Continuação de (1) e (2)
A última vez que tratei do tema pensões foi a propósito de um estudo da Fundação Francisco Manuel dos Santos que mostrou estar ameaçada a sustentabilidade do sistema de benefício definido da segurança social portuguesa. Nessa altura, segundo os números disponíveis, o Fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social (FEFSS) atingia 18 mil milhões de euros, suficientes para pagar as pensões durante um período que estimei em pouco mais de 12 meses.
Algum tempo depois, relatório da Unidade Técnica de Apoio Orçamental (UTAO) referia que o saldo do FEFSS no final do ano passado era de 17.378,5 milhões de euros, um número em linha com o valor que eu tinha referido no post anterior, «sendo este montante suficiente para satisfazer compromissos de 15,65 meses em despesa com pensões do sistema previdencial de repartição". Valerá a pena lembrar que, em função do aumento das pensões, este montante cobrirá por cada vez menos tempo os compromissos com pensões?
Não foi preciso esperar mais do que uma semana para o agitprop socialista, preocupado com o impacto pré-eleitoral do «só dá para 15 meses de pensões», corrigir através do ministério do Trabalho a informação da UTAO, sendo que agora a «“Almofada” da Segurança Social ultrapassa pela primeira vez os 20 mil milhões de euros» - a diferença de 2,7 mil milhões resulta das transferências já em 2019. E pronto, vamos todos continuar a fingir que não há-de ser nada, e ninguém se lembrou de dizer, que se é certo que a almofada ultrapassou os 20 mM, o número de pensionistas em 2002 ultrapassou pela primeira vez 3 milhões e o ano passado já atingia quase 3,6 milhões.
Ora, como é fácil de antecipar, com uma população crescentemente envelhecida com a esperança de vida a aumentar, cada vez teremos mais reformados com pensões a serem financiadas por cada vez menos activos. Depois de meia dúzia de anos de vacas entremeadas a que com toda a probabilidade se seguirão vacas magras, não se pode esperar que a almoçada aumente e pode ter-se a certeza de que cada ano teremos mais pensionistas.
E pronto, a coisa resume-se a manobras de informação e contra-informação do aparelho socialista, com umas e outras a passarem por cima da oposição e ao lado dos quase 4 milhões de portugueses que se reformarão nos próximos 20 anos e acham que não têm de se maçar com estas miudezas desagradáveis enquanto houver concertos ao vivo.
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