31/08/2006

DIÁLOGOS DE PLUTÃO (*): sexo oral

- Ó vizinha, já sabe que o Jaquim faz sexo oral?
- Sexo oral?
- Mas com quem? Com quem faz o grande malandro essa coisa?
- Com a namorada, a Sónia Vanessa, aquela brasileira.
- Ora essa! Não me diga!
- Digo, digo. Toda a gente fala disso no cabeleireiro.
- Mas, se é que posso perguntar ...
- Pergunte, pergunte.
- O que é essa coisa de sexo oral?
- Olhe filha, não sei bem, mas parece que é o sexo de que se fala nos cabeleireiros.
(Poderia ter sido ouvido num cabeleireiro de Bragança, mas veio-me à mente ao rever a briga do Corrado Soprano com a namorada)

(*) Novo formato tablóide objecto celeste.

30/08/2006

AVALIAÇÃO CONTÍNUA: o jornalismo de causas visto pelo fundamentalismo islâmico

Secção Idiotas Inúteis

Qualquer criatura com um módico de senso já se terá interrogado como é possível que centenas de jornalistas de causas, que fazem a cobertura dos conflitos em que estão envolvidos tropas israelitas ou americanas, se disponham a colaborar activamente na montagem de farsas que depois são difundidas pelas TVs do mundo inteiro, fazendo babar de ódio a esquerdalhada de serviço em todas as esquinas do mundo.

Eu já me interroguei e comecei a suspeitar que o jornalismo de causas é praticado por um bando de idiotas inúteis para o mundo civilizado, mas muito úteis para a barbárie. Ao dizer idiotas inúteis, mas úteis, não queria dizer «idiotas» inúteis, mas úteis, queria simplesmente utilizar o teaser para sublinhar a utilidade que essas almas têm hoje para fundamentalismo islâmico, como tiveram no passado para a barbárie soviética.

Não queria, mas pouco a pouco tendo a inclinar-me para considerar literalmente a idiotia do idiota inútil. Vejo agora que não estou sozinho. Estou aliás em óptima companhia: a dos terroristas, perdão combatentes, do Hezzbolah que publicaram no site www.moqavemat.com a foto da esquerda com um suposto barco israelita atingido por um míssil do partido de deus.

O jornal australiano Herald Sun desmontou a falsificação e publicou aquela foto acompanhada da foto da direita do destroyer australiano desactivado Torrens que foi afundado pela marinha australiana na costa oeste da Austrália em 1998. (fonte: O Insurgente cujo link perdi - sorry).
(Mais tarde o partido de deus removeu a foto do seu site)

O que prova isto? Pouca coisa. Prova que podemos considerar demonstrada a minha suspeita. Pelo menos no que toca ao Hezbollah, que não têm dúvidas que a mais óbvia das suas falsificações apanha tão distraidamene colaborante o bando do jornalismo de causas que o partido de deus só pode considerá-los úteis, mas idiotas.

Por isto, e por todas as outras desavergonhadas cumplicidades, atribuo ao bando do jornalismo de causas 5 chateaubriands e 5 ignóbeis como prémio colectivo e de carreira.

29/08/2006

DIÁLOGOS DE PLUTÃO: it's a bird, it's a plane, it's superman!

- O Glossário das Impertinências vai ter que ser alterado.
- Ah, sim? E porquê? já que falas disso.
- Porque Plutão já não é o planeta mais pequeno do sistema solar.
- Cresceu?
- Não. Deixou de ser planeta.
- Então é o quê? Um pássaro? Um avião?
- É um objecto celeste.
- E quem é que decidiu isso? O Luís Filipe Vieira?
- Não. Foi a União Astronómica Internacional.
- E eu posso continuar a considerar que Plutão é um planeta?
- Cada um chama-lhe o que quiser.
- Quem disse isso? O maradona?
- Não, foi um outro que percebe de coisas.
- E se eu falar do «planeta mais pequeno do sistema solar» os outros sabem que estou a falar de Plutão?
- Que pergunta. Haja deus. Fazes uma convenção com os gajos com quem falares do tema.
- E isso não é complicado?
- Será. Mas é aí que está o quid.
(diálogo inspirado nas efabulações aqui e aqui)

Quem sou eu? Um planeta? Um objecto celeste?

