O MEU LIVRO DE CABECEIRA: O sexo intangível.

Na geografia impertinente, área temática é uma província de intervenção do Impertinências. Aqui vai mais uma, para fazer companhia à Avaliação Contínua, às Blogaridades, etc.

O meu livro de cabeceira
O Impertinências também lê. Em vários sítios, em trânsito e também na cama. É das leituras de cama que trata esta área temática, onde se recenseiam obras de grande impacto que derrubam literalmente o Impertinências.

Para a inaugurar escolhi «Núcleo Intangível da Comunhão Conjugal - Os deveres conjugais sexuais» de Jorge Alberto Caras Altas Duarte Pinheiro, uma edição da Almedina.
A obra «corresponde, no essencial, à dissertação de doutoramento que foi apresentada por escrito» (por escrito, do no mistake), e está dividida em três emocionantes partes:

  • I Delimitação dos Deveres Conjugais Sexuais
  • II Natureza dos Deveres Conjugais Sexuais
  • III Garantia dos Deveres Conjugais Sexuais

Segundo o editor, «os clientes que compraram "O Núcleo Intangível" também compraram» (et pour cause):

  • Venda de Bens de Consumo - DL n.º 67/2003 Directiva n.º 1999/44/CE; Comentário João Calvão da Silva;
  • Estudo de Direito Privado Sobre a Cláusula Geral da Concorrência Desleal; Adelaide Menezes Leitão;
  • Curso de Processo de Execução; Fernando Amâncio Ferreira
  • Código do Trabalho-2004; Fernando Gonçalves e Manuel João Alves.

29/09/2004

SERVIÇO PÚBLICO: Nacional e estrangeiro, por grosso.

«Eu acho que é preciso começar a falar da receita. Sinceramente, estou cansado de ouvir falar da despesa. Sabemos que ela é rígida, mas ninguém se preocupa tanto com a receita
Apelou o doutor Sampaio no Luxemburgo - estes apelos quanto mais longe, melhor. E fê-lo carregado de razão porque de receita o governo não fala, o governo cobra. Ao contrário, despesa o governo não corta, o governo fala.

«O presidente da Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP) está confiante que o Orçamento de Estado (OE) para 2005 já não incluirá limites ao endividamento das autarquias
Está confiante, por muitas e boas razões. E uma delas é que também o doutor Sampaio já não quer ouvir falar de despesa.

«De acordo com a ministra da Educação, os resultados que tardavam foram conseguidos através de uma solução informática desenvolvida pelo consultor contratado na última semana
Está à espera de quê para accionar por perdas e danos a Compta e instaurar processos disciplinares por incompetência, negligência grosseira e, eventualmente sabotagem, à equipa do ME responsável por este projecto?

«Peço sinceramente desculpa», disse Blair, «por ter utilizado informações [sobre a suposta existência de armas de destruição maciça no Iraque] que se vieram a revelar falsas».
Disse, distraidamente, sem cuidar de exigir previamente que os seus detractores do partido trabalhista, herdeiros espirituais de admiradores confessos do regime soviético, pedissem desculpa por informações que se vieram a revelar falsas, escondendo da opinião pública os Gulags onde o regime soviético enterrou milhões de vítimas. Desculpou-se, sem razão, por ter ajudado a poupar 77.211 vítimas e 278.070 refugiados, segundo a última contagem.

«Um adolescente argentino de 15 anos de idade matou a tiro três colegas de escola e feriu cinco.»
De que está à espera Mike Moore para ir lá abaixo fazer um Columbine latino-americano a denunciar a influência nociva nos jovens da tradição que os Montoneros deixaram na sociedade argentina?
[Eu, que defendo a responsabilidade individual, não acredito nesta treta que escrevi, mas o idiota do Mike até que devia]

SERVIÇO PÚBLICO: Alguém deu por isso?

No princípio de Setembro, o Conselho de Segurança das NU votou (com 6 abstenções) a retirada de 17.000 efectivos de tropas que a Síria mantém no Líbano há 28 (vinte e oito) anos . A Síria fez ouvidos de mercador e o governo fantoche libanês imitou-a alegremente.
Alguém ouviu a estridência que a esquerdalhada costuma devotar a estas questões quando estão em causa os suspeitos do costume? Alguém deu por alguma maninfestação?

28/09/2004

AVALIAÇÃO CONTÍNUA: Cadáveres políticos adiados.

Secção A título póstumo
Não é pelo doutor Soares filho coleccionar derrotas que é um cadáver político adiado. Muitos políticos perderam batalhas anos a fio até um dia. Ele é um cadáver político adiado porque é um político do futuro há 30 anos. É tempo de mais à espera de ser futuro.
Neste seu último flop, o doutor Soares filho arrastou com ele o doutor Soares pai. Pai que já tinha tido o seu próprio gigantesco flop ao falhar a eleição no parlamento europeu, acabando por aceitar um lugar mais próprio para jovens em princípio de carreira, ou para políticos em travessias de deserto, do que para um ex-presidente da república.
A suprema humilhação do doutor Soares filho, chega agora pela mão do novo secretário geral do PS que, pela boca do seu porta-voz, autorizou o doutor Soares filho a ver discutida no congresso do PS a sua moção que só havia conseguido 25 dos 50 votos mínimos necessários. Desde que um dos amigos do pai - o dinossáurico doutor Almeida Santos - tenha «boa vontade e generosidade».
Cadáver político adiado? Já não está adiado. Acaba de receber a certidão de óbito.
Cinco bourbons e outros cinco chateaubriands para família Soares (3 para o pai e 2 para o filho), pela carreira.

