- Isto não pode continuar assim.
- ?
- Não podemos dar ouvidos aos profetas da desgraça, aos jeremias, incluindo o doutor do BP, que é pobre e mal agradecido.
- Pobre e mal agradecido?
- Sim, pobre e mal agradecido, porque foi entronizado como pitonisa do governo e depois diz que a coisa não tem pernas para andar.
- Mas, o FMI diz o mesmo...
- O FMI? O FMI é o porta-voz da globalização.
- E a OCDE? É o porta-voz de quê?
- Seja como for, não podemos ser pessimistas. É uma crise passageira. E o senhor engenheiro todas as semanas anuncia novas medidas. Os portugueses há-dem sair do buraco.
- Passageira? Mas se estamos em decadência desde o século XVI.
- A culpa é da globalização.
- Mas se fomos a primeira potência global?
- Talvez, mas não acautelámos os nossos interesses. Deixámos o estrangeiro sugar-nos.
- Como assim? Desde o século XVI os únicos períodos de crescimento forte seguiram-se ao desmantelamento de barreiras ao comércio internacional, depois da adesão à EFTA e mais tarde ao Mercado Comum.
- Foi coincidência. Não importa. o senhor engenheiro vai refundar o 25 de Abril.
- Vai refundar o 25 de Abril? Começo a ficar mais preocupado.
- Ó pá, porra! Não se pode falar contigo. És um sacana neoliberal.
29/04/2006
DIÁLOGOS DE PLUTÃO: um sacana neoliberal
28/04/2006
BREIQUINGUE NIUZ: o hemicirco ilhéu agita-se ao ritmo da batuta do bokassa local
Resolução da Assembleia Legislativa da Região Autónoma da Madeira n.º 6/2006/M. DR 81 SÉRIE I-B de 2006-04-26
«Resolve denunciar e lamentar, perante os órgãos de soberania, a reiterada discriminação negativa a que as Regiões Autónomas têm sido objecto quanto à não cobertura dos canais generalistas privados SIC e TVI e canal público (a 2) da RTP e resolve submeter à Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) a renovação ou não das licenças dos canais SIC e TVI, recomendando que a ERC adopte idêntica decisão no que respeita ao canal 2 da RTP no sentido de assegurar a efectiva cobertura à Região Autónoma da Madeira»
«Resolve denunciar e lamentar, perante os órgãos de soberania, a reiterada discriminação negativa a que as Regiões Autónomas têm sido objecto quanto à não cobertura dos canais generalistas privados SIC e TVI e canal público (a 2) da RTP e resolve submeter à Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) a renovação ou não das licenças dos canais SIC e TVI, recomendando que a ERC adopte idêntica decisão no que respeita ao canal 2 da RTP no sentido de assegurar a efectiva cobertura à Região Autónoma da Madeira»
27/04/2006
O IMPERTINÊNCIAS FEITO PELOS SEUS DETRACTORES: depois da Teoria Geral do Prego, os Dicionários Improváveis
A publicação no Impertinências dos Contributos para a Teoria Geral do Prego do meu amigo APS, que se iniciou aqui e terminou abruptamente (isto não é piada para o JPP) aqui só não foi um fiasco completo porque se interrompeu. Acarretou-me mais descrédito, único bem que me abunda, e abalou-me a enfraquecida reputação. Das características paroxísticas da obra de APS, típicas do síndroma Creutzfeld-Jacobs, não deveria eu esperar outra coisa.
Apesar disso, proponho-me publicar umas notas, frívolas, como o próprio reconhece, recentemente produzidas. É um acto de gratidão dar a conhecer ao mundo a obra do meu benfeitor - o único ser, além da minha falecida mãe, que me alimentou com uma sopita Knorr. Estou à espera de autorização.
Apesar disso, proponho-me publicar umas notas, frívolas, como o próprio reconhece, recentemente produzidas. É um acto de gratidão dar a conhecer ao mundo a obra do meu benfeitor - o único ser, além da minha falecida mãe, que me alimentou com uma sopita Knorr. Estou à espera de autorização.
25/04/2006
AVALIAÇÃO CONTÍNUA: mais do mesmo
Secção Padre Anchieta
Confesso que não tive pachorra para ouvir o discurso do senhor presidente da República na Assembleia. Não tive, nem prevejo que venha a ter.
Avaliando pelo resumo do Público, tratou-se de mais do mesmo. Diagnóstico? Os coitadinhos. Medicina? O medicamento do costume em doses maiores. O medicamento do costume tem como princípio activo o estado napoleónico-estalinista e como excipiente o compromisso cívico, no manipulado do professor Cavaco Silva.
Como era de esperar, a prescrição cavaquista entusiasmou o senhor engenheiro a sua tropa, as tropas do doutor Mendes e o que resta das tropas do CDS. Quanto ao PCP e aos Berloque de Esquerda, nem por isso, o que é manifestamente má vontade, porque é mais o que os une ao resto da tropa do que o que os divide (entusiasmos e má-vontade aqui relatados).
Tudo isto é aborrecido de tão previsível. Verdadeiramente excitante deveria ser (se eu soubesse) o que se passou nas mentes das criaturas (incluindo liberais de salão) que depositaram no professor Cavaco Silva as suas esperanças de caminhar para a construção do estado liberal.
Três bourbons para o professor Cavaco Silva, que só engana quem gosta de ser enganado e quatro chateaubriands para as esperançosas criaturas (incluindo liberais de salão).
Confesso que não tive pachorra para ouvir o discurso do senhor presidente da República na Assembleia. Não tive, nem prevejo que venha a ter.
Avaliando pelo resumo do Público, tratou-se de mais do mesmo. Diagnóstico? Os coitadinhos. Medicina? O medicamento do costume em doses maiores. O medicamento do costume tem como princípio activo o estado napoleónico-estalinista e como excipiente o compromisso cívico, no manipulado do professor Cavaco Silva.
Como era de esperar, a prescrição cavaquista entusiasmou o senhor engenheiro a sua tropa, as tropas do doutor Mendes e o que resta das tropas do CDS. Quanto ao PCP e aos Berloque de Esquerda, nem por isso, o que é manifestamente má vontade, porque é mais o que os une ao resto da tropa do que o que os divide (entusiasmos e má-vontade aqui relatados).
Tudo isto é aborrecido de tão previsível. Verdadeiramente excitante deveria ser (se eu soubesse) o que se passou nas mentes das criaturas (incluindo liberais de salão) que depositaram no professor Cavaco Silva as suas esperanças de caminhar para a construção do estado liberal.
