Foi cancelada a greve dos trabalhadores da NAV que gere o espaço aéreo. Tinha como propósito contestar a «continuada ausência» de respostas do Governo para uma situação de «instabilidade social sem paralelo». Afectaria 2.600 voos e 400 mil passageiros.
Os pilotos da TAP mantêm a greve entre 5 e 8 de Julho e 1 e 5 de Agosto. O sindicato dos pilotos fez questão de esclarecer que esta luta não é por salários mas para combater o «clima degradado» (será o aquecimento global?), a «desigualdade de tratamento» e a política de «em tempo de fome aumente-se o capataz» (está explicado o recurso cada vez mais frequente dos pilotos ao Banco Alimentar).
Com a TAP em trânsito para ser vendida e representando o turismo 15% do PIB, greves no princípio dos dois meses mais fortes na entrada de turistas não podiam ser mais oportunas.
30/06/2012
CASE STUDY: Elefantes brancos em Espanha (15)
29/06/2012
AVALIAÇÃO CONTÍNUA: Verdade inconveniente
Secção Res ipsa loquitur
Ainda a propósito das «críticas inflamadas» à admissão por António Borges da emergência de baixar ainda mais os salários (ver aqui, aqui, e aqui), sinto-me obrigado a fazer uma referência a Daniel Amaral, um economista da área socialista que, não deixando de criticar o homem (já somos dois), faz umas contas simples para honestamente concluir:
Aparte as verdades dependerem de pudores, poderia subscrever o juízo de Daniel Amaral substituindo em «de um Governo que, até hoje, mais não fez do que» o «mais não fez» por «pouco mais fez». Isto não é um pormenor: estou convicto que parte do que o governo não fez e deveria fazer não tem suporte social para ser feito num país profundamente colectivista e dependente do Estado Sucial.
Ainda a propósito das «críticas inflamadas» à admissão por António Borges da emergência de baixar ainda mais os salários (ver aqui, aqui, e aqui), sinto-me obrigado a fazer uma referência a Daniel Amaral, um economista da área socialista que, não deixando de criticar o homem (já somos dois), faz umas contas simples para honestamente concluir:
«Com isto chegamos às famosas declarações de António Borges, conselheiro influente e figura de proa de um Governo que, até hoje, mais não fez do que aumentar os impostos, diminuir os salários, facilitar os despedimentos e elevar a taxa de desemprego até níveis insuportáveis. Borges foi conivente - e inconveniente. Eu posso dizer o que ele disse. Ele não. O que ele disse é verdade. Mas há verdades que o pudor recomenda que não se digam.»Leva 3 afonsos por se distinguir dos seus correligionários que não conseguem separar a verdade das conveniências.
Aparte as verdades dependerem de pudores, poderia subscrever o juízo de Daniel Amaral substituindo em «de um Governo que, até hoje, mais não fez do que» o «mais não fez» por «pouco mais fez». Isto não é um pormenor: estou convicto que parte do que o governo não fez e deveria fazer não tem suporte social para ser feito num país profundamente colectivista e dependente do Estado Sucial.
Presunção de inocência ou presunção de culpa? (5)
Continuação de (1), (2), (3) e (4).
João Cabral, engenheiro civil que trabalhou na Smith & Pedro, depois de ameaçado com multa por omitir factos, confirmou em tribunal a existência de pagamentos de luvas a «alguém importante» para a viabilização do projecto Freeport. João Cabral declarou ainda que uma quantia de dois milhões de contos ou de libras terá sido pedida pelo trio de advogados. Esta quantia na madrugada seguinte foi reduzida para 1,25 milhões de contos.
Como o projecto foi chumbado dessa vez, ficam as dúvidas de quanto terá sido pago posteriormente para a aprovação e quem seria o «alguém importante». Será o Pinóquio de que falou Charles Smith, cujo bom nome está a ser protegido pelo Mefistófeles lusitano? Já que falo nisso, será que o Mefistófeles, depois da sua recente nomeação para homem da cadeira da Cimpor, continuará a ter tempo para representar o Pinóquio?
João Cabral, engenheiro civil que trabalhou na Smith & Pedro, depois de ameaçado com multa por omitir factos, confirmou em tribunal a existência de pagamentos de luvas a «alguém importante» para a viabilização do projecto Freeport. João Cabral declarou ainda que uma quantia de dois milhões de contos ou de libras terá sido pedida pelo trio de advogados. Esta quantia na madrugada seguinte foi reduzida para 1,25 milhões de contos.
Como o projecto foi chumbado dessa vez, ficam as dúvidas de quanto terá sido pago posteriormente para a aprovação e quem seria o «alguém importante». Será o Pinóquio de que falou Charles Smith, cujo bom nome está a ser protegido pelo Mefistófeles lusitano? Já que falo nisso, será que o Mefistófeles, depois da sua recente nomeação para homem da cadeira da Cimpor, continuará a ter tempo para representar o Pinóquio?
28/06/2012
ESTADO DE SÍTIO: O Parlamento Europeu e as práticas sexuais desviantes
Facto um: segundo o Global Study Homicide da UNODOC, o número de homicídios em 2010 em todo o mundo foi 468.000, quase um por minuto.
Facto dois: em 26 de Janeiro David Kato Kisule, um conhecido activista gay ugandês, foi morto pelo prostituto masculino Enoch Sydney Nsubuga a cujos serviços recorreu, na sequência de uma disputa sobre o preço desses serviços.
Facto três: em 17 de Fevereiro o Parlamento Europeu adoptou uma resolução condenando o assassinato de Kato e denunciando, lamentando, apelando, preocupando-se extremamente, reiterando, instruindo, etc. (um total de 13 itens) várias coisas e a várias entidades.
Facto quatro: o PE não adoptou nenhuma resolução em relação a qualquer outra vítima entre o quase meio milhão de assassinados por crimes diversos todos os anos, incluindo as vítimas de perseguição política ou racismo.
Conclusão objectiva baseada nos factos: para o PE, o crime relacionado com práticas sexuais desviantes é o único que merece uma atenção especial.
Opinião subjectiva baseada nos factos: o PE está sob o controlo do lóbi das práticas sexuais desviantes.
[Lido no perspectivas]
Facto dois: em 26 de Janeiro David Kato Kisule, um conhecido activista gay ugandês, foi morto pelo prostituto masculino Enoch Sydney Nsubuga a cujos serviços recorreu, na sequência de uma disputa sobre o preço desses serviços.
Facto três: em 17 de Fevereiro o Parlamento Europeu adoptou uma resolução condenando o assassinato de Kato e denunciando, lamentando, apelando, preocupando-se extremamente, reiterando, instruindo, etc. (um total de 13 itens) várias coisas e a várias entidades.
Facto quatro: o PE não adoptou nenhuma resolução em relação a qualquer outra vítima entre o quase meio milhão de assassinados por crimes diversos todos os anos, incluindo as vítimas de perseguição política ou racismo.
Conclusão objectiva baseada nos factos: para o PE, o crime relacionado com práticas sexuais desviantes é o único que merece uma atenção especial.
Opinião subjectiva baseada nos factos: o PE está sob o controlo do lóbi das práticas sexuais desviantes.
[Lido no perspectivas]
Bons exemplos (33) – Portugal «ein Lichtblick in Südeuropa»? Duvidoso, mas reconfortante
«In der düsteren europäischen Schuldenkrise bietet sich nach einer neuen Studie ein Lichtblick in Südeuropa. Den Berechnungen des Freiburger Centrums für Europäische Politik CEP zufolge verbessert sich die Kreditfähigkeit Portugals: Von 2015 an könnte das Land wieder ohne Hilfsgeld auskommen und damit zum Reformvorbild werden.»
(Frankfurter Allgemeine, OJE)
Lost in translation (147) – UEFA traduttore, traditore
«Portugal punch above their weight», UEFA depois do jogo Portugal-Espanha, versão inglesa
Provavelmente o melhor resultado alcançável |
«Portugal fortalecido para o futuro», UEFA depois do jogo Portugal-Espanha, versão portuguesa
27/06/2012
A maldição da tabuada (10) – se não sabes medir, não sabes gerir (III)
Introdução (igual em toda esta série de posts)
Num país normal os problemas identificam-se e a sua extensão mede-se. Pode ser que os vários interesses em jogo ou as diferentes doutrinas não se entendam sobre o que é um problema, mas geralmente conseguem pôr-se de acordo com a métrica, visto que métrica costuma ser um conceito razoavelmente objectivo.
Portugal não é um país normal também a este respeito, porque o verdadeiro problema não é geralmente «o problema». O verdadeiro problema é a medida, segundo um certa métrica, duma coisa que não se sabe se é um problema ou, sabendo-se, não se conhece a sua gravidade. E porquê? Há vários porquês, mas hoje vou só exemplificar, mais uma vez, o porquê relacionado com tabuada.
Num país normal os problemas identificam-se e a sua extensão mede-se. Pode ser que os vários interesses em jogo ou as diferentes doutrinas não se entendam sobre o que é um problema, mas geralmente conseguem pôr-se de acordo com a métrica, visto que métrica costuma ser um conceito razoavelmente objectivo.
Portugal não é um país normal também a este respeito, porque o verdadeiro problema não é geralmente «o problema». O verdadeiro problema é a medida, segundo um certa métrica, duma coisa que não se sabe se é um problema ou, sabendo-se, não se conhece a sua gravidade. E porquê? Há vários porquês, mas hoje vou só exemplificar, mais uma vez, o porquê relacionado com tabuada.
Ainda temos Constituição?
Pergunta retoricamente Pacheco Pereira, a pretexto de o governo estar a atacar os «direitos adquiridos», surpreendentemente sem uma revisão constitucional, ao contrário do que têm sido os «argumentos contra o sistema». As suas duas primeiras respostas à pergunta são pura ironia, pelo que só vale a pena considerar a terceira: «existir ou não é a mesma coisa».
Obviamente, não é a mesma coisa. Se fosse, a Constituição não teria constituído uma barricada para os comunistas e a extrema-esquerda defenderem o statu quo nascido do PREC, na qual se acoitam, conforme as circunstâncias e as conveniências, os outros socialismos. O do partido Socialista, o do partido Social-Democrata e o do Centro Democrático e Social.
Por isso, na minha modesta e certamente impopular opinião, a Constituição é uma garantia do menor múltiplo comum a todos os partidos de manutenção do statu quo pós-PREC. O facto de ter sido «adulterada» por diplomas aprovados pelo governo ou pelo parlamento não lhe retira esse papel, apenas mostra o pouco respeito em que os portugueses têm a lei.
Essa falta de respeito não é novidade nenhuma, nem privilégio da Constituição. É o habitual num país em que as leis não se cumprem e se alteram ao sabor das circunstâncias. Poderia dar dezenas de exemplos mas vou só dar dois. O primeiro é o engraçadíssimo insulto que se dá um sujeito que faz questão de a lei ser cumprida: «é um legalista!». O segundo é o Código Penal aprovado em 1982 e o Código do Processo Penal aprovado em 1987 que já tiveram, salvo erro, 18 e 25 versões, respectivamente.
Obviamente, não é a mesma coisa. Se fosse, a Constituição não teria constituído uma barricada para os comunistas e a extrema-esquerda defenderem o statu quo nascido do PREC, na qual se acoitam, conforme as circunstâncias e as conveniências, os outros socialismos. O do partido Socialista, o do partido Social-Democrata e o do Centro Democrático e Social.
Por isso, na minha modesta e certamente impopular opinião, a Constituição é uma garantia do menor múltiplo comum a todos os partidos de manutenção do statu quo pós-PREC. O facto de ter sido «adulterada» por diplomas aprovados pelo governo ou pelo parlamento não lhe retira esse papel, apenas mostra o pouco respeito em que os portugueses têm a lei.
Essa falta de respeito não é novidade nenhuma, nem privilégio da Constituição. É o habitual num país em que as leis não se cumprem e se alteram ao sabor das circunstâncias. Poderia dar dezenas de exemplos mas vou só dar dois. O primeiro é o engraçadíssimo insulto que se dá um sujeito que faz questão de a lei ser cumprida: «é um legalista!». O segundo é o Código Penal aprovado em 1982 e o Código do Processo Penal aprovado em 1987 que já tiveram, salvo erro, 18 e 25 versões, respectivamente.
CASE STUDY: Elefantes brancos em Espanha (14)
Eléctrico de Jaén |
O que fazer com um eléctrico que custou 100 milhões de euros à municipalidade de Jaén mais 6 milhões de manutenção anual e «corre o risco de deteriorar-se ainda antes de entrar ao serviço», pergunta El País.
[Da colectânea apócrifa «ESPAÑA PAIS DE MILLONARIOS» dos resultados (principalmente, mas não só) do socialismo ibérico em Espanha]
26/06/2012
TIROU-ME AS PALAVRAS DE BOCA: Por que se recandidatou Cavaco?