O IMPERTINÊNCIAS FEITO PELOS SEUS DETRACTORES: Futebol à mão.

De um leitor e amigo recebi esta contribuição apócrifa, mas muito útil para a compreensão das tecnologias da informação aplicadas ao futebol.

Peseiro e Victor Fernandez avançam com sistema manual de colocação de jogadores

José Peseiro e Victor Fernandez decidiram voltar ao sistema manual de colocação de jogadores em campo, depois de concluirem que o sistema informático utilizado desde o início da época não dava garantias de escolher a equipa com o rigor desejado.

Os dois treinadores colocavam os jogadores em campo de acordo com um programa informático que se baseava em inúmeras características dos jogadores e da equipa.

No entanto, e de acordo com um dos responsáveis da empresa que vendeu o software, o programa era de tal forma desenvolvido que enviava mails aos presidentes dos clubes a denegrir a imagem do treinador e a lançar suspeitas sobre a sua sexualidade.

O programa usado no FC Porto chegava ao ponto de efectuar uma listagem de jogadores a dispensar e propunha a venda imediata de Jorge Costa ao Dragões de Sandinenses.

Terá sido este programa que provocou a saída precoce de Del Neri do comando dos dragões. De acordo com Pinto da Costa, presidente do FC Porto, com o sistema manual a equipa poderá desta forma começar a ganhar a partir do próximo dia 30 de Dezembro.

José Peseiro, por seu lado, deparou-se com outro tipo de problemas.

O programa insistia em colocar Pinilla a ponta de lança, sendo ele um lateral direito contratado para jogar na equipa de andebol leonina.

Peseiro começou a desconfiar do software quando este insistiu na venda de Rui Jorge para o Real Madrid.

Fontes seguras informaram-nos que um tio de Rui Jorge fez parte da equipa de programadores do programa em questão.

Dias da Cunha decidiu assim avançar para o sistema manual de colocação de jogadores, lamentando o atraso na classificação que tal irá provocar, estando prevista a próxima vitória para os meados do mês de Novembro, data da 1ª eliminatória da Taça de Portugal.

O presidente do Sporting deixou ainda no ar a seguinte declaração: "Eu bem dizia que a culpa era do sistema..."


Nota final:
A avaliar pelos resultados da última jornada, o doutor Pinto da Costa antecipou-se, uma vez mais, ao doutor Dias da Cunha - enquanto lhe contava estórias para o entreter, na sombra tratava da coisa à mão.

27/09/2004

SERVIÇO PÚBLICO: O clientelismo como política de clientes.

«Não é qualquer banco que comete a proeza de atingir uma queda de 11% na sua margem financeira.
A principal política dirigida ao cliente é o clientelismo.
Não há banco que resista a tanta nomeação sem sentido, tanto assessor desnecessário. Nem a Caixa Geral de Depósitos.
»
Mais palavras para quê?

PUBLIC SERVICE: Deny them their oxygen.

«I could write an enormous post on terror, but I'm not going to. It seems that these days we all have our opinions set in concrete on these matters...despise or empathise? I know that political correctness is doing an awful lot to maintain terror. Because of political correctness hate-filled men (hateful of "the West", yet living in it, using its modernity) call each other to arms in the streets of British cities and no-one can raise a voice against them... and this is at the same time as Gurkhas (the division of the British army consisting of Nepalese men, regarded as some of the most skilled men in the world) who have fought and laid their lives on the line for Britain are refused right to live in that country.
So I shall stick to my flippant frippery of a blog and life and pretend that we still live in a beautiful world and I shall ignore the terrorists, as we all should do, like we always used to, deny them their publicity, deny them their oxygen, deny them their "fun".»
[this and much more at Miss Vitriolica Webb's Ite]

26/09/2004

DIÁRIO DE BORDO: Não há votos de borla.

Os 80% do engenheiro Sócrates vão custar-lhe caro. Quem nele votou não foi só a «esquerda moderna» - dando de barato que tal coisa exista no PS, ou exista mesmo em qualquer outro lugar. Quem nele votou foram todas as criaturas que anseiam por um naco de poder, o mais depressa possível. Que mal podem esperar por uma sinecura para si, ou para a cara-metade, ou para os filhos, ou para a parentela, ou para os amigos. Todas essas? Não. Apenas as pragmáticas. Há uns quantos por cento de criaturas que também anseiam por um naco de poder, mas porque deixaram as almas ancoradas no passado, como os índios de que falava a estória do Padre Anchieta, preferiram votar no poeta Alegre ou no filho do doutor Soares.
Essas criaturas - as pragmáticas, quero eu dizer - não se enganam. Cheiram a oportunidade à distância de quase dois anos.

Com 80% dos votos o engenheiro Sócrates vai inevitavelmente deixar muita gente desiludida. Ou quase todos, se, como o engenheiro Guterres, tentar a bissectriz impossível.
Poderia ter sido pior se tivesse a unanimidade que elege os fracos - os que não têm adversários. A unanimidade que perdeu o engenheiro Guterres e perdeu o doutor Ferro. Tem que agradecer ao poeta Alegre e ao doutor Soares, filho.

25/09/2004

DIÁRIO DE BORDO: As próximas eleições ainda não foram ganhas mas já começaram a ser perdidas.

A comédia trágica da colocação dos professores começou por ser uma responsabilidade do governo de Durão Barroso e continuou a sê-lo durante algumas semanas depois do novo governo ter tomado posse. Passados dois meses, já não é só. A inépcia demonstrada ao lidar com este problema transformou-o num passivo de Santana Lopes e da sua ministra da Educação.

