30/09/2015

ESTÓRIA E MORAL: O colo mediático é só meio caminho andado

Estória

Como logo foi notório, desde que António Costa se chegou à frente e tirou o tapete ao calimero Seguro, na ilusão de lhe ser desenrolado um outro tapete sobre o qual caminharia debaixo de aplausos desde o Largo do Rato até S. Bento, os mídia em geral e o jornalismo de causas em particular fizeram os possíveis e os impossíveis para lhe facilitar a vida transmitindo para a opinião pública a ideia de que o ungido estava destinado pelos deuses a chegar ao trono de onde derramaria o celestial maná sobre a populaça.


Infelizmente para o ungido a população começou a mostrar-se mal-agradecida e as sondagens a indiciar a anunciada entronização gradualmente menos provável. Apesar dos esforços da Eurosondagem a desvantagem do PS vem aumentando e segundo o inquérito diário do Público (afinal de contas um jornal amigo) já chegou aos 7,2%.

Moral

«A opinião pública não é a opinião publicada». Se fosse teríamos no governo uma coligação da esquerdalhada.

29/09/2015

Pro memoria (268) - Costa, o devedor de promessas (13)

Inventário

Em promoção (no «encontro do candidato com o mundo de cultura. Num restaurante à beira do rio Tejo»):

«"mais importante que um ministério, é termos um governo de cultura”, capaz de tratar “transversalmente” a matéria.» prometeu, inspirado, António Costa a «cerca de 200 agentes da cultura num almoço em Lisboa», todos artistas independentes ansiosos por acabar com a «barbárie cultural».

ACREDITE SE QUISER: As bombas, os gatos e a PIDE

Isabel do Carmo, antiga bombista e membro do casal líder do Partido Revolucionário do Proletariado e actual candidata a deputada pelo Livre/Tempo de Avançar, confessou perante uma numerosa multidão composta por 150 almas, segundo a SIC Notícias, que na sua época bombista tinha mais medo de gatos do que de bombas ou da PIDE o que a levou a atirar umas bombas para dentro de uma garagem e a fechar a porta para se ver livre dos gatos.

Fica dúvida se queria ver-se livre dos gatos com as bombas ou com a porta.

28/09/2015

Encalhados numa ruga do contínuo espaço-tempo (48) – A nostalgia das nacionalizações

É comovedora a nostalgia que emana dos escritos do nosso jornalismo de causas a propósito das privatizações. Numa peça com o título pesado de sugestões «Acabaram-se os anéis… e os dividendos», o Expresso faz o balanço das privatizações realizadas pelo governo «mais liberal de sempre» «num mandato que ficou marcado pela perda de controlo de vários sectores por parte do Estado», controlo que esqueceram de mencionar foi adquirido com o assalto comunista-esquerdista às empresas, que se seguiu ao contragolpe militar do 11 de Março de 1975.

A nostalgia é tão grande que quando lamentam a perda dos 300 milhões de dividendos das empresas agora privatizadas que, por excepção, dão lucro, se esquecem de comparar com os 9,6 mil milhões de encaixe total da venda dos quais, se tomados como o somatório dos capitais próprios dessas empresas, resultaria um ROE miserável de 3,125% que teria levado ao despedimento colectivo dos gestores dessas empresas se fossem privadas.

27/09/2015

SERVIÇO PÚBLICO: Consequências inesperadas do escândalo Volkswagen

Tudo começou, como se sabe, com uma esperteza saloia para fintar os controlos da EPA (autoridade ambiental americana) das emissões de um dos vários motores a gasóleo da VW, combustível pouco usado nos EU nos automóveis de turismo. A estória é conhecida e não vale a pena contá-la mais uma vez (ver aqui os pormenores técnicos).

O que vale a pena falar é sobre as consequências do escândalo em primeiro lugar para a própria VW cuja capitalização bolsista caiu mais de 1/3 em poucos dias, antevendo a borrasca que vem a seguir. Desde logo o recall de 11 milhões de veículos para proceder às mudanças necessárias o que atingirá facilmente 10 mil milhões de euros, aos quais se devem acrescentar outros 15 mil milhões de multas nos EU, aos quais haverá ainda a adicionar as multas que outros países irão certamente aplicar (excluindo provavelmente a UE). Isto não é tudo, nem talvez o mais importante.

Toda a linha de produção de motores diesel ficará comprometida até porque a procura cairá inevitavelmente e multiplicar-se-ão os custos de produção para cumprir os requisitos. É nesta altura que se deve falar de uma certa hipocrisia dos governos alemão, francês e italiano que têm adoptado regimes de controlo de emissões e de consumos perfeitamente fantasistas que nada têm a ver com a utilização comum dos veículos para não prejudicarem os seus campeões VW, BMW, Renault, PSA e Fiat. Por isso, a Economist escreveu «Europe’s regulators, unlike America’s, have no authority to punish deceivers».

E por falar em hipocrisia, adicione-se à questão da regulação das emissões e dos consumos, o controlo do Grupo VW pelo governo da Baixa Saxónia presidido pelo líder do SPD (o partido socialista alemão) Gerhard Schröder, que nessa qualidade fez parte do conselho geral do Grupo VW, e mais tarde foi o chanceler alemão que antecedeu Angela Merkel. A Schröder sucedeu David McAllister (um alemão de raízes britânicas) no governo da Baixa Saxónia e no conselho geral do Grupo VW. Estas ligações pervasivas e perversas têm-se mantido com todos os governos alemães que têm pressionado a CE para manter padrões «caseiros» apropriados aos veículos de cilindradas mais elevadas, sobretudo alemães (ler aqui mais pormenores).

Tudo indica que as consequências sobre a produção de motores diesel não se limitarão à VW, uma vez que da «química» destes motores resulta um equilíbrio difícil entre potência, consumo e emissões e daí o software da VW para baixar as emissões apenas quando numa situação de inspecção (identificada a partir da imobilidade da coluna de direcção). É muito provável que controlos mais apurados obriguem a introduzir modificações nos motores e nos catalisadores dos escapes elevando o custo de produção, reduzindo potência e aumentando consumos e retirando assim aos motores diesel quaisquer hipóteses de competirem com os de gasolina, os híbridos e, dentro de algum tempo, os eléctricos.

Outras consequências curiosas: estão a cair as cotações da platina (usada nos catalisadores dos motores diesel) e a subir a do paládio (usado nos catalisadores dos motores diesel), antecipando assim a provável tendência na produção de motores.

26/09/2015

Dúvidas (121) – Qual a fiabilidade das sondagens amigas da Eurosondagem?

Já em várias situações no (Im)pertinências colocámos em dúvida a fiabilidade das sondagens da Eurosondagem, uma empresa de Rui Oliveira e Costa, ex-deputado e dirigente do PS e comentador desportivo.

Uma vez mais a dúvida se levanta quando comparamos as sondagens da Eurosondagem para as Legislativas com as outras duas. Por exemplo entre os dias 20 e 26 foram publicadas 12 sondagens da Intercampus e da Universidade Católica e todas elas dão vantagem crescente à coligação sobre o PS: entre 3% e 5% a primeira e entre 5% e 7% a segunda. Em total contradição, a sondagem da Eurosondagem do dia 25 dá uma vantagem de 0,5% ao PS.

É certo que a sondagem da Eurosondagem é sobre uma amostra maior (1.548) do que as restantes (Intercampus 1.024 e UC 1.027) mas o somatório da dimensão destas duas amostras (que se podem considerar independentes) é maior do que a da Eurosondagem.

Ora as sondagens da Eurosondagem dão imenso jeito à imprensa amiga que a partir delas escreve a lengalenga habitual sobre o «empate técnico», o que em político-jornalês quer dizer a mesma coisa do que «razões técnicas» para explicar as grossas broncas em coisas que deveriam funcionar e não funcionam.

De boas intenções está o inferno cheio (38) – A religião é a política por outros meios? (XI)

Porque diabo terá o papa Francisco sentido necessidade de esclarecer à sua chegada aos Estados Unidos que «talvez haja a impressão de que sou um pouco de esquerda, mas eu não disse absolutamente nada que não esteja na doutrina social da Igreja»? Não estou a ver Bento XVI a dizer «talvez haja a impressão de que sou um pouco de direita» ou João Paulo II a dizer «talvez haja a impressão de que sou um pouco anticomunista».

Ao dizer isso marcou outra vez o terreno e, como se isso fosse pouco, continuou a fazer política por outros meios ao omitir no seu discurso ao Congresso americano a frase «If politics must truly be at the service of the human person, it follows that it cannot be a slave to the economy and finance». Porquê? Afinal se tudo isto é «doutrina social da Igreja» porquê poupar os congressistas à iluminação espiritual?

