28/02/2009

O paradigma

«Sócrates nasceu com expediente e sorte na vida - do curso à casa. O sonho para o chico-esperto português.»

Marcelo Rebelo de Sousa, no seu Blogue no Sol

ESTADO DE SÍTIO: try something and, when that does not work, try something else

Na sua constante agitação mediática o governo, desta vez pela boca do inefável ministro da Economia, anunciou mais uma medida a acrescentar à pletora já conhecida: as empresas com dificuldades financeiras, isto é todas as empresas do país que não dispõem duma reserva de mercado, que pagam aos credores e ao fisco e têm em dia os pagamentos à segurança social, poderão vender os seus imóveis a um fundo público de investimento imobiliário com quem farão um contrato de arrendamento. O fundo disporá de 100 milhões de euros, o suficiente para financiar umas 200 empresas se admitirmos um valor médio modesto de meio milhão de euros por imóvel.

Como dizia o meu avô, não dá para encher a cova dum dente. Ou talvez não, se as empresas com dificuldades financeiras fossem caracterizadas como as que simultaneamente não dispõem duma reserva de mercado, pagam aos credores e ao fisco e têm em dia os pagamentos à segurança social, seriam talvez menos de 200.

Chegado aqui, lembrei-me da estratégia implícita do governo inglês que a Economist descreve como «try something and, when that does not work, try something else».

27/02/2009

DIÁLOGOS DE PLUTÃO: Apanhado na cama

Tempo: 6 horas da manhã de 5.ª Feira. Local: casa do treinador do Sporting Clube de Portugal. Protagonistas: Paulo Bento e respectiva patroa.
-Acorda Paulo que já são 6.
-O quê? Já marcaram outro?

[Enviada por JB]

ESTADO DE SÍTIO: La putain de la republique (2) - sans virgules

Em menos de 2 semanas a mais-valia de 25% que a Caixa pagou a Manuel Fino pelas acções da Cimpor dadas em pagamento parcial do empréstimo da primeira ao segundo para comprar acções do Millenium bcp banco para onde por coincidência entretanto transitaram o antigo presidente da Caixa e um outro administrador que por acaso é um amigo do peito do senhor primeiro-ministro o qual como se sabe não é suspeito do caso Freeport apesar da carta rogatória do Serious Fraud Office referir meia dúzia de vezes o seu nome o qual administrador apesar do amigo não ser suspeito pelo sim pelo não parece ter telefonado ao director do Sol jornal que por outra feliz coincidência tem entre os seus accionistas o dito Millenium bcp segundo o relato do referido director à Sábado dando-lhe a escolher entre a cenoura de resolver os problemas do jornal no fim-de-semana ou o pau do estrangulamento financeiro em menos de 2 semanas dizia eu a mais-valia de 25% subiu para mais do dobro depois da queda inevitavelmente subsequente ou subsequentemente inevitável das acções da Cimpor acções que recorde-se podem ser recompradas por Manuel Fino se e quando lhe convier.

26/02/2009

Nem todos os obamas de Obama fazem felizes os obamófilos: episódio (21) É necessário que tudo fique na mesma para que algo mude

Continuando a surpreender a obamófilia, Leon Panetta, o novo director da CIA nomeado por Obama, revela políticas em substancial continuidade com a administração Bush.

[lido n'O Insurgente]

25/02/2009

Incentivos errados (2) - procurando saltar para o regaço do governo

A Associação Nacional de Proprietários não concorda com o novo Regime de Arrendamento Urbano e faz muito bem. Esperava-se (em vão) que defendesse a desintervenção do mercado de arrendamento e a livre negociação de contratos e de rendas, mas, em vez disso, a ANP propõe mais intervenção ou, para ser exacto, a quase-governamentalização do mercado de arrendamento. Defende a criação da Sociedade Pública de Aluguer para gerir as casas que os proprietários disponibilizassem para arrendar e a Renda Mínima Nacional de 50 euros. Um Sindicato Nacional de Proprietários não faria melhores propostas.

Nem todos os obamas de Obama fazem felizes os obamófilos: episódio (20) Muitos foram chamados mas só um foi eleito

Depois de escolhas muito discutíveis reportadas abundantemente aqui no (Im)pertinências, no final dum período de escrutínio que se espera tenha sido mais cuidado do que o do secretário de estado do Comércio, com toda a família envolvida, Barack Obama mostra que em matéria de cães prefere os portugueses.

BREIQUINGUE NIUZ: O governo não é responsável - a não ser que

Não me lembraria de responsabilizar o governo pela perda de mais 70 mil postos de trabalhos em Janeiro, como faz a oposição. A não ser se o governo tivesse no seu programa o objectivo «de recuperar, nos próximos quatro anos, os cerca de 150.000 postos de trabalho perdidos na última legislatura» e nos tivesse lembrado todas as semanas que já tinha criado não sei quantos e que os que faltavam seriam criados em breve - mudando subtilmente o verbo «recuperar», que significava no contexto do programa reduzir o desemprego, para «criar» ou seja aumentar novos postos de trabalho, ainda que os destruídos pudessem ser mais do que os criados.

