Se é verdade que sempre me pareceu evidente a tese de Ortega y Gasset
yo soy yo y mi circunstancia, as minhas experiências no laboratório de filosofia da puta da vida conduziram-me, ao longo dos anos, a adicionar-lhe a tese recíproca
la circunstancia es mi circunstancia y soy yo. Seria possível compreender os feitos militares de Napoleão sem os considerar como compensação para o seu minguado atributo masculino? Teria havido a 2.ª invasão do Iraque sem o
fellatio desfrutado pelo doutor Clinton? (*)
Vem isto a propósito do desvendar do mistério que, durante mais de 30 anos, foi para mim a fixação obsessiva dum grupelho chamado MRPP no Partido Comunista, nos comunistas em geral e no doutor Álvaro Barreirinhas Cunhal em particular. É certo que todos os grupelhos maoístas europeus nascidos com o levantar dos calhaus parisienses em 68 sofriam da mesma moléstia. Porém, no caso no nosso MRPP, a família fundadora dos Matos (Arnaldo, o
grande educador da classe operária, como se auto-intitulava, e o mano Danilo) apresentava-se como um caso tão excessivo que dificilmente se poderia explicar só pela ortodoxia m-l. Ali havia coisa. E coisa do foro da psiquiatria.
Muitos anos depois, ao passar os olhos pela biografia duma galerista chamada Ana Saramago Matos, filha do camarada Danilo e sobrinha do
grande educador, percebi tudo. A mocinha é neta do camarada José Saramago e, consequentemente, este camarada, director do Diário de Notícias durante o verão de 1975 e saneador dos desalinhados, incluindo um sortido de
fassistas e
verdadeiros comunistas do MRPP, é (ou foi) sogro do camarada Danilo, irmão do
grande educador. Imaginem-se as cenas familiares, o azedume, os ódios remoídos, a mistura explosiva da parentela com a política.
Et voilà.
(*) Ver o resultado das investigações do Impertinências nos posts subtilmente titulados
O tamanho interessa? e
do fellatio à operação Choque & Cagaço.