- Afinal tu és de esquerda?(Inspirado na prosa rebarbativa do Canhoto, lida n'O Insurgente)
- Sou de esquerda sim senhor, e com orgulho!
- Deixa lá, pá, deve haver coisas piores. Mas porquê tu és isso?
- Sou de esquerda porque entendo que o mercado não é uma vaca sagrada mas uma criação humana imperfeita que tem de ser regulada pelo Estado!
- Percebo-te. Eu sou liberal porque o estado não é uma vaca sagrada mas uma criação humana imperfeita. Aliás o estado não é uma vaca. Nem mesmo uma vaca profana. É o tratador da vaca marsupial pública.
31/03/2006
DIÁLOGOS DE PLUTÃO: o estado da vaca
30/03/2006
ESTADO DE SÍTIO: o sujeito passivo vítima do Complex
Enquanto o governo anuncia o Simplex e os amanhãs que cantarão, um cidadão, por acaso profissional liberal, recebe uma carta do 8.º bairro fiscal, dirigida a um seu velho familiar a quem cuidou da declaração de IRS. Na carta pede-se para «comparecer neste Serviço, no horário supra indicado» (das 9h às 16h) porque «falta NIF da pessoa que se encontra no lar correspondente ao campo 804 do Anexo H». A «pessoa» em causa é o único «sujeito passivo» na declaração modelo 3, devidamente identificado com nome e NIF na declaração e em todos os seus anexos (salvo no campo 804), bem como na declaração comprovativa do lar. Existe assim uma relação biunívoca entre contribuinte e pessoa que se encontra no lar.
O funcionário pré-Simplex, certamente desconhecendo o que seja uma relação biunívoca, obrigou o cidadão a perder 2 horas de trabalho que facturaria a um cliente, que incluíram mais duma hora de espera com uma senha cor de rosa na mão, numa sala bafienta e apinhada de sujeitos passivos com um ar infeliz mas conformado.
Muito apropriadamente, a 50 m do purgatório fiscal encontra-se o «Centro de Ajuda Espiritual Pare de Sofrer».
O funcionário pré-Simplex, certamente desconhecendo o que seja uma relação biunívoca, obrigou o cidadão a perder 2 horas de trabalho que facturaria a um cliente, que incluíram mais duma hora de espera com uma senha cor de rosa na mão, numa sala bafienta e apinhada de sujeitos passivos com um ar infeliz mas conformado.
Muito apropriadamente, a 50 m do purgatório fiscal encontra-se o «Centro de Ajuda Espiritual Pare de Sofrer».
ESTADO DE SÍTIO: uma nova área temática
Uma área temática onde se dão exemplos do quotidiano do estado em que se encontra o estado napoleónico-estalinista e do sítio que este estado faz aos seus cidadãos.
29/03/2006
AVALIAÇÃO CONTÍNUA: um lídex à frentex do CEDEX
Secção Frases Assassinas
«Parece-me um bocado propagandex, à Socratex, mas se for verdadex, é bonzex», disse o doutor Ribeiro e Castro, presidente do PP, referindo-se ao Simplex e dando voz ao que poderá ser considerado o seu melhor pensamento nos últimos 30 anos. Ao mesmo tempo, antecipa os desejos do doutor Pires de Lima que gostaria de ver à frentex do partido um líder sexy. Aí o tem ele: um lídex.
Pela frase, atribuo ao doutor Ribeiro e Castro dois afonsos. Pelo atraso dum sound bite antológico, 5 bourbons.
«Parece-me um bocado propagandex, à Socratex, mas se for verdadex, é bonzex», disse o doutor Ribeiro e Castro, presidente do PP, referindo-se ao Simplex e dando voz ao que poderá ser considerado o seu melhor pensamento nos últimos 30 anos. Ao mesmo tempo, antecipa os desejos do doutor Pires de Lima que gostaria de ver à frentex do partido um líder sexy. Aí o tem ele: um lídex.
Pela frase, atribuo ao doutor Ribeiro e Castro dois afonsos. Pelo atraso dum sound bite antológico, 5 bourbons.
27/03/2006
BLOGARIDADES: «é preciso topete»
«É preciso topete» escreve a blasfema Helena Matos, citando o próprio ministro Freitas do Amaral. Tem toda a razão. E tem ainda mais razão quando põe em contraponto o desvelo revelado pelo ministro em relação ao caso do «charro mais caro alguma vez fumado por um português» com a incúria com que remeteu para uma qualquer reunião nas calendas gregas a conversa com o ministro canadiano sobre os emigrantes portugueses no Canadá ameaçados com maior das punições: serem recambiados para a pátria de onde fugiram na esperança de escaparem à maldição.
Post scriptum:
Reparo que avancei «opiniões sobre as opiniões alheias» dando assim razão ao Acidental que justamente estipula «que isto já deu o que tinha a dar», ao mesmo tempo que lembra aos ignaros que antes do seu surgimento havia um buraco negro na bloguilha apenas salpicado, aqui e ali, pela esquerdalhada. Resta-me esperar por «um upgrade qualquer, (que) talvez chegue com o filho do Rodrigo», que não sei quem virá a ser, mas arrisco que será o menino Jesus (o filho, não o Rodrigo). É preciso topete.
Acrescento ainda, em jeito de auto-flagelação, que também só reparei na opinião do Acidental por ter lido a opinião do blasfemo jcd. Não tenho emenda.
Post scriptum:
Reparo que avancei «opiniões sobre as opiniões alheias» dando assim razão ao Acidental que justamente estipula «que isto já deu o que tinha a dar», ao mesmo tempo que lembra aos ignaros que antes do seu surgimento havia um buraco negro na bloguilha apenas salpicado, aqui e ali, pela esquerdalhada. Resta-me esperar por «um upgrade qualquer, (que) talvez chegue com o filho do Rodrigo», que não sei quem virá a ser, mas arrisco que será o menino Jesus (o filho, não o Rodrigo). É preciso topete.
Acrescento ainda, em jeito de auto-flagelação, que também só reparei na opinião do Acidental por ter lido a opinião do blasfemo jcd. Não tenho emenda.
26/03/2006
SERVIÇO PÚBLICO: um exercício de tolerância?
Tradicionalmente não tradicionais, os holandeses, preocupados com a erupção do fundamentalismo islâmico no seu país, respondem à intolerância da Corão com a intolerância da bíblia do politicamente correcto.
Desde o princípio do mês, os imigrantes candidatos à admissão na Holanda terão que submeter-se a um teste de aceitação dos costumes domésticos que inclui ver um DVD com cenas de dois homens a beijarem-se em público num parque e duma mulher a tomar banho sem sutiã. A reacção dos candidatos será avaliada para decidir a sua admissão. (Times Online)
Quando as autoridades holandesas recusarem um imigrante por sentir repulsa pela visão de sodomitas, isso será um exercício de tolerância?
