30/11/2004

ESTÓRIA E MORAL: O curriculum não engana. (ACTUALIZADO)

Estória
De acordo com a sondagem da Universidade Católica citada pelo PÚBLICO, o governo do doutor Santana Lopes é mau ou muito mau para 55% dos inquiridos, o que bate o recorde anterior (52%) de Julho de 2001 no 2.º consolado do engenheiro Guterres.

Aparentemente, não haveria razões para surpresas. Só algumas luminárias escreventes nos jornais lhe anunciavam um futuro radioso e a generalidade dos comentadores não dava um chavo pelas suas competências. Quem conhecesse o curriculum do doutor Lopes não deveria esperar grande coisa ou coisa muito diferente. Apesar disso, 50% dos inquiridos parecem ter sido surpreendidos queixando-se do governo ser "pior do que esperava". Isto não é culpa do doutor Lopes que, esforçadamente, nos últimos vinte anos, tornou a sua vida o mais pública possível.

Em conclusão, na melhor hipótese, os portugueses talvez retirem do consolado do doutor Lopes as devidas consequências e, após o máximo de 2 anos de desgovernação, dão-lhe guia de marcha para o limbo da política, por uma década. Apesar de ser um preço bastante alto, tenho que concordar que será preferível a uma legislatura completa.

Moral
É possível enganar toda a gente durante algum tempo e é possível enganar alguns toda a vida, mas não é possível enganar todos para sempre.

ACTUALIZAÇÃO:
Mais depressa eu escrevesse este post (era para ser de manhã), mais depressa o doutor Sampaio, roído de arrependimento há dois meses, entregava a guia de marcha ao doutor Lopes. Mas, não se engane o doutor Sampaio, a capacidade de vitimização do Lóló é quase infinita, bem como a parvoíce do bom povo.

29/11/2004

TRIVIALIDADES: O que fariam os portugueses libertos da tutela do estado?

Vá-se lá saber porquê, quando li esta anedota que mão amiga me enviou, lembrei-me da «desconfiança da livre iniciativa e do mercado enterrada nas entranhas de cada português» e da obsessão lusitana de viver sob a protecção dum estado omnipresente, imaginando o que aconteceria se um belo dia os portugueses amanhecessem libertos do estado.
As estátuas
Num jardim encontravam-se duas estátuas, de frente uma para a outra. Uma feminina, outra masculina. Um dia apareceu um anjo que lhes disse:
- Como vocês têm sido duas estátuas exemplares, trazendo tanto deleite a quem vos contempla, vou-vos conceder 30 minutos de vida, para que possam durante esse tempo, fazerem o que vos apetecer. Assim que o anjo se calou, as estátuas ganharam vida. Olharam uma para a outra, sorriram e correram para trás de uns arbustos. O anjo sorriu ao ouvir os seus risinhos, enquanto se ouvia o barulho dos arbustos e o restolhar das folhas. 15 minutos depois, as duas estátuas saíram de trás dos arbustos, com uma expressão de grande satisfação. O anjo ficou algo confuso e perguntou-lhes:
- Ainda vos restam 15 minutos! Não querem aproveitar esse tempo? A estátua masculina olhou para a sua companheira e perguntou-lhe:
- Queres repetir?
Sorrindo a estátua feminina respondeu:
- Claro! Mas desta vez, seguras tu no pombo e cago-lhe eu na cabeça.

28/11/2004

SERVIÇO PÚBLICO: Se é isso, então demita-se.

No dia 24 os membros da Ordem dos Economistas receberam da Ordem o seguinte email:
«Por iniciativa conjunta da Ordem dos Economistas e da SEDES, o Senhor Ministro das Finanças vai proferir uma conferência, seguida de debate, sobre o Orçamento para 2005.
Esta conferência terá lugar no próximo dia 30 de Novembro de 2004, pelas 21 horas, nas instalações do Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG) - Rua do Quelhas (entrada pela Rua das Francesinhas).
Apela-se à comparência e participação dos Economistas nesta realização conjunta da Ordem dos Economistas e da SEDES.
»
No dia seguinte foi enviado outro email, desta vez assinado pelo Bastonário doutor Simões Lopes:
«Por motivos imponderáveis não se vai realizar, conforme anteriormente anunciado, a Conferência do Senhor Ministro das Finanças sobre o Orçamento de Estado para 2005, prevista para o dia 30 de Novembro às 21 horas no ISEG, numa realização conjunta deste Instituto, desta Ordem e da SEDES.»
Se os motivos imponderáveis são a vergonha de enfrentar os seus colegas para justificar uma das maiores operações de engenharia orçamental montada neste país [ver, por exemplo, «Bagão vai ao fundo»], então a sua ausência está justificada, e espera-se uma demissão nos próximos dias.

26/11/2004

DIÁRIO DE BORDO: Good vibrations.

Não se imagine que o Impertinências só vê buracos no queijo dos baby boomers, essa geração do make love not war, better red than dead, la plage sous le pavé, e outros dislates piores. Nada disso. Afinal, os baby boomers fizeram bem a primeira parte do trabalho - subverteram valores patologicamente reaccionários. Mas estragaram quase tudo quando, em vez de educarem os filhos, lhes transmitiram aquelas tretas que tinham servido para enfurecer os pais deles. O resultado da receita está à vista: olhem para os rapazes do radical chic, a masturbarem-se para o umbigo, incompetentes para ter uma família normal, incapazes de manterem filhos, ainda menos de os educarem.

Mas nem tudo se resume àquela tralha ideológica. Por exemplo, olhe-se para a herança deste baby boomer atrasada quase 40 anos. Ou melhor, escute-se o último sorriso dele - pop em estado puro onde está completamente ausente a obsessão de fazer de cada canção um manifesto da treta.

