciente de que comida significava poder, Vladimir Lenine abandonou o comunismo de guerra em favor de uma nova política económica que substituiu a requisição por impostos e fez algumas concessões ao capitalismo. Mas era tarde demais. No final de 1921, o vasto território ao longo do Volga sucumbiu à fome e ao canibalismo.

Tendo chegado ao poder com a promessa de fornecer pão e acabar com a guerra, os bolcheviques enfrentaram a perspectiva de serem varridos pela fome. Incapazes de alimentar seu próprio povo, os líderes da revolução proletária voltaram-se para o Ocidente em busca de ajuda. Maxim Gorky, um escritor bolchevique que outrora demonizou o capitalismo americano, apelou a “todo o povo europeu e americano honesto” para “dar pão e remédios”.

Vítimas do comunismo de joelhos e com fome
O apelo atingiu Herbert Hoover, principal fundador da American Relief Administration (ARA). O futuro presidente respondeu não por simpatia pela "tirania assassina" do regime bolchevique, mas pela fé na missão - e capacidade - da América de melhorar o mundo. Se as crianças estavam morrendo de fome, a América era obrigada a aliviar seu sofrimento. “Devemos fazer alguma distinção entre o povo russo e o grupo que tomou o governo”, argumentou Hoover.

A insistência da ARA em ter uma autonomia completa deixou o governo soviético suspeito, assim como a sua promessa de ajudar sem levar em conta "raça, credo ou status social". Afinal, o regime liquidou classes inteiras de cidadãos e nacionalizou não apenas a propriedade privada, mas a vida humana. Ainda assim, dada a escolha entre perder a face ou perder o país, os bolcheviques aceitaram as condições da ARA - enquanto colocavam a operação sob vigilância da polícia secreta.

O livro de Smith não é uma história política, entretanto. É principalmente uma reconstrução das vidas daqueles homens da ARA, muitos deles com histórico militar, que por mais de dois anos e meio assumiram as funções do governo civil na Rússia, alimentando cerca de 10 milhões de pessoas. Na região do Volga, onde os moradores eram levados pela fome a ferver e comer carne humana, a ARA organizou cozinhas e transporte, distribuiu alimentos e reconstruiu hospitais.

A miséria que encontraram na Rússia deixou-os nervosos ao ponto de entrar em colapso e desespero, mas também deu significado às suas carreiras. “É apenas prestando serviço que se pode ser feliz” , escreveu um oficial da ARA. “A ajuda dada pelos americanos nunca pode ser esquecida, e a história de sua gloriosa façanha será contada pelos avós aos seus netos”, disseram-lhes russos gratos.

No entanto, a duplicidade e paranóia do governo soviético assombrou a operação da ARA até o fim. Enquanto os líderes bolcheviques publicamente cobriam os americanos com elogios e agradecimentos, a polícia secreta instruiu as autoridades locais: "Sob nenhuma circunstância haverá grandes demonstrações ou expressões de gratidão feitas em nome do povo." Assim que o trabalho russo foi concluído, as autoridades começaram a apagar toda a memória da ajuda americana.

A edição da Grande Enciclopédia Soviética de 1950 descreveu a ARA como uma frente “para atividades de espionagem e destruição e para apoiar elementos contra-revolucionários”. Os livros didáticos russos modernos mal mencionam o episódio.»

26/11/2020

Dúvidas (294) - Porque se assanha o jornalismo de causas contra a Suécia?

Títulos de algumas das muitas notícias alarmistas recentes sobre a pandemia na Suécia.
Na verdade, como o gráfico seguinte mostra a mortalidade por Covid na Suécia é até das mais moderadas. 

Nos cornos da covid

No fim do dia, o mais importante não é a mortalidade por Covid mas o excesso de mortalidade em relação à média (por exemplo dos últimos 5 anos) que revela a eficácia dos sistemas de saúde, uma vez que é possível manter artificialmente baixa a mortalidade por Covid enquanto o sistema de saúde colapsa, como é o caso português.

Excess mortality during the Coronavirus pandemic (COVID-19)

O segundo diagrama compara esse excesso de mortalidade e, como se pode ver, desde Junho o excesso da Suécia é muito menor do que o de Portugal. 

Então porque se assanha o jornalismo de causas português contra a Suécia? A explicação mais óbvia é que, sendo o jornalismo de causas português esmagadoramente de esquerda, a esquerda aprecia pouco um Estado liberal que respeita a liberdade individual que tem inspirado as medidas do governo sueco contra a pandemia.

25/11/2020

O melhor piloto de F1 ou um cavaleiro sem cavalo é um peão


Os títulos dos jornais são encomiásticos e o desempenho de Lewis Hamilton é considerado superlativo. Será mesmo? Afinal a Fórmula 1 já se corre há 70 anos e no passado houve pilotos como Juan Manuel Fangio, Jim Clark, Jackie Stewart, Alain Prost e outros. E também não podemos ignorar que o piloto é só um componente do sistema, porventura o mais importante, ainda assim, apenas um componente.

Ao pensar nisso, lembrei-me de ter lido há algum tempo o resultado de uma análise estatística dos dados históricos dos Grandes Prémios desde 1950 para estimar a importância relativa do carro e do condutor para o sucesso, usando um modelo matemático, baseado num estudo de Andrew Bell, da Universidade de Sheffield, que converte ordens de chegada em pontos e ajusta essas pontuações com vários factores incluindo o desempenho anterior de outros pilotos na corrida. Em seguida, divide os pontos entre o carro/equipa, os pilotos e todos os outros factores. O diagrama que sintetiza as conclusões mostra que a partir dos anos noventa os carros/equipas tendem a ter mais importância nos resultados, nomeadamente nos seis últimos anos em que a Mercedes se superiorizou claramente a todos as outras escuderias.

Engineers, not racers, are the true drivers of success in motor sport

Corrigida a pontuação com o referido método, o ranking dos pilotos é completamente diferente e no topo lá temos os velhos Fangio, Clark e Prost, e o "fenómeno" desceu para um menos fulgurante sexto lugar.

24/11/2020

Yo no creo en brujas, pero que las hay, las hay

Antes de ir às bruxas, deixem-me dizer-vos que, no meu entender, é perfeitamente legítimo que os empresários e as empresas procurem influenciar as decisões de compra dos seus clientes, sejam eles consumidores, outras empresas ou mesmo o Estado. Os processos de influência é que podem ilegítimos ou mesmo ilegais e frequentemente são-no. Um dos remédios que costuma ser usado nos países menos corruptos é a transparência, por exemplo tornando legal e regulando o lobbying.

Se até num concursozeco a tentação para fintar as regras é grande, imagine-se num negócio que pode envolver facilmente a nível planetário centenas de milhões de euros, mais do que o PIB português - é só fazer as contas, como o Guterres, mais de 7 mil milhões de humanos a multiplicar por umas dezenas de euros que será o mínimo que custará uma vacina para o SARS-COV-2. 

Neste contexto como interpretar as seguintes notícias recentes?

