09/11/2020

Crónica da asfixia da sociedade civil pela Passarola de Costa (58) - Em tempo de vírus (XXXV)

Avarias da geringonça e do país seguidas de asfixias


Só faltava o Tribunal de Contas constatar o descalabro do SNS. Já não falta. O Relatório Covid-19 – O Impacto na Atividade e no Acesso ao SNS, conclui o que os mais atentos já tinham concluído há meses: que a estratégia do governo conduziu ao «adiamento da atividade programada (não urgente) desenvolvida no SNS, como forma de conter a evolução do contágio» e «o receio da população também levou à diminuição da procura dos serviços de saúde, incluindo os urgentes». 

Como essa estratégia foi executada por um SNS depauperado pela redução do horário de 40 para 35 horas, por cinco anos da cativações e desinvestimento nos equipamentos e pela má gestão dos recursos humanos e materiais e, em cima disso, por uma abordagem ideológica da ministra recusando coordenar-se com a rede privada de saúde, o resultado só poderia um excesso de mortalidade em que só menos de 1/3 se deve à pandemia.

Fonte

As coisas chegaram a um ponto que o próprio governo teve de admitir que este ano haverá menos 1,5 milhões de consultas e menos 152 mil cirurgias do que no ano passado.

Entretanto, diz-se que com o aumento do número de infectados os hospitais estão à beira da rotura. Estarão? Como, se segundo os dados de ontem da DGS, havia ocupadas com doentes Covid 378 camas em 825 nas UCI e 2.522 em 17.225 nas enfermarias? Poderão estar à beira da rotura mas por outras razões, por exemplo a má gestão dos recursos humanos e materiais. E, por falar em má gestão, o que é feito dos inúmeros hospitais de campanha anunciados (centenas de notícias só nos meses de Março e Abril)?

Com uma justiça mais célere talvez o Dr. Costa tivesse que remodelar o governo

Mesmo com uma máquina de justiça amiga, a lista de membros dos governos do Dr. Costa que foram ou estão a ser investigados pelo MP já vai em oito. Três ministros e cinco secretários de Estado, incluindo Siza Vieira e João Galamba investigados por suspeita de tráfico de influências e corrupção relacionados com os subsídios a conceder no âmbito dos projectos do hidrogénio verde. É caso para dizer que o balão de hidrogénio do Dr. Galamba está a ficar cheio de gases malcheirosos.

Boa Nova

É uma das funções zingarilho: quanto mais apertado está um governo socialista mais boas novas produz. Pela boca do putativo futuro primeiro-ministro e líder do pedronunismo, o governo «destina 100 milhões para arrancar com criação do parque público habitacional», o que, apesar de já ter sido anunciado uma dúzia de vezes, dá sempre bons títulos e um país que tem 730 mil casas vazias e abandonadas está carecidíssimo de mais. 

Pela boca que canta A Internacional, anuncia-se a contratação de 287 médicos para servir mais 341 mil pessoas.

A minha Boa Nova favorita é, porém, os «€1000 milhões reservados aos ultrainovadores». É obra num país que tem um dos números mais baixos de patentes na UE e onde as startups tendem a desaparecer logo que se acaba o subsídio.

O choque da realidade com a Boa Nova

A propósito da Boa Nova da ministra da Saúde, será oportuno recordar que no início do ano havia 650 mil "utentes" sem médico de família, a ministra garantiu então que este ano haveria mais 200 mil portugueses com médico de família e o choque com a realidade deu em Julho mais 110 mil utentes sem médico de família.

O Banco de Fomento tem sido um das fontes mais abundantes de Boas Novas. Anunciado mais uma vez em Setembro o arranque próximo de um banco de fomento aprovado em Agosto pela CE, que em Junho foi anunciado para as «próximas semanas», sucedendo a um banco de fomento que fora privatizado por um governo PS, tinha ressuscitado há três anos e segundo o mesmo ministro já estava criado em Janeiro. Foi agora anunciado o seu nascimento «sem estrutura e sem nova gestão» e «sem financiamento assegurado». Só mesmo um governo socialista anunciaria o nascimento de um banco com uma ejaculação do órgão legislativo.

Rivalizando em anúncios com o Banco de Fomento, temos o novo aeroporto do Montijo que à pala da pandemia o ministro das Infraestruturas admitiu adiar outra vez para «avaliação ambiental estratégica». É uma pena. O Dr. Pedro Nuno Santos arrisca-se a ficar na estória apenas com uma única obra: a gigantesca cratera que abriu nas contas públicas com a nacionalização da TAP.

Em vez de uma bazuca, um pipeline

Não tem limites a desfaçatez do governo socialista em tornar-se uma espécie de pedinte profissional aos países "frugais". Não satisfeito com uma espécie de peditório extraordinário à pala da pandemia, o ministro do Planeamento já fala em transformar a «bazuca da UE» em «instrumentos mais permanentes». Percebe-se. Seria a fórmula mágica para perpetuar a ocupação do Estado Sucial pelo aparelho socialista, que assim poderia financiar a distribuição de tenças pelos seus apparatchiks, manter apaziguada a sua freguesia eleitoral (o "partido do Estado", como lhe chamou o falecido Medina Carreira) e criar oportunidades aos empresários amigos para explorarem negócios pendurados no Estado Sucial.

«Queda monumental»

Durante os seus quatro anos de vacas gordas, o Dr. Costa deixou-nos no grupo dos 3 ou 4 países que menos cresceram. Agora que a pandemia nos trouxe as vacas magras, o Dr. Costa, deixa-nos no grupo dos 3 ou 4 países que mais decrescem. Segundo as previsões de Outono da CE, a economia portuguesa com -9,3% será a quarta maior queda do PIB este ano.

Esgotados os expedientes metodológicos para contar os desempregados, o seu número aumentou 126 mil ou 45,1% entre apenas dois meses, elevando a taxa de desemprego para 7,8%. Em parte o aumento ficou a dever-se a 5.400 despedimentos colectivos até Setembro, um aumento de 50% relativamente ao ano passado, que só não foi maior pela adopção do lay-off simplificado.

Correndo bem, é nossa realização. Correndo mal é problema deles

A final da Champions e a corrida de Fórmula 1 em Portimão foram momento de exaltação dos sucessos do governo no combate à pandemia. Com o aumento do número de infectados e de mortes pela pandemia, o primeiro perfeitamente expectável, dado o aumento no número de testes, e o segundo que é apenas uma pequena parte do aumento de mortalidade em relação à média, o Dr. Costa acobardou-se e veio dizer que «o que aconteceu no Grande Prémio [de Fórmula 1, em Portimão] do fim de semana passado é absolutamente inaceitável e irrepetível» proibindo público no MotoGP em Portimão.

O Dr. Centeno talvez gostasse de ser governador do People's Bank of China

No projecto de Código da Actividade Bancária o Banco de Portugal poderá «determinar a venda de parte ou da totalidade das ações respeitantes a uma participação qualificada» se um accionista não poder participar nos aumentos de capital necessários. Levando em conta o passado das intervenções (BCP) do Banco de Portugal ou da falta atempada delas (BES) parece uma ferramenta para o governo instalar accionistas amigos na banca.

«Pagar a dívida é ideia de criança»

Até à pandemia, a dívida pública aumentou sempre em valor absoluto mas, devido ao crescimento que ainda se verificava, o seu rácio relativo ao PIB o rácio vinha diminuindo ligeiramente. Agora que a recessão se instalou, o rácio começou a disparar e atingiu em Setembro 130%. A previsão do governo é que não ultrapasse atinar 135%. Eu apostaria mais em 140%.

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