28/08/2006

O IMPERTINÊNCIAS FEITO PELOS SEUS DETRACTORES: relativismo posicional

«A "utilíssima informação posicional" do Expresso que cita no seu post de ontem é inútil, além de errada. O ministro da Economia está à esquerda na foto mas não está à esquerda do primeiro ministro - está à sua direita. Por isso, a jornalista ao dar como referencial o primeiro ministro, deveria ter escrito à direita de José Sócrates» (de um email de uma detractora acidental).

Isto levanta uma interessante questão que poderá tornar-se um tema recorrente na bloguilha, se alguma das luminárias de serviço por ele se interessar (não vou dar sugestões para não ferir os delicados egos).

A questão do foro do relativismo posicional, poderá colocar-se assim: estará o doutor Pinho à esquerda do engenheiro Sócrates, do ponto de vista do observador, apesar de estar à direita do senhor engenheiro, do ponto de vista deste? E, num caso ou noutro, tendo o senhor engenheiro o seu ministro à sua direita, poderá este último ter o seu chefe à sua esquerda?

27/08/2006

ARTIGO DEFUNTO: estatísticas de causas e nacional-graxismo

Confesso que não me dei ao trabalho de verificar como o Gabinete de Estratégia e Estudos do ministério da Economia e Inovação inovou os números do desemprego das Estatísticas de Emprego do INE (disponível com registo), a que fiz referência a semana passada neste post. Seja como for, o GEE deu matéria-prima ao jornalismo de causas para fabricar um artigo que ocupa metade da broadsheet n.º 3 (ou será broadshit?) com uma chamada na 1.ª página do Caderno de Causas de Economia do Expresso.

No ponto em que as coisas estão, não me escandaliza muito a manipulação das estatísticas ao serviço de causas. É afinal uma das poucas áreas de competência dos governos socialistas (um pouco mais do que dos outros, reconheça-se). Também me escandaliza pouco o serviço que o jornalismo de causas costuma prestar ao governo do senhor engenheiro a fabricar artigos sobre as estatísticas fabricadas pelo governo. Mas tudo tem um limite. Até a lisonja, que enjoa se for em excesso, como o açúcar.

Enjoa e soa a falso. Como o artigo defunto encimado pela foto do ministro da encomenda, com ar cansado, depois da laboriosa criação de 52.801 empregos, mas irradiando optimismo, e ladeado pelo senhor engenheiro procurando no bolso a caneta para conferir as contas do milagre.

PS:
Note-se a utilíssima informação posicional sobre o doutor Pinho - «à esquerda de José Sócrates».

25/08/2006

SERVIÇO PÚBLICO: continua a não haver vida para além do orçamento

Quanto mais o governo esconjura o défice, mais este o persegue. É mais um exemplo das funções zingarilho.

Enquanto o défice persegue o governo, este persegue os sujeitos passivos com uma factura fiscal cada vez mais pesada, enquanto se auto felicita pela contenção do défice à custa dessa factura. É o que nos mostra aqui e agora, quando já não é cúmplice, o doutor Frasquilho. Para só citar dois índices, veja-se o que se está a passar com a despesa corrente e a despesa corrente primária do Estado que o orçamento deste ano previa crescessem 1,5% e 0,7%, respectivamente, mas que até Julho já cresceram 7,8% e 8,7%. Torna-se óbvio que, com esta pletora da vaca marsupial pública, a única maneira de conter o défice é aumentar os impostos (e a dívida pública), que é precisamente o que está acontecer.

