Ele há modelos para tudo. Modelos de catástrofe e modelos de passarinhos a chilrear. Ele há quem jure que, se não começarmos a andar de burro, o ambiente estará irremediavelmente perdido antes da segurança social estar irremediavelmente insustentável. Ele há quem garanta que se as coisas estão a aquecer, supondo que estão a aquecer, e nada está provado, dizem, é porque há menos enxofre na atmosfera, coisa que é fácil de resolver.
Que as coisas estão a aquecer parece difícil de negar.
E também não parece fácil imaginar os passarinhos a chilrearem.
O glaciar Blomstrandbreen na Noruega, em 1918 e em 2002
Malditos factos.
30/09/2006
29/09/2006
CASE STUDY: a engenharia social chegou às novelas
Era inevitável. Com a queda do fassismo, os pais, armados da bíblia do doutor Spock, foram gradualmente demitindo-se do seu papel de educadores, trespassando-o aos profs, os quais, por seu turno, trespassaram a desconhecidos o seu papel de instrutores. Ficou um vazio que o estado napoleónico-estalinista se apressaria a preencher se já tivesse encontrado a vida para além do orçamento.
Como a natureza odeia o vácuo, alguém tinha que o preencher. Pelo menos naquilo que é mais urgente, e, ao mesmo tempo, bastante supérfluo: a educação sexual.
Foi o que disseram os criadores da novela Jura ao Sol da semana passada (exemplar recuperado in extremis antes duma fatal operação de limpeza de vidros onde a minha empregada se preparava para o usar). Um disse que a novela «é um passo no caminho para a abertura das mentalidades» outro que «o meu (dele) objectivo (é) trabalhar na mudança de mentalidades». Eles não queriam fazer pelas suas vidinhas e facturar uns cobres, vendendo uma novela com umas quecas insinuadas e umas intimidades alternativas em cada capítulo, para ser vista por um «dos públicos mais inteligentes da Europa». Eles não queriam ser facturantes. Eles querem ser fracturantes, abrir e trabalhar as mentalidades.
Serão vestígios do serviço cívico do coronel Vasco Gonçalves?
Como a natureza odeia o vácuo, alguém tinha que o preencher. Pelo menos naquilo que é mais urgente, e, ao mesmo tempo, bastante supérfluo: a educação sexual.
Foi o que disseram os criadores da novela Jura ao Sol da semana passada (exemplar recuperado in extremis antes duma fatal operação de limpeza de vidros onde a minha empregada se preparava para o usar). Um disse que a novela «é um passo no caminho para a abertura das mentalidades» outro que «o meu (dele) objectivo (é) trabalhar na mudança de mentalidades». Eles não queriam fazer pelas suas vidinhas e facturar uns cobres, vendendo uma novela com umas quecas insinuadas e umas intimidades alternativas em cada capítulo, para ser vista por um «dos públicos mais inteligentes da Europa». Eles não queriam ser facturantes. Eles querem ser fracturantes, abrir e trabalhar as mentalidades.
Serão vestígios do serviço cívico do coronel Vasco Gonçalves?
27/09/2006
DIÁRIO DE BORDO: táctica ou estratégia?
"An old chess saying says that tactics are knowing what to do when there is something to do - strategy is knowing what to do when there is nothing to do."Garry Kasparov, provavelmente o melhor jogador de xadrez de sempre, em breve em Lisboa, a convite da SAP (passe a publicidade).
"We cannot be afraid to ask the difficult questions because we are afraid of the answers we might receive."
26/09/2006
DIÁRIO DE BORDO: Tintim no país dos sovietes (1)
Segundo as minhas estimativas, se (um grande se) houvesse no nosso país um PBL, um partido berdadeiramente liberal, a probabilidade do seu líder ser um dia 1.º ministro (vá lá, vice) seria 1/4 da probabilidade do professor Anacleto Louça estar no mesmo lugar, ou o doutor Daniel Oliveira ser o ministro da propaganda, e 1/8 da probabilidade do camarada Jerónimo ocupar o lugar de presidente do conselho dos sovietes.
Quando tiver tempo, explico-me.
(a luta continua)
Quando tiver tempo, explico-me.
(a luta continua)
24/09/2006
ARTIGO DEFUNTO: a marca de Sócrates
No seu afã de puxar pela economia mediática, o Expresso não se poupa a esforços.
Na página 3 consola-nos com uma dívida pública que não deverá ultrapassar os 69,3% do PIB em 2007 e este ano «deverá fechar nos 68,7%». Quatro páginas mais à frente, a jornalista que também escreveu na página 3, descai-se com uma má notícia: o Boletim Estatístico do BdeP conta outra estória e o título da página 7 é inquietante pelos padrões manteigueiros do Expresso:
Dívida atinge 73% do PIB
Desapego à realidade? Não admira. O chefe da jornalista, o economista Nicolau Santos, dá-lhe um exemplo desse desapego, com os seus delírios solidários na página 5. Preocupadíssimo com o «sistema de capitalização puro e duro» que nos conduzirá inexoravelmente a uma «sociedade bem mais desigual, egoísta e cruel», o doutor Nicolau, depois de nos confessar as suas dúvidas sobre o sistema misto, redime-nos dum futuro cruel explicando que a solução está em reduzir as pensões mais altas ou, dito dum modo, a solução está na progressividade das contribuições para a Segurança Social. Nada de novo. Apenas uma extensão do IRS.
A fixação do Expresso na economia mediática, na ânsia de nos dar boas notícias, se por um lado revela os tiques manipulativos do jornalismo de causas, por outro evidencia a marca de Sócrates. Contrariamente ao engenheiro Guterres, que se empenhava em dar testemunho aos incréus do universo paralelo em que vivia, o engenheiro Sócrates sabe perfeitamente em que universo vive. A ambição dele é mais terrena: ele só quer que nós acreditemos que a coisa não está tão má quanto parece (estando, a culpa é da oposição), e que, seja como for, ele nos pastoreará até ao jardim das delícias, onde chegaremos por alturas do seu segundo mandato.
