31/05/2009

ESTADO DE SÍTIO: desta vez o órgão legislativo ejaculou uma fábrica

Não sei qual o grupo parlamentar que teve a iniciativa da Resolução da Assembleia da República n.º 40/2009 publicada na passada sexta-feira no DR. Só sei que nesta ejaculação do órgão legislativo está lá tudo quanto é paleio, buzzword de consultoria de vão de escada, recomendando ao governo a «criação de um sistema designado Fábrica de Ideias».

A «fábrica» terá por base os «cinco princípios de inovação universalmente aceites» (?), que vão desde a «importação da inovação para a linha da frente, envolvendo sobretudo os funcionários públicos de primeira linha e os cidadãos» até à «adopção de uma abordagem estruturada de geração e de aceleração da implementação no terreno de ideias inovadoras». Como a «fábrica» não pode ficar-se só pelos princípios os deputados fizeram questão de adicionar os alicerces, que incluem estas pedras basilares: «modelo de governança», «cultura organizacional e gestão da mudança», «métricas de inovação» e, last but not least o «ecossistema de parceiros para a inovação». Os incentivos também não são esquecidos e prevê-se «um prémio para todas as ideias seleccionadas e implementadas».

E o que produzirá tal fábrica? Não se sabe. Só sabe que deverá ser constituída em cada ministério uma «central de inovação».

Por muito que seja difícil a um sujeito passivo, que sustenta as criaturas que produzem tais ideias, sonhar que a mais humilde inovação possa surgir das entranhas da vaca marsupial pública, isso não derrota a imaginação alimentada pelo ócio sonolento daquelas duzentas e tantas almas pousadas nas bancadas do parlamento, entretidas com os seus laptops a navegar na Net.

30/05/2009

O (IM)PERTINÊNCIAS FEITO PELOS SEUS DETRACTORES: Ó Fernanda, canse-o!

Requerimento a Fernanda

Ó Fernanda, dado
que já estou cansado
do ar teatral
a que ele equivale
em todo o horário
de cada canal,
no noticiário,
no telejornal,
ligando-se ao povo,
do qual ele se afasta,
gastando de novo
a fala já gasta
e a pôr agastado
quem muito se agasta
por ser enganado.
Ó Fernanda, dado
que é tempo de basta,
que já estou cansado
do excesso de carga,
do excesso de banda,
da banda que é larga,
da gente que é branda,
da frase que é ópio,
do estilo que é próprio
para a propaganda,
da falta de estudo,
do tudo que é zero,
dos logros a esmo
e do exagero
que o nega a si mesmo,
do acto que é baço,
do sério que é escasso,
mantendo a mentira,
mantendo a vaidade,
negando a verdade,
que sempre enjoou,
nas pedras que atira,
mas sem que refira
o caos que criou.
Ó Fernanda, dado
que já estou cansado,
que falta paciência,
por ter suportado
em exagerado
o que é aparência.
Ó Fernanda, dado
que já estou cansado,
ao fim e ao cabo,
das farsas que ele faz,
a querer que o diabo
me leve o que ele traz,
ele que é um amigo
de Sao Satanás,
entenda o que eu digo:
Eu já estou cansado!
Sem aviso prévio,
ó Fernanda, prive-o
de ser contestado!
Retire-o do Estado!
Torne-o bem privado!
Ó Fernanda, leve-o!
Traga-nos alívio!
Tenha-o só num pátio
para o seu convívio!
Ó Fernanda, trate-o!
Ó Fernanda, amanse-o!
Ó Fernanda, ate-o!
Ó Fernanda, canse-o!


Euleriano Ponati, poeta não titular

[Enviado por JARF]

A via rápida de bestial para besta (3)

Aparte as particularidades domésticas, os casos de Rendeiro & Loureiro, no que respeita ao trânsito do Olimpo mediático para o reino de Hades da comunicação social, são relativamente vulgares no mundo dos negócios da política e da política dos negócios. O que nos distingue é mais a pequenez dos casos, a sanha invejosa e a ausência de consequências penais, quando estão em causa comportamentos ilícitos, substituídas pela condenação na praça pública.

Sem me esforçar muito, lembro-me de vários casos globais, por assim dizer. Dos menos recentes, entre os muitos possíveis aqui listados pelo (Im)pertinências, cito Kenneth Lay, Chairman e CEO da Enron, preso depois de ter sido considera durante anos um modelo de homem de negócios. Dos mais recentes, Madoff reverenciado durante décadas como um guru das finanças; Ken Lewis, CEO do BofA, caído em desgraça no ano seguinte a ter sido eleito o banqueiro do ano; Angelo Mozilo do Countrywide, banco de crédito imobiliário falido, vilipendiado pouco depois de ter recebido o prémio «lifetime of achievement».

Entre os casos mais notáveis, encontra-se a Société Génerale, o gigante financeiro francês, durante décadas apontado como um modelo de risk management até receber 11 mil milhões de dólares de CDS pagos pelos contribuintes americanos via bailout da AIG.

29/05/2009

Dias Loureiro ao pé dele devia ser beatificado

«Dias Loureiro ao pé dele devia ser beatificado», escrevi aqui. Talvez parecesse uma opinião insensata. O blasfemo João Miranda demonstra que, pelo contrário, faz bastante sentido.



Obrigado.

CASE STUDY: os anúncios precipitados são sempre um bocadinho exagerados

Contrariando os negacionistas que já tinham descartado o aquecimento global, aí está a meteorologia a desmenti-los.


Contrariando os fiéis que já davam como adquirido o regresso do aquecimento global, após um breve intervalo, aí está a meteorologia a desmenti-los.

28/05/2009

A via rápida de bestial para besta (2)

Depois de João Rendeiro, chegou a vez de Dias Loureiro. Beneficiário do estatuto difuso de sacerdote do cavaquismo e do carinho complacente de diversas camadas dirigentes do PS, bastantemente retribuído com o lip service prestado a Sócrates, a metade das declarações de Oliveira e Costa que lhe foram dedicadas acabou com o estado de graça, já bastante abalado desde que começou a ser confrontado com contradições no caso BPN. E, contudo, verdadeiramente nada de novo se veio a saber que não se soubesse já, para não falar do que se sabe e só mais lá para frente se falará, quando o homem já estiver completamente atolado na desonra (de que ele é único responsável, diga-se).