Declaração de interesse:
O Impertinências é um blogue desalinhado, desconforme, herético, heterodoxo e homofóbico, que acredita que se a homossexualidade não pode ser proibida também não pode imposta a sua aceitação como normalidade.
Desde o princípio do mês, os imigrantes candidatos à admissão na Holanda terão que submeter-se a um teste de aceitação dos costumes domésticos que inclui ver um DVD com cenas de dois homens a beijarem-se em público num parque e duma mulher a tomar banho sem sutiã. A reacção dos candidatos será avaliada para decidir a sua admissão. (Times Online)
Quando as autoridades holandesas recusarem um imigrante por sentir repulsa pela visão de sodomitas, isso será um exercício de tolerância?
Declaração de interesse:
O Impertinências é um blogue desalinhado, desconforme, herético, heterodoxo e homofóbico, que acredita que se a homossexualidade não pode ser proibida também não pode imposta a sua aceitação como normalidade.
25/03/2006
DIÁRIO DE BORDO: l'état, c'est pas moi ou o princípio do fim do Novo Regime, o Estado Social
Se há um genuíno estado napoleónico-estalinista é o estado francês. Mas as semelhanças com o estado português acabam aqui. O estado francês é um estado razoavelmente eficiente (para estado, entenda-se) e a vaca marsupial pública que pastoreia consome menos palha por quilo do que a sua homóloga aqui na paróquia.
Na verdade não só o estado napoleónico-estalinista é mais genuíno. Tudo é mais genuíno e de melhor qualidade. Até as maninfestações são mais genuínas. Os estudantes e os sindicatos não têm o menor pudor de mostrar o seu reaccionarismo mais primário, a sua busca incessante pela protecção estatal, pelo emprego para toda a vida, 35 horas por semana. Estão prontos a andar à porrada com os flics, contre les servants du patronat, contre la mondalisation, bla bla bla bla.
Sempre foi assim e sempre assim será. O mais tímido impulso reformista é imediatamente sufocado pela rua.
Não por acaso, na sociedade francesa a distância dos sans-culottes (cullotes de soie, aujourd'hui) aos vários poderes é ainda mais marcada do que na sociedade portuguesa e a aversão ao risco e à incerteza é muito alta - mas não tão alta como na sociedade portuguesa, que é das mais elevadas no mundo, o que explica muita coisa (ver os estudos de Geert Hofstede, já aqui citados várias vezes).
Na verdade não só o estado napoleónico-estalinista é mais genuíno. Tudo é mais genuíno e de melhor qualidade. Até as maninfestações são mais genuínas. Os estudantes e os sindicatos não têm o menor pudor de mostrar o seu reaccionarismo mais primário, a sua busca incessante pela protecção estatal, pelo emprego para toda a vida, 35 horas por semana. Estão prontos a andar à porrada com os flics, contre les servants du patronat, contre la mondalisation, bla bla bla bla.
Sempre foi assim e sempre assim será. O mais tímido impulso reformista é imediatamente sufocado pela rua.
Não por acaso, na sociedade francesa a distância dos sans-culottes (cullotes de soie, aujourd'hui) aos vários poderes é ainda mais marcada do que na sociedade portuguesa e a aversão ao risco e à incerteza é muito alta - mas não tão alta como na sociedade portuguesa, que é das mais elevadas no mundo, o que explica muita coisa (ver os estudos de Geert Hofstede, já aqui citados várias vezes).
24/03/2006
ESTÓRIA E MORAL: é uma fusão, estúpido
Estória
«Tentámos, há uns meses, uma fusão amigável com o BPI» confessou o doutor Paulo Teixeira Pinto um dia destes ao Semanário Económico. O BPI recusou «sem referir se pretendia esta ou aquela cláusula, este ou aquele cargo. Nada. A não ser que não estava disponível para continuar a negociar a fusão», lamentou o doutor Teixeira Pinto.
Moral
Era uma vez uma galinha e um porco. A galinha que acalentava há muito o desejo de se fundir com o porco, abeira-se do bicho e diz-lhe ao ouvido: ó porco queres fazer um fusão comigo? O que é uma fusão? pergunta o bácoro. A galinha, pouco confiante na capacidade de discernimento do porco, reformula a pergunta: ó porco queres fazer ovos com bacon comigo? Eu dou os ovos e tu dás o bacon. Ó galinha, mas para isso eu tenho que morrer, ou não? pergunta o porco, preocupado. É claro, ó porco. Mas isso é que é uma fusão.
«Tentámos, há uns meses, uma fusão amigável com o BPI» confessou o doutor Paulo Teixeira Pinto um dia destes ao Semanário Económico. O BPI recusou «sem referir se pretendia esta ou aquela cláusula, este ou aquele cargo. Nada. A não ser que não estava disponível para continuar a negociar a fusão», lamentou o doutor Teixeira Pinto.
Moral
Era uma vez uma galinha e um porco. A galinha que acalentava há muito o desejo de se fundir com o porco, abeira-se do bicho e diz-lhe ao ouvido: ó porco queres fazer um fusão comigo? O que é uma fusão? pergunta o bácoro. A galinha, pouco confiante na capacidade de discernimento do porco, reformula a pergunta: ó porco queres fazer ovos com bacon comigo? Eu dou os ovos e tu dás o bacon. Ó galinha, mas para isso eu tenho que morrer, ou não? pergunta o porco, preocupado. É claro, ó porco. Mas isso é que é uma fusão.
23/03/2006
BLOGARIDADES: ser sportinguista é não ter na alma
Há pouca gente, sobretudo entre os sportinguistas, que compreenda a alma dum sportinguista. Um dos poucos é o maradona e antes que homem apague o post é melhor transcrevê-lo (Freud, se tivesse tempo, teria muito que contar-nos sobre esta obsessão de limpar o passado).
Declaração de interesse:
Não sou nem nunca fui sócio do Sporting, porque nunca seria sócio dum clube com que simpatizo e que só teria a perder se eu fosse sócio dele.
«FoiÉ um texto de antologia e, estranhamente, quase sem erros ortográficos. Digo-o com a autoridade de filho dum dos mais velhos sócios do Sporting ainda vivos.
Não vejo horizonte de hipotéticas circunstâncias que levem o Sporting e o sportinguista médio a deixarem de ser entidades patéticas. Nem vive nem está morto nem nascerá no futuro próximo um único sportinguista que não tenha ficado contente com o jogo de ontem. O Dias Ferreira, na Sic Noticias, era a felicidade em pessoa. Foi um "jogo equilibrado", fomos "uma equipa tranquila", tivemos "azar", "faltou-nos aquela pontinha de sorte", roubaram-nos "um penalti", tudo dito como se falasse de um filho que acabasse de terminar o doutoramento e de comer a Uma Thurman. Perdemos nas grandes penalidades, com o Ricardo a adivinhar o lado contrário de todos os penaltis, o que não é para qualquer um.