24/02/2009

Incentivos errados - a penalização da prudência ou a poupança como pecado

BORROWERS get bailed out. Run your bank into the ground and the taxpayer will lend it money. Buy a house you cannot afford and the central bank will cut interest rates to ease your burden.

Meanwhile those who have lived within their means and put money aside for the proverbial rainy day, have seen interest rates slashed to 2% in the euro zone, 1% in Britain and virtually nothing in America. No one offers to help them out, even though saving is needed to allow business investment which, in turn, generates growth. Asians, told off in the 1990s for their current-account deficits, now get lectured for saving too much.

This is quite a different paradox of thrift from the usual one. In theory, everybody regards thrift as a virtue. In practice, they treat it as a vice.

Of course, politicians and economists will argue that they are only talking about the short run. They need people to spend to lift the economy out of recession. As John Maynard Keynes remarked: “Whenever you save five shillings, you put a man out of work for the day.”

One could argue that savers should do well in the event of outright deflation. Nominal interest rates may have fallen sharply. But they cannot fall below zero. So in a world of falling prices, real rates will be high.

Nevertheless, savers are far from content. Those who have built diversified portfolios (another hallmark of prudence) will have suffered losses in equities, property and corporate bonds. Even those who have been clever enough to keep their money in cash have had to fret about the security of banks and money-market funds.

In any case, the community of savers is a diverse one. Take the many elderly people who depend on their savings for retirement income. When interest rates fall as quickly as they have in recent months, their income falls, and they will be forced to spend less.

The retired do not have the option of making up lost income. They are too old to work, or companies may not consider them employable. They could take more risk by moving into corporate bonds or equities. But that strategy incurs the danger of a permanent loss of capital.

In many countries the system is biased against the saver.


[A lament for savers, Feb 12th 2009, The Economist]

O preço do dinheiro artificialmente baixo, resultante da política monetária do FED nos últimos 10 anos ou mais, conseguiu o pior de dois mundos: ao mesmo tempo aumentou a «exuberância irracional» puxando pelos mercados de capitais e imobiliário, estimulou o consumo, desincentivou a poupança e, inevitavelmente, acelerou o endividamento das famílias, das empresas e dos estados.

Esperemos pelos resultados da política de substituição da heroína pela metadona.

23/02/2009

ESTADO DE SÍTIO: Eles não saberão fazer contas mas serão exímios no uso da língua

O grupo parlamentar do PS apresentou na AR mais um projecto de lei fracturante da iniciativa da Juventude Socialista (uma espécie de berloque de esquerda só para militantes do PS) para introduzir a educação sexual obrigatória com uma carga horária mínima de 12 horas.

É a grande oportunidade dos professores se redimirem da comprovada incompetência para plantar nos lóbulos das pequenas criaturas os rudimentos da matemática, das ciências e de outras matérias áridas e dedicaram os seus talentos a iniciá-las no cunilingus.

Enquanto isso, façamos o possível por esquecer o pequeno e desagradável problema da inumeracia.

PISA 2006: Science Competencies for Tomorrow’s World Executive Summary © OECD 2007

22/02/2009

O complexo político-empresarial socialista

No seu discurso de despedida como presidente dos EU, Ike Eisenhower usou a expressão complexo militar-industrial para designar a aliança entre o Pentágono e os sectores industriais ligados à defesa com «potencial para (gerar) um surto desastroso de poder mal concentrado. Não devemos nunca permitir que o peso desta conjugação ameace as nossas liberdades ou o processo democrático», acrescentou.

Quase meio século depois, do outro lado do Atlântico num país em vias de subdesenvolvimento, o socratismo está a criar o complexo político-empresarial socialista. Os sinais do conúbio multiplicam-se à medida que a crise empurra os empresários para o acolhedor regaço do poder socialista. Com excepção de Belmiro de Azevedo, Alexandre Soares do Santos e poucos mais, a classe empresarial põe-se a jeito em troca dumas migalhas do orçamento.

Um exemplo recente é a compra das minas de Aljustrel pela Martifer à Lundin Mining, que se propunha encerrá-las por inviáveis nas condições actuais do mercado. A compra foi agenciada pelo governo, na pessoa do inefável Pinho (por coincidência um empregado dos Espíritos em comissão de serviço no ministério da Economia), para salvar 200 empregos. É difícil não perceber que, se a Lundin Mining não conseguia viabilizar a exploração das minas, não será uma pequena empresa metalúrgica, que sabe tanto de minas como de serviços financeiros, que o conseguirá. Terá que haver contrapartidas por baixo da mesa.