Vem a propósito destes equívocos papais acerca do capitalismo e dos pobres citar Thomas Sowell, um dos economistas de referência do (Im)pertinências, que escreveu há pouco dias sobre Francisco este artigo do qual respigo alguns parágrafos:

«Pope Francis has created political controversy, both inside and outside the Catholic Church, by blaming capitalism for many of the problems of the poor. We can no doubt expect more of the same during his visit to the United States.

Pope Francis is part of a larger trend of the rise of the political left among Catholic intellectuals. He is, in a sense, the culmination of that trend.

(…)

Pope Francis today, blithely throw around the phrase “the poor,” and blame poverty on what other people are doing or not doing to or for “the poor.”

Any serious look at the history of human beings over the millennia shows that the species began in poverty. It is not poverty, but prosperity, that needs explaining. Poverty is automatic, but prosperity requires many things — none of which is equally distributed around the world or even within a given society.

(…)

A scholar specializing in the study of Latin America said that the official poverty level in the United States is the upper middle class in Mexico. The much criticized market economy of the United States has done far more for the poor than the ideology of the left.

Pope Francis’ own native Argentina was once among the leading economies of the world, before it was ruined by the kind of ideological notions he is now promoting around the world

25/09/2015

CAMINHO PARA A INSOLVÊNCIA: Here we go again (9) - O último a sair apaga a luz e paga a conta

[Outros caminhos por que já caminhámos]

Fonte: PORDATA



Depois do susto dos primeiros sinais da crise a taxa de poupança das famílias aumentou significativamente, voltou a diminuir por via da «austeridade» e recomeçou a recuperar a partir de 2011. No 2.º trimestre deste ano a taxa de poupança das famílias baixou de 5,8% no 1.º trimestre para 5% do rendimento disponível, ou seja o rácio antes da bancarrota.

A capacidade de financiamento das famílias baixou igualmente de 2,7% no 1.º trimestre para 2,1% do Produto Interno Bruto (PIB) nos 12 meses anteriores.

(Fonte: Contas Nacionais Trimestrais por Setor Institucional, INE)

Com o governo PS a estimular o consumo podemos pedir a troika para não arrumar os papéis e não desfazer as malas.

TIROU-ME AS PALAVRAS DA BOCA: Coisas que outros escreveram sobre Costa, as quais, por isso, já não precisam de ser escritas (22)

Outras coisas: «Para mim Costa não é um mistério», «Coisas que outros escreveram sobre Costa, as quais...»

«António Costa fala, com orgulho, da gestão que fez na Câmara de Lisboa. Em 2014 a receita de impostos da edilidade da capital subiu quase 30%. 

Um aumento que os responsáveis da CML desvalorizam porque, dizem, cobram as taxas e impostos mais baixos, o que é verdade no que diz respeito ao IMI (0,3%) e ao IRS, onde devolvem 2,5% aos munícipes. O pior é o plano de taxas e impostos para 2015. Em primeiro lugar, a Câmara decidiu acabar com a taxa de conservação de esgotos que era paga em Outubro e "diluí-la" na factura da água, mas depois criou outro imposto para a substituir. Tudo tem sido feito sem grande alarido, de modo a que os munícipes só se apercebam à medida que vão recebendo as contas para pagar

(...)

Ora, a Câmara de Lisboa, ainda com António Costa como presidente, decidiu cobrar uma Taxa Municipal de Protecção Civil de valor igual ao da antiga Taxa de Conservação de Esgotos, ou seja, no meu caso, de 108,35 euros. Assim, se somarmos o correspondente a oito meses dessa taxa (72,23 euros) aos 287,87 já pagos em taxas relativas à água, obtém-se um valor de 360,1 euros que mais do que duplica o total que era pago no mesmo período do ano passado (161,18 euros) em taxas da factura da água e conservação de esgotos. Na realidade, o aumento de um ano para o outro é de 223,4%, o que não encontra justificativo algum, mesmo que exista um ligeiro aumento de consumo de água. E, como estamos em período eleitoral, é natural que a Câmara de Lisboa só comece a enviar os avisos de pagamento do novo imposto depois de 4 de Outubro, para não indispor os eleitores. »

(...)

«Os impostos escondidos de António Costa em Lisboa», Francisco Ferreira da Silva no Económico

24/09/2015

Encalhados numa ruga do contínuo espaço-tempo (47) – Minas de carvão para todos e carruagens só para mulheres (4)

[Continuação (1), (2) e (3)]

A propósito das políticas do New Old Labour de Jeremy Corbyn, um admirador do chávismo, do Hamas, do Syriza, com uma opinião indulgente sobre Putin e crítico do excesso de capitalismo do Partido Comunista Chinês, a Economist desta semana aponta as consequências indesejadas de uma das políticas de Corbyn (política muito popular em Portugal):

«But scrapping university-tuition fees would be regressive and counterproductive. For proof, consider that in England more poor students go to university than when higher education was free, whereas in Scotland, whose devolved government has abolished tuition fees, universities are facing a funding crisis and attract no more poor students than they did.»

BREIQUINGUE NIUZ: «A próxima bomba relógio»

«Dívida privada. A próxima bomba relógio?» titula o Observador, como que referindo-se a uma coisa surgida durante a noite passada e como se o tique-taque da bomba relógio não fosse audível há décadas.

Outros jornais também parecem surpreendidos e citam Christine Lagarde, a patroa do FMI, que parece agora ter descoberto o problema da dívida privada em Portugal e em vários outros países que tem um peso consideravelmente maior do que a dívida pública.

A mim o que me espanta é estarem espantados. Será a influência da Mouse Square School of Economics? Lembram-se do postulado de José Sócrates «a dívida não é para se pagar, foi assim que aprendi»?

Nós por cá teríamos tido muito gosto em poupar-lhes o espanto desde há mais de 9 anos. Uma pequena antologia:

27-06-2006 - «A dívida privada externa das famílias e empresas aumentou 5% em 2005, para 66% do PIB, 97 mil milhões de euros (DE). Dito de outro modo, as portuguesas e os portugueses são gente pródiga carecida dum tio rico que lhes pague as dívidas. Ao menos uma parte delas, acrescentariam chorosos os mais insolventes

15-06-2010 - «...a dívida portuguesa total, pública e privada, atinge o número astronómico de 333 mil milhões de euros ou seja dois PIB. A maior parte desta dívida é detida pelos sistemas financeiros francês e alemão, resta-nos a consolação que com a nossa eventual falência arrastaremos vários bancos e seguradoras para a bancarrota. Seria (será?) a vingança dos pobres falidos.»

06-12-2011 – «São todos iguais, mas há uns mais iguais do que outros»



23-08-2012 - «Sabendo-se que a nossa dívida externa pública e privada foi alimentada durante várias décadas pelos défices das contas externas só pode concluir-se que para resolver os nossos problemas graves de endividamento é indispensável melhorar estas contas


30-10-2013 - «Fala-se muito da dívida pública, que é de facto pesada, e fala-se muito pouco da dívida privada, que é de facto muito mais pesada, quer em termos relativos à dívida pública, quer em termos internacionais, onde a nossa dívida privada aparece muito bem colocada no pelotão da frente, com 255% do PIB (maior do que a Espanha com 215%)»

TIROU-ME AS PALAVRAS DE BOCA: «Raspar um socialista...»

«Quando se raspa um socialista acaba sempre por se encontrar um tiranete. No meio do espectáculo pouco edificante das prisões de Sócrates, ninguém perdeu tempo a discutir, ou a investigar, o papel do cavalheiro na imprensa e na televisão. Mas nem Mário Soares, no fim, escapou à regra de interferir na política editorial do “Diário de Notícias” de Mário Mesquita. Para gente tão penetrada da sua virtude e da sua razão a crítica é fundamentalmente um escândalo, que em democracia se tem de aturar - com conta peso e medida. Os processos para manter a canalha do jornalismo na ordem, ou pelo menos, numa ordem tolerável, são vários: a compra, a rápida promoção para a vacuidade, uma ou outra ameaça e, se nada disto der resultado, a calúnia e o despedimento das cabecinhas que persistem em “pensar mal”.

