29/11/2007

CASE STUDY: a cavalo dado não se olha os dentes

«Um em cada três licenciados ingleses tem um emprego que não requer licenciatura. A sobre-qualificação em determinados desempregos resulta de uma insuficiente procura (ou um excesso de oferta) para essas qualificações. Num estudo da LSE, referido pelo “Financial Times”, critica-se a forma como os governos ingleses têm insistido, desde 1992, na ideia de que mais trabalhadores qualificados são sempre uma coisa boa, quando não essencial à “competição com outros países”. Em Portugal vivemos uma situação de contornos idênticos.
Dois efeitos previsíveis deste tipo de discurso político são a frustração de muitos licenciados, que acabam por ter um retorno do investimento feito inferior ao esperado; e a afectação de outros recursos económicos de forma ineficiente – porque demasiado enviesada e alheia à realidade do país. Aquilo que os ingleses já perceberam é que, por muito “avançado” e “tecnológico” que um país se torne, existirão sempre empregos que exigem baixas ou médias qualificações (aliás, tão dignos quanto os outros, mas talvez os cérebros que desenharam a campanha publicitária das “novas oportunidades” discordem). A cegueira nacional faz-nos temer o pior.
Não está em causa a liberdade de cada um prosseguir os seus estudos ou de escolher um emprego para o qual tenha qualificações a mais. Já aqui defendemos que a educação superior é, antes de tudo, uma formação para a vida, não um mero instrumento de formação profissional. Sendo legítimo que um governo influencie a dinâmica de crescimento de um país, a melhor forma de o fazer, hoje, passa por um reforço do papel de mediação entre procura e oferta.
Quais os percursos profissionais, as oportunidades e os ganhos dos licenciados nas várias áreas do saber? Quais as necessidades de emprego dos empresários no futuro? A recolha de dados relativos a este mercado – como a obtenção de mais informações sobre os alunos que realizam exames no Secundário, que se espera já em 2008 – permite escolhas mais conscientes dos cidadãos. Pela sua situação privilegiada, faz sentido que o Estado promova tais iniciativas. Infelizmente, falamos de políticas relativamente discretas, incapazes de proporcionar momentos emocionantes no telejornal e que dificilmente satisfarão quem apadrinha o patrulhamento ao sal e às bolas de berlim por esse país fora.»

(Para quê tantos licenciados?, Tiago Mendes, no Diário Económico)
Ó doutor Tiago é um bocadinho lirismo da sua parte imaginar que a discrepância entre oferta e procura de canudos se resume a liberdade de escolha e a escolhas conscientes. Falta acrescentar alguns outros ingredientes. Para só mencionar um, se a licenciatura custar a um candidato (ou, mais exactamente, aos pais do candidato) o que custam as propinas, sem esquecer o alívio de mais uns anos em regime cama, mesa e roupa lavada (e iPod, e telemóvel 3G, e discoteca, e etc.), é difícil imaginar que as escolhas racionais deixem de ser o que são.

28/11/2007

O IMPERTINÊNCIAS FEITO PELOS SEUS DETRACTORES: o simplex local - mais milagres da regionalização (3)

O mesmo fiel detractor que aqui deu dois exemplos pessoais do género de milagres que se poderia esperar em abundância com a devolução de mais funções do estado napoleónico-estalinista para os caciques locais atacou de novo com outro.

Para tratar de procurar solução para uma árvore que ameaça ruir sobre a sua casita (a mesma que o fez esperar 10 meses pelo licenciamento das obras de remodelação), o infeliz fez inúmeras tentativas infrutíferas para contactar pelo telefone o Departamento dos Espaços Verdes da Câmara de Oeiras (uma das câmaras melhor geridas deste país). Desistiu e decidiu dar corda aos sapatos e ir implorar pessoalmente aos inacessíveis funcionários um módico de atenção. Em vão. Nas duas vezes que lá foi, apenas encontrou meia dúzia de casacos pendurados nas cadeiras, propriedade de outros tantos funcionários que «devem andar por aí, não demoram», segundo a funcionária que o escoltou.