«Cavaco Silva odeia ser impopular. Quando se recandidatou a Presidente provavelmente não esperava vir a ser tão contestado. Mas o Destino (ou outra coisa qualquer) trocou-lhe as voltas… e ei-lo a presidir a um país que atravessa a pior crise financeira e económica da Democracia, tentando por todos os meios desligar-se das medidas de austeridade que o Governo é obrigado a implementar.
No domingo, Cavaco deu mais um sinal da sua incomodidade, ao dizer que os portugueses não aguentam mais austeridade. Não o devia ter dito. Não, não é por não ter poderes executivos (num sistema semi-presidencial o Presidente tem alguns poderes). É porque está a pôr-se a jeito: e se a Troika (ou seja quem nos empresta dinheiro) decidir que temos mesmo de cumprir o défice de 4,5% este ano, adoptando mais austeridade, o que faz Cavaco? Mete a cauda entre as pernas e assobia para o lado? Diz que não era bem aquilo que queria dizer e que foi mal interpretado pelos jornalistas? Bate o pé à Troika, colocando-se ao lado de PCP, Bloco de Esquerda e PS? Ou demite-se porque o Governo (este ou outro qualquer), nessa situação, terá mesmo de fazer o que manda a Troika, contra o Presidente?
No domingo, Cavaco deu mais um sinal da sua incomodidade, ao dizer que os portugueses não aguentam mais austeridade. Não o devia ter dito. Não, não é por não ter poderes executivos (num sistema semi-presidencial o Presidente tem alguns poderes). É porque está a pôr-se a jeito: e se a Troika (ou seja quem nos empresta dinheiro) decidir que temos mesmo de cumprir o défice de 4,5% este ano, adoptando mais austeridade, o que faz Cavaco? Mete a cauda entre as pernas e assobia para o lado? Diz que não era bem aquilo que queria dizer e que foi mal interpretado pelos jornalistas? Bate o pé à Troika, colocando-se ao lado de PCP, Bloco de Esquerda e PS? Ou demite-se porque o Governo (este ou outro qualquer), nessa situação, terá mesmo de fazer o que manda a Troika, contra o Presidente?
Exemplos do costume (9) - Como gastar mais para ter o mesmo
«Cada doente tratado num hospital da zona de Lisboa custa ao Estado – ou seja, a todos nós – sensivelmente mais 50 por cento do que custaria se fosse tratado num hospital do Grande Porto.»
[Leia aqui o artigo de José Manuel Fernandes no Público]
Espero bem que as contas estejam certas, porque em matéria de tabuada nunca se sabe. Veja-se a polémica aritmética entre o governo que garante existirem 7.126 médicos de família em Portugal e a Associação de Medicina Geral e Familiar que jura serem menos dois mil.
[Leia aqui o artigo de José Manuel Fernandes no Público]
Espero bem que as contas estejam certas, porque em matéria de tabuada nunca se sabe. Veja-se a polémica aritmética entre o governo que garante existirem 7.126 médicos de família em Portugal e a Associação de Medicina Geral e Familiar que jura serem menos dois mil.
O (IM)PERTINÊNCIAS FEITO PELOS SEUS DETRACTORES: A importância de um nome
Ponte privilegiada com a Alemanha
Enquanto esperava a minha vez, na sala de espera de uma conservatória, deparei com um edital (ou equivalente) assinado por Conceição Cavaco Bismark. Não acreditam? É Presidente do Conselho de Deontologia da Ordem dos Advogados de Évora.
A propósito de nomes
Fazem ideia a que nível a economia e as finanças cipriotas estão ligadas á Grécia, e que consequências a crise dos segundos pode ter nos primeiros? Pois bem, o presidente do Banco de Chipre chama-se Panikos Demitriades. Sempre achei reconfortante ter um Governador chamado Constâncio.
[Dois emails recebidos de JARF]
Enquanto esperava a minha vez, na sala de espera de uma conservatória, deparei com um edital (ou equivalente) assinado por Conceição Cavaco Bismark. Não acreditam? É Presidente do Conselho de Deontologia da Ordem dos Advogados de Évora.
A propósito de nomes
Fazem ideia a que nível a economia e as finanças cipriotas estão ligadas á Grécia, e que consequências a crise dos segundos pode ter nos primeiros? Pois bem, o presidente do Banco de Chipre chama-se Panikos Demitriades. Sempre achei reconfortante ter um Governador chamado Constâncio.
[Dois emails recebidos de JARF]
25/06/2012
CASE STUDY: Crescimento ou austeridade? Os quiproquós da Óropa
Os amanhãs que cantam de François Hollande, tão celebrados pelo socialismo doméstico, limitam-se até ver a uma vaga promessa de contratar durante os próximos anos 60 mil novos funcionários públicos e à reposição da idade de reforma dos franceses nos 60 anos, destruindo o quase único acquis de Nicolas Boina-aparte Sakorzy conseguido contra inúmeras manifestações. Em boa verdade, até essa reposição pode estar ameaçada pela ofensiva alemã cuja face visível é, neste caso, Herman Van Rompuy que numa entrevista a um jornal alemão (só podia) anuncia poder o Conselho Europeu recomendar aos Estados-membros a reforma dos seus sistemas de segurança social no sentido de ligaram a idade de aposentação à esperança de vida.
O ruído do silêncio da gente honrada no PS é ensurdecedor (62) – tem toda a razão mas não tem moral nenhuma
«A privatização da REN, tal como da EDP, funciona como uma espécie de espólio que o Governo distribui para personalidades ou dirigentes topo de gama do PSD e do CDS. Depois de Eduardo Catroga ou de Celeste Cardona, vem agora José Luís Arnault, sobretudo na sua qualidade de administrador da REN e simultaneamente presidente da comissão de auditoria financeira do PSD», acusou o PS pela boca de José Junqueiro.
Tem Junqueiro toda a razão, porque o PSD não perdeu o hábito de distribuir lugares e tenças pela sua gente. Porém, como ninguém ouviu este deputado desde há 17 anos criticar ou, vá lá, pelo menos distanciar-se, da distribuição de lugares pelos governos PS durante 13 anos às «personalidades ou dirigentes topo de gama», falece-lhe a moral para apontar o dedo ao PSD.
Tem Junqueiro toda a razão, porque o PSD não perdeu o hábito de distribuir lugares e tenças pela sua gente. Porém, como ninguém ouviu este deputado desde há 17 anos criticar ou, vá lá, pelo menos distanciar-se, da distribuição de lugares pelos governos PS durante 13 anos às «personalidades ou dirigentes topo de gama», falece-lhe a moral para apontar o dedo ao PSD.
SERVIÇO PÚBLICO: O lóbi eólico e a EDP escaparam sem surpresa
O PACOTE DAS RENDAS EXCESSIVAS
«O pacote deveria incidir na Cogeração e Renováveis, Garantias de Potência, Contratos de Aquisição de Energia (CAE) e Custos de Manutenção de Equilíbrio Contratual (CMEC).
O pacote apresentado revela grandes desequilíbrios no tratamento conferido aos vários intervenientes. Para um total de 1750M€ de redução de custos previstos para o sector elétrico entre 2013-2020, a Cogeração irá contribuir de acordo com o Governo em cerca de 40% do total. Mas se se aplicarem as fórmulas constantes do diploma legal, esse valor é superior aos 40%!
«O pacote deveria incidir na Cogeração e Renováveis, Garantias de Potência, Contratos de Aquisição de Energia (CAE) e Custos de Manutenção de Equilíbrio Contratual (CMEC).
O pacote apresentado revela grandes desequilíbrios no tratamento conferido aos vários intervenientes. Para um total de 1750M€ de redução de custos previstos para o sector elétrico entre 2013-2020, a Cogeração irá contribuir de acordo com o Governo em cerca de 40% do total. Mas se se aplicarem as fórmulas constantes do diploma legal, esse valor é superior aos 40%!
24/06/2012
ARTIGO DE FUNDO: Ainda haverá esperança?
Uma epidemia de realismo parece ter contaminado o Expresso deste fim-de-semana.
Nicolau Santos, um dos mais notórios pastorinhos dos amanhãs que (já não) cantam, depois de uma estadia em Munique e de elaborar sobre documentos da Roland Berger Strategy Consultants e entrevistar o guru que dá o nome à dita, conclui: «Por isso, esqueçam. Da Alemanha não virá nenhum sinal de alívio das medidas de austeridade. Teremos de sair do buraco cumprindo o que acordámos com a troika. A boa notícia é que apreciam o que o Governo português tem vindo a fazer. Pode ser que algures, lá mais para diante, isso nos ajude - se entretanto a Eurolândia não tiver implodido...»
Como se isto fosse pouco, Miguel Sousa Tavares desmonta momentaneamente o seu Rocinante e inspirado pelo Sancho Pança que há dentro de si escreve:
«Façamos o exercício de nos pormos na pele de um pagador de impostos alemão. Porque carga de água haveríamos nós de fazer mais uma atenção ao sr. Samaras, novo primeiro-ministro grego e chefe do partido que, quando no governo, instalou o sistema de batota geral que conduziu à ruína da Grécia e ao resgate financiado pelos contribuintes alemães? Porque carga de água haveríamos de acudir à assustadora perspectiva de bancarrota na Espanha do sr. Rajoy, que com uma mão suplica e com a outra desdenha quem lhe estende a esmola? Porque carga de água haveríamos de prestar atenção ao sr. Hollande, da França (o próximo a ter de ser resgatado), que, para efeitos eleitorais, baixa a idade de reforma para os 60 anos, em alguns casos, enquanto a Alemanha a sobe para 67, e que reclama "políticas de crescimento e emprego", para as quais a França se propõe apenas ser beneficiária? Ah, mas a Alemanha ganhou muito com o euro! É verdade. A Alemanha até ganha nos juros dos empréstimos que faz e com o dinheiro que envia aos resgatados e que, em grande parte, regressa à Alemanha, depositado nos seus bancos! É verdade. Mas de quem é a culpa se os milhões de ajudas comunitárias à Espanha, Grécia ou Portugal foram investidos em agricultura fantasma, em auto-estradas desertas ou em casas sem comprador? De quem é a culpa se os gregos fogem aos impostos e se eles e os espanhóis pedem dinheiro emprestado e vão depositá-lo nos bancos alemães? Vocês têm lido as últimas notícias sobre a dívida ocultada pela trupe do Jardim da Madeira - que o povo madeirense, de tudo ciente, reconduziu para governar em maioria absoluta, no Inverno passado? Se fossemos alemães, quereríamos continuar a sustentar aquilo?
Sim, vamos todos torcer pela vitória da Grécia sobre a Alemanha no Euro. Ou então a de Portugal ou a da Espanha. E vamos todos ficar felizes se isso acontecer. Só que, no dia seguinte, vamos precisar da Alemanha para pagar as contas. E se eles não quiserem pagar mais? Se a Alemanha tiver desistido da Europa?»
Para os lunáticos, estes episódios de realismo podem parecer desistências. Mas não são necessariamente. Como já algumas vezes recordei, o processo psicológico de lidar com os grandes dramas passa pelas fases de negação, revolta, negociação, depressão e, finalmente, aceitação. Ora, no caso destas duas luminárias do pensamento nacional, parece finalmente estar a chegar-se à fase da aceitação. Digamos que terão concluído que o que não tem solução não é problema e só a partir de agora poderão talvez produzir palpites de soluções para os problemas.
Nicolau Santos, um dos mais notórios pastorinhos dos amanhãs que (já não) cantam, depois de uma estadia em Munique e de elaborar sobre documentos da Roland Berger Strategy Consultants e entrevistar o guru que dá o nome à dita, conclui: «Por isso, esqueçam. Da Alemanha não virá nenhum sinal de alívio das medidas de austeridade. Teremos de sair do buraco cumprindo o que acordámos com a troika. A boa notícia é que apreciam o que o Governo português tem vindo a fazer. Pode ser que algures, lá mais para diante, isso nos ajude - se entretanto a Eurolândia não tiver implodido...»
