É certo, como aqui escreveu o Impertinente, o episódio das secretas mostrar um Estado refém de lóbis e corporações. E é também certo mostrar uma profunda incompetência dessa gente que o mantém refém.
Veja-se esta infografia do Expresso, a quem saiu a sorte grande com o caso das secretas para camuflar a prática contumaz de jornalismo de causas. (*) A infografia mostra o ridículo destas conspirações de lana-caprina em que a incompetência demonstrada é mais saliente do que a gravidade das violações ou hipotético perigo para as instituições.
É um país de opereta com espiões a produzirem tweets, a trocarem SMS e emails a oferecer serviços e a pedir emprego, a transmitirem informações ridículas, em muitos casos coleccionadas dos jornais, e fazerem-no com grande à-vontade com futuros na época e agora actuais governantes a darem-lhes ouvidos, tudo devidamente documentado no computador do ex-chefe dos espiões e ali estacionado à espera da investigação.
Apesar dos propósitos aparentes se limitarem a favores em troca de lugares e de influências e da disputa do controlo de um grupo de mídia, não minimizo a gravidade dessas conspirações, sobretudo porque, ao exporem a fragilidade de um Estado face a um pequeno grupo de incompetentes que tratam de miudezas e fazem asneiras, conseguindo apesar disso ser vistos como uma grave ameaça, mostram que gente mais competente poderia facilmente tratar com sucesso de assuntos mais sérios. E é essa a possibilidade verdadeiramente preocupante - veja-se o caso da tentativa de controlo da TVI pela clique socrática.
Toda esta gente, espiões, ex-espiões, Relvas, adjuntos e assessores deverá ser investigada, responsabilizada e punida, ou, não havendo motivo para tal, pelo menos despedida por irremediável incompetência, mas por favor não me contem estórias de perigos para a democracia que, coitadinha, já era bastante asmática antes desta paródia.
E assim continuará, porque este caso está a servir para substituir a reforma das instituições por uma masturbação mediática e um ajuste de contas.
(*) Por falar nisso, registo a admissão de Henrique Monteiro, ex-director do Expresso, na sua coluna na última página do caderno principal, que «a Ongoing foi um acionista que tentou usar o seu peso … para que o Expresso não criticasse o governo PS». Fê-lo com sucesso e tudo indica sem grande esforço.
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