Como é que se consegue criar um clube com estas características é que eu ainda não percebi. Ainda no outro dia dizia José Roquette com apoplético júbilo e cancerígeno orgulho que o melhor jogador do Benfica e máximo responsável pelos campeonato do ano passado e quartos-de-final da Liga dos Campeões deste ano foi um miúdo, Simão Sabrosa, criado no Sporting; que o melhor jogador do Porto e máximo responsável pelo campeonato deste ano do Porto é um jogador criado no Sporting, Ricardo Quaresma; que o melhor jogador dos anos oitenta, Futre, foi criado no Sporting; que o melhor jogador dos anos noventa foi Figo, um jogador criado no Sporting; que o actual melhor jogador nacional é Cristiano Ronaldo, criado no Sporting. E tudo isto para quê? Para ganharmos dois campeonatos de forma ridícula e absolutamente inglória e irmos a uma final europeia de uma Taça Uefa que pura e simplesmente não existe, e que perdemos em nossa casa, facto que é quase inédito a nível mundial em qualquer escalão de qualquer desporto.
A única vantagem que, ao que me parece, releva de interesse e valor para o Sporting deste misterioso estado de coisas é que o sportinguista percebe em média muito mais de futebol que qualquer outra pesssoa em Portugal e, estou em querer, no mundo. Não pode ser apenas por acaso que o Futre, o Figo, o Simão, o Quaresma e o Cristiano Ronaldo tenham saído daquela casa e não de outras, muito mais populosas (Benfica) ou raivosas (Porto). O sportinguista, por ter de viver sem esperança de glória ou orgulho aprende desde a mais tenra idade a subjugar-se ao desporto em si, à arte da coisa. Suponho que é isto, mas pode ser que nem isso seja.»»
Declaração de interesse:
Não sou nem nunca fui sócio do Sporting, porque nunca seria sócio dum clube com que simpatizo e que só teria a perder se eu fosse sócio dele.
O IMPERTINÊNCIAS FEITO PELOS SEUS DETRACTORES: «o mercado funciona mesmo»
«É incrível como o mercado funciona. Lá na escola o meu filho com uns amigos criou uma banda. Vejamos como cada um se adapta ao seu lugar:
- O João: claramente um líder, ambicioso, algo egoista e conflituoso, muito manipulador: é o que canta e o principal autor das letras;
- O Joaquim: atinadinho, bom aluno, disciplinado, agradável: piano;
- O André: algo introvertido mas de amizades sólidas, não quer dar nas vistas mas participa activamente na correcção das letras dando o toque final: guitarra;
- O Miguel: um comediante nato, extrovertido, baldão: bateria;
- O Duarte: muito tímido, atinado, esperto mas se pudesse esconder-se atrás de um fósforo fá-lo-ia: flauta!
e o melhor: - O Luís: extremamente simpático, bom rapaz, amigo de todos, com algumas limitações (já chumbou uma vez e penso que o seu palmarés não ficará por aí): é o ... manager!»
22/03/2006
SERVIÇO PÚBLICO: por falar nisso
Por falar no «ponde as barbas de molho», e para não se pensar que o Impertinências contrapõe ao discurso delirantemente optimista do governo posts delirantemente pessimistas, chamo em meu socorro o economista-chefe do BES que hoje no DN lembra que «a posição devedora líquida de Portugal face ao exterior aumentou, em 2005, de 84,4 para 95,4 mil milhões de euros, o equivalente a 66% do produto interno bruto. Em 2002, apenas três anos antes, este valor era de 66,2 mil milhões de euros, ou cerca de 49% do PIB».
O doutor Carlos Almeida Andrade prevê ainda que «o défice externo português deverá prosseguir uma tendência de subida nos próximos dois anos, para valores superiores a 8% do PIB» a fazer companhia, prevejo eu, ao outro gémeo (o défice orçamental) que it remains to be seen whether (um grande whether da Fitch Ratings) o governo consegue reduzi-lo sem voltar a aumentar os impostos.
O doutor Carlos Almeida Andrade prevê ainda que «o défice externo português deverá prosseguir uma tendência de subida nos próximos dois anos, para valores superiores a 8% do PIB» a fazer companhia, prevejo eu, ao outro gémeo (o défice orçamental) que it remains to be seen whether (um grande whether da Fitch Ratings) o governo consegue reduzi-lo sem voltar a aumentar os impostos.
21/03/2006
NÓS VISTOS POR ELES: ponde as barbas de molho
Imune ao discurso delirantemente optimista do governo, a agência de rating Fitch emitiu ontem, a propósito da notação da dívida pública portuguesa de longo prazo, a seguinte press release:
«Fitch Ratings has today assigned the Republic of Portugal's debut 30-year EUR3 billion bond an 'AA' rating. The rating is in line with Portugal's Issuer Default rating, which is on a Negative Outlook.Neste quadro são expectáveis efeitos pouco agradáveis, como sejam os impactos no serviço da dívida pública que irão aumentar o défice, os impostos, ou ambos, no serviço da dívida da banca portuguesa à banca europeia que no final de 2005 já atingia 7,6 mil milhões (3,3% do PIB), e last but not least o impacto na dívida dos particulares decorrente dos aumentos previsíveis na taxa básica do Banco Central Europeu, que desde finais do ano passado até ao fim deste ano poderá aumentar 1,25% (mais de 60%).
Despite Portugal's good economic progress between 1990-2000, euro area membership and a satisfactory income per head - albeit still below the average for Western Europe - it has not been able to maintain this momentum since 2000. Growth has been low, even negative in one year, while income per head has stagnated. Part of the problem has been an over-dependence on traditional manufacturing, especially textiles, where foreign competition from lower wage economies has been intensifying. Also, Portugal is losing out in attracting foreign direct investments to the emerging markets of Eastern Europe, many of which are now in the EU itself. This contrasts with its success in bringing in foreign investment in the 1990s. Slovakia, for example, is attracting much of the automotive investment that might have gone to Portugal. Another part of the explanation for slow growth may be sought in the country's relatively rapid inflation, at least in the years 2001 to 2003, which caused a cumulative real appreciation of 9% during this period. Although inflation has now fallen back to the euro area average and there has been virtually no further appreciation for the past two years, to some extent the slow growth was necessary, and may need to remain so in order to restore the real exchange rate to competitive levels.
Poor economic growth has had a direct impact on fiscal performance. In 2001, Portugal became the first euro area member to breach the 3% of GDP deficit limit. This led to a series of emergency expenditure cuts and tax increases, which failed to achieve their objectives, partly because they relied excessively on one-off expedients.
