É claro que há diferenças entre o Expresso e o Correio da Manhã, além de o primeiro ser semanário e o segundo diário. Contudo, as diferenças nem sempre são para melhor.
O número deste fim-de-semana é exemplar e faz lembrar dois outros números de Fevereiro de 2011 cujas primeiras páginas estão aqui reproduzidas. Há uma profusão de artigos, uns abertamente de opinião e outros a fingir de jornalismo, glorificando a vitória da gerigonça sobre Bruxelas no campo das sanções. São tão medíocres que perdem parte do seu efeito manipulatório e acabam por ser eficazes apenas para os crentes que não precisariam deles.
Há algumas excepções, incluindo o artigo de opinião de Manuela Ferreira Leite que, por uma vez, conseguiu escapar ao ressabiamento que a direcção do PSD lhe inspira, e desmascarou a peça de «Teatro ao vivo» que a gerigonça encenou sobre as sanções. Outras excepções são mais habituais: a de João Vieira Pereira que desmonta a encenação da execução orçamental, a de Luís Marques que ironiza sobre a farsa das sanções, a de Henrique Monteiro que as trata como drama e a de João Duque que traduz a novilíngua económica da geringonça em português corrente.
Contudo, a mais significativa excepção ao coro embevecido com as manobras da gerigonça é um conjunto de diagramas com dados factuais que mostram estarmos a re-percorrer (afinal «re» é o prefixo da geringonça) o ano de 2010 em direcção a Abril de 2011. O título desses diagramas não podia ser mais significativo: «De regresso ao passado».
31/07/2016
O inimigo do seu inimigo não é necessariamente seu amigo (a menos que você seja maoísta)
É por isso que o facto de Trump na presidência ser uma irremediável desgraça para os EU e o mundo, isso não faz necessariamente de Hillary Clinton uma boa candidata nem uma hipotética boa presidente.
30/07/2016
ESTÓRIA E MORAL: O imperador e o czar
Estória
Rússia, cabeça do império soviético desmantelado há quase três décadas. China, um aliado da URSS no curto período entre a tomada do poder pelo Partido Comunista Chinês em 1949 e meados da década seguinte durante a qual a rivalidade se acentuou. No princípio dos anos 60 deu-se a ruptura completa com base em diferenças ideológicas que se repercutiram no movimento comunista internacional - maoístas por um lado, os verdadeiros revolucionários, e revisionistas, por outro. Pelo meio, a China perdeu a Mongólia anexada por Estaline e fez várias outras concessões aos soviéticos. Afastados e rivais durante 60 anos, reaproximaram-se nos últimos anos por iniciativa do czar Putin. Está em construção um novo eixo de potências mundiais com regimes autocráticos.
Como parte dessa aproximação, a China anunciou que vai realizar pela primeira vez exercícios militares "de rotina" com a Rússia no Mar do Sul da China em Setembro. Esses exercícios, disse um porta-voz, visam reforçar "parceria cooperativa estratégica China-Rússia". Os outros países da região rejeitam as reclamações territoriais expansionistas da China na zona.
Moral(is)
Old Habits Never Die
Les bons esprits se rencontrent
Rússia, cabeça do império soviético desmantelado há quase três décadas. China, um aliado da URSS no curto período entre a tomada do poder pelo Partido Comunista Chinês em 1949 e meados da década seguinte durante a qual a rivalidade se acentuou. No princípio dos anos 60 deu-se a ruptura completa com base em diferenças ideológicas que se repercutiram no movimento comunista internacional - maoístas por um lado, os verdadeiros revolucionários, e revisionistas, por outro. Pelo meio, a China perdeu a Mongólia anexada por Estaline e fez várias outras concessões aos soviéticos. Afastados e rivais durante 60 anos, reaproximaram-se nos últimos anos por iniciativa do czar Putin. Está em construção um novo eixo de potências mundiais com regimes autocráticos.
Como parte dessa aproximação, a China anunciou que vai realizar pela primeira vez exercícios militares "de rotina" com a Rússia no Mar do Sul da China em Setembro. Esses exercícios, disse um porta-voz, visam reforçar "parceria cooperativa estratégica China-Rússia". Os outros países da região rejeitam as reclamações territoriais expansionistas da China na zona.
Moral(is)
Old Habits Never Die
Les bons esprits se rencontrent
DIÁRIO DE BORDO: A terra vista do céu (38)
Erupção do vulcão do monte Sakurajima na 5.ª feira passada (Fonte: Wired) |
29/07/2016
ARTIGO DEFUNTO: A lista de Salgado (2)
A propósito do post anterior, recordo que há mais de três meses o Expresso e a TVI divulgaram as primeiras informações sobre os Papéis do Panamá e durante algum tempo foi um regabofe de indignações sobre os off-shores. Na mesma ocasião foi referida a existência de uma lista de avenças e compensações pagas pelo GES a mais de uma centena de pessoas, incluindo políticos, gestores e jornalistas.
Muita gente, incluindo eu próprio, entendeu que essa lista fazia parte dos Papéis do Panamá. Mais tarde o Expresso publicou uma Nota Editorial onde esclareceu que «a lista de alegados pagamentos não está nos Panama Papers. Está no Ministério Público». Seja.
Seja nos Papéis do Panamá ou nos papéis do Ministério Público, aos quais a maioria dos jornais, Expresso incluído, não costuma ter dificuldades de acesso, não seria possível os senhores jornalistas darem-nos a conhecer quais de entre eles estavam avençados pelo DDT?
CASE STUDY: Um exemplo histórico de jornalismo bajulador
Muitos anos atrás, li uma história que é um paradigma de bajulação medrosa e merdosa dos poderes fácticos que infectava os mídia da época, como infecta os de hoje e de sempre. Voltei a encontrá-la recentemente, Ei-la:
«Napoleão Bonaparte esteve recluso na ilha de Elba desde que abdicou em Fontainebleau em abril de 1814 até que na primavera de 1815 se juntou ao seu exército e decidiu voltar a Paris.
Os títulos do diário parisiense ‘Moniteur Universel’ durante todo aquele mês de março são assombrosos, pois oferecem um testemunho sem igual do avanço do ex-imperador:
9 de março: ‘O monstro escapou ao seu desterro.’
10 de março: ‘O ogre corso desembarcou no cabo Jean.’
11 de março: ‘O tigre sangrento apareceu na zona de Gap. Para aí se dirigem os exércitos para deter o seu avanço.’
12 de março: ‘O monstro chegou à cidade de Grenoble.’
13 de março: ‘O tirano está agora entre as cidades de Grenoble e Lyon.’
18 de março: ‘O usurpador ousou chegar até a um lugar a 60 horas de marcha da capital.’
19 de março: “Bonaparte aproxima-se em passo veloz, mas é impossível que entre em Paris.’
20 de março: “Napoleão chegará amanhã às muralhas de Paris.’
21 de março: “O Imperador Napoleão está em Fontainebleau.’
22 de março: “Ontem pela tarde, sua Majestade o Imperador fez a sua entrada pública no seu palácio. Nada pode superar este regozijo universal.’»
Joseba Sarrionandia, escritor basco, no seu diário de prisão "Não sou daqui” (apud Nuno Ramos de Almeida, neste seu artigo no ionline sobre a independência do jornalismo a propósito dos Panama Papers)
«Napoleão Bonaparte esteve recluso na ilha de Elba desde que abdicou em Fontainebleau em abril de 1814 até que na primavera de 1815 se juntou ao seu exército e decidiu voltar a Paris.
Os títulos do diário parisiense ‘Moniteur Universel’ durante todo aquele mês de março são assombrosos, pois oferecem um testemunho sem igual do avanço do ex-imperador:
9 de março: ‘O monstro escapou ao seu desterro.’
10 de março: ‘O ogre corso desembarcou no cabo Jean.’
11 de março: ‘O tigre sangrento apareceu na zona de Gap. Para aí se dirigem os exércitos para deter o seu avanço.’
12 de março: ‘O monstro chegou à cidade de Grenoble.’
13 de março: ‘O tirano está agora entre as cidades de Grenoble e Lyon.’
18 de março: ‘O usurpador ousou chegar até a um lugar a 60 horas de marcha da capital.’
19 de março: “Bonaparte aproxima-se em passo veloz, mas é impossível que entre em Paris.’
20 de março: “Napoleão chegará amanhã às muralhas de Paris.’
21 de março: “O Imperador Napoleão está em Fontainebleau.’
22 de março: “Ontem pela tarde, sua Majestade o Imperador fez a sua entrada pública no seu palácio. Nada pode superar este regozijo universal.’»
Joseba Sarrionandia, escritor basco, no seu diário de prisão "Não sou daqui” (apud Nuno Ramos de Almeida, neste seu artigo no ionline sobre a independência do jornalismo a propósito dos Panama Papers)
28/07/2016
Manifestações de paranóia/esquizofrenia (18) – Uma Hillary de calças é um Sócrates de saias?
«Sócrates compara-se a Hillary»
Questão para os especialistas, como classificar os delírios do animal feroz?
- «Esquizofrénico é alguém que perde a capacidade de pensar de uma forma lógica e, consequentemente, de comunicar e de se relacionar, passando a viver num mundo paralelo e sem as normas pelas quais se regem as pessoas ditas normais»
- Paranóia: «ocorrência de pensamentos delirantes, geralmente persecutórios, que levam o paciente a adoptar uma atitude de permanente desconfiança em relação aos que o rodeiam.»
A mentira como política oficial (18) - A mentira é como o sal, convém não abusar
«Comissão elogia promessa de mais austeridade que Governo garante que não fez»
«Comissão diz que executivo português reforçou esforço de consolidação para 2017 prometido em Abril no Programa de Estabilidade. Governo diz que está tudo igual.»
Exemplos do costume (43) – As indignações selectivas (II)
Continuação de (I)
Voltando à nomeação de Durão Barroso para o Goldman Sachs, a propósito deste artigo no Observador de João Marques de Almeida que foi seu assessor na CE, artigo a ler em contraponto aos disparates escritos por uma parte (significativa) da comentadoria nacional, inspirados por ódios de estimação ou por agendas partidárias.
