07/03/2006

ARTIGO DEFUNTO: o português que era dinamarquês

Não precisamos de procurar muito para encontrar exemplos da boa imprensa de que o governo Sócrates desfruta. Um dos mais despudorados é o Expresso, e em particular o caderno de Economia, onde pontifica o inefável manteigueiro doutor Nicolau Santos.

Cada número é exemplar e cada exemplar é um número, escrevia-se no Pif-Paf de Millor Fernandes, e poderia aplicar-se com propriedade ao caderno do doutor Nicolau. A coisa tornou-se sobretudo notória com a vaga inspiradora de auto-estima que ensopa páginas do semanário desde que este governo tomou posse. As criaturas esforçam-se por encontrar pessoas, empresas, projectos, investimentos (principalmente anúncios), factos ocorridos (ou que se supõe virão a ocorrer) ou puramente imaginários, que exemplifiquem a pletora de iniciativas, talentos e ideias de que o país está prenhe.

No último número, que não é especialmente exemplar, podia referir vários casos. Vou referir um só, mas inesperado. Na primeira página, debaixo da gigantesca foto do armador grego George Potamianos, este é citado, referindo-se ao paquete Funchal que salvou da sucata: «Quando o vi perdi a cabeça. O português que o fez era um génio. O casco é o melhor que há no mundo». À pala desta epígrafe, vertem-se na página 13 várias colunas de prosa laudatória e entusiástica sobre o entranhado amor do senhor Potamianos às virtudes do nosso povo.

Não sendo especialmente versado em paquetes e em cruzeiros (apesar de já ter feito várias vezes a travessia do Tejo em cacilheiros, uma delas até à Trafaria), perdida na bruma das minhas memória, encontrei uma conversa com um ex-comandantes do paquete (que, por um acaso da vida, tinha sido meu colaborador noutras paragens) acerca das origens do Funchal. Não batia a bota com a perdigota. Verificados os arquivos, graças ao senhor Carlos Alberto Monteiro, confirmei que «o português que o fez era um génio» dinamarquês.

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