Três bourbons para o professor Cavaco Silva, que só engana quem gosta de ser enganado e quatro chateaubriands para as esperançosas criaturas (incluindo liberais de salão).
24/04/2006
AVALIAÇÃO CONTÍNUA: anacleto espumante
Secção George Orwell
A propósito da prestação do professor doutor Francisco Anacleto Louçã no debate sobre Globalização promovido pelo Centro de Estudos de Governança e Políticas Públicas da Universidade de Aveiro, escreve Tom Palmer do Cato Institute que também participou:
Pela prestação, atribuo ao professor de Economia anacleta 5 inevitáveis bourbons pela extraordinária capacidade de conseguir sempre superar-se na treta demagógica.
A propósito da prestação do professor doutor Francisco Anacleto Louçã no debate sobre Globalização promovido pelo Centro de Estudos de Governança e Políticas Públicas da Universidade de Aveiro, escreve Tom Palmer do Cato Institute que também participou:
«He had no evidence, no coherent arguments, but lots of invective (he referred to the “lies” I offered in my remarks and the “falsified statistics” on which the “lies” were allegedly based), lots of foaming at the mouth about unrelated topics (why the U.S. should not attack Iran, for example), and strange excursions into the history of economic thought, especially how Leontieff had shown that additional investment in capital-rich economies represented a “paradox.” I don’t think he made many converts, or even any» (via O Insurgente)
Pela prestação, atribuo ao professor de Economia anacleta 5 inevitáveis bourbons pela extraordinária capacidade de conseguir sempre superar-se na treta demagógica.
DEIXAR DE DAR GRAXA PARA MUDAR DE VIDA: o pior de dois mundos
Durante décadas, o fraco nível de concorrência entre quadros e dirigentes estava em linha com um fraco nível de concorrência entre empresas. A diferenciação salarial também estava em linha com a falta de concorrência no mercado de trabalho. O leque salarial era tradicionalmente mais apertado do que os nossos parceiros comerciais, e o nível dos nossos salários, desde o porteiro até ao administrador, costumava ser uma fracção dos salários homólogos em Espanha, por exemplo.
Já deixou de ser assim, faz tempo. Escreve o Jornal de Notícias que «em termos médios, um administrador português ganhou 416 mil euros em 2005. A média das remunerações dos administradores em Espanha ficou 16 mil euros abaixo.»
Conseguimos, portanto, uma coisa extraordinária. Sem aumentar a competitividade no mercado de trabalho conseguimos aumentar a desigualdade salarial, que, não sendo um fim em si mesmo, é (seria) o preço a pagar por maior concorrência no mercado de trabalho, que temos pouca, ou não temos de todo a nível dos gerentes e administradores. Nas empresas familiares temos obrigado paizinho, pela confiança no teu filho, nas empresas públicas temos obrigado senhor engenheiro, pela nomeação, nas outras temos o obrigado meu caro, por ter sugerido o meu nome; vou só ali compor o nó da gravata e já volto.
Já deixou de ser assim, faz tempo. Escreve o Jornal de Notícias que «em termos médios, um administrador português ganhou 416 mil euros em 2005. A média das remunerações dos administradores em Espanha ficou 16 mil euros abaixo.»
Conseguimos, portanto, uma coisa extraordinária. Sem aumentar a competitividade no mercado de trabalho conseguimos aumentar a desigualdade salarial, que, não sendo um fim em si mesmo, é (seria) o preço a pagar por maior concorrência no mercado de trabalho, que temos pouca, ou não temos de todo a nível dos gerentes e administradores. Nas empresas familiares temos obrigado paizinho, pela confiança no teu filho, nas empresas públicas temos obrigado senhor engenheiro, pela nomeação, nas outras temos o obrigado meu caro, por ter sugerido o meu nome; vou só ali compor o nó da gravata e já volto.
22/04/2006
CASE STUDY: malformação genética (1)
Que doutrinas económicas estudavam os economistas que hoje estão na área do poder político e dos poderes fácticos? Para responder a esta pergunta o Impertinências foi buscar à torre do tombo impertinente uma sebenta de História das Doutrinas Económicas e Sociais, uma disciplina do 5.º ano do curso de economia, editada pela associação de estudantes da única escola de economia digna desse nome nos anos de brasa de 68-73 - o ISCEF.
Os alunos que nesses anos frequentavam essa cadeira terão hoje entre os cinquentas e os sessentas. Muitos deles tiveram e ainda têm uma influência determinante nas políticas económicas seguidas nos últimos trinta anos.
A sebenta de História das Doutrinas Económicas e Sociais pode ser dissecada como uma arriba fóssil onde são visíveis as pegadas dos dinossáurios mentais instalados nas meninges dessas influentes criaturas. Vejamos os textos arrolados na fatídica sebenta:
(Continua)
Os alunos que nesses anos frequentavam essa cadeira terão hoje entre os cinquentas e os sessentas. Muitos deles tiveram e ainda têm uma influência determinante nas políticas económicas seguidas nos últimos trinta anos.
A sebenta de História das Doutrinas Económicas e Sociais pode ser dissecada como uma arriba fóssil onde são visíveis as pegadas dos dinossáurios mentais instalados nas meninges dessas influentes criaturas. Vejamos os textos arrolados na fatídica sebenta:
- «O mercantilismo» de Eli Heckscher, um professor sueco de história económica, especialista em comércio internacional
- Um capítulo do «Tableau économique» de François Quesnay, um fisiocrata do século 18, pioneiro da ciência económica
- L'individualisme liberal, capítulo de «Dimensions de l'homme et science économique» de Jean-Louis Fyot, um obscuro professor
- A atitude das escolas quanto ao conflito dos métodos, um capítulo de «Méthode scientifique et sciense économique» de André Marchal, um praticante da sociologia económica
- «Manifesto dos Iguais» de François-Noël Babeuf, um proto-comunista
- A introdução de «A History of Socialist Thought», de G. D. Cole, um fabiano
- Extractos de vários escritos de Karl Mark, o mais conhecido marxista, tais como:
- «Manuscritos de 1844»
- «A Sagrada Família»
- «A ideologia alemã»
- «Manifesto do Partido Comunista», em parceria com o 2.º mais conhecido marxista Friedrich Engels
- «Crítica ao programa de Gotha»
- Vários capítulos de «O Capital» - «Crítica ao projecto do programa social-democrata de 1891», de Friedrich Engels
- «K. Marx», de Vladimir Ilitch Ulianov, o mais reputado leninista escrevendo sobre o mais conhecido marxista e a sua doutrina
- Extractos de «O pensamento de Karl Marx» de Jean-Yves Calvez, jesuíta e professor de ética política
- Extractos de «Fascisme et ditacture» de Nicos Poulantzas, sucessivamente leninista, marxista estruturalista e, no final da vida, eurocomunista.