Uma das acusações mais graves feitas a Barroso é a de ter participado com Bush, Blair e Aznar na cimeira dos Açores de promoção da invasão do Iraque e de subsequentemente a ter apoiado com base em informações fabricadas (soube-se depois) pelo governo americano.
É verdade? É. Tinha Barroso consciência de que não estava provada a existência de armas de destruição maciça – o pretexto para a invasão? Não faço ideia, mas duvido que tivesse informação privilegiada a esse respeito e nessa altura. Talvez mais tarde.
Temos por isso de o ostracizar por isso? Só se ostracizarmos também vários outros, por exemplo Pacheco Pereira que defendeu a invasão e durante vários anos a justificou independentemente da existência ou não de armas de destruição maciça (ver os posts do Abrupto sobre o Iraque, muito especialmente este de 2008 - artigo do Público - onde verbera e bem «esse delito de opinião é ter estado a favor da invasão do Iraque»).
Alguém que ostraciza Barroso pelo Iraque ostraciza Pacheco Pereira? Claro que não - é a doutrina Somoza.
Voltando à nomeação de Durão Barroso para o Goldman Sachs, a propósito deste artigo no Observador de João Marques de Almeida que foi seu assessor na CE, artigo a ler em contraponto aos disparates escritos por uma parte (significativa) da comentadoria nacional, inspirados por ódios de estimação ou por agendas partidárias.
Uma das acusações mais graves feitas a Barroso é a de ter participado com Bush, Blair e Aznar na cimeira dos Açores de promoção da invasão do Iraque e de subsequentemente a ter apoiado com base em informações fabricadas (soube-se depois) pelo governo americano.
É verdade? É. Tinha Barroso consciência de que não estava provada a existência de armas de destruição maciça – o pretexto para a invasão? Não faço ideia, mas duvido que tivesse informação privilegiada a esse respeito e nessa altura. Talvez mais tarde.
Temos por isso de o ostracizar por isso? Só se ostracizarmos também vários outros, por exemplo Pacheco Pereira que defendeu a invasão e durante vários anos a justificou independentemente da existência ou não de armas de destruição maciça (ver os posts do Abrupto sobre o Iraque, muito especialmente este de 2008 - artigo do Público - onde verbera e bem «esse delito de opinião é ter estado a favor da invasão do Iraque»).
Alguém que ostraciza Barroso pelo Iraque ostraciza Pacheco Pereira? Claro que não - é a doutrina Somoza.
27/07/2016
A mentira como política oficial (17) - A farsa das sanções e a lição de manipulação de Costa
Recordando o que escrevi na Crónica da anunciada avaria irreparável da geringonça (35):
Laureado com esta «vitória» sobre as forças austeritárias, revigorado perante comunistas e berloquistas, Costa ganhou mais um tempo antes de ser derrotado pela realidade que não se impressiona com folhetins. Merece as duas coisas. Quem não merece é o país, ou pelo menos os 44,2% dos eleitores que não têm intenção de votar num dos partidos da geringonça.
E o que dizer da farsa da cruzada anti-sanções por défices excessivos? Presidente Marcelo em Berlim, governo a convocar 27 embaixadores, chuva de resoluções no Parlamento, dramatização da coisa, jornalistas de causas a encheram páginas (leia-se o Expresso do fim de sábado a este respeito uma espécie de folha oficial)... quando todos já perceberam que Bruxelas não vai fazer agora o que nunca fez e no final o governo aparecerá a capitalizar como «bater o pé» a pusilanimidade de Bruxelas. É uma lição de marketing político, a única área de competência de Costa e do governo onde, reconheça-se, Passos Coelho e o seu governo falharam em toda a linha.Depois de meses do folhetim das sanções, ainda ontem Costa dizia que a situação «aparentemente não está muito simpática», dramatizando para criar um clima de suspense com a cooperação esforçada de toda a maquinaria de manipulação instalada nos mídia. Hoje, claro, soube-se o que desde sempre se soubera: não há multa.
Laureado com esta «vitória» sobre as forças austeritárias, revigorado perante comunistas e berloquistas, Costa ganhou mais um tempo antes de ser derrotado pela realidade que não se impressiona com folhetins. Merece as duas coisas. Quem não merece é o país, ou pelo menos os 44,2% dos eleitores que não têm intenção de votar num dos partidos da geringonça.
Encalhados numa ruga do contínuo espaço-tempo (66) – Saudades do regime corporativo
Médicos do Norte contra 1.441 vagas para os cursos de Medicina
SERVIÇO PÚBLICO: Agora é oficial – não acreditem no défice
Poderia invocar mais de uma década a prever as derrapagens de vários governos e escrever com alguma autoridade «não acreditem no défice». Não poderia, no entanto, qualificar essa constatação como «oficial».
Quem melhor do que um pastorinho da economia dos amanhãs que cantam para oficializar tal previsão? Ninguém. É por isso que vou citar Nicolau Santos que no seu blogue no Expresso, blogue com um nome que é todo um programa («Keynesiano, graças a Deus») escreveu uma peça exemplarmente titulada «Outra vez a economia vudu?». Aqui vai.
«A execução orçamental no primeiro semestre do ano (redução de quase mil milhões do défice em relação ao mesmo período do ano anterior) parece estar a correr bem. E escrevo parece por duas razões: a primeira é que até agora só temos a execução em contabilidade pública e o que conta e expressa toda a verdade é a contabilidade nacional; e depois porque o andamento da despesa, abaixo do esperado, pode resultar do adiamento do pagamento a fornecedores ou a não contabilização de despesas já comprometidas e que serão realizadas ainda este ano. É cedo, pois, para o Governo cantar vitória.
Quem melhor do que um pastorinho da economia dos amanhãs que cantam para oficializar tal previsão? Ninguém. É por isso que vou citar Nicolau Santos que no seu blogue no Expresso, blogue com um nome que é todo um programa («Keynesiano, graças a Deus») escreveu uma peça exemplarmente titulada «Outra vez a economia vudu?». Aqui vai.
«A execução orçamental no primeiro semestre do ano (redução de quase mil milhões do défice em relação ao mesmo período do ano anterior) parece estar a correr bem. E escrevo parece por duas razões: a primeira é que até agora só temos a execução em contabilidade pública e o que conta e expressa toda a verdade é a contabilidade nacional; e depois porque o andamento da despesa, abaixo do esperado, pode resultar do adiamento do pagamento a fornecedores ou a não contabilização de despesas já comprometidas e que serão realizadas ainda este ano. É cedo, pois, para o Governo cantar vitória.
26/07/2016
Dúvidas (169) - O que vos faz lembrar este título do Expresso?
Um título do semanário de referência |
A mim fez-me lembrar este outro do mesmo jornal de Fevereiro de 2011, dois meses antes da declaração de bancarrota de José Sócrates:
Oportunamente recordado por JMF no Observador |
E sendo as recordações como as cerejas, de seguida lembrei-me deste outro do Público de Setembro de 2013, nove meses antes da «saída limpa» do governo PSD-CDS:
E como quando se começa é difícil parar, lembrei-me deste cartune:
NÓS VISTOS POR ELES: Um dos poucos portugueses capaz de separar factos e ficção é porta-voz da polícia de Munique
Marcus da Glória Martins, a separar factos e ficção |
AVALIAÇÃO CONTÍNUA: Hemp Lastru é tudo menos um emplastro
Secção Assault of thoughts
Os leitores mais atentos do (Im)pertinências sabem o que penso da comentadoria nacional. Para os menos atentos, esclareço que penso geralmente mal e classifico a maioria deles em três categorias: (1) trolls que, num país civilizado não encontrariam nenhum jornal que os publicasse, e se, encontrassem um pasquim disposto a publicar os seus vómitos, ninguém os leria; (2) emplastros que, num país civilizado, se encontrassem jornais que os publicassem, ninguém os leria e (3) opinion dealers a quem nesse país imaginário apenas seriam lidos pelos leitores a tal obrigados pelo respectivo grupo de interesses. A minoria, claro, é constituída pelos que vale a pena ler, mesmo quando não se está de acordo com eles – sobretudo quando se está em desacordo com eles.
Entre esta minoria, incluo obviamente todos os aqui que são regularmente citados e acrescento Hemp Lastru, um alegado checo sobrinho-neto de Kaflka que veio para Portugal para «viver num país onde os processos são como descrevia o meu tio-avô nos livros», cujos saborosos escritos no Económico tenho frequentado ultimamente. Por exemplo o mais recente sobre o «Boris londrino» ou qualquer outro das dezenas que publicou.
Acho justo, por isso, atribuir cinco afonsos a Hemp Lastru pelo seu humor deliciosamente corrosivo.
Os leitores mais atentos do (Im)pertinências sabem o que penso da comentadoria nacional. Para os menos atentos, esclareço que penso geralmente mal e classifico a maioria deles em três categorias: (1) trolls que, num país civilizado não encontrariam nenhum jornal que os publicasse, e se, encontrassem um pasquim disposto a publicar os seus vómitos, ninguém os leria; (2) emplastros que, num país civilizado, se encontrassem jornais que os publicassem, ninguém os leria e (3) opinion dealers a quem nesse país imaginário apenas seriam lidos pelos leitores a tal obrigados pelo respectivo grupo de interesses. A minoria, claro, é constituída pelos que vale a pena ler, mesmo quando não se está de acordo com eles – sobretudo quando se está em desacordo com eles.
Entre esta minoria, incluo obviamente todos os aqui que são regularmente citados e acrescento Hemp Lastru, um alegado checo sobrinho-neto de Kaflka que veio para Portugal para «viver num país onde os processos são como descrevia o meu tio-avô nos livros», cujos saborosos escritos no Económico tenho frequentado ultimamente. Por exemplo o mais recente sobre o «Boris londrino» ou qualquer outro das dezenas que publicou.
Acho justo, por isso, atribuir cinco afonsos a Hemp Lastru pelo seu humor deliciosamente corrosivo.