Dois meses depois, o conselho de administração da Martifer coopta Jorge Coelho, ex-estradista do PS e ex-ministro das Obras Públicas e actual presidente executivo da Mota-Engil, por feliz coincidência o maior grupo português de obras públicas e o segundo accionista da Martifer.

Estão avisados. Depois não se queixem.

21/02/2009

ESTADO DE SÍTIO: Ao intervalo, Freeport 0 - BPN 0

Gradualmente José Sócrates e família, com o aparelho socialista em background, vão-se atolando no lamaçal Freeport, apesar do esforço criador da central de manipulação a produzir manipulados com que o jornalismo de causas, mais de interesses do que de causas registe-se, enfeita a imprensa e os telejornais.

Em sincronia com o atolamento de Sócrates, torna-se patente o atolamento do cavaquismo, com uma dúzia de ex-ministros e ex-secretários de estado já atingidos pelos detritos do BPN (vêm mais a caminho). À cabeça deste cavaquismo, surge o notável Dias Loureiro que quanto mais se agita mais se enterra nas areias movediças do BPN.

Faltava traço de união entre os dois casos. Já não falta: é o cada vez mais famoso tio de Sócrates que tinha off-shores abertas no BPN.

O tio que ri (foto do Público)

Esta sincronia crescentemente evidente tenderá para um equilíbrio que, dada a impotência e incompetência das polícias e dos tribunais, conduzirá ao apagamento recíproco ou, na pior das hipóteses, à solução final dos casos desesperados: a prescrição. A menos que.

A menos que o envolvimento do Serious Fraud Office, por lado, e os jornalismos de causas comuno-berloquistas, excitados pelo crescente desconforto do eleitorado socialista não dependente do estado, espevitem a coisa e não a deixem morrer. É caso para pensar: valham-nos os ingleses, os comunistas, os trotskistas e os maoístas.

ESTADO DE SÍTIO: La putain de la republique

Qual a serventia do banco público CGD? Emprestar dinheiro a accionistas dum banco semi-público, do qual a Caixa é um dos maiores accionistas, para comprarem mais acções, empréstimo garantido por essas mesmas acções. Quando estas acções caiem para metade do valor e esses accionistas não têm dinheiro para amortizar o empréstimo nem para reforçar as garantias, a Caixa serve para comprar-lhes outras acções 25% acima do preço do mercado. Acções que a Caixa não poderá vender durante 3 anos e que o mutuário poderá recomprar se e quando lhe convier.

20/02/2009

Nem todos os obamas de Obama fazem felizes os obamófilos: episódio (19) What is good for the country is not good for him

Esta semana lembrei-me da seguinte estória aqui contada no (Im)pertinências: o republicano Charles Erwin Wilson, antigo presidente executivo e ainda accionista à época da General Motors, durante o processo de nomeação como secretário da Defesa de Eisenhower, respondeu à comissão de Defesa do Senado sobre os potenciais conflitos de interesse «what was good for the country was good for General Motors and vice versa».

Lembrei-me da estória, no contexto da celebração do bicentenário do nascimento de Lincoln e da estratégia de imagem de Barack Obama procurar colar-se ao velho Abe, a propósito do Economist da semana passada ter feito comentário irónico que tem implícita uma proposição inversa à de Wilson:

Mr Obama, like Bill Clinton before him, has sent his own children to a private school, Sidwell Friends, while simultaneously anathematising voucher schemes that would allow those less wealthy to do the same. If the hottest political question in this bicentennial week is “what would Lincoln do?”, then the first answer is surely try a lot harder to repair America’s faltering commitment to meritocracy.

Neste caso, ao contrário de quase todos os outros episódios da obamofilia relatados no (Im)pertinências, não me parece que o facto e o comentário citados incomodem particularmente os nossos mais irredutíveis obamófilos locais, muitos deles criaturas socialistas ou bloquistas com um certo status, por vezes até com alguma patine, que convivem alegremente com o conúbio entre a escola pública para as massas ignaras e a escola privada para os seus filhos.

18/02/2009

O IMPERTINÊNCIAS FEITO PELOS SEUS DETRACTORES: Pensamento do dia (3)

Roubar ideias de uma pessoa é plágio. Roubar de várias é monografia.

[Enviado de Minas Gerais por EC]

17/02/2009

ESTÓRIA E MORAL: La Fontaine revisitado

La cigale et la fourmi


VERSION CLASSIQUE

La fourmi travaille dur tout l'été dans la canicule; elle construit sa maison et prépare ses provisions pour l'hiver. La cigale pense que la fourmi est stupide; elle rit, danse et joue tout l'été.