Trump’s Vaccine Chief Has Vast Ties to Drug Industry, Posing Possible Conflicts

US vaccine tsar calls on White House to allow contact with Biden

PR firm hired by UK vaccine tsar linked to Dominic Cummings’ father-in-law 

[Não por acaso estas notícias são provenientes de países onde o quarto poder costuma ter independência em relação aos outros poderes.]

E, por falar em influenciar, devemos acreditar que, desta vez, não está a acontecer a promiscuidade vulgar entre negócios, partidos e aparelho de Estado? Sem falar da campanha permanente nos mídia ampliando e distorcendo os riscos e os efeitos da pandemia, que isso talvez possamos levar à conta do instinto do jornalismo esquerdóide tender a promover qualquer causa que possa justificar uma maior intervenção do Estado.

23/11/2020

Crónica da asfixia da sociedade civil pela Passarola de Costa (60) - Em tempo de vírus (XXXVII)

Avarias da geringonça e do país seguidas de asfixias

O socialismo não foi possível num só país. Será possível numa só cidade?

A semana passada foi de grande afirmação socialista do Dr. Medina, o sucessor preferido pelo Dr. Costa. Na entrevista ao programa Vichyssoise (um grande nome) da Rádio Observador, o Dr. Medina fez duas pesadas ameaças: (1) ilegalização do Chega, contribuindo assim para a promoção do Dr. Ventura, que esfregou as mãos de contente; (2) lançar uma alternativa à UberEats, com o que conseguiria uma de duas coisas, a alegria da UberEats ou a tristeza dos contribuintes que terão de pagar a factura, ou ambas.

Contudo, o Dr. Medina não faz só ameaças. Ele cumpre-as. Por exemplo a Web Summit a propósito da qual irão ser pagos 11 milhões de euros para o Paddy cobrar as inscrições pela módica quantia variando de 219 a 999 euros para um evento virtual sem nenhum impacto na hotelaria e na restauração.

Investimento público, a autoestrada mexicana do PS

Como se pode ler aqui, a estória da autoestrada mexicana é um caso de redução de três faixas estreitas para duas faixas, anunciada como aumento de 50% da largura de cada faixa com apenas redução um terço do seu número, seguida da reposição das três faixas, anunciada como um aumento de 50% do seu número.

Desta vez foi o anúncio pelo Dr. Leão do crescimento homólogo de 36,5% até Outubro do investimento público. E porquê este crescimento milagroso? Ora, porque o crescimento realizado o ano passado foi inferior ao orçamentado e o investimento público «estimado para 2020 é metade do realizado em 2010».

«Estamos preparados»

Depois de 100 mil frascos do antiviral remdesivir comprados por 35 milhões de euros, ficámos a saber que o seu uso foi desaconselhado por peritos da OMS.

Como que a explicar porque razão o excesso de mortalidade em relação à média é três vezes maior do que a mortalidade por Covid, os hospitais de Santa Maria e Pulido Valente anunciaram a suspensão as «atividades não urgentes e não prioritárias» incluindo as cirurgias. E, por falar em excesso de mortalidade, que desde o início da pandemia é de quase 9 mil mortos, quase mais 6 mil do que a média morreram em casa. Guess why.

Quanto à app Stayaway Covid que o Dr. Costa queria tornar obrigatória, na última contagem dos 185 mil infectados, os médicos criaram 9 mil códigos e deste 1.651 foram inseridos pelos "utentes".

O Dr. Centeno do BdP é o que foi o Ronaldo das Finanças?

De uma vez cumprimentou-se pelo seu «trabalho de casa feito», de outra vez ameaçou que «os níveis de dívida tornam proibitivas intervenções massivas nos apoios sociais e à economia», o que, sendo verdade, passa ao lado dele próprio ser um dos maiores responsáveis por esses níveis ao dar prioridade à compra de votos dos funcionários públicos (35 horas, reposições, etc.) em alternativa a reduzir a dívida. Também avisou o governo e em particular o Dr. Pedro Nuno Santos com a sua TAP e a sua CP e o Dr. Galamba com os seus hidrogénios que «devemos evitar a todo o custo apoiar projetos empresariais inviáveis».

A difícil convivência do socialismo com a aritmética

O Dr. Costa dá o exemplo, garantindo que 68% dos contágios são no ambiente familiar quando se concluiu que em mais de 80% dos casos se desconhece a origem do contágio. O ministério da Saúde segue o exemplo e anuncia 477 surtos em escolas quando são apenas 68. Uns e outros, acompanhados em massa por inúmeros jornalistas de causas e luminárias do regime, consideram mais grave o 1/3 de morte por Covid do que os 2/3 do excesso de mortes em que o vírus está inocente mas não o SNS do qual o governo se declara «em defesa, sempre».

Terá o convívio na geringonça com o PCP contaminado o PS com o vírus das nacionalizações?

Se o convívio do socialismo com a aritmética é difícil, o convívio com o comunismo parece mais fácil. Sempre pela mão vanguardista do Dr. Pedro Nuno Santos, primeiro foi a TAP e agora pode seguir-se os CTT. Ele já havia concluído que o «interesse do povo não foi acautelado» e agora o vice-presidente da bancada parlamentar do PS anuncia que o governo está a negociar com o PCP o controlo dos CTT pelo Estado. No lugar do accionista privado, proporia ao Dr. Pedro que ficasse de borla com todo o negócio da distribuição de correio.

Não resisto a usar este exemplo de O Insurgente que compara o Portugal do Dr. Pedro e da sua TAP, a quem proporciona torrar 1,7 mil milhões de euros dos contribuintes, com uma Noruega, com o dobro do PIB per capita e um quarto da dívida pública per capita, cujo governo recusou uma ajuda financeira à Norwegian Air porque «não seria um uso responsável de fundos públicos».

A propósito do Dr. Pedro, uma espécie de berloquista a praticar uma espécie de entrismo, as facções socialistas começam a contar as espingardas em preparação para a sucessão do Dr. Costa o que deve ter inspirado o aviso da líder parlamentar do PS: quem quiser ser da esquerda radical, este não é o partido».

A família socialista tem imenso jeito para o negócio

A relação da grande família socialista com os negócios é outro exemplo de bom convívio. Sendo certo que todos se devem presumir inocentes até se provar a culpa, no caso de uma família com o passado desta seria quase aceitável mudar o paradigma para a presunção de culpa, como caso dos leilões de energia solar em 2019 e 2020 que a Comissão Europeia está a investigar.

22/11/2020

CASE STUDY: Trumpologia (71) - Os advogados do presidente Trump alegam que Biden ganhou as eleições graças às máquinas de votação e ao software de empresas venezuelanas ligadas a George Soros

Mais trumpologia.

Agora é oficial. A equipa jurídica do presidente Trump liderada por Rudy Giuliani apresentou na conferência de imprensa de quinta-feira passada uma abundante argumentação visando provar que as eleições foram fraudulentas. Para evitar distorções dos mídia vendidos a Biden e aos democratas, ou seja toda a imprensa, incluindo a Fox News que já se passou para o campo inimigo, cito a Breitbart, a única fonte reconhecida pela campanha do presidente Trump, que descreveu os nove pontos principais apresentados por Giuliani para fundamentar a fraude eleitoral.