25/07/2016
Crónica da anunciada avaria irreparável da geringonça (41)
Outras avarias da geringonça.
A semana que passou foi tão fértil em produções fictícias da geringonça que é difícil destacar uma. Escolho o orçamento participativo inventado pela máquina de propaganda de Costa que permitirá aos cidadãos decidir onde gastar 3 milhões de euros ou o equivalente a 0,004% da despesa total - leu bem: quatro euros em cada cem mil euros euros de despesa.
Mas também poderia escolher o folhetim Caixa. Ficou a saber-se que a administração demissionária apresentou ao ministro das Finanças em Dezembro um plano de recapitalização sem dinheiro público. A menos que a administração da Caixa já nessa altura tivesse atacada de paranóia, e nesse caso deveria ter sido imediatamente demitida, é difícil de entender o silêncio de Centeno. Pior não parece possível, mas talvez seja porque o BCE considerou o novo plano de António Domingues «não credível».
A semana que passou foi tão fértil em produções fictícias da geringonça que é difícil destacar uma. Escolho o orçamento participativo inventado pela máquina de propaganda de Costa que permitirá aos cidadãos decidir onde gastar 3 milhões de euros ou o equivalente a 0,004% da despesa total - leu bem: quatro euros em cada cem mil euros euros de despesa.
Mas também poderia escolher o folhetim Caixa. Ficou a saber-se que a administração demissionária apresentou ao ministro das Finanças em Dezembro um plano de recapitalização sem dinheiro público. A menos que a administração da Caixa já nessa altura tivesse atacada de paranóia, e nesse caso deveria ter sido imediatamente demitida, é difícil de entender o silêncio de Centeno. Pior não parece possível, mas talvez seja porque o BCE considerou o novo plano de António Domingues «não credível».
CASE STUDY: Câmara de Lisboa – a obra feita pelo sucessor de Costa
A semana passada, Rui Paulo Figueiredo, um deputado pelo PS, escreveu no Negócios um artigo vibrantemente apologético sobre a gestão da câmara de Lisboa, concluindo que «Lisboa respira saúde financeira. A Câmara Municipal paga praticamente a pronto aos seus fornecedores, faz obra, dinamiza a economia e tem respostas sociais. (…) É o que tem sido feito por Fernando Medina.»
Analisemos então o milagre comparando-o com a câmara do Porto e começando por recordar que em 2012 o governo pagou 286 milhões pela compra há mais de 70 anos dos terrenos do aeroporto, 20 anos antes de Costa ter nascido, e pela «compra» dos terrenos da Expo, uns 20 anos antes de Costa ter aterrado na câmara.
Vejam-se os meios financeiros de que Lisboa dispõe comparada com o Porto (mais do dobro da receita de impostos municipais por habitante), o que, apesar da referida dádiva do governo, não impede um endividamento por habitante 7 vezes superior. Compare-se a eficiência medida pelo número de trabalhadores por mil habitantes e sobretudo pelas despesas com pessoal por habitante que em Lisboa são 60% superiores às do Porto.
O que estes indicadores mostram não é a excelência da gestão da câmara de Lisboa, é o paradigma da gestão socialista. E o que mostra o artigo do deputado é uma peça de agitprop para sujeitos passivos e mal informados.
NOTA: Os valores totais das receitas municipais indicados no quadro tinham um erro já corrigido. Esse erro não afecta as conclusões que, evidentemente, se basearam nos valores por habitante que estavam correctos.
Analisemos então o milagre comparando-o com a câmara do Porto e começando por recordar que em 2012 o governo pagou 286 milhões pela compra há mais de 70 anos dos terrenos do aeroporto, 20 anos antes de Costa ter nascido, e pela «compra» dos terrenos da Expo, uns 20 anos antes de Costa ter aterrado na câmara.
Vejam-se os meios financeiros de que Lisboa dispõe comparada com o Porto (mais do dobro da receita de impostos municipais por habitante), o que, apesar da referida dádiva do governo, não impede um endividamento por habitante 7 vezes superior. Compare-se a eficiência medida pelo número de trabalhadores por mil habitantes e sobretudo pelas despesas com pessoal por habitante que em Lisboa são 60% superiores às do Porto.
O que estes indicadores mostram não é a excelência da gestão da câmara de Lisboa, é o paradigma da gestão socialista. E o que mostra o artigo do deputado é uma peça de agitprop para sujeitos passivos e mal informados.
NOTA: Os valores totais das receitas municipais indicados no quadro tinham um erro já corrigido. Esse erro não afecta as conclusões que, evidentemente, se basearam nos valores por habitante que estavam correctos.
24/07/2016
QUEM SÓ TEM UM MARTELO VÊ TODOS OS PROBLEMAS COMO PREGOS: O alívio quantitativo aliviará? (43) - Unintended consequences (XIII)
Outras marteladas.
Após anos de injecção de liquidez na economia pelos bancos centrais e de juros próximos de zero ou mesmo negativos, os resultados não confirmam a bondade destas políticas. Se nos EU a economia retomou o crescimento e o desemprego baixou, na Zona Euro e no Japão tudo ficou mais ou menos na mesma. Se os desconfiómetros das luminárias não estivessem desligados, seria caso para duvidar se o one size fits all não seria um equívoco e poderia suspeitar-se que, se o alívio quantitativo parece ter funcionado apenas nos EU, talvez isso afinal de contas não se deva ao alívio quantitativo. Entre outras razões porque nos sistemas financeiros modernos os bancos centrais estão longe de serem os únicos ou mesmo os principais «fornecedores de liquidez» (ver aqui porquê).
Por outro lado, há os efeitos indesejados dessas políticas dos bancos centrais que se nos EU poderão ser sido o custo razoável dos efeitos positivos na economia, no caso da Zona Euro são visíveis até agora sobretudo os efeitos negativos, nomeadamente a lenta asfixia dos bancos e das seguradoras (ver aqui porquê), o desincentivo à poupança e a crescente insuficiência dos fundos de pensões para cobrir as responsabilidades.
Após anos de injecção de liquidez na economia pelos bancos centrais e de juros próximos de zero ou mesmo negativos, os resultados não confirmam a bondade destas políticas. Se nos EU a economia retomou o crescimento e o desemprego baixou, na Zona Euro e no Japão tudo ficou mais ou menos na mesma. Se os desconfiómetros das luminárias não estivessem desligados, seria caso para duvidar se o one size fits all não seria um equívoco e poderia suspeitar-se que, se o alívio quantitativo parece ter funcionado apenas nos EU, talvez isso afinal de contas não se deva ao alívio quantitativo. Entre outras razões porque nos sistemas financeiros modernos os bancos centrais estão longe de serem os únicos ou mesmo os principais «fornecedores de liquidez» (ver aqui porquê).
Por outro lado, há os efeitos indesejados dessas políticas dos bancos centrais que se nos EU poderão ser sido o custo razoável dos efeitos positivos na economia, no caso da Zona Euro são visíveis até agora sobretudo os efeitos negativos, nomeadamente a lenta asfixia dos bancos e das seguradoras (ver aqui porquê), o desincentivo à poupança e a crescente insuficiência dos fundos de pensões para cobrir as responsabilidades.
Lost in translation (274) – Em socialês convergência e coesão significam o princípio do utilizador-não pagador
O ministro do Planeamento e das Infraestruturas da geringonça anunciou a redução de 15% nas portagens de algumas auto-estradas escolhidas por «critérios de convergência económica e coesão territorial». Passando por cima de saber como se converge ou se aumenta a coesão ou, para usar as palavras do ministro, como com um desconto de 15% nas portagens se consegue «apoiar o desenvolvimento do Interior, a fixação de emprego, a fixação de empresas e (…) a mobilidade das populações», resta traduzir coisa em português corrente.
Em português corrente, isso significa que o governo decidiu que 15% dos custos de utilização dessas auto-estradas irão ser pagos por quem nelas não circula.
Seguindo o mesmo princípio do utilizador-não pagador, a oposição não se ficou atrás e o PSD, classificando como «simbólica» a redução de 15%, propôs suprimir as portagens da via do Infante durante as obras na EN 125. É mais um exemplo da doutrina MAD (Mutual Assured Distraction.
Em português corrente, isso significa que o governo decidiu que 15% dos custos de utilização dessas auto-estradas irão ser pagos por quem nelas não circula.
Seguindo o mesmo princípio do utilizador-não pagador, a oposição não se ficou atrás e o PSD, classificando como «simbólica» a redução de 15%, propôs suprimir as portagens da via do Infante durante as obras na EN 125. É mais um exemplo da doutrina MAD (Mutual Assured Distraction.
23/07/2016
CASE STUDY: O Brexit e a singularidade britânica
Já me tinha passado pelo radar há algum tempo o vídeo da conferência de há um ano de Roger Scruton no Nexus Instituut sobre o Brexit, mas só há poucos dias tive oportunidade de o ver com alguma atenção. É de visionamento recomendável para quem queira ter uma visão não estereotipada das razões do Brexit e da singularidade britânica, por um intelectual conservador, ele próprio singular.
22/07/2016
CAMINHO PARA A SERVIDÃO: O Nanny State nunca dorme
- RESOLUÇÃO DA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA N.º 134/2016 - DIÁRIO DA REPÚBLICA N.º 137/2016, SÉRIE I DE 2016-07-19
Ato da Série IAssembleia da RepúblicaRecomenda ao Governo a tomada de medidas de apoio a cuidadores informais, bem como a criação do estatuto do cuidador informal - RESOLUÇÃO DA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA N.º 136/2016 - DIÁRIO DA REPÚBLICA N.º 137/2016, SÉRIE I DE 2016-07-19
Ato da Série IAssembleia da RepúblicaRecomenda ao Governo a criação do estatuto do cuidador informal - RESOLUÇÃO DA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA N.º 129/2016 - DIÁRIO DA REPÚBLICA N.º 136/2016, SÉRIE I DE 2016-07-18
Ato da Série IAssembleia da RepúblicaRecomenda ao Governo a criação do estatuto do cuidador informal - RESOLUÇÃO DA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA N.º 135/2016 - DIÁRIO DA REPÚBLICA N.º 137/2016, SÉRIE I DE 2016-07-19
Ato da Série IAssembleia da RepúblicaRecomenda ao Governo o reforço dos apoios aos cuidadores informais
A aprovação de resoluções deste calibre é um sério indício de que a maioria dos deputados sofre de uma Perturbação Obsessivo-compulsiva. Como recomendam os especialistas, «o primeiro passo é a compreensão da doença e dos mecanismos cognitivos e comportamentais intrínsecos. Posteriormente, é necessário o uso de medicação, nomeadamente, inibidores selectivos da recaptação da serotonina.»