Acabaram as entrevistas reverenciais e as referências laudatórias. Até as mais pungentes meias verdades ou meias mentiras, prudentemente omitidas até agora, começam a ser badaladas. Só para citar uma ridícula: afinal o homem não jogou golfe com Clinton, limitou-se a pisar o mesmo green.

Mais do que revelar aspectos escondidos do carácter de Dias Loureiro, as notícias e os comentários saídos da clandestinidade da falta de coluna vertebral revelam principalmente aspectos públicos do carácter dos portugueses em geral e das classes jornalísticas e políticas em particular, que só batem em moribundos anunciados. Compare-se com os temores e as reverências que merecem às mesmas classes, com honrosas excepções, as trapalhadas de Sócrates (Dias Loureiro ao pé dele devia ser beatificado).

Uma inveja mal disfarçada do filho do merceeiro de Aguiar da Beira, que com muita iniciativa, algum talento e muito contorcionismo ético, chegou onde a maioria dos representantes da classe do esperma feliz, com igual contorcionismo ético, mas sem um módico de iniciativa e talento, não chega. É o que é.

AVALIAÇÃO CONTÍNUA: com a verdade me enganas

Secção Assaults of thoughts

Durante o jantar anual da associação dos correspondentes na Casa Branca, no passado dia 9, Barack Obama vestiu o fato de Seinfeld e fez um espectáculo de stand up comedy muito aplaudido. De todas as piadas que disse acerca do pessoal da Casa Branca e dele próprio, há uma que no (Im)pertinências devemos relevar especialmente, compensando a longa série de posts (na última contagem já ia em 30) que o Pertinente tem dedicado a zurzir o Grande Comunicador.

Mostrando uma auto-ironia algo surpreendente Obama saiu-se com esta pérola:

«During the second 100 days, we will design, build and open a library dedicated to my first 100 days

É justo atribuir-lhe 2 afonsos, supondo que se trata de auto-ironia mesmo. À cautela, leva também 2 chateaubriands não vá o homem ter-se deixado levar pelo seu avantajado ego.

27/05/2009

DIÁRIO DE BORDO: reparando o Hubble (3)


John Grunsfeld e Andrew Feustel em acção (e as suas imagens reflectidas na superfície do telescópio).

Nem todos os obamas de Obama fazem felizes os obamófilos: episódio (30) A justiça não é muda e parece não ser cega

Torturado pelo dilema da substituição do juiz David Souter, o presidente Obama acabou por escolher Sonia Sotomayor que em tempos terá dito «that judges' legal findings are informed by their own life experiences as well as their legal research» o que, sendo inegavelmente verdade, faz suspeitar que esta escolha não seguiu o segundo dos critérios contraditórios que Obama enumerou durante a campanha, precisamente o que melhor garantiria que a justiça é cega.

Duvida-se, por isso, que a juíza Sotomayor seja alguém «dedicated to the rule of law, who honours our constitutional traditions… and the appropriate limits of the judicial role», que seria um dos paradigmas em cuja escolha Obama estava encalhado. É mais de esperar que seja um prosélito da justiça de causas.

26/05/2009

ARTIGO DEFUNTO: a nossa princesinha dos guinchos ficou-lhes atravessada na garganta

«From the sounds that Michelle Larcher de Brito was making on Court 14, you would have imagined that the 16-year-old Portuguese was a victim in a Freddy Krueger slash-fest rather than a promising young tennis player making her first impact at the grand slams.

The occasional power of Larcher de Brito's groundstrokes helped her through. But the more noteworthy aspect of her performance was the power of her vocal cords as she earned the right to be considered one of the loudest players in modern times to have screeched at the grand slams.
She can now be mentioned in the same breath as Monica Seles, Maria Sharapova and Victoria Azarenka, a teenager from Belarus who recently broke into the top 10.

But the loudest competitor at Roland Garros was still Larcher de Brito, and you would not have been that surprised if South had suddenly stopped during a rally and stuck her fingers in her ears.

First, Keothavong was beaten 6-0, 6-0 by Safina, then South lost 0-6, 7-6, 7-5 to the Little Queen of Screams, and Katie O'Brien was beaten 6-1, 6-1 by Olga Govortsova, of Belarus.
»

Nem o facto do jornalista de causas Mark Hodgkinson ter visto eliminar 3 compatriotas no mesmo dia, desculpa a estúpida xenofobia com que se refere à nossa miúda.

A nossa princesinha dos guinchos em acção no torneio de Montreal contra uma súbdita do czar

CAMINHO PARA A SERVIDÃO: o governo não quer

A Sonancom e a Zon não sabem se querem, a Caixa, um dos maiores accionistas da Zon, não diz que sim nem que não, a autoridade de regulação está muda, mas o «Governo não quer fusão da Sonaecom com a TV Cabo».

O governo não quer? O que tem o governo com isso? Já tratou da reforma administrativa? Já reduziu a legião de utentes da vaca marsupial pública? Já reduziu as despesas públicas correntes? Já agilizou a máquina judicial? Já reformou a fábrica de analfabetos funcionais?

25/05/2009

Eu diria mesmo mais

"Nunca vi um pessimista criar um único posto de trabalho" disse ontem Sócrates, na sua encarnação de secretário-geral, durante um jantar-comício (suponho nestes eventos se forneça alimento para o corpo e para o espírito).

Eu diria mesmo mais, também nunca vi um optimista criar um único posto de trabalho. Os postos de trabalho são criados pelo investimento ou, mais exactamente, por algum investimento. Nuns casos com dinheiro de pessimistas (o investimento potencialmente mais reprodutivo), noutros por dinheiro de optimistas (o investimento de maior risco). Infelizmente o investimento público é feito por optimistas com o dinheiro dos pessimistas.

CASE STUDY: First In, First Out? Last In, First Out?