Não há Simplex que nos valha. Pelo contrário, quanto mais Simplex, mais complex - outra função zingarilho. Para levar a cabo (no papel) a reengenharia do estado napoleónico-estalinista contratam-se mais uns assessores e uns técnicos e adjudica-se a coisa a uns consultores. Resultado: não se reduz a despesa com vencimentos dos utentes residentes da vaca, por um lado, e aumenta-se a despesa por outro, com os novos residentes e prestadores de serviços. Ao mesmo tempo, a inexorável lei de Parkinson faz aumentar a burocracia dos antigos residentes até encher todo o tempo disponível. Propósito que é fácil, porque é pouco o tempo que fica livre aos residentes depois de tratarem das suas vidinhas.

Para concluir, ainda outra função zingarilho: quando mais durar o período de borla do governo do senhor engenheiro, mais retroactivos os sujeitos passivos lhe irão cobrar. Não será tão cedo, mas chegará a hora da cobrança em que as ilusões do senhor engenheiro serão trocadas por outras do mesmo jaez, na esperança que a coisa se resolve sem dor. Até ao momento em que, em estado de desespero, os sujeitos passivos estarão dispostos a aceitar até a reencarnação do professor Botas.

24/08/2006

DIÁRIO DE BORDO: as coisas que uma mente perversa fantasia (nos piores dias)

Nos meus piores dias chego a desejar que se apresse o domínio do fundamentalismo islâmico para estas gajas serem enfiadas debaixo duma burkha e feitas escravas sexuais dum qualquer Muhammad que lhes aplique a cultura do cabo eléctrico e lhes arrime umas valentes porradas com o dito.

A marmanja aqui ao lado, que se maninfestava em Beirute um dia destes, não precisa de esperar sentada porque está quase a ser recrutada para o harém do xeque Nasrallah cuja foto ostenta orgulhosa.

(Cheguei a esta foto começando n' O Insurgente, continuando no 25 centímetros de neve e chegando a O Jumento. Foi uma longa viagem mas valeu a pena.)

23/08/2006

SERVIÇO PÚBLICO: amnistia de causas

A Amnistia Internacional publicou hoje um relatório onde conclui ter Israel «uma política de destruição deliberada das infra-estruturas civis libanesas, incluindo crimes de guerra, durante o conflito recente».

Admitamos que sim, por agora. E perguntemos: a Amnistia Internacional já anunciou um relatório sobre a política do partido de deus ao serviço do Irão de destruição deliberada das infra-estruturas civis e dos cidadãos israelitas com os seus 12.000-roquetes-12.000 laboriosamente armazenados nas barbas do exército fantoche libanês?

CASE STUDY: uma mão à frente e outra atrás

«Um jornalista francês chegou a dar a receita para combater o desemprego elevadíssimo que o país sofria no início do século XX: cada um começa a trabalhar com uma mão atrás das costas», lembrou hoje no Jornal de Notícias Sérgio de Figueiredo, a propósito do estudo de Edward Prescott que baseado nas estatísticas da OCDE explica a pouca vontade dos europeus em geral, e dos franceses em particular, para darem corda aos sapatos pela pesada carga fiscal de que são sujeitos passivos.

21/08/2006

ESTÓRIA E MORAL: o pior cego é o que não quer ver

Estória

Com a preciosa ajuda do jornalismo de causas (modalidade causas governamentais), o governo vem tentando vender aos sujeitos passivos a ideia de que a economia começou a dar sinais positivos. Se nos lembrarmos que, na situação de estagnação em que se vive faz 3 anos, qualquer centésima de crescimento do PIB parece o começo do fim do calvário, e esquecendo que mesmo esses tímidos sinais podem significar tanto como aquilo que os analistas do mercado de capitais costumam chamar o dead cat jump, a coisa apresentada pelos spin doctors ao serviço do governo parece começar a endireitar-se, sobretudo quando se fala da milagrosa redução do desemprego.