DIÁRIO DE BORDO: Plutão - um regresso triunfal
Recordando, Plutão era o planeta preferido do (Im)pertinências há mais de 10 anos e até inspirou a área temática DIÁLOGOS DE PLUTÃO. Escrevo «era» não porque Plutão não continue a ter a minha preferência mas por ter sido despromovido por motivos definitivamente pueris. Um tal Dr. Brown descobriu em 2005 um objecto espacial na cintura de Kuiper do tamanho de Plutão, o que levou no ano a seguinte a União Astronómica Internacional a considerar que, por isso, Plutão não merecia o estatuto de planeta.
Plutão está de volta à ribalta trazido por Alan Stern, o inspirador da «New Horizons», uma sonda lançada em 2006 e que, após quase 10 anos de viagem, começou a enviar um torrente de dados mostrando que o planeta depreciativamente despromovido a «objecto espacial» é afinal um dos lugares mais interessantes do sistema solar.
Ver aqui o vídeo |
Dúvidas (168) – Irá o Brexit consumar-se? (III)
Como que uma continuação daqui e dali.
Não é uma dúvida retórica. As consequências que os adeptos britânicos da saída minimizaram ou omitiram estão a emergir. Se o valor das empresas que resulta das suas cotações em bolsa tem algum significado (e tem muito, porque representa o valor que os mercados atribuem às empresas e os mercados põem o dinheiro onde põem a boca), a evolução posterior ao referendo das capitalizações bolsistas das 250 maiores empresas dos 10 países mais representativos nas relações com a Grã-Bretanha deve reflectir o impacto do Brexit.
E essa evolução representada no diagrama mostra bem o impacto negativo antecipado pelos accionistas no valor dessas 250 empresas, que constituem o núcleo das economias desses países, em todos os sectores e, muito particularmente, como seria de esperar, no sector financeiro. Curiosamente, não é a Grã-Bretanha a economia mais afectada. A Itália, França, Alemanha, Espanha e Holanda sofrem um impacto mais pronunciado.
Não é uma dúvida retórica. As consequências que os adeptos britânicos da saída minimizaram ou omitiram estão a emergir. Se o valor das empresas que resulta das suas cotações em bolsa tem algum significado (e tem muito, porque representa o valor que os mercados atribuem às empresas e os mercados põem o dinheiro onde põem a boca), a evolução posterior ao referendo das capitalizações bolsistas das 250 maiores empresas dos 10 países mais representativos nas relações com a Grã-Bretanha deve reflectir o impacto do Brexit.
Economist |
21/07/2016
LA DONNA E UN ANIMALE STRAVAGANTE: Para tirar os trapinhos qualquer causa é boa, mas esta não lembraria ao diabo (20)
Outros trapinhos tirados.
Quando se pensaria terem-se esgotado as causas para tirar os trapinhos, surge uma que não lembraria ao diabo. Ao diabo? Sim, porque estamos a falar de Donald Trump, o candidato do partido Republicano agora entronizado, muito à custa das alergias suscitadas pelo politicamente correcto (PC) nas camadas menos ilustradas.
Embora fosse supérfluo, porque o Donaldo já tinha garantida a nomeação pela convenção de Cleveland, 100 meninas do PC resolveram tirar os trapinhos mais uma vez e deixaram-se fotografar na véspera da convenção pelo fotógrafo de causas Spencer Tunick «reflecting their anger through art against the hateful repressive rhetoric of many in the Republican Party towards women and minorities.».
Quando se pensaria terem-se esgotado as causas para tirar os trapinhos, surge uma que não lembraria ao diabo. Ao diabo? Sim, porque estamos a falar de Donald Trump, o candidato do partido Republicano agora entronizado, muito à custa das alergias suscitadas pelo politicamente correcto (PC) nas camadas menos ilustradas.
«An art installation by Spencer Tunick during the Republican National Convention in Cleveland, Ohio» |
ESTADO DE SÍTIO: Ponto de situação do golpe em curso na Turquia
Primeiro, Erdogan agradeceu a Alá a bênção da tentativa falhada de golpe pelos militares turcos (há quem diga que não foi falhada, até teve grande sucesso...). No dia seguinte não deixou as coisas na mão do Altíssimo e pôs em andamento um processo de purga que até este momento abrange:
É obra e mostra uma notável eficácia para encontrar os «culpados». Fizeram bem o trabalho de casa.
- 6 mil militares
- 9 mil polícias
- 3 mil juízes
- 1.500 reitores de universidade públicas e privadas
É obra e mostra uma notável eficácia para encontrar os «culpados». Fizeram bem o trabalho de casa.
20/07/2016
CASE STUDY: Um imenso Portugal (32)
[Outros imensos Portugais]
Como Lula e Dilma minaram as jóias da Coroa
«No comando da administração federal desde 2003, o PT deixou vários legados danosos às estatais. Dos escândalos bilionários de corrupção ao aparelhamento político, quase nada escapou das garras do fisiologismo. Fruto da barganha política, a máquina pública inchou e ficou ainda mais ineficiente, inclusive nas companhias com capital aberto. Apesar de a quantidade de estatais praticamente não ter aumentado – passou de 131 ao término do governo FHC para 135 no fim de 2014, último dado disponível –, o número de funcionários cresceu 49%.
Significa que, durante os oito anos de mandato do presidente Luiz Inacio Lula da Silva e os cinco anos da gestão Dilma Rousseff, as empresas públicas incorporaram 182 mil pessoas aos seus quadros. No total, há quase 553 mil trabalhadores, segundo dados levantados pela DINHEIRO no site do Departamento de Coordenação e Governança das Empresas Estatais (Dest), órgão ligado ao Ministério do Planejamento. “Esse inchaço nas estatais não tem nenhuma lógica econômica”, afirma Gilberto Guimarães, especialista em liderança e gestão de pessoas e professor do Grupo Laureate. “A máquina pública vai na contramão dos ganhos de produtividade.
Se a quantidade excessiva de funcionários é um peso para o caixa das estatais, a presença de apadrinhados políticos no topo hierárquico dessas companhias torna-se um problema ainda maior para a sua sustentabilidade. Na linguagem dos funcionários concursados, os diretores, vice-presidentes e CEOs que assumem o cargo sem um currículo compatível são chamados de “paraquedistas”. “É o aparelhamento pelo qual uma pessoa é indicada por algum político sem entender nada do assunto”, diz Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset Management, que trabalhou vários anos nos Estados Unidos.»
Continue a ler na Dinheiro da revista «Isto é» o artigo de Luís Artur Nogueira
Como Lula e Dilma minaram as jóias da Coroa
«No comando da administração federal desde 2003, o PT deixou vários legados danosos às estatais. Dos escândalos bilionários de corrupção ao aparelhamento político, quase nada escapou das garras do fisiologismo. Fruto da barganha política, a máquina pública inchou e ficou ainda mais ineficiente, inclusive nas companhias com capital aberto. Apesar de a quantidade de estatais praticamente não ter aumentado – passou de 131 ao término do governo FHC para 135 no fim de 2014, último dado disponível –, o número de funcionários cresceu 49%.
Significa que, durante os oito anos de mandato do presidente Luiz Inacio Lula da Silva e os cinco anos da gestão Dilma Rousseff, as empresas públicas incorporaram 182 mil pessoas aos seus quadros. No total, há quase 553 mil trabalhadores, segundo dados levantados pela DINHEIRO no site do Departamento de Coordenação e Governança das Empresas Estatais (Dest), órgão ligado ao Ministério do Planejamento. “Esse inchaço nas estatais não tem nenhuma lógica econômica”, afirma Gilberto Guimarães, especialista em liderança e gestão de pessoas e professor do Grupo Laureate. “A máquina pública vai na contramão dos ganhos de produtividade.
Se a quantidade excessiva de funcionários é um peso para o caixa das estatais, a presença de apadrinhados políticos no topo hierárquico dessas companhias torna-se um problema ainda maior para a sua sustentabilidade. Na linguagem dos funcionários concursados, os diretores, vice-presidentes e CEOs que assumem o cargo sem um currículo compatível são chamados de “paraquedistas”. “É o aparelhamento pelo qual uma pessoa é indicada por algum político sem entender nada do assunto”, diz Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset Management, que trabalhou vários anos nos Estados Unidos.»
Continue a ler na Dinheiro da revista «Isto é» o artigo de Luís Artur Nogueira
ACREDITE SE QUISER: Vai (à Síria) chamar pai a outro
«Tendo em conta que os testes de ADN são como que uma prova plena do ponto de vista científico da paternidade, ou seja, do ponto de vista da realidade factual, manifesto é que aquele que culposamente impede a realização desses exames está a preencher a previsão do n.º 2 do art.º 344.º do CC.
A atitude do Réu, investigado progenitor, não aceitando a solução de recolha do seu material biológico pelo INML, nem por qualquer outra instituição, salvo se efectivada na Síria e por ordem de um tribunal sírio, o que já sabia não ser viável nem ter o valor de prova, implica uma recusa implícita e ilegítima, logo, uma violação culposa do dever de cooperação.»
[Supremo Tribunal de Justiça, Acórdão de 17 Maio 2016]
O Réu aceita a jurisdição portuguesa para ejacular mas não para fazer exames sobre o resultado da ejaculação.
