O chefe de estado dum dos países mais civilizados do mundo vai pedir desculpas a outro chefe de estado pela sua polícia (a mais civilizada do mundo) ter morto acidentalmente, por incompetência e (talvez) negligência, no contexto dum atentado terrorista, um cidadão deste segundo estado, estado dum país pouco civilizado que tem uma das polícias mais bárbaras, incompetentes e prepotentes de todo o mundo. Por essa morte, o governo do primeiro país já pagou à família do cidadão do segundo país uns milhões de euros a título de indemnização.
No mesmo noticiário brasileiro (GNT, desta madrugada) em que se anuncia esse pedido de desculpas de Isabel II, a ter lugar durante o jantar em honra do presidente Lula, foi noticiado que a polícia do Recife «pegou» um bando de 14 rapazes, alegadamente suspeitos dum «arrastão», lhes deu uma valente carga de porrada e os forçou a saltar dum ponte. Dois deles morreram por não saberem nadar.
Não está previsto que o presidente Lula peça desculpas ao povo brasileiro por estas últimas mortes, nem pelas centenas de assassinatos, cruéis, gratuitos e intencionais, de cidadãos brasileiros que todos os anos ocorrem às mãos da sua polícia, pelos quais o governo brasileiro não paga um real de indemnização às respectivas famílias.
Declaração de interesse:
Diferentemente dos multiculturalistas, relativistas e tropicalistas, o Impertinente tem sérias dúvidas que a genética do povo brasileiro o torne definitivamente infatilizado, irresponsável e, por isso, incapaz de escolher um governo capaz, como parecem pensar as referidas correntes. Pelo contrário, o Impertinente pensa que o povo brasileiro sofre duma doença grave, mas curável. A história não foi generosa, mas a coisa pode talvez compor-se.
É por ter essa ideia que o Impertinente acha que devemos responsabilizar os brasileiros pelo seu destino, em vez de os desprezarmos desculpando-lhes os desatinos e em particular por escolherem governantes corruptos e incompetentes. Em suma, o Impertinente tem uma ideia positiva dos brasileiros e das brasileiras - até tem uma por companhia há mais de 20 anos, que também concorda (mais ou menos) com estas impertinências.
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