Como se isto fosse pouco, Miguel Sousa Tavares desmonta momentaneamente o seu Rocinante e inspirado pelo Sancho Pança que há dentro de si escreve:
«Façamos o exercício de nos pormos na pele de um pagador de impostos alemão. Porque carga de água haveríamos nós de fazer mais uma atenção ao sr. Samaras, novo primeiro-ministro grego e chefe do partido que, quando no governo, instalou o sistema de batota geral que conduziu à ruína da Grécia e ao resgate financiado pelos contribuintes alemães? Porque carga de água haveríamos de acudir à assustadora perspectiva de bancarrota na Espanha do sr. Rajoy, que com uma mão suplica e com a outra desdenha quem lhe estende a esmola? Porque carga de água haveríamos de prestar atenção ao sr. Hollande, da França (o próximo a ter de ser resgatado), que, para efeitos eleitorais, baixa a idade de reforma para os 60 anos, em alguns casos, enquanto a Alemanha a sobe para 67, e que reclama "políticas de crescimento e emprego", para as quais a França se propõe apenas ser beneficiária? Ah, mas a Alemanha ganhou muito com o euro! É verdade. A Alemanha até ganha nos juros dos empréstimos que faz e com o dinheiro que envia aos resgatados e que, em grande parte, regressa à Alemanha, depositado nos seus bancos! É verdade. Mas de quem é a culpa se os milhões de ajudas comunitárias à Espanha, Grécia ou Portugal foram investidos em agricultura fantasma, em auto-estradas desertas ou em casas sem comprador? De quem é a culpa se os gregos fogem aos impostos e se eles e os espanhóis pedem dinheiro emprestado e vão depositá-lo nos bancos alemães? Vocês têm lido as últimas notícias sobre a dívida ocultada pela trupe do Jardim da Madeira - que o povo madeirense, de tudo ciente, reconduziu para governar em maioria absoluta, no Inverno passado? Se fossemos alemães, quereríamos continuar a sustentar aquilo?
Sim, vamos todos torcer pela vitória da Grécia sobre a Alemanha no Euro. Ou então a de Portugal ou a da Espanha. E vamos todos ficar felizes se isso acontecer. Só que, no dia seguinte, vamos precisar da Alemanha para pagar as contas. E se eles não quiserem pagar mais? Se a Alemanha tiver desistido da Europa?»
Para os lunáticos, estes episódios de realismo podem parecer desistências. Mas não são necessariamente. Como já algumas vezes recordei, o processo psicológico de lidar com os grandes dramas passa pelas fases de negação, revolta, negociação, depressão e, finalmente, aceitação. Ora, no caso destas duas luminárias do pensamento nacional, parece finalmente estar a chegar-se à fase da aceitação. Digamos que terão concluído que o que não tem solução não é problema e só a partir de agora poderão talvez produzir palpites de soluções para os problemas.
O ruído do silêncio da gente honrada no PS é ensurdecedor (61) – as empresas amigas do PS
«No depoimento por escrito enviado ao Juízo de Instância Criminal de Ovar, que tem sob a sua alçada o processo “Face Oculta”, Ana Paula Vitorino mantém tudo o que disse em depoimentos anteriores.
“Na primeira vez que falou da O2, o então ministro das Obras Públicas, Transportes e Comunicações, engenheiro Mário Lino, disse-me que era uma empresa amiga do PS e que havia pessoas importantes do partido muito preocupadas com o comportamento inflexível do Pardal [à data presidente da Refer]”, contou Ana Paula Vitorino.
No documento, a que a Lusa teve acesso, a ex-governante e actual deputada do PS diz ainda que quando respondeu a Mário Lino que nem queria falar no assunto, este ter-lhe-á lembrado que era, à data, do Secretariado Nacional do partido.
“Respondi-lhe que isso me dava preocupações acrescidas de seriedade e que estava farta que os partidos tivessem as costas largas”, declarou, no depoimento.
A antiga secretária de Estado dos Transportes no Governo de José Sócrates adiantou ainda que no meio da conversa, os únicos nomes que foram referidos foram os de Armando Vara e de Fernando Lopes Barreira, co-arguidos no processo.» (Público)
É justo dizer que, por boas ou más razões, Ana Paula Vitorino quebrou o silêncio cúmplice da gente honrada no PS.
“Na primeira vez que falou da O2, o então ministro das Obras Públicas, Transportes e Comunicações, engenheiro Mário Lino, disse-me que era uma empresa amiga do PS e que havia pessoas importantes do partido muito preocupadas com o comportamento inflexível do Pardal [à data presidente da Refer]”, contou Ana Paula Vitorino.
No documento, a que a Lusa teve acesso, a ex-governante e actual deputada do PS diz ainda que quando respondeu a Mário Lino que nem queria falar no assunto, este ter-lhe-á lembrado que era, à data, do Secretariado Nacional do partido.
“Respondi-lhe que isso me dava preocupações acrescidas de seriedade e que estava farta que os partidos tivessem as costas largas”, declarou, no depoimento.
A antiga secretária de Estado dos Transportes no Governo de José Sócrates adiantou ainda que no meio da conversa, os únicos nomes que foram referidos foram os de Armando Vara e de Fernando Lopes Barreira, co-arguidos no processo.» (Público)
É justo dizer que, por boas ou más razões, Ana Paula Vitorino quebrou o silêncio cúmplice da gente honrada no PS.
O ruído do silêncio da gente honrada no PS é ensurdecedor (60) – tem pouca razão e não tem moral nenhuma
Pedro Silva Pereira, o braço direito de José Sócrates durante mais de 6 anos de governo, fez o balanço de um ano de governo de Passos Coelho no Económico. O balanço é arrasador: o PIB caiu, o desemprego e a dívida pública aumentaram. Enfim é certo que saldo do comércio externo melhorou mas foi ou por causa da redução das importações imposta pela austeridade ou por causa do aumento das exportações «fruto, aliás, trabalho feito anteriormente na conquista de novos mercados e na incorporação de valor». Quanto à avaliação positiva da troika «vale o que vale».
Se Silva Pereira não fosse o que é e se não tivesse sido cúmplice do que foi, dar-lhe-ia uma parcela de razão, apesar da sua análise deliberadamente manipuladora, porque, de facto, a folha de serviços deste governo não é brilhante, principalmente porque está a fazer apenas a parte mais fácil das reformas indispensáveis. Contudo, há o pequeno problema de, se as fizesse, seria ainda mais criticado pela visão dirigista e colectivista de Silva Pereira.
Há ainda o outro pequeno problema de Silva Pereira ter sido o principal acólito do governo que deixou ao actual a seguinte herança:
Se Silva Pereira não fosse o que é e se não tivesse sido cúmplice do que foi, dar-lhe-ia uma parcela de razão, apesar da sua análise deliberadamente manipuladora, porque, de facto, a folha de serviços deste governo não é brilhante, principalmente porque está a fazer apenas a parte mais fácil das reformas indispensáveis. Contudo, há o pequeno problema de, se as fizesse, seria ainda mais criticado pela visão dirigista e colectivista de Silva Pereira.
Há ainda o outro pequeno problema de Silva Pereira ter sido o principal acólito do governo que deixou ao actual a seguinte herança:
- Maior desemprego dos últimos 90 anos;
- Maior dívida pública dos últimos 160 anos;
- Mais baixo crescimento económico dos últimos 90 anos;
- Maior dívida externa dos últimos 120 anos
- Mais baixa taxa de poupança dos últimos 50 anos
- Segunda maior taxa de emigração dos últimos 160 anos.
SERVIÇO PÚBLICO: Por vezes há aviões - Take Another Plane
«Os pilotos da TAP vão avançar com dez dias de greve… de 5 a 8 de Julho e novamente de 1 a 5 de Agosto.» Depois de terem demonstrado durante décadas que fazem parte do problema, garantem agora que querem ser considerados «como parte da solução» da privatização.
23/06/2012
DEIXAR DE DAR GRAXA PARA MUDAR DE VIDA: Move your lazy ass
«Os empregos nascem em sítios que não estão ao lado de casa. Os homens e as mulheres de 1960 [vinham] em condições muito piores e até levavam uns tiros na fronteira. Agora vêm de jacto e nem assim querem vir», disse Belmiro de Azevedo em declarações à Lusa.
Pela minha parte, ofendendo irremediavelmente a sensibilidade dos inúmeros piegas e mentecaptos que parasitam este país, poderia dar os exemplos do meu avô, do meu sogro, de vários tios, de vários cunhados, de vários sobrinhos, da minha patroa, de um dos meus filhos e de mim próprio, que fomos à procura de empregos nascidos em sítios como França, Inglaterra, Alemanha, Brasil, Argentina, Estados Unidos, Austrália, Bahrein, Angola, Mauritânia, Cabo Verde e outros que já esqueci.
Pela minha parte, ofendendo irremediavelmente a sensibilidade dos inúmeros piegas e mentecaptos que parasitam este país, poderia dar os exemplos do meu avô, do meu sogro, de vários tios, de vários cunhados, de vários sobrinhos, da minha patroa, de um dos meus filhos e de mim próprio, que fomos à procura de empregos nascidos em sítios como França, Inglaterra, Alemanha, Brasil, Argentina, Estados Unidos, Austrália, Bahrein, Angola, Mauritânia, Cabo Verde e outros que já esqueci.
CASE STUDY: São os portugueses no futebol e os judeus nos prémios Nobel (e em várias outras coisas)
«O Europeu da Polónia e Ucrânia já deu o que tinha a dar; passaram às meias-finais as quatro equipas mais fortes da Europa, a saber, Portugal (10 milhões de habitantes, PNB à roda dos 240 mil milhões de US$), Espanha (40 milhões, 1400 mil milhões US$), Alemanha (90 milhões, 3600 mil milhões US$) e Itália (60 milhões, 2100 mil milhões US$). Se olhes juntarmos a França (65 milhões, 2700 mil milhões US$), estamos perante, de facto, as cinco super-potências do futebol europeu actual, e para uma representação suficiente da elite do futebol mundial só fica a faltar a Argentina e o Brasil. Que Portugal, com a incompetente e desorganizada gestão que o caracteriza, consiga andar metido no meio destes gajos há tanto tempo (somos a única equipa que passou sempre aos quartos-de-final nos últimos três europeus), é um milagre que não deveria merecer reflexão.»
Se a tese de maradona «Não gosto tanto de Portugal como do Sporting, mas está lá perto» lhe parece contraditória com o também «me sinto a viver num país de mentecaptos», é porque algo importante lhe está a escapar.
Se a tese de maradona «Não gosto tanto de Portugal como do Sporting, mas está lá perto» lhe parece contraditória com o também «me sinto a viver num país de mentecaptos», é porque algo importante lhe está a escapar.
22/06/2012
TIROU-ME AS PALAVRAS DA BOCA: Já somos dois (pelo menos)
A propósito das «críticas inflamadas» a António Borges por ele ter admitido que os salários estavam a baixar e ainda baixariam mais, escreveu José António Saraiva no seu editorial no SOL:
«Confesso que, por vezes, me sinto a viver num país de mentecaptos.»
21/06/2012
¿Por qué no te callas? (10) – a semelhança entre o doutor Soares e o senhor Cristiano Ronaldo
[Começou por ser uma série de aflições e estados de alma do professor Cavaco partilhados com os mídia sem propósito aparente e acabou por ser uma série de aflições e estados de alma dos presidentes da República presentes e passados partilhados com os mídia com propósito desconhecido ou conhecido bem demais]
«O que a troika faz é ganhar o seu dinheirinho», disse o doutor Soares, talvez lamentando o governo não aproveitar os yields que o mercado lhe oferece ou que o mercado está a oferecer à Espanha.
Como as tolices do doutor Soares são como os golos do Cristiano Ronaldo segundo o próprio - aberto o frasco do quetechape ninguém o tapa – apressou-se a lamentar «por que carga de água (o BCE) não pode fabricar moeda».
«O que a troika faz é ganhar o seu dinheirinho», disse o doutor Soares, talvez lamentando o governo não aproveitar os yields que o mercado lhe oferece ou que o mercado está a oferecer à Espanha.
Yields que o mercado oferece ao doutor Mário Soares |
20/06/2012
ARTIGO DEFUNTO: Ler torto por linhas direitas
No relatório de 2011 recentemente publicado a REFER apresentava a seguinte estrutura de empréstimos:
Para o negócios online, isto significava que «a Refer devia, no final de 2011, mais de 4,8 mil milhões de euros a instituições de crédito, segundo o relatório e contas».
Mais importante do que a iliteracia financeira do negócios é o passivo da REFER sem TGV e até mesmo sem bitola europeia representar 3% do PIB. Imaginem se.
Para o negócios online, isto significava que «a Refer devia, no final de 2011, mais de 4,8 mil milhões de euros a instituições de crédito, segundo o relatório e contas».
Mais importante do que a iliteracia financeira do negócios é o passivo da REFER sem TGV e até mesmo sem bitola europeia representar 3% do PIB. Imaginem se.
ESTADO DE SÍTIO: Não é muito dinheiro. É muito governo
O Tribunal de Contas apurou em 2010 várias irregularidades nas despesas de deslocação, estadias e ajudas de custo dos membros do Governo Regional dos Açores, nas quais torrou 600 mil euros.