Une fois l'hiver arrivé, la fourmi est au chaud et bien nourrie. La cigale grelottante de froid n'a ni nourriture ni abri et meurt de froid.









VERSION EUROPEAN ACTUELLE

La fourmi travaille dur tout l'été dans la canicule; elle construit sa maison et prépare ses provisions pour l'hiver. La cigale pense que la fourmi est stupide; elle rit, danse et joue tout l'été.

Une fois l'hiver arrivé, la fourmi est au chaud et bien pourvue. La cigale grelottante de froid organise une conférence de presse et demande pourquoi la fourmi a le droit d'être au chaud et bien nourrie tandis que les autres moins chanceux comme elle ont froid et faim.

La télévision organise des émissions en direct qui montrent la cigale grelottante de froid et passent des extraits vidéo de la fourmi bien au chaud dans sa maison confortable avec une table pleine de provisions. Des téléspectateurs sont outrés : dans un pays si riche, on laisse souffrir cette pauvre cigale tandis que d'autres vivent dans l'abondance. Les associations contre la pauvreté manifestent devant la maison de la fourmi.

Les journalistes organisent des interviews demandant pourquoi la fourmi est devenue riche sur le dos de la cigale et interpellent le gouvernement pour augmenter les impôts de la fourmi afin qu'elle paie "sa juste part". Les partis politiques d'opposition abondent dans ce sens.

En réponse aux sondages, le gouvernement rédige une loi sur l'égalité économique et une loi (rétroactive à l'été) d'anti-discrimination. Les impôts de la fourmi sont augmentés et la fourmi reçoit aussi une amende pour ne pas avoir embauché la cigale comme aide.

La maison de la fourmi est préemptée par les autorités car la fourmi n'a pas assez d'argent pour payer son amende et ses impôts. La fourmi quitte l'Éurope pour s'installer avec succès ailleurs.

La télévision fait un reportage sur la cigale maintenant engraissée. Elle est en train de finir les dernières provisions de la fourmi bien que le printemps soit encore loin.

L'ancienne maison de la fourmi devenue logement social pour la cigale se détériore car cette dernière n'a rien fait pour l'entretenir. Des reproches sont faits au gouvernement pour le manque de moyens. Une commission enquête est mise en place, ce qui coûtera 10 Millions d'euros.

La cigale meurt d'une overdose; Libération et Humanité ironisent sur l'échec du gouvernement à redresser sérieusement le problème des inégalités sociales.

[Enviado por JB]

16/02/2009

Só pode ser uma campanha negra contra o ministro anexo

Percebe-se que os casos Madoff aconteçam em países infectados pelo neo-liberalismo, com empresários e gestores gananciosos e um (muito conveniente) défice de regulação. Mas como explicar que entre nós, um país de empresários e gestores cooperativos e sempre prontos a saltar para o colo do governo, aconteçam casos como o BPN e o BPN? E logo no sector bancário que tem uma regulação 5 estrelas onde impera o ministro anexo doutor Constâncio.

Como compreender as declarações de António Franco, director de Operações do BPN? O Banco de Portugal não fez as perguntas necessárias porque se «contenta com meias respostas» que fazem «desaparecer os problemas»? «Se o Banco de Portugal tivesse perguntado de onde vinha o dinheiro, já tinha descoberto há muito o Banco Insular»? «Acabam (os bancos) por se aperceber dos tiques do supervisor, se este pede informações só no fim do mês, no fim do semestre ou no fim do ano. O Banco de Portugal fica satisfeito com meias respostas»? Quando havia era «posto dinheiro e o Banco de Portugal fica satisfeito se aquilo desaparecer»? «Nunca fazem a pergunta seguinte: de onde apareceu esse dinheiro?»

ESTADO DE SÍTIO: A arte independente além de dependente é cara

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Segundo as contas do Sol, Vanitas e Querença custaram aos sujeitos passivos 1,1 milhões euros ou 2 mil euros por espectador.

15/02/2009

Visão estratégica

Ainda o ministro das Obras Públicas nem sequer tinha pronunciado o fatídico jamé a respeito da alternativa Alcochete e já Oliveira e Costa se afadigava a comprar mais de 6 mil hectares de terrenos na Herdade de Rio Frio.

O outro lado da moeda

«Se quizerem perceber porque é a guerra tão vital, é simples: sem ela, Israel há muito teria sido consumida por conflitos irremediáveis entre os mundos que a habitam», escreveu Miguel Portas no seu Sol de Esquerda.