27/11/2007

O IMPERTINÊNCIAS FEITO PELOS SEUS DETRACTORES: o olho do Hubble perscrutando o espaço sideral (2)

9.º - Um redemoinho de olhos "furiosos" de duas galáxias, que se fundem, chamadas NGC 2207 e IC 2163, distantes 114 milhões de anos luz na distante Constelação do Cão Maior (Canis Major).
[As 10 melhores fotos captadas pelo telescópio Hubble, enviadas por JARF, forever young]
Continua

26/11/2007

SERVICE PUBLIQUE: ne tirez pas sur le pianiste, ne tirez pas sur le public (voilà)

«Il est finalement signé. L'accord interprofessionnel réunissant à la fois les secteurs de la musique, du cinéma et des fournisseurs d'accès à Internet a été paraphé par les 41 signataires et les pouvoirs publics à l'Elysée, en présence du président de la République. Son but : enrayer le piratage de musique et de films sur le Réseau.» (ver mais no Monde)

«Internet users in France who frequently download music or films illegally risk losing Web access under a new antipiracy system unveiled on Friday.
The three-way pact among Internet service providers, the government and owners of film and music rights was drafted by a commission led by the chief executive of FNAC, a big music and film retailer in France. The industry has called for action against illicit downloads, which are cutting into its sales.»
(ver mais no NY Times)

A questão é: como conciliar os direitos autorais, sem os quais não haverá criação, com o acesso livre aos conteúdos? Uma boa questão para as nossas luminárias liberais.

25/11/2007

O IMPERTINÊNCIAS FEITO PELOS SEUS DETRACTORES: o olho do Hubble perscrutando o espaço sideral (1)

N.º 10- A Nebulosa Trifid. É um "berçário estelar", afastado da Terra 9.000 anos-luz, e é o lugar onde nascem as novas estrelas.
[As 10 melhores fotos captadas pelo telescópio Hubble, enviadas por JARF, forever young]
Continua

24/11/2007

BREIQUINGUE NIUZ: Câmara Corporativa ressuscitada

«Patrão do Comércio sugere aliança com CGTP
O presidente da Confederação do Comércio Português propôs ao secretário-geral da CGTP um encontro, para avaliar a possibilidade de acções conjuntas contra o aumento do desemprego, incluindo um eventual apoio a uma greve geral
.» (Expresso)

Será o prenúncio duma espécie de pactologia (*), de procura do consenso na protecção dos direitos adquiridos?

(*) Filósofo professor doutor Manuel Maria Carrilho.

23/11/2007

ESTÓRIA E MORAL: o polvo socialista nunca ouviu falar de conflito de interesses (2)

Estória

Há tempos contei esta estória do polvo socialista envolvendo a mesma sociedade de advogados que agora aparece referida no relatório do Tribunal de Contas de auditoria das Estradas de Portugal como tendo produzido minutas de propostas de diplomas legislativos. Com tal produção fez (e recebeu por isso) o papel dos incontáveis assessores que pululam nos gabinetes do governo que não fizeram isso (mas receberam por isso).

A propósito da enorme cloaca que são as Estradas de Portugal, que poderíamos chamar com propriedade, como chamou Christine Deviers-Joncour a si própria com igual propriedade, «la putain de la République», escreve o professor Campos e Cunha, prosseguindo o seu higiénico ajuste de contas, «o Governo nunca perdeu nenhuma oportunidade para perder a oportunidade de explicar o OE para 2008» et pour cause.

Outra estória igualmente estimulante é a do doutor João Pedroso (guess who's his brother) que foi contratado para fazer um manual de direito da Educação que não fez (mas recebeu por isso) e, por isso (?), foi outra vez contratado para o fazer. Desta vez recebendo uma tença de 20 mil euros mensais, mais de 13 vezes superior à primeira.

Moral

N.º 1 Não basta parecer honesto, é preciso ser honesto.
N.º 2 Tapem os vossos narizes que o polvo socialista está em decomposição.

[Estórias via Grande Loja do Queijo Limiano que, nos intervalos das suas guerras corporativas de estimação, faz um bom trabalho sanitário no underware do polvo socialista]

22/11/2007

DIÁLOGOS DE PLUTÃO: no país dos sovietes

- Presidente Vladimiro porque não ficas mais um mandato, camarada?
- Camarada Sérgio, então tu pensas que eu vou alterar a constituição? Niet! Vou andar por aí, como aquele Lopes de que me falou o camarada Sócrates, influenciando. Nada mais.
- Desculpa a franqueza camarada, mas a constituição foi feita para ser alterada. Lembras-te do Boris?
- Mesmo assim. Não vou fazer isso. Só se for desafiado.
- Aqui estou eu, em nome dos camaradas do
Служба Внешней Разведки, a desafiar-te.
- Então e o povo não me desafia?
- Os camaradas querem-te e o povo vai querer-te,
товарища президента.
- Vou pensar nisso.