É muito dinheiro? Depende da perspectiva. São nove ilhas, um presidente, um vice-presidente, oito secretários regionais, 32 directores regionais, 5 inspectores e mais uns penduricalhos no enorme candelabro que é o organograma do governo regional o que dá menos de 70 mil euros por ilha e pouco mais de 15 mil euros por membro do governo.
Não é muito dinheiro. É muito governo, com um organograma que faria inveja ao do governo federal americano.
É muito dinheiro? Depende da perspectiva. São nove ilhas, um presidente, um vice-presidente, oito secretários regionais, 32 directores regionais, 5 inspectores e mais uns penduricalhos no enorme candelabro que é o organograma do governo regional o que dá menos de 70 mil euros por ilha e pouco mais de 15 mil euros por membro do governo.
Não é muito dinheiro. É muito governo, com um organograma que faria inveja ao do governo federal americano.
19/06/2012
DIÁRIO DE BORDO: A revolta dos pastéis de nata
O serviço da dívida de 78 mil milhões à troika, isto é amortizações e juros, sem contar com o resto da dívida, deve atingir em média anual uns dez mil milhões ou cerca de 6% do PIB durante 10 anos.
Como chegámos aqui, isto é aos cerca de 200 mil milhões que dentro de alguns anos a dívida atingirá, segundo estimativas optimistas? Perguntareis. A resposta é estupidamente simples: 14 milhões em média por dia durante uns 40 anos!
Qual a solução? «Portugal precisa de se revoltar para recuperar a sua economia, a sua dignidade e a sua vida» vociferou ontem o tele-evangelista Francisco Louçã. Também acho que se deve revoltar. Só não sei contra quem.
Contra quem? Assinalar com uma ou várias cruzes:
Como chegámos aqui, isto é aos cerca de 200 mil milhões que dentro de alguns anos a dívida atingirá, segundo estimativas optimistas? Perguntareis. A resposta é estupidamente simples: 14 milhões em média por dia durante uns 40 anos!
Qual a solução? «Portugal precisa de se revoltar para recuperar a sua economia, a sua dignidade e a sua vida» vociferou ontem o tele-evangelista Francisco Louçã. Também acho que se deve revoltar. Só não sei contra quem.
Contra quem? Assinalar com uma ou várias cruzes:
Mitos (78) - A Alemanha deve um plano Marshall à Grécia (II)
Continuação deste mito.
O equivalente actual à palavra de ordem do esquerdismo lunático do PREC «os ricos que paguem a crise», é o mote implicitamente adoptado, desta vez pela esquerda em geral a pretexto do seu conteúdo nacional-popularucho, «os alemães que paguem a crise», significando no contexto da crise europeia poupem-nos à austeridade, mandem dinheiro, perdoem as nossas dívidas passadas e deixem-nos emitir eurobonds, isto é responsabilizem-se pelas nossas dívidas futuras.
Como todos os desígnios, este também é sobretudo matéria de fé, pelo que os seus seguidores não se maçam muito a formular um racional que justifique o desígnio. Uma das poucas justificações mais elaboradas, ainda que bastante primitivas, mas não se deve esperar muito em matéria de crenças, é a putativa obrigação moral que Alemanha teria de retribuir as ajudas de que beneficiou com o Plano Marshall, depois de ter destruído metade da Europa e a uma boa parte de si própria.
No post anterior, citei o artigo do NYT de Hans-Werner Sinn que estimou o equivalente da ajuda que a Grécia recebeu ou vai receber, em termos relativos, a 115 Planos Marshall dos quais 29, ou seja um quarto, directamente assumidos pela Alemanha. Estas estimativas evidenciam a pipa de massa que os gregos já torraram ou se propõem ainda torrar. Faltava aferir, no contexto das alegadas obrigações morais dos receptores das ajudas do Plano Marshall, se a Alemanha estaria a cumprir a sua parte.
Um amigo e detractor habitual chamou a minha atenção para o facto de só uma pequena fracção das ajudas do Plano Marshall ter sido recebida pela Alemanha. Dei corda aos sapatos e fui aqui recolher alguns dados para construir o gráfico seguinte que fala por si próprio.
Considerando ter a Alemanha contribuído com um quarto da ajuda à Grécia apesar de ter recebido pouco mais de um décimo da ajuda total do Plano Marshall, parece mais adequado reverter o mote da esquerda à palavra de ordem original «os ricos que paguem a crise». Sendo assim, seria lógico considerar ricos os 3 países que mais ajuda receberam, a saber: Reino Unido (25,9%), França (18,%) e a inevitável Alemanha (11,4%), totalizando 55,3% da ajuda total.
Contudo, como o Reino Unido decidiu premonitoriamente ficar fora da Zona Euro e além disso, é governado, tal como a Alemanha, por uma coligação que a nossa vetusta esquerda costuma considerar inspirada por um neocoisismo a que costuma chamar neoliberalismo, do qual não se deve esperar nada, parece-me razoável concluir que a esquerda deveria concentrar as suas esperanças e esforços no seu correligionário senhor Hollande e enviar-lhe a factura.
O equivalente actual à palavra de ordem do esquerdismo lunático do PREC «os ricos que paguem a crise», é o mote implicitamente adoptado, desta vez pela esquerda em geral a pretexto do seu conteúdo nacional-popularucho, «os alemães que paguem a crise», significando no contexto da crise europeia poupem-nos à austeridade, mandem dinheiro, perdoem as nossas dívidas passadas e deixem-nos emitir eurobonds, isto é responsabilizem-se pelas nossas dívidas futuras.
Como todos os desígnios, este também é sobretudo matéria de fé, pelo que os seus seguidores não se maçam muito a formular um racional que justifique o desígnio. Uma das poucas justificações mais elaboradas, ainda que bastante primitivas, mas não se deve esperar muito em matéria de crenças, é a putativa obrigação moral que Alemanha teria de retribuir as ajudas de que beneficiou com o Plano Marshall, depois de ter destruído metade da Europa e a uma boa parte de si própria.
No post anterior, citei o artigo do NYT de Hans-Werner Sinn que estimou o equivalente da ajuda que a Grécia recebeu ou vai receber, em termos relativos, a 115 Planos Marshall dos quais 29, ou seja um quarto, directamente assumidos pela Alemanha. Estas estimativas evidenciam a pipa de massa que os gregos já torraram ou se propõem ainda torrar. Faltava aferir, no contexto das alegadas obrigações morais dos receptores das ajudas do Plano Marshall, se a Alemanha estaria a cumprir a sua parte.
Um amigo e detractor habitual chamou a minha atenção para o facto de só uma pequena fracção das ajudas do Plano Marshall ter sido recebida pela Alemanha. Dei corda aos sapatos e fui aqui recolher alguns dados para construir o gráfico seguinte que fala por si próprio.
Considerando ter a Alemanha contribuído com um quarto da ajuda à Grécia apesar de ter recebido pouco mais de um décimo da ajuda total do Plano Marshall, parece mais adequado reverter o mote da esquerda à palavra de ordem original «os ricos que paguem a crise». Sendo assim, seria lógico considerar ricos os 3 países que mais ajuda receberam, a saber: Reino Unido (25,9%), França (18,%) e a inevitável Alemanha (11,4%), totalizando 55,3% da ajuda total.
Contudo, como o Reino Unido decidiu premonitoriamente ficar fora da Zona Euro e além disso, é governado, tal como a Alemanha, por uma coligação que a nossa vetusta esquerda costuma considerar inspirada por um neocoisismo a que costuma chamar neoliberalismo, do qual não se deve esperar nada, parece-me razoável concluir que a esquerda deveria concentrar as suas esperanças e esforços no seu correligionário senhor Hollande e enviar-lhe a factura.
DIÁRIO DE BORDO: Foi há 3 dias…
18/06/2012
Mitos (77) – Chega de austeridade! Vamos lá voltar ao mesmo!
Os adeptos do business as usual clamam que já levamos um ano de austeridade e ainda não se vêem resultados (crescimentistas moderados) ou estamos cada vez piores (crescimentistas exacerbados). Terá esta gente noção de quanto tempo levaram a ter pleno efeito as medidas de austeridade e as reformas introduzidas na Europa do norte face à crise bancária do princípio dos anos 90. Entre 5 a 10 anos é a resposta (*).
E saberão que na Finlândia, que hoje enche a boca dos crescimentistas, o PIB chegou a cair num só ano 6% e o desemprego a atingir 18%?
E as reformas alemães iniciadas em meados dos anos 90, com desemprego de 10% e crescimento nulo, cujos resultados que só fizeram sentir a partir de 2004?
(*) Ver, por exemplo, K. Sandal, «The Nordic banking crisis in the early 1990s - resolution methods and fiscal costs», na colectânea de estudos «The Norwegian Banking Crisis», NORGES BANKS SKRIFTSERIE / OCCASIONAL PAPERS NO. 33, OSLO, 2004
E saberão que na Finlândia, que hoje enche a boca dos crescimentistas, o PIB chegou a cair num só ano 6% e o desemprego a atingir 18%?
E as reformas alemães iniciadas em meados dos anos 90, com desemprego de 10% e crescimento nulo, cujos resultados que só fizeram sentir a partir de 2004?
(*) Ver, por exemplo, K. Sandal, «The Nordic banking crisis in the early 1990s - resolution methods and fiscal costs», na colectânea de estudos «The Norwegian Banking Crisis», NORGES BANKS SKRIFTSERIE / OCCASIONAL PAPERS NO. 33, OSLO, 2004
CASE STUDY: Elefantes brancos em Espanha (13)
Cúpula del Milenio de Valladolid |
[Da colectânea apócrifa «ESPAÑA PAIS DE MILLONARIOS» dos resultados (principalmente, mas não só) do socialismo ibérico em Espanha]
17/06/2012
ARTIGO DEFUNTO: Incorrigível
Em jeito de demolição da tese de António Borges, Nicolau Santos, o pastorinho da economia dos amanhãs que (já não) cantam de serviço no Expresso, apresenta 4 exemplos de anúncios de recrutamento de profissionais qualificados: arquitecto com mestrado € 500; licenciado para fazer clipping de imprensa €485, dentistas € 650; engenheiro mecânico poliglota € 700. Supõe-se que estes exemplos demonstrariam a inutilidade da tese de Borges de que «a diminuição dos salários não é uma política é uma urgência»,
Imaginar que esse argumento deitaria por terra a tese de Borges é um insulto à inteligência dos leitores porque supõe que estes não percebem não estarem em causa os novos recrutamentos no sector privado, que se sabe serem já feitos há 2 ou 3 anos com salários reduzidos. Ao contrário, Borges só poderia estar a referir-se às centenas de milhar de profissionais com emprego vitalício, como os arquitectos ou os engenheiros que enxameiam as autarquias falidas, os espiões que também fazem clipping, os médicos que vêem metade dos pacientes que veriam nos seus consultórios privados, ou como o próprio Nicolau Santos e muitos outros com lugares cativos em empresas do complexo político-empresarial socialista.
Declaração de desinteresse:
Não sou admirador de António Borges já desde os tempos em que ainda tinha boa imprensa no Expresso e aqui se desmitificava a propalada vice-presidência do Goldman Sachs.
Imaginar que esse argumento deitaria por terra a tese de Borges é um insulto à inteligência dos leitores porque supõe que estes não percebem não estarem em causa os novos recrutamentos no sector privado, que se sabe serem já feitos há 2 ou 3 anos com salários reduzidos. Ao contrário, Borges só poderia estar a referir-se às centenas de milhar de profissionais com emprego vitalício, como os arquitectos ou os engenheiros que enxameiam as autarquias falidas, os espiões que também fazem clipping, os médicos que vêem metade dos pacientes que veriam nos seus consultórios privados, ou como o próprio Nicolau Santos e muitos outros com lugares cativos em empresas do complexo político-empresarial socialista.
Declaração de desinteresse:
Não sou admirador de António Borges já desde os tempos em que ainda tinha boa imprensa no Expresso e aqui se desmitificava a propalada vice-presidência do Goldman Sachs.
Mitos (76) - A Alemanha deve um plano Marshall à Grécia
«Some critics have argued that Germany, having benefited from the Marshall Plan, now owes it to Europe to undertake a similar rescue. Those critics should look at the numbers.
Greece has received or been promised $575 billion through assistance efforts, including Target credit, E.C.B. bond purchases and a haircut after a debt moratorium. Compare this with the Marshall Plan, for which Germany is very grateful. It received 0.5 percent of its G.D.P. for four years, or 2 percent in total. Applied to the Greek G.D.P., this would be about $5 billion today.
In other words, Greece has received a staggering 115 Marshall plans, 29 from Germany alone, and yet the situation has not improved.»
Hans-Werner Sinn, presidente do instituto IFO e director do Centro para os Estudos Económicos da Universidade de Munique, no New York Times.