23/09/2006
CASE STUDY: bendita econometria
Finalmente vê-se uma luz, que não é um comboio, no fundo do túnel, que não é o do Rossio.
Segundo o modelo econométrico que os doutores Pereira e Jorge Andraz usaram no estudo "O impacto económico e orçamental do investimento em Scut" que acabam de publicar, por cada milhão de euros que o governo investir em infra-estruturas rodoviárias o efeito acumulado no PIB será de 18 milhões de euros, a longo prazo (quando todos estivermos mortos, como dizia o velho Keynes).
Ultrapassando a dúvida inconveniente que se poderia colocar a respeito dum país como a Irlanda que, não tendo praticamente auto-estradas, conseguiu em 20 anos passar de um PIB per capita igual ao português para praticamente o dobro, o modelo dos doutores Pereira e Jorge Andraz mostra claramente o auto-estrada para a convergência real.
Imaginemos uma malha apertada de Scuts com 2.000 km de extensão (1), cobrindo a zona quase despovoada do interior do Nut Alentejo, ligando os montes alentejanos entre si (2). Suponha-se que cada um desses 2.000 km custaria 2 milhões de euros (3) e teríamos um investimento total de 4 mil milhões de euros. A longo prazo o efeito acumulado no PIB português seria de 72 mil milhões de euros, ou 2,4 mil milhões em média por cada um dos 30 anos que duraria o longo prazo dos doutores Pereira e Jorge Andraz. Ou seja, 2 anos após o termo do período de investimento este teria sido recuperado e a partir daí seria dinheiro em caixa.
Tudo isto sem o desconforto das reformas, a dor dos despedimentos, a trabalheira das qualificações profissionais, o risco do investimento, a maçada das conquistas dos mercados.
Meu deus, porque é que ainda não me tinha lembrado disto antes?
(1) Um pouco mais do dobro dos 960 km existentes e perfeitamente ao nosso alcance.
(2) Deveríamos preparar-nos para uma cruzada longa e maçadora do doutor Miguel Sousa Tavares, por lhe estragarem a vista rústica que desfruta do seu monte, mas acredito que valerá a pena.
(3) É uma estimativa conservadora. Com um cambão como deve ser poderia facilmente atingir-se os 3 milhões de euros por km e teríamos um efeito acumulado no PIB de 108 mil milhões.
Segundo o modelo econométrico que os doutores Pereira e Jorge Andraz usaram no estudo "O impacto económico e orçamental do investimento em Scut" que acabam de publicar, por cada milhão de euros que o governo investir em infra-estruturas rodoviárias o efeito acumulado no PIB será de 18 milhões de euros, a longo prazo (quando todos estivermos mortos, como dizia o velho Keynes).
Ultrapassando a dúvida inconveniente que se poderia colocar a respeito dum país como a Irlanda que, não tendo praticamente auto-estradas, conseguiu em 20 anos passar de um PIB per capita igual ao português para praticamente o dobro, o modelo dos doutores Pereira e Jorge Andraz mostra claramente o auto-estrada para a convergência real.
Imaginemos uma malha apertada de Scuts com 2.000 km de extensão (1), cobrindo a zona quase despovoada do interior do Nut Alentejo, ligando os montes alentejanos entre si (2). Suponha-se que cada um desses 2.000 km custaria 2 milhões de euros (3) e teríamos um investimento total de 4 mil milhões de euros. A longo prazo o efeito acumulado no PIB português seria de 72 mil milhões de euros, ou 2,4 mil milhões em média por cada um dos 30 anos que duraria o longo prazo dos doutores Pereira e Jorge Andraz. Ou seja, 2 anos após o termo do período de investimento este teria sido recuperado e a partir daí seria dinheiro em caixa.
Tudo isto sem o desconforto das reformas, a dor dos despedimentos, a trabalheira das qualificações profissionais, o risco do investimento, a maçada das conquistas dos mercados.
Meu deus, porque é que ainda não me tinha lembrado disto antes?
(1) Um pouco mais do dobro dos 960 km existentes e perfeitamente ao nosso alcance.
(2) Deveríamos preparar-nos para uma cruzada longa e maçadora do doutor Miguel Sousa Tavares, por lhe estragarem a vista rústica que desfruta do seu monte, mas acredito que valerá a pena.
(3) É uma estimativa conservadora. Com um cambão como deve ser poderia facilmente atingir-se os 3 milhões de euros por km e teríamos um efeito acumulado no PIB de 108 mil milhões.
21/09/2006
DEIXAR DE DAR GRAXA PARA MUDAR DE VIDA: cidadãos auto-mobilizados
Estamos no país que tem o nível de vida mais baixo da Europa dos 15 e está a caminho de ser sucessivamente ultrapassado pelos outros 10, saídos das ruínas do colapso do comunismo. Como conseguimos ter mais telemóveis do que habitantes, mesmo contando os cidadãos que se babam? A explicação é fácil, dirão: saímos do fassismo com um grande défice de comunicação e um telemóvel pode comprar-se por uma pequena fracção do salário mínimo e pode ser usado apenas para receber chamadas de quem tem mais do que o salário mínimo.
Mais difícil de explicar é como os portugueses conseguem aumentar o número de automóveis por 1.000 habitantes de 258 em 1990 para 572 em 2004, ganhando uma honrosa medalha de bronze, apenas suplantados pelo Luxemburgo e pela Itália. Aqui trata-se não já de uma fracção do salário mínimo mas um múltiplo, que não é inferior a 25 para o chaço mais baratinho do mercado (excluindo as trotinetes com 4 rodas e um motor de 50cc).
Quem não deve achar piada a estas performances são os contribuintes alemães que pagam uma parte da nossa festa, financiada com os fundos comunitários. Aguentam-se com estoicismo porque recebem a grana de volta dos portugueses mais abonados que compram os seus carros, todos eles mais caros do que a concorrência, mas com um certo charme (os pretos sobretudo) que atrai irresistivelmente as nossas classes A e B, bem como os servidores do estado que também um penchant pela espécie.