Last year, a new government accepted that on unchanged policies the deficit would rise towards 7% of GDP and instituted another round of spending cuts and tax hikes. In the event, the deficit for 2005 appears to have been held at about 6%. The government intends that the deficit will fall further, mainly because of further expenditure containment, and targets a deficit below 3% for 2008. It remains to be seen whether the government will be able to implement successfully and in full the much needed programme of structural and fiscal reforms it has begun, but past experience has not been encouraging. If the government succeeds, its debt will stabilise in two or three years at just short of 70% of GDP, which is still more than double the present median debt level for 'AA'-rated sovereigns. In Fitch's opinion, current government plans for fiscal consolidation are insufficiently ambitious, even if achieved in practice.»
20/03/2006
SERVIÇO PÚBLICO: o estado-pai e o estado-mãe substituem o estado do pai e da mãe
O sistema educacional do estado napoleónico-estalinista que não tem competência para ensinar às cobaias que por lá passam rudimentos decentes do ler, escrever e contar, que até a máquina educativa fassista do professor Botas foi capaz de garantir, prepara-se agora para educar as criancinhas no sexo, à pala duma treta chamada «Educação para a Saúde».
O venerável doutor Sampaio (o outro), coordenador do Grupo de Trabalho para a Educação Sexual em Meio Escolar, já aprovou 188-projectos-188 e prevê que «devem adoptar as directrizes do Ministério da Educação (ME) entre três mil e quatro mil escolas».
Para demonstrar a bondade da iniciativa, uma psicóloga do dito grupo de trabalho cita o caso duma infanta de 7 anos que «que tinha medo de estar grávida porque lhe tinham cuspido». A mim parecer-me-ia bastante mais grave que a infanta nunca viesse a ser capaz de interpretar uma frase com mais do que meia dúzia de palavras, o que se afigura bastante provável.
Lembrei-me, a propósito, duma amiga que, antes de conseguir um trabalho decente, teve o infortúnio de dar aulas de matemática numa escola secundária. Contou-me que os alunos ao lerem um enunciado dum problema «na equação xpto, considera a=..., b=..., bla bla bla» perguntavam amiúde se o «considera» também era para resolver. Se a educação sexual fosse um tema como os outros e fosse tratada com tanta competência como a matemática, o português ou a física, seria de esperar que os infantes saíssem da escola com preservativos enfiados no nariz.
Nunca me pareceu preocupante gerações e gerações de infantes e infantas imaginarem até à adolescência que os bebés vinham de Paris. Nunca tentaram enfiar um preservativo no bico da cegonha e nunca tiveram dúvidas, na altura própria, quanto a substituírem as importações pelo fabrico local. Seja como for, compete aos pais e não ao estado napoleónico-estalinista tratar destes e doutros temas se, quando e da forma que acharem conveniente.
O venerável doutor Sampaio (o outro), coordenador do Grupo de Trabalho para a Educação Sexual em Meio Escolar, já aprovou 188-projectos-188 e prevê que «devem adoptar as directrizes do Ministério da Educação (ME) entre três mil e quatro mil escolas».
Para demonstrar a bondade da iniciativa, uma psicóloga do dito grupo de trabalho cita o caso duma infanta de 7 anos que «que tinha medo de estar grávida porque lhe tinham cuspido». A mim parecer-me-ia bastante mais grave que a infanta nunca viesse a ser capaz de interpretar uma frase com mais do que meia dúzia de palavras, o que se afigura bastante provável.
Lembrei-me, a propósito, duma amiga que, antes de conseguir um trabalho decente, teve o infortúnio de dar aulas de matemática numa escola secundária. Contou-me que os alunos ao lerem um enunciado dum problema «na equação xpto, considera a=..., b=..., bla bla bla» perguntavam amiúde se o «considera» também era para resolver. Se a educação sexual fosse um tema como os outros e fosse tratada com tanta competência como a matemática, o português ou a física, seria de esperar que os infantes saíssem da escola com preservativos enfiados no nariz.
Nunca me pareceu preocupante gerações e gerações de infantes e infantas imaginarem até à adolescência que os bebés vinham de Paris. Nunca tentaram enfiar um preservativo no bico da cegonha e nunca tiveram dúvidas, na altura própria, quanto a substituírem as importações pelo fabrico local. Seja como for, compete aos pais e não ao estado napoleónico-estalinista tratar destes e doutros temas se, quando e da forma que acharem conveniente.
19/03/2006
DIÁRIO DE BORDO: desmotivadores (2)
Série Demotivators da TechRepublic. Créditos Despair, Inc.
Dedicado às desinteressantes e ininteligíveis polémicas que ensoparam as reuniões partidárias que ali e acolá tiveram lugar este fim de semana.
17/03/2006
AVALIAÇÃO CONTÍNUA: bom no género mau
Secção Perguntas impertinentes
Há coisas (poucas) de que o Impertinências não pode ser acusado. Por exemplo, ser meigo com este governo (e com os outros, claro). Dito isto, sou obrigado a acrescentar que o governo em exercício não é pior do que os outros. Para ser honesto, terei que reconhecer que é melhor do que quase todos os outros, incluindo os chefiados pelo venerando chefe de estado professor doutor Cavaco Silva, durante os quais o estado napoleónico-estalinista cresceu desmesuradamente e a vaca marsupial pública ganhou pletóricas banhas. O governo actual é bom. É bom no género mau.
A divulgação hoje do Programa de Reestruturação da Administração Central do Estado (PRACE), é só por si um QED. Reduzir os organismos (e, consequentemente, os orgasmos) da Administração Central de 414 para 294, avaliar mais de 75 mil funcionários e botar alguns milhares nos "supranumerários", sendo uma coisa modesta e insuficiente será, SE FOR FEITA, uma acção inédita na estória do estado napoleónico-estalinista, desde os tempos do Botas até aos tempos do charmoso engenheiro Sócrates, passando pelo engenheiro de correntes fracas fugido para as NU, o cherne em fuga na CE e o doutor Pedro perdido nas brumas da noite alfacinha.
No pé em que estão as coisas, atribuo ao governo 1 - afonso - 1 pelo anúncio e reservo mais 2 ou 3 para quando e SE a coisa for avante.
Aqui fica, pois, a incontornável pergunta: será que o governo tem tomates para levar a cabo ao menos metade do que anunciou?
Há coisas (poucas) de que o Impertinências não pode ser acusado. Por exemplo, ser meigo com este governo (e com os outros, claro). Dito isto, sou obrigado a acrescentar que o governo em exercício não é pior do que os outros. Para ser honesto, terei que reconhecer que é melhor do que quase todos os outros, incluindo os chefiados pelo venerando chefe de estado professor doutor Cavaco Silva, durante os quais o estado napoleónico-estalinista cresceu desmesuradamente e a vaca marsupial pública ganhou pletóricas banhas. O governo actual é bom. É bom no género mau.