Greece has received or been promised $575 billion through assistance efforts, including Target credit, E.C.B. bond purchases and a haircut after a debt moratorium. Compare this with the Marshall Plan, for which Germany is very grateful. It received 0.5 percent of its G.D.P. for four years, or 2 percent in total. Applied to the Greek G.D.P., this would be about $5 billion today.
In other words, Greece has received a staggering 115 Marshall plans, 29 from Germany alone, and yet the situation has not improved.»
Hans-Werner Sinn, presidente do instituto IFO e director do Centro para os Estudos Económicos da Universidade de Munique, no New York Times.
DIÁRIO DE BORDO: Kubrick, fotógrafo
Uma exposição de fotos de Stanley Kubrick no Museu de Belas-Artes em Bruxelas até ao final de Junho a não perder para quem ande por aquelas paragens. Passei por lá a correr e fiquei impressionado com o talento de Kubrick. Inclui fotos tiradas em Portugal durante a sua estadia no fim dos anos 40.
Nazaré vista por Kubrick em 1948 |
16/06/2012
CAMINHO PARA A INSOLVÊNCIA: All together now!
One, two, three, four,
Can I have a little more,
…
Não, não é só o Estado Sucial que está endividado até ao tutano. Estamos todos alavancados, incluindo as empresas, as famílias e os bancos, claro. E a alavanca sempre a crescer.
Can I have a little more,
…
Não, não é só o Estado Sucial que está endividado até ao tutano. Estamos todos alavancados, incluindo as empresas, as famílias e os bancos, claro. E a alavanca sempre a crescer.
Prima para ampliar Fonte: Boletim Estatístico 05-2012, BdeP |
Mitos (75) – Os europeus são mais amigos do ambiente do que os ianques
Mais amigos talvez sejam, contudo a amizade não se traduz em maior benefício para o ambiente. Nos últimos 5 anos as emissões de gases reduziram-se nos EU em 450 milhões de toneladas e no mesmo período a União Europeia aumentou as suas emissões. Num caso como noutro, tudo por causa do gás. Dos aumentos do preço do gás russo que levaram os europeus a usar mais as centrais a carvão e das reduções de preço do shale gas americano que tiveram o efeito contrário.
15/06/2012
Ejaculação do órgão legislativo regional
A Assembleia Legislativa da Região Autónoma da Madeira numa potente ejaculação legislativa evocou o glorioso e heróico passado dos ilhéus na oposição ao contenental-fascismo e aprovou no dia 12 de Junho a resolução n.º 23/2012/M que «recomenda conhecer e homenagear o passado de luta e resistência dos madeirenses e portossantenses à ditadura Fascista de 1926-1974».
AVALIAÇÃO CONTÍNUA: A maldição da tabuada, uma vez mais
Secção Insultos à inteligência
A média nas provas de matemática do 9.º ano em Maio foi 31,1%. O presidente da Confederação Nacional de Associações de Pais (Confap) considerou esta média como uma «traição aos alunos e às escolas… (e) uma estratégia… que visa criar condições para que se diga que havia uma escola e uma educação antes do atual ministério e que agora é que as coisas vão entrar nos eixos».
Como se acaba com esta traição? É muito simples. Readopta-se a estratégia socrática e vai-se baixando o nível de exigência das provas até a média atingir o objectivo do ministério. Entretanto, só para não perdermos o tino completamente convém olhar outra vez para a «traição aos alunos e às escolas» no9.º 7.º ano do liceu nos tempos do fascismo (actualmente 11.º-12.º).
Três bourbons e quatro chateaubriands é o mínimo que a Confap leva para premiar nada esquecer nem aprender e pela confusão entre dar boas notas e ter bons resultados, respectivamente.
A média nas provas de matemática do 9.º ano em Maio foi 31,1%. O presidente da Confederação Nacional de Associações de Pais (Confap) considerou esta média como uma «traição aos alunos e às escolas… (e) uma estratégia… que visa criar condições para que se diga que havia uma escola e uma educação antes do atual ministério e que agora é que as coisas vão entrar nos eixos».
Como se acaba com esta traição? É muito simples. Readopta-se a estratégia socrática e vai-se baixando o nível de exigência das provas até a média atingir o objectivo do ministério. Entretanto, só para não perdermos o tino completamente convém olhar outra vez para a «traição aos alunos e às escolas» no
Exame de matemática do |
Três bourbons e quatro chateaubriands é o mínimo que a Confap leva para premiar nada esquecer nem aprender e pela confusão entre dar boas notas e ter bons resultados, respectivamente.
14/06/2012
Um dia como os outros na vida do estado sucial (4) - «pagar para trabalhar»
Uma agremiação com o sugestivo nome de Sindicato Ferroviário da Revisão Comercial Itinerante felicita-se por a adesão à greve de ontem ter sido total. A justa luta dos trabalhadores da Revisão Comercial Itinerante visou protestar contra uma remuneração adicional de apenas 50% pelo trabalho nos feriados a qual , segundo os sindicalistas, corresponde «na prática ... (ao trabalhador) pagar para trabalhar».
É mais ou menos como os militares e os polícias quererem um subsídio de risco, ou os padeiros um suplemento por trabalharem de madrugada ou os guarda-nocturnos por trabalharem de noite.
É mais ou menos como os militares e os polícias quererem um subsídio de risco, ou os padeiros um suplemento por trabalharem de madrugada ou os guarda-nocturnos por trabalharem de noite.
A receita do costume disfarçada pour épater le bourgeois
O economista Nouriel Roubini sugere que o governo alemão dê mil euros a cada família para gastar no sul da Europa. Por detrás da aparente frescura da ideia, estão as mesmas políticas rançosas do costume. Ou, melhor, uma combinação original - reconheça-se - das mesmas consistindo em o governo extorquir dinheiro aos contribuintes para subsidiar com esse dinheiro o consumo, não já de bens ou serviços domésticos, mas de serviços prestados por nacionais de outros países nesses países.
Ao gastar o putativo cheque de dona Merkel, o turista subsidiado com impostos dos outros alemães poderia desabafar no bar do hotel em Atenas: «Vocês, gregos, não têm economia, não têm Governo, nem têm dinheiro. Mas cobram-me quatro euros por um café!» E poderia acrescentar «nunca vi uma factura».
Ao gastar o putativo cheque de dona Merkel, o turista subsidiado com impostos dos outros alemães poderia desabafar no bar do hotel em Atenas: «Vocês, gregos, não têm economia, não têm Governo, nem têm dinheiro. Mas cobram-me quatro euros por um café!» E poderia acrescentar «nunca vi uma factura».
Um dia o estado-espiatório vai entrar na sua cama para verificar se está a usar o preservativo
«A Direcção-Geral da Saúde quer melhorar a prevenção de acidentes domésticos com crianças pequenas indo a casa das famílias avaliar o risco, ao mesmo tempo que sensibiliza os pais. Ver onde são guardados os medicamentos e os detergentes, como se protegem janelas e varandas ou que medidas são tomadas para evitar o risco de afogamento são alguns aspectos das projectadas visitas domiciliárias nos primeiros quatro anos de vida “para avaliação de risco de acidente em ambiente doméstico e educação para a saúde/segurança”.» (ionline)
Que o anúncio de tais medidas não cause nenhuma manifestação de indignados pela violação de direitos é a demonstração desnecessária do pouco apreço que os portugueses têm pelo direito a não interferirem nas suas vidas.
Que o anúncio de tais medidas não cause nenhuma manifestação de indignados pela violação de direitos é a demonstração desnecessária do pouco apreço que os portugueses têm pelo direito a não interferirem nas suas vidas.
CASE STUDY: «Enfatizar o sector exportador» ou o sector de bens transacionáveis?
Não será a mesma coisa? Não é. Evidentemente que enfatizar o sector exportador implica enfatizar o sector de bens transacionáveis. Mas a recíproca não é verdadeira, porque enfatizar o sector de bens transacionáveis poderia ser feito apenas ou predominantemente pela substituição de importações.
Ora, como se sabe, esta estratégica, preconizada pela CEPAL e adoptada na América Latina e em vários outros países do então chamado Terceiro Mundo, era fundada num pot-pourri ideológico marxista à mistura com doutrinas como o keynesianismo, os planos quinquenais e o dirigismo económico, tudo temperado com um nacional-desenvolvimentismo que atribuía à lei das vantagens comparativas implicações imperialistas. Teve pouco ou nenhum sucesso.
A industrialização baseada na substituição das importações, sobretudo nos casos em que a procura no mercado interno não era suficiente para atingir uma dimensão capaz de garantir a sustentabilidade de uma determinada indústria, como em quase todos os sectores de quase todos os países, excepto Brasil e Argentina, acabou por ser gradualmente abandonada nos anos 80.
Acendem-se-me as luzes quando parece querer-se ressuscitar essas estratégias, a pretexto de que só um pequeno número de empresas portuguesas são exportadoras. Antes da ressurreição, convirá considerar que para uma grande parte dos produtos importados a procura interna num país de 10 milhões de consumidores dificilmente poderá sustentar uma indústria competitiva e, no final, para garantir que essas estratégias funcionariam seria preciso ter uma moeda própria e uma política cambial autónoma que já não temos, e uma política protecionista incompatível com as regras da WTO que não podemos ter. Fora destes caminhos já trilhados, a substituição de importações não passa de slogans «prefira produtos portugueses» que ninguém segue porque ninguém quer comprar mais caro e de pior qualidade.
Por isso, faz todo o sentido enfatizar o sector exportador que é o mesmo que dizer competir nos mercados globais em bens e serviços em que temos vantagens competitivas, o que, não por acaso, até nem é uma «obsessão do pensamento “mainstream” em Portugal» - as obsessões do pensamento mainstream em Portugal são pôr fim à austeridade, recorrer ao investimento público e enfatizar o crescimento do mercado interno, isto é continuar o que foi feito nas últimas décadas.
Ora, como se sabe, esta estratégica, preconizada pela CEPAL e adoptada na América Latina e em vários outros países do então chamado Terceiro Mundo, era fundada num pot-pourri ideológico marxista à mistura com doutrinas como o keynesianismo, os planos quinquenais e o dirigismo económico, tudo temperado com um nacional-desenvolvimentismo que atribuía à lei das vantagens comparativas implicações imperialistas. Teve pouco ou nenhum sucesso.
A industrialização baseada na substituição das importações, sobretudo nos casos em que a procura no mercado interno não era suficiente para atingir uma dimensão capaz de garantir a sustentabilidade de uma determinada indústria, como em quase todos os sectores de quase todos os países, excepto Brasil e Argentina, acabou por ser gradualmente abandonada nos anos 80.
Acendem-se-me as luzes quando parece querer-se ressuscitar essas estratégias, a pretexto de que só um pequeno número de empresas portuguesas são exportadoras. Antes da ressurreição, convirá considerar que para uma grande parte dos produtos importados a procura interna num país de 10 milhões de consumidores dificilmente poderá sustentar uma indústria competitiva e, no final, para garantir que essas estratégias funcionariam seria preciso ter uma moeda própria e uma política cambial autónoma que já não temos, e uma política protecionista incompatível com as regras da WTO que não podemos ter. Fora destes caminhos já trilhados, a substituição de importações não passa de slogans «prefira produtos portugueses» que ninguém segue porque ninguém quer comprar mais caro e de pior qualidade.
Por isso, faz todo o sentido enfatizar o sector exportador que é o mesmo que dizer competir nos mercados globais em bens e serviços em que temos vantagens competitivas, o que, não por acaso, até nem é uma «obsessão do pensamento “mainstream” em Portugal» - as obsessões do pensamento mainstream em Portugal são pôr fim à austeridade, recorrer ao investimento público e enfatizar o crescimento do mercado interno, isto é continuar o que foi feito nas últimas décadas.
13/06/2012
Cristiano Ronaldo e o efeito halo
«Convidamos você a vir ver o jogo, tá?» disse Cristiano Ronaldo ao presidente da República com grande escândalo da nossa intelectualidade. O que esperavam? Que o rapaz fizesse um discurso brilhante sobre a importância do futebol para a felicidade dos portugueses ou sobre a relação iníqua dos políticos, Cavaco incluído, com o futebol? Esperar isso era esperar que Cavaco Silva fosse um ás a marcar livres de meia distância ou esperar que Ronaldo tivesse opinião sobre a aplicação da lei de Gresham aos políticos.
Porquê então tanta gente fica surpreendida quando o CR produz estes compactos discursivos, como quando os méritos académicos de Álvaro Santos Pereira parecem não se projectar na sua acção como político, ou as habilidades de Cavaco Silva como político parecem ter deixado de se projectar nas suas análises como economista?
A propósito do ex-ministro Manuel Pinho, cujos méritos como economista e como político nunca ficaram demonstrados, já tinha concluído que se as exigências de duas profissões são bastante diferentes se não deve esperar que o putativo mérito de uma pessoa numa profissão se projecte noutra. E se, contra toda a evidência, isso se verifica frequentemente deve-se ao chamado efeito halo, que nos leva a projectar uma avaliação positiva numa área a outras.
