O ruído à volta da morte de Arafat, o histerismo durante o seu funeral na Muqata (vem a propósito lembrar o post «Muqata, banana e cola» do Homem a Dias) e a hipocrisia oficial e partidária apagaram convenientemente vários factos. Como os discursos dissonantes: em inglês (protestando amor à paz) e árabe (incitando ao terror). Como o deitar pela borda a proposta que lhe fora feita, em 2000 em Camp David, pelo então primeiro ministro israelita Ehud Barak, que incluía o abandono por Israel da faixa de Gaza, de partes de Jerusalém oriental e da maior parte da Margem ocidental. Ao mesmo tempo que rejeitava essa proposta, Arafat lançava a segunda Intifida, torrando qualquer hipótese de acordo, fazendo cair o governo de Barak e abrindo caminho para o falcão Sharon.
Vem isto a propósito de quê? Vem a propósito de Barak, agora ressuscitado para a política, pretender a realização de eleições antecipadas no próximo ano e, caso as ganhe e à liderança do partido Trabalhista, se preparar para oferecer à nova chefia palestina o mesmo que Sharon, acrescido de cerca de 90% da margem ocidental. Isto é Barak oferecerá em 2005 substancialmente menos do que oferecera a Arafat em 2000.
É esta a herança de Arafat. Sem esquecer os 1,3 mil milhões de euros que estão a ser disputados entre a OLP e a sua inconsolável viúva.
Sem comentários:
Enviar um comentário