Não estivesse Miguel Portas possuído pela sua irredutível fé, lembrar-se-ia do conhecido ditado arábe (eu contra o meu irmão, eu e o meu irmão contra o meu primo, eu o meu irmão e o meu primo contra o resto do mundo), e, em vez de Israel, poderia ter escrito Líbano, Jordânia ou Médio Oriente. E ocorrer-lhe-ia que, se é verdade que não se esquecer do cerco de inimigos que desejam ardentemente a sua destruição é condição de sobrevivência para um pequeno país é também uma condição de sobrevivência para todos os regimes autocráticos, na melhor hipótese, ou despóticos na pior, que cercam esse pequeno país cultivar com desvelo o ódio a um inimigo externo.

14/02/2009

Nem todos os obamas de Obama fazem felizes os obamófilos: episódio (18) A coisa está a tornar-se um hábito.

Depois de ter convidado o senador republicano Judd Gregg para secretário do Comércio em substituição de Bill Richardson que foi forçado a renunciar por estar a ser investigado sobre adjudicação de contratos a uma empresa em troca de contributos para as suas actividades políticas como governador, Barack Obama vê-se confrontado com mais uma renúncia.

Judd Gregg pediu dispensa por não concordar com o Plano de Recuperação e Reinvestimento Económico aprovado pela Administração Obama.

A coisa é normal? Normal não será, mas acontece até nas boas famílias. Eu posso viver com isso. Imagino que a obamófilia tenha dificuldades de compreender estas falhas do Cristo Redentor.

PUBLIC SERVICE: Hamas’ deadly campaign in the shadow of the war in Gaza

Since the end of December 2008, during and after the Israeli military offensive which killed some 1,300 Palestinians, most of them civilians, Hamas forces and militias in the Gaza Strip have engaged in a campaign of abductions, deliberate and unlawful killings, torture and death threats against those they accuse of “collaborating” with Israel, as well as opponents and critics.

At least two dozen men have been shot dead by Hamas gunmen in this period. Scores of others have been shot in the legs, kneecapped or inflicted with other injuries intended to cause permanent disability, subjected to severe beatings which have caused multiple fractures and other injuries, or otherwise tortured or ill-treated.


Document - Palestinian Authority: Hamas' deadly campaign in the shadow of the war in Gaza: Media Advisory
AMNESTY INTERNATIONAL

CASE STUDY: Teorema Votar com os Pés - Q.E.D.

A experiência mostra que a maior parte das criaturas que gostariam de viver na Cuba dos Castros não vivem lá e, quando lá vão, é só para férias ou para trabalho político. Para além da família Castro e, vá lá, dos membros do Comité Central do Partido Comunista, há pouca gente em Cuba que goste de lá estar, pelo menos enquanto a família Castro por lá andar.

A demonstração deste teorema está há muito feita. Em todo o caso é sempre reconfortante mais uma confirmação. Desta vez, foram «dois desportistas (dos 3 que integravam a delegação cubana) Aguelmis Rojas e o seu treinador, Rafael Díaz, (que) desaparecerem poucas horas antes de terem de se apresentar no aeroporto» de Montevideo, no Uruguai.

13/02/2009

Constâncio há só um

«O ministro do Trabalho espanhol, Celestino Corbacho, acusou o governador do Banco de Espanha de não estar a ser razoável quando defende a redução dos gastos com despedimentos. O governador do Banco de Espanha faz análises parciais sobre a situação económica e recomenda "receitas aos outros" sem reflectir primeiro sobre o papel do sector financeiro na actual situação, diz o ministro.»

Perguntem a qualquer membro do governo irmão do país irmão se não apreciaria um governador que soubesse ler o ponto na perfeição. Se tiverem dificuldades podemos exportar o nosso ministro anexo Constâncio.

AVALIAÇÃO CONTÍNUA: Um ministro em contínua desvalorização

Secção Universos paralelos

Da mesma maneira que os governos que põem a rotativa a funcionar acabam a desvalorizar a moeda, também os ministros das finanças que falam, falam e falam, misturando meias verdades e completas mentiras acabam por perder o crédito.

É o caso do doutor Teixeira dos Santos, o pior ministro das Finanças da Zona Euro, cada vez mais contaminado pelo socratismo, que à força de nos querer incutir confiança só faz aumentar a nossa desconfiança. Como foi o caso quando há dias jurou que «o sistema financeiro português não revela nenhuma exposição directa significativa aos activos tóxicos». Como é que ele sabe? Ele sabe alguma coisa que o famigerado doutor Constâncio não sabe? Não é o BdP responsável pela regulação e supervisão? O BdP já fez inspecções aos bancos que operam em Portugal? Não tinha o doutor Teixeira dos Santos já jurado que os bancos portugueses bla bla e afinal surgiram-lhe debaixo dos pés o BPN e o BPP?

Por tudo isto, sou forçado a atribuir-lhe 4 bourbons por continuar igual a si próprio e 3 chateaubriands por não perceber que seria melhor ficar calado.

Como foi possível na pátria de l'État?