25/11/2004

SERVIÇO PÚBLICO: Efeméride. (ACTUALIZADO)

Hoje foi um dia de luto para a esquerdalhada, desde os comunistas do cretácico até ao radical chic do paleoceno, passando pelo esquerdismo juvenil e senil, excluindo apenas os maoistas do MRPP.
Faz hoje 30 (*) anos a facção moderada da tropa (o grupo dos Nove) levou a cabo (só podia ser), com sucesso, um golpe (ou seria um contra-golpe?) levando de vencida o contra-golpe (ou seria um golpe?) da facção esquerdizante. Graças a esses moderados, esta jangada de pedra em que vivemos escapou ao destino de república socialista soviética, que lhe reservavam os que hoje estão de luto.
(*) Escreveu um detractor habitual do Impertinências que pareço um adiantado mental: o golpe (ou o contra-golpe, sabe-se lá) dos Nove tem 29 anos, só no próximo ano fará 30.

SERVIÇO PÚBLICO: Os alemães cheiram mal do sovaco.

O canal alemão ZDF filmou, em segredo, uma cerimónia numa mesquita de Berlim em que o pregador muçulmano disse aos fiéis:
«Estes alemães, estes ateístas, estes europeus não rapam os sovacos e o seu suor acumula-se sob os cabelos soltando um cheiro repelente que fede. Infiéis para o inferno! Abaixo as suas democracias e todos os democratas!» [Lido em Davids Medienkritik]
Por uma vez o Impertinências concorda com um mullah no que respeita ao sovaco dos alemães.


[Mullah insultando o sovaco germânico]

24/11/2004

SERVIÇO PÚBLICO: A herança de Arafat.

O ruído à volta da morte de Arafat, o histerismo durante o seu funeral na Muqata (vem a propósito lembrar o post «Muqata, banana e cola» do Homem a Dias) e a hipocrisia oficial e partidária apagaram convenientemente vários factos. Como os discursos dissonantes: em inglês (protestando amor à paz) e árabe (incitando ao terror). Como o deitar pela borda a proposta que lhe fora feita, em 2000 em Camp David, pelo então primeiro ministro israelita Ehud Barak, que incluía o abandono por Israel da faixa de Gaza, de partes de Jerusalém oriental e da maior parte da Margem ocidental. Ao mesmo tempo que rejeitava essa proposta, Arafat lançava a segunda Intifida, torrando qualquer hipótese de acordo, fazendo cair o governo de Barak e abrindo caminho para o falcão Sharon.

Vem isto a propósito de quê? Vem a propósito de Barak, agora ressuscitado para a política, pretender a realização de eleições antecipadas no próximo ano e, caso as ganhe e à liderança do partido Trabalhista, se preparar para oferecer à nova chefia palestina o mesmo que Sharon, acrescido de cerca de 90% da margem ocidental. Isto é Barak oferecerá em 2005 substancialmente menos do que oferecera a Arafat em 2000.

É esta a herança de Arafat. Sem esquecer os 1,3 mil milhões de euros que estão a ser disputados entre a OLP e a sua inconsolável viúva.

23/11/2004

O IMPERTINÊNCIAS FEITO PELOS SEUS DETRACTORES: Há pior do que a imprensa regional portuguesa subsidiada?

Talvez. É o que se pode concluir pela amostra seguinte da imprensa regional francesa (subsidiada) que um detractor não residente enviou ao Impertinências:

Très gravement brûlée, elle s'est éteinte pendant son transport à l'hôpital.
(Dauphiné Actualité)

Des trous dans sa culotte laissaient entrevoir une famille pauvre.
(Le Parisien)

La conférence sur la constipation sera suivie d'un pot amical.
(Ouest-France)

Il abusait de la puissance de son sexe pour frapper son ex-épouse.

Ses hémorroïdes l'empêchait de fermer l'oeil.

Il y aura un appareil de réanimation dernier cri.

En raison de la chaleur, les musiciens ne porteront que la casquette de l'uniforme.

(Ouest France)

L'individu n'était pas à prendre avec du pain sec.

M. Jean C. remercie chaleureusement les personnes qui ont pris part au décès de son épouse.

Ses dernières paroles furent un silence farouche.

L'église étant en travaux, ses obsèques ont été célébrées à la salle des fêtes.

Tous portaient une crêpe à la boutonnière.

Comme il s'agissait d'un sourd, la police dut pour l'interroger avoir recours à l'alphabet braille.

Ayant débuté comme simple fossoyeur, il a, depuis, fait son trou.

Détail navrant, cette personne avait déjà été victime l'an dernier d'un accident mortel.

Quand vous doublez un cycliste, laissez lui toujours la place de tomber.

(Le Républicain Lorrain)

Les mosquées sont très nombreuses car les musulmans sont très chrétiens.
Il remue la queue en cadence comme un soldat à la parade.

Tombola de la Société Bayonnaise des Amis des Oiseaux : le numéro 5963 gagne un fusil de chasse.

A aucun moment le Christ n'a baissé les bras.

(Le Paroissien de Lamballe)

Le syndicat des inséminateurs fait appel à la vigueur de ses membres.

Les kinés se sont massés contre les grilles de la préfecture.

(Presse Océan)

Visiblement, la victime a été étranglée à coups de couteau.
(Journal du Dimanche)

A Montaigu, la fête du 1er mai aura lieu le 1er mai.
(Le Rouge Choletais)

Journée du sang : s'inscrire à la boucherie.
(Presse Océan)

ADITAMENTO:
Qualquer detractor habitual que envie uma tradução correcta destas besteiras ao Impertinências ganha uma proposta de inscrição no BE (fracção IV Internacional) ou na ala gauche do PS (com direito a uma entrevista com o filósofo e professor Manuel Maria Carrilho) e uma viagem a Nanterre para almoçar com o doutor Eduardo Lourenço.