(Qualquer semelhança com a realidade é pura fantasia)

21/11/2007

SERVIÇO PÚBLICO: fui eu que ouvi mal ou a factura vai chegar?

Foi eu que ouvi mal ou o tenente-coronel Chávez, o presidente vitalício da Venezuela, nas declarações que fez ontem às televisões lembrou que tendo a Venezuela o petróleo que Portugal não tem, acolhendo a Venezuela umas centenas de milhar de emigrantes portugueses que Portugal não acolhe, seria melhor colocar as relações políticas ao mesmo nível?

Oxalá me engane, mas o engenheiro Sócrates está a fazer um papel de aprendiz de feiticeiro em matéria de relações internacionais (não só nesta matéria, mas fico por aqui) e a praticar uma espécie de realpolitik de 3.º mundo com potencial para encrencar a nossa inexistente política externa.

O IMPERTINÊNCIAS FEITO PELOS SEUS DETRACTORES: o optimismo e o pessimismo

Um velho amigo enviou-me e a vários outros amigos comuns («vá lá, por uma vez sejam optimistas...») um texto publicado na revista Exportar com o título "Eu conheço um país...". Nele o doutor Nicolau Santos enumera 19 feitos cuja consideração nos deveria fazer sair do estado de anomia em que nos encontramos. Se a lista mostra alguma coisa não é certamente que nos devemos animar. Pelo contrário, o facto do doutor Nicolau se ter dado ao trabalho de a fazer é, só por si, uma evidência de que, segundo ele, a anomia é mais profunda do que um pessimista poderia ser levado a crer.

Eu também conheço um país… Mas não deve ser o mesmo.

Se imaginarmos o país mais triste, cinzento e pobre – seja o Togo, por exemplo – sempre será possível fazer uma lista de feitos passados, presentes e, sobretudo, futuros. Futuros? Sim, o Brasil é o país do futuro faz mais de 50 anos. O meu coração rejubila com tantas realizações, principalmente a liderança mundial nas rolhas.

Contudo, a realidade ignora estas visões miríficas e, apesar do esforço de nos convencerem, continuamos há 7 anos a empobrecer relativamente a todos os países do espaço económico onde nos integramos. A empobrecer e a ficar cada vez com maior desigualdade social. Estamos a conseguir o milagre de ter chuva na eira e sol no nabal. E porquê o governo e os seus spin doctors precisam de se esforçar tanto para nos convencer, sem sucesso? Precisamente porque a realidade tem um peso tão grande que é preciso inventar um newspeak orwelliano para reanimar a choldra.

Com a devida vénia, transcrevo o que, a propósito, Pacheco Pereira escreveu ontem no seu blogue:
«Porque é que já estivemos melhor e agora estamos pior e há retrocesso? Porque estamos a ficar mais pobres, com menos esperança, mais presos ao pouco que temos, mais confinados ao mesmo espaço minúsculo, todos em cima dos bens cada vez mais escassos a patrulhar para que os outros não fiquem com eles. Estamos a pagar o preço de um modelo “social” único, de uma Europa única, de um pensamento único que racionaliza este caminho para a pobreza como não tendo alternativa e pune a dissidência.
Só se pode ser pessimista e agir como pessimista, até porque a ideia de que os pessimistas não fazem nada é típica dos optimistas na sua beatitude.
»
Quereis uma pista para se perceber porque não adiantam os discursos dos amanhãs que cantam? Eis o que disse ao RCP Oliveira Martins (citado pelo Blasfémias), ex-ministro das Finanças, presidente do Tribunal de Contas, um insuspeito personagem do establishment que tem desgraçado o país:
«OM – A média de derrapagem dos contratos em Portugal é de 100 por cento. É na base de um estudo do Instituto Superior Técnico, a partir de elementos do Tribunal. A média! Isto significa que há derrapagens que correspondem a quatro e cinco vezes mais, estamos a falar de 400 e 500 pontos percentuais. 400 e 500 pontos percentuais!
RCP – Quantias enormíssimas… Mas isso não revela um desmazelo?
OM – Isto é uma coisa endémica, um hábito antigo, um hábito antigo, uma questão de regime, um problema de regime, porque não há ninguém que possa dizer “nós fizemos”... Isto é uma média no médio e longo prazo. Estamos a falar de uma série longa de 30 anos — não é? —, e uma série longa de 30 anos em que a média de derrapagem é de 100 por cento. Por que razão é que há derrapagens por sistema nos concursos públicos? Por que razão? Por que razão? Esta é a nossa pergunta.
RCP – Não fazem bem contas…
OM – Pois, não fazem bem contas desde o início.
»
É o resultado do «estado social», apoiado pelo respectivo partido, composto por todos os que dependem directa ou indirectamente do «monstro» do professor Cavaco, funcionários públicos, desempregados crónicos, reformados, subsidiados, etc. e seus apêndices, que somam 4 ou 5 milhões. Enquanto o monstro torrar metade da riqueza produzida são inúteis todos os discursos salvíficos.