A atitude do Réu, investigado progenitor, não aceitando a solução de recolha do seu material biológico pelo INML, nem por qualquer outra instituição, salvo se efectivada na Síria e por ordem de um tribunal sírio, o que já sabia não ser viável nem ter o valor de prova, implica uma recusa implícita e ilegítima, logo, uma violação culposa do dever de cooperação.»
[Supremo Tribunal de Justiça, Acórdão de 17 Maio 2016]
O Réu aceita a jurisdição portuguesa para ejacular mas não para fazer exames sobre o resultado da ejaculação.
19/07/2016
Vivemos num estado policial? (9) – Conselhos de caça ao gambuzino Pokémon
«A Polícia de Segurança Pública publicou um manual no Facebook para ajudar os jogadores de Pokémon GO a caçar Pokémons em segurança.». Entre os 7 magníficos conselhos, o meu preferido é «não cace sozinho, cace em grupo ou aos pares». É um inesperado e tranquilizante incentivo policial à socialização dos cidadãos.
Finalmente ficam plenamente justificados os 444,1 chuis (inclui PSP e GNR) por 100.000 habitantes, o que nos torna o terceiro estado mais policiado da Europa, apenas ultrapassado por Malta e pela Irlanda do Norte.
Ficam igualmente justificados os 2.100 sindicalistas de 13-sindicatos-13 diferentes que faltam 23 mil dias por ano por actividades sindicais, bem como os 600 desses sindicalistas que são dirigentes com 4 dias de folga por mês e os restantes 1.500 delegados sindicais com 12 horas de folga por mês.
Outros casos de polícia: (1), (2), (3), (4), (5), (6), (7) e (8).
Finalmente ficam plenamente justificados os 444,1 chuis (inclui PSP e GNR) por 100.000 habitantes, o que nos torna o terceiro estado mais policiado da Europa, apenas ultrapassado por Malta e pela Irlanda do Norte.
Ficam igualmente justificados os 2.100 sindicalistas de 13-sindicatos-13 diferentes que faltam 23 mil dias por ano por actividades sindicais, bem como os 600 desses sindicalistas que são dirigentes com 4 dias de folga por mês e os restantes 1.500 delegados sindicais com 12 horas de folga por mês.
Outros casos de polícia: (1), (2), (3), (4), (5), (6), (7) e (8).
Crónica da anunciada avaria irreparável da geringonça (40)
Outras avarias da geringonça.
No meio do folhetim das sanções e dos planos B, ficámos a saber o que já sabíamos: a arma principal da geringonça para adiar o descarrilamento da execução orçamental são as cativações. E o que são as cativações? O Glossário da Execução Orçamental explica: é a retenção (ou congelamento) de verbas do orçamento de despesa determinada na Lei do Orçamento do Estado. Há apenas dois pequenos problemas: (1) segundo o governo, as cativações são apenas 350 milhões euros, uma gota de água no oceano da despesa e (2) a cativação evita o pagamento, não evita a despesa e já se estão a avolumar as montanhas de facturas por pagar.
Em paralelo com as cativações, o governo está a usar uma carpintaria orçamental mais à bruta, como no caso dos reembolsos de IRS adiados sucessivamente com estórias da carochinha.
Ainda quanto a sanções, nubladas pelo denso nevoeiro da propaganda, no Eurogrupo, onde a geringonça diz contar vários aliados, só o ministro das Finanças grego se mostrou contra a aplicação das sanções et pour cause. Em matéria de nevoeiro, não esqueçamos o défice de 2015 que Costa põe em 3,2%, para fins de agiprop interno, e para Bruxelas sem medidas one-off põe em 2,8% (a este expediente o Expresso, o semanário do regime, chamou «a doutrina Costa»).
No meio do folhetim das sanções e dos planos B, ficámos a saber o que já sabíamos: a arma principal da geringonça para adiar o descarrilamento da execução orçamental são as cativações. E o que são as cativações? O Glossário da Execução Orçamental explica: é a retenção (ou congelamento) de verbas do orçamento de despesa determinada na Lei do Orçamento do Estado. Há apenas dois pequenos problemas: (1) segundo o governo, as cativações são apenas 350 milhões euros, uma gota de água no oceano da despesa e (2) a cativação evita o pagamento, não evita a despesa e já se estão a avolumar as montanhas de facturas por pagar.
Em paralelo com as cativações, o governo está a usar uma carpintaria orçamental mais à bruta, como no caso dos reembolsos de IRS adiados sucessivamente com estórias da carochinha.
Ainda quanto a sanções, nubladas pelo denso nevoeiro da propaganda, no Eurogrupo, onde a geringonça diz contar vários aliados, só o ministro das Finanças grego se mostrou contra a aplicação das sanções et pour cause. Em matéria de nevoeiro, não esqueçamos o défice de 2015 que Costa põe em 3,2%, para fins de agiprop interno, e para Bruxelas sem medidas one-off põe em 2,8% (a este expediente o Expresso, o semanário do regime, chamou «a doutrina Costa»).
ESTADO DE SÍTIO: Os políticos autocráticos não precisam de insultar a inteligência dos súbditos
Depois de uma tentativa falhada de golpe pelos militares turcos está em curso um golpe provavelmente bem-sucedido por parte de Erdogan, que nem se dá à maçada de contar estórias aos turcos. Ora confirme-se a transparência das suas intenções declaradas após o golpe militar:
«Este levantamento, este movimento é um grande presente de Deus para nós, porque o exército será limpo»
18/07/2016
O tigre celta e o tareco lusitano (7) - Os felinos antes e depois da crise
[Sequela de (1), por sua vez sequela de O rugido do tigre vs o miado do gato, de (2), de (3), de (4), de (5) e de (6)]
Para começar e melhor entender o que vem a seguir, republico o quadro comparativo entre o tigre e o tareco com os dados de 1995 e 2011 pouco depois do início da crise.
E acrescento outro quadro com dados actualizados de vários anos posteriores ao início da crise que podem ser considerados marcos.
Note-se que a taxa de crescimento do PIB da Irlanda indicada para 2015 é antes da revisão recente que a elevou para 26,3%, por razões excepcionais que estão explicadas (por exemplo aqui).
Os indicadores falam tão alto que não julgo necessário acrescentar prosa. O que é que a Irlanda tem que Portugal não tem? Várias coisas. E o que tem Portugal que a Irlanda não tem? Várias coisas. Por exemplo, uma selecção de futebol que ganhou o Euro 2016, está em 6.º lugar no ranking mundial da FIFA e é 3.ª no ranking europeu, contra o 31.º lugar da Irlanda.
E o que é que tem o futebol de diferente do resto das actividades em Portugal? Várias coisas, entre as quais: uma regulação leve, concorrência nacional e internacional entre operadores e, sobretudo, um mercado de trabalho aberto, competitivo e internacional - deve ser a única actividade em Portugal em que as famílias, os partidos e as maçonarias não arranjam lugares na profissão do chuto para os seus filhos, camaradas e irmãos, respectivamente.
Para começar e melhor entender o que vem a seguir, republico o quadro comparativo entre o tigre e o tareco com os dados de 1995 e 2011 pouco depois do início da crise.
E acrescento outro quadro com dados actualizados de vários anos posteriores ao início da crise que podem ser considerados marcos.
Os indicadores falam tão alto que não julgo necessário acrescentar prosa. O que é que a Irlanda tem que Portugal não tem? Várias coisas. E o que tem Portugal que a Irlanda não tem? Várias coisas. Por exemplo, uma selecção de futebol que ganhou o Euro 2016, está em 6.º lugar no ranking mundial da FIFA e é 3.ª no ranking europeu, contra o 31.º lugar da Irlanda.
E o que é que tem o futebol de diferente do resto das actividades em Portugal? Várias coisas, entre as quais: uma regulação leve, concorrência nacional e internacional entre operadores e, sobretudo, um mercado de trabalho aberto, competitivo e internacional - deve ser a única actividade em Portugal em que as famílias, os partidos e as maçonarias não arranjam lugares na profissão do chuto para os seus filhos, camaradas e irmãos, respectivamente.
Mitos (234) - A destruição de dinheiro pela banca
Uma das fixações favoritas da esquerdalhada é a demonização da banca - salvo, evidentemente, a banca pública, ainda que seja nela que os vícios que se suporiam privados mais se fazem sentir.
Essa demonização serve um dos mitos de estimação da esquerdalhada: o da destruição de dinheiro pela banca. Aqui, mais uma vez, surge a realidade a atrapalhar a tese, porque não só a banca pública não está isenta dessa suposta «destruição» como tem tido um papel notável, a par da banca privada assaltada pelas cliques das várias famílias socialistas (BPN e BCP) ou com elas amancebadas (BES).
Infelizmente para a fixação e o mito, a banca não destrói dinheiro. A banca financia a destruição de dinheiro em projectos de investimento de «investidores» ou na salvação de empresas falidas de «empresários» públicos e privados amigos do regime. Esta evidência é em geral cuidadosamente escamoteada para não comprometer a tese.
O Expresso publicou um artigo sobre o PER (Processo Especial de Revitalização) onde estima o volume total de créditos que podem estar envolvido neste processo entre 30 a 40 mil milhões de euros, algo entre 17% e 23% do PIB e onde inclui o quadro seguinte dos vinte maiores PER que somam 12 mil milhões e onde encontramos em lugar de destaque os Espírito Santo e o BPB-SLN.
Essa demonização serve um dos mitos de estimação da esquerdalhada: o da destruição de dinheiro pela banca. Aqui, mais uma vez, surge a realidade a atrapalhar a tese, porque não só a banca pública não está isenta dessa suposta «destruição» como tem tido um papel notável, a par da banca privada assaltada pelas cliques das várias famílias socialistas (BPN e BCP) ou com elas amancebadas (BES).
Infelizmente para a fixação e o mito, a banca não destrói dinheiro. A banca financia a destruição de dinheiro em projectos de investimento de «investidores» ou na salvação de empresas falidas de «empresários» públicos e privados amigos do regime. Esta evidência é em geral cuidadosamente escamoteada para não comprometer a tese.