(Continua)
21/04/2006
ARTIGO DEFUNTO: em alta acentuadamente baixa
A boa imprensa do senhor engenheiro usa o pior do seu parco talento para fabricar títulos estimulantes. Já que o FMI não se excita com os discursos do senhor engenheiro, excita-se o Público que dum texto onde escreve «O crescimento da economia portuguesa estimado para este ano representa uma revisão em baixa de 0,4 pontos percentuais face à anterior previsão da instituição internacional, divulgada em Setembro de 2005», consegue desencovar o título «FMI prevê crescimento mais acentuado para Portugal em 2006 e 2007» .
Apesar do trabalho esforçado dos plumitivos que escrevinham nos jornais, a OCDE, que não lê a imprensa portuguesa, também não está optimista acerca do crescimento na paróquia.
Apesar do trabalho esforçado dos plumitivos que escrevinham nos jornais, a OCDE, que não lê a imprensa portuguesa, também não está optimista acerca do crescimento na paróquia.
20/04/2006
BREIQUINGUE NIUZ: creio porque é absurdo
O senhor doutor Augusto Santos Silva, ministro dos Assuntos Parlamentares, quando divulgava a palavra do senhor engenheiro a uma minoria de cépticos na AR, explicou como o senhor engenheiro, com a ajuda do senhor ministro das Finanças, não deixará derrapar o défice, sem aumentar os impostos e sem despedir um só dos os utentes da vaca marsupial pública.
Os outros prometem, o senhor engenheiro cumpre.
Os outros prometem, o senhor engenheiro cumpre.
TRIVIALIDADES: depois não digam que estou sempre a deitá-los abaixo
«Monte da Caparica: assaltante morto a tiro durante assalto a uma papelaria» titula o Público.
Uma ideia para os rapazes do Berloque inventarem mais uma causa fracturante: a luta pela segurança no trabalho dos jovens delinquentes, perdão, excluídos.
Uma ideia para os rapazes do Berloque inventarem mais uma causa fracturante: a luta pela segurança no trabalho dos jovens delinquentes, perdão, excluídos.
19/04/2006
BREIQUINGUE NIUZ: a retoma não re-toma
«Os desenvolvimentos recentes da economia portuguesa caracterizam-se pela ausência de uma recuperação sustentada da actividade na sequência da recessão de 2003, em contraste com o verificado em anteriores períodos recessivos», disse o senhor doutor do BP.
Quéque vocês querem, filhos? A retoma não escuta a palavra do senhor engenheiro.
Quéque vocês querem, filhos? A retoma não escuta a palavra do senhor engenheiro.
DIÁRIO DE BORDO: cada um investiga o que pode
«Governo espanhol investiga excesso de notas de 500 euros». Não têm mais nada para fazer? Então? E o governo do senhor engenheiro não investiga o excesso de moedas de cinquenta centavos? Excesso? Sem dúvida. São tantas que há até há uma dentro da barriga do meu neto Afonso.
SERVIÇO PÚBLICO: há défice(s) para além da vida
«Portugal está em risco de se converter no país com o maior endividamento externo do mundo desenvolvido. De acordo com as novas previsões do Fundo Monetário Internacional, o défice da balança de transacções correntes deverá atingir em 2007 o equivalente a 9,4% do PIB português» (JN)
Mais uma céptica, uma descrente, uma jeremias. Será que a porra da balança de transacções correntes não escuta os anúncios do senhor engenheiro?
Mais uma céptica, uma descrente, uma jeremias. Será que a porra da balança de transacções correntes não escuta os anúncios do senhor engenheiro?
SERVIÇO PÚBLICO: há défice para além da vida
Segundo o boletim do BP, em 2005 a receita corrente, a espoliação do estado napoleónico-estalinista, aumentou 0,9% para 40,5% do PIB e a despesa corrente (sem serviço da dívida), a palha consumida pela vaca marsupial pública, cresceu 1,6% para 43,4% do PIB.
TRIVIALIDADES: anúncio não-sexista
Procura-se barriga de aluguer
M/F
Casal procura pessoa para acolher óvulo fecundado
M/F
Casal procura pessoa para acolher óvulo fecundado
Resposta a este jornal ao n.º 21732
17/04/2006
O IMPERTINÊNCIAS FEITO PELOS SEUS DETRACTORES: perguntar não ofende?
«O seu post "the state is looking after you? so what?" é bullshit. Qual é afinal a sua opinião sobre o que chama paternalismo do estado?», pergunta um detractor acidental.
Série Demotivators da TechRepublic. Créditos Despair, Inc.
16/04/2006
DIÁRIO DE BORDO: reflexão pascal (2) - the state is looking after you? so what?
Parece haver pelos menos duas versões de paternalismo de estado: a dura e a mole. Para os adeptos da versão dura - a versão tradicional, as criaturas humanas não sabendo cuidar de si e sendo, por natureza, irremediavelmente irresponsáveis, precisam dum estado dirigido por uma liderança iluminada ou, para usar um termo caído em desuso junto com o muro de Berlim, precisam duma vanguarda, que as conduza à sociedade sem classes, ou ao céu, conforme as seitas, e de caminho evite que engordem, morram de Sida, cancro no pulmão, fiquem desfeitos dentro dum chaço, ou sucumbam à libertinagem e ao pecado, conforme as seitas.
A versão mole parte basicamente do mesmo diagnóstico, mas aplica uma diferente medicina. Precisam também do estado para a aplicar, mas em vez de impor aos súbditos a contenção compulsiva das suas tendências suicidas ou pecaminosas, consoante as seitas, concedem-lhe o livre arbítrio mas fazem-nos pagar por isso. Um exemplo clássico (e relativamente benigno) é substituir a adesão legalmente compulsiva aos sistemas de segurança social por uma adesão por defeito com uma cláusula de opting out penalizadora. Para os defensores destas soluções, o funcionamento dos mercados não é suficiente para pastorear as criaturas em direcção aos melhores pastos e acreditam ser indispensável um mecanismo de compulsão imposto pelo estado, sem o que as criaturas não farão as melhores escolhas para si próprias, por fraqueza, por bad judgement, por simples e absoluta incúria. Um exemplo possível começa por ser o pesado imposto sobre o tabaco, suficientemente alto não apenas para pagar o custo excedente do fumador para tratar cancros, catarro, bronquite, enfisemas e outras maleitas que o apoquentam, mas para lhe doer nos bolsos punindo-o por este seu maléfico vício. No final, acaba por ser a proibição de fumar nos locais públicos, hoje os locais fechados, amanhãs os jardins, as praias, os bosques (por causa dos incêndios), as estradas (por causa dos acidentes).
