07/05/2022

Na história do Portugal dos Pequeninos, o século XXI não é assim tão diferente do XIX (3)

Continuação de (1) e (2).

Lendo «O Fundo da Gaveta» de Vasco Pulido Valente, dei comigo a pensar que, mudando a época, as modas e os protagonistas, o Portugal do século XIX me faz lembrar o Portugal da III República. Nos posts desta série cito algumas passagens que mais intensamente evocam essa ideia.

O desenvolvimento e a “descentralização”

Os males do desenvolvimento só se curavam com mais desenvolvimento. Aumentasse a produção que aumentaria a receita fiscal, diminuiria o défice e os preços desceriam. Tratava-se de persistir na mesma direcção. Não de negar os «grossos subsídios» indispensáveis à construção de comunicações e portos ou de restringir a liberdade do mercado.

Quanto ao resto, a fusão oferecia as consolações habituais, copiadas do programa clássico do progressismo. Oferecia-as, porém, com restrições e sem descer a pormenores. Prometia conter as despesas do Estado, mas pela abolição das despesas inúteis e a «severa restrição das acessórias e secundárias», não, como insistia em sublinhar, pela «supressão» ou «cerceamento» das restantes. Aludia, de passagem, à injustiça fiscal, sem declarar qualquer intenção de a corrigir. Falava em «simplificação e descentralização» administrativas como meios de reduzir o défice e de promover a iniciativa local, abstendo-se de mencionar formas e prazos. Não esquecia o tropo obrigado sobre as vantagens da moralidade na governação. Finalmente, acabava com o usual elogio à instrução e, implicitamente, dava-se como objectivo organizar uma instrução profissional, «adaptada às conveniências e aptidões regionais»; e difundir a instrução primária «até às últimas camadas».

As omissões do manifesto da fusão eram tão importantes como a sua letra. Não existia nele palavra sobre reformas políticas.

[Do capítulo Ressurreição e morte do radicalismo (1864-1870)]

(Continua)

2 comentários:

  1. O Portugal moderno é muito progressista pá! https://portugalnonevoeiro.blogspot.com/2022/05/estamos-bem-entreguesnao-devemos.html

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