O último milagre foi apresentado pelo INE a semana passada e referido pela imprensa económica, nuns casos com prudência (como aqui ou aqui), noutros com algum lirismo. Foi preciso esperar pelo DN de hoje sob o título «Um em cada seis desistiu de procurar emprego» para mostrar que a «redução (do desemprego) fez-se mais à custa da passagem de desempregados para a inactividade do que pela criação de emprego. Uns terão desistido de procurar emprego porque reuniram as condições para se reformar e outros porque se sentem desencorajados e não acreditam que possam voltar a empregar-se».

E, no entanto, isso mesmo estava escarrapachado na página 10 das Estatísticas de Emprego do INE (disponível com registo), como se pode ver no diagrama seguinte.



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Moral
There are lies, there are damned lies, and there are statistics (Benjamim Disraeli, 1º ministro da rainha Victoria)

18/08/2006

DIÁRIO DE BORDO: com alguns amigos que Israel tem, talvez não precise de tantos inimigos (2)

Sendo cada vez mais obviamente errada a resposta de Israel ao terrorismo do Hezbolah, interrogava-me sobre o que fazer, confessando-me sem nenhuma receita.

Não tenho eu, mas talvez tenha o mercado. Graças ao Google, lá consegui encontrar o rasto do estudo dos Zussman (Asaf da Universidade de Cornell e Noam do Banco de Israel) Assassinations: Evaluating the Effectiveness of a Counterterrorism Policy Using Stock Market Data, aqui citado. Eis o resumo (para abrir o apetite que pode ser saciado aqui):
«Assassinating members of Palestinian terrorist organizations was a major element in Israel’s counterterrorism effort during the Palestinian uprising which started in 2000. We evaluate the effectiveness of this policy indirectly by examining Israeli stock market reactions to assassinations. Our approach relies on the assumption that the market should react positively to news of effective counterterrorism measures but negatively to news of counterproductive ones. The main result of the analysis is that the market reacts strongly to assassinations of senior members in Palestinian terrorist organizations: it declines following attempts to assassinate political leaders but rises following attempts to assassinate military ones.»
Face às conclusões destes Duponts, eu direi mesmo mais: se a coisa funcionou com o terrorismo palestino, há boas razões para admitir que também pode funcionar com o terrorismo do partido de deus a soldo do Irão. Pode-se começar já com o xeque Nasrallah, cuja cobertura deve estar meio descurada, enquanto comemora o êxito dos seus roquetes com a preciosa e inesperada ajuda dos europeus.

15/08/2006

CASE STUDY: a medicina é mais dolorosa do que a doença (por enquanto)

O insurgente André Azevedo Alves escreve na Dia D do Público de ontem um interessante artigo, aqui transcrito, sobre a transição dum sistema de segurança social baseado na repartição, para um sistema misto em que a componente social seria na mesma base e a componente variável (o excedente) seria capitalizada para cada trabalhador contribuinte para o sistema.

No geral concordo com as suas considerações. Um sistema deste tipo é muito mais equitativo e financeiramente sustentável do que pay-as-you-go em que vivemos. Recorde-se que este último foi introduzido nos finais dos anos 60 e princípio dos anos 70 em quase todos os países europeus, e em Portugal, sustentado nas premissas miríficas da eternidade dum estado de coisas que seria passageiro, como do viu, e apenas tornado possível pela demografia do pós-guerra e os resultados da notável recuperação económica suportada pelo esforço duma geração.

Em relação à escapatória dos custos de transição que o governo alega, para empurrar o problema e a solução mais para frente, como fizeram todos os outros governos que o precederam, André Azevedo Alves não refere que a falácia do governo se sustenta duma questão muito simples frequentemente esquecida: a contabilidade pública não é uma contabilidade de custos e proveitos, com um balanço que reflecte a situação patrimonial e uma demonstração de resultados, mas uma contabilidade de receitas e despesas. Resulta deste pecado original que só são reflectidas nas contas dum ano as despesas liquidadas nesse ano, como em tempos aqui recordei.