(Fonte: Jornal de Negócios)
Mais difícil de explicar é como os portugueses conseguem aumentar o número de automóveis por 1.000 habitantes de 258 em 1990 para 572 em 2004, ganhando uma honrosa medalha de bronze, apenas suplantados pelo Luxemburgo e pela Itália. Aqui trata-se não já de uma fracção do salário mínimo mas um múltiplo, que não é inferior a 25 para o chaço mais baratinho do mercado (excluindo as trotinetes com 4 rodas e um motor de 50cc).
Quem não deve achar piada a estas performances são os contribuintes alemães que pagam uma parte da nossa festa, financiada com os fundos comunitários. Aguentam-se com estoicismo porque recebem a grana de volta dos portugueses mais abonados que compram os seus carros, todos eles mais caros do que a concorrência, mas com um certo charme (os pretos sobretudo) que atrai irresistivelmente as nossas classes A e B, bem como os servidores do estado que também um penchant pela espécie.
(Fonte: Jornal de Negócios)
20/09/2006
ESTADO DE SÍTIO: radiografia do monstro (2)
Depois da radiografia da cabeça do monstro, temos agora a radiografia do resto do corpo em rápido crescimento, nomeadamente nas partes consignadas ao reino do Bokassa das Ilhas e nas do outro senhor, cujo nome não me lembro. Juntando as radiografias, ficamos a saber que existem 737.744 utentes pendurados nas mirradas tetas da vaca marsupial pública, assim distribuídos (fonte: Jornal de Negócios):
19/09/2006
ESTADO DE SÍTIO: a vida para além do orçamento - a 3.ª via
Como pretende o governo cumprir o Programa de Estabilidade e Crescimento e reduzir o défice para o limite previsto? Reduzindo as despesas públicas? Aumentando ainda mais os impostos? A primeira seria uma boa estratégia a segunda seria a habitual. O governo não escolheu nem uma, nem outra - escolheu a 3.ª via.
O governo mandou a Direcção-Geral do Orçamento avisar «todos os serviços do Estado ... de que não seriam efectuados pagamentos decorrentes de compromissos posteriores a 1 de Setembro, de modo a assegurar "o cumprimento das metas implícitas do Programa de Estabilidade e Crescimento" e os limites do défice» (Público). Tirando partido do facto da contabilidade pública ser uma ciência oculta (João César das Neves), em que as despesas só são contabilizadas se forem liquidadas, o governo empurra a dívida com a barriga para a frente. Talvez no próximo ano a Direcção-Geral do Orçamento faça outra circular a fechar a porta em 1 de Agosto ou 1 de Julho, mas até lá o show off mediático continua.
O que fariam a oposição, os mídia, os analistas e comentadores se, no lugar do senhor engenheiro, que diz barbaridades (*) com fala grossa e ar seguro, estivesse o pateta do doutor Lopes a fazer a mesmíssima trampolina?
(*) Como, por exemplo, gabar-se que «a despesa pública vai este ano cair em função do PIB - e isso será algo de inédito em 30 anos de história das finanças públicas em democracia», quando nesse período houve 11 descidas e 18 subidas, que em termos líquidos elevaram as despesas públicas de 23,1% do PIB nos tempos do fassismo (com uma guerra colonial em curso!) para o impressionante score do senhor engenheiro de 47,8% em 2005 (Fonte: editorial do DE).
O governo mandou a Direcção-Geral do Orçamento avisar «todos os serviços do Estado ... de que não seriam efectuados pagamentos decorrentes de compromissos posteriores a 1 de Setembro, de modo a assegurar "o cumprimento das metas implícitas do Programa de Estabilidade e Crescimento" e os limites do défice» (Público). Tirando partido do facto da contabilidade pública ser uma ciência oculta (João César das Neves), em que as despesas só são contabilizadas se forem liquidadas, o governo empurra a dívida com a barriga para a frente. Talvez no próximo ano a Direcção-Geral do Orçamento faça outra circular a fechar a porta em 1 de Agosto ou 1 de Julho, mas até lá o show off mediático continua.
O que fariam a oposição, os mídia, os analistas e comentadores se, no lugar do senhor engenheiro, que diz barbaridades (*) com fala grossa e ar seguro, estivesse o pateta do doutor Lopes a fazer a mesmíssima trampolina?
(*) Como, por exemplo, gabar-se que «a despesa pública vai este ano cair em função do PIB - e isso será algo de inédito em 30 anos de história das finanças públicas em democracia», quando nesse período houve 11 descidas e 18 subidas, que em termos líquidos elevaram as despesas públicas de 23,1% do PIB nos tempos do fassismo (com uma guerra colonial em curso!) para o impressionante score do senhor engenheiro de 47,8% em 2005 (Fonte: editorial do DE).
18/09/2006
DEIXAR DE DAR GRAXA PARA MUDAR DE VIDA: erro ou irrelevância estatística?
Os pânditas do governo apressaram-se a saudar a correcção da previsão do FMI de crescimento do PIB de 0,8% para 1,2% como o anúncio dos amanhãs radiosos que nos esperam ao virar da esquina.
Não sendo completamente irrelevante, mas qual é a diferença do crescimento em 2006 ser 0,8% ou 1,2%? O alargamento do fosso entre a economia portuguesa e os outros países comunitários reduz-se. Mas que importância prática tem isso quando os crescimentos previstos são: Alemanha 2%; França 2,4%; Reino Unido 2,7%, Holanda 2,9%, Espanha 3%, Finlândia 3,5%, Grécia 3,7% e Irlanda 5,8%? (Fonte SE)
Tenham dó. Deixem a economia mediática e dediquem-se à reforma da Administração pública e ao emagrecimento do monstro.