Sem querer diminuir os outros pontos, o número 8 é uma extraordinária alegação, to say the least, que só por si explica os suores de Giuliani:
«As máquinas de votação e software são alegadamente propriedade de empresas com ligações ao regime venezuelano e ao doador de esquerda George Soros.  Sidney Powell argumentou que os votos dos EUA estavam sendo contados no exterior, e que as máquinas de votação Dominion e o software Smartmatic eram controlados por interesses estrangeiros, manipulando algoritmos para alterar os resultados. Powell observou especificamente que os proprietários da Smartmatic incluíam dois cidadãos venezuelanos, que ela alegou terem ligações com o regime de Hugo Chávez e Nicolas Maduro.»

21/11/2020

DIÁRIO DE BORDO: Há 49 anos


Do septeto de Mile Davis fazia parte Keith Jarret, um pianista notável de que estou agora a ouvir Expectations, gravado no ano seguinte, e por isso me lembrei. No quarteto de Ornette Coleman tocava o contrabaixista Charlie Haden, igualmente notável, que a certa altura dedicou uma peça aos movimentos nacionalistas de Angola, Moçambique e Guiné. Seguiu-se a distribuição de panfletos contra a guerra colonial e um grande charivari que a polícia de choque, devidamente apupada pelos espectadores, aproveitou para invadir o pavilhão e distribuir umas cacetadas.

CASE STUDY: Rabo de Peixe ou de como os pandeireiros do socialismo querem manter pobres os pobres

Já estive nos Açores várias vezes, em particular em S. Miguel, mas, que me recorde, nunca em Rabo de Peixe, uma vila agora elevada à categoria de campo de batalha pela esquerdalhada, a pretexto do acordo de incidência parlamentar que viabilizou um governo de direita incluir o Chega.

Fiquei a saber pelo podcast Contra-Corrente de José Manuel Fernandes, conhecedor de Rabo de Peixe, que é a vila de Portugal com maior percentagens de beneficiários do RSI com uma cultura enraizada de subsídio-dependência que se acentuou quando o governo de Guterres criou o RSI. 

De tal modo o RSI agravou o problema que, segundo JMF, no ano seguinte à sua introdução a natalidade em Rabo de Peixe duplicou porque o subsídio dependia também do número de filhos. Entretanto, enquanto a população residente em Portugal se tem mantido praticamente estável com tendência para diminuir, a população de Rabo de Peixe aumentou mais de 30% de 6.652 em 1991 para 8.866 em 2011.

É neste contexto que o acordo abrangendo PSD, CDS, PPM e Chega inclui o seguinte compromisso:

«Os partidos signatários comprometem-se, durante a atual legislatura, a criar condições de desenvolvimento económico, promoção da inclusão social, laboral, de competências pessoais, sociais e profissionais, quebrando o ciclo de pobreza, permitindo reduzir até ao final da legislatura, através da inserção social e laboral, o número de beneficiários do Rendimento Social de Inserção, em idade ativa, com capacidade de trabalho, aumentando a sua colaboração com a comunidade onde estão inseridos e fiscalizando de modo eficiente a sua atribuição, considerando-se para e para o efeito a atual situação económica da região.»

Face a este compromisso que jornalistas de causas e uma parte da comentadoria, verdadeiros pandeireiros do socialismo, instalados na maioria das redacções, anunciaram o fim do mundo, primeiro em Rabo de Peixe, depois nos Açores, e, quem sabe?, em todo o Portugal, reagindo com uivos de indignação e uma campanha de agitprop a uma medida que num país civilizado seria considerada inspirado nos princípios da social-democracia.

Como o cão de Pavlov salivava reagindo à campainha, a esquerdalhada berra reagindo a qualquer tentativa de "acabar com os pobres", porque, tal como Otelo Saraiva de Carvalho - o nosso coronel Tapioca falhado - a esquerda se quer acabar com alguma coisa são os ricos, ricos que na circunstância é uma classe média esmifrada por uma carga fiscal a que, ao contrário dos verdadeiros ricos, não consegue aliviar.

20/11/2020

O Reino Unido também tem um catavento mediático


«A programme to erect statues of Boris in every town and village in the land would also “create jobs” but that doesn’t make it a sensible thing to do.» 
Dominic Lawson on Boris’s plan for a ‘green industrial revolution’. 
«Something strange is going on in Westminster: nearly every minister and Tory MP has a spring in their step. It’s not (just) the vaccine breakthrough, or the magic money tree now bearing such fruit in the back garden of HM Treasury. The liberation-of-Paris feel in locked-down Westminster is inspired by the departure of Boris Johnson’s senior Vote Leave aides, Dominic Cummings and Lee Cain. Tories of all stripes seem to think they will now get what they want. (...)

‘There’s a vacuum so everyone is trying to get their philosophy out,’ explains a Tory MP. Every faction of the party blames their woes on Cummings and most think everything will now be better. But not all people in the party are optimistic. ‘I fear it’s King Charles I,’ says one weary backbencher. ‘We get rid of the Duke of Buckingham and then realise King Charles is the bigger problem.’

There has been no shortage of palace intrigue in No. 10 in recent days. After Cain’s appointment as chief of staff was blocked by figures who included the Prime Minister’s fiancée, Downing Street has seemed more like a comic opera than a place of high office. We have heard about Symonds being nicknamed ‘Princess Nut Nut’, to make fun of her allegedly demanding behaviour and demeanour; and we have heard claims that Cummings oversaw a macho culture of rule by fear. ‘It’s been excruciating,’ says a long-standing No. 10 aide. Now, days before the deadline for a Brexit deal with the EU, Cummings has gone. (...)

 ‘There are no disasters, just opportunities,’ the Prime Minister once said. ‘And, indeed, opportunities for fresh disasters.’ He became leader after the last Tory disaster and hired Cummings to rescue him. Now he just has himself.

Perhaps this is why so many in government now openly discuss who the next leader might be. ‘I’d give him 50/50 of making it to the next election,’ says a senior Tory. Johnson’s grand reset? The jury’s out.»

Boris in a spin: can the PM find his way again?Katy Balls na Spectator

ACREDITE SE QUISER: A comissão de sábios do governo britânico que parece um blogue (fraquito)

O Scientific Advisory Group for Emergencies (SAGE) tem sido o órgão que aconselha o governo britânico na definição da estratégia de resposta à pandemia. Pois bem, acredite-se ou não, hoje a imprensa britânica está cheia de manchetes a denunciar que os membros do SAGE admitiram ter sido o modelo preliminar baseado em números não verificados da Wikipedia. 

Segundo o professor da Universidade de Liverpool Calum Semple, membro do NERVTAG, outro subcomité da SAGE, «muitos de nós leram a literatura para SARS e MERS, mas não havia nenhum especialista em particular que apenas focasse toda a sua vida em coronavírus humanos.» 

Foi desse modelo preliminar que resultaram as previsões em Março de 500 mil mortos (hoje o número acumulado era de 54 mil) bem como a sobrelotação do serviço público de saúde (NHS) que nunca aconteceu. (fonte)

No ponto em que as coisas estão, na melhor hipótese será uma desgarrada entre os amanhãs anunciados que cantarão e o apocalipse antecipado pela Trump News

Se tudo correr mal poderá ser uma espécie de guerra fria civil e o acelerar da decadência da que já foi uma das democracias mais avançadas do planeta e que teve perdedores com a integridade e a coragem de fazer discursos como este:

18/11/2020

Um Rio cada vez mais parecido com um socialista (9) - Podem agradecer-lhe ter criado o Chega e o IL

Outras parecenças.