O Expresso publicou um artigo sobre o PER (Processo Especial de Revitalização) onde estima o volume total de créditos que podem estar envolvido neste processo entre 30 a 40 mil milhões de euros, algo entre 17% e 23% do PIB e onde inclui o quadro seguinte dos vinte maiores PER que somam 12 mil milhões e onde encontramos em lugar de destaque os Espírito Santo e o BPB-SLN.
Começa a ser difícil esconder a evidência de que o dinheiro alegadamente destruído pelos bancos é o custo dos elefantes brancos do regime promovidos pelos seus amigos, custo suportado não pelo Estado, mera instância de extorsão, mas pelos contribuintes, também adequadamente chamados sujeitos passivos.
17/07/2016
ACREDITE SE QUISER: O presidente dos afectos está mutação para presidente dos protestos
Depois de condecorar jogadores e técnicos da selecção de futebol, perante o protesto de uma medalhada no campeonato europeu de atletismo, o presidente dos afectos correu a entregar mais cinco comendas aos atletas.
Perante o protesto dos militares por Marcelo ter ido a correr medalhar o pessoal do futebol em vez de ajudar a apagar o incêndio do C130 no Montijo, o presidente dos afectos prometeu ir amanhã voar num dos poucos C130 que ainda voa «para dar uma palavra de confiança ... naquele tipo de aeronave».
Se as suas correrias para entregar medalhas (ainda) me espantam, quanto ao voo no C130 divido-me entre louvar a sua coragem ou lamentar a sua insensatez e apenas registo o ameaça de nos obrigar a novas eleições contra a oportunidade de corrigir o resultado.
Perante o protesto dos militares por Marcelo ter ido a correr medalhar o pessoal do futebol em vez de ajudar a apagar o incêndio do C130 no Montijo, o presidente dos afectos prometeu ir amanhã voar num dos poucos C130 que ainda voa «para dar uma palavra de confiança ... naquele tipo de aeronave».
Novas eleições? |
DEIXAR DE DAR GRAXA PARA MUDAR DE VIDA: A fábula do surto inventivo que nos assola (11)
[Outros posts sobre a mesma fábula: 08-08-2010; 28-11-2010;28-11-2012; 08-12-2013; 16-12-2013; 26-12-2013; 17-01-2014; 25-02-2014; 11-03-2014; 08-04-2015; 18-05-2015; 23-05-2015, 04-08-2015]
Se há mitos recorrentes no socialismo lusitano um dos mais notórios é o da multiplicação do dinheiro torrado há décadas em doutoramentos e em subsídios à investigação. Enfim, é um caso particular do multiplicador da despesa pública - recordem-se os delírios do multiplicador do professor doutor Alfredo Marvão Pereira que transformava 1 milhão de euros de alcatrão em 18 milhões de PIB - talvez os valores do multiplicador e do resultado estivessem certos; talvez fosse apenas um equívoco quanto à espécie do resultado que foi aumento da dívida em vez de aumento do PIB.
A crença na multiplicação da despesa em Investigação e Desenvolvimento (I&D), que em Portugal não passa de uma classificação contabilística dentro da qual cabem coisas que nada tem a ver com I&D, é um fenómeno de fé - embora este traga à mistura os interesses das corporações que vivem dessas rendas. Como todos os fenómenos de fé não se alimenta de factos e abomina a realidade.
Abominação que se compreende porque a realidade mostra que os resultados do dinheiro gasto e do exército de 10 mil «investigadores» (mais de 50% da média europeia em relação à população) são de uma pobreza franciscana, como mais uma vez se confirma no Painel Europeu de Inovação 2016 que Portugal caiu mais uma posição e «tem um desempenho abaixo da média comunitária na maioria dos indicadores analisados, com excepção dos recursos humanos»,
Que outra coisa poderia ser se a tónica de todos os governos socialistas tem sido engordar a tropa de «investigadores» que não investigam nada, como se pode confirmar pelo número de patentes no European Patent Office, apenas 18% da média da UE, e pelas receitas por venda e por licenciamento que é de apenas 3% da média da UE (ver este post).
Se há mitos recorrentes no socialismo lusitano um dos mais notórios é o da multiplicação do dinheiro torrado há décadas em doutoramentos e em subsídios à investigação. Enfim, é um caso particular do multiplicador da despesa pública - recordem-se os delírios do multiplicador do professor doutor Alfredo Marvão Pereira que transformava 1 milhão de euros de alcatrão em 18 milhões de PIB - talvez os valores do multiplicador e do resultado estivessem certos; talvez fosse apenas um equívoco quanto à espécie do resultado que foi aumento da dívida em vez de aumento do PIB.
A crença na multiplicação da despesa em Investigação e Desenvolvimento (I&D), que em Portugal não passa de uma classificação contabilística dentro da qual cabem coisas que nada tem a ver com I&D, é um fenómeno de fé - embora este traga à mistura os interesses das corporações que vivem dessas rendas. Como todos os fenómenos de fé não se alimenta de factos e abomina a realidade.
Abominação que se compreende porque a realidade mostra que os resultados do dinheiro gasto e do exército de 10 mil «investigadores» (mais de 50% da média europeia em relação à população) são de uma pobreza franciscana, como mais uma vez se confirma no Painel Europeu de Inovação 2016 que Portugal caiu mais uma posição e «tem um desempenho abaixo da média comunitária na maioria dos indicadores analisados, com excepção dos recursos humanos»,
Que outra coisa poderia ser se a tónica de todos os governos socialistas tem sido engordar a tropa de «investigadores» que não investigam nada, como se pode confirmar pelo número de patentes no European Patent Office, apenas 18% da média da UE, e pelas receitas por venda e por licenciamento que é de apenas 3% da média da UE (ver este post).
16/07/2016
DIÁRIO DE BORDO: Senhor, concedei-nos a graça de não termos outros cinco anos de TV Marcelo (12)
Outras preces.
Quando toda a gente que quer e pode perceber já percebeu a derrapagem em curso da execução orçamental e quando a parte mais atenta dessa gente já percebeu que a derrapagem só ainda não é pública e notória porque o governo da geringonça está a usar os truques habituais para enfiar debaixo do tapete ou empurrar com a barriga para a frente a evidência contabilística dessa derrapagem, vem o presidente dos afectos com a sua treta de ilusionista dizer-nos que os dados de Junho «poderão talvez acalmar um pouco o Conselho de Finanças» e a garantir que «não há derrapagem orçamental».
Marcelo Rebelo de Sousa está a jogar um jogo perigoso e talvez ainda não tenha percebido a diferença entre um comentador e um presidente da República e mantenha, por isso, a ilusão de que nada disto tem consequências. Tem, e só não tem mais e mais depressa porque temos uma opinião pública ignorante e mal informada pela opinião publicada.
A propósito, aproveito para registar um acontecimento raro. Pela primeira vez, que me lembre, consigo estar de acordo com o que escreveu Daniel de Oliveira sobre «Marcelo e o efeito boomerang do populismo».
Quando toda a gente que quer e pode perceber já percebeu a derrapagem em curso da execução orçamental e quando a parte mais atenta dessa gente já percebeu que a derrapagem só ainda não é pública e notória porque o governo da geringonça está a usar os truques habituais para enfiar debaixo do tapete ou empurrar com a barriga para a frente a evidência contabilística dessa derrapagem, vem o presidente dos afectos com a sua treta de ilusionista dizer-nos que os dados de Junho «poderão talvez acalmar um pouco o Conselho de Finanças» e a garantir que «não há derrapagem orçamental».
Marcelo Rebelo de Sousa está a jogar um jogo perigoso e talvez ainda não tenha percebido a diferença entre um comentador e um presidente da República e mantenha, por isso, a ilusão de que nada disto tem consequências. Tem, e só não tem mais e mais depressa porque temos uma opinião pública ignorante e mal informada pela opinião publicada.
A propósito, aproveito para registar um acontecimento raro. Pela primeira vez, que me lembre, consigo estar de acordo com o que escreveu Daniel de Oliveira sobre «Marcelo e o efeito boomerang do populismo».
CAMINHO PARA A SERVIDÃO: Kafka, sempre!
PORTARIA N.º 190/2016
Diário da República n.º 135/2016, Série I de 2016-07-15
- Data de Publicação:2016-07-15
- Tipo de Diploma:Portaria
- Número:190/2016
- Emissor:Administração Interna
- Páginas:2212 - 2215
- Sumário:Definição do perfil que deve possuir um trabalhador de empresa privada concessionária de estacionamento
Vale a pena ler o texto integral e em particular o programa de formação.
15/07/2016
DIÁRIO DE BORDO: Questões que o atentado de Nice torna (ainda mais) inadiáveis
«Não, o problema é este: a Europa alberga hoje grandes comunidades imigrantes em crescimento descontrolado, e onde demasiada gente rejeita os valores ocidentais. Alguns sentem-se inspirados ou foram mesmo organizados para atacar a sociedade que os acolheu. Não são todos, são até poucos, mas estão a conseguir importar para a Europa o sectarismo e o terrorismo que há décadas se tornaram endémicos no Médio Oriente e no norte de África. Não é sensato continuar a invocar o “racismo” e a “islamofobia” para impedir um debate sobre o jihadismo. Porque o racismo e a islamofobia hão de alastrar quanto mais os regimes europeus se mostrarem incapazes de enfrentar a insegurança da jihad. E também não será sensato continuar a fingir que nos podemos esquecer do Médio Oriente e deixar os árabes entregues à sua sorte: o Iraque provou que uma invasão para derrubar um tirano não é, só por si, uma solução; mas a Síria provou que não fazer nada, e deixar uma guerra civil continuar o seu curso, também não. Não há soluções fáceis: mas não querer ver o problema não é uma solução.
Haverá um momento em que já não chegarão os lugares comuns, a começar pelo mais cansado de todos: o apelo para não fazermos o “jogo dos terroristas”. Haverá um momento em que as vigílias e demais cerimónias do “Je suis” consolarão cada vez menos gente. Haverá um momento em que já quase ninguém terá paciência para mais um exercício de auto-flagelação a propósito da guerra do Iraque de 2003 ou do acolhimento dos imigrantes. Nesse momento, a vida nas sociedades ocidentais, tal como nos habituámos a ela, estará comprometida.»