20/11/2007

DEIXAR DE DAR GRAXA PARA MUDAR DE VIDA: por falar em livre-arbítrio

Por falar em livre-arbítrio, pasmem-se os indígenas ao saberem que «os conselhos executivos de várias escolas estão a pressionar os professores do 2º e 3º ciclos (do sexto ao nono ano) para evitarem ao máximo dar notas negativas aos alunos já no primeiro período lectivo.»

Serão os conselhos executivos de várias escolas compostos por alienígenas? Ou por clones, réplicas da doutora Maria de Lurdes Rodrigues? Ou por apparatchiks do ME? Ou serão professores vulgares de Lineu inimputáveis, sendo por isso em geral suficientemente incompetentes? Ou são em geral suficientemente incompetentes, sendo por isso inimputáveis?

19/11/2007

SERVIÇO PÚBLICO: o nascer da Terra visto da Lua

[pelo olho da câmara de alta definição do veículo Kaguya da Japan Space Agency (JAXA)]

18/11/2007

DIÁRIO DE BORDO: o livre-arbítrio

Há dois ângulos para olhar para os desastres da educação pública e da administração de justiça. No primeiro, conclui-se que os professores e os juízes não têm responsabilidades nesses desastres. No segundo, conclui-se que uns e outros contribuíram para os desastres e têm neles responsabilidades (maiores ou menores? as opiniões dividem-se).

O primeiro ângulo tem implícito que os professores e os juízes são enquanto corporação inimputáveis, sendo por isso em geral suficientemente incompetentes. O segundo ângulo tem implícito que uns e outros são em geral suficientemente incompetentes, sendo por isso inimputáveis.

Há ainda um terceiro ângulo determinístico donde se conclui que os responsáveis são ELES.

[Eles (socialês)
(1) Os culpados da nossa miséria (dos fascistas aos liberais, passando pelos comunistas e, sempre, os espanhóis, e, em alternância, o governo e a oposição).
(2) Os responsáveis pelo trânsito da miséria para a felicidade (quase todos os referidos).
Antónimos: EU (que não sou parvo e não tenho nada a ver com isso) e NÓS (EU, a minha MÃE, a minha patroa, os putos, os amigos, talvez o clube, e o partido, às vezes).]

16/11/2007

ESTÓRIA E MORAL: a boa nova

Estória
Vindo em socorro do ministro da Ecoanomia, que não é ainda muito fluente no optimês, o primeiro ministro engenheiro Sócrates deu hoje a boa nova à nação: o seu governo já criou 106 mil postos de trabalho e está a caminho dos 150 mil que prometeu.

O senhor engenheiro não teve tempo de explicar o milagre do emprego e do desemprego terem aumentado com a população residente estável. O senhor engenheiro também não se deu ao trabalho de explicar se os 106 mil novos postos de trabalho incluem os 40 mil novos postos de trabalho que o governo criou na administração pública.

Moral
There are lies, there are damned lies, and there are statistics (Benjamim Disraeli, 1.º ministro da rainha Victoria)

DEIXAR DE DAR GRAXA PARA MUDAR DE VIDA: a insustentável leveza da retoma

Abrilhantada com a presença do ministro da Ecoanomia que entregou um speech no dialecto optimês da newspeak socrática, a CapGemini Ernest & Young apresentou os resultados dum inquérito a 200 executivos onde se conclui que 20% dos empresários planeiam deslocalizar a produção das suas empresas principalmente para a Europa de Leste. Apesar disso «mais de metade dos inquiridos acreditam que Portugal tem capacidade para aumentar a sua atractividade ao investimento estrangeiro». Aparentemente os 20% estão dispostos a investir na Europa de Leste e os mais de metade não parecem muito dispostos a investir (nem mesmo na Europa de Leste), mas acreditam que os empresários estrangeiros não deveriam planear a deslocalização para a Europa de Leste.