«Quando Rio chegou a líder do PSD, a sua maior preocupação foi afastar-se da herança de Passos Coelho. Para isso, quis mostrar que o PSD não era um partido de direita. Mas confundiu o apelo a eleitores do centro com uma tentativa de purificação ideológica do partido. Ou seja, quis fazer do PSD um partido apenas “social democrata”, esquecendo que a vocação dos grandes partidos de poder é incluir várias famílias políticas e até militantes com tentações populistas, que existem em todos as famílias políticas. (...)

A questão central não é o PSD ter militantes como Ventura. Como disse, todos os partidos têm populistas e demagogos. Um populista no PSD, ou no CDS, está limitado pelas doutrinas, pela história e pelas heranças ideológicas. Ou seja, os partidos tradicionais servem de limites institucionais às tentações populistas dos seus militantes. O problema é deixar um populista talentoso, como Ventura, à solta a explorar os piores instintos dos eleitores mais insatisfeitos (e há muitos em Portugal). Como mostrou enquanto foi líder do PSD, Passos sabia unir toda a direita. Primeiro, uniu o partido. E depois, uniu o PSD e o CDS. Com ele na liderança do PSD, não teria havido o Chega nem, como diz um amigo meu, a IL. Rio deixou o PSD e a direita dividirem-se. Já terá percebido o erro que cometeu, porque agora sabe que é muito mais difícil lidar com uma direita dividida do que com um partido com várias tendências. (...)

Rui Rio preocupou-se tanto em afastar-se de Passos que permitiu o aparecimento de um partido radical à sua direita. Um dia, no futuro, os historiadores olharão para a segunda década do século XXI como aquela em que um líder moderado, sério e decente, foi afastado para abrir o caminho aos radicais.»

Com Passos, não havia o Chega, João Marques de Almeida no Observador 

Vacinas? É melhor esperarmos deitados

Há dezenas de vacinas Covid-19 nas várias fases de desenvolvimento (50 para ser mais preciso) e só na fase 3 de testes encontramos uma dezena, entre elas as sete seguintes: 

Fonte

Quando foram anunciados os resultados aparentemente promissores das duas vacinas mais avançadas, a BNT162 da Pfizer/BioNTech (anunciada com 90% de eficácia) e a mRNA-1273 (anunciada com 95% de eficácia) da Moderna, os governos, os jornais e as bolsas agitaram-se, e com eles excitaram-se muitos milhões de exemplares do H. s. sapiens, uns suspirando de alívio, outros ruminando teorias da conspiração e uma pequena minoria antecipando ganhos substanciais e, sem se darem conta, alimentando as teorias da conspiração - se alguém ganha dinheiro com isso fica logo completa a trindade do crime: motivo, meios e oportunidade.

Tal como as notícias da morte de Mark Twain, também estas reacções parecem grandemente exageradas a uma criatura portadora de um saudável cepticismo, algo bastante raro, no passado pela fé religiosa e no presente pela devoção às grandes causas que substituíram a religião. Desde logo porque a história das vacinas contra os vírus tem sido uma demonstração de outro pensamento famoso de Winston Churchill: «o sucesso é ir de fracasso em fracasso sem perder o entusiasmo».

Depois, quando se desce ao mundo real, se suspeita estarem a ser usados atalhos nos procedimentos científicos, por exemplo na avaliação do risco dos efeitos secundários, se sabe o caminho que aquelas duas vacinas ainda terão que percorrer, se antecipam as dificuldades para produzir os milhares de milhões de vacinas necessárias, os problemas logísticos para transportar, distribuir e administrar vacinas que precisam de ser mantidas a temperaturas (de -20º a -80º Celsius) que exigem equipamentos especiais, então toda esta excitação parece um poucochinho despropositada, como diria o Dr. Costa se não se sentisse obrigado a contar estórias ao povo.

17/11/2020

O comércio e a política internacionais abominam o vazio. O Novo Império do Meio acaba de o encher

South China Morning Post (*)

Aristóteles dizia que a natureza abomina o vazio, mas poderia dizê-lo igualmente em relação ao comércio e à política internacionais. Criado o vazio com a ordem executiva de Janeiro de 2017 de Donald Trump para os EUA abandonarem a Trans-Pacific Partnership (TPP), o Novo Império do Meio acaba de o preencher.

(*) O South China Morning Post é um jornal de Hong Kong em língua inglesa, propriedade do grupo Alibaba. Não sendo obviamente o órgão oficial do PCC, nele não se escreve nada que o PCC entenda que não deva ser escrito.

16/11/2020

The Woke Sheep Explained

For those who are not familiar with the politically correct newspeak, here is the meaning of "Woke" according to Google:

«Woke (/ˈwoʊk/ WOHK) is a political term originating in the United States referring to a perceived awareness of issues concerning social justice and racial justice. It derives from the African-American Vernacular English expression "stay woke", whose grammatical aspect refers to a continuing awareness of these issues.»

Crónica da asfixia da sociedade civil pela Passarola de Costa (59) - Em tempo de vírus (XXXVI)

Avarias da geringonça e do país seguidas de asfixias

Temos estes princípios. Se não gostarem temos outros

Assinar um pacto para montar um geringonça com um partido comunista que nunca renegou o Gulag nem reconheceu os muitos milhões de vítimas causados pelo regime soviético e os seus satélites e com uma colecção de grupúsculos de inspiração trotskista, maoista e bombista, uns e outros apoiantes de regimes autocráticos como o cubano e o venezuelano, é uma demonstração do pragmatismo do Dr. Costa. Outra demonstração, neste caso de internacional-pragmatismo, é a negociação que o mesmo Dr. Costa fez com o autocrata húngaro Viktor Orban para efeitos do peditório a Bruxelas

Outra coisa completamente diferente é o PSD fazer um acordo parlamentar com o Chega nos Açores que mostra a rendição ao fascismo do Dr. Rio, o ex-putativo vice do Dr. Costa.

Boa Nova

«Não vão faltar vacinas para a gripe», anunciou a Dr.ª Temido, depois de trautear A Internacional.

O choque da realidade com a Boa Nova

Vinte e cinco dias depois do anúncio da Dr.ª Temido, a Dr.ª Graça Freitas veio dizer ser «óbvio (que) algumas pessoas vão ficar sem vacinas» (fonte).

Os anúncios dos aumentos do investimento público são um dos clássicos da governação do Dr. Costa. O truque é um achado: anuncia-se primeiro o aumento do investimento orçamentado comparado com a estimativa do realizado do ano; como o realizado de facto é muito inferior ao orçamentado, no ano seguinte volta a anunciar-se o aumento do investimento orçamentado por comparação com a estimativa do realizado do ano. Infalivelmente, todos os anos são anunciados aumentos, apesar a queda ou estagnação do investimento. Depois de cinco anos a coisa deveria ser evidente, mas pouca gente a vê. Do lado dos socialistas o silêncio absoluto só agora foi quebrado por um dissidente do costismo. Francisco Assis, nomeado recentemente presidente do Conselho Económico e Social, reconheceu no parlamento que o investimento público «estimado para 2020 é metade do realizado em 2010».