Os pais podem não estar preocupados - e não estão - com a falta de qualidade do produto das fábricas de analfabetos funcionais que são os ensino básico e secundário. Mesmo que isso comprometa o pagamento das suas reformas dentro de 30 ou 40 anos, são intangibilidades que contam pouco no dia a dia do pagamento das prestações, na ginástica do fim do mês que nunca mais chega, na espera das férias naquele resort merdoso que ainda tardam, das noites de olhos grudados no écran e dedo ágil no zapping, das madrugadas perdidas dentro de latas encalhadas numa qualquer CREL, ou CRIL, ou IC, ou IP ou A não sei das quantas. Mas as corridas para deixar e buscar os putos em casas dos avós, dos amigos, das tias, ao som do rufar dos tambores sindicais, as faltas descontadas, as baixas inventadas, essas não vão ser esquecidas facilmente. O engenheiro Sócrates, a quem saiu um bilhete de lotaria premiado, uma inesperada e oferecida rampa de lançamento para liderar a oposição, vai encarregar-se disso.

24/09/2004

BLOGARIDADES: Brrrr.

Confesso que não frequento alterblogues. Não porque ache que não deva. Não consigo. Já dei para este tipo de peditórios durante a primeira metade da minha vida, que já vai longa. Fiquei curado. A coisa vagamente mais parecida que visito com alguma regularidade é o único exemplar (A Praia) das Espécies Ameaçadas que está aqui no link à direita, no fundo (gosto do «à direita, no fundo»). Quase tudo o resto são insultos à inteligência.

A curiosidade de gato levou-me atrás deste isco do Jaquinzinhos. Caí de cabeça aqui, no criogénio onde se conservam estas criaturas do Barnabé, vogando nos fluídos da psicose conspiratória. Brrrr. Venho de lá arrepiado e mergulho de novo nas águas frescas da ironia do Anacleto.

23/09/2004

SERVIÇO PÚBLICO: Um discurso de esquerda à procura duma audiência.

O doutor Santana Lopes fez há poucas horas o seu discurso na AG da ONU. Entre outras coisas, disse (ver, por exemplo, aqui ou aqui):
«Portugal entende que cabe às Nações Unidas dar um contributo decisivo na articulação de uma estratégia global de combate ao terrorismo. E de uma estratégia que tenha em conta não só as respostas óbvias de natureza securitária, mas também outros elementos potencialmente geradores de violência.
«Israel e a Palestina terão de coexistir em paz e segurança dentro de fronteiras internacionalmente reconhecidas e sem divisões artificiais»
«A fome e a pobreza geram desespero e colocam muitos seres humanos à mercê de aliciamentos que conduzem à violência».
Acredita o doutor Santana Lopes no que disse ou está apenas a dizer coisas que supõe (e são) populares? Apesar de tudo, esta segunda hipótese seria mais benigna e bastante em linha com as coisas que tem dito a propósito de tudo e de nada. Alguns exemplos: a «deslocalização», o aborto, a refinaria de Matosinhos, o aumento dos funcionários públicos, a redução dos impostos, etc. (um etc. muito grande). É de facto melhor pensar que o doutor Lopes, sempre com um olho nas audiências, não resistiu à tentação de se fazer aplaudir - e a audiência, neste caso, tem uma maioria qualificada de títeres que representam ditaduras ou «democracias» limitadas ou «musculadas».

Na hipótese mais maligna de acreditar no que disse, terá consciência que isso significa uma mudança profunda na política internacional conduzida pelo governo Durão Barroso a que o seu seria suposto dar continuidade? Perceberá que este seu discurso poderia ser feito pelo doutor Ferro Rodrigues?

A sua tese das raízes do terrorismo (é disso que se trata quando, no seu linguajar, fala de violência), não tem nenhuma aderência aos factos conhecidos e poderia ser subscrita pelo doutor Carvalhas ou o professor Louçã.

O doutor Lopes tem um pensamento político ou é apenas um fenómeno mediático, uma espécie de entertainer?

CASE STUDY: Medidas para a melhoria do desempenho dos nossos atletas.

Agora que os paralímpicos estão em acção em Atenas, vem a propósito fazer uma retrospectiva da sua participação em competições internacionais.

Em Agosto de 2001, os atletas deficientes portugueses ganharam em Edmonton uma vintena de medalhas, incluindo umas quantas de ouro.

Um ano depois, em Agosto de 2002, repetiram a proeza em Lille. Foi nessa altura que quando o repórter perguntou a um dos ceguinhos medalhados se ele estava satisfeito pelas promessas de subsídios do ministro dos desportos da época, ele respondeu sabiamente: «Só vendo acredito» (ouvido nessa altura, na rádio, pelo Impertinências - I swear).

Em Março de 2003, a selecção nacional de deficientes mentais participou nos Mundiais com 19 atletas e regressou com 16 medalhas conquistadas por 15 atletas no segundo Mundial de pista coberta na Polónia. A selecção ficou no terceiro lugar no quadro de medalhas.

Desde 1984, os nossos paralímpicos já conquistaram 64 medalhas (24 de ouro, 20 de prata e 20 de bronze). Comparativamente os atletas não deficientes ganharam desde 1924 um total de 17 medalhas.

Os atletas deficientes recebem actualmente subsídios e prémios que são um terço dos não deficientes. Ninguém passa cartão aos deficientes, contrastando com a grande visibilidade mediática dos não deficientes.