«Esta Europa pode acabar em Nice», Rui Ramos no Observador
Haverá um momento em que já não chegarão os lugares comuns, a começar pelo mais cansado de todos: o apelo para não fazermos o “jogo dos terroristas”. Haverá um momento em que as vigílias e demais cerimónias do “Je suis” consolarão cada vez menos gente. Haverá um momento em que já quase ninguém terá paciência para mais um exercício de auto-flagelação a propósito da guerra do Iraque de 2003 ou do acolhimento dos imigrantes. Nesse momento, a vida nas sociedades ocidentais, tal como nos habituámos a ela, estará comprometida.»
«Esta Europa pode acabar em Nice», Rui Ramos no Observador
Exemplos do costume (42) – As indignações selectivas
Já comentei as reacções de indignação, algumas bastante hipócratas, à nomeação de Durão Barroso para o Goldman Sachs. Como então escrevi, não encontrei conflitos de interesses na passagem de um cargo sem responsabilidades financeiras especiais num órgão político-administrativo comunitário para um cargo não executivo num banco internacional de investimento.
Isso não significa que não considere respeitáveis algumas opiniões em contrário, como esta que Pedro Arroja defende não muito convincentemente, a meu ver. Porquê respeitável? Essencialmente porque Pedro Arroja é uma criatura respeitável.
Como considero respeitáveis, pela fundamentação em si mesma, opiniões como esta de Ricardo Costa no Expresso que faz uma leitura política, sublinhando os argumentos dos indignados baseados em ódios velhos e considerando legal e legítima a opção de Durão Barroso, apesar de errada precisamente por ir alimentar os mal-entendidos.
Respeitabilidade que falta de todo a François Hollande que considera «moralmente inaceitável que José Manuel Barroso se junte ao Goldman Sachs». Porquê? Porque o Goldman Sachs, «também esteve envolvido no problema grego, uma vez que aconselhou os gregos e maquilhou os dados que a Grécia enviou para a União Europeia.»
Como pode invocar moral um sujeito como Hollande que usa o dinheiro público para pagar a um barbeiro 120 mil euros por ano (uma média por cabelo que deve ser um record mundial) ou para pagar 400 mil euros por ano pela segurança da namorada?
Como podem os políticos franceses (os mais indignados de todos a estes respeito) indignar-se pelo envolvimento do Goldman Sachs na maquilhagem das contas gregas quando era um segredo de Polichinelo a trafulhice que os gregos fizeram para entrar para o euro com toda a clique política europeia a assobiar para o lado? Ou como puderam não se indignar com a ida de Gerhard Schroeder para a russa Gazprom com quem tinha assinado um contrato enquanto chanceler alemão?
Como se vê, a doutrina Somoza faz escola entre os socialistas.
Isso não significa que não considere respeitáveis algumas opiniões em contrário, como esta que Pedro Arroja defende não muito convincentemente, a meu ver. Porquê respeitável? Essencialmente porque Pedro Arroja é uma criatura respeitável.
Como considero respeitáveis, pela fundamentação em si mesma, opiniões como esta de Ricardo Costa no Expresso que faz uma leitura política, sublinhando os argumentos dos indignados baseados em ódios velhos e considerando legal e legítima a opção de Durão Barroso, apesar de errada precisamente por ir alimentar os mal-entendidos.
Respeitabilidade que falta de todo a François Hollande que considera «moralmente inaceitável que José Manuel Barroso se junte ao Goldman Sachs». Porquê? Porque o Goldman Sachs, «também esteve envolvido no problema grego, uma vez que aconselhou os gregos e maquilhou os dados que a Grécia enviou para a União Europeia.»
Como pode invocar moral um sujeito como Hollande que usa o dinheiro público para pagar a um barbeiro 120 mil euros por ano (uma média por cabelo que deve ser um record mundial) ou para pagar 400 mil euros por ano pela segurança da namorada?
Como podem os políticos franceses (os mais indignados de todos a estes respeito) indignar-se pelo envolvimento do Goldman Sachs na maquilhagem das contas gregas quando era um segredo de Polichinelo a trafulhice que os gregos fizeram para entrar para o euro com toda a clique política europeia a assobiar para o lado? Ou como puderam não se indignar com a ida de Gerhard Schroeder para a russa Gazprom com quem tinha assinado um contrato enquanto chanceler alemão?
Como se vê, a doutrina Somoza faz escola entre os socialistas.
Dúvidas (167) – Conseguirá o presidente Marcelo inverter este perigoso declínio?
Condecorações atribuídas pelos presidentes das Repúblicas:
(Fonte: ionline)
- Óscar Carmona (25 anos) – 10.272, 412 por ano
- Mário Soares (10 anos) – 2.508, 251 por ano
- Jorge Sampaio (10 anos) – 2.377, 238 por ano
- Ramalho Eanes (10 anos) – 2.007, 201 por ano
- Cavaco Silva (10 anos) – 1.566, 157 por ano
- Jogadores e equipa técnica da selecção de futebol – 28
- Atletas dos Europeus – 8
- Personalidades estrangeiras – 10
- Título póstumo - 1
(Fonte: ionline)
14/07/2016
Já havia o esperma feliz. Agora há também o feto feliz
Um acórdão do Supremo Tribunal Administrativo estabeleceu pela primeira vez que um nascituro à data da morte do pai num acidente de viação tem direito a ser indemnizado pelos danos morais decorrentes da morte deste.
Creio que terá sido Warren Buffett, um dos maiores e mais sagazes investidores de todo o mundo, que cunhou a expressão «esperma feliz» para designar os filhos de gente de sucesso que fez pela vida a quem cai no colo uma herança por morte de um progenitor. A partir de agora podemos cunhar a expressão «feto feliz».
Creio que terá sido Warren Buffett, um dos maiores e mais sagazes investidores de todo o mundo, que cunhou a expressão «esperma feliz» para designar os filhos de gente de sucesso que fez pela vida a quem cai no colo uma herança por morte de um progenitor. A partir de agora podemos cunhar a expressão «feto feliz».
BREIQUINGUE NIUZ: O diplomata pouco diplomático
A nova primeira-ministra Theresa May nomeou como chanceler (ministro das Finanças) o antigo ministro dos Negócios Estrangeiros Philip Hammond. Como ministro dos Negócios Estrangeiros foi nomeado Boris Johnson, um sujeito notoriamente pouco diplomático, adepto do Brexit - talvez apenas para apear Cameron e tentar, sem sucesso, suceder-lhe. David Davis, um eurocéptico de sempre, será responsável pelo «Brexit department».
Pode ser a melhor equipa para negociar com Bruxelas uma «saída limpa», mas de todo não parece adequada para negociar uma permanência suja, a única que ainda resta.
ARTIGO DEFUNTO: De como pode haver consenso e unanimidade sobre quem estraga o consenso e a unanimidade
A presidência da República em seguida à reunião do Conselho de Estado de 2.ª feira passada, que como todas as obriga ao sigilo dos participantes, divulgou a seguinte nota informativa:
A partir das referências ao que Cavaco Silva terá dito, são publicadas várias peças com uma matriz quase idêntica onde se especula sobre o que não disse e que só pode ter sido lido nas suas meninges por telepatia. Eis alguns títulos dessas peças:
Nos idos de 2012 publiquei este post com uma declaração antecipada de voto: numas próximas eleições presidenciais votaria até no tele-evangelista para evitar transformar Belém num centro de intriga permanente.
«O Conselho de Estado, reunido sob a presidência de Sua Excelência o Presidente da República, hoje, dia 11 de julho de 2016, no Palácio de Belém, analisou a situação económica e política europeia e sua incidência em Portugal. Sublinhou, em particular a premência de uma contínua reflexão aprofundada sobre os desafios colocados à União Europeia, em termos económicos, financeiros, sociais e políticos, e que deve, também, merecer o acompanhamento pelo Conselho.»A partir da nota informativa (só pode ter sido porque os participantes estavam obrigados ao sigilo, ou não?) vários jornais publicaram «notícias» referindo o que teria dito na reunião Cavaco Silva, a bête noire da esquerdalhada e do jornalismo de causas, perdoai a redundância. Todas as peças publicadas são unânimes em concluir que Cavaco Silva fez uma exposição técnica, onde se referiu ao Tratado Orçamental e aos programa de estabilidade e a conjuntura internacional, «sem nunca se referir às sanções» (Público, DN , Expresso, Negócios, Sábado usam esta expressão ou outra semelhante).
A partir das referências ao que Cavaco Silva terá dito, são publicadas várias peças com uma matriz quase idêntica onde se especula sobre o que não disse e que só pode ter sido lido nas suas meninges por telepatia. Eis alguns títulos dessas peças:
- Público - «Cavaco estraga unanimidade do Conselho de Estado sobre sanções»
- Expresso - «Conselho de Estado: Cavaco terá legitimado aplicação de sanções»
- Sábado - «Cavaco Silva rompe consenso anti-sanções»
- Diário de Notícias - «Cavaco foi o único a "defender" sanções no Conselho de Estado»
- Negócios - «Cavaco Silva rompe consenso anti-sanções»
- Portugal News - «Cavaco Silva rompe consenso anti-sanções»
Nos idos de 2012 publiquei este post com uma declaração antecipada de voto: numas próximas eleições presidenciais votaria até no tele-evangelista para evitar transformar Belém num centro de intriga permanente.
13/07/2016
ACREDITE SE QUISER: O português é uma língua mais difícil para os portugueses do que para o estrangeiros
No exame da disciplina de Português do 3.º ciclo do ensino básico os alunos estrangeiros tiveram melhores notas do que os portugueses. A taxa de reprovação dos alunos estrangeiros foi de 6% na prova A e de 5% na B; a taxa de reprovação dos alunos portugueses foi de 8%. (ionline)
CASE STUDY: quem é o deus ex machina da Ongoing? (18)
Repetindo-me: quando em 2009 escrevi o primeiro post da série «quem é o deus ex machina da Ongoing?» a razão da pergunta e a pergunta em si mesma poderiam ser obscuras para a maioria dos portugueses que não faziam a menor das ideias de que o resgate pela troika os esperaria dois anos depois, e que decorridos outros quatro anos assistiriam ao colapso dos Espírito Santo, os Donos Disto Tudo.