Tudo isto na edição de ontem do Diário Económico onde na 1.ª página se produziu um extraordinário título: «Empresários sentem retoma mas exigem mais».

(Este post também poderia ser publicado na secção ESTÓRIA E MORAL com a seguinte moral: com empresários assim não precisamos do socialismo)

14/11/2007

PUBLIC SERVICE: more byte into the same band

«AN AUSTRALIAN researcher has found a way to make broadband connections up to 100 times faster.

University of Melbourne research fellow John Papandriopoulos is moving to Silicon Valley after developing an algorithm to reduce the electromagnetic interference that slows down ADSL connections.

Most ADSL services are effectively limited to speeds between 1 Mbps to 20 Mbps, but if Dr Papandriopoulos' technology succeeds this will be closer to 100 Mbps.»


(more here)

13/11/2007

O IMPERTINÊNCIAS FEITO PELOS SEUS DETRACTORES: poucas vergonhas na Arte Lisboa

Foto enviada há dias por um contribuinte anónimo e habitual do Impertinências, duma senhora despida na Arte Lisboa, feira de arte contemporânea felizmente ontem encerrada. Escândalo não é a senhora despida. Escândalo é a manifesta indiferença que as partes pudendas da senhora suscitam nos visitantes.

ARTIGO DEFUNTO: trocaram o quê?

Só por falta de tempo não registei aqui na devida altura o que escreveu o Jornal de Negócios no semana passada, a propósito da publicação no Abrupto da carta provocatória dum burgesso, spin doctor do doutor Menezes (cada um tem o que merece). A publicação acompanhada de comentários piedosos e educados, merecedores da beatificação urgente de JPP, foi assim descrita:
«José Pacheco Pereira, comentador político e membro do PSD, e António Cunha Vaz, proprietário da agência que assessorou Luís Filipe Menezes nas directas do PSD, trocaram hoje insultos no conhecido blog "Abrupto".»

11/11/2007

AVALIAÇÃO CONTÍNUA: Facilitismo? Moi?

Secção Res ipsa loquitor

«Criou-se a ideia que nós queríamos o facilitismo, mas o que nós defendemos é que a escola desenvolva mecanismo para dar oportunidades a alunos problemáticos e de famílias desestruturadas», disse ao Sol o doutor Luís Fagundes Duarte, coordenador do PS para a área da Educação, a propósito da desconsideração das faltas na proposta de Estatuto do Aluno cozinhada pelo seu grupo parlamentar.

Perceberam? Mesmo sem procuração do doutor Fagundes Duarte eu explico. Quem pode negar que um diploma é importante para um aluno problemático ajudar uma família desestruturada a estruturar-se? Ninguém. Quais são as oportunidades que um aluno problemático tem de obter um diploma se forem consideradas as faltas que resultam dos problemas do aluno e da desestruturação da família? Poucas. Como aumentar as oportunidades do aluno problemático? Simples. Não contar as faltas.

E se, apesar disso, o aluno problemático não tiver aproveitamento? Ajeitam-se as provas ao aluno problemático. Como? Simples. Por exemplo, num exame de Química fazem-se as seguintes duas perguntas:

Pergunta 1 - Qual a cor do sulfato de cobre azul?
Pergunta 2 - Conhece a fórmula do ácido sulfúrico?

O aluno problemático responde «cor de rosa» à primeira e erra. O aluno problemático responde «não sei» à segunda e acerta. É aprovado com 50 pontos percentuais.

Avaliação do doutor Luís Fagundes Duarte (um aluno problemático?): 5 chateaubriands por imaginar que a divina providência faz passar os rios perto das cidades e 3 bourbons porque não esquecerá nunca o eduquês e não aprenderá outra língua.

09/11/2007

SERVIÇO PÚBLICO: as «lições» do professor Campos e Cunha

O professor Campos e Cunha prossegue o seu ajuste de contas com o governo do engenheiro Sócrates nos seus artigos no Público. Hoje, à boleia de Jens Henriksson, antigo secretário de estado das Finanças, que teve um papel decisivo na consolidação orçamental da Suécia, Campos e Cunha evidencia onde está o governo a falhar, por muito que o ministro Teixeira dos Santos se esforce por mostrar o contrário.