Quando abandonamos as abstracções do liberalismo de salão e descemos ao mundo real, a versão mole não parece inteiramente estúpida. Sobretudo no ponto em que estamos, em que o estado ao mesmo tempo que acalenta e dá colo com subsídios, com caríssimos serviços «gratuitos» de má qualidade (educação, saúde, etc.), de caminho reduz a pó o livre arbítrio das criaturas nessas áreas, fazendo repercutir nos «sujeitos passivos» uma parte significativa do custo das «más» escolhas .
Mas se esperais que vá dissertar sobre este tema num domingo de páscoa, é em vão. Vou apenas acrescentar uma constatação original. Para além daquelas duas versões de paternalismo de estado referidas pelo Economist, a versão mais vulgar na minha (falsamente) modesta opinião é o paternalismo maternal. Os adeptos desta versão prescrevem uma medicina que consiste no estado tolerar e subsidiar os vícios mais malignos à custa da espórtula extraída aos sujeitos passivos, quer eles sejam (medianamente) virtuosos ou (medianamente) viciosos.
Declaração de interesse:
Fumei durante muito anos, mas abandonei o vício há uns 10 anos. Actualmente sou um fumador passivo e um sujeito passivo, sendo que esta segunda qualidade é, de longe, a que me sai mais cara.
A versão mole parte basicamente do mesmo diagnóstico, mas aplica uma diferente medicina. Precisam também do estado para a aplicar, mas em vez de impor aos súbditos a contenção compulsiva das suas tendências suicidas ou pecaminosas, consoante as seitas, concedem-lhe o livre arbítrio mas fazem-nos pagar por isso. Um exemplo clássico (e relativamente benigno) é substituir a adesão legalmente compulsiva aos sistemas de segurança social por uma adesão por defeito com uma cláusula de opting out penalizadora. Para os defensores destas soluções, o funcionamento dos mercados não é suficiente para pastorear as criaturas em direcção aos melhores pastos e acreditam ser indispensável um mecanismo de compulsão imposto pelo estado, sem o que as criaturas não farão as melhores escolhas para si próprias, por fraqueza, por bad judgement, por simples e absoluta incúria. Um exemplo possível começa por ser o pesado imposto sobre o tabaco, suficientemente alto não apenas para pagar o custo excedente do fumador para tratar cancros, catarro, bronquite, enfisemas e outras maleitas que o apoquentam, mas para lhe doer nos bolsos punindo-o por este seu maléfico vício. No final, acaba por ser a proibição de fumar nos locais públicos, hoje os locais fechados, amanhãs os jardins, as praias, os bosques (por causa dos incêndios), as estradas (por causa dos acidentes).
Quando abandonamos as abstracções do liberalismo de salão e descemos ao mundo real, a versão mole não parece inteiramente estúpida. Sobretudo no ponto em que estamos, em que o estado ao mesmo tempo que acalenta e dá colo com subsídios, com caríssimos serviços «gratuitos» de má qualidade (educação, saúde, etc.), de caminho reduz a pó o livre arbítrio das criaturas nessas áreas, fazendo repercutir nos «sujeitos passivos» uma parte significativa do custo das «más» escolhas .
Mas se esperais que vá dissertar sobre este tema num domingo de páscoa, é em vão. Vou apenas acrescentar uma constatação original. Para além daquelas duas versões de paternalismo de estado referidas pelo Economist, a versão mais vulgar na minha (falsamente) modesta opinião é o paternalismo maternal. Os adeptos desta versão prescrevem uma medicina que consiste no estado tolerar e subsidiar os vícios mais malignos à custa da espórtula extraída aos sujeitos passivos, quer eles sejam (medianamente) virtuosos ou (medianamente) viciosos.
Declaração de interesse:
Fumei durante muito anos, mas abandonei o vício há uns 10 anos. Actualmente sou um fumador passivo e um sujeito passivo, sendo que esta segunda qualidade é, de longe, a que me sai mais cara.
14/04/2006
DIÁRIO DE BORDO: reflexão pascal (1)
Não vou ainda tratar do paternalismo de estado com este tempo lúgubre (refiro-me à meteorologia).
Das muitas sextas-feiras da Paixão porque já passei, não me lembro de nenhuma sem este tempo lamentoso, de calvário, de agonia.
Como é possível passarem coisas destas pelo bestunto dum incréu como o Impertinente?
13/04/2006
12/04/2006
DIÁRIO DE BORDO: reflexão pascal (0)
Não vou tratar da aposta perdida de Pascal, apesar de me parecer evidente que, mesmo supondo ser evanescente a probabilidade de existência dum deus, sendo incomensuráveis as consequências da sua existência, o valor esperado será sempre altíssimo.
Vou aproveitar o relativo sossego da páscoa, com clientes e fornecedores longe a roerem as amêndoas, para reflectir sobre o paternalismo de estado, inspirado no leader do Economist da semana passada («The state is looking after you»).
Vou aproveitar o relativo sossego da páscoa, com clientes e fornecedores longe a roerem as amêndoas, para reflectir sobre o paternalismo de estado, inspirado no leader do Economist da semana passada («The state is looking after you»).
11/04/2006
AVALIAÇÃO CONTÍNUA: sunk costs (updated)
Secção Insultos à inteligência
Resulta dos critérios do Eurostat aplicáveis à contabilização dos custos do equipamento militar que o total desses custos é despesa do ano em que o equipamento se torna disponível, independentemente dos pagamentos se escalonaram ao longo de vários anos ou de existir um contrato de locação com rendas a pagar em vários anos.
Tem toda a lógica porque, no preciso momento em que um submarino (ou qualquer outro zingarilho bélico) é entregue à tropa, para brincar às guerras ou para defender a pátria, a tropa está preparada para o afundar ou destruí-lo, conforme for mais adequado ao zingarilho em causa. Sendo assim, não faria sentido «amortizar» em vários anos o custo dum zingarilho que pode ser espatifado à 1ª utilização, um risco insegurável por qualquer segurador deste planeta.