Não sendo completamente irrelevante, mas qual é a diferença do crescimento em 2006 ser 0,8% ou 1,2%? O alargamento do fosso entre a economia portuguesa e os outros países comunitários reduz-se. Mas que importância prática tem isso quando os crescimentos previstos são: Alemanha 2%; França 2,4%; Reino Unido 2,7%, Holanda 2,9%, Espanha 3%, Finlândia 3,5%, Grécia 3,7% e Irlanda 5,8%? (Fonte SE)
Tenham dó. Deixem a economia mediática e dediquem-se à reforma da Administração pública e ao emagrecimento do monstro.
17/09/2006
ESTADO DE SÍTIO: radiografia do monstro
32 anos depois do queda do fassismo, o governo do engenheiro Sócrates dá-nos conta do número de funcionários públicos até às unidades. De acordo com a Base de Dados de Recursos Humanos da Administração Pública, são exactamente 558.813 funcionários na Administração Central, a desmesurada cabeça do estado napoleónico-estalinista. A estes haverá que acrescentar um número indeterminado na Administração Local, cuja contagem poderá levar outros 30 anos.
Este gigantesco feito aritmético do governo do engenheiro Sócrates é, contudo, ensombrado pelo desconhecimento da remuneração (1) de 26.897 (2), do tipo de contrato de 30.636 (2) e das habilitações literárias (3) de 12.149 funcionários.
Falando de habilitações literárias, num país de iletrados o estado napoleónico-estalinista, ou mais exactamente a cabeça do monstro (4) , 260.606 (2) funcionários têm cursos superiores, dos quais 11.000 têm um mestrado e 9.500 são doutores. Se a estes acrescermos os titulares de diplomas que se encontram estacionados na Administração local, percebemos que, nesta como noutra áreas, o estado napoleónico-estalinista se auto-devora, produzindo bacharéis, licenciados, mestres e doutores que se dedicam a produzir mais bacharéis, licenciados, mestres e doutores que constituirão outros tantos utentes da vaca marsupial pública. Com tal gula, o estado devorará a nação.
(Fonte: Diário Económico)
NOTAS:
(1) Os utentes da vaca marsupial pública não têm salário, têm uma tença, chamada remuneração.
(2) Note-se, uma vez mais, o rigor matemático.
(3) Os utentes não têm competências profissionais, ou graus académicos, eles têm habilitações «literárias».
(4) «Monstro» foi o nome que um dos seus pais, o professor Cavaco Silva, prantou à criatura.
Este gigantesco feito aritmético do governo do engenheiro Sócrates é, contudo, ensombrado pelo desconhecimento da remuneração (1) de 26.897 (2), do tipo de contrato de 30.636 (2) e das habilitações literárias (3) de 12.149 funcionários.
Falando de habilitações literárias, num país de iletrados o estado napoleónico-estalinista, ou mais exactamente a cabeça do monstro (4) , 260.606 (2) funcionários têm cursos superiores, dos quais 11.000 têm um mestrado e 9.500 são doutores. Se a estes acrescermos os titulares de diplomas que se encontram estacionados na Administração local, percebemos que, nesta como noutra áreas, o estado napoleónico-estalinista se auto-devora, produzindo bacharéis, licenciados, mestres e doutores que se dedicam a produzir mais bacharéis, licenciados, mestres e doutores que constituirão outros tantos utentes da vaca marsupial pública. Com tal gula, o estado devorará a nação.
(Fonte: Diário Económico)
NOTAS:
(1) Os utentes da vaca marsupial pública não têm salário, têm uma tença, chamada remuneração.
(2) Note-se, uma vez mais, o rigor matemático.
(3) Os utentes não têm competências profissionais, ou graus académicos, eles têm habilitações «literárias».
(4) «Monstro» foi o nome que um dos seus pais, o professor Cavaco Silva, prantou à criatura.
15/09/2006
14/09/2006
BREIQUINGUE NIUZ: já somos dois (pelo menos) - outra vez
«Coordenador Europeu do Comboio de Alta Velocidade não considera prioritárias as ligações Lisboa-Porto e Lisboa-Madrid. Etienne Davignon coloca assim em dúvida parte do apoio comunitário ao projecto.» (DE)
Começo a sentir-me inquieto com esta convergência com as instâncias comunitárias, que ameaça tornar-se um hábito.
Começo a sentir-me inquieto com esta convergência com as instâncias comunitárias, que ameaça tornar-se um hábito.
SERVIÇO PÚBLICO: o munícipe sujeito passivo está insolvente (RELOADED)
Aos 1.924 euros em média por agregado de sujeitos passivos é preciso adicionar um montante indeterminado correspondente aos prejuízos em metade das empresas municipais que o Tribunal de Contas apurou (DE).
13/09/2006
SERVIÇO PÚBLICO: o munícipe sujeito passivo está insolvente
12/09/2006
BLOGARIDADES: reductio ab absurdo
O melhor argumento da temporada para pôr em causa a sanidade mental dos adeptos das teorias conspiratórias, como o doutor Anacleto Louçã, perdão como o doutor Soares, foi assim formulado por um lobo do mar:
O SÍNDROMA DE MUNCHHAUSEN (*): Existe um motivo suplementar para tentar encontrar Ben Laden: precisa de ajuda psiquiátrica, pois está absolutamente convencido que destruiu dois edifícios nos EUA no dia 11 de Setembro de 2001.(*) Para quem (como eu) não sabe (sabia) o que é a coisa: o síndroma de Munchhausen é um distúrbio psiquiátrico que consiste em procurar simular sintomas de doenças graves. Bem vistas as coisas, os adeptos das teorias conspiratórias talvez apenas estejam a tentar disfarçar.
11/09/2006
BREIQUINGUE NIUZ: Prós e contras
Estou a assistir ao frente a frente do doutor Pacheco Pereira com o doutor Louçã. É extraordinário como de repente o doutor Louçã envelheceu. Envelheceu, mas está acutilante como de costume.