Esta semana tivemos dois casos que nos deviam inquietar. Primeiro, pareceu a meia dúzia de militantes que Vítor Gonçalves tinha entrevistado António Costa na RTP sem o cuidado e a reverência que a circunstância exigia. No dia seguinte foi publicado na internet um recado sibilino: “Quantos jornalistas com papel relevante em programas televisivos com impacte eleitoral (durante a pré-campanha) são familiares de altos dirigentes do PSD ou do actual governo?”. Este filosófico desabafo de sabor saudosamente estalinista vinha assinado por um tal Porfírio Silva, ao que por aí corre carregado de diplomas, que Costa recentemente chamou para o ajudar. Não sei da vida ou do parentesco de Vítor Gonçalves, nem do pessoal da RTP. Mas fiquei a saber que, para não me insultarem, preciso de apresentar documentos até à terceira geração para provar que não há na minha família nenhum desgraçado ou desgraçada do PSD.

O segundo caso foi o debate sobre justiça, também na RTP. Isto, não percebo porquê, enfrenesiou presentes maiorais do PS. Supunham talvez que, à sombra de discutir a justiça, se iria discutir a interessante carreira de Sócrates. E, sem sombra de hesitação, um jovem agitado e estridente, chamado João Galamba, reclamou a cabeça do Director de Programas, Paulo Dentinho, de acordo com as melhores regras democráticas. Por curiosidade, assisti ao programa em que se falou de Sócrates durante meio minuto. Mas para futuro sossego do sr. João Galamba, do sr. Porfírio e do PS em geral, proponho que se organize uma comissão de censura que separe o trigo do joio e faça respeitar o dr. António Costa. Se continua ou não depois de 4 de Outubro, logo se verá

Vasco Pulido Valente no Público

CAMINHO PARA A INSOLVÊNCIA: De como o melhor que pode acontecer ao paraíso prometido aos gregos pelo Syriza é ser um purgatório (XXXIX) – Much Ado About Nothing

Outros purgatórios a caminho dos infernos.

ekathimerini
Qual foi o resultado de 8 meses de agitação esquerdista na Grécia?

Em relação a Janeiro, nas eleições de Setembro votaram menos 615 mil eleitores (6.181.274-5.566.295), o Syriza perdeu 320 mil votos (2.246.064-1.924.904) e 4 deputados (149-145, incluindo o bónus de 50 deputados por ser o partido mais votado), a Nova Democracia perdeu 192 mil votos (1.718.815-1.526.205) e 1 deputado (76-75), o Anel (Gregos Independentes) perdeu 93 mil votos (293.371-200.423) e 3 deputados (13-10).

O governo vai ser constituído com base na mesma coligação espúria entre o Syriza, uma aliança esquerdista que inclui trotskistas, maoístas e comunistas ortodoxos, e o Anel, um partido de extrema-direita, xenófobo e ultranacionalista. É o equivalente em Portugal a um governo de coligação do Bloco de Esquerda com o PNR - Partido Nacional Renovador.

Depois de um referendo promovido pelo governo Syriza-Anel que rejeitou o pacote de medidas proposto pela troika, o governo capitulou e acabou por aceitar medidas mais pesadas como condição para um terceiro bailout de 86 mil milhões.

Para trás ficou a facção dissidente mais esquerdista do saco de gatos do Syriza que não conseguiu votos suficientes para eleger um deputado e Yanis Varoufakis, o ex-ministro das Finanças e pop star radical chic.

Para a frente fica uma queda do PIB prevista de 2% (depois de um crescimento em 2014), mais desemprego (depois de uma ligeira diminuição em 2014) e a continuação dos controlos de capitais. Ou seja, para a frente fica o que vem de trás agravado por 8 meses de circo.

22/09/2015

Pro memoria (266) – Costa, o devedor de promessas (10)

Inventário

Em promoção (ontem à noite em Vila Real na companhia de um dos acólitos mais notórios de José Sócrates):

«O líder do Partido Socialista promete criar uma nova prestação social. (...)  António Costa disse querer "resgatar" os trabalhadores que vivem abaixo do limiar da pobreza.» (SIC Notícias)

A cada nova sondagem indicando estar o PS em risco de perder as eleições, vendo a sua cabeça a prémio (já se perfilam os sucessores), Costa multiplica-se em novas promessas. Ao fazê-lo Costa revela o que pensa dos eleitores: uma cambada de imbecis que acreditam em qualquer patranha. Talvez tenha razão.

TIROU-ME AS PALAVRAS DA BOCA: Coisas que outros escreveram sobre Costa, as quais, por isso, já não precisam de ser escritas (21)

Outras coisas: «Para mim Costa não é um mistério», «Coisas que outros escreveram sobre Costa, as quais...»

«Pena ainda de António Costa por não ser possível acreditar na sua sinceridade. Quem é ele afinal? O político de esquerda que é também liberal, como liberais são algumas das propostas de Centeno? Ou o homem que quer ser eleito sem acreditar no que propõe? O demagogo que vimos, por exemplo, a utilizar argumentos próprios do Bloco de Esquerda para atacar o plafonamento? Ou o político pragmático mais interessado no que funciona do que na ideologia? O conciliador, como gosta de ser retratado, ou o radical que rejeita qualquer compromisso, como voltou a fazer este fim-de-semana?
(...)

É provável que, do interior de uma arrogância de que só agora vimos alguns sinais, como no trato com os jornalistas “impertinentes”, António Costa ache que pode consertar tudo o que andou a escavacar durante esta campanha eleitoral (como pensa que já consertou tudo o que, há um ano, escavacou no interior do PS). Talvez até pense que é só uma questão de habilidade, algo ao alcance do seu talento natural. Engana-se, porque o país não é a câmara de Lisboa – nunca foi.»

«Não sei se deva ter pena de Costa, se pena dos portugueses», José Manuel Fernandes no Observador

Mitos (212) – O surto de emigração dos «cérebros» começou em 2011 com a crise

Este é um dos mitos de estimação da esquerdalha. Enquanto o PS foi governo, o povo em geral e os «cérebros» em particular, irrigados por abundantes fundos públicos, viviam contentes e felizes. Até que.

Até que chegou a troika, chamada sadisticamente pelo governo de Passos Coelho, e legiões de jovens foram incentivados a «sair da zona de conforto» para longe das suas mãezinhas. Uma vez mais, a mitologia da esquerdalhada convive pessimamente com a realidade: a emigração maciça dos «cérebros» «aumentou ao longo da última década, registando uma taxa de crescimento de 87,5% entre 2001 e 2011», como escreve Graça Canto Moniz, que dispensa os políticos «calimero» que nos últimos anos têm lamentado as consequências das suas políticas dos 10 anos anteriores.

Pro memoria (266) – Costa, o devedor de promessas (9)

Inventário

Ainda a propósito da promessa de António Costa «que o PS não vai viabilizar o próximo orçamento, se a coligação ganhar as legislativas», recorde-se que, segundo o seu próprio critério, isso «é de uma gravíssima irresponsabilidade política». Foi assim que classificou o chumbo do orçamento de 2010 da Câmara de Lisboa.

A respeito dos orçamento de Estado, Costa no ano seguinte produziu as seguintes declarações oportunamente recordadas pelo Insurgente. Ora confira-se:



«O PS deve demarcar-se na especialidade com as propostas com que não concorda. Quanto à votação na generalidade e na votação final global é conhecida a minha posição desde há um ano … o PS e o PSD devem-se oferecer condições recíprocas de governabilidade por sistema abstendo-se em instrumentos fundamentais da governação … independentemente do conteúdo do orçamento …»

21/09/2015

Exemplos do costume (35) – a Arábia Saudita, esse campeão dos direitos humanos

Depois da Líbia de Khadafi, da Síria de Bashar al-Assad e de muitos outros campeões dos direitos humanos é a vez de Faisal bin Hassan Trad vir a presidir ao painel dos direitos humanos que determinará as normas globais de direitos humanos em representação da Arábia Saudita, que só no primeiro semestre deste ano decapitou mais de 100 pessoas batendo o recorde do Estado Islâmico.

DIÁRIO DE BORDO: Como o justicialismo degenera (outra vez) em oportunismo e falta de princípios (IX)

Se entre nós temos o exemplo de Marinho e Pinto (é só um mas vale por dois), em Espanha temos vários exemplos do Podemos, seria inevitável ter exemplos no Syriza.

Alekos Flambouraris, antigo ministro de Estado e guru de Tsipras é suspeito de ter adjudicado em Maio um contrato público de 3,9 milhões de euros a uma empresa por si fundada.