Na altura em que estoirou o escândalo, Janeiro do ano passado, parecia que a coisa se limitava a uma fraude de Jérôme Kerviel, trader da Société Générale. Apesar de ter atingido o pantagruélico montante de € 4,9 mil milhões, não passaria de uma fraude, segundo a versão oficial. Versão que nunca explicou como foi possível um trader com um limite de negociação de 250 milhões produzir perdas 20 vezes superiores.

Kerviel, que aguarda o resultado ds investigações em curso, disse há dias à TF1 que foi encorajado a assumir riscos pelos directores da Société Générale. Chegados a este ponto, surge a incontornável pergunta: como foi possível isto ter acontecido fora dos EU, sem os ingredientes habituais de ganância, défice de regulação, etc. e tal, os quais, como se sabe, são o fruto malsão do neo-liberalismo? Logo em França, pátria de l'État.

11/02/2009

TIROU-ME AS PALAVRAS DA BOCA: Sem papas na língua

«A actual crise está a ser agravada pela "demagogia que o senhor primeiro-ministro está empregando neste momento [e] é absolutamente intolerável". " Mais grave ainda temos um Parlamento...que nada discute e nada controla"», disse Alexandre Soares dos Santos, presidente da Jerónimo Martins e um dos empresários portugueses mais circunspectos.

Ou o arquitecto Saraiva é um refinado mentiroso ou a estratégia de dissuasão já subiu ao patamar seguinte

José António Saraiva, director do Sol, disse à Sábado que foi pressionado por «alguém muito próximo do primeiro-ministro, mas que não pertence ao governo ... a pessoa em causa (*) estava até dentro da situação financeira debilitada do jornal e das negociações que estavam a acontecer com os accionistas. Disse-me que tudo dependia do que viéssemos a publicar nessa edição». Segundo disse à Sábado, a coisa ficaria resolvida se nesse fim-de-semana não publicassem nada. De outro modo, a retaliação iria ao ponto de «estrangular financeiramente o jornal».

Se a escalada na dissuasão é um indício do grau de enrascanço de Sócrates e dos seus homens de mão, então podemos passar ao grau seguinte de presunção de culpa.

De caminho e como o Sol, aparentemente, José António Saraiva e o Sol não enfiaram o rabinho entre as pernas, estou autorizado pelo Impertinente a atribuir-lhes uns quatro ou cinco afonsos e a prometer-lhe que continuaremos a comprar o jornal até ao final do ano (depois logo se vê).

(*) Aposto singelo contra dobrado que «a pessoa em causa» é o amigo, igualmente licenciado no centro de branqueamento de capitais também conhecido por universidade Independente, que passou de escriturário a administrador da Caixa, donde saiu levado pela mão de outro amigo para aterrar na administração do Millenium bcp, por coincidência um dos maiores accionistas do Sol.

10/02/2009

SERVIÇO PÚBLICO: acabar com os ricos ou acabar com os pobres? (REPUBLICADO)

«O secretário-geral do PS, José Sócrates, afirmou ontem à noite, perante a Comissão Nacional do seu partido, que "desta vez" as medidas de austeridade do Governo contra a crise económica também vão afectar os mais ricos.» (Público)

E quem são esses ricos que vão ser afectados? Os contribuintes cujo agregado familiar tenha mais de 60 mil euros de rendimento colectável anual. Mesmo sabendo que o engenheiro Sócrates acha que precisa de falar grosso para dentro do partido (e para fora para o PCP e o BE) para sossegar a esquerdalhada, não será um insulto à inteligência vir com estas baboseiras?

Não seria melhor o engenheiro Sócrates pretender, como o general Otelo, acabar com os ricos, como este último disse, nos idos de 75, a Oloff Palm, que lhe terá respondido que eles na Suécia preferiam acabar com os pobres?

[Este post, publicado em 31-05-2005, poderia perfeitamente tê-lo sido ontem, apenas com alterações menores, depois do comício em Viseu de José Sócrates. Atribuo-lhe quatro bourbons pela reincidência e só não leva cinco porque, sendo certo que não aprende nada, é igualmente certo que esquece algumas coisas, como as reuniões que fez com os freeports, os smiths e os pedros.]

PS:
Em 2006 havia menos de 32.000 agregados familiares com rendimentos anuais colectáveis superiores a 60.000 euros. Por cada 1.000 euros de agravamento fiscal sobre cada um desses agregados os restantes poderiam ter uma redução de 8-oito-8 euros. Percebem-se assim melhor as reservas de Manuela Ferreira Leite à demagogia do senhor engenheiro, para quem vale tudo para escapar à hemorragia BE+PCP.