Inspirado no sucesso passado dos atletas deficientes, o Impertinências atreve-se a propor, a quem de direito (isto é a ELES), as seguintes medidas avulsas para melhorar o desempenho dos nossos atletas não deficientes:

  • reduzir os seus subsídios e prémios a um terço dos valores actuais;
  • inibição de dar entrevistas e ser fotografado;
  • infligir-lhes um handicap - por exemplo, calçar-lhes ténis 3 números abaixo, colocar-lhes uma venda nos olhos, atar-lhes as mãos atrás das costas.

Post scriptum:
Pensando melhor, não sei se. Nesta edição das Paralimpíadas a coisa está fraquita. Arrisco pensar que deve ser por terem sido aumentados os subsídios.


22/09/2004

SHORT STORY AND BIG MORAL: Never give them fish. They won't thank you.

Short story

«Anti-Americanism is in epidemic proportions in France and Germany but most people don't realize that it is in epidemic proportions in South Korea too. And what do those three countries have in common? They were liberated by America.
And what is probably the most pro-American country in the world? Poland. They liberated themselves. Ego defeats rationality all the time.
»
[see this and more of John Ray's outstanding stuff here]

Big moral
Never give them fish. They won't thank you and maybe they will hate you. Give them a fishing rod and say them «go for fishing», instead . They will love you.

AVALIAÇÃO CONTÍNUA: Tomem lá uma bola de Berlim.

Secção Res ipsa loquitor
«A cidade-estado de Berlim proibiu a realização de um congresso islâmico internacional, previsto para o início de Outubro na capital alemã, anunciou, (ante)ontem, o ministro regional do Interior, Ehrhart Koerting
Entre outras coisas o congresso propunha-se criar um «movimento de libertação patriótico, nacional, árabe e islâmico». Que se saiba, este movimento não visava libertar os povos islâmicos sob o domínio dos tiranos que os oprimem. [ver notícia aqui]
Quatro afonsos para o governo berlinense que não se deixou intimidar pela santa aliança entre as ameaças do terrorismo e a chantagem da esquerdalhada.

21/09/2004

ARTIGO DEFUNTO (DEAD NEWS): No melhor pano cai a pior nódoa? (The best swimmers are often drowned?).

Depois disto e disto (After this and this), tarde de mais ele disse isto (too late he said this:)
«But we did use the documents. We made a mistake in judgment, and for that I am sorry. It was an error that was made, however, in good faith and in the spirit of trying to carry on a CBS News tradition of investigative reporting without fear or favoritism.»
e por isso ele merece isto (then he deserves this):

[graças a (courtesy of) Middle Age Madness]

CASE STUDY: Ainda o mercado imobiliário.

De vez em quando, o Impertinências entra no mercado imobiliário. Como ainda recentemente aqui ou aqui, onde pela primeira vez (e também pela última) alguém aplicou ao mercado imobiliário português a teoria do caos revertida.

Falando de coisas mais sérias, como mostram os dados da APB, citados pelo DE, a dependência que a banca tem do crédito imobiliário é tão elevada (60% do crédito total concedido) que não é difícil perceber a ansiedade com que os bancos aguardam a nova legislação do arrendamento, que é suposto tornar menos interessante a compra de habitação com o recurso ao crédito. O endividamento do sistema financeiro privado à banca internacional para financiar o boom, como aqui referi, torna os bancos portugueses bastante opáveis quando secar o crédito imobiliário.

Por tudo isso, não é difícil perceber a demora na ejaculação do órgão legislativo, normalmente tão precoce.

20/09/2004

BLOGARIDADES: Se o rancho do radical chic tivesse sentido de humor.

Se o rancho do radical chic tivesse sentido de humor, depois de lerem a entrevista do doutor Anacleto n'O Anacleto (Um Blog Alter. Charros. Aborto. No Bush.) fechariam todos os alterblogues, proibiriam o tele-evangelista de ir à televisão, não fariam mais discursos e desconvocariam todas as maninfestações.

ESTÓRIAS E MORAIS: Crimes e castigos.

Estória n.º 1
Martha Stewart - uma conhecida e arrogante guru nova-iorquina da moda e do lifestyle, CEO da Martha Stewart Living Omnimedia - choramingava, 4ª feira passada, numa conferência de imprensa, pedindo a antecipação da pena de prisão de 5 meses a que foi condenada por obstrução à justiça e por ter mentido acerca da venda da sua participação na ImClone Systems.

Estória n.º 2
No mesmo dia em que Martha Stewart choramingava, Frank Quattrone - um conhecido, e ainda mais arrogante, director do Credit Suisse First Boston, que liderou durante a década de 90 várias das mais mediáticas initial public offers (IPOs) das tecnologias de informação, cavalgando a onda de «euforia irracional» (Grandpa Greenspan dixit) dos mercados de capitais - foi condenado a 18 meses de prisão por motivos semelhantes: interferência na investigação federal sobre rateio de acções nessas IPOs.

Estória n.º 3
Em Julho do ano passado o empresário Miguel Sousa Cintra - filho do demasiado conhecido Sousa Cintra - foi condenado, com pena suspensa, pelo crime de inside trading, a 120 dias de multa à taxa diária de 295 euros, e à entrega de 499 mil euros a distribuir por instituições humanitárias. Meio milhão de euros foi o custo das mais-valias de 4 milhões de euros que realizou com a operação.

Estória n.º 4
Em Janeiro deste ano Carlos Magalhães Pinto - ex-administrador da Mota & Ca. - foi condenado a pagar 63 mil euros pelo crime de inside trading na Oferta Pública de Aquisição (OPA) da Engil. A operação rendeu-lhe 139 mil euros de mais-valias.