Não sei o que seria do Dr. Costa sem S. Ex.ª

Com o queixume do costume, S. Ex.ª promulgou as alterações da lei orgânica do BdP, que «ficaram aquém das expectativas», permitindo o livre trânsito do governo para a administração, trânsito inaugurado pelo Dr. Centeno.

Pro memoria (406) – gone with the wind (republicação e nova actualização)

 Há nove anos publiquei o seguinte post


Ao ler no Expresso a promoção de mais um futuro sucesso das empresas amigas do regime, levo sempre instintivamente a mão à carteira. Desta vez, com honras de uma chamada de meia primeira página do suplemento de Economia e um desenvolvimento noutra página completa, amplamente ilustradas com duas enormes fotos, é o projecto Windfloat da EDP – um gerador eólico Vestas montado numa estrutura sobre uma plataforma flutuante, a ser construída na Lisnave em Setúbal e destinada a ser ancorada ao largo da Póvoa do Varzim. O brinquedo custa 15 milhões segundo o Expresso ou 20 milhões segundo outras versões

Falece-me o tempo e a ciência para escalpelizar as razões da minha suspeição quanto ao sucesso desta inovação e sobretudo à sua viabilidade económica. Direi apenas que este projecto me reavivou a memória do projecto Pelamis, naufragado também ao largo da Póvoa do Varzim, em tempos uma das meninas dos olhos do ex-ministro Pinho (o dos corninhos) e agora enferrujando ao largo de S. Pedro de Moel, salvo erro. 

Por agora, registo para futura verificação. 

Há seis anos fiz o ponto de situação neste outro post:

«Até 2019, o parque eólico flutuante que o consórcio liderado pela EDP quer instalar ao largo de Viana do Castelo tem de estar ligado e a produzir energia de fonte renovável. O risco de falhar o prazo é o de o projecto Windfloat Atlantic, cujo custo estimado ronda os 115 milhões de euros, perder os fundos comunitários de 30 milhões atribuídos em 2012 pelo Programa NER300.» (fonte)

Repare-se o efeito Lockheed Tristar em todo o seu esplendor. Um projecto eventualmente inviável que custaria 15 ou 20 milhões há seis anos custará agora 115 milhões ou seis a oito vezes mais. À maneira habitual, provavelmente irão ser gastos ainda mais do que os 115 milhões para não perder os 30 milhões de fundos comunitários. Foi assim que uma parte significativa dos mais de cem mil milhões de subsídios comunitários pagos extorquidos aos contribuintes europeus, o equivalente a mais de 55% do PIB anual actual, foi delapidada.

Nove anos depois estamos aqui:

O brinquedo, que era para custar 15 ou 20 milhões há nove anos e 115 milhões há seis anos, ficou este ano por 125 milhões, financiados por 60 milhões pelo Banco Europeu de Investimento, por um subsídio de 30 milhões do programa europeu NER 300 e outro de €6 milhões do Fundo Ambiental). Resta dizer que o parque Windfloat disfrutará de um preço garantido de venda de energia de €140/MWh quando o preço atual de mercado está abaixo de €40/MWh. Apesar deste maná que os consumidores de electricidade pagarão, a Windfloat está a dever vários milhões as dezenas de empresas subcontratadas. (fonte)

15/11/2020

O poder da mente ou a espécie humana não suporta muita realidade

O email Checks and Balance de sexta-feira de John Prideaux, o editor americano da Economist, citava vários indicadores interessantes sobre a opinião pública nos EUA. Por exemplo, metade dos americanos declaram que nunca tomará vacina Covid 19, 86% dos republicanos acreditam que a vitória de Biden não foi legítima, um quinto dos democratas e dos republicados pensam que é legítimo usar a violência no caso de vitória do adversário. E citava também o caso das assistências às tomadas de posse de Obama em 2009 e de Trump em 2017 que na época me passou ao lado e por isso em resolvi aprofundar.

Vou descrever sumariamente esse último caso, não porque me interessem em especial os eventos e ainda menos os seus protagonistas em causa, mas porque me interessa sobretudo perceber como funciona a mente humana nos fenómenos políticos.

Fonte

Nas fotos acima comparam-se as audiências nas tomadas de posse de Obama (na esquerda) e de Trump (na direita). Estima-se que essas audiências tenham sido de 1,8 milhões e 800 mil, respectivamente, o que, sem surpresa, não impediu Donald Trump de reclamar que a sua inauguration tinha sido a maior da história.

Surpreendente foram os resultados do estudo de opinião de Brian Schaffner da Tufts e de Samantha Luks do YouGov incidindo sobre 1.388 eleitores. A metade desses eleitores foram-lhes apresentadas as duas fotos perguntando-lhes a qual delas se referia a cada uma das tomadas de posse. Deram respostas erradas 8% dos eleitores de Hillary Clinton, 21% dos eleitores que não votaram e 41% dos eleitores de Donald Trump. 

Ainda mais surpreendente foram as respostas da outra metade da amostra, a quem foram apresentadas e identificadas as fotos, à pergunta de qual das duas tinha mais pessoas. Deram respostas erradas 2% dos eleitores de Hillary Clinton, 3% dos eleitores que não votaram e 15% dos eleitores de Donald Trump, ou seja 1 em cada 7 eleitores de Trump "viu" mais pessoas na foto da posse de Trump.

Aditamento:

Apesar de, como escrevi, não estar de todo interessado no tema em si, mas antes na percepção dos factos enviesada pela ideologia, sempre acrescento que no próprio post do blogue ZeroHedge, citado no comentário de Tiago Rodrigues para contraditar as três fontes que citei, se escreveu a certa altura:

«Was Obama’s audience bigger? Probably, but it’s hard to tell from the photos. I think I can see a hint of white space still showing among Trump’s crowd in the far distance of the third photo … if I put a jeweler’s loop in one eye. I would imagine Obama’s inauguration was better attended because many people waited all their lives to see a Black president, and it took place on a beautiful sunny day. In fact, I would hope it was bigger because it was a major historical milestone. I find it impressive, therefore, that the crowd that gathered to watch the 44th White man to get inaugurated was almost as large as the nation’s first Black presidential inauguration in a city with a large Black population

Também pode ler-se que foram editadas as fotos oficiais da posse de Trump: no Guardian, na Reuters, no FactCheck.org e também pode ver-se este vídeo comparativo da Vox.

Podem igualmente ser lidas milhares de notícias, quase todas concluindo pela manipulação das fotos oficiais e pela menor audiência da posse de Trump.

Por fim, pode ler-se o fact check da Fox New, um jornal que sempre apoiou Trump, que concluiu «Trump overstates crowd size at inaugural».

Para colocar um ponto final neste tema, esclareço que não pretendo convencer ninguém porque não discuto matéria de fé. Pretende apenas confirmar para mim próprio que continuo agnóstico.