O governo falha ao tomar medidas casuísticas sem «um pacote coerente, completo e equilibrado de medidas». Falha por não fazer cortes verticais nos tentáculos do polvo. Falha por fazer cortes horizontais insuficientes que deixam quase tudo na mesma. A este respeito o exemplo que dá é bastante elucidativo: «se o ministro da Ciência disser que corta 5 por cento das transferências para as universidades, estas adiarão a contratação de novos professores, as casas de banho passam a ser limpas dia sim, dia não, a capacidade de atrair bons alunos para a carreira académica diminui, etc. A universidade fica marginalmente pior, os alunos com computadores com cinco anos, em vez de quatro, e eventualmente mais suja, mas nada se altera. No entanto, se o mesmo ministro anunciar que no ano seguinte as transferências passam a 50 por cento das actuais, então tudo muda. A universidade fecha cursos inúteis, encerra serviços dispensáveis, manda funcionários para os disponíveis, trata de arranjar novas receitas, aumenta as propinas para quem puder pagar, será mais activa no fund-raising, procurará parcerias com empresas, faz formação para executivos, etc., etc. Ou seja, os cortes são para ficar e a instituição ajusta-se ao novo regime. Nada disto aconteceu no nosso caso, infelizmente. Os cortes e poupanças na despesa foram fundamentalmente horizontais, e centrados nos investimentos e no congelamento das condições dos funcionários públicos. Registem-se, do lado da despesa, os ganhos de eficiência na saúde e no ensino não universitário.» Em conclusão, as medidas são suficientes para chatear, mas insuficientes para reduzir de forma sustentada a despesa.

O governo falha porque não tem tido uma política honesta. «A meio do percurso, se têm bons resultados, não se deve correr a anunciar a boa-nova. Primeiro porque confunde o público com mensagens contraditórias; segundo, porque há sempre algumas más notícias que não podem ser escamoteadas.» O governo falha por «embandeira em arco» preparando o terreno para em pouco tempo ter mais do mesmo.

07/11/2007

SERVIÇO PÚBLICO: perdida a batalha da produção e em risco de perder a batalha pelas almas?

A caminho do 3.º ano do mandato, cada vez restam menos dúvidas não estar a resultar a medicina administrada pelo governo à economia para tratar uma maleita que, em tese, não lhe diria respeito (a não ser pelo facto excruciante de ser responsável por torrar metade do PIB). A produtividade por trabalhador, das mais baixas da EU, ao crescer o ano passado a 1/3 da taxa média da UE, reduziu ainda mais a competitividade da economia portuguesa.

Se no domínio da economia o governo tem falhado os seus próprios objectivos, ainda poderia haver a esperança que a batalha da engenharia das almas tivesse a ser melhor sucedida, como parecem mostrar os índices de aprovação do governo. Contudo, estes índices não traduzem possivelmente a devoção do povo pelo governo, mas tão somente a desistência - talvez fundada - de procurar uma invisível alternativa melhor em 2009. E ainda traduzem menos a fé na «retoma» que o governo tenta injectar nas torturadas meninges dos sujeitos passivos, com as suas legiões de spin doctors e a escandalosa cumplicidade do jornalismo de causas (incluindo uma vasta porção dos conformados com o mal menor). Dúvidas? Veja-se a trajectória do indicador de confiança dos consumidores ao registar em Outubro o valor mais baixo desde Março do ano passado.

05/11/2007

ESTADO DE SÍTIO: a gestão mediática

Não se pense que a gestão mediática é um exclusivo deste governo. Este governo fá-la melhor do qualquer dos seus antecessores, mas está longe de ser o único a usar a engenharia das almas. Um modesto exemplo entre centenas de outros possíveis: em Janeiro de 2004 (ver o post do Impertinências da época), durante o consolado do doutor Barroso, entretanto exilado em Bruxelas, um tal doutor Diogo Vasconcelos, gestor da UMIC (Unidade de Missão Inovação e Conhecimento) anunciou no Wireless Communications Simposium que iria ser instalada em Portugal «a maior rede wireless académica do mundo» que iria «contaminar toda a sociedade a partir do estudante» suportada por 200 hot spots.

Passados quase 4 anos alguém ouviu falar de tal coisa? Não? Nada que nos deva admirar demasiado - o próprio doutor Vasconcelos admitiu na época que «em Portugal somos excelentes em estratégia mas falhamos na implementação».