Moral
As leis em Portugal são duras, mas a prática é mole - Filipe II de Espanha (I de Portugal).

18/09/2004

BLOGARIDADES: Utilizador-pagador - o desperdício pedagógico.

Desde que nasceu, o Blasfémias é um dos meus blogues favoritos. Admiro o rigor e a ciência (e a paciência) com que os blasfemos tratam a maioria dos temas. Desta vez, calhou a sorte ao tema utilizador-pagador. Tudo começou por um comentário a um artigo no DE da luminária socialista doutor Nazaré. O Impertinências passou por esse artigo, na devida altura, como cão por vinha vindimada, dizendo para os seus botões: ó filho está calado que isto é artigo de fé socialista.

Se tivesse dúvidas ficaria esclarecido com a leitura dos comentários dos leitores do Blasfémias àquele post e aos seguintes (aqui, aqui e aqui). Não me refiro às miudezas - o como e a partir de quando, ou desde quando, se aplica o princípio utilizador-pagador. Refiro-me à repulsa que o princípio per se suscita nas mentes.

Do ponto de vista da teoria económica, o princípio utilizador-pagador vale cinco minutos de discussão. Sem querer fazer concorrência aos blasfemos, sempre acrescento mais um exemplo para atrasados mentais: estou danado de impaciência à espera que o socialismo me traga à borla água fresquinha, a mim e aos outros patrícios. Por mim, vou encher todas as semanas a piscina que tenho vazia, ali no fundo do quintal.

Porquê o óbvio ululante é só ululante e não é óbvio para muitos dos nossos patrícios? A resposta não é obra para a teoria económica, mas para os domínios onde navegam os emplastros - como a antropologia. A explicação mais à mão foi dada há anos pelo emplastro Geert Hofstede: Portugal é um dos países mais colectivistas no mundo e, definitivamente, o mais colectivista da Europa.

Um dias destes volto ao tema do colectivismo, se tiver paciência. Enquanto não tenho, fica uma sugestão impertinente aos blasfemos: deixem de oferecer pedagogia aos incréus - a não ser que eles paguem a que utilizam.

Já ia a fechar o post e veio-me à cabeça a dúvida insidiosa: quando chegar o socialismo, o governo tira-me a piscina? Ora, tanto faz. Se não tenho água à borla para que quero a porra da piscina?

17/09/2004

PUBLIC SERVICE: Balances and checks - watch your back.


«Our Mission
We are a nonpartisan, nonprofit, "consumer advocate" for voters that aims to reduce the level of deception and confusion in U.S. politics. We monitor the factual accuracy of what is said by major U.S. political players in the form of TV ads, debates, speeches, interviews, and news releases. Our goal is to apply the best practices of both journalism and scholarship, and to increase public knowledge and understanding.»


FactCheck.org

O IMPERTINÊNCIAS SEGUNDO OS SEUS DETRACTORES: A génese das ameaças do Bokassa das Ilhas.

A propósito do SERVIÇO PÚBLICO O Bokassa das ilhas ameaça «capitalistas da Madeira Velha», um detractor habitual escreveu ao Impertinências:
As ameaças do (senhor doutor) Alberto João não são em vão. Que o diga a família Welsh, que era proprietária de uma velha fábrica de açúcar numa óptima zona do Funchal, a aguardar a oportunidade de a transformar em muito dinheiro, quando o (senhor doutor) AJ, em ajuste de contas destinou a dita área precisamente a um jardim.
Ou a família Zino, também alvo de represálias.
Já quase nada resta do poderio colonial inglês na Madeira. O Sr. Richard Blandy é talvez o único importante, e é maioritário no DN local, um jornal independente, para raiva do (senhor doutor) AJ, cujo Jornal da Madeira, o órgão do regime, custa uma fortuna em subsídios.
Alguns madeirenses pensam que o (senhor doutor) Alberto João teria sido abusado em jovem por algum embarcadiço inglês de passagem.
[O texto foi completado com o respeitoso «senhor doutor», que o detractor omitiu]

Esclarecimentos a quem possam interessar:
  • O temerário detractor não pediu o anonimato que o Impertinências piedosamente lhe concede, poupando-o a eventuais sevícias dos sicários ao serviço do Bokassa das Ilhas;
  • À cautela, lembro que «Bokassa» foi um cognome inventado por um deputado da Nação, ele próprio vítima do cognome de «peixe de águas profundas» que lhe foi dado pelo doutor Soares, pai.

CASE STUDY: Um país diferente? (3)

Depois destas e destas, ainda mais questões inquietantes para a rentrée, a propósito do Statistical pocketbook do Eurostat «Living conditions in Europe (1998-2002)».

Salários médios
Percentagem Portugal/Média EU(15)
Indústria ................36%
Construção ...............40%
Hotelaria e restauração ..42%
Intermediação financeira .57%
Comércio e reparações ....45%
Transportes ..............59%
Electricidade, gás e água 63%

Distribuição do rendimento
Quota dos quintis em Portugal praticamente igual à da EU(15) .
Portugal apresenta maior desigualdade na EU(15) medida pelo indicador rendimento Top 20%/Bottom 20% (6,4 contra 4,6) .

Emprego e coesão social
A situação em Portugal é melhor ou muito melhor do que a média EU(15) em todos os 7 indicadores considerados .