O doutor Soares, se lá estivesse, certamente não apreciaria aquela piada do imperialismo americano interferir nos negócios internos de países soberanos, como foi o caso, durante o verão quente de 75, da mãozinha ianque que embalou o doutor Soares. Embalo que o doutor Louçã, nessa altura ainda de calções, tão apaixonadamente denunciou.
O doutor Soares, se lá estivesse, certamente não apreciaria aquela piada do imperialismo americano interferir nos negócios internos de países soberanos, como foi o caso, durante o verão quente de 75, da mãozinha ianque que embalou o doutor Soares. Embalo que o doutor Louçã, nessa altura ainda de calções, tão apaixonadamente denunciou.
BREIQUINGUE NIUZ: já somos dois (pelo menos)
«O Banco Central Europeu (BCE) duvida que o Governo português consiga cumprir o compromisso assumido com os parceiros da União Europeia (UE) de reduzir este ano o défice orçamental para 4,6% do PIB.
A quatro meses do fim do exercício orçamental de 2006, a autoridade monetária do euro queixa-se de falta de informação e diz persistir "bastante incerteza" sobre os resultados das medidas de contenção anunciadas no Executivo, noticia hoje (*) o Jornal de Negócios»
(*) Isto é, sexta-feira passada - trata-se de breiquingue niuz.
A quatro meses do fim do exercício orçamental de 2006, a autoridade monetária do euro queixa-se de falta de informação e diz persistir "bastante incerteza" sobre os resultados das medidas de contenção anunciadas no Executivo, noticia hoje (*) o Jornal de Negócios»
(*) Isto é, sexta-feira passada - trata-se de breiquingue niuz.
10/09/2006
DIÁLOGOS DE PLUTÃO: assim não dá!
- Ó chavala, vamo lá dar uma cambalhota?(«Preço dos preservativos em Portugal pode condicionar prática do sexo seguro» no Público e comentário do mano mentoche, que está longe de pátria)
- Prontes, atão vamo. Põe lá a borrachinha?
- Tás doida ó galdéria?
- Adelino, Adelino! Tu não ouviste o stôr lá do centro? Tu não ouviste os gajos do Bloco a explicar que a borrachinha era tão importante como a seringa?
- Eles falam, falam. E tu sabes quanto sobrou depois de pagar os 2 chutos à Maluca?
- ?
- Cem méreis! E sabes quanto custa uma embalage de camisas?
- Sei lá, mano.
- Quinhentos paus! Tás a ver? Olha se não fosse eu tratar das finanças. Estavas feita, ó minha.
- Voltando à cambolhota, coméque a gente faz?
- Lá terá que ser sexo não seguro.
- O Sócrates é mesmo um mau ministro. Anda preocupado com o crescimento, com investimento estrangeiro, com a inflação.
- Que se lixe a economia: a malta já nem tem para dar umas quecas.
09/09/2006
08/09/2006
AVALIAÇÃO CONTÍNUA: "uma concepção diferente de terrorismo"
Secção Padre Anchieta
A propósito do protesto do embaixador da Colômbia pela presença na festa do Avante duns «activistas» das FARC, bando que a UE classifica como terrorista, Jerónimo de Sousa, secretário-geral do PC, vociferou «que esta operação e esta deriva em relação à nossa festa procura esconder a responsabilidade deste Governo em relação a actos de terrorismo de Estado» e mais disse que havia um "silêncio de chumbo" sobre este "terrorismo de Estado". (Público)
Assim de repente, pensei que o camarada Sousa teria aliviado o silêncio de chumbo e desistido de branquear a chacina de milhões e a obliteração nos Gulag soviéticos de outros milhões de dissidentes entre 1917 e 1989, nesse paraíso dos trabalhadores chamado União Soviética e entre 1945 e 1989 nos países da Cortina de Ferro. Estaria Jerónimo de Sousa à beira do que os seus camaradas costumam chamar auto-crítica?
Umas linhas mais abaixo percebi tudo. «A "questão central" é que o PCP tem "uma concepção diferente de terrorismo" comparativamente à UE e Estados Unidos.»
É por estas, e por outras, que o Impertinências atribui mais uns chateubriands, pela «concepção diferente de terrorismo», uns ignóbeis, pelo branqueamento da história da URSS e do PCUS, e, inevitavelmente, uns bourbons porque Jerónimo de Sousa nada aprende e nada esquece.
Esclarecimento a quem possa estar interessado:
A definição de terrorismo adoptada nas Proposed Definitions of Terrorism da ONU cobre algumas das acções das FARC, malgré Jerónimo, mas não cobre as acções da CIA, aussi malgré Jerónimo.
A propósito do protesto do embaixador da Colômbia pela presença na festa do Avante duns «activistas» das FARC, bando que a UE classifica como terrorista, Jerónimo de Sousa, secretário-geral do PC, vociferou «que esta operação e esta deriva em relação à nossa festa procura esconder a responsabilidade deste Governo em relação a actos de terrorismo de Estado» e mais disse que havia um "silêncio de chumbo" sobre este "terrorismo de Estado". (Público)
Assim de repente, pensei que o camarada Sousa teria aliviado o silêncio de chumbo e desistido de branquear a chacina de milhões e a obliteração nos Gulag soviéticos de outros milhões de dissidentes entre 1917 e 1989, nesse paraíso dos trabalhadores chamado União Soviética e entre 1945 e 1989 nos países da Cortina de Ferro. Estaria Jerónimo de Sousa à beira do que os seus camaradas costumam chamar auto-crítica?
Umas linhas mais abaixo percebi tudo. «A "questão central" é que o PCP tem "uma concepção diferente de terrorismo" comparativamente à UE e Estados Unidos.»
É por estas, e por outras, que o Impertinências atribui mais uns chateubriands, pela «concepção diferente de terrorismo», uns ignóbeis, pelo branqueamento da história da URSS e do PCUS, e, inevitavelmente, uns bourbons porque Jerónimo de Sousa nada aprende e nada esquece.
Esclarecimento a quem possa estar interessado:
A definição de terrorismo adoptada nas Proposed Definitions of Terrorism da ONU cobre algumas das acções das FARC, malgré Jerónimo, mas não cobre as acções da CIA, aussi malgré Jerónimo.