As crises precedentes apresentam um padrão nos diferentes sectores da economia americana que pode ajudar a antecipar o seu comportamento na actual. Pelo menos é o que concluem os homens da McKinsey («Mapping decline and recovery across sectors», The McKinsey Quartely), que, como se sabe, foram apanhados a dormir como todos os outros.

Clicar para ampliar

24/05/2009

BLOGARIDADES: antes do tempo

Um e outro falam sobre a geração deles, os olhares e o resto como eu poderia falar sobre a minha geração, que por um feliz acaso também mete um Bénard um bocadinho mais novo, por alturas do Tempo e o Modo.

Estão definitivamente a ficar velhos – antes do tempo.

DIÁRIO DE BORDO: reparando o Hubble (2)


John Grunsfeld, fotografado por Andrew Feustel (reflectido no visor de Grunsfeld), prepara-se para reparar o Hubble.

O melhor do comércio externo são as importações

O estudo «Multi-product Firms and Product Turnover in the Developing World: Evidence from India», citado recentemente pela Economist, analisa os efeitos na economia indiana da redução drástica de 2/3 das tarifas alfandegárias imposta à Índia pelo FMI em 1991, como condição para o pacote de assistência financeira.

Contrariamente à vulgata esquerdista, que certamente teria antecipado as maiores catástrofes em matéria de crescimento e desemprego, a economia indiana reagiu excepcionalmente bem. Sendo certo que as importações duplicaram entre 1991 e 1997, a produção industrial aumentou 50% nesse mesmo período, devido essencialmente à disponibilidade de bens de intermédios e de capital mais baratos. Por razões que o estudo explica, a importação desses bens mais do triplicou entre finais dos anos 80 e 2000, enquanto a importação de bens de consumo não chegou a duplicar.

Os efeitos teriam sido naturalmente muito diferentes se, ao contrário do que se passou, o crescimento das importações de bens de consumo tivesse sido significativamente superior ao de bens de intermédios e de capital. O que se teria passado nesse caso seria provavelmente muito semelhante ao que se passou com a economia portuguesa: estagnação e endividamento.

Em conclusão, o melhor do comércio externo são as importações (na condição de se exportar o suficiente para as pagar).

23/05/2009

22/05/2009

A via rápida de bestial para besta

O «voto de louvor e confiança» ao «bom senso e rigor» de João Rendeiro há um ano proposto por Pinto Balsemão, Saviotti e Vaz Guedes (certamente aprovado por unanimidade e aclamação) transformou-se ontem num voto de desconfiança.

Recordemos que durante 2007 já os mercados de capitais tinham iniciado uma queda consistente das alturas estratosféricas. Do final de 2007 para o voto de louvor, os índices mais importantes tinham caído acentuadamente: Euro Stoxx 50 de 4400 para 3800, o Dow Jones de 13400 para 12800, o S&P de 1500 para 1400, o Footsie de 6500 para 5500, o Nikkei de 16500 para 13000. Como seria possível o doutor Rendeiro ter uma galinha dos ovos de ouro só para eles?

O que levará gente tão experiente a enganar-se tão redondamente nos movimentos dos mercados e, sobretudo, na avaliação das pessoas? Como explicar a migração do bom senso e rigor para a falta de senso e de rigor e da confiança para a desconfiança em 12 meses a respeito de alguém que conheciam há anos?

DIÁRIO DE BORDO: reparando o Hubble (1)


O telescópio Hubble acabava de ser capturado e amarrado ao Space Shuttle Atlantis lançado no dia 9. Começavam as reparações.

21/05/2009

CASE STUDY: o racional da 3.ª travessia rodoviária do Tejo

«Quando o Governo anunciou a construção da Terceira Travessia do Tejo associada ao projecto TGV Lisboa - Madrid fiquei surpreendido porque foi anunciado um bónus: esta travessia iria ser construída não só com um tabuleiro ferroviário, mas também com um tabuleiro rodoviário. Fiquei surpreendido porque justificaram a iniciativa com o aumento de tráfego que o Novo Aeroporto de Lisboa (NAL) iria trazer às actuais infra-estruturas. É certo que o NAL vai acarretar um aumento do volume de tráfego, mas será assim tanto?

Começo por recordar que o actual aeroporto de Lisboa é apenas servido pela pior, repito, mais congestionada via rodoviária de Portugal: a 2ª circular. Não é sequer servido por comboio ou metropolitano e o cais de chegada é uma ilha ridícula de refúgio a passageiros auto-transportados. Com isto "despachámos" 13,6 milhões de passageiros em 2008. A previsão da procura realizada pela Parsons mostra que para 2018, data de abertura do novo aeroporto, o volume de passageiros deverá ser de aproximadamente 18,8 milhões, o que entre chegadas e partidas permite prever que teríamos um volume diário médio de 51 mil passageiros por dia. Admitindo que 60% dos passageiros se deslocariam em viatura de e para Lisboa (o comboio e os restantes destinos escoariam o remanescente) e que cada veículo seria ocupado por 1,5 passageiros (dados semelhantes a estudos de auto-estradas), teríamos uma média de 11 veículos por minuto para a nova ponte. Ora, uma vez que na 2ª circular passam hoje 70 veículos por minuto na hora baixa (contei-os eu!) não consigo perceber como é que 11 veículos por minuto justificam uma nova ponte rodoviária com 3 pistas para cada lado.

Pode argumentar-se que a média não serve e que as contas devem fazer-se com recurso ao tráfego em hora de ponta. Muito bem. Então vejamos. De acordo com os mesmos estudos da procura para a hora de ponta, e usando pressupostos semelhantes, concluo que a pressão rodoviária marginal pelo efeito "passageiros do aeroporto" seria, no limite máximo, de 19 veículos por minuto, o que mesmo assim ainda deixa muito a desejar quanto à bondade de um novo investimento rodoviário para servir o NAL a efectuar de imediato. Mesmo em 2035 com o novo aeroporto a esgotar a sua capacidade, o tráfego marginal rodoviário em hora de ponta seria de 31 veículos por minuto...»