22/11/2004

DIÁRIO DE BORDO: A poesia e o ocultismo nas provas de admissão para futuros desempregados. (ACTUALIZADO)

Um leitor habitual enviou ao Impertinências (e a mais 135.433 amigos dele) um poema de autor desconhecido (*), que poderia muito bem fazer parte duma prova nacional conjunta de Português e Matemática para admissão a qualquer um dos 1.637 cursos que constituem a oferta das nossas universidades aos jovens candidatos a futuros desempregados. Só seriam admitidos os candidatos que conseguissem explicar em verso branco todo o significado oculto que perpassa pelo poema (a referência ao ocultismo parece-me apropriada - quem não concorda que a matemática é uma ciência oculta aos tenros cérebros dos nossos jovens infantes?).

Matemática lírica

Um Quociente apaixonou-se
Um dia
Doidamente
Por uma Incógnita.

Olhou-a com seu olhar inumerável
E viu-a, do Ápice à Base...

Uma Figura Ímpar;
Olhos rombóides, boca trapezóide,
Corpo ortogonal, seios esferóides.

Fez da sua
Uma vida
Paralela à dela.

Até que se encontraram
No Infinito.

"Quem és tu?" indagou ele
Com ânsia radical.

"Sou a soma do quadrado dos catetos.
Mas pode me chamar de Hipotenusa."

E de falarem descobriram que eram
- O que, em aritmética, corresponde
A almas irmãs -
Primos-entre-si.

E assim se amaram
Ao quadrado da velocidade da luz.

Numa sexta potenciação
Traçando
Ao sabor do momento
E da paixão
Rectas, curvas, círculos e linhas senoidais.

Escandalizaram os ortodoxos das fórmulas euclidianas
E os exegetas do Universo Finito.

Romperam convenções newtonianas e pitagóricas.
E, enfim, resolveram se casar

Constituir um lar.
Mais que um lar.
Uma Perpendicular.

Convidaram para padrinhos
O Poliedro e a Bissectriz.

E fizeram planos, equações e diagramas para o futuro
Sonhando com uma felicidade
Integral
E diferencial.

E se casaram e tiveram uma secante e três cones
Muito engraçadinhos.

E foram felizes
Até aquele dia
Em que tudo, afinal,
Vira monotonia.
Foi então que surgiu
O Máximo Divisor Comum...

Frequentador de Círculos Concêntricos.
Viciosos.
Ofereceu-lhe, a ela,
Uma Grandeza Absoluta,
E reduziu-a a um Denominador Comum.

Ele, Quociente, percebeu
Que com ela não formava mais Um Todo.
Uma Unidade.

Era o Triângulo,
Tanto chamado amoroso.
Desse problema ela era a fracção
Mais ordinária.

Mas foi então que Einstein descobriu a
Relatividade.
E tudo que era espúrio passou a ser
Moralidade
Como aliás, em qualquer
Sociedade.

ACTUALIZAÇÃO:
(*) O leitor habitual esqueceu-se de dizer que o poema não é de autor desconhecido. É do Millôr Fernandes. É muito difícil ter leitores decentes nos tempos que correm. A coisa só se desculpa porque, na prova de admissão que sugiro, qualquer das duas respostas à pergunta sobre a autoria feita aos infantes deveria ser considerada certa.
Seja como for, a verdade é que no Impertinências cada post não é um número e cada número não é exemplar.

21/11/2004

PUBLIC SERVICE: PEST is the suffering of Kerry supporters.

PEST Problem? Hope Is on the Way
Post Election Selection Trauma is no joke, say mental health officials in south Florida, and they don't appreciate talk-show host Rush Limbaugh's recent offer of "free therapy" for traumatized John Kerry supporters. "He's trying to ridicule the emotional state this presidential election produced in many of us.... Who is he to offer therapy?" asked a licensed clinician. According to the American Health Association, PEST is a real disorder, and the nonprofit is offering free group-therapy sessions for the afflicted. But the health association says that, thanks to Limbaugh, its phone lines are now clogged with both gloating and supportive Republicans, in addition to distraught Kerry supporters. Said a trauma specialist, "Many people have serious emotional pain over this election and it's unhealthy to stuff it down inside of you. Therapy is the best way."
[Jenny McKeel, Furthermore, Wired News, Nov 17th]

Is clear now why those suffering creatures feel sorry and had to have a Sorry Everybody site.

20/11/2004

LOG BOOK: Who is the racist?

Bush's appointees:

  • Colin Powell, former secretary of state - first black man to hold the post
  • Condoleezza Rice, current secretary of state - first black woman to hold the post
  • Rod Paige, former secretary of education - first black to hold the post
  • Ann Veneman, former secretary of agriculture - first woman to hold the post
  • Alberto Gonzales, attorney general (to be confirmed) - first Hispanic to hold the post
  • other posts in Bush's cabinet: an Arab-American and two Asian-Americans.

W, by ignoring race, makes racial history», M. Goodwin - via Dissecting Leftism]

Now you are ready to enjoy an irredeemable leftist cartoon (Le Monde):

«No way you can be more racist that the French» [¡No Pasarán!]

19/11/2004

SERVIÇO PÚBLICO: Dilemas e trilemas.