SERVIÇO PÚBLICO: Já é demasiado tarde para ser o princípio do princípio e ainda é cedo para o fim do princípio

[Princípios do princípio]

A semana passada a S&P melhorou o rating da dívida pública portuguesa de BB para BB+ (mantendo-se «predominantemente especulativo») e degradou o outlook de positivo para estável, de onde se poderá deduzir que a probabilidade de ter novo upgrade brevemente é muito diminuta. É uma boa notícia porque a notação fica apenas à distância do nível BBB- de «qualidade média», mas deve ser colocada em perspectiva.

Em Abril de 2010 a notação da S&P ainda era A+ (6 níveis acima da actual BB+) e desceu então dois níveis para A-. A Moody’s esperou até Outubro desse ano para descer os mesmos dois níveis para A1 (correspondente ao A+ da S&P). Para voltarmos às notações de antes da bancarrota socialistas vamos ter de esperar anos, se tivermos juízo.

Uma outra boa notícia foi o aumento da taxa de emprego (percentagem da população empregada em relação à população total de 15 a 64 anos) de 62,8% no 1.º trimestre para 64,2% no 2.º trimestre deste ano. É claro que ainda estamos longe dos 67,7% do final de 2008, taxa inchada por empregos insustentáveis ou seja empregos sustentados por empresas inviáveis, mas já se atingiu praticamente a taxa do 1.º trimestre de 2011 (64,3%) no estertor do socratismo. (fonte Eurostat 16-09-2015)

20/09/2015

Lost in translation (251) – «Cada vez lembra mais o BPN» disse ela

No meio de abundantes disparates e demagogias, só desculpáveis porque Catarina Martins não faz a menor ideia do que estava a falar no jantar-comício, a líder do Bloco de Esquerda, agora viúva de João Semedo, disse que o Novo Banco «é cada vez mais o novo buraco» e «cada vez lembra mais o BPN».

Até poderia concordar não fora ter-me lembrado que a nacionalização do BPN que era para não custar nada e o nada vai já em 7 mil milhões foi apoiada pelo Bloco de Esquerda pela boca de Francisco Louçã. Ora se, segundo Catarina Martins, a resolução do BES vai custar 4 mil milhões (*), imaginará ela quanto custaria aos contribuintes a nacionalização de um banco como o BES de uma dimensão dezenas de vezes superior à do BPN?

(*) Ainda que venha a custar os 4 mil milhões (provavelmente custará menos), custará aos accionistas dos bancos privados e só indirectamente aos contribuintes pela quota-parte da Caixa, ao contrário da nacionalização cujo custo seria suportado integralmente pelos contribuintes, como no caso do BPN.

Títulos inspirados (49) - Vai haver um peditório de empresas inovadoras

«Banif, BCP e Novo Banco assinam acordo para dar 420 milhões a empresas inovadoras» titulou o Económico. O «dar» é aqui uma figura de estilo, mas não é uma figura de estilo ocasional. É uma figura de estilo inspirada no maná bíblico que Deus proporcionou aos judeus na travessia do deserto durante 40 anos, maná transfigurado nos fundos europeus que vai fazer 30 anos nos são enviados de Bruxelas.

Diferentemente do maná que Deus criou do nada e fez cair dos céus, os céus neste caso são Bruxelas e o nada são os bolsos dos sujeitos passivos europeus a quem os diversos Estados subtraíram impostos que se não tivessem sido subtraídos seriam aplicados, quiçá «dados» a empresas inovadoras.

19/09/2015

DIÁRIO DE BORDO: Clowning for a cause

Aqui no (Im)pertinências já estudámos várias áreas de causas: o jornalismo de causas, as estatísticas de causas, a ciência de causas, a justiça de causas e até, pasme-se, a tradução de causas. Todas estas áreas partilham de características genialmente identificadas pelo jornalista e escritor Armando Baptista-Bastos a respeito do jornalismo de causas.

Para B-B o jornalismo de causas é «sobretudo o porta-voz daqueles que não têm voz». É o jornalismo em que «não há factos. Os factos correspondem à visão do mediador, do repórter». É o «jornalismo de indignação». Mutatis mutandis, isto aplica-se às restantes áreas de causas, cuja ideia central é a relatividade da verdade que depende sempre da bondade da causa.

Um exemplo clássico da ciência de causas é a genética de causas desenvolvida por Trofim Denisovich Lysenko que Estaline tornou ciência oficial até que, caído Lysenko em desgraça, a sua teoria da influência ambiental na hereditariedade das plantas foi banida em 1948.

Concluí agora que devemos acrescentar mais uma área de causas na actividade humana: o humor de causas. Para simplificar, se o jornalismo praticado por B-B é um paradigma do jornalismo de causas, o humor dos Gato Fedorento – os rapazes que trabalham na publicidade da PT e entregaram as suas economias ao GES – é um paradigma do humor de causas.

Ocorreu-me isso quando li que tinham dado um acolhimento muito ternurento ao tio Jerónimo do PCP no tempo de antena de que dispõem na TVI, em contraponto - usando as palavras Luís Osório no jornal SOL - ao «efeito Ricardo Araújo Pereira em prime time é (que) uma demolidora ameaça. Os Gato Fedorento chegam a milhões de pessoas e têm um alvo a abater: Passos Coelho. O principal e mais popular humorista português é uma faca aguçada que influenciará mais do que todos os editoriais, comentários de especialistas ou primeiras páginas de jornais. Não é um pormenor.»

A clarividente explicação de Luís Osório não é um pormenor e sugere-me que, se o jornalismo de causa não precisa de factos, o humor de causas não precisa de humor. Há um alvo a abater.

De boas intenções está o inferno cheio (37) – A religião é a política por outros meios? (X)

Podemos especular sobre as razões profundas do enamoramento da esquerdalhada em geral pelo papa Francisco, mas os exemplos não faltam. Quem diz a esquerdalhada em geral diz a esquerdalhada em particular. Por exemplo a esquerdalhada artística.

Desta vez calhou à punker Patti Smith, uma rapariga já com idade (70 anos) para ser bisavó, que em entrevista ao Público disse que «o Papa Francisco é alguém que me interessa muito. Ele é católico, eu não, mas a sua visão não é circunscrita aos católicos, é global, e isso interessa-me. (…) o Papa Francisco é muito mais revolucionário do que Barack Obama.»

Escrito isto, acrescento que, por acaso, até apreciei algumas da produções de Patti Smith. Simplesmente ser uma talentosa singer-songwriter qualifica-a tanto para ter opiniões estimáveis como a obra do economista liberal Thomas Sowell o qualifica para cantar decentemente «Because the Night».

18/09/2015

Pro memoria (265) – Costa, o devedor de promessas (8)

Inventário

Em promoção:

António Costa prometeu «que o PS não vai viabilizar o próximo orçamento, se a coligação ganhar as legislativas». Costa não sabe qual é o orçamento. Só sabe que vota contra.

Também garantiu que não chegou à política através «de actividades em empresas de objecto social obscuro». Costa poderia mesmo garantir que não chegou onde quer que tenha chegado através de quaisquer actividades em quaisquer empresas com qualquer objecto social. Ele desde tenra idade dedica-se à política em exclusivo.

Saldos:

«Costa promete travar subida da idade de reforma» (30-08-2015)

DIÁRIO DE BORDO: Não me conformo

Cada um indigna-se com o que quer, ou o que pode. Eu indigno-me desde há 7 anos com o downgrade de Plutão de planeta para objecto celeste. Não sou o único que rasga as vestes por isso – descobri depois que há mais indignados plutónicos.

Fonte: Wired

Agora que a New Horizons está a enviar gigabits de dados colhidos em Julho na sua passagem a 12.500 km de Plutão, podemos apreciar em todo o seu esplendor este objecto celeste. Mais do que celeste, celestial.

Exemplos do costume (34) - O PS faz o papel de uma nova União Nacional

Durante a longa noite fascista, bispos abençoavam o professor doutor Salazar e padres nas suas homílias incensavam o salazarismo. Uns e outros que o faziam eram situacionistas, como então se chamava aos adeptos do Estado Novo.

Hoje, o Estado Novo é o Estado Sucial e o situacionismo é corporizado pelos socialismos de todos os partidos e em especial pelo socialismo do Partido Socialista que sendo a agremiação com mais hipóteses de governar é aquela que mais atrai os novos situacionistas.

É por isso compreensível que o antigo bispo das Forças Armadas, Januário Torgal Ferreira, tenha assistido sossegado, sem um sobressalto de alma e sem uma dúvida, a anos de governação socialista que nos levaram à bancarrota, durante os quais a clique no poder assaltou empresas, bancos e mídia. É igualmente compreensível que o bispo tenha feito o seu agitprop no pico do surto de indignação e agora faça a sua declaração de voto. Ei-la:
«Costa não é Deus, pode ter as suas debilidades, mas já o vi governar na Administração Interna e, como cidadão, vi-o em Lisboa. (...) Vai votar em Costa? Claro. Não tenho dúvidas de que tem toda a razão nas críticas. (...) E digo mais: do ponto de vista jurídico, muita água há-de correr debaixo da ponte no processo José Sócrates.»

