Outras avarias da geringonça e do país.
A minha renda é mais acessível do que a tua
Fernando Medina, o sucessor de Costa na câmara de Lisboa e presumível sucessor na liderança do PS, e Pedro Nuno Santos, líder da tendência pedronunista, ministro da Habitação e também candidato à sucessão em concorrência com Medina, iniciaram a disputa usando como ersatz os programas de renda acessível que ambos estão a promover, o primeiro para a cidade de Lisboa e o segundo para o país. É um poucochinho ridículo, mas cada um tem os sucessores que merece.
A família socialista tem imenso jeito para o negócio
André Matias de Almeida, irmão de Bruno Matias de Almeida, adjunto do secretário de Estado da Economia, nomeado pelo ex-secretário de Estado da Indústria João Vasconcelos para vários cargos dirigentes em fundos de apoio a empresas, foi agora empossado como porta-voz da Antran, a associação dos transportadores. (Fonte: Sol) Business as usual.
Boa nova
Em duas páginas interiores, com chamada destacadíssima na primeira página, o Expresso anuncia o aumento entre 5% a 15% das vagas em cursos universitários com mais procura em Lisboa e Porto. As coisas correm tão bem na educação que até as notas dos exames nacionais sobem graças às medidas deste governo - os detractores dirão que, com as medidas tomadas no sentido do facilitismo e a agitação dos professores nos últimos dois ou três anos, este milagre só pode ser explicado com a fabricação por encomenda de provas à medida.
A receita proveniente das taxas moderadoras atingiu o ano passado 154 milhões de euros que deixarão de ser cobrados com o fim dessas taxas aprovado pelo parlamento que beneficiará os rendimentos mais elevados e terá de ser compensado com mais impostos que atingirão também os menores rendimentos. Usando o expediente de diferir a eliminação dessas taxas, o governo espera ganhar votos com o anúncio da redução e outra vez com a redução efectiva.
Depois do anúncio de «Governo contrata mil técnicos para desenhar políticas públicas», veio a saber-se que a coisa não é para já. Será constituída uma bolsa de recrutamento e os candidato serão chamados se... e... no prazo de dois anos. Como se vê, é uma especialidade deste governo fazer anúncios para futuros hipotéticos o que tem a vantagem de ser um processo iterativo de anúncios sucessivos com riscos mínimos graças à ajuda da imprensa amiga e da crónica falta de discernimento do eleitorado.
Em seguida ao foguetório dos 45 milhões para contratar mecânicos e comprar peças para substituir as que caem dos comboios, o governo aumenta de três para cinco o número de administradores da CP o que é uma boa nova para os nomeados e quanto ao resto é igual ao litro ou, talvez melhor, é menos dinheiro para comprar peças.
Em outras duas páginas, o semanário de reverência dá-nos conta das sondagens que mostram que o eleitorado prefere o socialismo do PS à imitação do PS-D de Rio e do CD-S de Cristas e aproveita para nos informar que as perguntas feitas na sondagem lhe permitem concluir que portugueses não se importam de pagar impostos elevados. Trata-se de um exemplo prático de típico sofisma de jornalismo de causas porque a pergunta mistura impostos com serviço públicos e quem é que opta por preferir «impostos mais baixos mesmo com piores serviços públicos»?
Também o Público, fazendo o papel de Diário da Manhã, se esmerou em anúncios na linha dos amanhãs que cantarão.
Cuidando da freguesia eleitoral
Confirmando que coloca muitas das suas fichas eleitorais na função pública, o PS vai soprando para a imprensa amiga que o programa de governo que está a preparar inclui aumentos na Função Pública e licenças sabáticas pagas.
Como já tínhamos antecipado nesta crónica, uma vez aberta a Caixa de Pandora com os juízes, chegou a vez aos magistrados do Ministério Público que também vão ganhar mais do que o primeiro-ministro. Com uma cajadada matam-se dois coelhos: o coelho de cuidar da freguesia e o coelho do futuro da família socialista quando algum dos seus membro se deixe embrulhar em trapalhadas, situação em que dá sempre jeito contar com a gratidão.
Todos estes cuidados têm um custo e uma consequência em matéria de despesas com pessoal, que crescem a um ritmo de 5,2%, dois pontos percentuais acima do Programa de Estabilidade.
O estado da Nação que existe em função do Estado
Na quarta-feira teve lugar o último debate desta legislatura sobre o Estado da Nação, uma fantochada copiada do Congresso americano que na melhor hipótese consiste em exercícios de oratória e na pior e mais frequente em exercícios de falta de decoro. O outro contribuinte, neste post, tirou-me as palavras de boca: «No estado da Nação o que é bom não se deve a Costa e o que se deve a Costa não é bom».
