26/06/2012

TIROU-ME AS PALAVRAS DE BOCA: Por que se recandidatou Cavaco?

«Cavaco Silva odeia ser impopular. Quando se recandidatou a Presidente provavelmente não esperava vir a ser tão contestado. Mas o Destino (ou outra coisa qualquer) trocou-lhe as voltas… e ei-lo a presidir a um país que atravessa a pior crise financeira e económica da Democracia, tentando por todos os meios desligar-se das medidas de austeridade que o Governo é obrigado a implementar.

No domingo, Cavaco deu mais um sinal da sua incomodidade, ao dizer que os portugueses não aguentam mais austeridade. Não o devia ter dito. Não, não é por não ter poderes executivos (num sistema semi-presidencial o Presidente tem alguns poderes). É porque está a pôr-se a jeito: e se a Troika (ou seja quem nos empresta dinheiro) decidir que temos mesmo de cumprir o défice de 4,5% este ano, adoptando mais austeridade, o que faz Cavaco? Mete a cauda entre as pernas e assobia para o lado? Diz que não era bem aquilo que queria dizer e que foi mal interpretado pelos jornalistas? Bate o pé à Troika, colocando-se ao lado de PCP, Bloco de Esquerda e PS? Ou demite-se porque o Governo (este ou outro qualquer), nessa situação, terá mesmo de fazer o que manda a Troika, contra o Presidente?

Cavaco está sem leme: move-se ao sabor das "vaias" que vai ouvindo pelo país. Não surpreende: quando começou a mostrar aos eleitores que fazia tudo o possível para não ser colado às medidas impopulares do Governo, selou o seu futuro. Que é como diz, selou o resto da sua Presidência. Só me faz impressão uma coisa: se o Presidente já sabia que o país ia ser sujeito a este colete de forças (a sua "expertise" permitia-lhe antecipar isso), porque se recandidatou ao cargo?»

Camilo Lourenço no negócios online

Está amplamente demonstrado em 25 anos (15 no activo e 10 na penumbra a enviar recados) ser Cavaco Silva um político sem coragem de assumir as escolhas difíceis e impopulares e esperar sempre o sol na eira do aplauso alarve e a chuva no nabal das consequências dessas escolhas. Toda a sua lengalenga sobre a austeridade, o proclamar-se «provedor das angústias e das aspirações dos portugueses» e todos os outros afagos à pieguice e infantilidade do eleitorado são disso uma demonstração irrefutável. Imagino sem dificuldade que estará aterrado com as vaias. Terá que escolher o seu lado: ou dá apoio institucional às medidas que o governo tem que tomar ou passa-se para a oposição e nesse caso entrega o seu lugar ao doutor Soares que, reconheça-se, tem experiência e faria esse papel bem melhor.

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