Era inevitável. Com a queda do fassismo, os pais, armados da bíblia do doutor Spock, foram gradualmente demitindo-se do seu papel de educadores, trespassando-o aos profs, os quais, por seu turno, trespassaram a desconhecidos o seu papel de instrutores. Ficou um vazio que o estado napoleónico-estalinista se apressaria a preencher se já tivesse encontrado a vida para além do orçamento.
Como a natureza odeia o vácuo, alguém tinha que o preencher. Pelo menos naquilo que é mais urgente, e, ao mesmo tempo, bastante supérfluo: a educação sexual.
Foi o que disseram os criadores da novela Jura ao Sol da semana passada (exemplar recuperado in extremis antes duma fatal operação de limpeza de vidros onde a minha empregada se preparava para o usar). Um disse que a novela «é um passo no caminho para a abertura das mentalidades» outro que «o meu (dele) objectivo (é) trabalhar na mudança de mentalidades». Eles não queriam fazer pelas suas vidinhas e facturar uns cobres, vendendo uma novela com umas quecas insinuadas e umas intimidades alternativas em cada capítulo, para ser vista por um «dos públicos mais inteligentes da Europa». Eles não queriam ser facturantes. Eles querem ser fracturantes, abrir e trabalhar as mentalidades.
Serão vestígios do serviço cívico do coronel Vasco Gonçalves?
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