14/11/2020

De volta à Covid-19. Colocando a ameaça em perspectiva (45) - A audição da comunidade científica e os impactos da pandemia

Este post faz parte da série De volta à Covid-19. Colocando a ameaça em perspectiva.

A Frontiers, um editor de publicações científicas, promoveu em Maio e Junho um inquérito a 25 mil investigadores questionando-os se os políticos do seu país se aconselharam com a comunidade científica para desenhar as suas estratégias de resposta à pandemia. Os resultados desse inquérito estão representados no gráfico seguinte onde os países estão ordenados por ordem decrescente de audição dos cientistas.

Fontes: Economist  e worldometer

Não deveria ser surpreendente que os dois últimos países Brasil e Estados Unidos são precisamente aqueles em que os respectivos presidentes desvalorizaram o conselho científico e ignoraram os riscos da pandemia para a saúde pública, tratando a pandemia como um problema puramente político.

Ao gráfico acrescentei à direita duas colunas com a ordenação crescente dos 24 países em causa pelos números totais de mortos e de testes positivos por milhão de habitantes. Também não é surpreendente que na maioria dos países com menos mortes e menos infectados a comunidade científica considera que o governo a escutou.

Evidentemente que correlação não é causalidade e, quer a mortalidade, quer a transmissão da pandemia, dependem de inúmeros factores. Com esta reserva, é interessante constatar que os valores das correlações lineares entre as posições no ranking da aceitação do aconselhamento científico e as da mortalidade e das infecções são 0,60 e 0,61, mostrando uma correlação positiva muito significativa.

13/11/2020

Lost in translation (343) - No politiquês do Dr. Siza Vieira, ameaça à democracia é uma ameaça à ocupação do Estado Sucial pelo PS

«Particularmente num contexto em que já percebemos que a alternativa política e partidária que se pode configurar para alternar no poder — se estes três partidos não forem capazes de assegurar uma solução comum — é uma alternativa política que traz para o arco da governação um partido agora surgido que aposta em cavar as barreiras entre a sociedade portuguesa, protagonizando bandeiras, valores e princípios que seguramente o eleitorado que votou nos partidos da solução governativa anterior não se reconhecem e percebem a ameaça que isso constitui à democracia». 

Palavras do Dr. Siza Vieira a «acenar o papão do Chega», à boleia dos Açores, esquecendo que a alternativa política que o seu Chefe Dr. Costa trouxe para o arco da governação incluiu um partido comunista que nunca renegou o Gulap nem reconheceu os muitos milhões de vítimas causados pelo regime soviético e os seus satélites e trouxe ainda outro partido formado por grupúsculos de inspiração trotskista, maoista e bombista, uns e outros apoiantes de regimes autocráticos como o cubano e o venezuelano, e fê-lo percebendo bem a ameaça que isso constitui à democracia. Foi o preço a pagar para ele aceder e permanecer no poder encavalitado na geringonça.

12/11/2020

Ser de esquerda é... (10)

 ... imaginar que os portugueses têm um nível de vida mais baixo do que a média da UE porque têm salários mais baixos e que, em consequência, se aumentarmos os salários ficaremos menos pobres.  

Outros "Ser de esquerda é..."

Ocorreu-me este ser de esquerda esta manhã ao observar a recolocação de duas dúzias de pedras levantadas no passeio da rua onde moro a ser feita, durante quase uma hora, por uma equipa de cinco trabalhadores da câmara, trabalhando à vez, incluindo o motorista de um camião novinho em folha de cem mil euros. Também poderia dar este outro exemplo da mesma câmara de 5 operários e 3 motoristas em três viaturas a fazer uma obra que, com boa vontade, daria para 2 operários e um olheiro.

Estarão os golpes de estado a ficar fora de moda?

Fonte

Segundo o Center for Systemic Peace (CSP), desde o final da II Guerra Mundial tiveram lugar mais de 550 tentativas de golpes de estado e cerca de 200 foram bem sucedidos. Como o gráfico mostra, depois de um pico no final dos anos 70 e princípio dos anos 80, coincidindo com o auge da Guerra Fria, desde o princípio dos anos 90 as tentativas vêm diminuindo. No entanto, enquanto na década de 60 só um quarto dos golpes resultaram em regimes mais autoritários e mais desordem, na segunda década deste século metade dos golpes resultaram em mudanças para regimes mais autoritários, ou mais violência ou desordem.

11/11/2020

QUEM SÓ TEM UM MARTELO VÊ TODOS OS PROBLEMAS COMO PREGOS: O alívio quantitativo aliviará? (67) O clube dos incréus reforçou-se (XXII)

Outras marteladas e O clube dos incréus reforçou-se.

Recapitulando:

O intervencionismo do BCE, que copiou com atraso a Fed e o BoE, adoptando o alívio quantitativo e as taxas de juro negativas ou nulas, desde o «whatever it takes» do Super Mario de Julho de 2012, é parecido como terapêutica com a sangria dos pacientes praticada pela medicina medieval para tratar qualquer doença, incluindo a anemia.

As raras vozes dissonantes (temos citado algumas delas) não têm chegado para perturbar e muito menos abafar os salmos cantados pelo coro imenso dos prosélitos louvando a bondade das políticas de injecção de dinheiro e de juros artificialmente baixos dos bancos centrais.

Uma dessas raras vozes dissonantes no Portugal dos Pequeninos é a do economista Avelino de Jesus que, uma vez mais, aponta os riscos dessa política no contexto da pandemia. Eis um excerto de A pandemia, a crise e a política monetária.

«A natureza explosiva desta situação é enorme. Na verdade, em cima das distorções provocadas pela política monetária laxista que seguiu após 2008 de forma continuada, caiu nova vaga de política monetária da mesma natureza. Estão em causa distorções no investimento e no consumo que, no caso português, estranhamente, muitos viram como virtudes que permitiram a saída pós-troika, dopando e empolando artificialmente os sectores intensivos em trabalho do comércio, da restauração, do alojamento e do turismo, à custa da continuada baixa da produtividade e dos salários e da certa continuação de taxas de crescimento rastejantes da economia portuguesa.

A política económica nacional não monetária pós-pandemia não só não contrariou a política monetária, mas ainda a agravou com medidas no mesmo sentido. Os apoios aos sectores de trabalho intensivos não são apenas de agora (recorde-se, apenas como exemplo, a redução do IVA da restauração). A resposta à pandemia não traz novidades: o sentido é o mesmo e errado, os apoios às empresas obrigam à manutenção do emprego, impedindo ajustamentos estruturais nos sectores e no tecido empresarial e prolongando os baixos níveis de produtividade e de salários. (...)

A política monetária está a impedir os ajustamentos sectoriais e empresariais imprescindíveis, aumentando a acumulação de tensões nos mercados e piorando os efeitos destrutivos da queda de reequilíbrio que, inevitavelmente, ocorrerá mais à frente.

Aqueles que viam na política monetária apenas uma simples redução da capacidade de manobra do banco central têm aqui a resposta. Pior, o banco central ficou manietado, e tem – em vez uma simples redução de margem de manobra – como única solução praticável a fuga em frente, acelerando para o abismo e gerando uma tragédia económica de proporções muito acima daquela que a mera pandemia nos está a fazer penar.»