Segurança social
Distribuição das contribuições (2000) Portugal UE(15)
Governo .................................38,7% 35,8%
Empregadores ............................35,9% 38,3%
Empregados ..............................17,6% 22,4%
Outros .................................. 7,8% 3,5%

Despesas com políticas laborais
Percentagem do PIB (2001) Portugal UE(15)
Formação profissional .......0,11% 0,22%
Pré-reforma .................0,31% 0,10%
Restante ....................0,93% 1,69%

Mais perguntas impertinentes:

  • É nos sectores com maior peso do Estado (ainda ou até recentemente) que os salários são relativamente mais altos. Porquê?
  • Qual o fundamento das queixas de desigualdades salariais excessivas?
  • Porque depende a Segurança social portuguesa mais do Estado?
  • Porque gastamos, em termos relativos, 3 vezes mais com pré-reformas do que a EU(15)?

15/09/2004

TRIVIALIDADES: Prontes. Está tudo explicado.

«Kelley desvenda os segredos da família Bush para acusar George W. Bush de ter sido um consumidor regular de cocaína, que não hesitou mesmo em snifar na residência ofical de Camp David durante o mandato do pai, o ex-presidente George Bush.»

Eu bem desconfiava daquele frenesim e da dislexia. Eram as linhas tortas sorvidas a direito por aquelas narinazinhas empertigadas.

«Como se isso não bastasse, Kitty Kelley acusa também a actual Primeira Dama norte-americana de ter sido uma consumidora regular de marijuana durante os seus tempos de estudante

Consumia. Mas não inalava.

[para saber o resto das poucas-vergonhas dos Bush clique aqui]

SERVIÇO PÚBLICO: As vias rápidas do socialismo.

«O ministério das Obras Públicas já tem em mãos o estudo do banco Finantia que avalia em cerca de 10,2 mil milhões de euros os encargos a suportar pelo Estado com os 914 Km de portagens virtuais

Nos 30 anos das concessões os contribuintes pagarão o equivalente a quase 8% do PIB para financiar pouco mais de 900 km de estradas. O valor médio anual dos encargos é quase o dobro do orçamento do Instituto das Estradas de Portugal para a manutenção de todas as estradas de Portugal.
Recorde-se que esta foi uma das medidas emblemáticas do consolado do engenheiro Guterres. Na verdade é um passe de mágica típico do socialismo, um tirar coelhos da cartola que deixa maravilhados os papalvos. Imagine-se o que seriam os défices desse consolado se o investimento nestas vias para o socialismo fosse contabilizado nos anos em que os respectivos custos foram incorridos. Teríamos tido um défice estratosférico de 6 ou 7 por cento do PIB.

Estamos a falar dos SCUTS (Sem Custos para os Utilizadores)? Não. Estamos a falar dos CCTS (Com Custos para os Tansos).

14/09/2004

ARTIGO DEFUNTO: No melhor pano cai a pior nódoa ou no pior pano cai a melhor nódoa?

A estória é conhecida: Dan Rather, no seu programa «60 minutes» da CBS News, apresentou memos que alegadamente demonstrariam que Georges W. Bush andou desenfiado na tropa, para usar o jargão colorido dos nossos recrutas dos anos sessentas.
Por obra e graça essencialmente de blogonautas americanos, foi razoavelmente posta em causa a veracidade desses memos, que não passariam duma grosseira falsificação. A CBS e Rather continuam a defender a autenticidade para, alegadamente, proteger ilegalmente as suas fontes. Et pour cause.
Entre as inúmeras referências a este assunto merecem ser destacados o blogue que lhe é dedicado, o relato da briga blogues versus «60 minutes» e, claro, o ponto de vista da CBS.

Podemos imaginar esta polémica com a miséria do nosso jornalismo de causas e de opiniões e com o amadorismo principiante da nossa Bloguilha, tudo temperado pelo nosso atávico desapego à verdade? Dificilmente. As verdades moralmente relativas das nossas esquerdas e as verdades convenientes das nossas direitas não deixam espaço para a busca da simplesmente verdade.

CASE STUDY: Um país diferente? (2)

Depois destas, mais questões ligeiramente inquietantes para a rentrée, a propósito do Statistical pocketbook do Eurostat «Living conditions in Europe (1998-2002)» .

Igualdade de oportunidades no emprego

Taxas de emprego (15-64 anos)
Homens
- Portugal...77% (a 2ª mais alta)
- UE (15)....73%
Mulheres
- Portugal...61% (a 3ª mais alta)
- UE(15).....55%

Trabalho a tempo parcial
Homens
- Portugal..7%
- UE(15)....7%
Mulheres
- Portugal..16% (a 2ª mais baixa)
- UE(15)....33%


Contratos a termo
Homens
- Portugal..20% (a 2ª mais alta)
- UE(15)....12%
Mulheres
- Portugal..23% (a 2ª mais alta)
- UE(15)....14%

Desemprego e educação

Taxas de desemprego (por níveis de ensino)
menos do que secundário
- Portugal..4,0% (a 2ª mais baixa)
- UE(15)....9,5%
secundário
- Portugal..4,2% (a 5ª mais baixa)
- UE(15)....6,4%
terciário
- Portugal..4,3% (a 8ª mais baixa)
- UE(15)....4,3%


Mais perguntas impertinentes:

  • Temos mais emprego. É por isso que temos menor produtividade?
  • Se mais mulheres portuguesas trabalhassem a tempo parcial poderíamos ter menos abortos?
  • Como explicar, que com a obsessão de empregos para toda a vida, temos mais empregos de curta duração?
  • Podemos chamar a Portugal um «oásis» no deserto do desemprego?
  • Apesar dos exércitos de doutores em ciências ocultas onde é que está o desemprego dos licenciados que tanto preocupa a senhora ministra da educação?
  • Será que esse desemprego é oculto e está «empregado» nas tetas da vaca marsupial pública onde a senhora ministra ainda quer pendurar mais alguns?