Face a esta lógica cartesiana, o ministro das Finanças fez uma declaração enigmática há dias em Viena (longe, para ser mais fácil o povo não reparar, entretido com as viagens de negócios do engenheiro Sócrates), a propósito do impacto financeiro que os submarinos encomendados pelo doutor Paulo Institucional Portas (artista anteriormente conhecido por Paulinho das Feiras) vão ter nos anos 2009 e 2010. Disse sua excelência que «daqui até lá vamos ter de estudar formas de podermos acautelar e prevenir esses impactos». O que quererá sua excelência significar com acautelar e prevenir a porra dum custo já incorrido de 2 ou 3 zingarilhos que servirão para a guerra das estrelas do mar?
Leva sua excelência 3 pilatos, por andar a sujar as mãos com estas manobras orquestrais no escuro, e outros tantos chateaubriands, por imaginar que somos um pouco mais estúpidos do que, de facto, somos.
Resulta dos critérios do Eurostat aplicáveis à contabilização dos custos do equipamento militar que o total desses custos é despesa do ano em que o equipamento se torna disponível, independentemente dos pagamentos se escalonaram ao longo de vários anos ou de existir um contrato de locação com rendas a pagar em vários anos.
Tem toda a lógica porque, no preciso momento em que um submarino (ou qualquer outro zingarilho bélico) é entregue à tropa, para brincar às guerras ou para defender a pátria, a tropa está preparada para o afundar ou destruí-lo, conforme for mais adequado ao zingarilho em causa. Sendo assim, não faria sentido «amortizar» em vários anos o custo dum zingarilho que pode ser espatifado à 1ª utilização, um risco insegurável por qualquer segurador deste planeta.
Face a esta lógica cartesiana, o ministro das Finanças fez uma declaração enigmática há dias em Viena (longe, para ser mais fácil o povo não reparar, entretido com as viagens de negócios do engenheiro Sócrates), a propósito do impacto financeiro que os submarinos encomendados pelo doutor Paulo Institucional Portas (artista anteriormente conhecido por Paulinho das Feiras) vão ter nos anos 2009 e 2010. Disse sua excelência que «daqui até lá vamos ter de estudar formas de podermos acautelar e prevenir esses impactos». O que quererá sua excelência significar com acautelar e prevenir a porra dum custo já incorrido de 2 ou 3 zingarilhos que servirão para a guerra das estrelas do mar?
Leva sua excelência 3 pilatos, por andar a sujar as mãos com estas manobras orquestrais no escuro, e outros tantos chateaubriands, por imaginar que somos um pouco mais estúpidos do que, de facto, somos.
10/04/2006
DIÁRIO DE BORDO: e se de repente Alcácer Quibir?
É interessante constatar que os mídia, que tanto celebraram a gloriosa expedição a Angola, a bordo do Airbus A330 que transportou 1/3 do governo e um rancho de empresários que, dizem, pesava 1/3 do PIB da paróquia, não se lembraram de olhar para a coisa num ângulo que qualquer multinacional de vão-de-escada (que nunca enfiaria 1/3 do Board on board) teria olhado: e se de repente o A330 se despenhasse?
AVALIAÇÃO CONTÍNUA: há (talvez) vida para além da ortodoxia
Secção Assaults of thoughts
Um inesperado e distraído link dos Bichos Carpinteiros ao Impertinências e o não-voto no doutor Louçã a presidente foram, até sábado, as únicas ligações que poderia imaginar à doutora Joana Amaral Dias. Aparte uma certa simpatia pelo pai e admiração pela carinha laroca da filha - a Barbie do Bloco como lhe chamam, conta sem rancor.
Deixaram de ser as únicas. A mocinha está a trabalhar na tese de doutoramento onde, segundo a Única do Expresso, «em vez de tentar explicar porque há pessoas que não são capazes de lidar com adversidade, estou a tentar perceber porque há pessoas que expostas a situações traumáticas não só subsistem como saem delas mais competentes». Ora aí está uma investigação interessantíssima para quem, como o Impertinências, anda a preparar há décadas o doutoramento na arte de viver a puta da vida, onde foi aprendendo que o conforto e o colo fora de tempo amolecem, e que não há nada que substitua um módico de desconforto para espevitar a adrenalina e obrigar os néscios a puxar pelo bestunto e os negligentes a dar corda aos sapatos.
Dois afonsos para a doutora Joana pela ousadia do pensamento (talvez) desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo.
Um inesperado e distraído link dos Bichos Carpinteiros ao Impertinências e o não-voto no doutor Louçã a presidente foram, até sábado, as únicas ligações que poderia imaginar à doutora Joana Amaral Dias. Aparte uma certa simpatia pelo pai e admiração pela carinha laroca da filha - a Barbie do Bloco como lhe chamam, conta sem rancor.
Deixaram de ser as únicas. A mocinha está a trabalhar na tese de doutoramento onde, segundo a Única do Expresso, «em vez de tentar explicar porque há pessoas que não são capazes de lidar com adversidade, estou a tentar perceber porque há pessoas que expostas a situações traumáticas não só subsistem como saem delas mais competentes». Ora aí está uma investigação interessantíssima para quem, como o Impertinências, anda a preparar há décadas o doutoramento na arte de viver a puta da vida, onde foi aprendendo que o conforto e o colo fora de tempo amolecem, e que não há nada que substitua um módico de desconforto para espevitar a adrenalina e obrigar os néscios a puxar pelo bestunto e os negligentes a dar corda aos sapatos.
Dois afonsos para a doutora Joana pela ousadia do pensamento (talvez) desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo.
09/04/2006
DUAS ESTÓRIAS, DUAS MORAIS E UM APELO: é a Cóltura, estúpidos (again)
1.ª estória
Da última vez que aqui no Impertinências se fez a contabilidade da Casa da Música, concluiu-se que partindo dum orçamento inicial de 46 milhões de euros já se atingia 98 milhões de euros - um exemplo clássico da aplicação do efeito multiplicador do «investimento» público a que se referem os adoradores de Moloch (que saudade do Semiramis, gente).
Pois esta pirâmide do Bloco Central, iniciada há uns 8 anos e que deveria ter ficado pronta para o Porto 2001 - Capital Europeia da Cultura, ainda hoje está em obras de acabamento. Segundo o Semanário Económico, o seu custo total aproxima-se do mítico multiplicador 3 das obras emblemáticas do estado napoleónico-estalinista, atingindo já (ou será ainda?) 107 milhões de euros, verba que inclui umas obras de remodelação que custarão uns míseros 2,5 milhões, e que são obviamente indispensáveis após um intensíssimo ano de espectáculos .