[A feijoada, João Duque, no DE]

Verdict on the Crash (2)

Por falar em ganância dos banqueiros, além de convir explicar como uma ganância intemporal se manifesta ciclicamente, convém também esclarecer como uma ganância universal se manifesta desigualmente consoante os países.

Convém esclarecer, por exemplo, porquê o governo alemão já teve que torrar milhões de milhões de euros do dinheiro dos contribuintes para salvar os bancos alemães putativamente geridos com tanta prudência e com tão abundante regulação?

E também, já agora, porquê o governo do Canadá não teve praticamente que gastar um cêntimo do dinheiro dos contribuintes com os bancos canadianos que, apesar da perigosa proximidade com os vizinhos americanos e do elevado grau de integração das duas economias, se encontram em bastante bom estado.

Quanto maior é a subida, maior é o trambolhão


(Fonte para o Canadá: «A special report on international banking: Don't blame Canada», Economist , May 14th 2009)

Já que é preciso reescrever a história, que fique bem reescrita

Se há especialidade em que os políticos russos são mestres é a reescrita da história. Foram mais de 70 anos em que cada nova camada de autocratas, ajeitou os factos e apagou das fotos e dos livros a presença da anterior. Não deixa por isso de ser curioso que o «presidente» Dmitry Medvedev, procurador do czar Vladimir, tenha criado uma Comissão de História para investigar e combater a falsificação da história. Todas as falsificações da história? Não necessariamente. Apenas as que prejudiquem o «prestígio internacional da Rússia».

Considerando o passado (e o presente) do czar Vladimir, com a sua experiência no KGB e posteriormente no seu sucessor FSB, podemos equiparar esta medida à criação de uma comissão de ética pela Camorra.

A criação da Comissão de História segue-se a uma monumental parada na Praça Vermelha a 9 de Maio a pretexto da comemoração do fim da 2.ª guerra na Europa. Nove mil soldados desfilaram e tanques, lança-foguetes, mísseis balísticos, jactos e helicópteros foram exibidos para mostrar ao mundo o músculo militar da Rússia. As almas penadas de Estaline, Andropov e Brejnev que vagueiam pelos corredores do Kremlin rejubilaram .

A história expulsa pela porta principal regressa pelas traseiras.

19/05/2009

CASE STUDY: por falar em défice de regulação, alguém se lembra do SOX?

Em seguida aos escândalos da Enron et al. que também fizeram cair a Arthur Andersen, a maior das majors da auditoria, o Congresso americano aprovou em 2002 o chamado Sarbanes-Oxley Act, um conjunto pesadíssimo de procedimento de auditoria e medidas de controlo interno que as empresas tiveram que implementar nos anos seguintes e que custaram milhões de milhões de dólares (*). Como escreve o WSJ, «its biggest beneficiaries have been the same accounting firms the law sought to punish and which have nonetheless been able to charge far more money for their services. The law also did nothing to detect problems with the ratings and valuation of subprime mortgaged-back securities

Felizmente, o Supremo americano decidiu há dias avaliar a constitucionalidade do SOX. Deus os ilumine, digo eu que sou agnóstico.

(*) Ver, por exemplo, «SOX Costs: Auditor Attestation under Section 404», que avalia o aumento médio por empresa dos custos de auditoria devidos ao SOX em USD 2,3 milhões. Para o conjunto das Fortune 1000 o aumento total dos custos de auditoria de 2003 para 2004 teria sido superior a USD 2 mil milhões.

SERVIÇO PÚBLICO: começou por ser saga, continuou como comédia e acabou como tragédia

aqui, aqui, aqui, aqui e aqui tratei do objectivo do programa do governo de «recuperar, nos próximos quatro anos, os cerca de 150.000 postos de trabalho perdidos na última legislatura», isto é da redução do desemprego em 150 mil. Gradualmente, este objectivo foi-se transformando, primeiro em postos de trabalho a criar (objectivo que poderia conviver com o aumento do desemprego) e, no final do ano passado, já se tinha reduzido de 150 mil para «entre 80, 90 mil, 100 mil».

O último acto da comédia transformada em tragédia está em curso. Durante o governo Sócrates o desemprego aumentou quase tanto como o número de postos de trabalho prometidos recuperar e o número de postos de trabalho criados não chegou a 5 mil.

Quem não trata da economia mediática (a economia dos «200 palhaços que vão à televisão falar de economia», segundo César das Neves) sabe que esta coisa do governo recuperar ou criar empregos só se for engordando os utentes da vaca marsupial pública. Consequentemente, a promessa do programa de governo não passou de mera demagogia. O que nos condena a classificar o governo de uma de duas maneiras:
  • Incompetente, segundo a sua própria bitola
  • Demagogo (e incompetente), segundo a bitola do (Im)pertinências.
Escolhei, portanto.

18/05/2009

«Estivemos perto do abismo» e estamos a dar passos em frente

Foi preciso esperar por uma aula na Faculdade de Economia do Porto, no âmbito da celebração de 10 anos do programa de pós graduações da Faculdade de Economia do Porto, para ficarmos a saber o que vai na cabeça do ministro das Finanças. Imagina o ministro que «em Outubro estivemos perto do abismo [e] se não fosse a intervenção das autoridades não sei o que seria».

Não terá o ministro percebido que nós por cá continuamos perto do abismo e nos mantemos na travessia do deserto do em vias de subdesenvolvimento que iniciámos há uma década (para só pensar nesta última etapa)? Não sabe o ministro o que seria sem a intervenção das autoridades? Eu também não. Ou, mais exactamente, depende da intervenção a que ele se refere. Se pensarmos no papel das autoridades monetárias e de regulação na génese da crise, «se não fosse a intervenção» não teríamos muito provavelmente a crise que estamos a ter. Teríamos talvez antecipado uma recessão moderada.

O veredicto mais honesto é, muito provavelmente, o que citámos há uma semana (que pode ser lido na íntegra aqui): «even if the crisis had an element of poor market practice at its roots, the performance of government institutions should be raising doubts in people’s minds as to whether agencies of the state are likely to be any more effective than market mechanisms in preventing another crisis».