«Repatriados da Costa do Marfim relatam violações de "mulheres brancas"»
«Uma mulher petrificada, alheada de tudo, tinha de ser sustida de pé por dois soldados, acabou por contar o seu calvário: violada por vinte e três homens, na presença do filho pequeno e do marido, que tinha uma pistola apontada à cabeça.»
Devemos levar isto à conta do multiculturalismo ou os criminosos têm que ser julgados e punidos?

«Agência de refugiados da ONU abandona Darfur»
«Nova resolução do Conselho de Segurança não prevê sanções contra o Sudão»
Devemos levar isto à conta do multilateralismo, ficamos a recitar o princípio da não ingerência enquanto o governo do Sudão acaba o trabalho ou pedimos à potência imperial para tomar conta do assunto?

18/11/2004

TRIVIALIDADES: Alguém anda a coimar o doutor Ruas. Será o burro ou o cigano?

«O presidente da Câmara de Viseu, Fernando Ruas, criticou hoje a "febre de coimar" que diz ter atingido, nos últimos meses, os funcionários do Ministério do Ambiente, em relação a obras no concelho.
"Não é possível, em sede de Junta de Freguesia e muito menos do município, andarmos a tratar do bem comum e estarmos com um olho no burro e outro no cigano, com medo que venha o Ministério do Ambiente", disse Fernando Ruas aos jornalistas no final da reunião.»
(Público)

DIÁRIO DE BORDO: Perdei toda a esperança vós que esperais.

O 1º Congresso de Democracia, que serviu de púlpito ao Picareta Falante para anunciar urbi et orbi a sua descida do olimpo até ao pântano, também serviu para outros propósitos mais úteis.

O doutor Vitor Constâncio produziu um discurso notável pela clareza do pensamento, pelo rigor do diagnóstico e pela consistência das políticas e medidas propostas. Vale a pena lê-lo aqui.

Infelizmente, a esse discurso pode aplicar-se a boutade «há microeconomia e há má economia». E a razão é a mesma que justifica o segundo reparo: a doutrina económica do doutor Constâncio está irremediavelmente contaminada pelo papel central na economia que é atribuído ao estado e pelo paradigma do estado providência. Todas as soluções que ele vê para escapar ao atraso passam por uma forte intervenção do estado.

Mas não tenhamos ilusões, a doutrina subjacente ao discurso é porventura o mais longe que em matéria de política económica será possível ir neste país que tem a cultura mais colectivista da Europa (ver, uma vez mais, os estudos de Hofstede).

Desiludam-se os libertários e os liberais old fashioned. Serão (seriam) precisas gerações para corroer este amor extremado ao estado e esta desconfiança da livre iniciativa e do mercado enterrada nas entranhas de cada português. É por isso que os liberais, esses linces da serra da Malcata da política, terão que continuar a escolher o mal menor até ao fim dos tempos.

17/11/2004

DIÁRIO DE BORDO: Desculpo-os porque eles não sabem o que fazem.

Uns quantos eleitores do no-Bush resolveram pedir desculpa ao mundo pelo seu insucesso e criaram o site Sorry Everybody, que segundo a Wired News já teve 27 milhões de hits.
Se o resultado tivesse sido outro esperariam estes tolos que o resto do mundo lhes desse os parabéns?
O politicamente correcto ianque está irremediavelmente infectado de megalomania.

CASE STUDY: A TREC (Trasfega Revolucionária Em Curso)

A notícia do encerramento anunciado de dois notórios tanques de criogénio repletos de mentes encalhadas no tempo já tem umas semanas. O Impertinências não se apressou a comentá-la porque estamos a falar da antiguidade e, nestas matérias, não há urgências.

Com grande sincronismo, vão fechar para reciclagem duas organizações revolucionárias dos anos 70, elas próprias inspiradas em criaturas dos anos cinquenta, chegadas a Portugal atrasadas, bolorentas e fora do prazo de validade. Uma, a União Democrática Popular (UDP), uma frente popular para acolher, segundo o modelo estalinista, o povo liderado pela sua vanguarda, na circunstância o PCP(Reconstruído). A outra, o Partido Socialista Revolucionário, um apêndice duma coisa chamada Liga Comunista Internacionalista, coisa essa enxameada de fervorosos seguidores do homem em cuja cabeça o camarada Estaline (cujos fervorosos seguidores enxameavam a UDP) tinha mandar enterrar um picador de gelo, na cidade do México, no intervalo de duas levas duns milhões de contra-revolucionários enviados para apodrecerem no gulag, onde a vanguarda do proletariado costumava enterrar em vida os inimigos da revolução.

E porquê vão fechar? No caso da UDP, «tem a ver com duas razões. Por um lado, com a prática do Bloco de Esquerda, que é um projecto com sucesso que tem marcado a situação política nacional. Por outro, com as exigências da lei». No caso do PSR, «é a evolução natural e coerente».

E pronto. Enquanto não chega a ditadura do proletariado, lá vão os rapazes entreter-se a fumar uns charros, trocar de namoradas e fazer umas maninfestações enquanto esperam os amanhãs que cantam.

Veja AQUI o franchising Gulag - «um projecto com sucesso».

16/11/2004

LOG BOOK: I'm a sceptic and I want "liberal" back to its original owner.

«Yet there ought to be a word - not to mention, here and there, a political party - to stand for what liberalism used to mean. The idea, with its roots in English and Scottish political philosophy of the 18th century, speaks up for individual rights and freedoms, and challenges over-mighty government and other forms of power. In that sense, traditional English liberalism favoured small government - but, crucially, it viewed a government's efforts to legislate religion and personal morality as sceptically as it regarded the attempt to regulate trade (the favoured economic intervention of the age). This, in our view, remains a very appealing, as well as internally consistent, kind of scepticism.
Better to hand "liberal" back to its original owner. For the use of the right, we therefore recommend the following insults: leftist, statist, collectivist, socialist. For the use of the left: conservative, neoconservative, far-right extremist and apologist for capitalism. That will free "liberal" to be used exclusively from now on in its proper sense, as we shall continue to use it regardless. All we need now is the political party.
»

[The Economist, Nov 4th 2004]

15/11/2004

BLOGARIDADES: Mais palavras para quê? Está lá tudo.