É muito dinheiro? Nem por isso. «Mármores da Jordânia, cortinas da Alemanha, vidros da Espanha, borrachas de revestimento da Malásia, balcões em resina dos EUA, esponja acústica da Holanda, canóplia de Espanha, cadeiras da Noruega e sistemas de iluminação das cadeiras da Finlândia», merecem bem o sacrifício dos tansos.
1.ª moral
«Pobre gosta de luxo, quem gosta de miséria é intelectual» (atribuído a Joãozinho Trinta, um famoso organizador de escola de samba)
2.ª estória
O senhor Joe Berardo fez um acordo com o governo que o Impertinências ainda não teve ocasião de perceber, mas que à primeira vista parece consistir em usar o dinheiro dos «sujeitos passivos» para dar ao senhor Joe um local para ele arrumar as suas tralhas durante dez anos e, de caminho, lhe comprar mais uns milhões de euros de óbjectos cólturais para a sua colecção.
2.ª moral
A conquista do supérfluo provoca uma excitação espiritual superior à conquista do necessário (Gaston Bachelard)
Apelo:
Aqui fica o apelo lancinante do Impertinências ao senhor Joe Berardo, agora que já tem um armazém pago por mim, para nos poupar à visão diária, numa qualquer página dum qualquer jornal, do seu ar de mona lisa de luto, sorrindo com indulgência para a ignara plebe.
Da última vez que aqui no Impertinências se fez a contabilidade da Casa da Música, concluiu-se que partindo dum orçamento inicial de 46 milhões de euros já se atingia 98 milhões de euros - um exemplo clássico da aplicação do efeito multiplicador do «investimento» público a que se referem os adoradores de Moloch (que saudade do Semiramis, gente).
Pois esta pirâmide do Bloco Central, iniciada há uns 8 anos e que deveria ter ficado pronta para o Porto 2001 - Capital Europeia da Cultura, ainda hoje está em obras de acabamento. Segundo o Semanário Económico, o seu custo total aproxima-se do mítico multiplicador 3 das obras emblemáticas do estado napoleónico-estalinista, atingindo já (ou será ainda?) 107 milhões de euros, verba que inclui umas obras de remodelação que custarão uns míseros 2,5 milhões, e que são obviamente indispensáveis após um intensíssimo ano de espectáculos .
É muito dinheiro? Nem por isso. «Mármores da Jordânia, cortinas da Alemanha, vidros da Espanha, borrachas de revestimento da Malásia, balcões em resina dos EUA, esponja acústica da Holanda, canóplia de Espanha, cadeiras da Noruega e sistemas de iluminação das cadeiras da Finlândia», merecem bem o sacrifício dos tansos.
1.ª moral
«Pobre gosta de luxo, quem gosta de miséria é intelectual» (atribuído a Joãozinho Trinta, um famoso organizador de escola de samba)
2.ª estória
O senhor Joe Berardo fez um acordo com o governo que o Impertinências ainda não teve ocasião de perceber, mas que à primeira vista parece consistir em usar o dinheiro dos «sujeitos passivos» para dar ao senhor Joe um local para ele arrumar as suas tralhas durante dez anos e, de caminho, lhe comprar mais uns milhões de euros de óbjectos cólturais para a sua colecção.
2.ª moral
A conquista do supérfluo provoca uma excitação espiritual superior à conquista do necessário (Gaston Bachelard)
Apelo:
Aqui fica o apelo lancinante do Impertinências ao senhor Joe Berardo, agora que já tem um armazém pago por mim, para nos poupar à visão diária, numa qualquer página dum qualquer jornal, do seu ar de mona lisa de luto, sorrindo com indulgência para a ignara plebe.
06/04/2006
DIÁRIO DE BORDO: não adianta pedir contas, porque eles não as sabem fazer
No texto «Incapaz, eu me confesso» muito citado nos últimos dias na bloguilha, Sérgio Figueiredo comenta o estado deplorável em que se encontra a educação pública, particularmente o ensino da matemática, que produz todos os anos incontáveis inumerados. Incontáveis porque quem os deveria contar sofre de inumeracia crónica.
Se isso não fosse, só por si, suficientemente grave por comprometer irremediavelmente várias gerações, sempre poderíamos adicionar o efeito deletério que resulta dos operários que trabalham na fábrica que produz iletrados e inumerados serem eles próprios pouco letrados e ainda menos numerados. Estamos, deste modo, prisioneiros numa armadilha que consiste no seguinte círculo vicioso: temos um ensino básico medíocre, a que inevitavelmente se segue um ensino secundário medíocre, que abastece universidades medíocres com matéria-prima medíocre que, quando pronta a entrar no mercado de trabalho, devidamente impreparada por saberes inúteis adquiridos em dezenas de cursos de ogias, a sua parte mais medíocre desagua irremediavelmente nos diversos níveis do sistema educativo onde irá garantir a perpetuação da mediocridade.
Donde resulta mais um exemplo complexo das funções zingarilho (uma patente impertinente) num espaço não-euclideano n-dimensional: quanto mais ogias, mais inumeracia/iliteracia, quanto mais inumeracia/iliteracia, mais mediocracia, quanto mais mediocracia, mais emprego no estado, quanto mais emprego no estado, mais desemprego oculto, quanto mais desemprego oculto, mais procura de ogias, quanto mais ogias, mais génios incompreendidos, quanto mais génios incompreendidos, mais esquerdismo, quanto mais esquerdismo, e por aí adiante.
Um outro exemplo, um pouco menos grave no que respeita à inumeracia/iliteracia, mas muito mais dramático pelas suas manifestações violentas que são produto cultural típico, é o sistema educativo francês. Não fossem emplastros os nossos estudantes de ogias e poderíamos ter em breve a «geração rasca», como lhe chama Sérgio Figueiredo (e antes dele? guess who), a levantar os calhaus da calçada para procurar a ocidental praia lusitana.
Se isso não fosse, só por si, suficientemente grave por comprometer irremediavelmente várias gerações, sempre poderíamos adicionar o efeito deletério que resulta dos operários que trabalham na fábrica que produz iletrados e inumerados serem eles próprios pouco letrados e ainda menos numerados. Estamos, deste modo, prisioneiros numa armadilha que consiste no seguinte círculo vicioso: temos um ensino básico medíocre, a que inevitavelmente se segue um ensino secundário medíocre, que abastece universidades medíocres com matéria-prima medíocre que, quando pronta a entrar no mercado de trabalho, devidamente impreparada por saberes inúteis adquiridos em dezenas de cursos de ogias, a sua parte mais medíocre desagua irremediavelmente nos diversos níveis do sistema educativo onde irá garantir a perpetuação da mediocridade.