13/09/2004

SERVIÇO PÚBLICO: A perda de compostura do radical chic.

«Louçã acusa PR de escolher o seu queijo limiano»

A perda de compostura do tele-evangelista com o doutor Sampaio fala mais alto sobre o pensamento político radical chic do que mil discursos fingidamente institucionais.

12/09/2004

TRIVIALIDADES: O Expresso é uma nação.

Segundo a Eurosondagem, citada pelo Expresso (desta vez não é o manómetro), o doutor Santana Lopes é o líder partidário menos popular.
O doutor Lopes, agora também ele no Brasil (acompanhado pela doutora Clara?), justamente afligido com o infortúnio, está já a tratar do caso com a prioridade que ele exige. Ainda segundo o inefável semanário, o doutor Lopes foi visto a almoçar com o mago da manipulação de mentes doutor Nisan Guanais que, diz-se, poderá vir a aplicar-lhe a sua medicina já nas próximas eleições.
Quem precisará duma dose reforçada da medicina do doutor Nisan é o doutor Paulo Portas, que continua esforçadamente a alvejar os pés com as suas declarações passionais a propósito do Bote do Desmancho. O cartunista António dedica-lhe, na 1ª página daquele semanário, um pouco subtil boneco, associando o doutor Portas ao filme «Querelle» de Fassbinder que, como se sabe, conta a estória dum marujo que perde aos dados só para ter a oportunidade de se exercitar como paneleiro.

[O doutor Portas segundo o cartunista António]
Depois venham-me dizer que o Impertinências é homofóbico.

11/09/2004

AVALIAÇÃO CONTÍNUA: Uma lucidez talvez acidental.

Secção Still crazy after all these years
Talvez algumas das nossas luminárias não sejam completamente ignorantes fora do domínio das benditas «humanidades», como o maradona (com minúscula) sustentou e eu concordei.
Talvez algumas delas tenham um módico de conhecimento, se não das «ciências exactas», ao menos das ciências experimentais, como a puta da vida. Pode ser o caso da doutora Clara Ferreira Alves que na sua página «Pluma Caprichosa» da Única do Expresso escreveu na semana passada umas palavras higiénicas («O estudante»), afogadas no oceano de trivialidades que é esse apêndice do saco de plástico.
Eis algumas delas:
«No meu tempo, muito in illo tempore, a porta da universidade não tinha um carro e contavam-se pelos dedos os meninos que andavam de carrinho. Hoje, o adolescente exige aos pais, assim que atinge maioridade, o seu automóvel como antes exigira o seu telemóvel. Não sobra para as propinas. Dantes, os pais e os professores exigiam coisas aos filhos, que estudassem e se aperfeiçoassem, senão iam trabalhar e deixar de vadiar. Hoje, a proposta inverteu-se e são os filhos que exigem a mesada e a cerveja gelada, o CD e a sapatilha, cama, mesa, pensão de alimentos e roupa lavada. O estudante, incluindo o estudante de café, sumiu-se, devorado pela sociedade de consumo, e é raro ver passar na rua um rapaz ou uma rapariga carregando um pacote de livros, uma pasta recheada de papéis, um objecto que identifique como estudioso e não como comensal da universidade, com direito a cantina e estudo acompanhado. Os estudantes identificam-se pelo apego a capas e batinas com rótulos de hotel colados no tecido e grandiosos projectos de bebedeiras e queimas das fitas. De resto, os livros nunca aparecem em cena, e os erros de ortografia abundam. Uma variação muito estimável do estudo, o estudante-trabalhador, está praticamente extinta, visto pais sustentam os filhos até aos 30 anos.»
Dois afonsos bem merecidos para a doutora Clara (eram cinco, mas descontei três pelas suas derivas de santanete, que por vezes a acometem).

Não é certo que esta lucidez da doutora Clara a vá atormentar para sempre. Como ela teve o cuidado de nos informar, «estas considerações vieram-me à cabeça no Brasil» - um país muito dado a revelações. Quando regressar logo se vê.

06/09/2004

ARTIGO DEFUNTO: O manómetro do Expresso. (RECTIFICADO)

Não são os únicos, mas isso não faz deles mais inocentes do que os outros. À pergunta no site do Expresso
«Acha que a vinda do chamado «Barco do Aborto» a Portugal pode ser positiva - por relançar o debate sobre a despenalização da interrupção voluntária da gravidez - ou negativa - por incitar ao incumprimento da actual lei?»
responderam pela «positiva» 134 indígenas e pela «negativa» 80 aborígenes.
A coisa costuma ser publicada todas as semanas no 1º caderno, com grandes ares de seriedade. Mas o que significam as respostas a um inquérito a que responde quem escolhe responder, através dum meio a que tem acesso uma minoria?
Não é preciso ser um expert na teoria das amostragens e na prática das sondagens para perceber. Um argumentum ad absurdum chega para abortar, pela positiva, a tentativa de manipulação deste barómetro, que sendo manipulativo é mais um manómetro. Imagine-se que a pergunta era: «Tem acesso à Internet?». Qual seria a distribuição das respostas?

05/09/2004

SERVIÇO PÚBLICO: Um país de proprietários ou um país de insolventes?