Em conclusão enfie-se o efeito halo pelo cano e ponha-se alguém que saiba exprimir-se a falar em nome da selecção com o presidente da República e deixe este de enunciar a aplicação de leis da economia na política ou métodos da política na construção de paradigmas na economia.
Porquê então tanta gente fica surpreendida quando o CR produz estes compactos discursivos, como quando os méritos académicos de Álvaro Santos Pereira parecem não se projectar na sua acção como político, ou as habilidades de Cavaco Silva como político parecem ter deixado de se projectar nas suas análises como economista?
A propósito do ex-ministro Manuel Pinho, cujos méritos como economista e como político nunca ficaram demonstrados, já tinha concluído que se as exigências de duas profissões são bastante diferentes se não deve esperar que o putativo mérito de uma pessoa numa profissão se projecte noutra. E se, contra toda a evidência, isso se verifica frequentemente deve-se ao chamado efeito halo, que nos leva a projectar uma avaliação positiva numa área a outras.
Em conclusão enfie-se o efeito halo pelo cano e ponha-se alguém que saiba exprimir-se a falar em nome da selecção com o presidente da República e deixe este de enunciar a aplicação de leis da economia na política ou métodos da política na construção de paradigmas na economia.
CASE STUDY: Elefantes brancos em Espanha (12)
Torre de água de Saragoça |
[Da colectânea apócrifa «ESPAÑA PAIS DE MILLONARIOS» dos resultados (principalmente, mas não só) do socialismo ibérico em Espanha]
12/06/2012
CASE STUDY: Pescadinha de rabo na boca
Apesar de Joseph Stiglitz não fazer parte dos economistas de referência do (Im)pertinências, por aqui tentamos olhar mais para o quê, do que para o quem. E, por isso, concordo com a conclusão de Stiglitz sobre o plano de resgate da banca espanhola poder ser pior emenda do que o soneto.
«Se o governo espanhol resgata os bancos e a banca resgata o governo, o sistema converte-se numa economia vudu. Não está a funcionar e não funcionará», diz Stiglitz. Tem razão.
É o mesmo risco da recapitalização dos bancos portugueses com o dinheiro do governo emprestado pela troika que pode e, possivelmente, vai ser usado, pelo menos em parte, para ir aos leilões da dívida pública e, como se isso não fosse já suficientemente perigoso, usar as OT assim compradas para garantir empréstimos do BCE.
«Se o governo espanhol resgata os bancos e a banca resgata o governo, o sistema converte-se numa economia vudu. Não está a funcionar e não funcionará», diz Stiglitz. Tem razão.
É o mesmo risco da recapitalização dos bancos portugueses com o dinheiro do governo emprestado pela troika que pode e, possivelmente, vai ser usado, pelo menos em parte, para ir aos leilões da dívida pública e, como se isso não fosse já suficientemente perigoso, usar as OT assim compradas para garantir empréstimos do BCE.
Demasiado pouco, demasiado tarde
«Ministério das Finanças recomenda corte de pensões no Banco de Portugal».
11/06/2012
Lost in translation (146) - Troquei os chapéus, queria ele dizer
«Estou a ser vítima de um linchamento» queixou-se o bispo das forças armadas D. Januário Torgal das reacções às suas declarações de agitprop em que comparou Passos Coelho ao Botas, sem perceber que trocou outra vez o quépi de militar e o chapéu de cardeal pela boina de Che.
ADITAMENTO, depois de ter lido o artigo de Pacheco Pereira aqui reproduzido:
É naquela troca de chapéus que está o busílis. E o busílis não é definitivamente o homem ter dito uma «frase polémica…, (a qual) se entendida como uma comparação entre a ideia de povo que tinha Salazar e que tem Passos Coelho, tem alguma razão de ser», como nos quer fazer crer Pacheco Pereira, sem melhor fundamento, para quem faz análises tão rigorosas, do que os seus ódios de estimação pelos rebentos da JSD, que até o fazem esquecer o apelo jacobino à rua do bispo que excitou o bloquismo - ainda vamos ver o tele-evangelista nas missas de Dom Torgal.
O que escreveria Pacheco Pereira se Passos Coelho respondesse ao bispo «aparece um senhor, que pelos vistos ocupa as funções de bispo das forças armadas, dizendo que eu lhe faço lembrar o Botas. Conclusão: parecia que estava a ouvir um discurso do «martelo dos hereges» há 5 séculos a convocar-me para um auto-de-fé»?
ADITAMENTO, depois de ter lido o artigo de Pacheco Pereira aqui reproduzido:
É naquela troca de chapéus que está o busílis. E o busílis não é definitivamente o homem ter dito uma «frase polémica…, (a qual) se entendida como uma comparação entre a ideia de povo que tinha Salazar e que tem Passos Coelho, tem alguma razão de ser», como nos quer fazer crer Pacheco Pereira, sem melhor fundamento, para quem faz análises tão rigorosas, do que os seus ódios de estimação pelos rebentos da JSD, que até o fazem esquecer o apelo jacobino à rua do bispo que excitou o bloquismo - ainda vamos ver o tele-evangelista nas missas de Dom Torgal.
O que escreveria Pacheco Pereira se Passos Coelho respondesse ao bispo «aparece um senhor, que pelos vistos ocupa as funções de bispo das forças armadas, dizendo que eu lhe faço lembrar o Botas. Conclusão: parecia que estava a ouvir um discurso do «martelo dos hereges» há 5 séculos a convocar-me para um auto-de-fé»?
SERVIÇO PÚBLICO: O princípio do princípio (5)
[Continuação de (1), (2), (3) e (4)]
Apesar das dificuldades de aceder ao crédito, quase todo engolido pelas empresas públicas, os empresários que não vivem pendurados no Estado e enfrentam a concorrência nos bens transacionáveis dão sinais de vida como se pode ver pelas entradas e saídas de bens no trimestre terminado em Abril. Registe-se a melhoria das taxas de cobertura, não apenas pela redução inevitável das importações em 1,2 mil milhões, mas também pelo aumento em 0,9 mil milhões das exportações. Numa conjuntura de arrefecimento da economia mundial atinge-se uma taxa de cobertura que já não se via há mais de uma década, em particular no comércio extracomunitário que sem combustíveis apresenta um superavit notável.
É claro que estes sinais passam ao lado do jornalismo de causas e dos calimeros que compõem a maior parte da esquerda para quem o mundo se reduz ao eixo S. Bento-Bairro Alto e ao círculo dos avençados com tença.
Fonte: Destaque de 11-06, INE |
É claro que estes sinais passam ao lado do jornalismo de causas e dos calimeros que compõem a maior parte da esquerda para quem o mundo se reduz ao eixo S. Bento-Bairro Alto e ao círculo dos avençados com tença.
Uma reinterpretação da cavacologia
Diferentemente da doutrina oficial cavaquista do crescimento a partir do vácuo, Manuela Ferreira Leite reconheceu no Expresso que «não havendo margem orçamental para este tipo de medidas (redução da TSU e dos salários) e não tendo a inovação e a educação efeitos imediatos, só nos resta, entretanto, evitar o agravamento da recessão. Este objectivo implica necessariamente suavizar o caminho da consolidação orçamental, ou seja, alargar o prazo deste ajustamento.»
Em conclusão, continuem a tomar o mesmo medicamento em doses mais suaves.
Em conclusão, continuem a tomar o mesmo medicamento em doses mais suaves.
10/06/2012
DIÁRIO DE BORDO: A regra e a excepção
A minha apreciação pelo Expresso já viu melhores dias. Pode ser impressão minha, mas na medida em que economia se degradava com impacto sobre a situação financeira do grupo Imprensa mais o Expresso ficou debaixo da asa dos banqueiros do regime (com uma média de meia dúzia páginas de publicidade), perdeu distância em relação ao governo socrático e tornou-se uma espécie de Acção Socialista camuflado.
Apesar disso, continuo a ler habitualmente o Expresso porque é possível encontrar algumas peças dignas de atenção, perdidas no oceano do jornalismo de causas e do jornalismo promocional. Como exemplo, só neste sábado, o artigo de opinião de Rui Ramos e uma passagem num outro de Ricardo Costa onde reconhece evidências como «este governo tem uma folha de serviços incontestavelmente mais limpa do que o anterior em matéria de banco» e ainda «a utilização discricionária da Caixa e a tomada de assalto do BCP durante o consulado de Sócrates são difíceis de ultrapassar em descaramento».
Poderá dizer-se que Ricardo Costa está só a abrir caminho para o mano António que não pode, mas precisa, deitar para a sarjeta a herança socrática. Ou está a abrir caminho para tornar tragável a sua visão incontestavelmente estatista. Pois pode. Mas este segundo desiderato é o que andam a fazer 9 em cada 10 jornalistas do Expresso com muito menos inteligência.
É pouco, pois é. No entanto, talvez seja suficiente para uma parte dos leitores continuar a ler o Expresso. Se calhar é uma estratégica da esquerda inteligente
Apesar disso, continuo a ler habitualmente o Expresso porque é possível encontrar algumas peças dignas de atenção, perdidas no oceano do jornalismo de causas e do jornalismo promocional. Como exemplo, só neste sábado, o artigo de opinião de Rui Ramos e uma passagem num outro de Ricardo Costa onde reconhece evidências como «este governo tem uma folha de serviços incontestavelmente mais limpa do que o anterior em matéria de banco» e ainda «a utilização discricionária da Caixa e a tomada de assalto do BCP durante o consulado de Sócrates são difíceis de ultrapassar em descaramento».
Poderá dizer-se que Ricardo Costa está só a abrir caminho para o mano António que não pode, mas precisa, deitar para a sarjeta a herança socrática. Ou está a abrir caminho para tornar tragável a sua visão incontestavelmente estatista. Pois pode. Mas este segundo desiderato é o que andam a fazer 9 em cada 10 jornalistas do Expresso com muito menos inteligência.
É pouco, pois é. No entanto, talvez seja suficiente para uma parte dos leitores continuar a ler o Expresso. Se calhar é uma estratégica da esquerda inteligente
SERVIÇO PÚBLICO: Uma união, dois sistemas
«O que divide a união monetária? Esqueçam, por uns minutos, as anedotas e recriminações sobre a preguiça do sul e o puritanismo do norte. Consideremos outra hipótese.
Os países em dificuldade no sul - Portugal, Espanha, Grécia, Itália - têm todos a sua história clínica específica, mas algumas características comuns. Por exemplo, são os que menos exportam em relação ao PIB e onde é maior a proteção aos trabalhadores. Ou seja, são os mais pobres e aqueles que mais confiam no poder para obter o que não conseguem pelo trabalho. Partilham ainda outra distinção: nas três décadas anteriores à unificação monetária, foram os países da Europa ocidental (com a Irlanda, precisamente) em que a inflação média anual foi mais alta.
Este último dado sempre me pareceu a chave da questão. Na Alemanha, a inflação média anual entre 1970 e 1999 foi de 3%. Na Grécia, de 14%. Detrás destes números estão dois tipos de comunidade política e de economia. Num país, o Estado defendeu a moeda; no outro, abusou dela. Num país, o papel do Estado é manter um quadro estável para os particulares contratarem e negociarem entre si; no outro, o Estado é um recurso que fações, grupos de interesse e sindicatos tentam capturar a fim de o explorar em benefício próprio, sem atenção aos custos. Ou seja, coexistem no euro dois sistemas muito diferentes. Um em que os cidadãos atuam através da concorrência e aa negociação; outro em que recorrem à 'luta' e à corrupção. Um em que a moeda é da competência de um banco central independente; outro em que é um instrumento do governo. Os alemães vivem do poder da economia; os gregos da economia do poder.
Na Grécia, como se costumava dizer do sul da Itália, a grande indústria é o poder político. Ora o poder, usado desta maneira, precisou sempre de violentar a moeda, sob a forma de desvalorização e inflação. Primeiro, porque lhe permite dar com uma mão o que tira com a outra, jogando com a diferença entre o 'nominal' e o 'real', tão conhecida dos portugueses nas décadas de 70 e de 80: os salários aumentavam nominalmente, mas diminuíam realmente. Segundo, porque o deixa equilibrar as contas, quando necessário, à custa dos aforradores e dos que menos podem protestar (os mais pobres). Foi esta 'competitividade' que o euro, com as suas regras germânicas, tirou ao sul da Europa. A inflação, que na Alemanha não deixaria o sistema funcionar, era o que na Grécia permitia ao sistema funcionar.
