26/09/2004

DIÁRIO DE BORDO: Não há votos de borla.

Os 80% do engenheiro Sócrates vão custar-lhe caro. Quem nele votou não foi só a «esquerda moderna» - dando de barato que tal coisa exista no PS, ou exista mesmo em qualquer outro lugar. Quem nele votou foram todas as criaturas que anseiam por um naco de poder, o mais depressa possível. Que mal podem esperar por uma sinecura para si, ou para a cara-metade, ou para os filhos, ou para a parentela, ou para os amigos. Todas essas? Não. Apenas as pragmáticas. Há uns quantos por cento de criaturas que também anseiam por um naco de poder, mas porque deixaram as almas ancoradas no passado, como os índios de que falava a estória do Padre Anchieta, preferiram votar no poeta Alegre ou no filho do doutor Soares.
Essas criaturas - as pragmáticas, quero eu dizer - não se enganam. Cheiram a oportunidade à distância de quase dois anos.

Com 80% dos votos o engenheiro Sócrates vai inevitavelmente deixar muita gente desiludida. Ou quase todos, se, como o engenheiro Guterres, tentar a bissectriz impossível.
Poderia ter sido pior se tivesse a unanimidade que elege os fracos - os que não têm adversários. A unanimidade que perdeu o engenheiro Guterres e perdeu o doutor Ferro. Tem que agradecer ao poeta Alegre e ao doutor Soares, filho.

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