É por isso que o governo se preocupa com as consequências naturais da adopção desse sistema misto que o obrigaria a relevar as enormes responsabilidades já incorridas por pensões a pagar e o gigantesco volume das responsabilidades futuras por direitos adquiridos dos actuais activos. É como um icebergue de que se esconde a grande massa submersa. Submersa na incúria, negligência e manipulação fraudulenta do sistema de segurança social a que os governos sem excepção se têm dedicado.

Do relevar dessas responsabilidades decorreria a visibilidade do enorme gap entre a dívida pública nominal e a real. A menos que o governo adoptasse o sistema misto e entregasse à gestão privada o segundo pilar. Mas seria pior a emenda do que o soneto, porque perderia desde logo o volume considerável das contribuições deste segundo pilar, com o qual deixaria de poder financiar o pagamento das pensões em curso.

Não se espere, pois, que este governo, ou qualquer outro que lhe suceda, leve a cabo as dolorosas reformas a não ser quando o horizonte de sustentabilidade da segurança social coincida com seu mandato.

13/08/2006

CASE STUDY: divagações impertinentes

Se é verdade que sempre me pareceu evidente a tese de Ortega y Gasset yo soy yo y mi circunstancia, as minhas experiências no laboratório de filosofia da puta da vida conduziram-me, ao longo dos anos, a adicionar-lhe a tese recíproca la circunstancia es mi circunstancia y soy yo. Seria possível compreender os feitos militares de Napoleão sem os considerar como compensação para o seu minguado atributo masculino? Teria havido a 2.ª invasão do Iraque sem o fellatio desfrutado pelo doutor Clinton? (*)

Vem isto a propósito do desvendar do mistério que, durante mais de 30 anos, foi para mim a fixação obsessiva dum grupelho chamado MRPP no Partido Comunista, nos comunistas em geral e no doutor Álvaro Barreirinhas Cunhal em particular. É certo que todos os grupelhos maoístas europeus nascidos com o levantar dos calhaus parisienses em 68 sofriam da mesma moléstia. Porém, no caso no nosso MRPP, a família fundadora dos Matos (Arnaldo, o grande educador da classe operária, como se auto-intitulava, e o mano Danilo) apresentava-se como um caso tão excessivo que dificilmente se poderia explicar só pela ortodoxia m-l. Ali havia coisa. E coisa do foro da psiquiatria.

Muitos anos depois, ao passar os olhos pela biografia duma galerista chamada Ana Saramago Matos, filha do camarada Danilo e sobrinha do grande educador, percebi tudo. A mocinha é neta do camarada José Saramago e, consequentemente, este camarada, director do Diário de Notícias durante o verão de 1975 e saneador dos desalinhados, incluindo um sortido de fassistas e verdadeiros comunistas do MRPP, é (ou foi) sogro do camarada Danilo, irmão do grande educador. Imaginem-se as cenas familiares, o azedume, os ódios remoídos, a mistura explosiva da parentela com a política. Et voilà.

(*) Ver o resultado das investigações do Impertinências nos posts subtilmente titulados O tamanho interessa? e do fellatio à operação Choque & Cagaço.

12/08/2006

DIÁRIO DE BORDO: com alguns amigos que Israel tem, talvez não precise de tantos inimigos

Cá em casa não tem havido motivação para entrar no crescente histerismo maniqueísta com que tem sido tratado o reacender do conflito no Médio Oriente. Vou tocar o tema, por uma vez.

É indesmentível que Israel está rodeada de inimigos desejosos de erradicar da região o povo judeu. Está fora de causa que o estado de Israel tem direito à existência e a defender-se pelos meios necessários e razoavelmente adequados. As guerras nunca foram passeios de convivência e nunca o serão e, por isso, ninguém de boa fé pode negar que da acção militar podem sempre resultar baixas «colaterais», por maiores cuidados que as forças militares tenham para as evitar. No contexto da história deste conflito, é relativamente moderado o número de perdas civis infligidas pelas forças armadas israelitas, mesmo esquecendo que um certo número delas serão provavelmente de terroristas do Hezbolah que se servem das populações como escudo, e mesmo sem descontar a hábil montagem do braço mediático do fundamentalismo islâmico sabujamente servido pelo jornalismo de causas.