Estes dois sistemas não podem usar a mesma moeda, porque a moeda não é a mesma coisa para um e para outro. Por isso, a questão do euro não é simplesmente de eurobonds ou pactos fiscais. É de saber se as mudanças civilizacionais são ou não possíveis. A inflação na Alemanha ou a disciplina na Grécia seriam, para cada um desses país, a refundação do seu modo de vida. Em suma: ou a UE extingue o euro (ou restringe o número de países que o usam) e reconhece que é uma união com dois sistemas; ou mantém o euro com todos os atuais membros, e nesse caso um dos sistemas tem de destruir o outro.»
«UMA UNIÃO, DOIS SISTEMAS», Rui Ramos no Expresso
Os países em dificuldade no sul - Portugal, Espanha, Grécia, Itália - têm todos a sua história clínica específica, mas algumas características comuns. Por exemplo, são os que menos exportam em relação ao PIB e onde é maior a proteção aos trabalhadores. Ou seja, são os mais pobres e aqueles que mais confiam no poder para obter o que não conseguem pelo trabalho. Partilham ainda outra distinção: nas três décadas anteriores à unificação monetária, foram os países da Europa ocidental (com a Irlanda, precisamente) em que a inflação média anual foi mais alta.
Este último dado sempre me pareceu a chave da questão. Na Alemanha, a inflação média anual entre 1970 e 1999 foi de 3%. Na Grécia, de 14%. Detrás destes números estão dois tipos de comunidade política e de economia. Num país, o Estado defendeu a moeda; no outro, abusou dela. Num país, o papel do Estado é manter um quadro estável para os particulares contratarem e negociarem entre si; no outro, o Estado é um recurso que fações, grupos de interesse e sindicatos tentam capturar a fim de o explorar em benefício próprio, sem atenção aos custos. Ou seja, coexistem no euro dois sistemas muito diferentes. Um em que os cidadãos atuam através da concorrência e aa negociação; outro em que recorrem à 'luta' e à corrupção. Um em que a moeda é da competência de um banco central independente; outro em que é um instrumento do governo. Os alemães vivem do poder da economia; os gregos da economia do poder.
Na Grécia, como se costumava dizer do sul da Itália, a grande indústria é o poder político. Ora o poder, usado desta maneira, precisou sempre de violentar a moeda, sob a forma de desvalorização e inflação. Primeiro, porque lhe permite dar com uma mão o que tira com a outra, jogando com a diferença entre o 'nominal' e o 'real', tão conhecida dos portugueses nas décadas de 70 e de 80: os salários aumentavam nominalmente, mas diminuíam realmente. Segundo, porque o deixa equilibrar as contas, quando necessário, à custa dos aforradores e dos que menos podem protestar (os mais pobres). Foi esta 'competitividade' que o euro, com as suas regras germânicas, tirou ao sul da Europa. A inflação, que na Alemanha não deixaria o sistema funcionar, era o que na Grécia permitia ao sistema funcionar.
Estes dois sistemas não podem usar a mesma moeda, porque a moeda não é a mesma coisa para um e para outro. Por isso, a questão do euro não é simplesmente de eurobonds ou pactos fiscais. É de saber se as mudanças civilizacionais são ou não possíveis. A inflação na Alemanha ou a disciplina na Grécia seriam, para cada um desses país, a refundação do seu modo de vida. Em suma: ou a UE extingue o euro (ou restringe o número de países que o usam) e reconhece que é uma união com dois sistemas; ou mantém o euro com todos os atuais membros, e nesse caso um dos sistemas tem de destruir o outro.»
«UMA UNIÃO, DOIS SISTEMAS», Rui Ramos no Expresso
09/06/2012
CASE STUDY: António Champalimaud revolve-se na tumba (4) – outra vez?
[Outras revoltas na tumba: (1),
(2) e (3)]
Acredito tanto nos dotes divinatórios de Marques Mendes como na sua inocência e na dos políticos em geral e, por isso, admito dubitativamente que com o país atolado em dívidas haja gente a pensar a mais de 3 anos de distância em mudar-se para Belém.
Depois de suspeitar (ver as outras revoltas) como está a ser usado o legado de António Champalimaud em operações de prestígio para encher o olho e polir os egos das figuras de cera do regime que se acotovelam nos órgãos sociais da Fundação, e depois de procurar uma singela explicação para Leonor Beleza, convidar a selecção nacional para visitar o monumento, fico propenso a pensar que a senhora pode estar a pôr-se a jeito no caminho para Belém.
Se (um se não muito grande) for assim, o velho Champalimaud irá certamente revolver-se na tumba e amaldiçoar ter escolhido alguém que se serviu em vez de servir.
Acredito tanto nos dotes divinatórios de Marques Mendes como na sua inocência e na dos políticos em geral e, por isso, admito dubitativamente que com o país atolado em dívidas haja gente a pensar a mais de 3 anos de distância em mudar-se para Belém.
Depois de suspeitar (ver as outras revoltas) como está a ser usado o legado de António Champalimaud em operações de prestígio para encher o olho e polir os egos das figuras de cera do regime que se acotovelam nos órgãos sociais da Fundação, e depois de procurar uma singela explicação para Leonor Beleza, convidar a selecção nacional para visitar o monumento, fico propenso a pensar que a senhora pode estar a pôr-se a jeito no caminho para Belém.
Se (um se não muito grande) for assim, o velho Champalimaud irá certamente revolver-se na tumba e amaldiçoar ter escolhido alguém que se serviu em vez de servir.
Presunção de inocência ou presunção de culpa? (4)
Continuação de (1), (2) e (3).
A antiga directora regional do Ambiente e do Ordenamento do Território confirmou numa segunda audição no Tribunal do Barreiro no julgamento do caso Freeport que José Sócrates, na época ministro do Ambiente, teve uma reunião com um dos arguidos entre o segundo chumbo da construção e a viabilização do projecto, reunião que Sócrates sempre negou.
E daí? Daí se confirma mais uma mentira e mais uma peça a juntar a muitas outras. No final não dá em nada, como acontece em 4 de cada 5 casos de corrupção. É o fruto do sistema judiciário contaminado pelo garantismo embebido nas leis por juristas contratados por políticos preocupados com a mitigação do risco e executado pelas corporações da justiça em muitos casos com incompetência ou negligência ou sentimento de gratidão ou investimento no futuro ou solidariedade do avental.
A antiga directora regional do Ambiente e do Ordenamento do Território confirmou numa segunda audição no Tribunal do Barreiro no julgamento do caso Freeport que José Sócrates, na época ministro do Ambiente, teve uma reunião com um dos arguidos entre o segundo chumbo da construção e a viabilização do projecto, reunião que Sócrates sempre negou.
E daí? Daí se confirma mais uma mentira e mais uma peça a juntar a muitas outras. No final não dá em nada, como acontece em 4 de cada 5 casos de corrupção. É o fruto do sistema judiciário contaminado pelo garantismo embebido nas leis por juristas contratados por políticos preocupados com a mitigação do risco e executado pelas corporações da justiça em muitos casos com incompetência ou negligência ou sentimento de gratidão ou investimento no futuro ou solidariedade do avental.
08/06/2012
PPP Rodoviárias – o escândalo do regime
Segundo a evidência, Paulo Campos, secretário de estado das Obras Públicas dos dois governos de Sócrates foi o seu principal operacional na montagem das PPP rodoviárias. Agora que a comissão de inquérito parlamentar e a PGR começam a escavar a tremenda falcatrua que nos custará muitas dezenas de milhões nas próximas décadas, quando a tralha sócratica já não andar por aí, Paulo Campos lembrou-se que «a responsabilidade da tutela é de dois ministérios. Eu sou um secretário de Estado que não tem a responsabilidade nem o poder que me vem atribuído».
Ouça-se o que José Gomes Ferreira tem a dizer a este respeito, e repare-se que estamos perante um escândalo do regime. Está lá quase toda a gente: políticos, empreiteiros e banca do regime, pulgões da advocacia e até o inquilino de Belém que poderia não ter promulgado e promulgou.
Ouça-se o que José Gomes Ferreira tem a dizer a este respeito, e repare-se que estamos perante um escândalo do regime. Está lá quase toda a gente: políticos, empreiteiros e banca do regime, pulgões da advocacia e até o inquilino de Belém que poderia não ter promulgado e promulgou.
07/06/2012
Pro memoria (59) – É difícil mais incompetência, mas não impossível
Vou esquecer os 319 milhões de despesa pública que o Tribunal de Contas chumbou o ano passado. É muito, mas é negligenciável face à magnitude da despesa total.
Como explicar que em 41 milhões de euros, mais de metade da despesa total, o TC detectou irregularidades que vão desde autorizar de operações que precisam de autorização do parlamento até operações não registadas?
É claro que o governo tem responsabilidades. Contudo, aparentemente muitas destas irregularidades são erros técnicos dos serviços do ministério das Finanças e da administração pública em geral, e aí este governo tem a responsabilidade que tem, mas todos os anteriores, em graus naturalmente diferentes, contribuíram para exterminar alguma tradição de serviço público que vinha do Botas e transformaram a administração pública numa feira de tenças com incompetentes e negligentes encavalitados por todo o lado.
Como explicar que em 41 milhões de euros, mais de metade da despesa total, o TC detectou irregularidades que vão desde autorizar de operações que precisam de autorização do parlamento até operações não registadas?
É claro que o governo tem responsabilidades. Contudo, aparentemente muitas destas irregularidades são erros técnicos dos serviços do ministério das Finanças e da administração pública em geral, e aí este governo tem a responsabilidade que tem, mas todos os anteriores, em graus naturalmente diferentes, contribuíram para exterminar alguma tradição de serviço público que vinha do Botas e transformaram a administração pública numa feira de tenças com incompetentes e negligentes encavalitados por todo o lado.
DIÁRIO DE BORDO: R.I.P.
Ray Bradbury |
06/06/2012
CASE STUDY: Os salários não são artigo de fé e para serem direitos adquiridos terá que haver alguém que os não adquira
Compreensivelmente, este é um tema sempre no topo da agenda política, sobretudo em épocas com desemprego elevado e crescente e salários reais em perda. As declarações de António Borges sobre a «urgência» de reduzir salários incendiaram o debate, se é que lhe podemos chamar debate, porque na verdade o que tem sido feito são declarações de fé, conversa fiada e demagogia. Vejamos algumas dessas tomadas de posição.
05/06/2012
Ponto de situação com adenda
Apesar da evidente falta de ímpeto reformista deste governo, não estou desiludido. Principalmente porque nunca estive iludido. Desde o início se poderia perceber que o governo não tinha uma visão reformista sólida e vários dos seus ministros poderiam mais facilmente ser identificados com as políticas socialistas do que outra coisa.
De resto, a verdade amarga é que um governo solidamente reformista não teria apoio popular porque a maioria do povo não quer reformas. Quer apenas que a situação melhor para tudo ficar na mesma, ou seja continuar ao colo do Estado, ainda que isso signifique a perda de liberdades – a nossa história mostra-nos apreciadores da baderna mas pouco amantes das liberdades que implicam deveres para com os outros e o país.
A «indignação» da oposição, uma espécie de coligação negativa que abrange os herdeiros dos responsáveis pelo PREC e os herdeiros dos responsáveis pela governação dos últimos quinze, que em duas épocas distintas conduziram o país à falência, talvez indicie que o governo pode não estar muito longe do limite possível de reformas que em democracia se poderão fazer em Portugal.
ADENDA:
Já depois de ter escrito este post, ficámos a saber pela sondagem da Universidade Católica que PSD e PS estão empatados nas intenções de voto e que a esquerda parlamentar, abrangendo os herdeiros dos responsáveis pelas 3 intervenções do FMI, tem a maioria das intenções de voto. E ficámos a conhecer mais uma intervenção da Drª. Ferreira Leite onde sublinha que o memorando assinado pelo PS com a troika «estabeleceu determinado número de regras que não se adaptam à realidade do país» - não explicou como as regras que foram sendo adoptadas no passado sem protestos poderiam se retomadas conduzir o país a um sítio diferente daquele onde se encontrava em Abril do ano passado.
QED
De resto, a verdade amarga é que um governo solidamente reformista não teria apoio popular porque a maioria do povo não quer reformas. Quer apenas que a situação melhor para tudo ficar na mesma, ou seja continuar ao colo do Estado, ainda que isso signifique a perda de liberdades – a nossa história mostra-nos apreciadores da baderna mas pouco amantes das liberdades que implicam deveres para com os outros e o país.
A «indignação» da oposição, uma espécie de coligação negativa que abrange os herdeiros dos responsáveis pelo PREC e os herdeiros dos responsáveis pela governação dos últimos quinze, que em duas épocas distintas conduziram o país à falência, talvez indicie que o governo pode não estar muito longe do limite possível de reformas que em democracia se poderão fazer em Portugal.
