O 1º Congresso de Democracia, que serviu de púlpito ao Picareta Falante para anunciar urbi et orbi a sua descida do olimpo até ao pântano, também serviu para outros propósitos mais úteis.
O doutor Vitor Constâncio produziu um discurso notável pela clareza do pensamento, pelo rigor do diagnóstico e pela consistência das políticas e medidas propostas. Vale a pena lê-lo aqui.
Infelizmente, a esse discurso pode aplicar-se a boutade «há microeconomia e há má economia». E a razão é a mesma que justifica o segundo reparo: a doutrina económica do doutor Constâncio está irremediavelmente contaminada pelo papel central na economia que é atribuído ao estado e pelo paradigma do estado providência. Todas as soluções que ele vê para escapar ao atraso passam por uma forte intervenção do estado.
Mas não tenhamos ilusões, a doutrina subjacente ao discurso é porventura o mais longe que em matéria de política económica será possível ir neste país que tem a cultura mais colectivista da Europa (ver, uma vez mais, os estudos de Hofstede).
Desiludam-se os libertários e os liberais old fashioned. Serão (seriam) precisas gerações para corroer este amor extremado ao estado e esta desconfiança da livre iniciativa e do mercado enterrada nas entranhas de cada português. É por isso que os liberais, esses linces da serra da Malcata da política, terão que continuar a escolher o mal menor até ao fim dos tempos.
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