17/08/2020

Crónica da asfixia da sociedade civil pela Passarola de Costa (46) - Em tempo de vírus (XXIII)

Avarias da geringonça e do país seguidas de asfixias

Plano de Recuperação? Consider it done

A execução pelo governo do Dr. Costa do Plano de Recuperação do outro Dr. Costa, está condenada ao sucesso. Como, perguntareis vós, se o Dr. Costa ainda andava às voltas com a sua Agenda para a Década, entretanto perdida?

Por uma única e boa razão. Segundo o Plano de Recuperação, os problemas de Portugal resultam das «vulnerabilidades do modelo de desenvolvimento económico e social vigente nomeadamente o erro estratégico inerente à visão neoliberal do mundo que minimiza o papel do Estado e exalta o mercado».

Como no Portugal dos Pequeninos, o país da União Europeia mais colectivista e avesso à concorrência e aos mercados, o modelo neoliberal só existe para fins de retórica e agitprop, o Dr. Costa não precisa de mover um dedo para eliminar essas vulnerabilidades e em breve recuperaremos uma a uma as posições no ranking europeu e deixaremos para trás as vítimas da queda do império soviético que nos têm vindo a atropelar. Ó Irlanda infectada pela visão neoliberal, nós, os melhores dos melhores, que em 25 anos passámos de 75% para 41% do vosso PIB per capita ppp, vamos a caminho de vos ultrapassar sob a liderança esclarecida do Dr. Costa e de S. Exª.

Bazuca de Merkel-von der Leyen? Consider it done

Já se ouvem os euros a rolar de Bruxelas para o governo os torrar no hidrogénio e nos outros elefantes brancos? Ainda não. É preciso esperar algum tempo e a ratificação pelos órgãos legislativos dos 27 países - 41 ratificações entre câmaras altas e câmaras baixas. É um desafio ao talento do Dr. Costa para o ilusionismo até que chegue o "envelope financeiro" e ao seu igual talento para o torrar o conteúdo do envelope, talento já demonstrado com o honroso sexto lugar na melhor taxa de torrefacção dos fundos europeus.

Mestres do ilusionismo

Já exaltei a semana passada a excelência do ensino em Portugal onde, ao arrepio do que se passa na generalidade dos países, as médias das notas dos exames nacionais do 12.º ano aumentaram em quase todas as disciplinas. Acrescento agora que em Inglaterra 39% dos alunos tiverem a sua nota mais baixa do que o previsto, sobretudo os mais desfavorecidos que também nos EUA foram os mais atingidos. Em Portugal onde nunca se sabe o que acontece aos mais desfavorecidos, sabe-se apenas que duplicou o número de alunos que registaram notas mais altas (19 e 20) nos exames nacionais, resultado que sendo as condições do ensino piores do que no ano passado só pode explicar-se pelo relaxamento dos exames que é a resposta típica do sistema de ensino do Estado Sucial.

No Estado Sucial não há conflito de interesse. Há interesses em conflito. Domingues, um banqueiro para todas as estações

Lembram-se do Dr. António Domingues? Foi o prometido presidente da Caixa, criatura que em parelha com o seu criador Dr. Centeno se enredou em tanta trapalhada que acabou a demitir-se sem mesmo ter sido nomeado (ver os posts «Atirar areia para a cara das pessoas»). Aparece agora na privatização da Efacec. De que lado, perguntareis? Dos dois: como presidente da comissão de auditoria da Efacec e como administrador do Haitong Bank, a nova encarnação do BESI do GES, comprado pelos chineses.

Quem se mete com o PS, leva / Para os amigos tudo, para os inimigos nada, para os outros cumpra-se a lei (se tiver mesmo de ser)

Na crónica anterior referi o caso da juíza que ganhou um concurso para procurador europeu e, em vez dela, que tinha dirigido o caso das golas inflamáveis anti-fumo que levou à demissão do secretário de Estado da Protecção Civil, foi nomeado um amigo do adjunto da ministra. Adjunto que fora condenado em 2009 pelo Conselho Superior do Ministério Público por ter pressionado os procuradores do caso Freeport a arquivarem os autos contra o primeiro-ministro José Sócrates. Amigo que perdeu para a mesma procuradora num concurso para o Organismo Europeu de Luta Antifraude (fonte).

O mundo dos apparatchiks que parasitam o Estado Sucial do Portugal dos Pequeninos é também pequenino.

O multiplicador socialista

O efeito multiplicador keynesiano nunca foi observado nos investimentos nas obras do regime (ver aqui uma retrospectiva do efeito multiplicador nos elefantes brancos socialistas). Onde pode ser observado o fenómeno é no custo das obras como, por exemplo, as do Hospital Militar de Belém que foram adjudicadas em ajuste directo a três empresas amigas e o seu montante que era para ser 750 mil multiplicou-se por 3,5 para 2,6 milhões.

«Estamos preparados»

A pandemia pelo Covid-19, um vírus «relativamente bonzinho», nunca ocupou mais do que uma pequena fracção dos recursos do SNS: no máximo foram ocupadas 1.302 camas e 271 UCI de cerca de 30 mil e 600 disponíveis e actualmente 320 e 37, respectivamente (fonte DGS). Que o SNS tenha estado à beira do colapso, segundo nos dizem, só pode compreender-se porque o Estado Sucial não está preparado mesmo para o normal, como mostram os sucessivos escândalos nos lares do sistema de que o caso de Reguengos de Monsaraz é um paradigma e a respeito do qual a DGS garante que «Todos deram o seu melhor - todos». Alguém deveria perguntar-lhe se isto é o seu melhor, como será o seu normal, para não perguntar como será o seu pior?

L’État c’est nous

Mostrando uma pouco surpreendente sintonia, os líderes dos dois partidos socialistas, PS e PS-D, entenderam-se para a nomeação dos candidatos a presidentes das cinco comissões de coordenação e desenvolvimento regional (CCDR), garantindo assim que as novas camadas de apparatchiks que pretendem introduzir no Estado Sucial são do mesmo calibre das já existentes.

Boa Nova

O banco de fomento aprovado a semana passada pela CE, que em Junho foi anunciado para as «próximas semanas», sucedendo a um banco de fomento que fora privatizado por um governo PS, tinha ressuscitado há três anos e segundo o mesmo ministro já estava criado em Janeiro, e foi agora anunciado o mesmo ministro que daria à luz em 40 dias úteis. A boa imprensa do ministro interpretou os 40 dias úteis como sendo o prazo para banco começar a operar. Prognostico que quando se esgotar o prazo o ministro venha explicar que o prazo era só para ejacular o diploma e que a operação irá iniciar-se ASAP.


A comprovar que desta vez S. Exª. não exagerou no adjectivo monumental, o volume de negócios nos serviços diminuiu 31% em Maio e 23% em Junho, o volume de negócios na indústria diminuiu 41% e 19% , respectivamente, e em termos homólogos a produção industrial caiu 15% , as receitas turísticas no primeiro semestre tiveram uma redução de 70% e as exportações registaram uma queda de 40% no segundo trimestre. Por difícil de imaginar que seja, a verdade é que a única coisa que subiu (além do endividamento, claro) foi o custo do trabalho - 13,5% no segundo trimestre, por redução do número de horas trabalhadas.

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