Em retrospectiva: o pay gap atribuído à discriminação de sexos (que o politicamente correcto chama géneros) é um dos «factos alternativos» mais populares nos meios esquerdistas. Não é que não exista um pay gap, aliás existem vários, mas desde pelo menos a II Guerra nenhum deles se funda a discriminação de sexos ou de raças. De resto, com a mesma falta de fundamento, seria mais fácil apontar a discriminação entre bem nascidos e mal nascidos de ambos os sexos ou, se preferirem, de todos os 112 "géneros" identificados pelo Tumblr.
Os comunistas do PCP resistiram durante algum a este tema fracturante, possivelmente por várias razões, como sejam marcarem as diferenças em relação aos antigos trotskistas e maoistas agora reciclados no caldeirão do radical chic dedicado ao politicamente correcto, e porque, ao contrário destes urbanitas, os comunistas por estarem implantados nos sindicatos e nas empresas, sabem perfeitamente que para a mesma categoria profissional e a mesma antiguidade, isto é, para o mesmo trabalho grosso modo, não há distinções por sexo, de resto proibidas por lei desde o tempo da outra Senhora.
Pois bem, nem os comunistas já resistem ao mantra e adoptaram a coisa desta vez num "estudo" publicado pela CGTP, citado pelo Jornal Económico onde concluíram que «as mulheres continuam a ganhar menos do que os homens, sendo a diferença de 14%, na generalidade, e de 26,1% entre os quadros superiores». É certo que o fizeram com um pouco mais de sofisticação, por exemplo reconhecendo que «na Administração Pública o problema de desigualdade verifica-se no acesso de mulheres a cargos dirigentes», mas ainda assim não percebendo que no sector privado o problema é o mesmo só que como o espectro salarial á mais largo a diferenciação salarial é maior.
Pode ser que esta gente um dia perceba que o problema não é a desigualdade salarial, o problema é a a especialização sexual que durante toda a história e até à generalização da pílula e da legalização do aborto "condenou" a esmagadora maioria das mulheres a "donas de casa", um papel desvalorizado pelo feminismo militante ainda que muito mais exigente do que a maioria das profissões dos respectivos maridos. Agora tudo isso é história, porque nas últimas décadas as mulheres abandonaram os "lares" chegaram em legiões ao ensino e hoje são a maioria dos estudantes universitários, têm em média melhores resultados e representam uma maioria crescente dos graduados. Do que ninguém fala é das possíveis causas que explicam esses melhores resultados - no passado já se escreveu aqui no (Im)pertinências sobre este tema (por exemplo aqui e aqui) e talvez seja altura de voltar a ele.
Sem comentários:
Enviar um comentário