17/09/2015

ACREDITE SE QUISER: Também não ouvi o debate (um deles é um marciano, mas nenhum deles era o Orson Welles a anunciar a invasão)

Pela mesma razão: estes debates só são úteis aos eleitores indecisos e se um eleitor está indeciso depois de tudo o que se passou nos últimos 10 anos, para não recuar mais, é muito provável que sofra de um défice cognitivo. Por isso, estando os debates orientados para os espectadores com défice cognitivo não serão muito interessantes para os normais.

Não vi, portanto. Não devo ter perdido nada de importante, a não ser as promessas de Costa e, mesmo assim, há muitas mais de onde estas vieram.

Pro memoria (264) – Costa, o devedor de promessas (7)

Inventário

Em promoção (promessas frescas saídas do debate de hoje na rádio):

«A intenção do PS é restabelecer as prestações como o Rendimento Social de Inserção e o Complemento Solidário para Idosos»

«Aumenta o CSI (a prestação que permite aos pensionistas mais pobres chegara um valor mínimo)».

Uma nova prestação social para ajudar as pessoas que estando a trabalhar não têm rendimento suficiente”

«Costa prometeu, preto no branco, baixar os impostos à classe média»

«Não há novos cortes nas pensões, ao contrário do que a direita propõe»

«Uma majoração da indemnização por despedimento e por outro lado, que as pessoas que tenham rescindido com uma empresa por mútuo acordo tenham na mesma direito ao subsídio de desemprego.»

«Prometeu “menos seletividade e mais inclusão” (na educação)

»Usar o fundo de garantia da Segurança Social para financiar o programa de reabilitação urbana» (aqui).

Saldos:

«António Costa promete rever as portagens da Via do Infante» (10-07-2015)

ESTADO DE SÍTIO: Conflito de interesses? Qual conflito? Quais interesses?


O juiz Rui Rangel é um comentador habitual de temas de justiça e num dos debates em que participou na TVI opinou sobre o processo Marquês em que está envolvido José Sócrates. Opinou não apenas sobre questões de direito (talvez até não tenha dito nada relevante desse ponto de vista) e também sobre matérias resvalando para a política. Cito (via Observador)

«É um direito do arguido recusar a pulseira electrónica – e não uma posição de força. É um direito do arguido. Está na lei. Ponto. E (do exercício) desse direito nem sequer se pode tirar qualquer consequência que venha a prejudicar os (restantes) direitos do arguidos naquele processo. O que pode ficar de pior para todos nós, para o Estado, para a democracia, para o Direito, é que a Justiça reage epidermicamente, de forma vingativa, só por que o arguido usou de um direito e de uma prerrogativa legal de recusar a pusleira electrónica. Isso é o pior que pode acontecer.»

O mesmo juiz foi agora indicado para apreciar o recurso de José Sócrates relacionado com o acesso a parte da prova indiciária. Com a mesma ligeireza/falta de isenção (cortar conforme o gosto) com que emitiu as opiniões, aceitou apreciar o recurso não vendo nisso qualquer incompatibilidade.

Não é só preciso parecer sério, é preciso ser sério. Se não conseguir ser sério, ao menos que se tente parecer.

16/09/2015

BREIQUINGUE NIUZ: Graças ao Público ficámos a saber que o animal feroz era manso


Em mais um serviço do diário de referência ao jornalismo de qualidade, o Público divulga «A carta de Passos a Sócrates em 2011 (que) prometia apoio à vinda da troika» escrita há mais de quatro anos. Lê-se nas entrelinhas que a carta terá levado o então primeiro-ministro José Sócrates, o animal feroz, a pedir a intervenção da troika.

TIROU-ME AS PALAVRAS DA BOCA: Também não os entendo

«Eu confesso a minha perplexidade: não entendo as pessoas de esquerda. Não, não se trata da mania de por o estado em tudo, de achar que o burocrata de serviço ou o legislador sabem melhor do que eu tomar conta da minha vida (isso também não percebo). Nem a afeição (incompreendida pela minha pessoa) por empresas públicas mal geridas. Nem sequer do amor sem limite por impostos (entendo ainda menos). (...) 

Não, desta vez o que não percebo na esquerda é a sua visão das mulheres. Deixemos por agora de lado os factos de o magnífico Syriza, farol de todas as esperanças à esquerda, ter conseguido fazer um governo sem nenhuma senhora. Ou de Corbyn, a mais recente paixão dos socialistas nacionais com acesso às redes sociais, ter constituído um governo sombra all male. Juro que não vi nem o mais pequeno resquício de fanico nos esquerdistas lusos à conta de tanto exuberante machismo. Mas deixemos o internacionalismo.».

«A esquerda baralha-se quando se trata de mulheres», Maria João Marques no Observador

O ruído do silêncio da gente honrada no PS é ensurdecedor (116) – Os socialistas convivem bem com a imprensa amiga e convivem mal com a liberdade de imprensa

Em menos de uma semana, o PS e o seu líder demonstraram, uma vez mais, o que é para os socialistas a democracia e, em particular, a liberdade de imprensa.

Na entrevista à RTP da semana passada, António Costa não gostando das perguntas do jornalista resolveu insultá-lo e tentou a intimidação acusando-o de ser uma espécie de serventuário da coligação (vídeo disponível).

Quanto ao programa Prós e Contras de RTP de 2.ª feira, dedicado ao tema «A independência da justiça» (vídeo disponível), várias luminárias socialistas tentaram evitar a sua realização alegando que se tratava de uma cabala contra o PS, visto que se seguiu a uma polémica à volta de um juízo de Paulo Rangel sobre a improbabilidade de Sócrates e Ricardo Salgado serem detidos se o PS fosse governo. É definitivamente esclarecedor que os socialistas tivessem enfiado a carapuça até às orelhas.

Igualmente esclarecedoras foram as insinuações de ligações de jornalistas com intervenção na campanha eleitoral com familiares do PSD ou do governo, isto vindo de gente que tem a casa cheia de conflitos de interesses e tem talvez o caso mais gritante nesta matéria que são os irmãos Costa (ver este post de O Insurgente) revela a sua entranhada doutrina Somoza.

O que diriam os apparatchiks socialistas se o director de um «jornal de referência», em vez de ser irmão do Futuro Primeiro-Ministro de Portugal, fosse irmão do actual? Certamente não diriam o que o (Im)pertinências tem escrito sobre o irmão Ricardo.

15/09/2015

Pro memoria (263) - A pergunta de 80 mil milhões de euros: Quem chamou a troika?

Resposta A; Passos Coelho, segundo Costa (se não a chamou, desejou-a)

Resposta B: José Sócrates, aconselhado por Mário Soares, segundo Mário Soares



Resposta C: José Sócrates, segundo ele próprio



Resposta D: Foram os bombeiros, segundo Teixeira dos Santos

Títulos inspirados (48) – A festa do «Avante» é muito excitante

«Festa do “Avante!”: Uma das seis alegadas vítimas “estava a praticar sexo oral”, diz o PCP» titula o Expresso.

Explicam os comunistas no seu comunicado que a intervenção dos seguranças não foi por «duas pessoas do mesmo sexo se teriam beijado [mas] teve origem num acto de sexo oral em pleno espaço».

O comunicado do PCP mostra que se o homo-sexo já foi integrado no cânone comunista o sexo oral em pleno espaço só no próximo congresso.

Bons exemplos (105) – FT Masters in Management 2015

Os mestrados em Gestão da Nova e da Católica aparecem de novo este ano no ranking do Financial Times, o primeiro a subir de 48.º para 31.º e o segundo a descer de 49.º para 55.º. Nada mal para um pequeno país de 10 milhões que tem mais mestrados no ranking do que Áustria, Austrália, Canada, Hungria, Irlanda, Suécia, República Checa e Rússia e o mesmo da Dinamarca, Finlândia, Noruega, Polónia e Suíça.

