22/11/2023

NÓS VISTOS POR ELES: Por que insistem em convidá-lo? (3) - À quarta vez foi de vez

Continuação de (1) e (2)

Em Fevereiro de 2012, no auge da «austeridade» resultante do programa de resgate negociado pelo PS e executado pelo governo PSD-CDS, luminárias académicas socialistas e outras resolveram doutorar honoris causa Paul Krugman, o prémio Nobel da Economia que já foi economista no passado e hoje é um comentador do NYT, na esperança de obter a sua bênção para as soluções alternativas estatistas e dirigistas que inspiravam as suas políticas,

Nessa altura o tiro saiu pela culatra e Krugman acabou a dizer: «eu realmente tenho dificuldade em dar conselho ao Governo português [na época o governo PSD-CDS]. Aliás, detesto dizê-lo, mas não faria as coisas de forma muito diferente daquilo que está a ser feito agora.»

De novo, em Dezembro de 2015 nas vésperas do Dr. Costa ser entronizado primeiro-ministro, Krugman foi convidado a pretexto da homenagem a Silva Lopes, e disse coisas inconvenientes  como: o aumento do salário mínimo em Portugal é «problemático» dada a baixa produtividade, ao contrário da Grécia, o país não ficou numa «situação tão desesperada», e, cúmulo do desaforo, que «o novo Governo não pode fazer muito diferente do anterior» e «deve focar-se no investimento». O novo governo PS não só foi contrariado nas suas teses como fez exactamente o contrário de «focar-se no investimento» ao reduzi-lo em detrimento da despesa pública para manter as «contas certas», o mantra do Dr. Costa para se distanciar do seu antecessor Animal Feroz que arruinou as contas públicas.

Ainda uma outra vez, em Abril de 2016 voltaram a convidar Krugman e ele disse «Portugal? Não é um desastre completo, é só muito mau» e deixou quatro recados assim resumidos pelo director do Expresso: «1) a margem de manobra para o país é muito escassa; 2) o Governo faz bem em aproveitar essa margem para aliviar a austeridade e diminuir a dor social; 3) não estamos em posição de lançar um programa de estímulo orçamental; 4) a nossa recuperação passa sobretudo por mudanças nas políticas alemãs.» O governo reagiu naturalmente com mixed feelings a estes recados.

Da quarta e última vez, Krugman veio a Portugal para participar na «Grande Conferência do Negócios» e disse várias coisas das quais a imprensa do regime destacou o sound bite do desempenho português nos últimos anos ser  um «milagre económico» o que, confessou, «é um pouco misterioso». Desta vez foi, por assim dizer, o triunfo da persistência porque o bullshit de uma vedeta do comentário económico que não se deu ao incómodo de se informar fully and thoroughly sobre o objecto do seu comentário foi algo que o governo terá escutado com gosto. 

Um bullshit que não resiste a uma análise mesmo superficial do que tem sido a evolução da economia portuguesa dos últimos 8 anos, ultrapassada um a um pelos países vítimas do colapso do império soviético, economia em que persistem, e nalguns casos se agravam, todos os handicaps de sempre como a baixa produtividade, a descapitalização e a inevitável falta de competitividade, que se tem aguentado à tona à força de subsídios e de um turismo conjuntural que nada deve às políticas do governo socialista.

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