As mentiras do costume
Entre as várias aldrabices que o governo e a geringonça nos impingem regularmente, destaca-se o acordo inexistente sobre a Lei de Bases da Saúde a respeito do fim das PPS anunciado para acabar a legislatura num tom de concórdia, quando se sabe que este é um ponto irreconciliável. Outra aldrabice, desta vez de Costa, foi a insinuação por si feita de que teria sido convidado para um alto cargo na União Europeia - poupo-me ao trabalho de desmontar esta treta porque já foi aqui feito, e bem, por João Marques de Almeida.
Talvez o ápice da aldrabice nesta legislatura tenha sido alcançado por Costa (who else?), ao definir as suas prioridades com “prosseguir diminuição de impostos” e melhorar serviços públicos, quando atingiu a carga fiscal mais elevada de sempre e deixou os serviços públicos exauridos e à beira da paralisia, .
Já virámos a página da austeridade
«Doentes psiquiátricos a bolachas, sopa, leite e sumos nos hospitais de Coimbra», «moscas e cheiro a urina na prisão de Matosinhos, «máquinas avariadas, doentes em enfermarias e “instalações indignas”» no Hospital de Gaia. É Centeno e a suas cativações? Pois parece que não, ou pelo menos não só, segundo as conclusões de um relatório do Observatório Português dos Sistemas de Saúde da responsabilidade de três pessoas ideologicamente muito diversas que se puseram de acordo nas conclusões que em suma são: «o setor da saúde foi marcado nos últimos anos por uma inércia de governação, muito baseada em gestão corrente (…) e deixando reformas por concretizar». Ou seja, falta o dinheiro e falta a competência e a diligência.
Paz social
A entrada no defeso das greves já parece ter sido iniciada, com excepção dos mestres da Soflusa e dos motoristas de mercadorias perigosas que apresentaram um pré-aviso de greve, apesar da pacificação anunciada pelo ministro Pedro Nuno Santos que, muito ocupado com a concorrência ao seu programa de rendas acessíveis, ainda não teve tempo de voltar a pacificar os motoristas.
As dívidas não são para se pagar, foi isto que ele aprendeu
Não obstante, todas as suas declarações de amor à disciplina orçamental e juras de fidelidade ao propósito de reduzir a dívida pública, o certo é que, quanto ao défice, os recordes anunciados pelo Ronaldo do Ecofin são à custa do aumento da carga fiscal e do défice oculto criado pelo subinvestimento que um dia virá à tona. E quanto à redução da dívida pública, o Conselho de Finanças Públicas (CFP) estima que para alcançar o objectivo anual de 118,6% do PIB seria necessário reduzir o rácio da dívida pública em quatro pontos percentuais até ao final do ano o que em plena campanha eleitoral parece mais um sonho. Entretanto, à pala dos juros baixos foi colocada a semana passada mais uma emissão de mil milhões.
Quanto ao endividamento da economia, aumentou em Abril 2,6 mil milhões de euros e bateu um novo recorde com 727 mil milhões de euros, dos quais 326,1 mil milhões de euros do sector público e 400,9 mil milhões de euros de sector privado.
Hoje há conquilhas, amanhã não sabemos
Entretanto, o superavit da balança comercial que, juntamente com o turismo, tem permitido a "prosperidade" costista, transmutou-se de novo em défice com a importações a crescerem em Maio 14.7% muito acima das exportações que apenas crescerem 8,7%. Quem já percebeu o que aí pode vir foram as empresas exportadoras portuguesas que no Inquérito sobre Perspectivas de Exportação de Bens do INE antecipam a redução das exportações.
Se as empresas já perceberam que as vacas magras vão chegar, os portugueses animados pelas tretas do par analgésico Senhor Feliz, Senhor Contente, continuam alegremente a endividar-se para ter um casinha, nalguns casos a segunda, com 927 milhões de euros em novos créditos em Maio.
A minha questão é esta... Já foram feitas várias políticas para rendas acessíveis... quem não se lembra das rendas para os mais jovens? Mais recentemente a CML tinha um site com várias casas passíveis de serem arrendadas por uma valor mais baixo... Alguém já analisou e investigou o impacto destas sucessivas políticas? É que são umas atrás das outras... não sei se já repararam mas a CML anda já há algum tempo a anunciar vários programas/projectos para rendas mais acessíveis... Quais é que efectivamente se concretizaram? Alguém sabe? Isto já começa a ser muito estranho...
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