Financial Times

14/09/2015

Encalhados numa ruga do contínuo espaço-tempo (45) – Minas de carvão para todos e carruagens só para mulheres (2)

(Continuação daqui)

Labour under Corbyn: take cover

«He is nowhere near government. But Jeremy Corbyn’s election on September 12th to lead Britain’s opposition Labour Party is stunning. Even the appointment of some moderate front-bench colleagues will do little to erode the legacy of his decades on the hard left. Like his Venezuelan-style economics (printing money and state intervention), his foreign policy is startling. He is viscerally anti-American, dislikes NATO, wants to scrap Britain’s nuclear weapons, blames the West for Russia’s invasion of Ukraine and can see no circumstances in which he would send British troops to fight abroad. He has consorted with terrorist groups including the IRA, Hamas and Hizbullah. He is lukewarm on the European Union, which will not help Mr Cameron fend off Brexit. Meanwhile, congratulations are pouring in: from Bernie Sanders in America, Germans nostalgic for the GDR, and Argentina’s Cristina Kirchner. She likes his plan for joint sovereignty over the Falklands—another sure-fire vote-winner.»

The Economist Espresso

Entretanto o Buzzfeed publicou várias notícias falsas com um humor very british sobre a vitória de Corbyn. Algumas são verdadeiramente hilariantes.

CASE STUDY: Os amanhãs que cantarão, segundo o PS, ou o triunfo da fé e da esperança sobre a experiência (7)

Outros amanhãs.


Antes de retomar os comentários ao relatório dos 12 sábios «Uma década para Portugal», interrompo a sequência por razões de oportunidade para citar a entrevista do Expresso ao economista Pedro Portugal a respeito da redução da TSU que é uma das propostas do Programa do PS mas, curiosamente, não faz parte do relatório dos 12 sábios.

Antes disso, devo advertir que no (Im)pertinências colocámos em devido tempo as reservas à solução preconizada por Pedro Portugal - a este respeito ver as séries «CASE STUDY: Efeitos da redução indiscriminada da TSU compensada por um aumento do IVA» e «Mitos - a redução indiscriminada da TSU é equivalente a uma desvalorização da moeda»). Sobre a proposta do PS não tenho dúvidas e concordo que é um disparate sem remissão como explica Pedro Portugal:
«O custo da redução da TSU (a cargo dos trabalhadores) será de €5 mil milhões - o preço da injeção do BES/ Novo Banco-para criar 45 mil postos de trabalho no acumulado dos quatro anos. Cada um destes postos de trabalho custa mais de €100 mil. Não sei o que pensar de um decisor político que acha isto razoável. Até porque contrasta com os 100 mil empregos criados no segundo trimestre deste ano. (…) As propostas do PS têm uma lógica eleitoral: não é prometer tudo a todos, mas é prometer alguma coisa a todos».

2.4 Mercado de trabalho


Clicar para ampliar
Os sábios queixam-se de 90% das novas contratações de desempregados serem contratos temporários, sem perceberem que tendo sido os trabalhadores temporários os primeiros a ser despedidos é normal que quando a retoma se inicia sejam os primeiros a ser contratados.

Outro equívoco resulta de não perceberem que a baixa taxa de sindicalização pouco afecta a rigidez do mercado de trabalho porque as condições negociadas entre sindicatos, que representam sobretudo os trabalhadores das maiores empresas, e as associações destas empresas são aplicáveis também aos trabalhadores não sindicalizados e em geral das pequenas empresas, pela via administrativa da extensão salarial (ver este post),

Subjacente a estes e outros equívocos está a ideia de que o mercado de trabalho português está suficientemente liberalizado. Sendo certo que nos últimos anos a rigidez se reduziu significativamente, é igualmente certo que continua uma das mais elevadas dos países desenvolvidos (ver diagrama).

2.5 Situação social


Também neste capítulo vamos encontrar os equívocos habituais baseado nas ladainhas que fazem parte do património cultural da esquerda portuguesa, como aqui escreveu o Pertinente demonstrando com base nos dados da OCDE as falácias por trás desses mitos. Cito:
  • Mito: a crise agravou as desigualdades. Realidade: em Portugal as desigualdades aumentaram apenas moderadamente e, em relação aos rendimentos disponíveis (isto é, rendimentos depois de impostos e subsídios sociais), as desigualdade diminuíram. 
  • Mito: a crise teve efeitos mais graves em Portugal. Realidade: os rendimentos disponíveis das famílias tiveram quedas maiores ou mesmo muito maiores na Grécia, Islândia, Espanha e México.
  • Mito: os pobres foram os mais afectados. Realidade: em Portugal os mais afectados foram os ricos. 
  • Mito: os idosos foram ainda mais afectados. Realidade: em Portugal os idosos tiveram ganhos nos rendimentos disponíveis.
  • Mito suplementar: ah, isso foi no período 2007-2001. Realidade: a «austeridade neoliberal» foi menos penosa do que a «austeridade socialista» do Dr. Soares.
(Continua)

13/09/2015

Pro memoria (262) - A quem vos disser que o problema dos migrantes e refugiados deve ser resolvido com o coração recomendai-lhe um transplante

[Uma espécie de sequela de Esclarecendo os conceitos e colocando em perspectiva a crise de migrantes e refugiados para a Europa]

«Germany announced Sunday that it was invoking emergency powers to start protecting its borders, seemingly reaching a point of overload after greeting with open arms tens of thousands of migrants pouring into Europe, and urging other European nations to do the same.

At a news conference, Interior Minister Thomas de Maizière announced that Germany would temporarily enforce measures that would block people at its borders.

The announcement followed a meeting to discuss the refugee crisis, after the flood of people from Syria, Iraq, Afghanistan and other troubled areas into Munich and other Eastern German cities continued unabated for the second weekend in a row.

A total of 12,200 migrants came to Munich on Saturday, according to the German police, The Associated Press reported. On Sunday morning alone, 700 people arrived at Munich’s main train station, the federal police spokesman Simon Hegewald told the A.P.

The emergency measures would presumably allow Germany to turn away migrants from the Balkans and other areas whose citizens are not fleeing war or persecution.»

NYT

ACREDITE SE QUISER: Não precisa mais mortificar-se com dúvidas

Todos nós já passámos por aqueles dias em que nos levantamos (quando nos levantamos) sem saber se estamos bem ou mal dispostos e ficamos o resto do dia angustiados pela dúvida. Em breve, esses dias não voltarão mais, garante-nos a Universidade de Coimbra.

Com a aplicação «Happy Hour», desenvolvida durante quatro anos por uma equipa de investigadores do Departamento de Engenharia Informática da Faculdade de Ciências e Tecnologia da UC, o telemóvel identificará «o estado de espírito dos seus utilizadores» e apresentará «informação, em tempo real, sobre os espaços verdes de interesse mais próximos (como parques ou jardins)» promovendo «caminhadas e exercício físico como forma de melhorar a situação emocional de quem a utiliza».

Fica assim demonstrado que foram em vão os esforços dos detractores da investigação científica em Portugal financiada pelo orçamento, que está bem e recomenda-se – a investigação, não o orçamento. Fica apenas a dúvida se o uso imoderado da «Happy Hour» não reduzirá a happiness.

QUEM SÓ TEM UM MARTELO VÊ TODOS OS PROBLEMAS COMO PREGOS: O alívio quantitativo aliviará? (33) – Aliviar, alivia, de momento alivia o crescimento no Japão (IV)

Outras marteladas. Continuação de (I), (II) e (III)

Depois de quase três anos de quantitative easing (QE). uma das medicinas das Abenomics, as políticas económicas de Shinzo Abe, o primeiro-ministro japonês, os resultados da terapêutica continuam na mesma linha: no 2.º trimestre a economia japonesa permanece em recessão e contraiu mais de 1,2% (Bloomberg).

Terá a recessão sido consequência do QE? Não creio. Os resultados do QE só serão visíveis provavelmente a médio prazo: bolhas nos mercados de capitais e no mercado imobiliário, mau investimento, riscos excessivos, etc. Por agora o que se vê não são os resultados do QE. O que se vê é a sua inutilidade do QE para resolver problemas estruturais e demográficos.

12/09/2015

Mitos (211) – Para além da troika

Por diversas vezes desmistificámos no (Im)pertinências a lengalenga de Passos Coelho e do seu governo de ter tomado medidas para além das previstas no Memorando de Entendimento. Foi uma lengalenga que, sendo mentira, confirmou a berraria da oposição e deu tiros nos pés do governo perante uma opinião pública maciçamente contra a maioria dessas medidas e odiando em particular as que lhe foram directamente aos bolsos e, por isso, foi uma mentira biblicamente estúpida.