A blogosfera é um vasto oceano efervescente de vida e de talento. Até na minúscula bloguilha, muitos blogonautas domésticos fabricam uma vasta quantidade de bytes de grande qualidade. Mesmo a esquerdalhada, às vezes, raramente, produz algumas coisas de jeito. O que não é dizer pouco - é um gesto de grande tolerância do Impertinências que não se repetirá antes do Natal.

É difícil para o Impertinências cuidar da vida e seguir regularmente mais do que umas poucas dezenas de blogues. Mas isso não desculpa passar este tempo sem visitar Semiramis - que poderia ter já sido levada pelas pombas, depois de ter morto mais um dos seus namorados.

Cheguei lá via um link ao post Politicamente correcto. Mais palavras para quê? Está lá tudo.

14/11/2004

TRIVIALIDADES: O Picareta Falante está de volta.

Afinal as notícias sobre a agonia do engenheiro Guterres pela política nacional desde que terminou o seu consolado são grandemente exageradas. Ele voltou. O chefe do pior governo desde dona Maria II, de acordo com o seu falecido ministro das Finanças, voltou igual a si próprio: um grossista de sound bites.
E voltou porquê? Segundo comentadores geralmente bem informados, para preparar a sua candidatura ao lugar mais apetecido por qualquer político português em trânsito para a reforma. Mas o Impertinências tem outra tese: o Picareta Falante voltou porque o seu título de chefe do pior governo desde dona Maria II está ameaçado por outro grande grossista de sound bites: o doutor Lopes, himself.

TRIVIALIDADES: Afinal o que se passou em Barcelos?

«Santana Lopes quer liderar o Governo até 2014»
É este o rapaz do casino errante e do túnel interruptus que há 6 meses queria ser presidente da República? Estamos a falar do mesmo?

«Congresso do PSD: moção de Santana Lopes aprovada sem votos contra»
Congresso do quê? Santana de quem? Não queriam eles dizer PCP e Jerónimo de Sousa?

13/11/2004

SERVIÇO PÚBLICO: A Sociedade da Informação.

«Ora aqui está: um simpático contribuinte (com os impostos em dia), que tenha o azar de lhe roubarem a carteira e a sorte de se poder deslocar a Lisboa com alguma facilidade, terá que despender 45 euros e gastar 347 minutos (excluindo tempo e gastos com deslocações) do seu tempo (do patrão, que com grande probabilidade podem ser os contribuintes) para substituir o BI, Carta de condução, cartão de contribuinte e cartão da segurança social.
Nem sequer falo dos 20 euros que tive que pagar pela substituição de 2 cartões MB, nem tão pouco com o cancelamento dos 2 cartões de crédito que tenho (um custou 35 euros). Quanto à carteira propriamente dita, podemos sempre recorrer à do nosso avô, a cheirar a mofo, mas que aguentará até ao próximo Natal.
Perguntei-me constantemente: porquê tanta burocracia ? porquê tantos cartões ? porque não simplificar, com uma única base de dados, mesmo que queiram manter o merdoso n.º do BI, NIF, SS e por aí fora ? Estúpido, eu, claro ! A resposta é óbvia: aumentaria o desemprego e a paz social ficaria seriamente agitada. Mas não sairá mais barato ao País, pagar os salários destes vampiros da vaca marsupial pública, mas poupar tempo e dinheiro aos contribuintes e aos respectivos patrões, através da modernização dos sistemas e dos processos da vaca ? Continuem a falar de aumento de produtividade, continuem...
»

[Relato dum leitor e amigo do Impertinências a quem foram à carteira várias vezes. Só da primeira vez é que não deu por isso.]

Está por pouco esta horrenda complicação. Não tarda o doutor Lopes, com uma "dedicação sem precedentes", vai trazer até nós a Sociedade da Informação.

12/11/2004

ESTÓRIA E MORAL: O apagador de promessas (Capítulo 3)

Estória
«A apresentação da estratégia para a Sociedade da Informação reuniu ... dez ministros e vinte secretários de Estado, além de presidentes de câmara, associações e afins ... que ouviram Santana Lopes prometer "uma dedicação sem precedentes do Governo" a esta área. A Sociedade da Informação tem sido, de resto, uma paixão de vários executivos.» , conta-nos o DN.

O engenheiro Guterres durante o seu consolado teve duas paixões: a educação e a justiça. O doutor Lopes nos seus mais modestos consolados, regista três: a pala do Sporting, o casino errante e o túnel interruptus.

Deus nos livre e salve a Sociedade da Informação das promessas de "dedicação sem precedentes" do doutor Lopes, para já não falar da sua paixão ou das juras de amor eterno.

Moral

Todas as paixões, como o nome indica, vêm do facto de sofrermos em vez de governarmos (Alain-Fournier)

11/11/2004

SERVIÇO PÚBLICO: O modelo do costume.

O INE publicou ontem as «Estatísticas do Comércio Internacional - Janeiro a Agosto de 2004». O défice da balança comercial aumentou 20,3% relativamente ao período homólogo do ano passado, resultado das importações terem aumentado 1,3 mil milhões de euros contra apenas 0,3 mil milhões de euros das exportação. Os maiores aumentos das importações intracomunitárias (o INE não desagrega fora da UE por grupos de produtos) são nos grupos de produtos Veículos e outro material de transporte (0,41 mil milhões de euros) e Máquinas e aparelhos (0,39 mil milhões de euros). Não me cheira que a maior parte sejam bens de investimento (*).

