Já poucos acreditam nos políticos com graus académicos ornamentais que fazem o circuito das feiras a comer sandes de carne assada e pastéis de bacalhau ou a tournée de prova dos tintos. Ou que fingem interessar-se pela Lavoura (com maiúscula) ou que fazem campanha nos mercados municipais a dar beijinhos às peixeiras.
Contudo, parece haver ainda um resíduo de fé numa nova geração de políticos ilustrados com graus académicos prestigiados, por vezes em universidades estrangeiras, que aparentam ter vida para além do orçamento. Essa nova geração com outra cultura, outras ideias e outras práticas, assim reza a profecia, irá substituir gradualmente os velhos políticos.
É uma profecia comovente, mas, como é costume nas profecias, se calhar tem uma baixa probabilidade de se concretizar. Vem esta profecia a propósito de um desses novos políticos que aqui no (Im)pertinências já fez gastar muita tinta desde os tempos longínquos em que a criatura emergiu da sombra na encarnação de secretário de estado adjunto do primeiro-ministro Passos Coelho.
Trata-se, pois, de Carlos Moedas que nos últimos dias confirmou que, aparte os graus académicos, o inglês fluente e o à vontade no "estrangeiro" e alguns tiques, reúne muitos dos atributos que fazem dos políticos portugueses o que eles costumam ser.
Por exemplo, costumam ter uma ideia da Europa como a Óropa dos subsídios e o seguro contra todos os riscos que a preguiça e a falta de iniciativa imaginam ter subscrito, como o homem que se orgulha que «vai duplicar os fundos comunitários para ciência» e exorta «Portugueses devem ir buscar mil milhões aos apoios à inovação».
Por exemplo, costumam ser desprovidos de coluna dorsal, como o homem que é um bajulador emérito que, jogando no tabuleiro do PS, mete a língua no ouvido de Costa dizendo-lhe «foram cinco anos com uma relação institucional com o primeiro-ministro que correu sempre tão bem».
Como já tinha jogado no tabuleiro de Marcelo que encomendou à sua porta-voz, que faz as vezes de jornalista do Expresso, uma enjoativa peça com um título que, quando se discutia a sucessão de Passos Coelho, era todo um programa - «Marcelo sonha com ele para o PSD».
Por exemplo, quando prepara cuidadosamente com jogos de bastidores o seu limbo de dois anos após a fim do mandato na CE, pondo, como diz o povo, o palito no bolo das Fundações Gulbenkian e Champallimaud através da citada porta-voz de Marcelo no semanário de reverência.
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