A divulgação hoje do Programa de Reestruturação da Administração Central do Estado (PRACE), é só por si um QED. Reduzir os organismos (e, consequentemente, os orgasmos) da Administração Central de 414 para 294, avaliar mais de 75 mil funcionários e botar alguns milhares nos "supranumerários", sendo uma coisa modesta e insuficiente será, SE FOR FEITA, uma acção inédita na estória do estado napoleónico-estalinista, desde os tempos do Botas até aos tempos do charmoso engenheiro Sócrates, passando pelo engenheiro de correntes fracas fugido para as NU, o cherne em fuga na CE e o doutor Pedro perdido nas brumas da noite alfacinha.
No pé em que estão as coisas, atribuo ao governo 1 - afonso - 1 pelo anúncio e reservo mais 2 ou 3 para quando e SE a coisa for avante.
Aqui fica, pois, a incontornável pergunta: será que o governo tem tomates para levar a cabo ao menos metade do que anunciou?
16/03/2006
PUBLIC SERVICE: Google is watching you
Privacy Watch: What Google Knows About You
«Want to know what's going on in someone's mind? Look at the words they enter in their favorite search engine. Fortunately, that information is private, right? Maybe not.
If you use Google, for instance, and are not blocking cookies, the search engine likely has placed a cookie on your system that won't expire until 2038. That cookie lets Google track what you searched for, when you conducted the search, and which results you clicked. The cookie doesn't identify you by name, but it does identify you by your system's information and IP address.
This is what the U.S. government was after when it subpoenaed Google for search records of millions of random users to establish the need for a federal online pornography law; read "Google Hearing on Providing Search Records Set" for background: http://www.pcworld.com/news/article/0,aid,124535,tk,caxnws,00.asp
The company is fighting the subpoena as I write this, but AOL, MSN, and Yahoo have already given the government at least some of the kinds of data it wants.
The case highlights the sensitivity of search records in general, and Google's in particular. The company's position at the top of the search engine food chain means that its archives could contain years of detailed logs on what millions of users search for and where they surf. (Google has not said how long it keeps such records and didn't respond to our requests for information on the subject.)
Fortunately, there are well-established ways to rid your PC of tracking cookies, either using your browser or one of many third-party antispyware and system cleanup utilities. For detailed instructions on cleansing private information from your browser, see this month's Internet Tips: http://www.pcworld.com/howto/article/0,aid,124583,tk,caxhow,00.asp
But ending the privacy threat that cookies pose requires action by Web sites as well as by individuals. As storage gets cheaper, system administrators at commercial sites tend to log everything and keep the data as long as possible, broadening the window for misuse. At last December's Usenix Large Installation System Administration conference, an Electronic Frontier Foundation attorney recommended that administrators keep only the logs they need, and destroy the rest.
If Google truly wishes to live up to its corporate motto--"Don't Be Evil"--the company should be selective about the logs that it keeps, and should chuck everything else.»
Andrew Brandt
(PC World March 15th newsletter)
«Want to know what's going on in someone's mind? Look at the words they enter in their favorite search engine. Fortunately, that information is private, right? Maybe not.
If you use Google, for instance, and are not blocking cookies, the search engine likely has placed a cookie on your system that won't expire until 2038. That cookie lets Google track what you searched for, when you conducted the search, and which results you clicked. The cookie doesn't identify you by name, but it does identify you by your system's information and IP address.
This is what the U.S. government was after when it subpoenaed Google for search records of millions of random users to establish the need for a federal online pornography law; read "Google Hearing on Providing Search Records Set" for background: http://www.pcworld.com/news/article/0,aid,124535,tk,caxnws,00.asp
The company is fighting the subpoena as I write this, but AOL, MSN, and Yahoo have already given the government at least some of the kinds of data it wants.
The case highlights the sensitivity of search records in general, and Google's in particular. The company's position at the top of the search engine food chain means that its archives could contain years of detailed logs on what millions of users search for and where they surf. (Google has not said how long it keeps such records and didn't respond to our requests for information on the subject.)
Fortunately, there are well-established ways to rid your PC of tracking cookies, either using your browser or one of many third-party antispyware and system cleanup utilities. For detailed instructions on cleansing private information from your browser, see this month's Internet Tips: http://www.pcworld.com/howto/article/0,aid,124583,tk,caxhow,00.asp
But ending the privacy threat that cookies pose requires action by Web sites as well as by individuals. As storage gets cheaper, system administrators at commercial sites tend to log everything and keep the data as long as possible, broadening the window for misuse. At last December's Usenix Large Installation System Administration conference, an Electronic Frontier Foundation attorney recommended that administrators keep only the logs they need, and destroy the rest.
If Google truly wishes to live up to its corporate motto--"Don't Be Evil"--the company should be selective about the logs that it keeps, and should chuck everything else.»
Andrew Brandt
(PC World March 15th newsletter)
15/03/2006
DIÁRIO DE BORDO: desmotivadores (1)
Série Demotivators da TechRepublic , um sítio para profissionais que tem (quase) tudo o que um homem precisa para sobreviver na selva das TI. Créditos Despair, Inc..
14/03/2006
BREIQUINGUE NIUZ: resolução paralamentar
..........Monitorizando os impactes
Enquanto os portugueses dormiam, os deputados velavam, produzindo mais uma vibrante ejaculação do órgão legislativo sob a forma da Resolução da Assembleia da República n.º 19/2006 sobre a Gestão ambiental dos campos de golfe:
Enquanto os portugueses dormiam, os deputados velavam, produzindo mais uma vibrante ejaculação do órgão legislativo sob a forma da Resolução da Assembleia da República n.º 19/2006 sobre a Gestão ambiental dos campos de golfe:
«A Assembleia da República resolve, nos termos do n.º 5 do artigo 166.º da Constituição da República Portuguesa, recomendar ao Governo que legisle no sentido de estabelecer um código de boas práticas ambientais aplicáveis a campos de golfe, bem como o desenvolvimento de programas de monitorização de impactes, designadamente sobre as questões de ordenamento do território, sobre os recursos hídricos e o solo e sobre a biodiversidade e habitats.
Aprovada em 16 de Fevereiro de 2006.
O Presidente da Assembleia da República, Jaime Gama.»
13/03/2006
DEIXAR DE DAR GRAXA PARA MUDAR DE VIDA: quereis dinheiro? tomai oportunidades
Se quereis mesmo saber porque é que este país, com tanto subsídio, apoio, solidariedade, PRIMEs, PTs, incentivos, não descola da merda, ide perguntar ao senhor Ferreira. O senhor Ferreira para sair da merda teve que ir fazer pela vidinha como ajudante de pedreiro na Nova Gales do Sul. De caminho, passou a chamar-se Fred.
Ele explicou no discurso de agradecimento do Ethnic Business Award que «em Portugal nunca teria conseguido o que conquistei na Austrália. Este país foi e ainda é uma terra de oportunidades para quem trabalha muito e sabe o que quer». Ele não disse que, se tivesse ficado, também teria certamente trabalhado muito, teria que mudar de quereres, poderia aspirar a uma comenda do doutor Sampaio (ou, se este se distraísse, poderia esperar pelo doutor Cavaco), teria a graxa untuosa do bloco central da extorsão quando lhe fosse cobrar a percentagem das rotundas adjudicadas, e o desprezo do diletantismo paroquial das elites do burgo pelos que, não nascendo feitos, se têm que fazer.