O modelo do costume continua de boa saúde. Continua a ser o consumo que puxa pela economia e não o investimento. Consumo que, como era de esperar, puxa pelas importações (bom, o investimento também puxaria, mas mais tarde sempre poderia empurrar as exportações). Importações que agravam o défice da balança comercial. No passado, a coisa levaria, mais tarde ou mais cedo, a uma desvalorização do escudo, agora leva a um progressivo endividamento ao exterior. E a que leva o endividamento ao exterior? A várias coisas possíveis. Uma delas, especialmente abominada pelo coro choroso das classes empresarial e política, é a transferência dos centros de decisão para o exterior. Empresas soterradas por passivos cada vez maiores são um brinde para quem as quiser comprar, pois claro.

Não há almoços à borla.

(*) A coisa tem que ir pelo cheiro porque o INE não desagrega Veículos e outro material de transporte que inclui dois capítulos da Nomenclatura Combinada em que o 86 são só bens de investimento (possivelmente com pouco peso) e o 87 terá um parte substancial de bens de consumo duradouro. Como não desagrega Máquinas e aparelhos que inclui dois capítulos da Nomenclatura Combinada - o 84 são só bens de investimento (no caso com pouco peso) e o 85 só terá bens de consumo duradouro.

DIÁRIO DE BORDO: O mundo fica melhor. (ACTUALIZADO)

Morre Arafat e desaparece um terrorista sanguinário (entre muitos outros milhares, lembro os 11 atletas israelitas friamente assassinados nos Jogos Olímpicos de Munique de 1972, pela facção Setembro Negro da OLP), um ditador sem escrúpulos e um corrupto que sugou o dinheiro das ajudas ao povo palestino para se tornar um dos mais ricos do mundo (ver, por exemplo, «Auditing Arafat» na Forbes).

A fraqueza e capitulação do ocidente concederam um prémio Nobel da Paz, a quem nunca a quis, mas isso não lava os crimes de Arafat.

O mundo fica melhor e o povo palestino ganha uma oportunidade para resolver o seu destino. E todos nós temos a oportunidade de assistir ao circo global de patetice, cinismo, hipocrisia e cobardia, que partidos, governos e luminárias estão já a montar para chorar a morte do terrorista, ditador e corrupto.

ACTUALIZAÇÃO:
«As Brigadas dos Mártires de Al-Aqsa - que decidiram mudar o nome para Brigadas do Mártir Yasser Arafat - mostraram a sua face mais dura e culparam o Governo israelita pela morte do "rais". Este grupo, próximo da Fatah de Arafat, já fez saber que irá atacar Israel "por todos os lados".»
O mundo continua um lugar perigoso.

10/11/2004

DIÁRIO DE BORDO: Há 15 anos, foi bonita a festa, pá.

Fez ontem 15 anos o muro de Berlim colapsou. Foi bonita a festa, pá. Para um irremediável pessimista social as festas acabam depressa e ficam as ressacas. Os sonhos de paz eterna já se esfumaram. O mundo voltou a ser aquilo que sempre foi e sempre será - um lugar perigoso para se viver.

Já era um lugar perigoso para viver há 66 anos, precisamente no mesmo dia 10 de Novembro, na Noite de Cristal, em que 35.000 judeus foram arrebanhados de suas casas pelos nazis.

Continua a ser um lugar perigoso, mesmo na pátria da tolerância onde esta noite o terrorismo voltou a dar sinais.

Continuará a ser um lugar perigoso para viver, apesar dos esforços do nosso governo que vai passar a aplicar coimas ao fabrico de armas químicas. Como 60% dessas coimas serão receita do OE, ora aqui está uma oportunidade de reduzir o défice.

ESTÓRIA E MORAL: O apagador de promessas (Capítulo 2)

Estória
Para não ficar atrás do primeiro ministro, o doutor Mexia, depois de se propor esfarrapar em 2005 as receitas das portagens a partir de 2035, que serão compensadas com os cobres a esbulhar aos meus netos, promete em Bragança 800 milhões de euros para estradas no Nordeste Transmontano, o que facilitará a fuga ao atraso, em direcção a Espanha ou ao Porto.
Se os cobres dos meus netos não chegarem para asfaltar o atraso, o doutor Mexia pode pedir ao doutor Bagão Félix alguns dos cobres que os funcionários da Caixa e do Banco de Portugal puseram de parte para a sua velhice e que ele se propõe entornar para dentro do buraco orçamental deste ano.

Moral
«Quando tudo o que se tem é um martelo, tem-se tendência para ver tudo como pregos» (Lei de Maslow).

09/11/2004

SERVIÇO PÚBLICO: A conspiração do silêncio.

Isto, citado aqui, que se murmura há imenso tempo, a propósito de Arafat, e de que existem 350.000 referências na internet pode ser verdade ou ser mentira. Se for verdade, só terá alguma importância por ser um comportamento duramente condenado e punido pela lei islâmica. Mas, verdade ou mentira, porque não se fala disso nos média institucionais que dão abrigo aos maiores disparates a respeito dos suspeitos do costume? Porquê, por exemplo a imprensa francesa, que trata respeitosamente o terrorista e ditador Arafat por Monsieur Arafat, escreve sobre um Bush que hipoteticamente sorveria linhas de coca, mas omite qualquer referência às hipotéticas perversões de Arafat?
Um exemplo perfeito do enviesamento dos média infestados, um pouco por todo o lado, pela esquerdalhada sempre pronta a perdoar os seus ídolos.
Não podia vir mais a propósito adicionar à secção «Internacional Impertinente» o blogue politicamente incorrecto Davids Medienkritik dedicado à denúncia do enviesamento nos média alemães.