17/05/2009

Se Joseph Ratzinger fosse um aiatolá


Se Joseph Ratzinger fosse um aiatolá, o cartunista teria uma fatwa, o director do Expresso estaria a pedir desculpas e Sócrates estaria a mandar o embaixador em Teerão pedir uma audiência ao comandante dos Guardas da Revolução.

Declaração de (des)interesse: não sigo nenhuma religião.

Curar a doença do cão com o pêlo do mesmo cão

Agora que já ninguém tem desculpas por não ter percebido a responsabilidade dos bancos centrais na génese da crise financeira, fica mais fácil de perceber que dar-lhes mais poderes de intervenção e regulação é, com toda a probabilidade, arranjar mais sarna para se coçar.

[Fonte: The monetary-policy maze]

16/05/2009

DIÁRIO DE BORDO: A beleza do mal (4)


Representação computacional de Alex Dragulescu do código do Troiano PWS-Lineage, um ladrão de passwords. Apresentada na Conferência da RSA de 2009 em S. Francisco.

Nem todos os obamas de Obama fazem felizes os obamófilos: episódio (29) Eu não sou o eu, nem sou o outro

Em breve Obama terá que substituir o demissionário juiz Souter do Supremo Tribunal. Qual será a política do presidente Obama a este respeito? Defenderá o activismo judicial, atribuindo aos juízes o papel de corrigir a sociedade, ou, pelo contrário, defenderá que a justiça é igual para todos e o papel dos juízes é aplicá-la? Lendo os seus discursos durante a campanha, ficamos a saber que escolherá alguém:


  • «who understands that justice isn’t about some abstract legal theory or footnote in a casebook. It is also about how our laws affect the daily realities of people’s lives.»

    Mas também pode ser alguém

  • «who is dedicated to the rule of law, who honours our constitutional traditions… and the appropriate limits of the judicial role».
Foi então que recordei o poema de Mário de Sá Carneiro:
Eu não sou o eu, nem sou o outro
Sou qualquer coisa de intermédio
Pilar da ponte de tédio
Que vai de mim para o outro

14/05/2009

AVALIAÇÃO CONTÍNUA: foi encontrado o alter ego de Jimmy Carter

Secção Tiros nos pés

«O Presidente norte-americano, Barack Obama, avisou o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu para não lançar um ataque surpresa contra o Irão, numa mensagem enviada antes do encontro entre os dois líderes, agendado para segunda-feira.»

Foi uma notícia que saiu no Ha’aretz, mas podia ter sido um anúncio pago pela Casa Branca. Com uma reedição de Jimmy Carter em política externa a produzir shows mediáticos everywhere qualquer bater de botas para as bandas da Rússia, do Irão, da Coreia do Norte ou da China fará a Europa borrar-se de medo. Better red than dead, again.

Quatro pilatos para Obama, cinco urracas para os dirigentes europeus e cinco chateaubriands para ambos.

AVALIAÇÃO CONTÍNUA: verdadeiramente a bastonada do ano

Secção George Orwell

«Este processo judicial, quando terminar e seja qual for a conclusão a que se chegue, deve ser objecto de uma investigação parlamentar verdadeiramente independente, sobre a forma como começou e como decorreu», defendeu o doutor Marinho Pinto.

Pela prodigiosa bastonada «investigação parlamentar verdadeiramente independente» ganha o doutor Marinho Pinto 5 bem merecidos chateaubriands.

DIÁLOGOS DE PLUTÃO: a emancipação da mulher afegã vista pelos olhos duma repórter

Personagens: repórter ocidental e mulher afegã.

- Estou espantada. Quando estive aqui em Cabul há 5 anos as mulheres caminhavam 5 metros atrás dos maridos.
- É verdade. Sempre foi assim.
- Foi mas, pelos vistos, já não é. Agora vão 10 metros à frente.
- É certo que nos últimos anos as coisas mudaram.
- Isso é maravilhoso. É uma grande conquista da mulher afegã. E o que aconteceu para abandonarem esse costume absurdo?
- Minas terrestres.
[Inspirado numa estória, enviada por JARF, envolvendo a repórter Glória Maria da TV Globo]

Mais um a caminho

Anunciado há 2 anos (*), com a habitual grandiloquência, por José Sócrates e o ministro ventríloquo Pinho, o investimento da La Seda de Barcelona numa unidade de produção de matéria-prima para embalagens plásticas em Sines está a patinar e em risco, apesar da Caixa lá ter torrado 400 milhões numa participação de 7% para tornar atractiva a localização em Sines.

(*) A coisa à época multiplicou-se em centenas de notícias (google-se sócrates investimento sines "la seda").

O (IM)PERTINÊNCIAS FEITO PELOS SEUS DETRACTORES: fábula do turista e das dívidas

Chovia muito e o vilarejo estava quase abandonado. Eram tempos muito difíceis e todos tinham dívidas e viviam de empréstimos. Nesse dia chega um turista muito rico, entra no único hotel e coloca sobre o balcão uma nota de 100 euros e sobe as escadas para escolher um quarto.

O dono do hotel pega nos 100 euros e corre para pagar a sua dívida com o homem do talho.

O homem do talho pega no dinheiro e corre para pagar ao criador de gado.

O criador pega no dinheiro e corre para pagar à prostituta do vilarejo, que por conta da crise trabalhou fiado.

A prostituta corre para o hotel e paga ao dono pelo quarto que alugou para atender os seus clientes.

Nesse instante, o turista desce as escadas após examinar os quartos, pega no dinheiro de volta, diz que não gostou de nenhum dos quartos, e abandona o vilarejo.

Ninguém lucrou absolutamente nada, mas toda a aldeia vive hoje sem dívidas, optimista e acreditando num futuro melhor.