Donde resulta mais um exemplo complexo das funções zingarilho (uma patente impertinente) num espaço não-euclideano n-dimensional: quanto mais ogias, mais inumeracia/iliteracia, quanto mais inumeracia/iliteracia, mais mediocracia, quanto mais mediocracia, mais emprego no estado, quanto mais emprego no estado, mais desemprego oculto, quanto mais desemprego oculto, mais procura de ogias, quanto mais ogias, mais génios incompreendidos, quanto mais génios incompreendidos, mais esquerdismo, quanto mais esquerdismo, e por aí adiante.
Um outro exemplo, um pouco menos grave no que respeita à inumeracia/iliteracia, mas muito mais dramático pelas suas manifestações violentas que são produto cultural típico, é o sistema educativo francês. Não fossem emplastros os nossos estudantes de ogias e poderíamos ter em breve a «geração rasca», como lhe chama Sérgio Figueiredo (e antes dele? guess who), a levantar os calhaus da calçada para procurar a ocidental praia lusitana.
05/04/2006
DIÁLOGOS DE PLUTÃO: a bas le capitalisme ou les bons esprits se rencontrent
- Não há nenhum mistério em perceber por que é que o movimento actual se apropria dos lugares, das imagens e dos símbolos de há quase quarenta anos.[Diálogo imaginário, com as palavras do camarada doutor Ivan Nunes, tiradas daqui, e as do camarada doutor Daniel Cohn-Bendit ditas ao Paris-Match e citadas pela provavelmente melhor revista no mundo da economia, finanças, etc. (um grande ETC.), tudo devidamente apimentado com umas provocações impertinentes]
- Ó filho nada tem nada a ver. O Maio de 68 foi um movimento ofensivo, transportando uma visão positiva do futuro. Pergunta ao teu pai.
- E a coisa curiosa é que os movimentos franceses actuais continuam a revelar uma capacidade extraordinária para inventar palavras de ordem, uma grande criatividade na utilização da língua, no caminho trilhado por 1968.
- Inventar só se for tretas. Os protestos de agora são feitos na defensiva, no medo da insegurança e da mudança.
04/04/2006
SERVIÇO PÚBLICO: a economia não se deixa impressionar pelo marketing socrático (2)
Como pode o ministro Teixeira dos Santos ufanar-se com as contas de 2005 em que as despesas da administração pública foram superiores em 1.331,4 milhões ao estimado pelo doutor Vítor Constâncio, que as tinha estimado com o pressuposto de não serem tomadas medidas de consolidação. Que medidas de consolidação foram essas que aumentaram em mil e trezentos milhões de euros a despesa sem consolidação?
Como pôde o ministro Vieira da Silva ter apresentado um relatório sobre a sustentabilidade da Segurança Social onde se diagnostica que ceteris paribus o sistema entra em desequilíbrio financeiro em 2014, depois de ter sido ministro dum governo em que o 1.º ministro garantiu, após mais uma reforma do sistema, que teríamos garantidas as pensões para os próximos 100 anos (remember?).
Se a economia não se impressiona, quem parece impressionar-se com demasiada facilidade é o presidente da CIP, que acha «fantástica» uma reforma da administração pública em que «o único sacrifício que provavelmente vai pedir aos funcionários públicos é o da mobilidade». Quererá o engenheiro Van Zeller explicar aos ignaros como será possível ao governo «consolidar» a despesa pública quando o seu componente mais rígido e de maior peso fica na mesma? Aliás o 1.º ministro e os ministros em coro não se cansam de garantir que não só não haverá despedimentos como ninguém será prejudicado.
Há alguma coisa que eu devesse saber e ninguém me conta?
Como pôde o ministro Vieira da Silva ter apresentado um relatório sobre a sustentabilidade da Segurança Social onde se diagnostica que ceteris paribus o sistema entra em desequilíbrio financeiro em 2014, depois de ter sido ministro dum governo em que o 1.º ministro garantiu, após mais uma reforma do sistema, que teríamos garantidas as pensões para os próximos 100 anos (remember?).
Se a economia não se impressiona, quem parece impressionar-se com demasiada facilidade é o presidente da CIP, que acha «fantástica» uma reforma da administração pública em que «o único sacrifício que provavelmente vai pedir aos funcionários públicos é o da mobilidade». Quererá o engenheiro Van Zeller explicar aos ignaros como será possível ao governo «consolidar» a despesa pública quando o seu componente mais rígido e de maior peso fica na mesma? Aliás o 1.º ministro e os ministros em coro não se cansam de garantir que não só não haverá despedimentos como ninguém será prejudicado.
Há alguma coisa que eu devesse saber e ninguém me conta?
BLOGARIDADES: e se um desconhecido lhe oferecer flores
Tinha jurado que só voltava a dar os parabéns se Cristo voltasse à terra. Mas, jura-se tanta coisa.
Três anos (e alguns dias) a acordar assim.
03/04/2006
SERVIÇO PÚBLICO: a economia não se deixa impressionar pelo marketing socrático (nem pela boa imprensa)
Apesar do aumento do IVA e do ISP o défice do orçamento, que tinha sido 5,4% em 2004 (sem receitas extraordinárias), agravou-se para 6% em 2005.
De acordo com o INE, «a produção industrial caiu 1,5% em Fevereiro face ao mesmo mês do ano passado, com a primeira queda em sete meses».
A dívida pública atingiu em 2005 63,9% do PIB, ultrapassando o tecto previsto no Pacto de Estabilidade e Crescimento (60%).
O indicador de clima económico em Portugal, da Comissão Europeia, piorou em Março, ficando em todos os sectores abaixo da média dos últimos 16 anos.
Segundo o barómetro da Marktest, 3 em 4 portugueses prevêem que a sua situação dentro dum ano está igual ou pior do que a de hoje.
De acordo com o INE, «a produção industrial caiu 1,5% em Fevereiro face ao mesmo mês do ano passado, com a primeira queda em sete meses».
A dívida pública atingiu em 2005 63,9% do PIB, ultrapassando o tecto previsto no Pacto de Estabilidade e Crescimento (60%).
O indicador de clima económico em Portugal, da Comissão Europeia, piorou em Março, ficando em todos os sectores abaixo da média dos últimos 16 anos.