BLOGARIDADES: Trasladação de VALETE FRATES! seguida dos limites à inteligência da esquerda inteligente.

O VALETE FRATES!, um «Blog filo-americano, anti-comunista e defensor da economia de mercado» e «papista», residente no «Repositório Liberal» aqui ao lado, teve o seu passamento no dia 3. Já tratei da sua trasladação para a campa «Baixas em combate», onde fica em boa companhia.

A Praia, o único blogue residente na secção «Espécies Ameaçadas», mais abaixo, exemplifica aqui como há um limite para tudo na vida. Por exemplo, para a inteligência da esquerda inteligente, que não resiste a insinuar a estupidez dos que escolhem o que ela rejeita («mesmo os apoiantes de Bush devem dar-se conta»), como se fosse o Impertinências nos seus piores dias.

Esquerda inteligente (segundo o Glossário)
Há quem defenda que existe uma contradição nos termos esquerda e inteligente. Mas são fanáticos de direita a quem não devemos emprestar os ouvidos.
Definir esquerda é complicado, mas é possível formular a coisa duma forma simples. Para mim, esquerda é o credo que sacrifica a liberdade em nome da igualdade, na dúvida (esquerda «democrática») ou sempre (a «outra» esquerda). Dependendo do tamanho da certeza ou da dúvida, podemos aqui meter toda a gente de esquerda – desde o doutor José Estaline, que nunca tinha dúvidas e raramente se enganava, até ao engenheiro Guterres, que só tinha dúvidas e estava sempre a enganar-se.
Definir inteligente é estupidamente difícil. Para simplificar, inteligente é aquilo que consigo suportar sem agonia – é um bocado subjectivo, mas o blogue é meu.

08/11/2004

AVALIAÇÃO CONTÍNUA: O camarada, qual índio Tupi, na rapidez da caminhada, deixou a alma para trás.

Secção Padre Anchieta
Segundo o dirigente comunista Angelo Alves, a eleição de George W. Bush foi um «rude golpe no que resta da democracia nos EUA».
Para felicidade do camarada Alves e nosso gáudio, o que falta na democracia nos EUA, podemos encontrar, durante mais algum tempo, em Cuba e na Coreia do Norte, onde os mesmos líderes escolhem há décadas, sabiamente, os mesmos povos.
À míngua de mais, merece o camarada o máximo de 5 bourbons que o Impertinências reserva para estas ocasiões.

07/11/2004

DIÁRIO DE BORDO: «Está tudo dito».

«Nunca me senti francês em França como me senti americano nos EUA. ... Perguntavam-lhe (à mulher) se eu era jardineiro do INSEAD. ... A França é governada pela direita com um aparelho estatal e económico para manter tudo como está, corporativista; a Inglaterra governada pela esquerda está plena de dinamismo, e de iniciativa e de mudança. Está tudo dito
[António Borges, ex-director e presumível jardineiro do INSEAD, actual vice-presidente da Goldman Sachs em Londres, e um dos dons sebastiões que se perfilam no nevoeiro da reserva da nação à espera de a salvarem de si própria, em entrevista ao Expresso de 06-11]

Está tudo dito? Quase tudo. Falta acrescentar que é por essas e por outras que a estupidentsia desconstrutivista doméstica é francófona.

CASE STUDY: Fado tropical ou Brega & Chique. (ALTERADO)

O que há de comum entre um carioca brega evangélico e um alfacinha chique educado no estrangeiro?

António Garotinho é um político brasileiro populista, de famílias pobres da baixa fluminense, com pouca educação, evangélico, que veste com gosto duvidoso. Começou a sua carreira política montado na popularidade que ganhou como «radialista» com os seus programas de grande sucesso. Cumpriu dois mandatos como governador do Rio, e está a cumprir um terceiro por interposta pessoa - sua mulher Rosinha que o nomeou seu secretário de estado da segurança. Foi candidato a PR e perdeu contra Lula.

O doutor António Mexia é um sujeito de boas famílias, com um bom ar, que veste com elegância, tem um MBA de grande prestígio (salvo erro do INSEAD), foi presidente da Galp Energia e é o actual ministro das obras públicas, transportes e comunicação.

O que há de comum entre duas pessoas aparentemente tão diferentes? Falam ambos português, claro. Um é filho de portugueses e o outro talvez seja neto ou bisneto.

Com esse património comum partilham ainda outra coisa: a política de hipotecar o futuro à salvação das encrencas do presente.

O primeiro trocou 30 anos de receitas do petróleo do estado do Rio «por entrada de dinheiro fresco agora», torrando a grana para os 10 governadores seguintes. O segundo «para descalçar a bota das Scut ... decidiu "encaixar" já, através de um contrato de securitização, as receitas das portagens a cobrar ... do ano 2035 em diante» (Sérgio Figueiredo no JN)


[Os Garotinhos, Garotinho com Fidel e Mexia (sem Rosinha nem Fidel) - dois países, a mesma luta]

Com avencas na caatinga
Alecrins no canavial
Licores na moringa
Um vinho tropical
E a linda mulata
Com rendas do Alentejo
De quem numa bravata
Arrebato um beijo
Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal
Ainda vai tornar-se um imenso Portugal
...
Guitarras e sanfonas
Jasmins, coqueiros, fontes
Sardinhas, mandioca
Num suave azulejo
E o rio Amazonas
Que corre Trás-os-Montes
E numa pororoca
Deságua no Tejo
Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal
Ainda vai tornar-se um imenso Portugal
Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal
Ainda vai tornar-se um império colonial
[Fado Tropical, Chico Buarque]

05/11/2004

BLOGARIDADES: O relativismo moral é absolutamente imoral.