O efeito das estações na pandemia ou talvez a criatura dessa vez não estivesse totalmente errada

Eu sei, eu sei. É difícil descortinar alguma ideia com princípio, meio e fim numa verborreia pantagruélica, agressiva e insultuosa de tweets (talvez seja mais adequado chamar-lhes twits) e declarações teatrais. Ainda assim, uma pessoa com alguns neurónios a funcionar tem obrigação de não se deixar arrastar por discussões idiotas entre o clube dos seus devotos e o clube dos seus inimigos.

Isto para lembrar que em Março, no princípio da pandemia, comentei a aparente bullshit de Donald Trump ao afirmar com o seu ar enfatuado Coronavirus «dies with the hotter weather» e publiquei a imagem seguinte para ilustrar especulativamente a eventual correlação entre as estações e a progressão da pandemia.

Covid-19 Cumulative confirmed cases (Center for Systems Science and Engineering at Johns Hopkins University no dia 23-03-2020

Por coincidência a Economist publicou ontem o gráfico seguinte que parece confirmar a especulação.


Como então referi, não é caso para eleger Trump como uma autoridade científica. Ele que fala muito e contraditoriamente a propósito de tudo, sem uma linha de pensamento coerente, nem preocupações de verdade e rigor é sempre possível, uma vez ou outra, dizer algo com que uma pessoa racional fora daqueles dois clubes possa concordar.

10/11/2020

SERVIÇO PÚBLICO: A direita e a esquerda europeias não gostam dos americanos (da direita ou da esquerda)

«Com algumas notáveis excepções, como Tocqueville, Einstein, Kazan, Hitchcock ou Kissinger, os europeus nunca gostaram da América. Ainda menos dos americanos, que odeiam ou desprezam com a mesma intensidade.

Grande parte da direita europeia é ciumenta, não gosta da meritocracia, não preza a liberdade, não tem especial afecto pela tolerância nem pelo igualitarismo e despreza aquilo que considera ser a vulgaridade americana. Essa mesma direita acha que os americanos são boçais, dominadores e ignorantes. Ao lado dos americanos plebeus e sem maneiras, a direita europeia considera-se aristocrática. Democratas ou não, europeus de várias direitas como De Gaulle, Franco e Salazar, detestavam os americanos.

A maior parte da esquerda europeia detesta a América e os americanos. Estes seriam imperialistas, arrogantes, sem sofisticação cultural, barulhentos, racistas e violentos. A maior parte da esquerda europeia detesta o liberalismo em geral, o americano em particular. A esquerda europeia considera-se sofisticada e culta, despreza o que acredita ser a rudeza americana, condena a brutalidade dos americanos e critica asperamente a alegada inclinação para a violência e a pornografia de metade da América e o fanatismo religioso e ignorante de outra metade.

Direita e esquerda europeias não gostam do dinheiro, do liberalismo, da eficácia e do individualismo americanos. Esquerda e direita europeias detestam o facto de terem sido ajudados, defendidos e libertados pelos americanos nas duas grandes guerras. Esquerda e direita europeias adoram e cultivam, em segredo, quase tudo o que condenam publicamente nos americanos.»

Excerto de América, América! , António Barreto

09/11/2020

Crónica da asfixia da sociedade civil pela Passarola de Costa (58) - Em tempo de vírus (XXXV)

Avarias da geringonça e do país seguidas de asfixias


Só faltava o Tribunal de Contas constatar o descalabro do SNS. Já não falta. O Relatório Covid-19 – O Impacto na Atividade e no Acesso ao SNS, conclui o que os mais atentos já tinham concluído há meses: que a estratégia do governo conduziu ao «adiamento da atividade programada (não urgente) desenvolvida no SNS, como forma de conter a evolução do contágio» e «o receio da população também levou à diminuição da procura dos serviços de saúde, incluindo os urgentes». 

Como essa estratégia foi executada por um SNS depauperado pela redução do horário de 40 para 35 horas, por cinco anos da cativações e desinvestimento nos equipamentos e pela má gestão dos recursos humanos e materiais e, em cima disso, por uma abordagem ideológica da ministra recusando coordenar-se com a rede privada de saúde, o resultado só poderia um excesso de mortalidade em que só menos de 1/3 se deve à pandemia.

Fonte

As coisas chegaram a um ponto que o próprio governo teve de admitir que este ano haverá menos 1,5 milhões de consultas e menos 152 mil cirurgias do que no ano passado.

Entretanto, diz-se que com o aumento do número de infectados os hospitais estão à beira da rotura. Estarão? Como, se segundo os dados de ontem da DGS, havia ocupadas com doentes Covid 378 camas em 825 nas UCI e 2.522 em 17.225 nas enfermarias? Poderão estar à beira da rotura mas por outras razões, por exemplo a má gestão dos recursos humanos e materiais. E, por falar em má gestão, o que é feito dos inúmeros hospitais de campanha anunciados (centenas de notícias só nos meses de Março e Abril)?

Com uma justiça mais célere talvez o Dr. Costa tivesse que remodelar o governo

Mesmo com uma máquina de justiça amiga, a lista de membros dos governos do Dr. Costa que foram ou estão a ser investigados pelo MP já vai em oito. Três ministros e cinco secretários de Estado, incluindo Siza Vieira e João Galamba investigados por suspeita de tráfico de influências e corrupção relacionados com os subsídios a conceder no âmbito dos projectos do hidrogénio verde. É caso para dizer que o balão de hidrogénio do Dr. Galamba está a ficar cheio de gases malcheirosos.

08/11/2020

Escolher entre quem faz parte do problema e quem não faz parte da solução

Foi isso que esteve em causa na eleição presidencial americana. De um lado, um Donald Trump, epifenómeno criado por uma sociedade muito dividida, a quem foi oferecido um argumentário com inimigos internos e externos, que com a sua demagogia e retórica doentiamente narcisística mobilizou muitos dos que se sentem ameaçados no emprego, no modo de vida, na moral ou nos costumes numa America that is no longer great. Do outro, um político incaracterístico sem visão, escolhido por ser o menor múltiplo comum de diversas correntes, partilhando pouco mais do que um inimigo.

Apesar de derrotado, Trump pode não ter morrido politicamente e, com ele ou sem ele, o trumpismo continuará vivo e de boa saúde porque o caldo social, económico e político que o gerou permanece e não vai ser uma administração Biden que o alterará. Será preciso correr muita água debaixo da ponte Theodore Roosevelt.

Ser de esquerda é... (9)

... conviver ódio ao capitalismo em geral, e em particular às multinacionais, com a compra de gadgets e filmes em streaming como cliente Amazon Prime.

07/11/2020

DIÁRIO DE BORDO: Mude-se o que pode ser mudado

Foi Robert Peel, líder Tory, várias vezes primeiro-ministro nos anos 30 e 40 do século XIX, que definiu conservadorismo como a doutrina que consiste em opor-se a todas as mudanças sociais desnecessárias e aceitá-las quando necessárias.

Também se pode preferir aceitar todas as mudanças sociais necessárias e opor-se às mudanças sociais desnecessárias. O que pode parece a mesma coisa mas é muito diferente.