O que há então de novo? Há o PER, o Processo Especial de Revitalização ao abrigo do qual a Ongoing se propõe que os bancos lhe perdoem 97% da dívida. E quais bancos? Fica quase tudo entre o Novo Banco, que herdou crédito do BES com a maior fatia, e o BCP. E porquê estes?
A parte do BES não carece de explicação, o que alguém deveria explicar é como foi o crédito da Ongoing parar ao Novo Banco que, segundo os critérios do resgate, deveria ter ficado no «banco mau», isto é no BES, A parte do BCP também se explica facilmente pela participação da Ongoing como testa de ferro dos Espírito Santo no assalto ao BCP (ver este post inaugural da série e ainda este e este sobre o móbil do assalto).
Fica então apenas por explicar como tem sido possível uma parte da comentadoria do regime ainda não ter percebido aonde têm ido desaguar os rios de dinheiro dos contribuintes que os governos têm derramado no sistema bancário. Só essa parte, porque a outra parte da comentadoria (a que percebeu perfeitamente) não precisa de ser explicada - são os opinion dealers e é esse o seu modo de vida.
O que há então de novo? Há o PER, o Processo Especial de Revitalização ao abrigo do qual a Ongoing se propõe que os bancos lhe perdoem 97% da dívida. E quais bancos? Fica quase tudo entre o Novo Banco, que herdou crédito do BES com a maior fatia, e o BCP. E porquê estes?
A parte do BES não carece de explicação, o que alguém deveria explicar é como foi o crédito da Ongoing parar ao Novo Banco que, segundo os critérios do resgate, deveria ter ficado no «banco mau», isto é no BES, A parte do BCP também se explica facilmente pela participação da Ongoing como testa de ferro dos Espírito Santo no assalto ao BCP (ver este post inaugural da série e ainda este e este sobre o móbil do assalto).
Fica então apenas por explicar como tem sido possível uma parte da comentadoria do regime ainda não ter percebido aonde têm ido desaguar os rios de dinheiro dos contribuintes que os governos têm derramado no sistema bancário. Só essa parte, porque a outra parte da comentadoria (a que percebeu perfeitamente) não precisa de ser explicada - são os opinion dealers e é esse o seu modo de vida.
Presunção de inocência ou presunção de culpa? (27) – Apanha-se mais depressa um mentiroso do que um coxo. Se for um psicopata leva um pouco mais de tempo (3)
Continuação de (1) e (2).
«O Grupo Lena terá pago comissões de 14 milhões de euros a uma empresa do sobrinho de Lula da Silva e à XLM (empresa supostamente utilizada por Carlos Santos Silva para passar dinheiro a José Sócrates). A notícia é avançada pela edição desta terça-feira do Correio da Manhã que cita um relatório da Autoridade Tributária.
O jornal [CM] cita o relatório, onde se lê que há indícios de que “os arguidos Joaquim Barroca [administrador do Grupo Lena] e Carlos Santos Silva resolveram simular a produção de novos contratos, de forma a justificarem a realização de novos pagamentos a favor da sociedade XLM , com o mesmo fim de permitir a remuneração encoberta do arguido Carlos Santos Silva e a atribuição, seja por pagamentos seja pelo assumir de despesas, de vantagens a pessoas conexas com o arguido José Sócrates”.» (Fonte: Observador)
«O Grupo Lena terá pago comissões de 14 milhões de euros a uma empresa do sobrinho de Lula da Silva e à XLM (empresa supostamente utilizada por Carlos Santos Silva para passar dinheiro a José Sócrates). A notícia é avançada pela edição desta terça-feira do Correio da Manhã que cita um relatório da Autoridade Tributária.
O jornal [CM] cita o relatório, onde se lê que há indícios de que “os arguidos Joaquim Barroca [administrador do Grupo Lena] e Carlos Santos Silva resolveram simular a produção de novos contratos, de forma a justificarem a realização de novos pagamentos a favor da sociedade XLM , com o mesmo fim de permitir a remuneração encoberta do arguido Carlos Santos Silva e a atribuição, seja por pagamentos seja pelo assumir de despesas, de vantagens a pessoas conexas com o arguido José Sócrates”.» (Fonte: Observador)
12/07/2016
DIÁRIO DE BORDO: Plebiscídio
A new entry for the Oxford English Dictionary:
Plebicide n. the self-inflicted ruin of a nation's prospects or interests via a reckless act of direct democracy.
(Proposto por Bruce Steedman, um leitor da Economist)
Plebicide n. the self-inflicted ruin of a nation's prospects or interests via a reckless act of direct democracy.
(Proposto por Bruce Steedman, um leitor da Economist)
Dúvidas (166) - 500 milhões de euros depois, já podemos ir trabalhar?
«A tentativa desesperada da oligarquia política para usurpar a alegria nacional» |
Crónica da anunciada avaria irreparável da geringonça (39)
Outras avarias da geringonça.
Multiplicam-se os avisos à navegação da geringonça. Desta vez foi Maurice Obstfeld, o economista chefe do FMI, que aponta os níveis de crédito malparado de Portugal como uma séria ameaça à estabilidade financeira e à retoma.
E, por falar em ameaças, uma das maiores será a possível revisão pela DBRS da única notação de investimento não especulativo de que o Estado Português dispõe que, se for revisto, terminará com as compras de dívida pública pelo BCE, fazendo-nos depender totalmente dos mercados com estes a olharem para nós com cada vez mais desconfiança. O Barclays, por exemplo, duvida «se Portugal é capaz de resolver os problemas sem a ajuda de um novo programa» de resgate. O Barclays não está sozinho - leia-se aqui uma espécie de anúncio do «novo colapso»
Multiplicam-se os avisos à navegação da geringonça. Desta vez foi Maurice Obstfeld, o economista chefe do FMI, que aponta os níveis de crédito malparado de Portugal como uma séria ameaça à estabilidade financeira e à retoma.
E, por falar em ameaças, uma das maiores será a possível revisão pela DBRS da única notação de investimento não especulativo de que o Estado Português dispõe que, se for revisto, terminará com as compras de dívida pública pelo BCE, fazendo-nos depender totalmente dos mercados com estes a olharem para nós com cada vez mais desconfiança. O Barclays, por exemplo, duvida «se Portugal é capaz de resolver os problemas sem a ajuda de um novo programa» de resgate. O Barclays não está sozinho - leia-se aqui uma espécie de anúncio do «novo colapso»
11/07/2016
NÓS VISTOS POR ELES: L'exception française
L'Equipe citado pelo Insurgente |
Dúvidas (165) – Por que motivo não se fala deles hoje em dia?
«Vivemos anos com problemas sociais terríveis. Lembro apenas alguns: havia emigrantes a fugir da nossa miséria; havia crianças a chegar à escola em jejum; havia filas de espera para a 'sopa dos pobres'; havia cada vez mais sem-abrigo; havia desempregados de longa duração que viviam desesperados.
Curiosamente, esses problemas sociais terríveis evaporaram-se do espaço mediático. Não creio que se tenham evaporado da realidade do país, nem sequer posso exigir a este ou a qualquer outro Governo que em escassos meses extinguisse problemas dessa dimensão. Mas é precisamente este facto que me faz pensar. Se eles continuam, por que motivo não se fala deles hoje em dia?
Haverá várias justificações, certamente. Mas preocupante, em particular, que este tipo de noticiário esteja mais sujeito às agendas de prioridades partidárias do que à iniciativa da própria comunicação social. Dito de modo mais simples: desde que o BE e o PCP passaram a apoiar um Governo deixaram de municiar a comunicação social com os pungentes casos humanos. Ou, então, os jornalistas que acompanham estas questões sociais entendem que, com este Governo, não vale a pena falar de certos assuntos. Seja a resposta qual for, não é muito abonatória para os jornalistas. Porque de duas uma: ou andamos atrás das agendas partidárias e não termos uma agenda própria; ou temos uma agenda própria que está alinhada com determinados partidos.»
Henrique Monteiro, no Expresso
Se a pergunta é perfeita, as respostas alternativas nem por isso. Visto de fora, parece mais que os jornalistas de causas (a maioria das criaturas que têm uma carteira de jornalista) têm uma agenda própria que é a agenda de um partido, agenda indeterminado nalguns casos, mas sempre determinável.
Curiosamente, esses problemas sociais terríveis evaporaram-se do espaço mediático. Não creio que se tenham evaporado da realidade do país, nem sequer posso exigir a este ou a qualquer outro Governo que em escassos meses extinguisse problemas dessa dimensão. Mas é precisamente este facto que me faz pensar. Se eles continuam, por que motivo não se fala deles hoje em dia?
Haverá várias justificações, certamente. Mas preocupante, em particular, que este tipo de noticiário esteja mais sujeito às agendas de prioridades partidárias do que à iniciativa da própria comunicação social. Dito de modo mais simples: desde que o BE e o PCP passaram a apoiar um Governo deixaram de municiar a comunicação social com os pungentes casos humanos. Ou, então, os jornalistas que acompanham estas questões sociais entendem que, com este Governo, não vale a pena falar de certos assuntos. Seja a resposta qual for, não é muito abonatória para os jornalistas. Porque de duas uma: ou andamos atrás das agendas partidárias e não termos uma agenda própria; ou temos uma agenda própria que está alinhada com determinados partidos.»
Henrique Monteiro, no Expresso
Se a pergunta é perfeita, as respostas alternativas nem por isso. Visto de fora, parece mais que os jornalistas de causas (a maioria das criaturas que têm uma carteira de jornalista) têm uma agenda própria que é a agenda de um partido, agenda indeterminado nalguns casos, mas sempre determinável.