Declaração de interesse:
O Impertinências tem razões de sobra para duvidar das estórias de sucesso que o Expresso nos últimos tempos tem contado para nos alimentar a auto-estima e fazer crer que podemos lá chegar, sem torcer o pepino, só com as tretas do engenheiro Sócrates. Como esta é uma estória de insucesso do país para reter os gajos que têm ganas de o mudar, talvez seja verdadeira.
Ele explicou no discurso de agradecimento do Ethnic Business Award que «em Portugal nunca teria conseguido o que conquistei na Austrália. Este país foi e ainda é uma terra de oportunidades para quem trabalha muito e sabe o que quer». Ele não disse que, se tivesse ficado, também teria certamente trabalhado muito, teria que mudar de quereres, poderia aspirar a uma comenda do doutor Sampaio (ou, se este se distraísse, poderia esperar pelo doutor Cavaco), teria a graxa untuosa do bloco central da extorsão quando lhe fosse cobrar a percentagem das rotundas adjudicadas, e o desprezo do diletantismo paroquial das elites do burgo pelos que, não nascendo feitos, se têm que fazer.
Declaração de interesse:
O Impertinências tem razões de sobra para duvidar das estórias de sucesso que o Expresso nos últimos tempos tem contado para nos alimentar a auto-estima e fazer crer que podemos lá chegar, sem torcer o pepino, só com as tretas do engenheiro Sócrates. Como esta é uma estória de insucesso do país para reter os gajos que têm ganas de o mudar, talvez seja verdadeira.
12/03/2006
DIÁRIO DE BORDO: no pasa nada
Durante o meu internetamento de uma semana na clínica de desintoxicação o que se passou no país? A avaliar pelos semanários, que li apressadamente no primeiro dia de alta, o costume, quase nada.
O engenheiro Sócrates esteve na Finlândia a estudar transformismo. Como transformar os portugueses em finlandeses do Mediterrâneo terá ele perguntado aos seus botões? O mais difícil está em vias de ser conseguido, ajudo eu, respondendo. Com mais um ou dois invernos como este e com a falta de aquecimento nas casas portuguesas, estaremos em condições de reproduzir as condições que ajudaram os finlandeses a chegar onde chegaram. Nokias já temos. Até mais do que eles. Solidariedade social já temos. Menos do que eles, é certo, mas quem dá o que tem, a mais não é obrigado. Professores já temos. Até mais do que eles (o Público de 3.ª feira, que li às escondidas na clínica, citava a escola secundária de Ressu em Helsínquia que tem 1 professor para 11 alunos e mantém pelo menos 2 professores em cada sala). Temos até o Plano Tecnológico. O que nos falta afinal?
Já se sabia, mas alguém recordou, que o jovem Belmiro, futuro engenheiro Azevedo, batia nos explicandos para lhes elevar o espírito às alturas do peso molecular, do paralelogramo de forças e da equação do 1.º grau. A falta de sucesso que tem tido a dar com o pau no toutiço dos políticos do país para lhes fazer entrar no bestunto o facto elementar que à economia pouco importam «os 200 palhaços que vão à televisão falar de economia», ajuda-nos a perceber que o futuro do engenheiro não estava, de facto, nas explicações. Ainda bem. Perdemos um explicador, mas ganhámos o maior grupo económico da paróquia.
Ainda não se sabia, mas ficou-se a saber, que o endividamento da banca portuguesa à banca europeia no final de 2005 atingiu 7,6 mil milhões, ou seja qualquer coisa como 3,3% do PIB. Fica-nos o conforto de saber que, se a coisa correr mal, a banca portuguesa ficará em boas mãos - nas mãos de quem tem que recuperar o caroço que lhes emprestou para nós comprarmos as casinhas, os chaços, as férias, e tudo o resto que nos ajuda a esquecer a tristeza que é este vale de lágrimas.
O doutor Sampaio perdeu a última oportunidade para condecorar o Impertinências por relevantes serviços prestados à nação. Tivesse o doutor Sampaio um terceiro mandato, tivessem sido já habilitados com a chapinha todos costureiros da doutora Maria José e, estou certo, chegaria a minha vez.
Quem não perdeu a primeira oportunidade foi o doutor Cavaco Silva. Estreou-se nas lides presidenciais, conseguindo o prodígio de não falar de economia e só esperar do governo que trate dos trabalhos de casa, dispensando-o de mandar mais palhaços à televisão. Que trate da justiça, que trate do ensino, que trate da segurança social, discursou ele para um parlamento aparvalhado pela nostalgia das paixões do engenheiro Guterres e das pré-ocupações do doutor Sampaio. O que para incumbência do governo não é menos, é de mais, mas, vindo de quem vem (um dos criadores do monstro, remember?) a coisa aceita-se.
O engenheiro Sócrates esteve na Finlândia a estudar transformismo. Como transformar os portugueses em finlandeses do Mediterrâneo terá ele perguntado aos seus botões? O mais difícil está em vias de ser conseguido, ajudo eu, respondendo. Com mais um ou dois invernos como este e com a falta de aquecimento nas casas portuguesas, estaremos em condições de reproduzir as condições que ajudaram os finlandeses a chegar onde chegaram. Nokias já temos. Até mais do que eles. Solidariedade social já temos. Menos do que eles, é certo, mas quem dá o que tem, a mais não é obrigado. Professores já temos. Até mais do que eles (o Público de 3.ª feira, que li às escondidas na clínica, citava a escola secundária de Ressu em Helsínquia que tem 1 professor para 11 alunos e mantém pelo menos 2 professores em cada sala). Temos até o Plano Tecnológico. O que nos falta afinal?
Já se sabia, mas alguém recordou, que o jovem Belmiro, futuro engenheiro Azevedo, batia nos explicandos para lhes elevar o espírito às alturas do peso molecular, do paralelogramo de forças e da equação do 1.º grau. A falta de sucesso que tem tido a dar com o pau no toutiço dos políticos do país para lhes fazer entrar no bestunto o facto elementar que à economia pouco importam «os 200 palhaços que vão à televisão falar de economia», ajuda-nos a perceber que o futuro do engenheiro não estava, de facto, nas explicações. Ainda bem. Perdemos um explicador, mas ganhámos o maior grupo económico da paróquia.
Ainda não se sabia, mas ficou-se a saber, que o endividamento da banca portuguesa à banca europeia no final de 2005 atingiu 7,6 mil milhões, ou seja qualquer coisa como 3,3% do PIB. Fica-nos o conforto de saber que, se a coisa correr mal, a banca portuguesa ficará em boas mãos - nas mãos de quem tem que recuperar o caroço que lhes emprestou para nós comprarmos as casinhas, os chaços, as férias, e tudo o resto que nos ajuda a esquecer a tristeza que é este vale de lágrimas.
