09/02/2020

ESTÓRIA E MORAL: A pandemia propaga-se melhor na tirania

Estória

«Se você continuar a ser teimoso, não se arrepender e persistir em actividades ilegais, será levado à justiça.» Foi assim que a polícia de Wuhan avisou Li Wenliang, um médico oftalmologista ameaçado no princípio de Janeiro por ter partilhado através do WeChat nos últimos dias do ano informações com ex-colegas de sua antiga escola de medicina sobre um grupo de pacientes com ligações a um dos mercados de animais vivos de Wuhan que estaria infectado com o vírus da SARS, pensava ele, mas que na verdade se veio a saber mais tarde tratar-se do coronavírus.

Dias depois a polícia convocou-o de novo, repreendeu-o severamente e ordenou que ele escrevesse uma carta de autocrítica. Voltou a ser interrogado e foi-lhe dito que tinha «perturbado gravemente a ordem social» e acusado juntamente com outras sete pessoas de espalhar «informações falsas».

Só no fim de Janeiro, quando já era impossível ignorar o impacto do vírus, Li Wenliang e os outros acusados foram absolvidos. Durante várias semanas, numa fase crucial da pandemia, o risco foi subestimado, no mínimo, ou mesmo ignorado, pelas autoridades chinesas.

Entretanto, a 6 de Janeiro Li Wenliang morreu contaminado pelo coronavírus. A morte de Li Wenliang desencadeou críticas às autoridades chinesas nas redes sociais por muita gente que, por ter ficado retida em casa por ordem das autoridades locais, teve tempo de sobra para protestar online.

(Fonte: Li Wenliang’s death is a new crisis for China’s rulers)

Moral da estória

«As ditaduras fomentam a opressão, as ditaduras fomentam o servilismo, as ditaduras fomentam a crueldade; mas o mais abominável é que elas fomentam a idiotia.»
Jorge Luis Borges

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