12/03/2006

DIÁRIO DE BORDO: no pasa nada

Durante o meu internetamento de uma semana na clínica de desintoxicação o que se passou no país? A avaliar pelos semanários, que li apressadamente no primeiro dia de alta, o costume, quase nada.

O engenheiro Sócrates esteve na Finlândia a estudar transformismo. Como transformar os portugueses em finlandeses do Mediterrâneo terá ele perguntado aos seus botões? O mais difícil está em vias de ser conseguido, ajudo eu, respondendo. Com mais um ou dois invernos como este e com a falta de aquecimento nas casas portuguesas, estaremos em condições de reproduzir as condições que ajudaram os finlandeses a chegar onde chegaram. Nokias já temos. Até mais do que eles. Solidariedade social já temos. Menos do que eles, é certo, mas quem dá o que tem, a mais não é obrigado. Professores já temos. Até mais do que eles (o Público de 3.ª feira, que li às escondidas na clínica, citava a escola secundária de Ressu em Helsínquia que tem 1 professor para 11 alunos e mantém pelo menos 2 professores em cada sala). Temos até o Plano Tecnológico. O que nos falta afinal?

Já se sabia, mas alguém recordou, que o jovem Belmiro, futuro engenheiro Azevedo, batia nos explicandos para lhes elevar o espírito às alturas do peso molecular, do paralelogramo de forças e da equação do 1.º grau. A falta de sucesso que tem tido a dar com o pau no toutiço dos políticos do país para lhes fazer entrar no bestunto o facto elementar que à economia pouco importam «os 200 palhaços que vão à televisão falar de economia», ajuda-nos a perceber que o futuro do engenheiro não estava, de facto, nas explicações. Ainda bem. Perdemos um explicador, mas ganhámos o maior grupo económico da paróquia.

Ainda não se sabia, mas ficou-se a saber, que o endividamento da banca portuguesa à banca europeia no final de 2005 atingiu 7,6 mil milhões, ou seja qualquer coisa como 3,3% do PIB. Fica-nos o conforto de saber que, se a coisa correr mal, a banca portuguesa ficará em boas mãos - nas mãos de quem tem que recuperar o caroço que lhes emprestou para nós comprarmos as casinhas, os chaços, as férias, e tudo o resto que nos ajuda a esquecer a tristeza que é este vale de lágrimas.

O doutor Sampaio perdeu a última oportunidade para condecorar o Impertinências por relevantes serviços prestados à nação. Tivesse o doutor Sampaio um terceiro mandato, tivessem sido já habilitados com a chapinha todos costureiros da doutora Maria José e, estou certo, chegaria a minha vez.

Quem não perdeu a primeira oportunidade foi o doutor Cavaco Silva. Estreou-se nas lides presidenciais, conseguindo o prodígio de não falar de economia e só esperar do governo que trate dos trabalhos de casa, dispensando-o de mandar mais palhaços à televisão. Que trate da justiça, que trate do ensino, que trate da segurança social, discursou ele para um parlamento aparvalhado pela nostalgia das paixões do engenheiro Guterres e das pré-ocupações do doutor Sampaio. O que para incumbência do governo não é menos, é de mais, mas, vindo de quem vem (um dos criadores do monstro, remember?) a coisa aceita-se.

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