ADENDA:
Já depois de ter escrito este post, ficámos a saber pela sondagem da Universidade Católica que PSD e PS estão empatados nas intenções de voto e que a esquerda parlamentar, abrangendo os herdeiros dos responsáveis pelas 3 intervenções do FMI, tem a maioria das intenções de voto. E ficámos a conhecer mais uma intervenção da Drª. Ferreira Leite onde sublinha que o memorando assinado pelo PS com a troika «estabeleceu determinado número de regras que não se adaptam à realidade do país» - não explicou como as regras que foram sendo adoptadas no passado sem protestos poderiam se retomadas conduzir o país a um sítio diferente daquele onde se encontrava em Abril do ano passado.
QED
ESTADO DE SÍTIO: É mais fácil extorquir os sujeitos passivos do que fazer reformas
Já era preocupante o governo ter limitado o ponto 3.43. do MoU («Reorganizar a administração do governo local») à eliminação de umas quantas das cerca de 4.300 freguesias, deixando intacta a estrutura dos mais de 300 municípios, muitos deles com menos população do que as freguesias urbanas, que são a principal causa de ineficiência e elevado custo das autarquias.
É ainda mais preocupante o governo dispor-se a promover a extorsão dos sujeitos passivos para reduzir a dívida que as câmaras nem sequer sabiam exactamente quanto fosse – recorde-se que o vice-presidente da Associação Nacional de Municípios Portugueses dizia ser 7,8 mil milhões e o presidente disse admitir serem os 12 mil milhões estimados pelo governo «como admito o contrário».
E é de extorsão dos munícipes que se trata quando o governo coloca à disposição de 70 câmaras uma linha de crédito de mil milhões de euros (com um spread germânico de 0,25%!) e apadrinha o agravamento do IMI e da derrama para amortizar a dívida.
É ainda mais preocupante o governo dispor-se a promover a extorsão dos sujeitos passivos para reduzir a dívida que as câmaras nem sequer sabiam exactamente quanto fosse – recorde-se que o vice-presidente da Associação Nacional de Municípios Portugueses dizia ser 7,8 mil milhões e o presidente disse admitir serem os 12 mil milhões estimados pelo governo «como admito o contrário».
E é de extorsão dos munícipes que se trata quando o governo coloca à disposição de 70 câmaras uma linha de crédito de mil milhões de euros (com um spread germânico de 0,25%!) e apadrinha o agravamento do IMI e da derrama para amortizar a dívida.
04/06/2012
O ruído do silêncio da gente honrada no PS é ensurdecedor (59) – cada tiro, cada melro (II)
Quase dois anos depois da acusação pela CMVM de Armando Vara e Francisco Bandeira, por terem autorizado em 2006 e 2007 créditos a clientes (também amigos?) usados para aquisição de acções da REN, da Galp e da Martifer através de contas fictícias para fintar os limites de subscrição e «melhorar» o rateio, estes dois amigos do peito do estudante de filosofia foram finalmente multados em 50 mil euros – trocos para qualquer deles e sobretudo para o primeiro, agora ao serviço da Camargo Corrêa nas cleptocracias africanas.
CASE STUDY: quem é o deus ex machina da Ongoing? (15)
[Continuação de (1), (2), (3), (4), (5), (6), (7), (8), (9), (10), (11), (12), (13) e (14)]
Quem tenha acompanhado os 14 capítulos anteriores desta saga no (Im)pertinências, saberá há muito quem é o deus ex machina da Ongoing, quem é a Ongoing e até saberá que a Ongoing é, por seu turno, o deus ex machina da turma secreta do avental e, portanto, apenas poderá ter ficado surpreendido por ter demorado tanto tempo a ser exposta esta relação espúria.
Se ficou surpreendido pela demora, a meu ver foi sem razão. De facto, tal exposição provavelmente teria ficado arredada por mais tempo ou até sempre perdida nas catacumbas das conspirações do regime, não fora a conjugação dos astros proporcionar uma oportunidade ímpar para entalar o Jorge Coelho do PSD e dois jornais de «referência» se proclamarem vítimas da cabala amadora de uma coligação de aprendizes de espião com aprendizes de feiticeiro.
Quem tenha acompanhado os 14 capítulos anteriores desta saga no (Im)pertinências, saberá há muito quem é o deus ex machina da Ongoing, quem é a Ongoing e até saberá que a Ongoing é, por seu turno, o deus ex machina da turma secreta do avental e, portanto, apenas poderá ter ficado surpreendido por ter demorado tanto tempo a ser exposta esta relação espúria.
Se ficou surpreendido pela demora, a meu ver foi sem razão. De facto, tal exposição provavelmente teria ficado arredada por mais tempo ou até sempre perdida nas catacumbas das conspirações do regime, não fora a conjugação dos astros proporcionar uma oportunidade ímpar para entalar o Jorge Coelho do PSD e dois jornais de «referência» se proclamarem vítimas da cabala amadora de uma coligação de aprendizes de espião com aprendizes de feiticeiro.
As coisas nunca estão tão más que não possam melhorar piorar
Se há 4 anos celebrei a subida de duas posições para a 37.ª no desempenho global do World Competitiveness Scoreboard do IMD, este ano terei que lamentar a queda de mais uma posição para a 41.ª, apesar de uma subida de 48.º para 46.º no índice de eficiência do governo.
É interessante verificar que o melhor score de Portugal é nas infraestruturas onde se manteve em 25.º lugar. Para os adeptos da receita do investimento público deveria ser um tema de reflexão sobre o seu papel no desenvolvimento económico.
É interessante verificar que o melhor score de Portugal é nas infraestruturas onde se manteve em 25.º lugar. Para os adeptos da receita do investimento público deveria ser um tema de reflexão sobre o seu papel no desenvolvimento económico.
03/06/2012
TIROU-ME AS PALAVRAS DA BOCA: O amor e tudo o resto, digo eu
«Como o amor a sério não vive de mentiras, tenho a dizer que nunca vi uma factura».Escreveu Carla Hilário Quevedo, que viveu 3 anos em Atenas e é fã da «Grécia caótica», na sua página «Cinco sentidos» na Tabu do SOL, a propósito do charivari indignado pela constatação de Christine Lagarde dos gregos fugirem mais dos impostos do que o diabo da cruz.
O caso das secretas – um caso de irremediável incompetência
É certo, como aqui escreveu o Impertinente, o episódio das secretas mostrar um Estado refém de lóbis e corporações. E é também certo mostrar uma profunda incompetência dessa gente que o mantém refém.
Veja-se esta infografia do Expresso, a quem saiu a sorte grande com o caso das secretas para camuflar a prática contumaz de jornalismo de causas. (*) A infografia mostra o ridículo destas conspirações de lana-caprina em que a incompetência demonstrada é mais saliente do que a gravidade das violações ou hipotético perigo para as instituições.
É um país de opereta com espiões a produzirem tweets, a trocarem SMS e emails a oferecer serviços e a pedir emprego, a transmitirem informações ridículas, em muitos casos coleccionadas dos jornais, e fazerem-no com grande à-vontade com futuros na época e agora actuais governantes a darem-lhes ouvidos, tudo devidamente documentado no computador do ex-chefe dos espiões e ali estacionado à espera da investigação.
Apesar dos propósitos aparentes se limitarem a favores em troca de lugares e de influências e da disputa do controlo de um grupo de mídia, não minimizo a gravidade dessas conspirações, sobretudo porque, ao exporem a fragilidade de um Estado face a um pequeno grupo de incompetentes que tratam de miudezas e fazem asneiras, conseguindo apesar disso ser vistos como uma grave ameaça, mostram que gente mais competente poderia facilmente tratar com sucesso de assuntos mais sérios. E é essa a possibilidade verdadeiramente preocupante - veja-se o caso da tentativa de controlo da TVI pela clique socrática.
Toda esta gente, espiões, ex-espiões, Relvas, adjuntos e assessores deverá ser investigada, responsabilizada e punida, ou, não havendo motivo para tal, pelo menos despedida por irremediável incompetência, mas por favor não me contem estórias de perigos para a democracia que, coitadinha, já era bastante asmática antes desta paródia. E assim continuará, porque este caso está a servir para substituir a reforma das instituições por uma masturbação mediática e um ajuste de contas.
(*) Por falar nisso, registo a admissão de Henrique Monteiro, ex-director do Expresso, na sua coluna na última página do caderno principal, que «a Ongoing foi um acionista que tentou usar o seu peso … para que o Expresso não criticasse o governo PS». Fê-lo com sucesso e tudo indica sem grande esforço.
Veja-se esta infografia do Expresso, a quem saiu a sorte grande com o caso das secretas para camuflar a prática contumaz de jornalismo de causas. (*) A infografia mostra o ridículo destas conspirações de lana-caprina em que a incompetência demonstrada é mais saliente do que a gravidade das violações ou hipotético perigo para as instituições.
É um país de opereta com espiões a produzirem tweets, a trocarem SMS e emails a oferecer serviços e a pedir emprego, a transmitirem informações ridículas, em muitos casos coleccionadas dos jornais, e fazerem-no com grande à-vontade com futuros na época e agora actuais governantes a darem-lhes ouvidos, tudo devidamente documentado no computador do ex-chefe dos espiões e ali estacionado à espera da investigação.
Apesar dos propósitos aparentes se limitarem a favores em troca de lugares e de influências e da disputa do controlo de um grupo de mídia, não minimizo a gravidade dessas conspirações, sobretudo porque, ao exporem a fragilidade de um Estado face a um pequeno grupo de incompetentes que tratam de miudezas e fazem asneiras, conseguindo apesar disso ser vistos como uma grave ameaça, mostram que gente mais competente poderia facilmente tratar com sucesso de assuntos mais sérios. E é essa a possibilidade verdadeiramente preocupante - veja-se o caso da tentativa de controlo da TVI pela clique socrática.
Toda esta gente, espiões, ex-espiões, Relvas, adjuntos e assessores deverá ser investigada, responsabilizada e punida, ou, não havendo motivo para tal, pelo menos despedida por irremediável incompetência, mas por favor não me contem estórias de perigos para a democracia que, coitadinha, já era bastante asmática antes desta paródia. E assim continuará, porque este caso está a servir para substituir a reforma das instituições por uma masturbação mediática e um ajuste de contas.
(*) Por falar nisso, registo a admissão de Henrique Monteiro, ex-director do Expresso, na sua coluna na última página do caderno principal, que «a Ongoing foi um acionista que tentou usar o seu peso … para que o Expresso não criticasse o governo PS». Fê-lo com sucesso e tudo indica sem grande esforço.
02/06/2012
ESTADO DE SÍTIO: Nada está tão mau que não possa piorar (REPUBLICAÇÃO)
Agora que o alargamento da escolaridade obrigatória para os 18 anos acaba de ser aprovado, o que há 4 meses aqui se escreveu fica tão actual que o melhor será republicar com ligeiras alterações.
Tenho as maiores dúvidas que os resultados positivos das reformas que a equipa de Nuno Crato está a levar a cabo resistam ao alargamento da escolaridade obrigatória até ao 12.º ano e a permanência nas escolas até aos 18 anos. Por duas razões. Primeiro, porque tem o risco de deteriorar a qualidade do ensino e baixar o nível de exigência para evitar a subida da percentagem de chumbos. Segundo, porque a permanência nas escolas de alunos sem o menor interesse em prosseguir os estudos irá inevitavelmente degradar a disciplina e o ambiente escolares.
O resultado final arrisca-se a piorar o retrato da desistência escolar, por muito difícil que isso pareça face à situação actual como se pode ver no diagrama seguinte.
O alargamento, aprovado em Julho de 2009 por uma coligação de votos do PS com o PCP e o BE, é como as boas intenções que enchem o inferno. Ou, talvez melhor, é como as intenções que, além de não serem boas, podem transformar num inferno o purgatório das escolas públicas. E as intenções não são boas por reflectirem a obsessão da esquerda com endoutrinação dos jovens à força de «pedagogias modernas» e à custa de «educações» cívicas e sexuais.
Tenho as maiores dúvidas que os resultados positivos das reformas que a equipa de Nuno Crato está a levar a cabo resistam ao alargamento da escolaridade obrigatória até ao 12.º ano e a permanência nas escolas até aos 18 anos. Por duas razões. Primeiro, porque tem o risco de deteriorar a qualidade do ensino e baixar o nível de exigência para evitar a subida da percentagem de chumbos. Segundo, porque a permanência nas escolas de alunos sem o menor interesse em prosseguir os estudos irá inevitavelmente degradar a disciplina e o ambiente escolares.
O resultado final arrisca-se a piorar o retrato da desistência escolar, por muito difícil que isso pareça face à situação actual como se pode ver no diagrama seguinte.
A Nation of Dropouts Shakes Europe, Charles Forelle,Wall Street Journal |