Terrorism is an anxiety-inspiring method of repeated violent action, employed by (semi-) clandestine individual, group or state actors, for idiosyncratic, criminal or political reasons, whereby - in contrast to assassination - the direct targets of violence are not the main targets. The immediate human victims of violence are generally chosen randomly (targets of opportunity) or selectively (representative or symbolic targets) from a target population, and serve as message generators. Threat- and violence-based communication processes between terrorist (organization), (imperilled) victims, and main targets are used to manipulate the main target (audience(s)), turning it into a target of terror, a target of demands, or a target of attention, depending on whether intimidation, coercion, or propaganda is primarily sought" (Schmid, 1988).
07/09/2006
DIÁRIO DE BORDO: a maiêutica do aborto (11)
Para não voltar às velhas perguntas fáceis de resposta difícil e às perguntas difíceis de resposta fácil como em (0), (1), (2), (*), (4), (5), (6), (7), (8), (9) e (10), desta vez uma pergunta retórica.
O PS retomou os trabalhos de parto do referendo sobre o aborto cuja proposta pretende apresentar no próximo dia 15 na reabertura do parlamento, mas como caldos de galinha e cuidados sempre ajudaram os partos, um «dirigente da bancada socialista disse à Lusa que o PS vai "esperar um mês para o referendo não cair em Dezembro", mês de Natal, uma altura que alguns defensores da despenalização da interrupção voluntária da gravidez nas primeiras semanas de gestação consideram desvantajosa», conta-nos o Público.
O que levará os deputados do PS a pensar que os eleitores estão menos predispostos ao aborto durante o mês de Natal? Qual será a época mais favorável ao aborto? Sem pensar muito no assunto, diria que talvez sejam os meses de Julho e Agosto, quando os portugueses são confrontados com trocar o nordeste brasileiro pela Quarteira e com o insucesso escolar dos seus rebentos.
(*) O n.º 3 abortou.
O PS retomou os trabalhos de parto do referendo sobre o aborto cuja proposta pretende apresentar no próximo dia 15 na reabertura do parlamento, mas como caldos de galinha e cuidados sempre ajudaram os partos, um «dirigente da bancada socialista disse à Lusa que o PS vai "esperar um mês para o referendo não cair em Dezembro", mês de Natal, uma altura que alguns defensores da despenalização da interrupção voluntária da gravidez nas primeiras semanas de gestação consideram desvantajosa», conta-nos o Público.
O que levará os deputados do PS a pensar que os eleitores estão menos predispostos ao aborto durante o mês de Natal? Qual será a época mais favorável ao aborto? Sem pensar muito no assunto, diria que talvez sejam os meses de Julho e Agosto, quando os portugueses são confrontados com trocar o nordeste brasileiro pela Quarteira e com o insucesso escolar dos seus rebentos.
(*) O n.º 3 abortou.
06/09/2006
ARTIGO DEFUNTO: exaltações mediáticas induzidas
Por muito que se valorize (e seria desonestidade desvalorizar) a simplificação de formalidades estúpidas para criar uma empresa, é um manifesto exagero o Diário Económico titular na 1.ª página «Portugal é o mais ágil do mundo a criar empresas» para referenciar um pífia reforma que nunca terá efeitos mensuráveis na dinamização da economia. Exagero e distorção porque da pífia reforma pode não resultar a criação duma única empresa, quanto mais transmutar-nos no mais ágil do mundo a criar empresas.
O Jornal de Negócios mostra um pouco mais de compostura, citando uma co-autora do relatório "Doing Business 2007" que «afirma ... que Portugal fez menos do que os seus parceiros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) e efectivamente, apenas registámos uma reforma positiva». Uma leitura rápida do Overview ajuda a mitigar as excitações.
O mesmo JN descompõe o que tinha composto, ao titular «Clima de confiança atinge máximo de quase dois anos» para nomear um facto que tanto pode ser um erro estatístico como uma insignificância estatística: «o indicador de confiança dos consumidores subiu dos 35,8 pontos negativos para 34 pontos negativos».
Todas estas exaltações mediáticas fazem parte da boa imprensa de que o governo tem desfrutado e, na sua essência, reflectem a visão colectivista do PS, que imagina que «a economia depende dos 100 palhaços que vão à televisão falar de economia». E reflectem também a tentação manipulatória do governo que não resiste a fabricar o que julga ser uma clima favorável aos negócios. É um equívoco, porque o efeito mais significativo deste «optimismo» induzido é dar munição às corporações de interesses instalados e dos direitos adquiridos que ganham argumentos reforçados para sabotar as mais tímidas reformas, que assim perdem o sentido - se tudo está a correr tão bem, como o governo nos quer fazer acreditar, para quê os «sacrifícios»?
O Jornal de Negócios mostra um pouco mais de compostura, citando uma co-autora do relatório "Doing Business 2007" que «afirma ... que Portugal fez menos do que os seus parceiros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) e efectivamente, apenas registámos uma reforma positiva». Uma leitura rápida do Overview ajuda a mitigar as excitações.
O mesmo JN descompõe o que tinha composto, ao titular «Clima de confiança atinge máximo de quase dois anos» para nomear um facto que tanto pode ser um erro estatístico como uma insignificância estatística: «o indicador de confiança dos consumidores subiu dos 35,8 pontos negativos para 34 pontos negativos».
Todas estas exaltações mediáticas fazem parte da boa imprensa de que o governo tem desfrutado e, na sua essência, reflectem a visão colectivista do PS, que imagina que «a economia depende dos 100 palhaços que vão à televisão falar de economia». E reflectem também a tentação manipulatória do governo que não resiste a fabricar o que julga ser uma clima favorável aos negócios. É um equívoco, porque o efeito mais significativo deste «optimismo» induzido é dar munição às corporações de interesses instalados e dos direitos adquiridos que ganham argumentos reforçados para sabotar as mais tímidas reformas, que assim perdem o sentido - se tudo está a correr tão bem, como o governo nos quer fazer acreditar, para quê os «sacrifícios»?