[Enviado por JARF]

12/05/2009

Verdict on the Crash

Perdidas nos mitos da ganância dos banqueiros (como se eles não tivessem sido desde sempre gananciosos, como todos os empresários e, já agora e acima de tudo, os pobres que à falta de dinheiro só pensam nele), da falta de regulação (como se na última década não se tivesse regulamentado mais do que em todos os tempos passados, desde o código de Hamurabi), do castigo divino pelos pecados do neo-liberalismo (como se houvesse um só governo à superfície da terra que merecesse tal adjectivação, desde os tempos de Lady Thatcher), é natural que as mentes que ainda guardam alguma lucidez fiquem excitadas com isto.


Correi a fazer o download.

ESTADO DE SÍTIO: a gestão por objectivos chegou ao fisco

«Fisco fixa meta de 28 mil penhoras sobre o património dos gestores», titula o DE.

Já não era sem tempo. Primeiro tivemos o célebre Despacho Normativo n.º 42/2005 de 18 de Agosto do saudoso professor Freitas do Amaral postulando «que todas as unidades orgânicas do Ministério dos Negócios Estrangeiros se orientarão pelo princípio da gestão por objectivos». A coisa ficou encalhada quase quatro anos. Depois tivemos a PSP que inexplicavelmente desistiu das metas anuais de detenções mínimas. Esperemos que o bom exemplo do fisco frutifique e que se estenda a todo estado napoleónico-estalinista.

ARTIGO DEFUNTO: eles não dormem em serviço

No dia 6 o Washington Post, que se fosse um jornal português poderia estar a investigar o Freeportgate, publicou um artigo laudatório de Steven Pearlstein a partir duma conversa em Lisboa com o engenheiro Sócrates. Nessa conversa o nosso engenheiro escolheu a narrativa do seu portfólio que ele julga mais adequada aos ouvidos dum americano – a do amigo dos mercados e dos negócios com preocupações sociais mitigadas pelo soberano interesse nacional. Teve um certo sucesso, como se pode ler no artigo de Pearlstein.

Ainda a tinta do Washington Post não tinha secado, estava o JdeN a comentar às 15:42 de 6.ª feira com 600 palavras o artigo de pouco mais de 900 de Pearlstein. É caso para dizer: maior e melhor a emenda do que o soneto. De um artigo laudatório, escrito com grande desconhecimento da realidade doméstica, passou-se para um artigo completamente bajulatório com o título sublime «Washington Post elogia governação de Sócrates».

Menos de 9 horas depois (às 0:28 de sábado) a máquina socialista, que não dorme em serviço, cita integralmente no blogue da JS o manipulado do JdeN sob o título delirante «Situacionismo: agora bateu no céu! Sobre Política de verdade».

11/05/2009

L’État c’est nous

Durante os exercícios de aquecimento da campanha para a câmara do Porto, em acumulação com a campanha para o parlamento europeu, a antiga ministra de António Guterres e actual candidata do PS nas eleições europeias e autárquicas, Elisa Ferreira, disse pelo menos duas coisas extraordinárias.

Corrigindo o lugar-tenente que a acompanhava na visita ao grupo desportivo local, que terá dito «primeiro a Dr.ª Elisa vai ao Parlamento Europeu», Elisa Ferreira esclareceu impromptu «vou só dar o nome e volto».

Aos velhinhos do lar que visitou a seguir, Elisa Ferreira explicou que «pintaram [a vereação de Rui Rio] os bairros, mas esqueceram-se de vos dizer que o dinheiro é do Estado, é do PS».

A naturalidade com que Elisa Ferreira se referiu nos termos em que o fez ao «volto» e à apropriação do Estado pelo PS, diz mais do que é PS de José Sócrates (ou de outros, que contudo teriam talvez um pouco mais de vergonha) do que todo o seu programa. Aliás o «volto» e o «estado do PS» fazem parte integrante da agenda cada vez menos escondida do PS.

[Lido aqui e visto primeiro no Insurgente]

10/05/2009

CAMINHO PARA A SERVIDÃO: o estado que cuida dos animais no circo também cuida da higiene sexual dos adolescentes

O ajuntamento de desocupados estacionados em S. Bento, liderado por uma salada russa de estalinistas, trotskistas, maoistas e o tutti quanti das causas fraccionistas, prosseguindo a sua sanha legiferante, discutiu a semana passada a proibição de utilizar animais (selvagens, segundo uns, todos, segundo outros) no circo. Porque não proibir também a utilização de humanos e acabar com o circo? Incluindo o circo de S. Bento.

Expulsada dos circos a bicheza, na próxima semana o ajuntamento discutirá a distribuição de preservativos aos alunos do secundário. Constatada a definitiva incapacidade da escola pública introduzir nas cabeças dos adolescentes um módico de matemática, prepara-se uma nova ejaculação do órgão legislativo para introduzir a borrachinha no pénis dos adolescentes. O passo seguinte poderá ser substituir o inalcançável domínio do português pelo uso da língua para outros fins.

Podia ser bem pior

O EPI (Environmental Performance Index) é uma iniciativa do YCELP (Yale Center for Environmental Law and Policy) e do CIESIN (Center for International Earth Science Information Network of Columbia University) que visar medir a qualidade do ambiente e a vitalidade do ecossistema com base em 25 indicadores em 6 áreas ambientais.

Em parte a posição favorável de Portugal no ranking do EPI deve-se mais à fraqueza da nossa indústria do que às políticas ambientais. Em qualquer caso, podia ser bem pior.

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09/05/2009

DIÁRIO DE BORDO: A beleza do mal (3)



Representação computacional de Alex Dragulescu do código do vírus Parite. Apresentada na Conferência da RSA de 2009 em S. Francisco.

08/05/2009

TIROU-ME AS PALAVRAS DA BOCA: eu também não percebo

«Não deixa de ser paradoxal que, apresentando-se o regime cubano como contrário ao capitalismo, apresente como a única e obsessiva razão do seu falhanço o facto de não ter relações comerciais com os EUA».

[Embargados de Helena Matos]

CASE STUDY: mais um prego no caixão do homo economicus

Apesar da existência do homo economicus rivalizar com a do abominável homem das neves, a verdade é que continua a ser uma premissa nuclear na(s) doutrina(s) neoclássica(s).