Durante o debate esta semana nas televisões, Costa desenterrou-a sem o menor dos escrúpulos ou sem fazer a mínima ideia do que estava dizer (dependendo o seu grau de ignorância) perante a passividade de Passos Coelho. Uma leitura em diagonal do Memorando de Entendimento mostra claramente que muitas reformas não foram adoptadas (entre elas a reforma autárquica e a da administração pública que se limitaram a cosmética).

Quanto às medidas com impacto orçamental recomendo os seguintes posts do Insurgente: «Portugal não foi além da Troika» e «Recordam-se deste gráfico?» que deixam patente não ter ido o governo para além do Memorando. Em vez disso, ficou aquém, como de resto resulta do facto elementar de todos os défices previstos no MoU e nas suas revisões terem sido excedidos.

Pro memoria (261) – Costa, o devedor de promessas (6)

Inventário

Em promoção:

«António Costa promete mais quatro ministros e um novo ministério» (21-08-2015)

«Líder do PS diz que vai criar 100 novas unidades de saúde familiar durante a próxima legislatura, permitindo que mais meio milhão de pessoas passe a ter médico de família» (28-08-2015)

«António Costa promete aumentar o salário mínimo e defende mais investimento na inovação» (30-08-2015)

Saldos:

«Costa promete espécie de complemento solidário para crianças e jovens» (14-03-2015)

«O voto é de novo a arma do povo» (24-04-2015) gritou num momento PREC apropriado à data

«Com um Governo socialista "não haverá cortes nas pensões"» (31-05-2015)

11/09/2015

Pro memoria (260) - O animal feroz reencarnado

Que Costa ganhou o debate, seja lá o que for ganhar debates, parece não haver dúvidas. O escrutínio dos opinion dealers é pesadamente a seu favor, o escrutínio do twitter um pouco menos e as sondagens muito menos. É possível que com grande desgosto dos opinion dealers e do aparelho socialista as intenções de voto não se alinhem com estas opiniões e ainda mais possível que as urnas com elas se desalinhem.

Como quer que seja, podemos tomar como certo a reencarnação do animal feroz no corpo de Costa, não apenas pela sua performance no debate e, sobretudo, pelas suas reacções na entrevista de ontem à noite na RTP. Zangado por lhe fazerem perguntas inconvenientes tentou intimidar várias vezes o jornalista de serviço fazendo lembrar o querido líder. Algumas pérolas:
  • «Está aqui como porta-voz do dr. Pedro Passos Coelho» 
  • «Repetiu aquela cartilha da coligação» 
  • «acho muito estranho é que o senhor tenha muitas dúvidas. Eu sei que está aqui a replicar o que diz a coligação» 
  • «Em relação às suas perguntas, o que tenho a dizer é o seguinte: pode fazer as perguntas todas que quiser, mas o PS é o único partido que tem as contas feitas» 
  • pegou num documento com o resumo das contas do partido e deu-as ao jornalista: «Já vi que não teve tempo de as ler...»
Aditamento:
Veja este vídeo com um dos momentos animal feroz de Costa.

Ressabiados do regime (18) – O caso notável do professor Freitas do Amaral (ainda outra vez)

(Uma espécie de continuação daqui e dali)

Uma das consequências não intencionais das suaves brisas liberalizantes que nos últimos quatro anos refrescaram um pouco o bafio do PSD foi ajudar a clarificar o denso nevoeiro doutrinário doméstico. Não que o professor doutor Freitas do Amaral precisasse desse contributo porque ele há muito vem fazendo o seu caminho (em ziguezague, acrescente-se, dado o seu sensível e pletórico ego) – o caminho a caminho do socialismo.

O último episódio – o voto anunciado no PS – não surpreende. É, por assim dizer, a chegada a um destino que pode não ser o último, dependendo muito de como o PS da ocasião lustrar o seu luzido ego. Recordemos o conúbio seguido de divórcio disfarçado do excelso com o querido líder de cujo governo foi ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros e as subsequentes dúvidas que com 6 anos de atraso o assaltaram nas vésperas da chegada da troika, como aqui relatou o Impertinente.

Na fundamentação da sua decisão de voto o excelso usa, sem ironia (de que ele de resto parece ser incapaz), alguns argumentos curiosos, tais como: «não gostei nada do estilo neoautoritário do PM», «indigna-me a falta de sensibilidade social desta direita neoliberal», «PS apresenta-se (e bem) como o partido do crescimento económico e da criação de emprego». Contudo, para quem foi ministro de José Sócrates, o seu argumento mais surpreendente é a acusação a Passos Coelho de «manipular os números, para poder fugir à verdade plena, sobretudo através de omissões e meias verdades»

Horror! Neoautoritário!
O excelso termina citando Churchill, «às vezes é necessário mudar de voto ou de partido, para não ter de mudar de princípios». É uma citação arrojada para quem começou a sua vida política como procurador à Câmara Corporativo salazarista, descobriu-se cristão-democrata, rigorosamente centrista, votou contra a Constituição que hoje venera, diz-se admirador da social-democrata e agora também admirador do «experiente, sério e democrata António Costa».

Eu termino citando um dos nossos lemas: «Os cidadãos deste país não devem ter memória curta e deixar branquear as responsabilidades destas elites merdosas que nos têm desgovernado e pretendem ressuscitar purificadas das suas asneiras, incompetências e cobardias.»

10/09/2015

ACREDITE SE QUISER: Não vi o debate (nenhum deles era uma Sarah Bernhardt)

Não porque esperasse, como disse Joaquim Letria ao Expresso, que teria «tanto interesse como ver o Arouca-Tondela», mas porque costumo sentir-me desconfortável com o grau de demagogia que se pode esperar de uma coisa destas numa altura destas.

Não me orgulho disso, nem é por diletantismo. Julgo que estes debates só são úteis aos eleitores indecisos e se um eleitor está indeciso depois de tudo o que se passou nos últimos 10 anos, para não recuar mais, é muito provável que sofra de um défice cognitivo. Por isso, estando os debates orientados para os espectadores com défice cognitivo não serão muito interessantes para os normais.

É claro que um debate poderia ser interessante de outros pontos de vista. Por exemplo, como arte performativa, como agora se diz, uma espécie de teatro ou, melhor, circo. Nesse caso poderiam contar comigo se algum dos intervenientes fosse assim como uma Sarah Bernhardt, a Divina, com o génio capaz de empolgar uma plateia ainda que lesse uma lista telefónica, dizia-se.

Dúvidas (120) – Quem é realmente Alexis Tsipras? (2)

[Continuação de (1)]

«Jean-Claude Juncker revelou nesta quarta-feira, 9 de Setembro, perante o Parlamento Europeu que, ao contrário do que dizia em público, o ex-primeiro-ministro grego Alexis Tsipras não queria cortes no Orçamento da Defesa, nem que armadores pagassem impostos, nem que os mais ricos tivessem de suportar maior carga fiscal.

"Eu, conservador, fiquei muito surpreendido por ter estado duras horas para impor que os gregos mais ricos pagassem mais impostos. Fui eu, não foi o senhor Tsipras, que o exigiu", frisou, referindo-se às longas e duras negociações em torno das condições exigidas pelos parceiros europeus para aceitar conceder o terceiro resgate à Grécia

(Fonte: Negócios)

Não é que o Sr. Juncker e o seu presumível apego aos copos mereçam muito crédito, mas tendo a criatura dito o que disse no parlamento europeu perante 751 almas (descontando os faltosos) e conhecendo-se as cambalhotas recentes do Sr. Tsipras, estou inclinado a acreditar.

09/09/2015

DIÁRIO DE BORDO: Até um coxo (de uma perna, das duas é mais difícil) ACTUALIZAÇÃO


Há uns dez meses, por ocasião da ascensão do ungido Costa ao Olimpo do socialismo, publiquei este post onde considerava que seriam favas contadas ganhar as eleições contra um governo desgastadíssimo, odiado pelos milhões de dependentes do Estado Sucial (quase metade dos portugueses com mais de 15 anos recebem uma pensão ou são funcionários públicos) e crentes do mesmo e não amado pelos restantes. Daí o título «Até um coxo». Quanto mais o ungido.

Escrevi então que Costa foi trazido ao colo por uma imprensa amestrada a incensá-lo como um dom sebastião que chegará numa madrugada de nevoeiro para salvar este Reino de Pacheco (era uma alusão a Alexandre O'Neill e, não, não era uma piada ao Pacheco m-l, mas, agora, dez meses depois, até pode ser) e prognostiquei que seria o primeiro-ministro o mais tardar em Outubro do próximo ano. Até um coxo o seria, bastando dizer as patetices que os portugueses querem ouvir.