05/09/2006
BLOGARIDADES: abaixo o nacional-engraçadismo
Há sinais na Bloguilha dum higiénico movimento anti-engraçadismo, duma cruzada para expurgar essa moléstia da sociedade civil. Camilo já foi convocado.
Talvez fruto da influência e exemplo pessoal do professor Oliveira Salazar e do doutor Cunhal, podemos considerar o engraçadismo tecnicamente em extinção nos meios políticos. Abundam os bons exemplos (*) à esquerda e à direita e ao centro, do doutor Louça, do engenheiro Sócrates, o doutor Manuel Monteiro, ou do emérito e agora retirado professor doutor Freitas do Amaral, talvez o mais anti-engraçado político de todos os tempos. Nas meninges de todas estas criaturas procurar-se-à em vão quaisquer sinais de contaminação pelo engraçadismo. Só o caso do doutor Marques Mendes parece ainda indefinido.
Poderá dizer-se que não existem políticos engraçados? Não. Pode dizer-se apenas que, com pouquíssimas excepções, como a do doutor Alberto João Jardim, o Bokassa das Ilhas, segundo a expressão engraçada do doutor Gama, os políticos engraçados estão desacreditados. Quero dizer absolutamente desacreditados, porque o doutor Jardim só está relativamente desacreditado no Continente.
Também na intelectualidade é já hoje difícil encontrar uma criatura, sobretudo ligada às artes & letras e à cóltura em geral, que não se tome impiedosamente a sério - estado de alma que, desculpem a fraqueza, não deixa de ser engraçado.
Se na política e na cóltura a praga do engraçadismo está contida, e nas artes performativas como os entertainers ou os palhaços se tem que aceitar como uma deformação profissional, está tudo por fazer na Bloguilha, onde germinam almas saturadas de engraçadismo. Um só exemplo que vale por todos: o maradona de A causa foi modificada, o anti-cristo da gravitas.
(*) Para arrumar o assunto poderia citar o caso de praticamente todos os ocupantes do Palácio de Belém, o lugar geométrico do anti-engraçadismo e da gravitas, com a possível excepção do doutor Soares, que talvez por isso falhou a reeleição.
Talvez fruto da influência e exemplo pessoal do professor Oliveira Salazar e do doutor Cunhal, podemos considerar o engraçadismo tecnicamente em extinção nos meios políticos. Abundam os bons exemplos (*) à esquerda e à direita e ao centro, do doutor Louça, do engenheiro Sócrates, o doutor Manuel Monteiro, ou do emérito e agora retirado professor doutor Freitas do Amaral, talvez o mais anti-engraçado político de todos os tempos. Nas meninges de todas estas criaturas procurar-se-à em vão quaisquer sinais de contaminação pelo engraçadismo. Só o caso do doutor Marques Mendes parece ainda indefinido.
Poderá dizer-se que não existem políticos engraçados? Não. Pode dizer-se apenas que, com pouquíssimas excepções, como a do doutor Alberto João Jardim, o Bokassa das Ilhas, segundo a expressão engraçada do doutor Gama, os políticos engraçados estão desacreditados. Quero dizer absolutamente desacreditados, porque o doutor Jardim só está relativamente desacreditado no Continente.
Também na intelectualidade é já hoje difícil encontrar uma criatura, sobretudo ligada às artes & letras e à cóltura em geral, que não se tome impiedosamente a sério - estado de alma que, desculpem a fraqueza, não deixa de ser engraçado.
Se na política e na cóltura a praga do engraçadismo está contida, e nas artes performativas como os entertainers ou os palhaços se tem que aceitar como uma deformação profissional, está tudo por fazer na Bloguilha, onde germinam almas saturadas de engraçadismo. Um só exemplo que vale por todos: o maradona de A causa foi modificada, o anti-cristo da gravitas.
(*) Para arrumar o assunto poderia citar o caso de praticamente todos os ocupantes do Palácio de Belém, o lugar geométrico do anti-engraçadismo e da gravitas, com a possível excepção do doutor Soares, que talvez por isso falhou a reeleição.
04/09/2006
NÓS VISTOS POR ELES: lost in translation
Após um longo interregno, retoma-se esta secção do Impertinências, com as impressões de duas vítimas fugidas dos escombros do império soviético para os escombros do 5.º império, que quase assolaparam os seus rebentos.
Alla desistiu de ter o filho, de 12 anos, a estudar em Portugal. Ao fim de seis anos de escolaridade, fartou-se de o ouvir dizer que «ia descansar para a escola», que aqui se aprendia brincando e da «grande indisciplina» que marcava o dia-a-dia do ano lectivo nacional. O miúdo até ia bem - era um dos melhores da turma - mas voltou para a Ucrânia. Lá, garante a mãe, é «tudo muito diferente. A professora não é uma amiga, é quem ensina. Os alunos estão lá para trabalhar e aprender. Não há brincadeira».(Expresso 02-09, «O ensino aqui é o pior de tudo»)
Explicar que só no final do 4.° ano é exigido que os alunos portugueses saibam ler, escrever e contar, torna-se difícil de traduzir. Porque o fosso que divide a educação nacional e a das memórias dos imigrantes do Leste é, de facto, de tamanho «extra large». «Prefiro nem falar disso», diz Julia Gundarina, uma professora russa que apesar de estar cá há cinco anos e de «gostar tanto» que nem pensa em voltar para casa, assume que «a educação é pior de tudo». Estranham, sobretudo, a maneira como se ensina, a falta de ordem, a «balda» generalizada.