04/11/2007

BLOGARIDADES: «5ª frase, página 161 do livro mais à mão» (ACTUALIZADO)

Até pode ser que o Impertinente pareça dar «ares de não gramar estas merdas», mas, se parece, são só ares. O Impertinente pela-se por mostrar erudição, o que lhe falta é matéria. Com a coisa mais parecida com uma biblioteca encaixotada há meses à espera do fim das obras, sob o látego do implacável empreiteiro para ir pagando à vista os autos de medição, debaixo da insaciável exigência dos clientes, a única leitura em papel mais à mão com 161 páginas é a lista telefónica.

Adenda:
Lembrei-me que tenho, há uns 3 anos, ainda no tempo em que a globalização era um tema interessante, como livro de gaveta de mesa de cabeceira Why globalization works, de Martin Wolf. Com quase 400 páginas tem inevitavelmente uma página 161 à qual ainda não cheguei (vou na página 71).

03/11/2007

DIÁLOGOS DE PLUTÃO: onde se meteram os marcianos?

- Tenho andado a pensar, onde diabo se meteram os marcianos?
- Os marcianos? Acreditas nisso?
- Claro. Só não vê quem não quer. Pensa nos milhões de galáxias como a nossa. Pensa nos milhões de sistemas solares como o nosso, em cada galáxia. Pensa nas dezenas de planetas em cada um deles. São dezenas de biliões de oportunidades para existirem algures por aí seres parecidos connosco.
- OK! Mas logo Marte? Porquê?
- E porque não? Há prova de existência de água abundante no passado, há os canais, há …
- Dou de barato que haja isso tudo, e que tenha havido marcianos, mas onde param eles?
- Vês? É esse o meu ponto. Onde diabo se meteram os marcianos?
- E então?
- Tenho uma pista. Sabes que o dia marciano dura 24 h e 40 m?
- Não sabia. E depois?
- Depois? Olha filho, como te sentes quando toca o despertador de manhã?
- Mal. Morto de sono. Digo para os meus botões, quem me dera poder ficar mais um pouco na cama?
- Vês? E quanto tempo gostarias de ficar?
- Sei lá. Talvez uns 40 minutos.


(Baseado numa estória contada por AB, ouvida num qualquer daqueles maçadores seminários, não por acaso na Alemanha, onde as coisas mais interessantes são estas estórias)

01/11/2007

CASE STUDY: por uma contra-reforma da escola pública (ACTUALIZADO)

Pedro Lomba escreveu hoje no DN (O fracasso da escola pública?) sobre o vício do debate escola privada/escola pública, que segundo ele, e eu concordo, passa ao lado de várias questões cruciais. Uma destas questões é, nas palavras de Pedro Lomba, o facto que «a escola pública tem sido, nestas últimas décadas, o melhor, o mais eficaz, senão mesmo o único realmente eficaz, instrumento de mobilidade social na sociedade portuguesa

A juventude de PL torna-lhe difícil avaliar o papel que o ensino técnico teve durante as décadas anteriores às últimas décadas na promoção social de jovens pobres com talento que as escolas comerciais e industriais (com níveis de exigência que, mutatis mutandis, envergonhariam hoje a maioria das escolas públicas e privadas) apetrechavam com ferramentas que os ajudaram a dar um chega para lá aos songamongas cujo único activo era serem um passivo das respectivas famílias. Por isso, nestas últimas décadas a falência do ensino técnico promovida pelo movimento politicamente correcto do eduquês, entre outras razões, reduziu o papel da escola pública como instrumento de mobilidade social a quase nada. Enquanto as classes alta e média alta matriculam os seus filhos nas melhores escolas privadas, as classes médias e baixa deixam os filhos onde calha e chateiam os poucos professores que ainda querem instruir os seus alunos, sob o olhar compreensivo dos apparatchiks do ME com os cérebros ensopados pelo eduquês.

É por isso que o papel insubstituível que a escola (pública ou privada) pode ter na redução das desigualdades sociais cada vez mais acentuadas passa, não por mais uma grande reforma, mas por uma contra-reforma que desinfecte o ministério da educação e o reduza à administração da instrução pública. E por uma pequena reforma: o cheque-educação (*) e a livre escolha da escola.

(*) Estava distraído! Queria escrever cheque-instrução - para a educação não há cheque.