09/02/2009

Encalhados numa ruga do contínuo espaço-tempo (1)

Durante a VI Convenção berloquista, o professor doutor Louça propôs numa alocução vibrante «o princípio do sistema bancário público que faça predominar uma política socialista» para «acabar com a usura». Passando ao lado do facto relativamente óbvio de que tal proposta proporcionaria um processo expedito de consolidar Portugal como um país em vias de subdesenvolvimento, a verdade é que tal proposta sofre de uma irremediável falta de novidade,. Durante 10 anos, entre 1975 e 1986, já tivemos ocasião de experimentar o «sistema bancário público que fez predominar uma política socialista», com os resultados que qualquer cidadão com mais de 35 anos, mesmo sem nenhuma sagacidade especial, deverá ser capaz de recordar sem saudade.

Durante esse período, os então pitorescamente chamados bancos nacionalizados, nossos, não se dignavam proporcionar às «pessoas» de que fala Louça, com excepção duma pequeníssima minoria, o acesso ao crédito pessoal ou ao crédito para compra de habitação. As ditas «pessoas» só viam cartões de crédito nos filmes e eram tratadas pelos bancos como utentes aguardando em bichas convergindo para guichés parecidos com os do SNS.

Atrevo-me a pensar que o emérito professor foi retido numa dobra do contínuo espaço-tempo.

TIROU-ME AS PALAVRAS DA BOCA: somos fortes com os fracos e fracos com os fortes

«A verdade é que não sabemos punir. Não o sabemos fazer nos Tribunais, nas escolas ou nas empresas. Está na nossa alma e no nosso sangue; está na nossa cultura e no nosso ser; somos inquisidores e promotores de redenção; somos fortes com os fracos e fracos com os fortes; somos, na mesma pessoa, fortes e fracos e perdemos o equilíbrio que deve reger, em cada momento, a aplicação da Justiça. A violência crítica da culpa que alimenta a fogueira inicial tem a mesma intensidade que capacidade de redenção - com a intermediação humana que tanto caracteriza a nossa vivência católica - do confuso perdão final.»

[Jorge Brito Pereira, no Diário Económico, escrevendo sobre o contraste entre a «perturbadora violência» com que são punidos os crimes financeiros no EU e a moleza e complacência domésticas]

Ler o resto aqui.

08/02/2009

NÓS VISTOS POR ELES: Não fora Eduardo e Sofia, o José nem seria notícia

«The Earl and Countess of Wessex have been caught up in an alleged corruption scandal surrounding a discount shopping complex in Portugal.
It was built by a British property firm Freeport, now being investigated over bribery allegations, and was opened by the Royal couple in September 2004.
The Serious Fraud Office in London is probing claims that four million euros were transferred to banks in Portugal to facilitate the deal.
The inquiry has engulfed several British businessmen and Portugal's Prime Minister Jose Socrates, who has denied taking bribes from Freeport.
At its heart is the claim that in 2002 Mr Socrates, then an environment minister, waived restrictions to grant Freeport a licence to build the complex on protected land.
But Mr Socrates insists he has never misused his ministerial position.
The shopping mall is sited across the Tagus river from Lisbon and includes 200 'factory outlets' selling mainly cut-price designer clothes.
Reports in Portugal claim SFO detectives, who have been working closely with Portuguese police, are investigating 15 people linked to the development, including Mr Socrates and several Britons associated with Freeport.»


Não restam dúvidas que, para tablóide, o Daily Mail relata de forma bastante objectiva as trapalhadas do Freeport, mas só o faz, provavelmente, porque the Earl and Countess of Wessex have been caught up nas trapalhadas.

06/02/2009

Big brother is watching you

Para que vão servir os chips na matrícula? Há 3 meses o governo dizia que o chip tinha uma multiplicidade de aplicações: «seguros automóveis accionados apenas quando o veículo circula; parquímetros sem necessidade de ticket; cobrança de portagens virtuais, controlo e gestão de tráfego e fiscalização de infracções rodoviárias, abrir automaticamente o portão de uma garagem ou a entrada de um condomínio privado; diminuir os veículos a circular sem seguro ou inspecção obrigatórios.» (IOL Diário)

Esta semana o governo aprovou de mansinho a legislação para introduzir «o sistema que o Executivo pretende utilizar para cobrar portagens nas Scut do Grande Porto, Costa da Prata e Norte Litoral». E as outras funções que o do estado-espiatório (*) se auto-atribuía?

A única coisa que nos defende da intrusão do estado-espiatório que o governo está a montar é a incompetência do criador e da criatura. É o que nos vale.

(*) Neologismo que designa um estado que nos espia e nos faz expiar pelos nossos pecados e pelas nossas boas acções.