03/09/2006
ARTIGO DEFUNTO: we’ve all been attacked by the bacteria of stupidity
O artigo escrito por Ghazi Hamad, porta-voz do governo do Hamas, no jornal israelita Al Ayyam, parece ter despertado pouco interesse (et pour cause) ao jornalismo de causas da paróquia. Para além desta ou desta notícia, e da referência de João Pereira Coutinho na sua coluna Estado Crítico do Expresso, não me dei conta que o dito jornalismo de causas tivesse dado eco às lúcidas palavras de Ghazi Hamad. Tão pouco a Bloguilha parece ter-se interessado. Algumas dessas palavras ficam aqui transcritas na versão do NYT.
“Gaza is suffering under the yoke of anarchy and the swords of thugs,” Ghazi Hamad, a former Hamas newspaper editor and the spokesman for the current Hamas government, wrote in an article published Sunday in Al Ayyam, the Palestinian newspaper.(Hamas Spokesman Blames Palestinians for Gaza Chaos, NY Times 29-08 - registo necessário)
After so much optimism when Israelis pulled out of Gaza a year ago, he wrote, “life became a nightmare and an intolerable burden.”
He urged Palestinians to look to themselves, not to Israel, for the causes. But he appeared not to be placing the blame on Hamas or the Palestinian Authority’s prime minister, Ismail Haniya of Hamas. He said various armed groups in the Gaza Strip — most affiliated with Fatah, Hamas’s rival — were responsible for the chaos.
“We’ve all been attacked by the bacteria of stupidity,” Mr. Hamad wrote. “We have lost our sense of direction.” He addressed the armed groups: “Please have mercy on Gaza. Have mercy on us from your demagogy, chaos, guns, thugs, infighting. Let Gaza breathe a bit. Let it live.”
He also questioned the utility of firing rockets into Israel that cause few casualties but result in many Palestinian deaths when the Israelis retaliate. He seemed to be arguing for other armed groups to follow the Hamas decision to halt rocket fire into Israel. His article was first described in English on Monday in The Jerusalem Post.
...
Mr. Hamad said that his article, in a newspaper normally associated with Fatah, was a personal comment. Despite the taunt at Fatah, it was important for its criticism of the penchant to blame Israel and its occupation of Palestinian lands for every ill — even after Israeli troops and settlers had left Gaza.
“I’m not interested in discussing the ugliness and brutality of the occupation because it is not a secret,” he wrote. “I prefer self-criticism and self-evaluation. We’re used to blaming our mistakes on others.”
Palestinian joy after the Israeli departure “made us forget the most important question — what is our next step?” he wrote.
“When you walk in the streets of Gaza City,” he continued, “you cannot but close your eyes because of what you see there: unimaginable chaos, careless policemen, young men carrying guns and strutting with pride and families receiving condolences for their dead in the middle of the street.”
Mr. Hamad said those who saw themselves as fighting Israel were working at cross-purposes. “It is strange that when a big effort is taken to reopen Rafah crossing to ease the suffering of the people, you see others who go to shell rockets toward the crossing, or when someone talks about cease-fire and its importance, you find those who go and shell more rockets,” he wrote. “Of course I do not deny that the occupation committed massacres that cannot be justified, but I support negotiations over what can be fixed.”
Some Palestinians will agree or disagree with him, he wrote, “but running away from self-confrontation will only cause us more pain.”
01/09/2006
CASE STUDY: Alan Turing, adiantado mental
As ILGAs, os Opus Gay e as outras associações de maricagem deviam escolher melhor os seus mártires. Em vez de promoverem as criaturas que estoiram de AIDS, depois de anos de irresponsável, dissoluta e obsessiva promiscuidade, deviam adoptar Alan Turing.
Alan Turing, o matemático inglês nascido em 1912, lançou em 1936, com 24 anos, os fundamentos da computação avant la lettre ao usar o sistema binário na programação da «Universal Turing Machine» por si criada, que foi o primeiro computador da história. Como se isso e muitos outros contributos que deu fosse pouco, Turing contribuiu decisivamente para encurtar a II guerra mundial, ao criar a «Bombe», um dispositivo para decifrar código criado pela máquina de encriptação «Enigma» usada para transmitir mensagens dos comandos para as forças alemãs.
Num clima ultra-conservador e de paranóia da segurança potenciado pela guerra fria, as suas realizações de nada lhe valeram quando, preso em 1952 por práticas homossexuais, foi obrigado a trocar um ano de prisão por injecções de estrogéneo para «neutralizar» as suas tendências. Perseguido e ostracizado, desde então, Turing suicidou-se em 1954.
(A propósito de A man who counted de David Leavitt; ver também The Alan Turing Home Page)
Declaração de desinteresse:
Este blogue desalinhado, desconforme, herético, heterodoxo e homofóbico, só é homofóbico na precisa medida em que não suporta as paradas de orgulho gay e em geral todas as maninfestações que pretendem contrabandear a aceitação da diferença da anormalidade pela promoção da normalidade da diferença.
Alan Turing, o matemático inglês nascido em 1912, lançou em 1936, com 24 anos, os fundamentos da computação avant la lettre ao usar o sistema binário na programação da «Universal Turing Machine» por si criada, que foi o primeiro computador da história. Como se isso e muitos outros contributos que deu fosse pouco, Turing contribuiu decisivamente para encurtar a II guerra mundial, ao criar a «Bombe», um dispositivo para decifrar código criado pela máquina de encriptação «Enigma» usada para transmitir mensagens dos comandos para as forças alemãs.
Num clima ultra-conservador e de paranóia da segurança potenciado pela guerra fria, as suas realizações de nada lhe valeram quando, preso em 1952 por práticas homossexuais, foi obrigado a trocar um ano de prisão por injecções de estrogéneo para «neutralizar» as suas tendências. Perseguido e ostracizado, desde então, Turing suicidou-se em 1954.
(A propósito de A man who counted de David Leavitt; ver também The Alan Turing Home Page)
Declaração de desinteresse:
Este blogue desalinhado, desconforme, herético, heterodoxo e homofóbico, só é homofóbico na precisa medida em que não suporta as paradas de orgulho gay e em geral todas as maninfestações que pretendem contrabandear a aceitação da diferença da anormalidade pela promoção da normalidade da diferença.