Num caso, como noutro, para distinguir o que é necessário do que é desnecessário fica-se perante a mesma dificuldade de São Francisco de Assis que pedia a Deus força para mudar o que pode ser mudado, resignação para aceitar o que não pode ser mudado, e sabedoria para distinguir uma coisa da outra.

06/11/2020

Lost in translation (342) - "The figures are chosen to support the policy rather than the policy being based on the figures"


«For many people, it looks as if the figures are chosen to support the policy rather than the policy being based on the figures.» 
Theresa May
«MPs audibly groaned in the House of Commons when the Prime Minister stood up and walked out during Theresa May's speech which criticised the government's handling of the second lockdown.»

05/11/2020

Dúvidas (293) - Como chegou a América a isto?

 «Como chegou a América a isto?

“Why it has to be Joe Biden”, foi a última capa da Economist, trombeta do centro-direita moderado e business friendly. A prestigiosa revista podia ter formulado uma pergunta retórica – “Why it has to be Joe Biden?” – para depois nos expor os seus argumentos, no que seria talvez a operação de persuasão mais fácil da história do proselitismo jornalístico. Mas não. O que a Economist faz é dizer aos americanos o que um jornal de Boston poderia declarar aos patriotas, por volta de 1775: “Why you have to fight the british”, se queres ser um bom americano. Trump é o inimigo interno e “a América precisa de ti.” Este é o tom geral da imprensa, quanto mais respeitável mais exaltada e peremptória, no seu lancinante apelo. Do New York Times ao Washington Post, de ambos à National Review, liberais e conservadores acotovelam-se numa improvável barricada e, ombro com ombro, abrem fogo de barragem contra o thug de Brooklin, como se ele fosse a encarnação moderna de um casaca vermelha da guerra da independência, ou de um escravocrata da Confederação. A própria campanha de Biden reúne financiamentos inauditos, que deixam Trump, o intocável (no sentido hindu), para trás, exprimindo a força da América respeitável e próspera, das duas costas e das cidades.

Para nós, europeus, a questão nunca ofereceu dúvidas: Trump revolve-nos as tripas, o seu chauvinismo bronco e a sua indiferença em relação à verdade e à mentira, atira-o para fora dos nossos consensos há muito estabelecidos, é insuportável ao palato delicado do velho continente; é um ser rude, primário, vulgar e cor de laranja.

As políticas de Trump, apesar da algazarra, são menos controversas que o personagem que por elas dá a cara; podemos lamentar o abandono do tratado com o Irão ou o famoso muro fronteiriço, aliás começado por Clinton; podemos não gostar do fracking e da denúncia dos acordos do clima. Mas, cá como lá, o verdadeiro objeto da execração geral é o homem em si, os modos, a boçalidade desenvolta de novo-rico grosseiro - o que ele representa.

No entanto, o populista desbocado arrasta consigo metade da América. Porquê?

Podemos começar pela razão mais superficial: Joe Biden não entusiasmou ninguém. Mantê-lo armazenado em casa foi prudente, mas era preciso mais do que isso para vencer. A escolha de Biden não pode ser perdoada ao establishment democrata. Sleepy Joe, como lhe chama Trump, que nos seus comícios se socorreu de um ecrã gigante para exibir gafes, confusões e observações taralhoucas do seu adversário, que, digamos assim, não está na força da idade. Mas a razão fundamental do entusiasmo furioso que Trump gera na sua heteróclita tribo não se deve à decrepitude do adversário. Paul Auster, dinamizador de um movimento de escritores anti-Trump pôs dolorosamente o dedo na ferida: o partido democrata desertou dos trabalhadores, da América humilde excluída da prosperidade, dos que têm ficado para trás, sobretudo os brancos pobres e oficialmente invisíveis de um país em processo de desindustrialização.

É o globalismo que verdadeiramente foi a votos nestas eleições, um enfrentamento entre a América dos vencedores e a América dos esquecidos. Chamar o povo de Trump de canalha e ralé (“deplorables”,”irredeemables”), como fez Hillary, nunca ajudou. A globalização reduziu as desigualdades entre os países, agravando-as dentro de cada país. Talvez os Estados Unidos sejam a caricatura disso mesmo, vítimas da sua fractura abissal, com os magnatas de Sillicon Valley a acumularem fortunas inauditas, sobre os despojos da América da General Motors, industrial e sindical, criadora de empregos e de classe média, agora deslocalizada.

Obama, o mais inspirador e brilhante político do nosso tempo, ele próprio expressão do melhor da América, batalhou penosamente, de comício em comício, para pôr fim ao pesadelo boçal e ultra-conservador. Há algo de trágico nisto de ver um homem que encarnou uma das mais decentes versões do futuro americano a apelar ao voto num idoso saído do seu pantanoso passado, com pouco a dizer, que tem apenas para oferecer o regresso a uma normalidade sem Trump.

O bilionário de Brooklin tem uma intuição politica assassina: não quer unir o seu grande país continental, onde o declínio relativo convive com novas fortunas, as maiores que a história conheceu; quer dividir, explorando fracturas que há demasiado tempo Democratas e Republicanos fazem por não ver; Trump empenhou-se em mobilizar a sua parte do país, que acredita maioritária, mobilizando indecorosamente os resíduos mais abjectos da América profunda, reabrindo feridas antigas e infectadas, convidando o racismo subterrâneo e larvar, eterna chaga nacional, a subir com ele ao palco, para participar, com os seus votos, na construção da sua tortuosa concepção da grandeza americana.

Não é preciso ser um génio para perceber as contradições que a globalização engendrou, e que Trump tão bem sabe navegar: como é possível os gigantescos colossos da HigTec e de Wall Street votarem ao lado dos sindicatos democratas, unidos em torno de um qualquer programa comum? Talvez seja essa a grande intuição de Trump: os políticos do globalismo transitaram para um paradigma do futuro, um paraíso pós-industrial, pós trabalho manual, pós-ferrugem; mas o mundo antigo morre devagar, numa agonia lenta e dolorosa. Ainda está lá, humilhado, declinante, mas talvez ainda maioritário. Quer levantar uma vez mais a cabeça para se vingar, confusamente, inarticuladamente, em nome da segunda emenda ou de outra coisa qualquer, tirar desforço de um mundo novo e assustador, que não contempla um lugar para eles. Obama não teve tempo, talvez porque lhe negaram cedo a maioria nas câmaras. Não sabemos se teria sido bem-sucedido. Desse drama emergiu o ogre de Brooklin, com as suas frases de cinco palavras.

O pobre Biden é um embaraço mantido em bom recato. No fundo é um adereço anacrónico, uma promessa desvitalizada de regresso a um business as usual passado, a uma era pré-Trump, mas também pré-Obama. Estas eleições foram, efetivamente, um plebiscito a Trump. No meio de tantos erros e incúrias, ainda há, dizem os analistas e peritos, esperança. Resta aguardar até a fim do escrutínio, com o coração pesado. Com o sem Trump, a América mudou, e não foi notoriamente para melhor.»

A grande náusea, Sérgio Sousa Pinto no Expresso