É, aliás, insuportável ouvir o choro hipócrita pelas «vítimas inocentes» das pudicas virgens que apoiam Castro, têm dúvidas sobre se a Coreia do Norte é uma democracia, e silenciaram e silenciam os milhões de vítimas das várias modalidades do colectivismo.

Então o que está errado? Está errado Israel, 24 anos depois de ter entrado no vespeiro do Líbano à caça da Fatah, voltar a fazê-lo por um inimigo mais fanático, muito melhor organizado e armado. É uma guerra que não pode ganhar. Teria que incendiar o palheiro para encontrar a agulha do partido de deus e com isso destruir por 1 ou 2 gerações o que resta do estado libanês, que chegou a ser um dia a Suíça do médio oriente, alimentando o fanatismo islâmico, alienando o povo islâmico que não participa das encenações montadas com a cumplicidade da imprensa ocidental e alienando mais alguns dos seus últimos amigos e, finalmente, ficando numa situação pior do que o ponto de partida.

É uma estratégia errada. Sharon, que várias vezes foi provocado com incursões do Hezbolah sem reagir, não a teria adoptado e essa estratégia mostra mais fraqueza do que força. O que fazer? Não tenho nenhuma receita.

10/08/2006

BLOGARIDADES: conservado em criogénio

Na minha juventude dei umas esmolas para o peditório do anti-fassismo e da esquerdalhada. Não muitas, mas o suficiente para ficar dispensado de mais óbolos até ao fim dos meus dias. É por isso que não devem contar comigo para ler aqueles blogues que vocês sabem. E muito menos falar deles. Só abro uma excepção para as sofisticações dalgum radical chic ou de esquerda inteligente, aqui representada (à direita) pelo A Praia.

Esclareço isto para não se imaginar que frequentei a criatura conservada em criogénio que habita o blogue escalpelizado aqui pelo blasfemo João Miranda, que não encontrou nada mais interessante para escalpelizar (estamos na silly season). A criatura enviou uma «mensagem de solidariedade ao povo cubano» reproduzida no Granma que reza assim (nunca o verbo rezar foi tão adequado):
"Queridos camaradas,Soy militante del Partido Comunista Portugués y amo profundamente la Revolución Cubana, patrimonio indestructible de la Humanidad. Quiero, en mi nombre y en este de mi familia, desear la lista recuperación de nuestro Comandante Fidel Castro. Quiero, también, garantizar que somos muchos millares lo que, en Portugal, estamos listos para defender a Cuba contra los nazis conducidos por esta siniestra figura de nombre Bush. ¡La lucha continua!¡Viva la Revolución Cubana!"
Brr. E eu a pensar que estavam extintos.

09/08/2006

BREIQUINGUE NIUZ: desaparecidos em combate

Faz amanhã 4 semanas que o ministro das Finanças fez no parlamento o anúncio mais espantoso deste século: 120.000 (cento e vinte mil) funcionários públicos tinham desaparecido em 7 anos.

Na penúltima contagem em 1999, durante o consolado do saudoso picareta falante, tinham sido encontrados cerca de 700 mil funcionários. Nos anos seguintes, somando as entradas e subtraindo as demissões e reformas foi-se chegando a um número de 750.000, que parece ter sido durante algum tempo a única coisa que tinha o consenso do governo e da oposição. Foi assim. O doutor Teixeira dos Santos estragou a plataforma numérica do bloco central (o BE e o PCP não se interessam por coisas da aritmética e o CDS andava ocupado com os ex-combatentes que não desapareceram em combate) anunciando que «existem 580.291 funcionários públicos em Portugal».

Não são cerca de 600 mil, nem mesmo cerca de 580 mil, ou ainda cerca de 580.300. Nada disso. São exactamente 580.291, quinhentos e oitenta mil duzentos e noventa e um. Noventa e um, note-se.