05/02/2009

BLOGARIDADES: Ténis no sofá e o beicinho de Federer

Só hoje li este diletantismo do maradona: «erros não forçados (esta a estatística mais burra do planeta, que esconde muita merda e que, se não for levada com cuidado, só pode induzir em erro)». Imagino tal boutade a ser dita por uma criatura cuja prática tenística se desenvolve em frente ao ecrã e, eventualmente, tem dificuldades em distinguir o punho da cabeça da raqueta. Se há coisa mais devastadora para a maioria dos tenistas são os erros não forçados e Roger Federer, apesar do seu génio com uma raqueta na mão, não parece ser excepção. Federer controla bem o body language (até ao ponto que ao segundo erro forçado consecutivo já faz beicinho), mas controla mal as suas emoções. Pelo contrário, Nadal joga cada ponto como se não houvesse passado nem futuro. Não há muitos assim, estou-me a lembrar de Monica Seles. Um erro não forçado de Federer aumenta a probabilidade condicionada do seguinte. Um erro não forçado de Nadal é igual ao litro.

Confira-se os «Five Ways to Beat Roger Federer» e o que disse Jim Courier sobre a vulnerabilidade de Federer quando joga contra paredes (como Rafa) que devolvem todas as bolas: «The one common thread running through his losses is that all those guys play spectacular defense. What would be winners against most players aren't, and that can frustrate Roger.»

Nem todos os obamas de Obama fazem felizes os obamófilos: episódio (17) More Change

Quando se pensava que Obama já tinha feito tudo quanto podia para desiludir os obamófilos, nas últimas 2 semanas o presidente mostrou ser um homem de grandes recursos.

Ficou a saber-se que Timothy Geithner, secretário do Tesouro, não pagou contribuições à segurança social durante alguns anos.

Tom Daschle, o indigitado secretário da Saúde indisponibilizou-se depois de serem conhecidos problemas de evasão fiscal (nada de grave pelos nossos padrões, reconheça-se).

Nancy Killefer, a indigitada “Chief Performance Officer” informou o Presidente duma disputa fiscal pendente (outra coisa ainda menor, pela bitola lusa).

Pior do que tudo, aos olhos dos crentes, Obama convidou o senador republicano Judd Gregg para secretário do Comércio. Recorde-se que o indigitado secretário do Comércio Bill Richardson renunciou no princípio de Janeiro devido a uma investigação em curso sobre uma alegada adjudicação de contratos a uma empresa em troca de contributos para as suas actividades políticas como governador.

03/02/2009

O IMPERTINÊNCIAS FEITO PELOS SEUS DETRACTORES: Pensamento do dia (2)

«Os políticos e as fraldas devem ser mudados frequentemente e pela mesma razão.»
[Enviado por JB]

O pensamento citado é de Eça de Queiroz. O pensamento do dia é outro, a saber: deve haver uma boa razão para os pensamentos de Eça acerca dos políticos continuarem actuais, mais de um século depois de terem sido escritos.

02/02/2009

Inversão politicamente irremediável do ónus de prova

«A magistrada (Cândida Almeida) reiterou que nada indica que o primeiro-ministro seja suspeito.»

Nada indica? A carta rogatória do Serious Fraud Office não é nada? O nome de José Sócrates surge na carta rogatória referido pelo menos nas seguintes situações:

  • «estando sob investigação no sentido de terem solicitado, recebido ou facilitado pagamentos que sejam relevantes aos crimes indicados no Anexo”1”»
  • Reunião «no dia 17 de Janeiro de 2002, (com) os representantes da Smith & Pedro e da Freeport»
  • Reunião «posteriormente com Sean Collidge, Gary Russell, Charles Smith e Manuel Pedro» na qual «efectuou alegadamente um pedido que seria equivalente a um suborno para assegurar que a Avaliação de Impacto Ambiental apresentada fosse favorável
  • «um acordo no sentido de que a Freeport efectuaria, por intermédio da Smith & Pedro, pagamentos a terceiros, relacionados com José Sócrates»
  • «pagamentos em numerário a um primo de José Sócrates»
  • Pagamentos de «montantes mais importantes (até GBP 5 milhões) a uma empresa de advogados em Portugal ligada a José Sócrates»
É claro que todos têm o direito a serem considerados inocentes até serem julgados culpados, sobretudo se forem o primeiro-ministro de um governo cujos tentáculos podem ser uma ameaça para quem dependa do Estado. Não é isso que está em causa. O que está em causa é que um cidadão tem o direito a que não lhe insultem a inteligência e a fazer juízos de probabilidade a partir dos factos que conhece. E esse juízo neste momento só pode ser, tendo em atenção o que se sabe (licenciatura, projectos, etc. - um grande etc.), que já se deu uma politicamente irremediável inversão do ónus de prova, para usar o juridiquês.

ESCLARECIMENTO:
Estou a citar a versão da carta rogatória do Expresso, da qual não posso ter a certeza que seja autêntica. Só posso concluir que juridiquês português parece-se bastante com uma tradução do juridiquês inglês.