Dez meses passados e vendo a sondagem da Aximage publicada hoje que mostra as intenções de voto no PS 5,6% atrás da coligação PSD-CDS, confirmo que me enganei substancialmente completamente.

CASE STUDY: Um imenso Portugal (15)

A Internacional Socialista – Secção Lusófona


Uma reportagem de 6 páginas da Revista Veja publicada hoje

ACREDITE SE QUISER: Os comunistas nunca comeram criancinhas ao pequeno-almoço

«A Grécia e o modo como ali evoluiu a situação política, transformou-se numa bênção para o Governo português. A propósito ou a despropósito havia um fantasma a ser convocado: Grécia, Grécia, Grécia, Grécia. As vezes que forem necessárias até não haver dúvidas: a Grécia terá hoje, para a direita portuguesa, o mesmo valor simbólico contido na propalada imagem dos comunistas a comerem criancinhas ao pequeno almoço de outros tempos.»

Valdemar Cruz, no Expresso Curto, a propósito das larachas entre Catarina Martins e Paulo Portas ontem à noite

Clique para ampliar
Tem o articulista toda a razão, os comunistas nunca comeram criancinhas ao pequeno-almoço, ao contrário do que diziam fascistas portugueses.

Os fascistas portugueses em 50 anos, segundo as fontes e as doutrinas, assassinaram entre algumas dezenas e umas poucas centenas de oposicionistas e, portanto, não têm know-how nem credibilidade nesta matéria.

Quem apresenta trabalho feito e por isso merece crédito são os comunistas russos, chineses, coreanos, latino-americanos, africanos e outros que fizeram, tudo por junto, umas dezenas de milhões de mortos (só Pol Pot e os seus Khmers liquidaram uns 2 milhões).

Pro memoria (259) – Costa, o devedor de promessas (5)

Inventário

Em promoção:

«Costa promete repor cortes dos salários na função pública e as 35 horas semanais»

«Costa pede o voto a quem, nas ruas, lhe diz: "corra com eles, ponha-o na toca". E compara plafonamento da Segurança Social com o caso dos lesados do BES.»

Saldos:

«Costa defende que os presos devem passar o menor tempo possível nas celas e defende salários justos nas cadeias.» (21-05-2015)

«O secretário-geral socialista assegurou hoje, perante a Comissão Nacional do PS, que uma descida da Taxa Social Única (TSU) para empregadores e trabalhadores» (24-05-2015)

Pro memoria (258) – Esclarecendo os conceitos e colocando em perspectiva a crise de migrantes e refugiados para a Europa

Esclarecendo os conceitos


Segundo a Convenção de Refugiados de 1951, refugiado é uma pessoa «temendo ser perseguida por motivos de raça, religião, nacionalidade, grupo social ou opiniões políticas, se encontra fora do país de sua nacionalidade e que não pode ou, em virtude desse temor, não quer valer-se da protecção desse país». «Migrantes, especialmente migrantes económicos, decidem deslocar-se para melhorar as perspectivas para si mesmos e para suas famílias. Já os refugiados necessitam deslocar-se para salvar suas vidas ou preservar sua liberdade.» (ACNUR)

Quantos serão de facto os refugiados entre a massa de pessoas que tentam entrar na Europa vindos de África e do Médio-Oriente?

Colocando em perspectiva (1)


«Entendamo-nos: o número de pessoas que está a chegar à Europa é ínfimo. Há quarenta anos, em Setembro de 1975, quatro mil portugueses provenientes de Angola desembarcavam diariamente nos aeroportos da Portela e Pedras Rubras. Portugal, um pequeno país viu chegar, entre 1974 e 1976, mais de meio milhão de pessoas às quais nunca reconheceu o estatuto de refugiados. Chamou-lhes retornados.

À época não vimos fotografias das crianças mortas, que as houve, nem das mulheres violadas, nem dos condutores queimados vivos. Vimos alguns corpos, geralmente de negros, amontoados nas ruas de uma Angola a soçobrar na guerra. E, claro, tivemos depois as imagens de gente amontoada no aeroporto, dos bebés de biberon na boca a entreter o sono e dos caixotes em frente ao Tejo

«Vamos lá trocar umas ideias sobre o assunto», Helena Matos no Observador

Colocando em perspectiva (2)


«To put this in perspective, the U.S., with a population of 320 million, has some 11 million undocumented immigrants. They make up about 3.5 percent of the U.S. population. The EU, by contrast, had between 1.9 and 3.8 million undocumented immigrants in 2008 (the latest available figures), or less than one percent of its population, according to a study sponsored by the European Commission. Put another way, nearly 13 percent of the U.S. population (some 41 million residents) are foreign-born -- twice the proportion of non-EU foreign-born people living in Europe

«The Refugee Crisis That Isn't», Kenneth Roth, Executive director of Human Rights Watch

07/09/2015

SERVIÇO PÚBLICO: A Internacional da Indignação (2)

«Quando redobraram as notícias sobre multidões que fogem para a Grécia e para a Europa em geral, pensei tratar-se de uma falha - nas notícias ou no GPS das multidões. Afinal, estivemos meses a aprender que na Grécia, e na Europa em geral, se vivia uma tragédia humanitária nunca vista. Contra todas as expectativas, havia tragédias assaz maiores já ali ao lado. E os que lamentavam a devastadora austeridade que nos caiu em cima são os mesmos que agora exigem a partilha da nossa ofensiva abundância com os desafortunados do Médio Oriente e de onde calha. De súbito, a Europa tornou-se rica e repleta de empregos, alojamentos decentes, mesas fartas, privilégios sem fim. É o lado bom da crise dos refugiados.

O lado mau é que os corpos dos refugiados, vivos ou mortos, continuam a dar à costa. Vale que a reacção dos europeus se revela de fulgurante utilidade: correr para o Facebook a partilhar a fotografia do cadáver de uma criança estendido na praia e a criticar a passividade da Europa. Ou a indiferença dos governos. Ou a desumanidade de um destinatário genérico que naturalmente exclui o próprio - e heróico - indignado em causa. Parece um concurso para apurar qual é o cidadão mais piedoso.

Por falta de candidatos, não é de certeza um concurso para apurar qual o cidadão que abriria as portas de casa ao maior número de refugiados. Descontadas as "dezenas" de voluntários de que falam as notícias, não vi muitas almas sensíveis passarem da sensibilidade à prática e afirmarem-se disponíveis para albergar, por um período transitório, dois sírios ou quatro curdos no quarto das traseiras. Possivelmente os refugiados perturbariam o sossego do lar, essencial para se alinhavar no Facebook manifestos de extrema preocupação com o destino dos refugiados. Esta atitude traduz a típica bravura moral de quem subscreve petições pelos pobres e não se digna olhar o mendigo que o interpela na rua. Ou de quem chora os "cortes" no SNS e não visita o amigo doente. Ou de quem protesta as touradas e não abriga um cão vadio. O sentimentalismo sem compromisso preza a higiene. E é, desculpem lá, uma treta.
»

«Sentimentalismo caro», ALBERTO GONÇALVES no DN

ACREDITE SE QUISER: Só muda de boina

«Um dos grandes acontecimentos da Festa do Avante foi a visita de Marcelo Rebelo de Sousa, que desembarcou no Seixal com uma boina parecida com as que Portas usava quando ainda declinava o substantivo lavoura. Marcelo optou por um padrão neutro, longe do ‘padrão CAP’ que Portas tanto usava em feiras.

E foi assim, de boina cocuruto, que Marcelo mostrou aquilo que todos já sabíamos. Pode ir ao Avante (onde já tinha ido sete vezes), a um encontro de monárquicos, de fanáticos de Hayek ou de adeptos vegan, e está sempre em casa. Só muda de boina.»

Ricardo Costa, no Expresso Curto

Conversa fiada (16) – O economista político pratica Economia Política

Numa entrevista do Expresso – que mais parece uma press release do PS - Mário Centeno afivela a sua nova máscara de político, cita inesperadamente Nietzsche («há homens que já nascem póstumos") e inevitavelmente Krugman («a espiral da morte»), diz uma série de banalidades e faz algumas críticas certeiras ao programa da coligação em linguagem colorida.

A propósito de uma eventual redução de impostos afirma ainda, surpreendentemente para um socialista, «não estamos a dar nada, o dinheiro é das pessoas… o dinheiro não é do Estado, é do sector privado».

Não pode deixar de ser uma frase pour épater le bourgeois. Se tirasse as conclusões do que disse, cairiam por terra as políticas passadas do PS e todo o seu programa com a receita habitual de subsídios, incentivos e investimentos com o dinheiro das pessoas, do sector privado.