Perguntareis: mas porquê só agora ó impertinente falas deste anúncio, velho de 4 semanas? E eu respondo: estive à espera do rebentar do escândalo, da moção de censura, do levantamento dos sindicatos, duma insurreição, do protesto da ordem dos técnicos de estatística. Em vão. Com a maior tranquilidade, a nossa democracia mostrou a sua maturidade. A coisa morreu na hora e no local.

À primeira vista pareceu-me incompreensível. Depois, dia após dia, nestas 4 semanas, amadureci o assunto e cheguei a uma aliviante conclusão. Considerando os tropeços com a aritmética que os patrícios têm evidenciado nos últimos 30 anos, exemplificados com as obras públicas que deveriam durar dois anos e duram cinco, ou que deveriam custar 100 e acabam custando 600, o desaparecimento de 120.000 utentes da vaca marsupial pública acabou por me parecer um episódio menor. Afinal são só 16%.

08/08/2006

SERVIÇO PÚBLICO: ser singular é cada vez mais plural

Mais de 1/3 dos contribuintes da Segurança Social têm um dos 36 regimes contributivos especiais com taxas sociais únicas inferiores à geral. Para que não houvesse dúvidas sobre o ímpeto reformista do governo, este já garantiu a continuidade de algumas dessas situações.

Enquanto isso, o governo mantém a disposição de continuar a aumentar a contribuição mínima dos profissionais liberais, mostrando assim a sua preferência por um trade off que consiste em aliviar os apertos do presente à custa de maiores apertos do futuro.

(Fonte: DN)

06/08/2006

AVALIAÇÃO CONTÍNUA: o clube do esperma sortudo

Secção Assaults of thoughts

Warren Buffett, o Sage of Omaha, presidente da Berkshire Hathaway, um dos maiores grupos financeiros do mundo, foi aqui recentemente citado a propósito do seu donativo à fundação Gates. Indesculpavelmente não foram citadas as suas explicações para o facto de ter preferido entregar a maior parte de sua fortuna à fundação Gates em vez de a deixar para a sua criação torrar com aquela insanidade habitual em quem delapida o que ganhou sem esforço (*). A sua explicação é todo um programa de vida: «não acredito na riqueza dinástica» e «o sistema de mercado não tem funcionado em termos dos pobres», disse, ridicularizando de caminho os herdeiros chamando-lhes «membros do clube do esperma sortudo» (pague para ver o NY Times ou leia à borla esta entrevista do Sage à Fortune onde ele não mostra o jogo todo).

2 afonsos pelo donativo e 3 pelo programa de vida.

(*) Até na nossa paróquia podemos encontrar esta espécie abundantemente representada em certos meios e nas revistas do social. É claro que estão tão perto dos filhos de Warren Buffett, no dinheiro e no resto, como o senhor Joe Berardo está próximo do Sage, no dinheiro e principalmente no resto.

05/08/2006

DIÁLOGOS DE PLUTÃO: a coerência do mal e o bem da incoerência

- Porventura consideras a coerência como uma virtude, Calisto?
- Sim, porque devemos agir segundo as nossas convicções.
- Então se as nossas convicções forem de má índole, ainda te parecerá uma virtude?
- O que é mau para uns pode não ser mau para outros.
- Então, estás disposto a elogiar um serial killer?
- Não, claro que não!
- Mas um serial killer é coerente, logo será, segundo dizes, virtuoso.
- Não, porque nesse caso trata-se de elogiar a coerência no mal e não no bem e o mal nunca pode ser elogiado.
- Mas se é assim, Calisto, o que deve ser elogiado é o bem e não a coerência, se não corremos o risco de confundirmos Ética com Estética e de perpetuarmos o conforto do relativismo.
(Diálogo lido neste inspirado post do bomba inteligente, a propósito do que o doutor Miguel Sousa Tavares disse do ditador Castro, que também poderia ser dito a propósito de Hitler, de Estaline ou simplesmente do nosso Botas)

03/08/2006

SERVIÇO PÚBLICO: extorsão pura e simples

No seu afã de espremer os sujeitos passivos, o governo não cessa de imaginar novas formas de o fazer. O ministro da Insegurança Social (*) enviou mais uma sonda para o espaço mediático. Anunciou o ministro a intenção de aplicar a taxa social única a «novas formas de remuneração como as despesas de representação, a utilização de carro, as indemnizações por extinção de contrato de trabalho ou as ajudas de custo».