Segundo o barómetro da Marktest, 3 em 4 portugueses prevêem que a sua situação dentro dum ano está igual ou pior do que a de hoje.
02/04/2006
ESTADO DE SÍTIO: o que é verdade hoje, pode ser mentira amanhã
Intrigado pelo anunciado veto da Autoridade da Concorrência à compra das AEA pela Brisa, perguntei a um amigo que me contou a estória por trás destas manobras.
Durante a década de 90, explicou, entendeu-se que a forma de financiamento para alargamento da rede nacional de auto-estradas seria através do project finance. Entre os inúmeros requisitos que eram necessário cumprir, (i) a Brisa não poderia participar nos novos concursos e (ii) as Concessionárias teriam obrigatoriamente de ter pelo menos uma construtora entre os seus accionistas.
A organização do Euro 2004 foi atribuída a Portugal e, entre as várias obras “necessárias”, figurava a Concessão denominada Litoral Centro, que liga Leiria a Mira (final da Concessão do Grande Porto), supostamente para abrir durante a Primavera de 2004. Para além de permitir uma melhor ligação entre as várias cidades, este corredor entre Lisboa e Porto, visava criar uma concorrência à A1.
Após muitas discussões e atrasos – a obra iniciou-se em 2005 e está prevista terminar em 2008 - a Concessão Litoral Centro foi atribuída à Brisal, detida maioritariamente pela Brisa (que inicialmente não podia concorrer e que não tinha qualquer construtora entre os seus accionistas). Naturalmente, todo o projecto AEA foi por água abaixo.
Por forma a minimizar o impacto desta decisão, foi feito um acordo entre os accionistas da AEA que, por contrapartida de 50% do Capital da AEA, os accionistas da AEA tomariam 20% do Capital da Brisal (que para além da Litoral Centro irá concorrer à Concessão da Grande Lisboa).
Agora a AdC não autoriza a compra destes 50% (na realidade são 40%, pois a Brisa já tem 10% do Capital das AEA). Resultado, a Brisa conseguiu inicialmente o que queria (atrasar o início da construção/exploração do Litoral Centro e, sobretudo, participar nesta concessão) e agora o Estado nega o que anteriormente tinha acedido. No meio estão quatro accionistas que não sabem que rumo dar às AEA.
Durante a década de 90, explicou, entendeu-se que a forma de financiamento para alargamento da rede nacional de auto-estradas seria através do project finance. Entre os inúmeros requisitos que eram necessário cumprir, (i) a Brisa não poderia participar nos novos concursos e (ii) as Concessionárias teriam obrigatoriamente de ter pelo menos uma construtora entre os seus accionistas.
A organização do Euro 2004 foi atribuída a Portugal e, entre as várias obras “necessárias”, figurava a Concessão denominada Litoral Centro, que liga Leiria a Mira (final da Concessão do Grande Porto), supostamente para abrir durante a Primavera de 2004. Para além de permitir uma melhor ligação entre as várias cidades, este corredor entre Lisboa e Porto, visava criar uma concorrência à A1.
Após muitas discussões e atrasos – a obra iniciou-se em 2005 e está prevista terminar em 2008 - a Concessão Litoral Centro foi atribuída à Brisal, detida maioritariamente pela Brisa (que inicialmente não podia concorrer e que não tinha qualquer construtora entre os seus accionistas). Naturalmente, todo o projecto AEA foi por água abaixo.
Por forma a minimizar o impacto desta decisão, foi feito um acordo entre os accionistas da AEA que, por contrapartida de 50% do Capital da AEA, os accionistas da AEA tomariam 20% do Capital da Brisal (que para além da Litoral Centro irá concorrer à Concessão da Grande Lisboa).
Agora a AdC não autoriza a compra destes 50% (na realidade são 40%, pois a Brisa já tem 10% do Capital das AEA). Resultado, a Brisa conseguiu inicialmente o que queria (atrasar o início da construção/exploração do Litoral Centro e, sobretudo, participar nesta concessão) e agora o Estado nega o que anteriormente tinha acedido. No meio estão quatro accionistas que não sabem que rumo dar às AEA.
SERVIÇO PÚBLICO: a cóltura não é barata (2)
O actor António Feio definiu um dia o teatro independente como o teatro a quem o estado diz «toma lá dinheiro e faz qualquer coisa».A forma superlativa do teatro independente é o teatro estatal. Por exemplo o teatro que se faz no mausoléu dona Maria II. Já aqui se escreveu sobre os 2.500 euros que custou cada espectador da «Conferência de Imprensa» de Harold Pinter.
Nesse mesmo post o Impertinências fez umas contas de merceeiro e estimou em 600 euros o custo médio por cada espectador numa temporada. Foi um exagero digno de ser classificado como aritmética de causas. É mais uma nódoa no curriculum do Impertinências.
A verdade, agora revelada no relatório do teatro dona Maria, citado pelo Expresso, é que o custo médio por cada espectador foi apenas 123 euros, o custo total pouco ultrapassou os 4,6 milhões de euros e a bilheteira conseguiu até vender uns impressionantes 143 mil euros.
Visto num outro ângulo, o que se poderia fazer com 4,6 milhões de euros? Por exemplo dar emprego a 70 boys e 30 girls (cá está a mágica proporção)? E o que será preferível? Um evento cóltural (uma peça do Pinter) ou o espectáculo de 100 aparatchiks pavoneando os fatos novos nos corredores dos ministérios?
Quem souber a resposta pode escrever para o correio impertinente. Obrigado.
Nesse mesmo post o Impertinências fez umas contas de merceeiro e estimou em 600 euros o custo médio por cada espectador numa temporada. Foi um exagero digno de ser classificado como aritmética de causas. É mais uma nódoa no curriculum do Impertinências.
A verdade, agora revelada no relatório do teatro dona Maria, citado pelo Expresso, é que o custo médio por cada espectador foi apenas 123 euros, o custo total pouco ultrapassou os 4,6 milhões de euros e a bilheteira conseguiu até vender uns impressionantes 143 mil euros.
Visto num outro ângulo, o que se poderia fazer com 4,6 milhões de euros? Por exemplo dar emprego a 70 boys e 30 girls (cá está a mágica proporção)? E o que será preferível? Um evento cóltural (uma peça do Pinter) ou o espectáculo de 100 aparatchiks pavoneando os fatos novos nos corredores dos ministérios?
Quem souber a resposta pode escrever para o correio impertinente. Obrigado.