Um dos comportamentos humanos inexplicáveis à luz da putativa racionalidade do homo economicus é o conhecido, desde há décadas, endowment effect que leva os humanos a valorizarem um bem que já possuem mais do que o valorizaram no momento em que o adquiriram. Este comportamento já foi observado em centenas de experiências e, como por acaso, também já foi observado nos chimpanzés (olá Darwin).

Num paper, já com meia dúzia de anos, Steffen Huck e Georg Kirchsteiger mostram que a evolução (Darwin outra vez) favorece os indivíduos com comportamentos descritos pelo endowment effect, aumentando a sua posição negocial em trocas bilaterais, pelo que esses comportamentos sobreviveram na evolução a longo prazo e chegaram até aos nossos dias.

Foi mais um prego no caixão do homo economicus.

07/05/2009

Nem todos os obamas de Obama fazem felizes os obamófilos: episódio (28) uma mão não sabe o que a outra faz

A mão que recebe

«Para evitar uma regulação mais forte do sector, as 25 maiores instituições de crédito de alto risco gastaram 277 milhões de euros com os políticos.

Entre os maiores receptores de apoios das instituições financeiras entre 1994 e 2008 estiveram o Democratic Senatorial Committee (que elege democratas para o Senado), o Democratic National Committe (que governa o Partido dos Democratas), o Republican National Committee (que governa o Partido dos Republicanos), o Democratic Congressional Campaign Committee (que elege democratas para o Congresso) e a candidatura de Barack Obama a senador do Illinois
».

[Ler mais aqui]

A mão que retribui

«President Barack Obama fired the opening salvo in a sweeping effort to overhaul supervision of the shaky U.S. financial system, calling Wednesday for legislation that will likely bring greater government scrutiny of Wall Street.»

[Ler mais aqui]

DIÁRIO DE BORDO: A beleza do mal (2)


Representação computacional de Alex Dragulescu do código do spam degreesdiplomas5. Apresentada na Conferência da RSA de 2009 em S. Francisco.

O queijo do senador do queijo limiano

«Mr Specter explained his decision to switch parties by saying that his vote in favour of Mr Obama’s stimulus package had caused an irreconcilable schism with Pennsylvania’s Republican Party, particularly the hardcore members who vote in primaries. But in truth he could probably have pointed to any number of irreconcilable schisms with his former party. Mr Specter parted ways with the Republican Party because the Republican Party is ceasing to be a viable force in Pennsylvania.

Mr Specter faced a strong challenge in next year’s Republican primary from Patrick Toomey, a fierce conservative who has been ahead of him in the polls by some 20 points, buoyed by white-hot Republican fury at the Obama administration and generously financed by the low-tax, minimal-government lobby, the Club for Growth. And even if he had survived Mr Toomey’s onslaught, he would then have had to perform the difficult trick of moving back to the centre to beat a Democrat. Why subject himself to trial by fire when he could simply switch party


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06/05/2009

O importante é a diferença entre fazer e anunciar sem nunca sair do papel

Já alguém ouviu falar que o aeroporto de Beja iria constituir uma «plataforma logística para a carga a receber e a expedir de/para a América e África, incluído o transporte de peixe, utilizando aviões de grande porte e executando em Beja o transhipment para aviões menores para a ligação com os aeroportos europeus»? Ou que seria um «entreposto para a carga recebida no porto de Sines, passível de ser transportada por meios aéreos, frescos agrícolas produzidos na zona de regadio do Alqueva e Andaluzia». Foi o que se escreveu no estudo «Plano Regional de Inovação do Alentejo» da autoria de Augusto Mateus, a luminária ministro do governo Guterres que inventou o plano com o seu nome para recuperar empresas irrecuperáveis. Com esse estudo se fundamentou mais um «investimento» de dezenas de milhões.

O que falhou, segundo a luminária? Faltou a ligação entre Sines e o aeroporto de Beja. Falhou, mas não vai falhar. Já foi considerada estratégica e incluída no pacote rodoviário. E o que vai ser transportado por essa rodovia estratégica de Sines para Beja? Serão os «frescos agrícolas produzidos na zona de regadio do Alqueva e Andaluzia»? Só o professor Mateus poderia imaginar tal coisa. Resta o carvão, gás natural, petróleo ou refinados (80% do movimento do porto).

Em conclusão, três anos depois de torrar umas dezenas de milhões no aeroporto de Beja vão ser gastas muitas mais dezenas para o «viabilizar». No final, o professor Mateus fará outro estudo para fundamentar um outro investimento para «viabilizar» o segundo. É um exemplo dos investimentos improdutivos que geram outros investimentos igualmente improdutivos e que absorvem recursos que ficarão indisponíveis para investimentos produtivos. O efeito líquido é uma redução do produto potencial – é o multiplicador negativo a funcionar.

Não é verdade que o governo precisa de sound bites como de pão para a boca? É. E como pode o governo produzir sound bites sem fazer estes investimentos? Reformulo a pergunta: como pode o governo produzir sound bites sem anunciar estes investimentos? Dificilmente. Mas o importante é a diferença entre fazer e anunciar.

Veja-se o exemplo da fábrica de produção de vacinas antigripais da Medinfar em Condeixa-a-Nova. «Anunciado em Janeiro de 2006 por três ministros e um secretário de Estado … nunca saiu do papel». Imagine-se se o mesmo tivesse acontecido com o aeroporto de Beja e a rodovia estratégica de Sines para Beja. É esta a via rápida para o progresso: anuncie-se mas não se faça.

[A propósito de um artigo do Público de ontem e do artigo de Frederico Carvalho, «Carga em que aeroportos» hoje publicado no OJE]

DIÁRIO DE BORDO: A beleza do mal (1)


Representação computacional de Alex Dragulescu do código do verme de correio electrónico MyDoom que há 5 anos infectou 1 em cada 12 caixas. Apresentada na Conferência da RSA de 2009 em S. Francisco.

05/05/2009

A lousy economy, glum voters

«The Portuguese are among the glummest people in Europe. According to a Eurobarometer poll, 92% see the economic situation as bad; fully 95% are depressed about their job prospects; and over half are “dissatisfied with the life they lead”.