O doutor Sampaio perdeu a última oportunidade para condecorar o Impertinências por relevantes serviços prestados à nação. Tivesse o doutor Sampaio um terceiro mandato, tivessem sido já habilitados com a chapinha todos costureiros da doutora Maria José e, estou certo, chegaria a minha vez.
Quem não perdeu a primeira oportunidade foi o doutor Cavaco Silva. Estreou-se nas lides presidenciais, conseguindo o prodígio de não falar de economia e só esperar do governo que trate dos trabalhos de casa, dispensando-o de mandar mais palhaços à televisão. Que trate da justiça, que trate do ensino, que trate da segurança social, discursou ele para um parlamento aparvalhado pela nostalgia das paixões do engenheiro Guterres e das pré-ocupações do doutor Sampaio. O que para incumbência do governo não é menos, é de mais, mas, vindo de quem vem (um dos criadores do monstro, remember?) a coisa aceita-se.
07/03/2006
ARTIGO DEFUNTO: o português que era dinamarquês
Não precisamos de procurar muito para encontrar exemplos da boa imprensa de que o governo Sócrates desfruta. Um dos mais despudorados é o Expresso, e em particular o caderno de Economia, onde pontifica o inefável manteigueiro doutor Nicolau Santos.
Cada número é exemplar e cada exemplar é um número, escrevia-se no Pif-Paf de Millor Fernandes, e poderia aplicar-se com propriedade ao caderno do doutor Nicolau. A coisa tornou-se sobretudo notória com a vaga inspiradora de auto-estima que ensopa páginas do semanário desde que este governo tomou posse. As criaturas esforçam-se por encontrar pessoas, empresas, projectos, investimentos (principalmente anúncios), factos ocorridos (ou que se supõe virão a ocorrer) ou puramente imaginários, que exemplifiquem a pletora de iniciativas, talentos e ideias de que o país está prenhe.
No último número, que não é especialmente exemplar, podia referir vários casos. Vou referir um só, mas inesperado. Na primeira página, debaixo da gigantesca foto do armador grego George Potamianos, este é citado, referindo-se ao paquete Funchal que salvou da sucata: «Quando o vi perdi a cabeça. O português que o fez era um génio. O casco é o melhor que há no mundo». À pala desta epígrafe, vertem-se na página 13 várias colunas de prosa laudatória e entusiástica sobre o entranhado amor do senhor Potamianos às virtudes do nosso povo.
Não sendo especialmente versado em paquetes e em cruzeiros (apesar de já ter feito várias vezes a travessia do Tejo em cacilheiros, uma delas até à Trafaria), perdida na bruma das minhas memória, encontrei uma conversa com um ex-comandantes do paquete (que, por um acaso da vida, tinha sido meu colaborador noutras paragens) acerca das origens do Funchal. Não batia a bota com a perdigota. Verificados os arquivos, graças ao senhor Carlos Alberto Monteiro, confirmei que «o português que o fez era um génio» dinamarquês.
Cada número é exemplar e cada exemplar é um número, escrevia-se no Pif-Paf de Millor Fernandes, e poderia aplicar-se com propriedade ao caderno do doutor Nicolau. A coisa tornou-se sobretudo notória com a vaga inspiradora de auto-estima que ensopa páginas do semanário desde que este governo tomou posse. As criaturas esforçam-se por encontrar pessoas, empresas, projectos, investimentos (principalmente anúncios), factos ocorridos (ou que se supõe virão a ocorrer) ou puramente imaginários, que exemplifiquem a pletora de iniciativas, talentos e ideias de que o país está prenhe.
No último número, que não é especialmente exemplar, podia referir vários casos. Vou referir um só, mas inesperado. Na primeira página, debaixo da gigantesca foto do armador grego George Potamianos, este é citado, referindo-se ao paquete Funchal que salvou da sucata: «Quando o vi perdi a cabeça. O português que o fez era um génio. O casco é o melhor que há no mundo». À pala desta epígrafe, vertem-se na página 13 várias colunas de prosa laudatória e entusiástica sobre o entranhado amor do senhor Potamianos às virtudes do nosso povo.
Não sendo especialmente versado em paquetes e em cruzeiros (apesar de já ter feito várias vezes a travessia do Tejo em cacilheiros, uma delas até à Trafaria), perdida na bruma das minhas memória, encontrei uma conversa com um ex-comandantes do paquete (que, por um acaso da vida, tinha sido meu colaborador noutras paragens) acerca das origens do Funchal. Não batia a bota com a perdigota. Verificados os arquivos, graças ao senhor Carlos Alberto Monteiro, confirmei que «o português que o fez era um génio» dinamarquês.
04/03/2006
CASE STUDY: quanto mais, menos
Faz tempo que não usava as funções zingarilho. Quanto mais se regulamenta o mercado de trabalho para proteger o emprego, menos emprego se cria. E quando o emprego se perde, fica perdido para sempre.
Vejam-se os efeitos no desemprego de longo prazo nos mercados de trabalho mais flexíveis (EU e GB), em contraste com os mercados mais rígidos (Itália, Alemanha e Japão).
(Squaring the circle)
Vejam-se os efeitos no desemprego de longo prazo nos mercados de trabalho mais flexíveis (EU e GB), em contraste com os mercados mais rígidos (Itália, Alemanha e Japão).
(Squaring the circle)
03/03/2006
BREGUINQUE NIUZ: mi desculpa, tá?
O chefe de estado dum dos países mais civilizados do mundo vai pedir desculpas a outro chefe de estado pela sua polícia (a mais civilizada do mundo) ter morto acidentalmente, por incompetência e (talvez) negligência, no contexto dum atentado terrorista, um cidadão deste segundo estado, estado dum país pouco civilizado que tem uma das polícias mais bárbaras, incompetentes e prepotentes de todo o mundo. Por essa morte, o governo do primeiro país já pagou à família do cidadão do segundo país uns milhões de euros a título de indemnização.
No mesmo noticiário brasileiro (GNT, desta madrugada) em que se anuncia esse pedido de desculpas de Isabel II, a ter lugar durante o jantar em honra do presidente Lula, foi noticiado que a polícia do Recife «pegou» um bando de 14 rapazes, alegadamente suspeitos dum «arrastão», lhes deu uma valente carga de porrada e os forçou a saltar dum ponte. Dois deles morreram por não saberem nadar.
Não está previsto que o presidente Lula peça desculpas ao povo brasileiro por estas últimas mortes, nem pelas centenas de assassinatos, cruéis, gratuitos e intencionais, de cidadãos brasileiros que todos os anos ocorrem às mãos da sua polícia, pelos quais o governo brasileiro não paga um real de indemnização às respectivas famílias.