Se tivesse lido a Sábado de 8 de Outubro, teria publicado um SERVIÇO PÚBLICO impertinente no dia seguinte. Não li. Não faz mal. O Homem a dias (infelizmente, cada vez mais, homem à semana), acabou por publicar no dia 4 o seu texto os «Direitos Humanos: modo de usar». Mais palavras para quê? Está lá tudo.

SERVIÇO PÚBLICO: Deitar dinheiro para cima dos problemas. Outra vez.

«A Administração Pública vai ser alvo de um investimento de 140 milhões de euros ao abrigo do Programa Operacional de Administração Pública, essencialmente centrado nas acções de formação e requalificação, anunciou ontem a secretária de Estado da tutela, Sofia Galvão.» (DN)
Camadas sedimentares sucessivas de aparatchiks do PCP (ainda restam alguns), do PS, do PSD e mais recentemente do PP, sobrepondo-se às camadas de rocha burocrata do cretácico e do jurássico que parasitam o trabalho dos temporários, constituem uma formação geológica quase impenetrável a mudança.
Só quem não tem nenhuma ideia do que seja a gestão das organizações e não conheça o estado actual da administração pública portuguesa, ou acredite em milagres, poderá esperar que o resultado de entornar 140 milhões de euros em cima do problema seja mais do que animar o mercado da consultoria de recursos humanos. Na melhor hipótese. Na pior será atulhar ainda mais a vaca marsupial pública com novos utentes para formar e requalificar os utentes com direitos adquiridos.

E não tem solução? Lá ter, talvez tenha. Mas exige outras políticas, outras medidas e, claro, outra gente.

SERVIÇO PÚBLICO: Arafat em coma.

A possível morte de Arafat (ver Le Monde, que trata Arafat por Monsieur e George Bush por tu), líder histórico do movimento palestino, mas também um velho ditador e terrorista, poderá ter consequências diferentes. Consequências positivas para a solução do conflito israelo-palestino, abrindo o caminho aos pragmáticos que aceitam o reconhecimento de Israel e estão abertos a uma solução negociada. Mas pode também abrir uma brecha para os extremistas do Hamas tomarem o controlo e conduzirem o povo palestino para um beco sem saída, ainda mas sangrento do que o actual.
Há uma variável crítica nesta equação: George Bush. O que fizer neste caso (tanto ou mais do que o que fizer no Iraque) ditará o capítulo da história onde vai figurar.

ESTÓRIA E MORAL: O investimento na estupidez alheia tem um ROI volátil.

Estória
aqui contei a estória do tiro no pé que o Guardian deu com o seu projecto, como eles o baptizaram, ao tentar induzir os eleitores do Ohio a votar Kerry.
A estória tem agora o seu desfecho. Aqueles primeiros tiros foram só para afinar a pontaria do canhão. Os resultados parciais do Ohio, contra muitas expectativas, mostram este swing state a dar uma vantagem de mais de 130.000 votos a Bush. Sem falar dos resultados para o Senado e a Câmara de Representantes, em que os elefantes dão 7 a 3 aos burros.

Last but not least, quase 2/3 dos eleitores do Ohio e de outros estados rejeitaram o casamento homossexual e todas as outras ballot measures politicamente correctas (ver aqui). Depois venham dizer-me que os americanos são parvos. Estamos a assistir, desde há alguns anos, ao refluxo da maré baby boomer, hippy, power flower and all that jazz. Daqui a 5 ou 10 anos o refluxo chegará também à Europa, com o seu cortejo de conversões dos soixanthuitards et ses enfants. Será então um sério revés para esse perigosa classe de social-voluntaristas - os idealistas revolucionários.

Moral
Um idealista é aquele que, reparando que as rosas cheiram melhor que as couves, conclui que estas também darão para fazer melhores sopas (Lei de Mencken).

03/11/2004

DIÁRIO DE BORDO: Não é motivo para grandes comemorações (um dia explico).

Até ao lavar dos cestos ainda é vindima, mas quer o mercado, quer o oráculo de Delfos, que já fechou a loja (vai passar para a minha secção «Baixas em combate»), quer «a grande depressão», o «desconsolo» e a descoberta tardia da vantagem da clareza, sofridas pela esquerdalhada doméstica, pela pena de algumas das suas luminárias, antecipam a provável vitória de George W. Bush.

Nós cá por casa, achamos que não é motivo para grandes comemorações, por várias razões, que agora não vêm ao caso. Alguns danos colaterais emergirão duma vitória de Bush. Para só citar um dos mais inofensivos, mas desconfortável: a esquerdalhada, depois de ultrassar a depressão à custa duns charros, ficará novamente consolada, renascerá como Bush, e vai-nos encher os tímpanos com as suas aleivosias e as tolices durante os próximos 4 anos.

02/11/2004

LOG BOOK: It's more than no-Bush. It's no-America.

And why's that?
«You see in places where Americans helped the most, it is there where the most frequent expressions of anti-Americanism have occurred. There exists something like the phenomenon of the hatred by the saved towards the savior. We can see this very well in Europe, where twice in its recent history, the U.S. had to come in and save Europe, and again, in a nonmilitary way, during the cold war. Maybe this anti-Americanism in Europe is a part of this hatred of the saved towards its savior
[Václav Havel's interview to International Herald Tribune - via ¡No Pasarán!]

Maybe that's why European at large will stay angry with Bush or will get deception with Kerry.