«Mais alguns exemplos: a) 78% da população vive em casa própria e apenas 22% em casa arrendada; b) 15% do parque habitacional está degradado e existem 325 mil habitações em que, pelo menos, falta uma de três infraestruturas básicas: água, luz e casas de banho; c) mais de meio milhão de fogos (544 mil) estão vagos, dos quais 105 mil para venda e 80 mil para arrendar; d) e, não obstante o programa de realojamento iniciado em 1993, ainda há 29 mil famílias ou 82 mil pessoas a residir em barracas ou similares.
Paradoxalmente, Portugal é um país pobre na Europa e cheio de proprietários imobiliários. Não é por serem todos ricos. É por não terem alternativas. Basta ver a evolução do endividamento e perceber que os imóveis não são exactamente das famílias, mas dos bancos que lhes dão crédito.
»
[Sérgio Figueiredo, «Um país de proprietários», Jornal de Negócios online]

03/09/2004

BLOGARIDADES: Um blogue socrático e um remate do maradona à baliza das luminárias.

O Blog Sócrates é um bom exemplo de como o humor pode ser usado para contaminar o adversário com o ridículo. Quase todos os posts têm piada. Alguns são mesmo muito bons. Este é um dos meus favoritos. Infelizmente o blogue está a perder gás. A produção anda fraca.

Já que hoje estou para escrever coisas positivas, aproveito para relevar a recepção pelo maradona (com minúscula) dum passe em profundidade que culmina com um remate de primeira, no seu post «Sim, para quê?», à baliza das luminárias nacionais, profundamente ignorantes de tudo quanto não sejam «humanidades». Ignorância que, dum ponto de vista impertinente, é consequência inevitável dos tiques que afligem as nossas elites intelectuais afrancesadas e merdosas (passe a redundância).

02/09/2004

DIÁRIO DE BORDO: A bordo do Bote do Desmancho.

É impossível não ver a desmesura do foco das televisões e, em menor escala, da imprensa escrita e da rádio, no Bote do Desmancho. Não fora isso, e este não acontecimento, esta pequena manobra de propaganda, teria consequências irrelevantes. A presença constante do bando esquerdista, acompanhada por jornalistas de causas empunhando microfones, gravadores e câmaras, é uma evidência tão forte que dispensaria qualquer outra demonstração da contaminação esquerdista dos média.
Goebbles não faria melhor. E não faria melhor porque a trupe lhe adicionou o mestrado em agitprop.
Não seria precisa, mas o tiro no pé do mago da manipulação doutor Portas, foi uma preciosa e inesperada colaboração.

ESTÓRIA E MORAL: Na teoria. E na prática?

Estória
Os teóricos da descentralização acreditam que o aproveitamento óptimo dos fundos comunitários de coesão seria alcançado com uma maior autonomia das regiões beneficiárias. As regiões que mais se aproximam desse modelo ideal são os Açores e o protectorado sob o domínio do Bokassa do Atlântico.
O doutor Lebre de Freitas, da Universidade de Aveiro, publicou no Semanário Económico de 27-08 (link não disponível), na sua coluna Revisão de Provas, um estudo com o título «Regiões», onde analisa a «contabilidade da coesão» no período 1990-2001 (há uma gralha no quadro que refere o período 1999-2001), concluindo:
«O facto de os Açores e a Madeira terem sido as regiões onde a produtividade do trabalho mais divergiu mostra que não basta ter autonomia para crescer mais depressa. Uma explicação possível para o mau desempenho das regiões autónomas... : o estatuto de ultra-periferia, conferindo aos governos regionais uma grande margem de manobra em matéria de apoio às empresas, pode actuar no sentido perverso. Os políticos serão tentados a dispersar os apoios por toda a economia sem olhar às falhas de mercado, gerando distorções no sistema de incentivos que resultam em baixa produtividade. Tal não significa que no Continente, onde os apoios às empresas estâo muito condicionados pelas regras do Mercado Único, uma maior descentralização tivesse resultado em pior desempenho económico
Moral (Regra teórica)
Na teoria, a diferença entre a teoria e a prática é pequena. Na prática, a diferença entre a prática e a teoria é grande.

01/09/2004

TRIVIALIDADES: A batalha naval da Figueira da Foz.

«Também sou comandante supremo das Forças Armadas», disse o doutor Jorge Sampaio à saída do XII Congresso Internacional de Endocrinologia, visivelmente chateado, numa indirecta ao doutor Paulo Portas, por não o ter deixado comandar a corveta envolvida na batalha naval com o Bote dos Desmanchos - batalha que poderá ser a primeira página de glória da armada lusa no século XXI.

AVALIAÇÃO CONTÍNUA: Pensamentos à flor da pele.

Secção Frases Assassinas
«Com a mente definhada por teorias para as quais não têm capacidade intelectual no sentido da sua relativização, e, estando presentes horizontalmente em quase todos os sectores públicos do Estado, muitos psicólogos imprimem na sociedade uma dicotomia perversa: quem trabalha é um prostituto cujo único direito e dever é pagar impostos; quem nada quer fazer, quem vive de manigâncias, tem direito a respeito, compreensão e subsídios públicos sem qualquer obrigatoriedade e contrapartida.»

Ensaio sobre a Psicologia», artigo de opinião do dermatologista Francisco Manuel Ribeiro de Miranda, no Expresso de 28-08-2004]

Três afonsos para o doutor Ribeiro de Miranda que escreveu sobre a variedade emplastros da espécie psicólogos o que Maomé não teria escrito sobre os chouriços.