Declaração de interesse:
Diferentemente dos multiculturalistas, relativistas e tropicalistas, o Impertinente tem sérias dúvidas que a genética do povo brasileiro o torne definitivamente infatilizado, irresponsável e, por isso, incapaz de escolher um governo capaz, como parecem pensar as referidas correntes. Pelo contrário, o Impertinente pensa que o povo brasileiro sofre duma doença grave, mas curável. A história não foi generosa, mas a coisa pode talvez compor-se.
É por ter essa ideia que o Impertinente acha que devemos responsabilizar os brasileiros pelo seu destino, em vez de os desprezarmos desculpando-lhes os desatinos e em particular por escolherem governantes corruptos e incompetentes. Em suma, o Impertinente tem uma ideia positiva dos brasileiros e das brasileiras - até tem uma por companhia há mais de 20 anos, que também concorda (mais ou menos) com estas impertinências.
No mesmo noticiário brasileiro (GNT, desta madrugada) em que se anuncia esse pedido de desculpas de Isabel II, a ter lugar durante o jantar em honra do presidente Lula, foi noticiado que a polícia do Recife «pegou» um bando de 14 rapazes, alegadamente suspeitos dum «arrastão», lhes deu uma valente carga de porrada e os forçou a saltar dum ponte. Dois deles morreram por não saberem nadar.
Não está previsto que o presidente Lula peça desculpas ao povo brasileiro por estas últimas mortes, nem pelas centenas de assassinatos, cruéis, gratuitos e intencionais, de cidadãos brasileiros que todos os anos ocorrem às mãos da sua polícia, pelos quais o governo brasileiro não paga um real de indemnização às respectivas famílias.
Declaração de interesse:
Diferentemente dos multiculturalistas, relativistas e tropicalistas, o Impertinente tem sérias dúvidas que a genética do povo brasileiro o torne definitivamente infatilizado, irresponsável e, por isso, incapaz de escolher um governo capaz, como parecem pensar as referidas correntes. Pelo contrário, o Impertinente pensa que o povo brasileiro sofre duma doença grave, mas curável. A história não foi generosa, mas a coisa pode talvez compor-se.
É por ter essa ideia que o Impertinente acha que devemos responsabilizar os brasileiros pelo seu destino, em vez de os desprezarmos desculpando-lhes os desatinos e em particular por escolherem governantes corruptos e incompetentes. Em suma, o Impertinente tem uma ideia positiva dos brasileiros e das brasileiras - até tem uma por companhia há mais de 20 anos, que também concorda (mais ou menos) com estas impertinências.
02/03/2006
AVALIAÇÃO CONTÍNUA: os cueiros, o topete e a luta contra o fassismo
Secção Frases Assassinas
Hoje o professor Freitas do Amaral desceu do seu olimpo privado até ao parlamento e dignou-se revelar-se aos ignaros deputados (numa coisa eu concordo com ele, quanto menos lá for melhor para a sua próstata).
Justamente aborrecido pela rasteira mente dos parlamentares não atingir a elevação do seu pensamento acerca das religiões e do devir histórico, o excelso, irritado com tanta ignorância e indignado com a falta de respeito, fulminou o pobre deputado Telmo Correia: «só espero que para o resto da sua vida sinta algum remorso sabendo o que eu lutei, quando o senhor ainda não era nascido ou andava de cueiros, para haver democracia e liberdade em Portugal (...). É preciso topete!» (Público)
Assim se descobriu mais uma faceta do inefável professor - a faceta anti-fassista, talvez cultivada nos seus múltiplos contactos com os anacletos. O mínimo que o Impertinências lhe pode atribuir por tal revelação são 3 ou 4 chateaubriands. Se o visconde e escritor que dá o nome a este prémio um dia abençoou a divina providência por fazer passar os rios pelo meio das cidades, o excelso professor confunde os seus votos na assembleia da República com lutas pela democracia.
Hoje o professor Freitas do Amaral desceu do seu olimpo privado até ao parlamento e dignou-se revelar-se aos ignaros deputados (numa coisa eu concordo com ele, quanto menos lá for melhor para a sua próstata).
Justamente aborrecido pela rasteira mente dos parlamentares não atingir a elevação do seu pensamento acerca das religiões e do devir histórico, o excelso, irritado com tanta ignorância e indignado com a falta de respeito, fulminou o pobre deputado Telmo Correia: «só espero que para o resto da sua vida sinta algum remorso sabendo o que eu lutei, quando o senhor ainda não era nascido ou andava de cueiros, para haver democracia e liberdade em Portugal (...). É preciso topete!» (Público)
Assim se descobriu mais uma faceta do inefável professor - a faceta anti-fassista, talvez cultivada nos seus múltiplos contactos com os anacletos. O mínimo que o Impertinências lhe pode atribuir por tal revelação são 3 ou 4 chateaubriands. Se o visconde e escritor que dá o nome a este prémio um dia abençoou a divina providência por fazer passar os rios pelo meio das cidades, o excelso professor confunde os seus votos na assembleia da República com lutas pela democracia.
01/03/2006
CASE STUDY: fé limitada nos mercados (2)
E eu não avisei que a onda viria a caminho?
Pois cá está ela. Desta vez cavalgada por Romano Prodi, que se (um grande SE, digo eu) vencer as eleições «vai travar a expansão por parte do BNP Paribas e da Electricité de France em Itália, como forma de retaliação contra aquilo a que considera ser o fracasso da França em abrir os seus mercados». (JN)
Pois cá está ela. Desta vez cavalgada por Romano Prodi, que se (um grande SE, digo eu) vencer as eleições «vai travar a expansão por parte do BNP Paribas e da Electricité de France em Itália, como forma de retaliação contra aquilo a que considera ser o fracasso da França em abrir os seus mercados». (JN)
BLOGARIDADES: mais um aniversário - estamos a ficar velhos
SERVIÇO PÚBLICO: o DNA do grande Khan anda por aí
Por falar em ascensão e queda, ainda falta muito para a invasão dos novos bárbaros?
«Successful male gene lines, though, can be very successful indeed. Students of animal behaviour refer to the top male in a group as the “alpha”. Such dominant animals keep the others under control and father a large proportion, if not all, of the group's offspring. One of the curiosities of modern life is that voters tend to elect alpha males to high office, and then affect surprise when they behave like alphas outside politics too. But in the days when alphas had to fight rather than scheme their way to the top, they tended to enjoy the sexual spoils more openly. And there were few males more alpha in their behaviour than Genghis Khan, a man reported to have had about 500 wives and concubines, not to mention the sexual opportunities that come with conquest. It is probably no coincidence, therefore, that one man in every 12 of those who live within the frontiers of what was once the Mongol empire (and, indeed, one in 200 of all men alive today) have a stretch of DNA on their Y-chromosomes that dates back to the time and birthplace of the great Khan.»(The long march of everyman, Survey: Human Evolution, The Economist)