10/02/2007

DIÁRIO DE BORDO: a maiêutica do aborto (20)

Não sei se gostaria de ter as certezas dos incondicionais do não e do sim. Dúvida inútil porque não as tenho.

Faço um último esforço e vou ler um blogue do sim e outro do não, coisa que até agora não tinha feito, e procuro ao acaso argumentos definitivos que me convençam. Não encontro.

Com excepção da lógica terminal pura e dura dos argumentos extremos (a mulher é dona do seu corpo versus o embrião e o feto têm um direito absoluto à vida) que encontram o seu fundamento em vulgatas dogmáticas, quase todos os outros argumentários menos simplistas formam conjuntos incoerentes facilmente refutáveis por redução ao absurdo. Se o embrião/feto têm direito absoluto à vida, porquê aceitar o aborto em certas circunstâncias? Se a mulher é dona do seu corpo e o feto não tem direitos, porquê impor limitações ao aborto até ao momento do parto?

Por instinto, sou contra a intromissão do estado na esfera privada. Mas se o embrião/feto tem (certos) direitos, a sua ofensa pertencerá à esfera privada da mãe (ou portadora, como implicitam os defensores do aborto livre)? Em caso de dúvida, defendo que o estado deve ficar de fora. Mas se já está dentro.

Exercícios anteriores de maiêutica em (0), (1), (2), (*), (4), (5), (6), (7), (8), (9), (10), (11), (12), (13), (14), (15), (16), (17), (18) e (19)

(*) O n.º 3 abortou.

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