Extorsão pura e simples. Porquê? Elementar meu caro Watson. A TSU não é um imposto para financiar as despesas do estado. A taxa social única (TSU) é uma taxa para determinar a contribuição definida para um fundo de pensões compulsivamente criado pelo estado para proporcionar um benefício no futuro aos participantes do fundo. Até há alguns anos, este benefício era um benefício definido. Gradualmente, o benefício tornou-se cada vez menos definido e, eventualmente, até não garantido.

A TSU incide sobre a remuneração que servirá de base para calcular a pensão estatutária. Se o governo alargar a incidência da TSU às novas formas de remuneração deveria lógica e equitativamente passar a incluí-las na remuneração anual. Se o fizer, aumentará as pensões mais elevadas, precisamente aquelas que o governo na sua obsessão igualitária quer reduzir. Mas é claro que o governo não tem a mínima intenção de aumentar essas pensões, nem faria sentido quando o sistema ameaça colapsar. O governo pretende simplesmente adiar o colapso, extorquindo mais umas massas, usando um esquema arbitrário que a ser aplicado desligaria ainda mais as contribuições dos benefícios, promovendo a irresponsabilidade individual e colocando os contribuintes cada vez mais na dependência da engenharia social do estado colectivista. E tudo isto com o aplauso do imenso rebanho de dependentes e a paralisia dos sujeitos passivos.

(*) O ministro, recorde-se, fez parte do governo do picareta falante que prometeu 50 anos de sustentabilidade financeira do sistema.

02/08/2006

DEIXAR DE DAR GRAXA PARA MUDAR DE VIDA: não têm perdão

Segundo um estudo da Deloitte baseado em dados de 2002, e citado pelo Jornal de Negócios, 55% dos trabalhadores, perdão empregados, municipais tem 6 ou menos anos de escolaridade. Em média cada empregado municipal falta 22 dias úteis (um mês de calendário) por ano.

Perante esta situação da qual os próprios songamogas estacionados nas autarquias são os primeiros responsáveis, o que dirá o papagaio que está no lugar do presidente da Associação Nacional de Municípios Portugueses? Que as câmaras vão arregaçar as mangas e enxotar para trabalhar a choldra que vive à custa dos sujeitos passivos e mandar os sobejantes para casa?

Nada disso. O papagaio é um intelectual. O papagaio diz coisas como «acompanhar e controlar o posicionamento dos municípios no contexto nacional», precaver «algum tipo de ataque menos fundamentado», «uma espécie de balanço social que convém aos municípios terem» e outras vacuidades semelhantes. Acaba concluindo que o problema «ultrapassa» os autarcas e que a coisa «tem sido colocado à tutela».

Ultrapassa? Colocado à tutela? O que está o papagaio e os outros milhares de aparatchiks a fazer nas mais de 3 centenas de câmaras que infestam o país?

Em qualquer empresa de vão de escada a maioria deles teria sido escorraçada por incompetência e corrupção. Não têm perdão.

01/08/2006

NÓS VISTOS POR ELES: a não ser que seja socialista

«Gosto de Pessoa porque este detestava experiências, porque era humilde, e porque se apercebeu que aqui, na Terra, apenas coabitam as pessoas, e quem sabe Deus. Ou seja, o homem é um ser tão ridículo que, a não ser que seja socialista, não tem capacidade para construir uma ordem social superior resultante da relação livre e interessada entre os vários indivíduos.» (Miguel Angel Belloso, no DE)
Nós? Nós e os outros.