Part of the problem was that joining the euro in 1999 pushed interest rates too low. The Portuguese borrowed heavily to buy houses, cars and airline tickets. Easy credit and rising wages sucked in imports, swelling the current-account deficit to 12% of GDP last year. Productivity failed to keep up. Instead of compensating for a limited domestic market, exports have remained stubbornly stuck at 30% of GDP—less than in most comparable small EU countries.

To improve its performance, Portugal needs more flexible labour laws, less bureaucracy, a better educated workforce, more competition and a smaller state. As the IMF states in a recent report, the country’s fundamental problems are domestic, not global, in nature. But political leaders find reforms hard to push through»


[Socratic dialogue, Economist, Apr 30th 2009]

CASE STUDY: não é matéria de fé

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[Fonte: World Map of Natural Hazards, 2009, Munich Re (*)]

(*) A Munich Re não é uma ONG, nem uma OG, é apenas o maior ressegurador mundial e não parece ter vested interests nesta matéria.

A doutora Manuela, eu e as minhas dúvidas

Gosto daquele estilo desajeitado, nos antípodas das práticas consagradas de construção duma imagem mediática. Aprecio aquele ar de avó que já mostrou tudo o que tinha para mostrar, aquele ar de quem pensa vamos lá tratar disso que eu tenho mais do que fazer – levar os meus netos a passear, por exemplo. É um ar só aparentemente pesado, mas leve e fresco quando comparado com os spots plastificados e a cassete do senhor engenheiro.

Gosto, pronto. E, por isso, as dúvidas moem-me. Dúvidas de forma. Vai continuar a precisar de tradutores para comunicar com o eleitorado? Ou de explicadores encartados que fazem a hermenêutica das suas declarações?

E dúvidas de conteúdo. Com um passado de convivência com as políticas do betão e do revestimento betuminoso, de conformidade com o reforço do papel do estado assistencialista, de pouca fé nos mercados, o que poderemos esperar da sua governação?

03/05/2009

DEIXAR DE DAR GRAXA PARA MUDAR DE VIDA: País em vias de subdesenvolvimento (2)

Desde 1999 a economia portuguesa vem a divergir da UE-27 e continuará a divergir pelo menos até 2014 (*). Neste período de 15 anos o rendimento per capita corrigido pelas paridades do poder de compra cairá de 80% para 70% da média da UE-27. Note-se que se está a comparar com a UE-27. Se comparássemos com a UE-15 estas percentagens desceriam mais de 10%.


Desde 1999 até agora fomos governados 3 anos por uma coligação PSD-CDS e 7 anos por 2 governos PS. Todos os governos, com especial destaque para o actual, se atribuíram um tal papel no campo da economia que, se forem julgados pela comparação dos seus programas com os resultados alcançados, teremos de concluir que fracassaram. Em boa verdade, esses governos não detinham os poderes miraculosos que venderam aos eleitores e, portanto, nunca poderiam ser completamente responsabilizados pelos resultados se estes porventura tivessem sido positivos. Em boa verdade, os putativos efeitos positivos da acção dos governos (destes e dos outros) são muito menores do que os efeitos negativos que podem infligir, e infligem de facto, à economia do país, não apenas, o que não seria pouco, pelo enorme desperdício de recursos consumidos pela ineficiência do aparelho de estado, mas por via de investimentos sem retorno e de «investimentos» cujo único retorno é alimentar a crónica dependência de empresários incapazes de subsistir fora do colo acolhedor do governo.

É um país em vias de subdesenvolvimento.

(*) Segundo os cálculos de Miguel Frasquilho («Sempre a empobrecer até, pelo menos, 2014!», no Sol de 1 de Maio), baseados nos dados do FMI.

02/05/2009

Com uma família assim, é difícil escapar às trampolinas

«Faltam documentos na escritura da casa da mãe de Sócrates». «Numa época de euforia imobiliária, a Soltberg perdeu na transacção (venda à mãe de Sócrates) mil contos». «Falei com o tio do primeiro-ministro e ele ajudou-me» (na tentativa de compra de património do Estado).
[no Sol de ontem]

Como se escreveu no (Im)pertinências é a inversão politicamente irremediável do ónus de prova.

É este Estado conduzido pelo grémio das luminárias colectivistas que vai corrigir as «falhas do mercado»?

Segundo as luminárias colectivistas domésticas, o mercado falhou, os empresários falharam e o Estado, conduzido pelo grémio das luminárias colectivistas, terá que suprir o falhanço do capitalismo lusitano.

Aceite-se por momentos a tese colectivista e pergunte-se às luminárias se o caminho para a salvação da economia será iluminado pelo mesmo Estado e as mesmas luminárias (ou a sua parentela) que decidiram «negócios» e torraram milhares de milhões em centenas em investimentos como, para citar um só caso paradigmático, as 7 SCUTS do outro senhor engenheiro das quais apenas 2 (como por acaso, concessionadas a espanhóis) têm volumes de tráfego comparáveis com os estudos de viabilidade. SCUTS que, com o risco do lado do Estado, torrarão mais uns 600 milhões do dinheiro dos contribuintes, ano após ano, até ao fim das concessões em 2032.

[A propósito do artigo «Auto-estradas sem tráfego», no Sol de ontem]

01/05/2009

SERVIÇO PÚBLICO: Quereis cumprir Abril?

«A revisão da lei do financiamento dos partidos políticos e das campanhas eleitorais foi aprovada esta quinta-feira, com o voto favorável de todas as bancadas parlamentares, unanimidade quebrada pelo voto contra de um deputado socialista e por uma abstenção.» (Sic)

Na semana passada ouviram-se vozes clamando «cumprir Abril». Possivelmente tais vozes clamam por mais colectivismo e por um estado ainda mais intervencionista e, inevitavelmente, por menos liberdade à pala de mais igualdade e justiça. Ó vozes, se quereis fazer algo, fazei outro 25 de Novembro para afastar a clique medíocre e incompetente, instalada nas manjedouras do poder, que vai desde o CDS-PP, até ao Berloque Sinistro, passando pelo PSD, PS e PCP.